Prof. Aldenei Barros
Liberdade ou segurança?
Apresentando Alexis de Tocqueville
Escritor e político francês. Acadêmico da França (1841), foi eleito deputado para a Assembleia Constituinte e, em 1849, para a Legislativa. De posições centristas, na sua obra mais importante, O Antigo Regime e a Revolução (1856; L'ancien régime et la révolution) defende a continuidade histórica entre a França da monarquia absoluta e o novo Estado. Defensor do modelo político dos EUA, foi um dos principais teóricos do liberalismo.
1805 - 1859
Apresentando Alexis de Tocqueville
Em 1830, ainda muito jovem, Tocqueville viajou por nove
meses pelos Estados Unidos. Conheceu ali um modelo de
Estado muito diferente do francês, além de uma estrutura social
que desconhecia títulos de nobreza, direitos corporativos ou
privilégios hereditários. Desenvolveu então um fascinante
estudo de sociologia comparada, interessando-se
principalmente, pelas consequências dos vários modelos de
democracia na vida social, no direito, na economia, na religião,
na arte. A democracia na América (1835), que resultou desse
estudou, tornou-se um clássico da sociologia.
Quando a liberdade é ameaçada
Tocqueville acompanhou de perto os efeitos da Revolução
Francesa, que em 1789 pôs fim ao regime monárquico e
inaugurou a República na França. O documento mais
importante desse movimento histórico foi a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, conhecida como o
certificado de nascimento da democracia moderna.
Quando a liberdade é ameaçada
O que mais impressionou Tocqueville em relação à Revolução
Francesa foi a violência com que ela se deu. Por que uma
revolução que defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade
levou ao Terror? Lutar pelo ideal de igualdade pode levar à
violência? O desejo de liberdade pode resultar no seu
contrário? Em que condições a luta pela liberdade e igualdade
leva à violência ou à tirania? Combinar os ideais de liberdade e
igualdade transformou-se na obsessão deTocqueville, que
apareceu em todos os livros que escreveu e que teve sua origem
na história de seu próprio país.
Quando a liberdade é ameaçada
A sensibilidade de Tocqueville para o dilema que foi
batizado com seu nome, e que constitui um grande desafio
da democracia moderna, certamente não nasceu de
informações recolhidas nos livros ou nos jornais. Sua
família viveu aquele momento, e alguns membros, como
seu avô, o Marquês de Rosanbo, não escaparam da
guilhotina.
O Terror Procedeu do período conhecido como o "Primeiro Terror"
iniciado com o assalto ao Palácio das Tulherias, em Paris, em
agosto de 1792, e terminou em setembro, com a morte de
inúmeros contrarrevolucionários. O período conhecido como
o "Segundo Terror" foi imposto, em julho de 1793, pelos sans-
culottes sob a liderança de Robespierre. Espalharam a
repressão por todo o país através do Comitê de Salvação
Pública. Este período ficou marcado pela morte da rainha
Maria Antonieta e de inúmeras facções da oposição
(girondinos, herbetristas e dantonistas). Entre junho e julho
de 1794, período conhecido como o "Grande Terror", a
ditadura tornou-se mais resistente com a criação do Tribunal
Revolucionário de Paris, que aboliu as garantias judiciais dos
acusados e multiplicou as sentenças de morte. O Terror
terminou com a execução de Robespierre em julho de 1794 e
com a reação de Termidor.
O Novo Mundo e o sonho da liberdade A democracia da América era única no mundo, e Tocqueville queria saber qual era a fórmula daquele sucesso.
No fundo, sua pergunta era: como é possível organizar uma sociedade em que a maioria pode participar e decidir sobre seu destino?
O relato de sua viagem, que foi publicado em 1835 com o título A democracia na América, ficou famoso e até hoje é um livro fundamental para quem se interessa pela história dos Estados Unidos, pela democracia e pela cultura democrática.
Aliás, há outro livro famoso, de outro autor de que você já ouviu falar, que também foi escrito após uma viagem aos Estados Unidos: A ética protestante e o "espírito" do capitalismo.
Max Weber esteve nos Estados Unidos em 1904, 74 anos depois de Tocqueville, e escreveu essa importante obra igualmente inspirado no que tinha percebido naquela sociedade onde o capitalismo florescia em ritmo acelerado.
O Novo Mundo e o sonho da liberdade
Na percepção de Tocqueville, a sociedade americana nasceu sob o sinal da liberdade.
Os colonos vindos da Inglaterra fugiam da repressão religiosa em seu país de origem.
"Foi a paixão religiosa que levou os puritanos para a América e lá os levou a desejar governar a si próprios."
Quando disse isso, Tocqueville quis dizer duas coisas: primeiro, que a liberdade de crença e de pensamento sempre fez parte da história que os americanos contam para eles mesmos e para o mundo, querendo afirmar seu amor pela liberdade; segundo, que a sociedade americana, na medida em que deseja "governar-se a si própria", desenvolveu o individualismo como ideal e como prática de vida.
As Jornadas de 1848 Dois importantes autores das ciências sociais escreveram sobre os eventos de 1848 na França.
Karl Marx, em sua obra intitulada O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852), analisa os eventos a partir de sua teoria do conflito de classes.
Já Alexis de Tocqueville, em Lembranças de 1848 (1893), faz um relato a partir de sua experiência pessoal de político no período.
Os ideais de igualdade tinham vindo para sempre, dizia Tocqueville em seus textos.
Era justo e desejável que assim fosse, mas cada sociedade os havia abrigado ou os abrigaria à sua maneira.
Em sua avaliação, a França não havia adotado a melhor forma, porque, para garantir a igualdade, estava sacrificando a liberdade. Esses foram temas permanentes dos escritos de Tocqueville.