Estudos Lingüísticos IRonaldo Lima
Ana Cláudia de Souza
Florianópolis, 2008.
2° Período
Governo Federal
Presidente da República: Luiz Inácio Lula da SilvaMinistro de Educação: Fernando HaddadSecretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo BielschowkyCoordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor: Alvaro Toubes PrataVice-reitor: Carlos Alberto Justo da Silva
Secretário de Educação a Distância: Cícero BarbosaPró-reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Muller
Departamento de Educação a Distância: Araci Hack CatapanPró-reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres MenezesPró-reitor de Pós-Graduação: José Roberto O’SheaPró-reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique
Vieira da SilvaPró-reitor de Infra-Estrutura: João Batista FurtuosoPró-reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José AmanteCentro de Ciências da Educação: Carlos Alberto Marques
Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na Modalidade a Distância
Diretora Unidade de Ensino: Viviane HeberleChefe do Departamento: Rosana Denise KoerichCoordenador de Curso: Maria José Damiani CostaCoordenador de Tutoria: Vera Regina de A. VieiraCoordenação Pedagógica: LANTEC/CEDCoordenação de Ambiente Virtual: Hiperlab/CCE
Projeto Gráfico
Coordenação: Luiz Salomão Ribas GomezEquipe: Gabriela Medved Vieira Pricila Cristina da SilvaAdaptação: Laura Martins Rodrigues
Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Coordenação Geral: Andrea LapaCoordenação Pedagógica: Roseli Zen Cerny
Material Impresso e Hipermídia
Coordenação: Thiago Rocha OliveiraRevisão: Laura Martins RodriguesDiagramação: Marcela Goerll, Rafael de Queiroz OliveiraIlustrações: Felipe Oliveira Gall, Bruno NucciRevisão gramatical: Rosangela Santos de Souza
Design Instrucional
Coordenação: Isabella Benfica BarbosaDesigner Instrucional: Felipe Vieira Pacheco
Copyright@2008, Universidade Federal de Santa CatarinaNenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada sem a prévia autorização, por escrito, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Ficha catalográfica
Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca da UFSC
L7329eLima, Ronaldo
Estudos Linguísticos I / Ana Cláudia de Souza, Ronaldo Lima. - Florianópolis : LLE/CCE/UFSC, 2008.
106 p.ISBN 978-85-61483-09-8
1. Linguística. 2. Língua portuguesa. I. Souza, Ana Cláudia de.
II. Título.
CDU 801
Sumário
Apresentação ................................................... 7
Unidade A: A Ciência Lingüística .................. 9
Introdução ............................................................................11
1 Explorando Saberes Científicos .......................................131.1 A Ciência .................................................................................................13
2 As Subáreas da Lingüística ...............................................172.1 A Lingüística: introdução ..................................................................172.2 Fonética ..................................................................................................202.3 Fonologia ...............................................................................................232.4 Morfologia .............................................................................................252.5 Sintaxe .....................................................................................................282.6 Semântica ..............................................................................................31
Algumas Considerações Finais ...........................................35
Unidade B: A Fonética e a Fonologia ......... 37
Palavras Preliminares ..........................................................39
3 A Linguagem e sua Dupla Articulação ............................433.1 A Dupla Articulação da Linguagem .............................................433.2 Retomando Algumas Informações Importantes .....................45
4 A Fonética .........................................................................474.1 O Aparelho Fonador ...........................................................................484.2 Sons Vocálicos e Consonantais.......................................................49
5 A Fonologia .......................................................................615.1 A Análise Fonológica ..........................................................................63
Considerações Finais a Respeito de Fonética e Fonologia .......................................................72
Unidade C: O Texto e a Leitura .................... 75
Uma breve conversa... ..........................................................77
6 A Leitura ............................................................................796.1 Leitura: o que é e como se desenvolve .......................................796.2 Monitoramento em Leitura .............................................................84
Aprendendo a Ler e a Escrever: comentários finais ...........98
Reflexões Finais ............................................101
Referências ...................................................103
ApresentaçãoPrezado estudante:
A disciplina de Estudos Lingüísticos I é efetivamente uma continuidade da
disciplina Introdução aos Estudos da Linguagem, cujo objetivo foi propor o
desenvolvimento de noções a respeito de língua e linguagem, visando agu-
çar seu olhar à caracterização da linguagem humana, bem como à percep-
ção e ao reconhecimento de sua complexidade como objeto de estudo.
Na presente disciplina, você vai ter a oportunidade de se aproximar de ou-
tros aspectos teóricos relativos à língua e à linguagem. Você poderá ob-
servar e refletir a respeito da importância das descrições dos fenômenos
lingüísticos para o estudo das línguas estrangeiras e, também, para melhor
compreensão de nossa língua materna, o português brasileiro.
Ao longo deste curso, insistiremos sobre a importância das pesquisas cientí-
ficas, sobre o papel do pesquisador e, sobretudo, sobre a postura crítica que
você, como estudante, poderá assumir de modo a aperfeiçoar seus estudos.
A disciplina está organizada em três unidades:
Na primeira, apresentamos uma introdução ampla na qual discu-•timos questões relativas às concepções de linguagem e língua;
ciência; lingüística geral e suas subáreas específicas, ressaltando o
papel reflexivo, questionador e crítico que você deve exercer como
estudante e pesquisador.
Na segunda unidade, serão abordados aspectos peculiares à Foné-•tica e à Fonologia. Para tanto, serão evidenciadas questões que lhe
permitirão ampliar seu olhar crítico sobre os principais tópicos tra-
tados por estes dois ramos dos estudos lingüísticos.
Na terceira, por fim, serão tratadas questões referentes ao proces-•samento em leitura e aos processos cognitivos implicados nesta
atividade. Você será convidado a refletir sobre uma das principais
questões que se coloca em Educação, ou seja: a emergência e o de-
senvolvimento do letramento em leitura. Como você bem sabe, o
texto é o elemento de base para o processo de aprendizagem, prin-
cipalmente no contexto da educação formal. Assim, saber sobre
leitura, sobre texto, é de suma importância à sua formação como
leitor e, mais ainda, como estudante de Letras.
Em resumo, esperamos que você possa se apropriar dos temas tratados nesta
disciplina e, de modo mais amplo, aproveite efetivamente os suportes gerais do
curso, para que se torne, cada vez mais, um conhecedor da área de Letras.
Professores Ronaldo e Ana Cláudia
Unidade AA Ciência Lingüística
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Introdução
Prezadoestudante,nestadisciplinavamostratardequestõesenvol-vendoobjetosdeestudocomplexos,asaber:linguagemelíngua.Observequegrandepartedostemasqueserãoevocadosjáfoimencionadaoudis-cutidanadisciplinaIntrodução aos Estudos da Linguagem.Éinteressante,sepossível,quevocêrelacioneostemasabordadosnasduasdisciplinas.
Poisbem,linguagemelínguasão,ambas,noçõesemconstantein-vestigação,istoé,nãoháestudosconclusivossobreestesfenômenoslin-güísticos;elescontinuamsempresendoexaminados.Todavia,comovocêjápôdeconstatar,hámuitasdescriçõesimportantíssimasrealizadascombaseemteoriascientíficasquenospermitemformarumaidéiasobreosprocessosimplicadosnalinguagemhumanae,particularmente,nofun-cionamentodaslínguasespecíficas,comoéocasodalínguaespanholaedalínguaportuguesaque,particularmente,aquinosinteressam.
Por vezes, vocêpoderá ter a sensaçãodeque é difícil apreendertodasasinformaçõespropostaspelaLingüísticae,maisainda,pelasCi-ênciasafins,queseinteressam,soboutrasóticas,pelosmesmosobjetosdeestudo.Tranqüilize-se,pois,naverdade,nemmesmoosrenomadospesquisadoresconhecemtodasasteoriaseosaspectosporelastratados.Todavia,éperfeitamentepossívelcompreenderaspremissasgeraisdaLingüísticaemergulharmaisprofundamentenesteounaqueletemaes-pecíficoqueatraiaseuinteresse.
TendocursadoadisciplinadeIntrodução aosEstudos da Lingua-gem,supomosquevocêtenhadesenvolvidoumavisãoamplasobreosestudoscientíficoseseuspropósitos.Noentanto,antesdeabordarnos-sostemascentrais,éimportantetrazernovamenteàtonaalgunsaspec-tosconcernentesàCiência.
Nossadiscussãotalveznãováexatamenteaoencontrodavisãoquevocêjáformou,masadiscussãoésempreinteressante.Saibaque,porvezes,sãojustamenteospontosdevistadiferentes,asadversidades,odebatedeidéias,queincitamaconstruçãodenovossaberesequepro-movemosprogressoscientíficos.
Explorandos Saberes Científicos
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Capítulo 01
Explorando Saberes Científicos
Neste capítulo vamos discutir prioritariamente a concepção de Ciência.
1.1 A Ciência
SegundoPedroDemo(2000),nenhumfenômenotemcontornosnítidos,muitomenosos fenômenossociaisouhistóricos.Ocientista,emseutrabalho,encontra-se,pois,diantedegrandeparadoxo,vistoque,aomesmotempoemqueprecisadelimitarseuobjetodeestudoparatornaro fenômenoestudadomaisclaro,estesmesmos limitespodemempobrecê-looudeturpá-lo.Assim,énecessárioterconsciênciadequeasdelimitaçõeseeventuaisestratificaçõessãoadotadaspararesponderàspremissasdapesquisacientífica;porexemplo,aotratardeFonéticaseparadamentedaFonologiaestamostão-somenteprocurandootimi-zarnossacompreensãoarespeitodestesfenômenos.
Saibaentão,caroestudante,queasdivisõespropostasnointeriordosdiversosramosdaciência,queconseqüentementeconduzemàexis-tênciadedisciplinasespecíficas,sãonecessáriasparafinsdeorganiza-çãodosestudoseparatornarosfenômenospesquisadosmaisclarosepassíveisdeseremsistematizadoseabarcados.
Efetivamente,osobjetosnãoseconstituemnecessariamentedomodocomosãodissecadosoudescritospelaciência,masquasesemprepodemsermaisbemobservadosecompreendidosdestaforma.Asramificaçõesdaciênciagarantemainstauraçãodosfórunsnecessáriosparaquesecons-tituamosdiálogosentreespecialistasdesteoudaqueledomínio,istoé,en-treaquelesquemergulhamnanaturezadedeterminadosfenômenos.
Você,estudante,precisa saberqueopesquisadorempenha-senadefiniçãocientíficadosfenômenosepossuiconsciênciadequeadefi-niçãobemfeitaéaquelaquereconheceseus limites.Pararealizarseutrabalho,emmeioaumamiscelâneadesuportesexistentesepossíveis,o pesquisador geralmente opta por determinado percurso de estudo,
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Unidade A - A Ciência Linguística
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tomandocomobaseopontodevistaconsideradomaisadequadoaseusobjetivos.Muitas vezes, este “ponto de vista” está atrelado a uma oumaisteorias.Normalmente,trata-sedeteoriasdeconsensoamploentreospesquisadoresquepossueminteressescomuns.Issopermiteastrocasdeinformaçãonecessáriasparaoavançodaciência.
Assim,nasegundaunidadedesteCurso,tentenãosesurpreenderquandodescobrir,porexemplo,quehádiferentespossibilidadesdeclas-sificaçãoparaumamesmavogal.Issoocorre,poishámuitasmaneirasdecaracterizarasvogaiscientificamente.Umaclassificaçãonãoémelhorqueaoutra.Trata-se simplesmentedadescriçãodomesmoobjetore-alizadasobângulosdistintos.Paratentarcompreender,penseemumasituaçãoemquevocêtenhaquedescreverorostodeumapessoaquenãolheémuitoconhecida.Talvezvocêtenhaapreciadoesterostosomentedefaceousomentedeperfil.Naturalmente,vocêvaiproporumadescri-çãomuitoespecífica,deacordocomseupontodevista.Estaé,eviden-temente,umasituaçãocoloquialqueempregamosparaestabelecerumaanalogia.Adiferençaemciênciaéquehácritériosprecisosaseremobe-decidos;elespodem,porém,serdiferentesunsdosoutros,dependendodospontosdeobservação,dosposicionamentos,dasconcepções.
Comoexistemváriossuportesteóricospassíveisdeseremadotadosparaabordarummesmoobjeto,decorrequeummesmofenômenopo-derárecebertratamentosdiversos.Istoé,ummesmoaspectopoderáserdelimitado,observadoedescritodeváriasformas.Efetivamente,nãohánenhumproblemanestefato;oimportanteéquevocêpossaidentificarecompreenderosseguintesaspectos:
Oprismapormeiodoqualocientistaobserva;a.
Seupontodeobservação;b.
Oslimitesporelefixadoemseuprocessodeanálise;c.
Adelimitaçãodoobjetodeinvestigação.d.
Combasenessasreferências,torna-sepossívelacompreensãodosfatosobservadosedescritos,bemcomoagarantiadodiálogopertinenteelógicoentreosespecialistasqueestudamasmesmasquestõesouqueseinteressampeloestudodefenômenossimilares.
Explorandos Saberes Científicos
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Capítulo 01
Você,comoestudanteemformação,apartirdomomentoemqueperceberaconsonânciaexistenteentretodosessesaspectos,disporádesubsídiosbásicosqueotornarãoaptoaformarseuolharcrítico,conduzin-do-oàassimilaçãodaspremissasdapesquisacientífica.Estacompreensãocontribuiráparaodesenvolvimentodesuaautonomiacomoestudanteepesquisador.Progressivamente,vocêsesentiráintroduzidonomundodapesquisaesealçarádacategoriadeleitorparaacondiçãodeautordeseusprópriostrabalhos.Estemomentoégratificante!Váemfrente!
Oimportanteéquevocêpercebaqueaciênciasofreconstantesevo-luções.Asmudançassãoinexoráveisegeramprogressos.Todavia,ére-levantevocêsaber,porexemplo,queosavançosemáreasexatas,comoaMecânica,aQuímica,obedecemaprincípiosdiferentesdaquelesqueseverificamnasCiênciasHumanas. Introduzirumnovocomponenteemumengenhomecânico, comoumveículomotorizado,podepromoveravanços de várias ordens em suas características ergonômicas, em seugraudeconvivialidade,emsuapotênciaedesempenhoouemseudesign.UmprogressoemLingüística,porsuavez,podenãoprovocarimpactoimediato sobre esteouaqueleobjeto concreto,poisoobjetode estu-dodaLingüísticaé,naverdade,uma“abstração”,masrepresentaráumacontribuiçãoparaaprópriaLingüísticaeparadiversasoutrasciênciasqueutilizamseusconhecimentos,aexemplodaEducação.
Otrabalhoemalfabetizaçãoe leitura,queconstituiosuportedenossoprocesso educativo, recebe, a cada ano,melhor tratamento emrazãodaspesquisasemciênciashumanase,maisespecificamente,emPsicolingüística.LeituraeEducaçãocaminhamjuntaseconstituemasbasesparaageraçãode indivíduos letradose,porextensão,denovospesquisadores.Logo,vocêpodeconstatarqueháumagrandesinergiaaserconsiderada,istoé,háumsistemadeinterdependências.Asdeli-mitaçõeseisolamentosemciênciasãoaparentes.Osprogressosdeumaáreadependemdosprogressosrealizadosemumaoutra.
Repetimos propositadamente: O aperfeiçoamento das pesquisasemLingüísticaobedeceaprincípiosdiferentesdaquelesqueseoperamnasciênciasconsideradasexatas,comoaMecânica,aFísica,aQuímica.Cadaramodaciênciapossuisuasparticularidades.Insistimosemafir-marque,viaderegra,emLingüística,nenhumobjetofísicoespecífico
Unidade A - A Ciência Linguística
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estádiretamenteimplicado.ALingüísticatrabalhaprioritariamenteso-brenoções, conceitos, abstrações, teorizações, análises,possibilitandoatingirmelhorcompreensãodosprocessoshumanos.ALingüísticanosleva a refletir diretamente sobre as basesnecessárias aoprogressodeoutrasCiênciasquetambémtrabalhamparaonossobem-estar.
A seguir, abordaremos alguns aspectos da Ciência Lingüística.Lentamente,nosaproximaremosdasquestõesespecíficasaseremcon-sideradasnestadisciplinanasunidadesBeC.
Saiba mais...
Vocêpodesabermaissobreciência,conhecimentocientífico,me-todologiadoconhecimento,consultandoasobrasabaixomencio-nadas.Nestemomento,vocênãoprecisaleresteslivrosparaacom-panharostópicosdestadisciplina.Todavia,paraprogressivamenteaprofundarsuavisãosobreapesquisacientífica,vocêencontrarádiscussõesmuitointeressanteseinstigantesnestasobras:
DEMO,Pedro.Metodologia do conhecimento científico.SãoPau-lo:Atlas,2000.
DEMO,Pedro.Introdução à metodologia da ciência.2.ed.SãoPaulo:Atlas,1985.
LAKATOS,EvaMaria;MARCONI,MarinadeAndrade.Fun-damentos de metodologia científica.2.Ed.rev.ampl.SãoPaulo:Atlas,1990.
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Capítulo 02As subáreas da Lingüística
As Subáreas da Lingüística
Neste capítulo, vamos mergulhar na Ciência Lingüística e conhecer um pouco de seus níveis de análise, isto é, suas subáreas.
2.1 A Lingüística: introdução
Comovocêjásabe,aLingüísticaéaCiênciaquesededicaaoestu-dodalinguagem.Aceitamosquealinguagem,damaneiracomoadefi-nimosparanossosestudos,éumacapacidadeexclusivaàespéciehuma-na,porém,sabemosqueváriosoutrosseressecomunicamepossuemespéciesde“linguagens”quelhessãoespecíficas.Jáfoiatestadoqueal-gunsanimaiseinsetos,comoporexemplo,osgolfinhoseasabelhas,sãocapazesdeestabelecercomunicaçãoe,conseqüentemente,trocasdein-formação.Assim,podemosfalarde“linguagemdasabelhas”ou“lingua-gemdosgolfinhos”.Todavia,comoveremosaolongodestadisciplina,acomplexidadedalinguagemhumanaéúnica,istoé,elapossuialgumascaracterísticasqueatornamsingular.Emresumo,aLingüística,comoCiência,preocupa-separticularmentecomoestudodalinguagemhu-manaecomofuncionamentodaslínguasespecíficas.
A linguagemhumana implicacognição,ouseja, envolvecomple-xosprocessosmentais.Comotal,nãopodeserexaminadadiretamente,tendoemvistaqueosprocessosmentaissãoimpalpáveis,ouseja,nãopodemserapreendidosdiretamente,poisconstituemabstrações.
Vejabem,abstraçõesnãopodemseraprisionadasoudelimitadas.Oqueconhecemosarespeitodalinguageméresultadodeestudoscien-tíficosrealizadossobresuasmanifestações:línguaoral,escrita,gestual,etc.Emgeral,sãoexaminadasasmanifestaçõeslingüísticasindividuais.Pormeiodasproduçõesindividuais,pode-sesabermaissobrealingua-gem.Grandepartedoquesabemossobreocoletivofazpartedoagru-pamentodeestudosrealizadossobreoindividual.
Alínguaoral(fala)éumamanifestaçãodalinguagem.Namesmamedida,alínguaescritaéumamanifestaçãodalinguagem,tratando-se
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Unidade A - A Ciência Linguística
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deumarepresentaçãodaoralidade.Alínguadesinaistambéméumamanifestação da linguagem. Poderíamos citar também o braile, masacreditamosquevocêjácompreendeuoquequeremosdizer.
Nossainsistênciasobredeterminadostópicoséparaquevocêpossaelaborarumaidéiaclarasobrealgumasnoções.Assim,quandotratamosdelíngua,estamosnosreferindo,namesmamedida,àlínguaoralmentemanifestada,àlínguaescrita,àlínguadesinais,aoespanhol,seestenden-dotambémaoitaliano,aotupi-guarani,enfim,atodasaslínguasconheci-das.Issonoslevaaconcluirquealíngua,oralmentemanifestada,constituitão-somentemaisumaentreasdiversaspossibilidadesdemanifestação.
Comojámencionamosacima,a linguagemhumanaseapresentacomoumobjetodeestudocientíficodegrandecomplexidade;assim,oestudodeseufuncionamentoérealizadocomtodorigorcientífico,talcomoofazemasdemaisCiências.
Nasúltimasdécadas,demodosimilaraoqueocorreuemrelaçãoaosoutrosdomíniosdaCiência,aLingüísticaprogressivamenteseramificou,ou seja, surgirammuitas subáreas para responder às necessidades dosavançosdesuaspesquisas.Demodoresumido,hojeépossívelidentificar,natradiçãodotrabalholingüístico,muitasáreasdeconsensogeral.Veja-mos,noquadro1,aolado,umasubdivisãopossívelparaaLingüística:
Éimportantesublinharqueaslínguasemsituaçãoefetivadeusonãoseorganizamdessemodo.Comojámencionamos,essassubdivisõessetor-narammuitointeressanteseimportantesparafinsdeorganizaçãodosestu-dos,bemcomoparaoenquadramentodostemasespecíficosnoseiodesteoudaquelepatamardeanáliseemrazãodasafinidadesentretemas.
Efetivamente, a língua é um fenômeno integrado e em harmo-nia. Em todo discurso, coexistem sons, significações, sentidos, todoscompartilhandoummesmo lugar,demodo sinergético.Aconstruçãodosentido,porexemplo,podeimplicarfenômenosdeordemfonética,fonológica,morfológica,sintática;porém,comoelementoespecífico,éestudadapelaSemântica.Porsuavez,aSemânticanãodesconsiderane-cessariamentenenhumfenômenonãoligadodiretamenteaoestudodosentido,masconcentrasuaatençãosobreele.
Conforme a terminologia empregada na disciplina de Introdução aos Estudos da Linguagem, a análise das
subáreas pode também ser nomeada como microlingü-
ística. Por microlingüística entende-se o estudo dos
diferentes níveis de análise lingüística, ou seja, das subá-reas nucleares da lingüística, quais sejam: Fonética, Fono-logia, Morfologia, Sintaxe e
Semântica. Conforme We-edwood (2002), a microlin-güística abrange também a
lexicologia. Esta última, não explorada nesta disciplina de
Estudos Lingüísticos I, objetiva a investigação científica do
léxico.
(Ver DUBOIS; GIACOMO; GUESPIN et. Al. Dicionário de
Lingüística, p. 367-378.)
1. Fonética2. Fonologia3. Morfologia4. Sintaxe5. Semântica
Quadro 1: Subdivisões ou subáreas da Lingüística
As subáreas da Lingüística
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Capítulo 02
Adivisãopropostaanterioré interessanteparanós,quenos lan-çamosnosestudoslingüísticos,poispermiteabordarváriostemasporafinidades;logo,demaneiramaisclara.
Aolongodadisciplina,relembraremos,emvá-riosmomentos,queasfronteirasentreosramosdaLingüísticanãosãoestanqueseque,concomitante-menteaosmergulhosemaspectosparticulares,seránecessáriomanter avisãodequenossoobjetodeinvestigaçãofoidestacadodeseumeio,unicamenteparafinsdeestudo.Éemseuambientenaturalqueeleexperimentaemanifestaplenamentesuaessên-cia;algocomoexaminarosprincípiosdaaerodinâ-micadeumaave,suaestruturaósseaesuasfunçõesorgânicas,sempretendoconsciênciadequesuato-talidade,comoserdentrodocosmos,realiza-seemseuvôolivre...emseuambientenatural!
Saiba mais...
VocêpodeseinstruirmaissobreaLingüísticaesuassubáreasouáreasafinspormeiodaleituradasobrasabaixo.Saiba,porém,quesetratatão-somentedeindicações.Outrasobrastambémlhepos-sibilitarãoinformaçõessimilares.Assim,useoslivrosquevocêjápossuiouaquelesqueestejamaoseualcance.Casosintanecessi-dadedemaissuportes,vocêpoderáler:
FIORIN,JoséLuiz(Org.). Introdução à Lingüística II:princípiosdeanálise.2.ed.SãoPaulo:Contexto,2003.
MARTIN,Robert.Para entender Lingüística.SãoPaulo:Pará-bola,2003.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da Lingüística. SãoPaulo:Parábola,2002.
Figura 1: Totalidade do ser dentro do cosmos
Unidade A - A Ciência Linguística
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Aseguir,vamosdescreverbrevementecadaumadascincoáreasindicadasacima,naFigura1.Logoapós,naUnidadeB,deter-nos-emosnadiscussãoarespeitodeFonéticaeFonologia.
2.2 Fonética
AsubáreadaLingüísticaquesededicaaoestudodapartefônicadalinguageméchamadadeFonética.AsbasesqueconstituemesteramodaLingüística,bemcomotodosseusoutrosramos,possuemumhistórico,ouseja,aquiloquesabemoshojearespeitodaFonéticaéresultadodeumasériedereflexõeseestudosanteriormenterealizados.Aspectosdes-sehistóricosãosempreimportantesparaquesejapossívelformarumaidéiasobreaFonética,talcomoelaseapresentanoestadoatual.Trata-sedebasesgerais,aplicáveisaoestudodasdiversaslínguasconhecidas.ApesardenãoserpossívelabordarafundotodososaspectosestudadospelaFonética,algunsdelessãofundamentais.Assim,naUnidadeB,vocêseráconvidadoainvestigaralgunstópicosdemododetalhado.
Emresumo,a fonéticapreocupa-secomoaspecto físicoda fala,istoé,dedica-seàinvestigaçãodomaterialsonoro[fones]edesuafon-tedeprodução,deixandodeladoafunçãodosomcomoelementodesignificação.AFonética,mesmojáconstituindoumramoespecíficodaLingüística,internamentepossuialgumasoutrassubdivisões.Vejamos:
2.2.1 Fonética Acústica
Interessa-sepelapartefísicadossonsdalinguagemhumanaedaslínguas específicas. A fonética acústica examina as características dosomcomovibraçãocomplexa.Buscaexplicações lógicase científicas,porexemplo,paraascaracterísticasfísicasdeumavogaloudeumacon-soantepresenteemumadadaemissãosonora(fala).
NaFonéticaAcústica,ossonssãoprioritariamenteanalisadoscomoauxíliodeinstrumentosespecialmenteconcebidospararealizarumasériedetarefas.Essesaparelhospermitemaocientistaalcançargrandeprecisãonosdetalhesdesuasanálises.Atualmente,boapartedosins-trumentosdeanáliseacústicaestáinformatizada,istoé,éaplicadapormeiodocomputador(hardwaresesoftwares).
As subáreas da Lingüística
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Capítulo 02
Neste ramo, o foneticista geralmente emprega métodos experi-mentais,ouseja,captaafalanaturalpormeiodeuminstrumentoparagravação,converte-a,emseguida,daformaanáloga(natural)paradi-gital (numérica) e a examinapormeiodeprogramas informatizadosdeanáliseacústica.Torna-se,assim,possível,porexemplo,isolarumavogalouumaconsoanteeestudarsuascaracterísticasfísicas(duração,amplitude,timbre,etc).
Nafiguraaolado,vocêpodeobservarumapáginaextraídadeum dos vários programas exis-tentes de análise acústica. NosquadrosAeB(janelassuperio-res, esquerda edireita), visuali-zam-se as formas de onda daspalavras tonta e tona; nos qua-dros C e D (janelas inferiores,esquerdaedireita),observam-seseusrespectivosespectrogramas.Programasdestetipopermitem,porexemplo,examinardetalha-damente, edemodo isolado,ascaracterísticasfísicasdeumavogal,deumaconsoante,dasinterferênciasmútuasentreelas,determinartraçosdaproduçãooraldedeterminadoindivíduo,alémdeváriosoutrostiposdeanálise(traçosdeentonação,detransiçãoeinterferênciasentrevogaiseentreconsoantes,etc).
AFonéticaAcústicapermitiugrandeprogressoemsínteseereco-nhecimentovocais,ouseja,tornou-sepossívelreproduzirartificialmenteporçõesdefala(síntese)ou,inversamente,instruirumsistemainformá-ticoparareconhecerporçõesemitidasnaturalmente(reconhecimento).
AFonéticaAcústicatambémpossuialgumasramificações.Umexem-plointeressanteasercitadoéaFonéticaForense.Ofoneticistaforenseexaminadocumentossonorosgravadosemfitascassetes,Cds,mp3,etc.,demodoaidentificarparâmetrosquepermitamatestarqueavozgravadapertenceadeterminadapessoa.Parafazê-lo,adotamétodosdeperícia.Por isso, está ligada à área forense (de fórum).Por vezes, o foneticista
Figura 2: Imagem da análise de dois vocábulos: tonta e tona (SOUZA, 1998, p.54).
Unidade A - A Ciência Linguística
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forenseultrapassaaanálisedafala,dedicando-se,também,àinvestiga-çãodeoutroselementossonorosdeordemnãolingüística,eventualmen-te,presentesemumagravação.Assim,dialogaigualmentecomaFísicaAcústica,aInformática,aEngenhariaElétricaemesmocomoutrasáreas,comoaAviação,aBalística,dependendodomaterialaserexaminado.Porisso,nestecasoespecífico,interessa-setambémporoutrosaspectosanexosàfala(tosse,soluço,questõesdepatologiasdalinguagem,disfarcesvocais,etc.).Dessemodo,afasta-se,algumasvezes,dafonéticadalíngua,constituindoumasubáreabastanteespecíficaeinterdisciplinar.
2.2.2 Fonética Articulatória
Examinaossonsdopontodevistadesuaprodução.Paratal,con-sideratodaapartefisiológica(aparelhofonador)envolvidanaproduçãodossonsdafalahumana.Consideratodososmecanismosdeproduçãodafala:acomeçarpelacorrentedearegressivapulmonar(respiração),quepassapelalaringe(fonação),faringee,finalmente,pelascavidadesoral(articulação),nasal(ressonância)elabial,atéosmínimoselementosqueconstituemestesórgãosequeparticipamnaconstituiçãodossons.
AFonéticaArticulatória tambémpossuialgumasramificações, talcomoaOrtofonia,voltadaàretificaçãodeproblemasdeordemarticu-latória.Muitos fonoaudiólogos concatenamconhecimentosda fonéticaarticulatória,daanatomofisiologia,dapsicologia,daneurologia,noau-xílioaosexercíciosditosdeortofonia.Sabemos,porexemplo,que,paraproduzirumsom[f],éprecisotocarlevementeolábioinferiornosdentessuperiores, forçaroardospulmõesparaacavidadeorale,finalmente,provocarumafricçãonopontodecontatoentrelábioedentes.Parapro-duzirum[v],realizamosomesmoprocesso,comumapequenadiferen-ça:fazemosvibrarnossascordasvocais.Estesconhecimentossão,todos,degrande importânciaparaosespecialistasemfonéticaeaquisiçãodalinguagem,fonoaudiólogos,professoresdelínguaestrangeira,alfabetiza-dores,etc.
Atividade
Coloque a mão espalmada em seu pescoço, logo abaixo do queixo (onde
nos homens há o chamado “Pomo de Adão”). Experimente pronunciar re-
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Capítulo 02
petida e lentamente: [p] - [b] - [p] - [b] - [p] - [b] - [p] - [b]... Dizemos que o
primeiro é surdo e o segundo sonoro.
Provavelmente, você não conseguiu perceber nitidamente a diferença en-
tre um e outro som no que diz respeito à vibração das cordas vocais, pois
em português pronunciamos essas consoantes acrescentando uma vogal a
elas [pe-be]. Ora, as vogais exigem sempre a vibração das cordas vocais, e
você pode se ter confundido.
Agora, tente novamente, empregando a mesma técnica ao pronunciar lenta-
mente os pares de sons [s] - [z], ou [x] - [j]. Alongue por alguns segundos a
produção deles. Nestes casos, como se trata de consoantes fricativas, não é pre-
ciso acrescentar vogal de apoio. Assim, percebe-se claramente a ausência ou a
presença de vibração das cordas vocais. Quando vibram mais intensamente,
temos a impressão de que há uma abelhinha barulhenta em nossa garganta.
Como nestes sons não ocorre a explosão final das oclusivas, os pares podem ser
alongados e diferenciados pela vibração das cordas vocais mais nitidamente.
NaspossíveisdivisõesdaFonéticatemosainda:
Fonética Comparada• : que estuda as semelhanças e oposiçõesentreduasoumaislínguas.
FonéticaAuditiva/Perceptiva• :queexaminaosprocessosdeper-cepçãodossonsdalinguagempelossereshumanos,taiscomoosmecanismos envolvidos no reconhecimento de uma sílabaacentuada,arecepçãodaamplitude,dafreqüênciaouacombi-naçãodessesparâmetros.
2.3 Fonologia
ComoaFonética,aFonologiatambémsepreocupacomossonsdalinguagem,voltando-separticularmenteaoestudodasfunçõesdossonsdeumadeterminadalíngua.Distingue-sedafonéticaapartirdomomento emque sepreocupa coma funçãodos sons edas relaçõesqueseestabelecementreelesnoâmbitodeumalínguaespecífica,istoé,ocupa-sedafunçãodossonsnatransmissãodemensagens,deixandoparaaFonéticaaanálisedosaspectosdeconcretização,usodossons.
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Comovimosanteriormente,aFonéticaocupa-sedoaspectofísico,material,deixandodeladoafunçãodosomcomoelementodesignifi-cação.TomeessadiferençacomobasequandopensaremumadistinçãoclaraentreFonéticaeFonologia.
Considerandoumconhecidoexemplodoportuguêsbrasileiro,obser-vamosque,paraaFonética,naspronúnciasdapalavra“tia”:[txia]e[tia]hádoisfonesbemdiferentesentresi,asaber:[tx]e[t].Noentanto,paraaFonologiadoportuguês,estesdoissonspossuemvaloridêntico.Nomododefalardocarioca,porexemplo,[tx]ocorresomentediantedavogal[i].Porsuavez,o[t]ocorreemtodososdemaiscontextos.Demodogeral,compreendemosperfeitamenteaqueserefereàpalavra“tia”,mesmoquepronunciadadeumououtromodo,istoé:[txia]e[tia].Ambasaspronún-ciasremetemaomesmoreferente:ouirmãdemeupai,ouirmãdeminhamãe,ouaindaesposadotio,entreoutrostantospossíveissignificados.
AFonologiaobservaoaspectointerpretativodossons,suaestrutu-rafuncionalnaslínguas(Cagliari,1995),ouseja,osomcomopartedeumsistema.Elaobservaamaneiracomoossonsseorganizamdemodoaformarenunciados.Quandoumsoméutilizadoparadistinguirpala-vras,eleéchamadodefonemadalíngua.Porexemplo,emumapalavracomo[pá],sehouvertrocado[a]por[é],teremosumanovapalavra[pé].Nestecaso,[pá]e[pé]possuemsignificadosdiferentes.Apartirdesteen-saio,ossons[á]e[é]serãoconsideradoscomodoisfonemasdistintos,quefazempartedorepertóriodosfonemasdoportuguêsbrasileiro.
Cada línguapossui seuprópriorepertóriode fonemas.Oportu-guês,porexemplo,utiliza33fonemas,sendo12vogais,19consoantese2semivogais.Háaindaoacento,quenocasodoportuguêsconstituiumtraçodistintivo.Issoficaclaroempalavrascomo“sábia”,“sabia”,“sabiá”,ou “fábrica” (localdeprodução) e “fabrica” (doverbo fabricar).Vocêpode treinar buscando outros exemplos como: vira/virá, para/Pará,cera/será,entretantosoutros.
Noqueserefereaoespanhol,nãoexisteunanimidadesobreonú-mero exatode elementosque formamo repertóriode fonemasdestalíngua.Entretanto,parafinsdeestudoeparanãopolemizaraquestão,podemosdizerqueorepertóriocomumenteaceitoeestabelecido,por
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Capítulo 02
autoresmuitorespeitados,indicaumtotalde24fonemas,sendo5vo-gaise19consoantes.
Salientamosqueonúmerodefonemasdeumalínguanãocaracte-rizasuperioridadeouinferioridadelinguística.Oimportanteéqueosfalantesdestalínguapossamexprimirsuasidéiasesentimentoscomosrecursosquepossuem.
Veremosquenastranscriçõesdistinguimososfonemasdosfones/sonspormeiodautilizaçãodebarrasoblíquasedecolchetes.Assim,respectivamente,[tx]seráconsideradocomoumsomoufonedoportu-guêse/t/comoumfonema.Maisabaixo,vocêveráqueháumaconven-çãoparaarepresentaçãodossons.O[x],porexemplo,serárepresenta-dosempreporumsímboloespecífico:[].
Seporventuravocênãoconseguiucompreenderosexemploseaterminologiaempregadaatéaqui,nãosepreocupe;oassuntoseráreto-madoaolongodestadisciplina,poisFonéticaeFonologiaconstituemostópicoscentraisdenossaUnidadeB.
2.4 Morfologia
Emsuaorigemgrega,Morfologiasignificaestudodaforma:morfo(forma)e logia(teoria,estudo).Dadoseusignificadobásicoegeral,apalavraMorfologiaé tambémutilizadaemoutrasCiências.Evidente-mente,interessa-nosaquiseuusonoâmbitodaLingüística.
SegundoCagliari(1995),aMorfologiaéumramodaLingüísticaqueestudaosignoreduzidoàsuaexpressãomaissimples(morfemas).Investiga assim a combinação entre morfemas, formando unidadesmaiores,comoapalavraeosintagma.
EstasubáreadaLingüísticaseocupadasmenoresunidadesdefor-macomsignificadoespecífico,ouseja,cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativas.Seufocodeanáliseéaestruturainternadaspa-lavras,oselementosqueaconstituem:osmorfemas.
Quantoànoçãodepalavra,considereoquevocêconheceimplicitamen-tecomopalavra,poisébastantecomplexoestabelecercritériosparadefini-la
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teoricamente.Podemosdizerqueapalavraéamenorunidadelingüísticacommobilidade,ouseja,épossívelmovimentá-lanafrase,alterarsuaposi-ção.Issonãoacontececomomorfema,anãoserqueelesejapromovido,aexemplodepalavrasdeapenasummorfema,comoéocasode“sim”.
Paraquevocêpossacompreendermelhoroqueémorfema,vejamosumexemplo.Napalavramesasexistemdoismorfemas:“mesa”,queconsti-tuioquechamamosdebaseouraiz,e“s”,morfemagramatical,quecarregaamarcadenúmero(plural),logo,possuiumasignificação.Contrariamente,aseqüência“sas”nãoéummorfema,porquenãochegaaterumsignificadolingüísticoemportuguês.Reiteramosparaquevocêpossafixar:
Eisumoutroexemplo.Apalavra“mesinhas”temtrêsmorfemas:mesa+inha+s.Omorfema“inha”,nessecontexto,remeteànoçãode“diminuti-vo”(quenãonecessariamentequerdizer“menor”).Todasessastrêsunida-des,seforemreduzidasmaisdoquejáofizemos,perderãosignificação.
Observequeessesmorfemasseligamhabitualmentedemodore-gular,tornandoteoricamentepossíveldefiniraexistênciadeumnúme-rofinitodemorfemasemumadeterminadalíngua,queconstituiriamoselementosutilizadosparacomporpalavras.
Osmorfemassãounidadesdeformaesentido.Assim,paraestudá-loséprecisoconsiderarosaspectos ligados tantoàsua formaquantoaoseufuncionamentoesentido,ouseja,dequemodosecombinameorganizamnossamaneiradeexprimirarealidade.
Naanálisemorfológica,geralmente,consideram-seaforma,osen-tidoeadistribuição.Aprimeiratarefadaanálisemorfológicacompre-endeaobservaçãodegruposdepalavras(duasoumais)queseapresen-tamemoposiçãoparcialdeformaeconteúdo.
Exemplo: belos e belas
Omorfemaédefinidocomoamenorunidadecomsignificadoes-pecífico.Cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativasepossuisignificaçãoparticular.
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Capítulo 02
Opera-se,então,acomutaçãocomaintençãodeexaminarseesteselementosdiferentesprovocamalgumaalteraçãodesentido,apesardamanutençãodoselementosrecorrentes.Noexemploacima,atrocade“o”por“a”,alémdealterarparcialmenteaforma,alteraosentido.Noprimeirocaso,tem-seaindicaçãodegêneromasculinoe,nosegundo,degênerofeminino.Háqueseconsiderarainda,emtermosdedistribui-ção,queomorfemaindicadordegêneroemportuguêsésempresufixal,istoé,situa-seposteriormenteàraiz,ocupandoapenúltimaposiçãonapalavra,antesapenasdomorfemadenúmero.
Aformadosmorfemaspodeservariável,dependendodocontextodeocorrência.Umdosmorfemasindicadoresdenegaçãoemportuguêséo“in”.Eleésempreprefixal,esuaformavaria,podendoapresentar-secomo“in”ou“i”,conformesepodeobservarnosexemplosaseguir:
feliz – infeliz
grato – ingrato
hábil – inábil
real – irreal
mortal – imortal
legível – ilegível
natural - inatural
Examinadoumgrandenúmerodeocorrências,chega-seàconclusãodeque“i”surgeantesde“l,r,m,n”,e“in”ocorrenosdemaiscontextos.
Trata-se de formas variantes de ummesmomorfema, cada umadelaséummorfe.Osmorfesquerepresentamummesmomorfemasãochamadosdealomorfes.Elessempreseapresentamemdistribuiçãocom-plementar,oquesignificaqueondeocorreummorfe,nãoocorreooutro.Ocondicionamentodedistribuiçãodosmorfespodeserfonéticooupro-priamentemorfológico.Seaescolhaentreosalomorfesdependerdocon-textosonoro,diz-sequehouvecondicionamentofonético.Esteéocasodopluraldepalavrascomo“bar–bares”.Emprega-se“es”emrespeitoà
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constituiçãosilábicadoportuguês,umavezquenãoexistenestalínguaaseqüênciaintra-silábica“rs”.Ocondicionamentomorfológicoacontecequandonãosepodeexplicaraalomorfiapelocontextofonético.
2.5 Sintaxe
Sintaxeéumapalavraquetemsuaorigemnogrego,formadaapar-tirdapreposiçãosun(com),quemarcaaidéiadereuniãonoespaçoounotempo,etaxis,quesignificaemsuaorigem:ordem,organização.
Paranós,emsuadefiniçãoprimeira,aSintaxeéoramodaLingü-ísticaqueexaminaosprocessosdegeraçãoecombinaçãodasfrasesdaslínguascomoobjetivodedeterminarseufuncionamentoesuaestrutu-rainterna.Todavia,entende-sequeaSintaxetambémpodeconsiderarestruturasmenores. Assim, esta subárea procura igualmente abordarquestõesreferentesàrelaçãolinearentremorfemas(releiaadefiniçãodemorfema,notópicoquetratadamorfologia)ouentrevocábulos,istoé,aSintaxeanalisaigualmenteamaneiracomoosmorfemaseaspala-vrassecombinamparaformarpalavrasesintagmas,respectivamente.Sobaóticagramaticalmaisampla,osestudossintagmáticosrecaemas-simsobretrêspatamaresprincipais,asaber:
Apalavra-queconstituioelementodebase,comonoexem-1.plo“mesinhas”analisadoanteriormente,compostode:mes(a)+inha+s.
O sintagma (ougrupo) - que é aunidade intermediária (sin-2.tagmanominalouverbal,etc.).Exemplo:“avendademesinhasamarelas”.
A frase - elementosuperiorda sintaxe: “Joãovendemesinhas3.amarelas”.
ASintaxeestudatantoasrelaçõesentreasformaselementaresdodiscurso(palavrasesintagmas),quantoasregrasquepresidemaordemdaspalavrasnoprocessodeconstruçãodasfrasesdeumalíngua.
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2.5.1 O Estudo das Frases
Paraestudarasfrases,énecessáriopartirdeenunciados.Paraobtê-los,podemosempregarmétodosdistintos:
Aobservação(estudodecorpus);1.
Aintuição;2.
Aelicitação.3.
Opesquisadorempregaaintuiçãoeaelicitaçãoafimdeverificaragramaticalidadedosenunciados.
(*) Osgatoscomeasração.
Os gatos comem a ração.
Nadeterminaçãodagramaticalidadeouagramaticalidadedeumafrase,podemosrecorreràsprescrições,istoé,recorreràsnormasdita-daspelasgramáticasnormativas.Jáaaceitabilidadeouainaceitabilida-deé,normalmente,intuitiva;logo,édefinidaemrazãodaconsideraçãodostrêsmétodosmencionados.Asrazõesparaseaceitarourejeitarumenunciadopodemserdeordemsintáticaousemântica.Opesquisador,porvezes,precisareconhecerapluralidadedejulgamentos,poisenun-ciadosrejeitadosporalgunsusuáriosdalínguapodemseraceitosporoutros.Vejamosalgunsexemplos:
Lígia dirige seu carro.
O elefante dirige seu carro.
Aprimeira fraseseráprovavelmenteaceita.Asegundaapresentaumproblema,pois“umelefante”nãopodedirigirumcarro.Todavia,trata-sesimplesmentedeumproblemasemântico/pragmático,quenemexistiriaseestivéssemos,porexemplo,emumcontextodeumapeçadeteatroparacrianças,naqualosanimaisadquiremtraçoshumanos.
Insistimosentãoqueaagramaticalidadeéumfenômenodiferente.Aagramaticalidadeconcerneàsdimensõesformaisdagramática,comoporexemplo:aordemdoselementos,oacordodegêneroenúmero,etc.
Em Sintaxe, geralmente se coloca um asterisco (*) antes da frase para marcar um enunciado agramatical, isto é, que não esteja de acordo com as regras da gramática da língua padrão.
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Vejamosoexemploabaixo:
* Os elefante diriges seu carros.
Quandohouverdúvidasemrelaçãoàgramaticalidadeouàaceita-bilidadedeumdeterminadoenunciado,érecomendávelqueseutilizeumpontodeinterrogaçãonolugardoasterisco.
(?) Carros seus sem direção dirigem os elefantes.
2.5.2 Língua Escrita e Língua Oral: Problemas de Ensino
Demodobastantegeral,natradiçãoescolar,grandepartedosalunosmanifestaalgumtipodeaversãoàtarefadeestudarportuguêsoulínguasestrangeiras.Ora,nocasodoportuguês,trata-sedalínguaquefalamosnocotidiano,emtodasassituaçõesdecomunicaçãooraleescrita.Pode-sesu-porquenãoháexatamenterecusaàlíngua,maseventualmenteàspráticasempregadasparaoestudoeoensinodalíngua,estendendo-setambémaoestudodaslínguasestrangeiras.
Problemascomoadislexiasãoidentificados,estudados,tratados,po-rém,nãohátratamentosespecíficosparalidarcomalunosqueapresentamproblemasdeaversãoaoestudolínguapropostanaescola.Provavelmente,nãoháumaúnicarazãoetampoucoelapodesercaracterizadacomosim-ples.Sejacomofor,éimportantequeoprofessordelíngua,sejaelamater-naouestrangeira,possacompreenderasnecessidadesdeseestabeleceremlaçosentreaescritaeaoralidade,estaúltimacompreendidanoespaçodeinterlocuçãoamplo,noqualcoexistemusosdiversosdelíngua.
Comoprolongamentodenossaspráticasescolares,porvezes,imagi-namosqueosestudossintáticosrecaemsempresobrealínguaescrita.Evi-dentemente,a línguaescritadostextosacadêmicoséquasesempremaisextensivamentetrabalhada,emtermosdeprecisãoeestilo.Alémdisso,naescritatemosmarcadoresqueauxiliamaidentificarfronteirasentrefrases.Asfrasesempregadasparaestudogeralmentesãoselecionadas,promoven-doalgumacertezadequecorrespondemàlínguapadrão.
Todavia, vocêdeve terpercebidoqueempregamosmuitomais alínguaoralnamaiorpartedassituaçõesdoquealínguaescrita.Oslin-
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Capítulo 02
güistas,demodogeral,aceitamatesedaprimaziadooralsobreoescri-to.Estaconstatação,porsisó,justificariaosimensosesforçosrealizadosno sentidodeprocurardescrever e entendermelhor a estrutura e osfenômenosgeradosnamodalidadeoral.
Émuitoimportantesaberqueháfenômenosdaoralidadequenãorespondemàsexigênciasdalínguapadrão,masquepoderiamserexpli-cadospormeiodeinstruçõessintáticasesemânticas.Porexemplo,vocêjádeveterescutadofrasescomo:
A gente jogamos bola.
Nestafrasesimples,overbodeveriatersidoflexionadonaterceirapessoadosingular.Todavia,osujeito“agente”foiinterpretadocomosen-doplural,istoé,considerou-seque“agente”comportamaisdeumapes-soaeque,portanto,englobaanoçãodeplural.Assim,exigiriaumverboflexionadotambémnoplural.Emsuma,hánestafraseumagrandepreo-cupaçãocomoacordodenúmero;entretanto,alínguapadrãoofereceumoutromodelodereferência:opronome“nós”.Deacordocomagramáticadestavariedadelingüística,nãoseaceitaaformaexemplificada.
2.6 Semântica
ASemânticaéoramodalingüísticaqueestudaosignificado,bemcomo as questões anexas queparticipam em sua composição.Os se-manticistassãoosprofissionaisqueatuamnestedomínioequeseinte-ressampelanatureza,funçãoeusosdossignificadosmanifestadosnosjogos formadospelosdiversos componentesque compõemas esferasdalínguaedalinguagem.ASemânticapossuiassimobjetosdeestudodiversificados,asaber:
Estudodosignificadodaspalavras:simples,compostasedeex-•pressões;
Relaçõesentreaspalavras(homonímia,sinonímia,antonímia,po-•lissemia,hiperonímia,hiponímia,ambigüidade,vagueza,etc.);
Adistribuiçãodosactantesnosenunciados;•
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Ascondiçõesdeverdadeemumenunciado;•
Aanálisecríticadodiscurso;etc.•
ASemânticaéumcampodeestudosamplo,intimamenteimbrica-docomtodososoutrosdomíniosdalingüística,tendoemvistaqueosignificadoéumcomponenteindissociáveldaprópriaidéiadelíngua.Parafinsdepesquisa,dependendodas concepções adotadas relativa-menteàsnoçõesdelínguaelinguagem,poderásermuitodifícil,ouatémesmo inviável, estabelecer fronteiras estanques, por exemplo, entreSemânticaeSintaxe,entreSemânticaePragmáticaouentreSemânti-caeLexicografia.Osignificadoconstituiumcomponenteessencialnaconstituiçãodalíngua,permeando,assim,todasuaessênciaeaflorandoemtodasassuasmanifestações.
A Semântica suscita grande interesse de pesquisadores de váriasáreas,sobretudopelainterfacequemantémcomoutrasciências.ALe-xicografia, por exemplo, emprega uma série de noções da Semânticaparatratardosignificadodaspalavras.
Nestasessão,porquestõesdedelimitaçãoecomintençãointrodu-tória,vamosnoslimitaratratardequestõesligadasàSemânticaLexical,istoé,abordaremosalgunsaspectosdiretamenteligadosaoestudodoléxicoepertinentesnasatividadesdeensino/aprendizagemdelínguasestrangeiras.
2.6.1 A Homonímia, a Polissemia e Sinonímia
Dopontodevistadaformaescrita,quandoaspalavraspossuemamesmagrafiasãochamadasdehomógrafas(Ex.:mangadecamisaepédemanga).Dopontodevistadaformasonora,quandosãopronuncia-dasdemodoidênticopelomesmofalante,sãochamadasdehomófonas(Ex.:seção/sessão;concerto/conserto).
Dizemosqueestamosdiantedehomônimos,quandoháamesmaformaorale/ouescritacomsentidosdiferentes:
Juan foi à feira.(verboir)
Juan foi casado.(verboser)
As subáreas da Lingüística
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Capítulo 02
Todasaslínguasconhecidasapresentamgrandenúmerodehomô-nimos.Trata-sedeumacaracterísticacomumàslínguase,geralmente,somentequandorealizamosestudosmaisaprofundadoséquepercebe-mosalgunsdestesfenômenos.Eismaisumexemplo:
Acessar a página de EaD.
Abrir uma página do dicionário de espanhol.
Virar mais uma página da vida.
DopontodevistadaSemântica,quandoumamesmaformaapre-sentaváriossentidos,estamosdiantedofenômenodapolissemia,istoé,váriossentidospossíveis.
A roda do carro foi retirada.(arocompneu)
O garoto roda seu brinquedo.(doverborodar, girar)
Formaram uma roda de samba. (umgrupodepessoas)
Algumas palavras podem ter dezenas de sentidos.Há lingüistasqueaceitamatesedequeapolissemiaestárelacionadacomoprincípiodaeconomia lingüística, istoé,os falantes fariamoreaproveitamentodeformasjáexistentesnoprocessodecomunicação,demodoaevitaracriaçãodemaisumapalavraacadavezquesurgeanecessidadedenomearumnovoobjeto,umanovaentidadeouconceito.
Comovimos,alinguagemhumanasecaracterizaporumasériedeparticularidades.Nãohá,porexemplo,relaçãounívocaentreformaesentido.Destemodo,assimcomoformasidênticaspodemtersentidosdiferentes,tambémformasdiferentespodempossuirsentidosidênticosou similares.Quando istoacontece, estamosdiantedo fenômenoco-nhecidoporsinonímia.Eisumexemplo:
Ela fala espanhol
correspondea
Ela fala a língua de Cervantes.
Quandonosreferimosà“línguadeCervantes”,estamosnosrefe-rindoao“espanhol”.Temos,pois,umaunidadelexicaleumaexpressão,ambascomsentidospraticamenteidênticos,istoé,remetemoleitora
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umamesmanoção.Umarelaçãosimilarpoderiaserpropostaemrela-çãoà“línguaalemã”aochamá-lade“línguadeGoethe”,ouaindafazerreferênciaàtorcidadoflamengopormeiodoempregodaforma:“ator-cidarubro-negra”.Evidentemente,dopontodevistaestilístico,empre-garumaououtraformapodegerarimensadiferença.Émuitointeres-santequesetenhaaopçãodeescolha,sobretudoemfunçãodogêneroempregado:literário,poético,político,etc.
2.6.2 Hiponímia e Hiperonímia
Partindodasunidadesgato, lebre eanimal,observamosquegatoelebrepodem,ambos,serrelacionadosaanimal.Podemosdizerentãoque gatoe lebresãohipônimosdeanimal.Porsuavez,gatoelebresãoco-hipônimos, isto é, estão situadosnomesmopatamardentrodestadistribuiçãoespecífica.
Ashierarquiaspodem, evidentemente, variar segundoos critériosadotados emdeterminada categorização.Oprofessorpodedeterminarseuspróprioscritériose,porextensão,suasprópriashierarquiasparare-alizarseutrabalhoemsaladeaula.Porexemplo,falarde tamareira pode,emalgunscontextos,gerarincompreensãoportratar-sedeumtipodeár-vorequenãoexistenoBrasil.Podemos,nestecaso,buscarmaiorgenera-lizaçãotrocandodepatamarefalandodepalmeira.Senãoforsuficiente,podemosbuscaroutronívelefalarem árvore ouemárvores que geram as tâmaras,queporsuavezsãofrutosmaisconhecidos.Fatosimilarpodeaconteceremrelaçãoàscerejeiraseoliveiras,quesãoasárvoresquege-ramrespectivamenteascerejaseasazeitonas.Àmedidaqueascendemosnadireçãodepatamaresmaisgerais,encontraremososhiperônimos.
Comotodadisciplina,aSemânticadesenvolve-seemconsonânciacomosmétodoscientíficos,todavia,diferentementedaFonologia,daMorfologiaedaSintaxe,disciplinasnasquaisháacordosrelativamentegeraisedecon-sensoquantoàunidadedeanálise,aSemânticapossuiváriasabordagens,sobretudoemrazãodovastolequedeestudosqueabarca.Comojáassina-lado,aSemânticaconsideradesdeosignificadodaspalavras,passandopelafraseepelasrelaçõessemânticasqueseestabelecementreelasnodiscurso.ASemânticainteressa-seaindapelasrelaçõespragmáticasqueexaminamosjogosimplicadosnousodalinguagem,emsituaçõesvariadas.
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Capítulo 02
Algumas Considerações Finais
Nestaunidade,retomamosalgunstemasquejáhaviamsidotrata-dosnadisciplinaIntrodução aos Estudos Linguagem,procurandoofere-cerdadoseconhecimentos teóricosquepossibilitemoentendimentoamplodaáreadeatuaçãoedosobjetosdeinvestigaçãodaLingüística.
Nossa intençãomaior foiadepromoverreflexões teóricasa res-peitodalínguademodoapodercriarcondiçõesparaacompreensãodasáreasdeconhecimentoaseremabordadasmaisdetalhadamentenaUnidadeB,quaissejam:FonéticaeFonologia.Alémdisso,oentendi-mentodocampodeatuaçãodoprofissionaldaáreadeLetraspermitequevocêpossa se situardevidamente e tomar suasprópriasdecisõesrelativasàsuainserçãonaárea.
Napróximaunidade,comovocêsabe,nossaconversaestarácen-tradaemaspectosrelativosàsmenoresunidadesanalisáveisdalíngua:osomconcreto(fone)eaunidadeabstrata(fonema).
Vamoslá,então!
Saiba mais...
Hámuitasteoriasemodeloseabordagensaseremconhecidos.Su-gerimosavocê,nestemomento,queestudenoções introdutóriasque lhe permitam progressivamente se lançar em questõesmaisaprofundadas.Para fazê-lo, é interessanteque, inicialmente,vocêbusquereferênciasemobrasdeintroduçãoàLingüística,queabar-camasprincipaisnoçõesdasemântica.Pesquise,porexemploem:
MUSSALIM,Fernanda;BENTES,AnnaChristina (Org.). In-trodução à lingüística: domínios e fronteiras.6.ed.,v.1.SãoPau-lo:Cortez,2006.
MARTIN,Robert.Para entender Lingüística.SãoPaulo:Pará-bola,2003.
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Glossário Relativo à Unidade A
Cognição:relativoaoprocessomentaldepensamento,percepção,memória,aprendizagemerecordação(STERNBERG,2000).
Estratificação:operaçãoque,numasondagem,consisteemdistri-buirpreviamenteporestratos(camadas,parcelas,níveis)determi-nadosconjuntosquesequerestudar(HOUAISS;VILLAR;FRAN-CO,2001,p.1261).
Inexorável:aquenãosepodesubtrair;fatal;inelutável.Antônimo:permanente.(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.1611).
Miscelânea: conjunto de coisas diferentes; mistura (HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.1933).
Paradoxo:aparentefaltadenexooulógica;contradição;proposi-çãoouopiniãocontráriaàcomum(HOUAISS;VILLAR;FRAN-CO,2001,p.2127).
Psicolingüística: área interdisciplinar da Lingüística que se voltaao estudo dos processos cognitivos, sobretudo àqueles ligados àaquisição,aoprocessamento,àcompreensãoeàproduçãodalin-guagem.Investigatantoasrelaçõesentrepensamentoelinguagemquantoosprocessos envolvidosnousoda linguagem, tais comosistemasdememória.
Sinergia: cooperação; coesão; ação coordenada (HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.2579).
Sintagma:segmentolingüísticoqueexpressarelaçãodedependên-cia.Háumelemento independente (que impera)eumelementodependente(ousubordinado).Cadaumdelesconstituiumsintag-ma.Geram-se,nesteprocesso,relaçõesdesubordinação.
Transcrição:correspondênciasegmentoasegmentoentreasuni-dadesdalínguafaladaeasunidadesgráficas.Emtermosfonéticosefonológicos,atranscriçãofazcorresponderaosfonesoufonemasdaslínguassímbolosdoAlfabetoFonéticoInternacional(DUBOIS;GIACOMO;GUESPINet.al.,1998,p.594).
Unidade BA Fonética e a Fonologia
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Palavras Preliminares
Nossasegundaunidadeédedicadaaoestudodoscomponentesfonéti-coefonológico.Emseudesenvolvimento,serãoabordadosalgunsaspectosamplosconcernentesàlinguagem,ouseja,àquiloqueécomumatodosossereshumanos,etambémfatosligadosàslínguasespecíficas.
Vocêsabequeháindivíduosquepossuemvariaçõesdeordemana-tomofisiológicasou,àsvezes,denaturezaneurológicaqueosdiferenciamdasconfiguraçõesmais freqüentes, julgadas “comunsounormais”, talcomoafalaarticulada.Essasparticularidades,porvezes,provocamma-nifestaçõeslingüísticassingularizadas,ouseja,“diferentes”.Asnecessi-dadesprovenientesdetaisvariaçõesfazememergirformasdeexpressãoalternativas àquelas que comumentemente conhecemos e utilizamos.Umexemplobemconhecidoéa linguagemdesinais.Hámilharesdepessoasqueapraticamporteremnascidocomespecificidadesqueasimpedemdesemanifestardamaneiramaiscorrenteeconhecidapelamaioria.Todavia,aspessoasqueusamestecódigonãoestãoprivadasnemdalinguagemenemdousodaslínguas,simplesmenteofazemdemododiferente.Sevocêaindanãoconhecenadaarespeito,procureseinformarmaissobreaLínguaBrasileiradeSinais(LIBRAS).
Saiba mais...
Acesseositeabaixoeprocureseuslinks.VocêvaiencontrarmuitasinformaçõessobreLIBRAS.
http://www.ead.ufsc.br/hiperlab/avalibras/moodle/prelogin/
Osindivíduosquenãopossuemnenhumapatologia ligadaà lin-guagemusamosditos“sonsdalíngua”.Naverdade,poderíamosfalartambémem“sonsda linguagem”,pois,emprimeira instância,muitossonspodemserconsideradoscomunsatodosossereshumanos.Pense,porexemplo,nosbebês.Desdeosseusprimeirosdiasdevida,osbebêsemitemsons.Estessons,parafinsdeestudo,podemserconsideradoscomopertencentesàlinguagemhumana.Somenteapartirdomomento
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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emqueosbebêspassamafazerreferênciaasituaçõesdoseucotidiano,aos objetos que os circundam, na intenção de se comunicar, estarão,progressivamente, adquirindo e empregando uma língua específica.Obviamente,alínguaquedesenvolverãoéaquelafaladaporseusentesmaispróximos,sejaelaqualfor:espanhol,português,tupi-guarani,etc.
Como jáestudamos,aLingüísticaquasesempreexcluidoroldeseus interessesossonsnãopertencentesà línguaouà linguagemhu-mana,taiscomo:tosse,ronco,soluços.Tudodependedoslimitesqueseestabelecememrelaçãoàquiloquesequerinvestigar.
FonéticaeFonologiasãoduasáreascomplementares.Assim,émui-todifíciltratardeFonéticasemfazermençãoaquestõesdeordemfono-lógicaevice-versa.Oestudodaproduçãoarticuladadetodaequalquerlínguapassaobrigatoriamentepeladescriçãofonéticaefonológica.
ApesardeaFonéticasededicaràidentificaçãoeclassificaçãodoselementosdacadeiadafala,éimportantelembrarqueossonsexamina-dospelaFonéticafazempartedeumfluxosonoro.
Afalasedesenvolvesobaformadeumfluxosonoro.Assim,porexemplo, ao ouvir uma língua desconhecida como omandarim(faladoporgrandepartedoschineses), vocêprovavelmentenãoconseguirádeterminarfronteirasentrepalavras,poisnalínguafa-lada (textosorais)nãoexistemespaçosentrepalavrasouunida-desdesentido.Vocêpronunciaefetivamente[ascazazamarelas]aodizer “as casas amarelas”.Comparativamente,nos textos escritosháespaçamentoexplícitoentrepalavras,expressões,frasesoupe-ríodos,realizadoscomossuportesgráficosquevocêconhece,ouseja:espaçamento,pontofinal,vírgulas,travessão.Sevocêgravarumalínguaemsituaçãonormaldeusoeinseri-laemumsistemadeanáliseacústica,ofatoficarámaisevidente.Nãoserápossíveldefinirfronteirasentrepalavrasouentreunidadesdesentido.Parafazê-lo,vocêprecisaráconhecerafundoalínguaexaminada.Mes-moemsetratandodoportuguêsbrasileiro,nossosistemaauditivorecebeumfluxosonorocontínuo.
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AoposiçãoentreFonéticaeFonologiafazpartedeumaconvençãoquepermitetornaroobjetodeestudomaisclaro.Assim,afonéticaes-tudaasubstânciadalinguagemoraldemodoacontribuirparaumame-lhorcompreensãodaforma(definidaporsuafunçãocomunicacional).
AntesdenosaprofundarmosemFonéticaeFonologia,édeextre-maimportânciatratardaduplaarticulaçãodalinguagem.Éjustamentenacompreensãodestanoçãoquesesituaumadasgrandescuriosidadesarespeitodofuncionamentodalinguagemhumana.Suponhaaexistên-ciadeumextraterrestrequeviessevisitarnossoplaneta,aTerra.Talvezaduplaarticulaçãodalinguagemfosseopontoquemaisointeressariaarespeitodasbasesdenossosistemadecomunicação.
Figura 3: Ilustração da dupla articulação da linguagem humana
A Linguagem e sua Dupla Articulação
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Capítulo 03
A Linguagem e sua Dupla Articulação
Neste capítulo, trataremos de compreender a dupla articulação da linguagem humana.
3.1 A Dupla Articulação da Linguagem
Comojádestacamos,alinguagemhumanapossuialgumascarac-terísticasmuitoparticularesqueasingularizam,istoé,queadistinguemdasoutras formasde comunicação.A linguagemhumanacompõe-sedeumsistemadesignos(sonoros,gestuais,gráficos)empregadoscomomeiodecomunicaçãoparaaexpressãodeidéiasesentimentos.Eviden-temente,elatemmuitasoutrasfunções;entretanto,nosdeteremosnafunçãocomunicativaporora.
Comovocêjásabe,nalinguagemhásemprerelaçõesdecomposi-çãoentreunidadesdeníveisdiferentes.Porexemplo,afraseécompostade sintagmasque, por sua vez, são compostosde vocábulos, que sãocompostosdemorfemas,quesãocompostosporfonemas.Estetipodeanáliseéchamadodeanálisedosconstituintesimediatos.Sobestapers-pectiva,aceitamosquecadaunidadepodeserdecompostademodoacolocaremevidênciaseusconstituintessituadosnopatamarimediata-menteinferior.Dessaforma,dizemos,porexemplo,queosfonemassãoosconstituintesimediatosdosmorfemas.
Cadaumdessesníveiséestudadodemaneiradiferente.Observemqueumadiscussãofundamentalseparaonívelfonológicodonívelmor-fológico.Trata-sejustamentedanoçãodeduplaarticulação.
Aduplaarticulaçãoéconsideradacomootraçomaisimportantedalinguagemhumana.
3
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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Umenunciadopodesersegmentadoemmorfemas(signoslingüís-ticos),talcomoem“casinhas=casa+inha+s”.Porsuavez,essesmor-femaspodemsersubdivididosemfonemas,ouseja,sonscujafunçãoépuramentedistintiva:/k+a+z+i++a+s/.
Alinguagemhumanaéarticulada,istoé,elaéconstruídasobreumsistemadeoposiçõesedecombinaçõesentreunidadesdiscretas,defor-madupla.Porisso,fala-seemduplaarticulação.Explicandodemodomaisdetalhado,podemosdizerque:
aprimeira articulação se refere àsunidadesquepossuemum1.significante (uma forma fônica)eumsignificado.Significanteesignificadosãoindissolúveis,inseparáveis.Elesconstituemosigno lingüístico.Há,emcadalíngua,umnúmeromuitograndedeunidadessignificativas.Elessãorenovadospermanentemen-teemrazãodasnecessidadesdecadacomunidade lingüística,formandooquechamamosdeléxicodeumalíngua.Todososdias,surgemnovasunidadesdotadasdesentido,poisprecisa-mosdelasparaacomunicaçãocomosmembrosdenossacomu-nidadelingüística,paraarealizaçãodenossasreflexões,etc.
Para que você possa compreender melhor, vejamos novamenteomesmoexemploapresentadonaUnidadeA(seção2.4).Napalavra“mesas”existemdoismorfemas:“mesa”(queconstituioquechamamosdebaseouraiz)eopluralmarcadopelomorfemagramatical“s”.Ase-qüência“sas”nãoéummorfema,porquenãochegaaterumsignificadolingüísticoemportuguês.Reiterando:
Omorfema é definido como amenor unidade com significadoespecífico.
Cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativasmenoresepossuisignificaçãoparticular.
asunidadesacima,daprimeiraarticulação,istoé,asunidades2.significativas(oumorfemas)podemserdecompostasemuni-dadesdesegundaarticulação,ouseja,emfonemas.Osfonemas
Se você tem dificuldades para compreender a noção de sig-
no lingüístico, releia o texto da disciplina de Introdução aos Estudos da Linguagem. Lá, você vai encontrar expli-
cações claras e detalhadas a este respeito.
A Linguagem e sua Dupla Articulação
45
Capítulo 03
nãopossuemsignificado.Apesardisso,possuemafunçãodis-tintiva.Éjustamentenestepontoquesepodeobservaraextra-ordinária eficácia da linguagemhumana, isto é, seuprincípiodeeconomia,poiscomumnúmeromuitoreduzidodefonemas(aproximadamente33emportuguêse24emespanhol),épossí-velgerartodososmorfemasdeumalíngua.
Coloquialmente falando, com uma média de somente 30 sons(vocálicoseconsonantais),ouatémenos,nocasodemuitaslínguas,épossívelconstruirmilhõesdepalavras,milhõesderelaçõesentreelas,enfim,elaborarumaimensidãodediscursos.
Atenção:Onúmerode fonemasdeuma línguanão temrelaçãocomsuapluralidadelexical,comsuariquezacultural.Nãohálínguasprimitivas.Todaspossuemigualstatusdiantedaanáliselingüística.
3.2 Retomando Algumas Informações Importantes
Cadalínguapossuiumnúmerofixodefonemas.Elessãoaspar-tículasmínimasda construçãodos enunciados.Os fonemasnão car-regamconsigosignificado;noentanto,possuemvalordistintivoe,porextensão, importância fundamental, constituindoachamada segundaarticulação.Acombinaçãolinearentrefonemasgerasegmentosmaio-resquecompõemasunidadesdotadasdesignificação,istoé,osmorfe-mas,quesãoasunidadesdeprimeiraarticulação.
Osfonemassóexistemnaestruturadalíngua.Sobesteprisma,po-demosdizerqueonúmerodefonemaséfinitoedeterminável.Muitosfonemasserepetememoutraslínguas;issoénatural.Porexemplo,nopardelínguasportuguêseespanhol,háváriosfonemasemcomum.
Na verdade, o aparelho fonadorhumanopodeproduzir umnú-meromuitograndedesonsdiferentes.Aslínguasdomundoexploramessaspossibilidadeseasempregamcomounidadesdistintivas,ouseja,comofonemas.Noportuguêsbrasileiro,porexemplo,temosumagran-devariedadedesons“R”.Sãochamamoscoloquialmentede“R-caipira”,“R-gaúcho”,“R-carioca”,etc.Quandopronunciamos,porexemplo,apa-
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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lavra“porta”,ofatodeempregarmosesteouaqueletipode“R”nãofaránenhumadiferença,ouseja,essasvariaçõesnãoprovocarãomudançadesentido.Porém,sedissermos:“carro”e“caro”,teremosdoisfonemasdistintosemportuguês,respectivamente:// e //.Elespossuemvalordiferente,ouseja,nessecontextoproduzemsignificaçõesdiferentes,aopassoqueemumalínguacomoofrancêsessaoposiçãonãoépertinen-te,poisnalínguafrancesahásomenteumtipode“R”.
Comojávimos,ossons,consideradosemsuaessênciafísica,ouseja,exclusivamente investigadoscomosons, semconsiderar funçãodistintivadentrodosistemadeumalíngua,sãoestudadospelaFonética.Assim,cabeàFonéticaestudarosváriostipospossíveisde“R”emportuguês.Elespodemsomardezenas.MascaberáàFonologiaverificarseelessãoounãosãofone-mas,istoé,seelespossuemvalordistintivo.Visualizeoquadro2abaixo:
Fonética Fonologia
Estudo dos sons da fala, isto é dos fones.
Estudo dos sons com valor distintivo.
Quadro 2: Síntese das funções da Fonética e da Fonologia
Vamos,agora,proporummergulhomaisfundonaFonética.
Para compreender e conhe-cer os fones aos quais estes
fonemas se referem, ou seja, a maneira como eles são ar-ticulados, recorra ao quadro 8, na seção 4.2.3 relativa às
consoantes do português brasileiro. Lá você poderá
ouvir a pronúncia de todos os sons consonantais, além de
ter acesso a exemplos.
A Fonética
47
Capítulo 04
A Fonética
Neste capítulo vamos explorar o universo dos sons lingüísticos.
Éprecisoadmitirqueaposiçãoformalista(Vejaconteúdosdadisci-plinaIntrodução aos Estudos da Linguagem)contribuiusobremaneiraparaacomposiçãodosconhecimentosquesepossuihojeemLingüística.Es-tabelecendoumaanalogia,é imprescindível lembrarque,assimcomoéimportanteanalisaraestruturadeumpássarotantopeloseuvôoquantoporsuamaneiradevoar,estudando-oemseuambientenatural,tambéméimportanteconsideraroestudodossonsdafalanolocalondeelesexistemesemanifestamemsuaplenitude,istoé,nacadeiadafalaenodiscurso.
Apresentamosnoquadroabaixo,astrêsetapasbásicasdacomuni-cação,asaber:produção,transmissãoepercepção.Nossaatençãorecai-ráparticularmentesobreaprimeira,ouseja,sobreaprodução.VamosenfatizaraquestãodaFonéticaArticulatóriasobreaqualjálançamosalgumasbasesnaUnidadeA.AsdescriçõesdaFonéticaconstituemumadasprincipaisbasesparaaanálisefonológica.
Etapa da comunicação Subárea da Fonética correspondente
ProduçãoFonética Articulatória
(estudo do aparelho fonador e da produção dos sons da fala)
Transmissão Fonética Acústica(estudo das propriedades físicas dos sons)
PercepçãoFonética perceptiva
(estudo do aparelho auditivo e dos mecanismos de decodificação dos sons)
Quadro 3: Etapas da comunicação no que diz respeito aos aspectos fonéticos
Noesquemageraldacomunicação,temosumsujeitoqueproduzsonsdalinguagemarticulada(oral),quesepropagamatravésdoare,finalmente,sãoapreendidosporumsistemareceptor,istoé,poroutrosindivíduos.
4
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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Produção de sons Propagação de sons através do ar Recepção dos sons
Figura 4: Esquema da comunicação
4.1 O Aparelho Fonador
Aspartesdocorpohumanoutilizadasparaaproduçãodafalapos-suemcadaumadelasoquesechamadefunçãoprimária,asaber:respi-ração,mastigação,glutição,olfato,etc.Quandoproduzimosossonsdalíngua,realizamos,naverdade,umasobreposiçãodefunções,istoé,asmesmaspartesdocorpoempregadasparaasfunçõesprimáriassãoem-pregadas,agora,paraumasegundafunção,ouseja,paraaproduçãodossonsdalinguagem.Damosaesteconjuntoonomedeaparelhofonador.Vejamosoaparelhofonadornafigura5abaixo.
Fossas nasais
Alvéolosolos
Palato
Ápice
Véu do palato
Úvula
íngua Faringe
Epiglote/glote
Lábios
Laringe
Cordas vocais
Esôfago
Traqué ia artéria
Figura 5: Aparelho Fonador
A Fonética
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Capítulo 04
Neste esquema, você pode visualizar um desenho representandoumapartedaanatomiahumana,comosetivéssemosrealizadoumara-diografiatransversaldestapartedocorpohumano.Trata-se,naverdade,deumtraçadofeitoàmão,quecolocaemevidênciaalgumasdasprinci-paispartesdoaparelhofonador.Éimportantequevocêconheçaonomedealgunsdestesórgãos,poiselesparticipamdanomenclaturautilizadaparaaclassificaçãodasvogaisedasconsoantes,comoveremosadiante.
4.2 Sons Vocálicos e Consonantais
SegundoCagliari(1995,p.57),classificarasletrasdoalfabetoemvogaiseconsoantessófazsentidoseestasletrasremetemasonsque,nafala,podemserclassificadoscomovogaiseconsoantes,segundoadescriçãofonética.Demodosimilar,classificarasletrasemvogaiseconsoantestemcomoúnicafunçãoamarcaçãopréviadetiposdiferentesdeletras.Todavia,nafala,vo-gaiseconsoantessãomuitodiferentesquandoestudamosamaneiracomosãoarticuladas.Assim,colocaremosênfasesobreaquestãodaarticulação.
4.2.1 As VogaisTodasas línguasdomundopossuemvogaiseconsoantes.Paraa
produçãodeumavogaloudeumsegmentovocálico,apassagemdoarnãosofreaçãodiretadenenhumórgão,istoé,nãoháobstruçãooufricçãodoarnacavidadebucal.Oqueocorreefetivamentesãoaltera-çõesdevolumenessacaixaderessonância(oral)quepermitemprovo-carsonsdiferentesentresi.Comumente,chamamosessasmodificaçõesde estreitamentosda cavidadeoral.Esses estreitamentosocorrememrazãodosmovimentoshorizontaiseverticaisdamassadalíngua,queoraseaproxima,oraseafastadopalato(céudaboca).Paraaproduçãodasvogais,acontecemtambémmovimentoslabiais,ouseja,estiramentoouarredondamentodoslábios.
Prática
Pronuncie um [s] ou [x] alongando sua produção. Trata-se de uma consoante.
Você perceberá que parte de sua língua obstrui parcialmente a passagem de
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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ar no céu da boca (palato). Ocorre uma fricção do ar no orifício criado pela
língua, palato e dentes. Já o som [a], vocálico, é produzido sem nenhuma
obstrução na cavidade oral. Experimente produzi-los de modo comparativo.
Estesmovimentosdalínguaemdireçãoadiferentessetoresdopa-lato,bemcomoaprotusãolabial,sãodeterminantesparaaclassificaçãodasvogaisque,emrelaçãoaosmovimentoshorizontaisda língua,po-demser classificadas comoanteriores, centrais eposteriores.Comre-laçãoaosmovimentosverticais, asvogais sãoclassificadascomoaltas,médiasebaixas(outambémcomofechadaseabertas).Finalmente,emrelaçãoàformadoslábios,podemsercaracterizadascomoarredondadasenão-arredondadas.Naturalmente,vocêpoderáencontrarclassificaçõeseterminologiasdiferentes,segundoosautorespesquisados.Emciênciatrata-sedefatonatural.Oimportanteéquevocêtenhaconsciênciadissoecompreendaosprincípiosbásicosqueregemosdiversosfenômenos.
Prática
Pronuncie a seguinte seqüência [ i - e - é - a - ó - o - u ]. Observe como a
língua se move progressivamente no sentido horizontal, isto é, da região
próxima aos dentes frontais em direção à garganta.
Agora, experimente, diante de um espelho, pronunciar várias vezes as vo-
gais [ é u ]. Sinta como seus lábios se estiram ao produzir um [é] e se arre-
dondam ao pronunciar [u].
Passe para um outro exercício: observe os movimentos verticais, ou seja, de
baixo para cima e vice-versa, pronunciando várias vezes [ a - i ].>
É importante você ter consciência de que para estudar e compreender de-
vidamente as bases da Fonética Articulatória é necessário praticar exercí-
cios dessa natureza. Seu aparelho articulatório é como um laboratório que
lhe permite fazer vários testes práticos. Assim procedendo, você vai perce-
ber mais claramente os processos de produção de muitos sons. Por vezes,
se você tiver dúvidas sobre como classificar uma determinada vogal, seu
próprio sistema articulatório poderá auxiliá-lo na busca das respostas que
você procura. É muito interessante!
A Fonética
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Capítulo 04
i
e
é a
o
ó
u
Figura 6: Aparelho fonador com trapézio vocálico sobreposto
Observeafiguraacima.Convencionou-se,demodoesquemático,visualizaraarticulaçãodasvogaisdesenhandoumtrapéziosobreotra-tooral.Eleacompanha,figurativamente,osdeslocamentosdamassadalínguaemrelaçãoaopalato.O ladoesquerdodeste trapéziovocálicorepresentaaparteanteriordacavidadebucal,istoé,aquelazonaquesesituapertodosdentesfrontais.Oladodireitoéchamadodeposterior,istoé,aregiãopróximaàgarganta.Apartedecimadotrapézioécha-madadealtaeabasedotrapéziodebaixa.Imaginandodestamaneira,acompreensãodaclassificaçãodasvogaissetornabastantesimples.Porexemplo,o[a],segundoesseesquema,serácaracterizadocomovogalbaixa,central.Seconsiderarmosaprotusãolabialeleseráclassificadoaindacomonão-arredondado.VejamosaFigura7:
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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i
Anteriores | Central | Posteriores
Médias
Altas
Baixa
u
e o
cε
a
Figura 7: Trapézio vocálico e classificação das vogais orais
Sevocêexercitarnovamente,perceberáquetodasasvogaisante-riores e centraisda línguaportuguesanão são arredondadas, e todasasposterioressãoarredondadas.Emnossa língua,oarredondamentolabialnãoéumtraçosignificativodasvogais!
Vocêpodesebasearnafiguraacimapara,apartirdeagora,passarmosautilizarumasimbologiadiferentepararepresentarossonsdalinguagem.Existemsímbolosespeciaisparafazerreferênciaaossons.Logoabaixo,háumaentradaespecíficaquetratadatranscriçãofonética.Sevocêtiverdúvi-das,avancealgumaspáginaseobservequeossímbolos[]e[],mostradosnafiguraacima,representam,respectivamente,ossons[é]e[ó].
Nafiguraabaixo,aparecemrepresentadasasvogaisdoportuguês.Vocêpoderáobservarque,emnossa língua, temosdozevogaisemposiçãodemaiorintensidade:seteorais:[,,ε,,,,]ecinconasais:[,,,,].
i ĩ u ũ
e ẽ o õ
cε
a ãFigura 8: Trapézio vocálico do português
Otrapéziovocálicodoespanholpossuimenosvogaisdoqueodoportuguês.Nalínguaespanhola,háapenascincovogais,comopodeserconstatadono trapézio abaixo (Figura9).Não existem,por exemplo,
Provavelmente, os símbolos []e [] lhe causaram estra-nhamento. Eles pertencem a uma convenção de trans-crição fonética e fonológi-ca chamada IPA. Para saber mais sobre estes símbolos, antecipe-se um pouquinho e leia rapidamente a seção que trata do Alfabeto foné-tico (4.2.2).
A Fonética
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Capítulo 04
asoposiçõesaberta/fechada,comoháemportuguêsentre:[]e[]ouentre[]e[],comonosseguintesexemplos:“meu/mel”e“avô/avó”.Noqueconcerneàsnasais,foneticamente,anasalizaçãonalínguaespa-nholapodeatéserconstatadaemalgumasdesuasrealizações,masnãoocorreránuncacomvalorfonológico,ouseja,distintivo.
i u
e o
aFigura 9: Trapézio vocálico do espanhol
Insistimos,maisumavez,queofatodeoportuguêspossuirumnú-meromaiordevogaisrefletetão-somenteumadasdiferençasentreasduaslínguas.Ambaspossuemtodososelementosnecessáriosesuficientesparaamanifestaçãodosentido,istoé,paraacomposiçãodequalquertipodedis-curso.Omaioroumenornúmerodeconsoantese/ouvogaisnãofazcomqueumalínguasejasuperioràoutraenemquesejamaisbela.Osjuízosdevalorrefletempreconceitos,ealingüísticanãoosreconhece.
Informação históricaOsfonemasvocálicosabertos,provenientesdolatimpopular,foramconservadosemportuguês,porémemespanholseditongaram,comosepodeobservarnosexemplosseguintes:
Latim popular Português Espanhol
petram pedra piedra
fortem forte fuerte
Quadro 4: Demonstrativo histórico - comparação português/espanhol.
4.2.2 O Alfabeto Fonético
Doravante,vamosadotarumasériedesímbolosespeciaisquevocêpassaráaconhecer.Trata-sedochamadoalfabetofonético.Estanotaçãobaseia-seemumaconvençãoempregadacientificamenteparadescrever
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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ossonsdaslínguasemgeral.Notrapézioapresentadoacima,vocêjádeveterpercebidoquealgunssímbolossãobemdiferentesdasletrasdenossoalfabeto,comoavogal[ε]dapalavra“pé”eavogal[]dapalavra“pó”.Estaconvençãoédiferentedaquelaqueusamosnossistemasortográfi-cosdoportuguês,doespanhol,dofrancês,enfim,daslínguasemgeral.Assim,diversossonsdoportuguês,bemcomodemuitasoutraslínguas,serãorepresentadossegundoestaconvençãocadavezqueseestivertra-tandodapartefísicadossonsdafala,istoé,deFonética,oudafunçãoqueestessonsexercemnosistemalingüístico,ouseja,deFonologia.
Umdosgrandes interessesdeseestudarasregrasdatranscriçãofonéticaéviabilizar,aomesmotempo,acodificaçãoeadecodificaçãodequalquersom,dequalquerlínguademodoaproximativo.Evidente-mente,issoépossíveldesdequeseconheçabemasrelaçõesentreessasconvençõeseosrespectivossons.
Háumalfabetofonéticodeconsenso,istoé,aceitoeutilizadoporgran-departedospesquisadores.Chama-seAlfabetoFonéticoInternacional.Nor-malmente,parasefalardestesistemadesímbolos,emprega-seaabreviação“IPA”,doinglês:International Phonetic Alphabet.Há,assim,certonúmerodefontes(símbolos)adotadosinternacionalmenteparaacomposiçãodoIPA.
Pense,porexemplo,napalavra“casa”.Vocêpronunciaeouveclara-mente[z]entreasduasvogais,nãoémesmo?Noentanto,nossasregrasortográficasexigemoempregodo“s”gráficonestecontexto.Arazãodissoésimples:aspalavraspossuemumahistória.Elasforamprogressivamentesecompondoaolongodosanos.Aslínguas,emgeral,possuemumlongopassado.Hámotivosetimológicosparaquenossosistemaortográficotenhaestaconfiguração.Quandocriança,temoscertadificuldadeparaaceitaraidéiadeescreverumapalavracom“s”,aexemplode“casa”,pronunciandoosom[z].Evidentemente,maistarde,compreendemosqueemnossalín-gua,emalgunscontextos,aletra“s”épronunciadacomsom[z]equehárazõeshistóricasparatal.Poisbem,utilizandooIPA,vocêpoderágarantirarelaçãobiunívocaentresomesímbolocorrespondente.Poderáescreverfoneticamenteapalavra“casa”daseguinteforma:[‘z].
Demodoarepresentarossomfoneticamente,éimportantesaberqueoprincípiosebaseiaemumatentativadeestabelecerrelaçõesbiuní-vocasentresímbolosesons.Destemodo,usaremosaseguintenotação:
A Fonética
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Capítulo 04
Colchetes para indicar que estamos tratandode fonética, isto1.é,osímbolofonético–ouatranscriçãodefrasesepalavras–ésempreapresentadoentrecolchetes:[fone/som];
Símbolosquerepresentamossons:geralmenteoIPA.2.
Assimprocedendo,comovimosacima,apalavra“casa”serátranscrita,foneticamente,destemodo:[‘z].Oapóstrofocolocadoantesdaprimeirasílaba,[‘],indicaoacentosilábico.Observe,noquadroabaixo,atranscri-çãodasdozevogaisdoportuguês,comrespectivosexemplosilustrativos:
Vogal Exemplo Transcrição
apito [’]
ímpeto [‘]
apelo [’]
pente [‘] ou []
pé [‘ε]
pato [‘]
pantera [ ’]
pó [‘]
poço [‘]
ponche [‘]
pura [‘]
junto [‘]
Quadro 5: Quadro demonstrativo: transcrição fonética
Observequeaordemparaaapresentaçãoestádeacordocomotrapéziovocálicoque,comojámencionamos,acompanhaosmovimentosdamassadalínguaemrelaçãoaopalato.VisualizenovamenteodesenhodotratooralapresentadonaFigura6,representandootrapéziovocálicodoportuguês.
Algumas vezes, tendo em vista a complexidade dos princípios queregemnosso sistema alfabético/ortográfico, quandonãonos lembramosexatamentedagrafiacorretadeumapalavra,precisamosdoauxíliodeumdicionário.Aspalavras“exceção”e“excesso”,porexemplo,podemeventual-mentegerardúvidas,porpossuírem,ambas,composiçõesbastantesingula-res.Estesdoisexemplosservirão,aqui,paraumareflexãointeressante.
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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Vejamos...
Vocêsabia,porexemplo,que,emportuguês,háoitomaneirasparaserepresentargraficamenteosom[s]?Porquestõesdenaturezadiacrôni-ca,aspalavrasprecisamserregistradasassim,paraestardeacordocomaformaquetomaramaolongodasuahistória,istoé,duranteosprocessosdecomposiçãodalíngua,dapassagemdolatimaoportuguêsbrasileiro.
Observenoquadro6abaixoepresteatençãoàsletrasemnegrito:
Som Grafema Exemplo/palavraTranscrição fonética
(Inserir gravação de todas as palavras)
[s] s sapo [‘s]
[s] ss massagem [’s]
[s] c central [s’]
[s] ç maçã [’s ]
[s] x máximo [‘s]
[s] xc exceção [s’s]
[s] sç cresço (crscer) [‘s]
[s] sc nascer [’s]
Quadro 6: Grafias do som [s] em português
Imagine,porexemplo,asdificuldadesqueteriaumestrangeiroquenãoconhecebemoportuguês,paralerepronunciaressaspalavras?Po-rém,seporventuraestesupostoindivíduotiverconhecimentodoIPA,elepoderáencontrarsubsídiosnatranscriçãofonéticaquelhepermiti-rãoestabelecerasrelaçõesmaispróximasentreografemaeosom,cor-respondente.Essaaproximaçãoépossívelemportuguêseemqualqueroutralíngua.
Observandooquadroacima,vocêpoderáconstatarqueatranscri-çãoéumprocessorelativamentesimples.Porém,vocêestudousomenteasvogais.Aindafaltamasconsoantes.Aofazê-lo,oprocessosetornaráaindamaisevidente.
A Fonética
57
Capítulo 04
4.2.3 As ConsoantesVimos que as vogais se caracterizampor seremproduzidas sem
interrupçõesda corrente de ar. Já noquediz respeito aos segmentosconsonantais,hásemprealgumtipodeobstrução,oratotal,oraparcialnalinhacentraldascavidadessupraglotais(vejanovamenteaFigura5relativaaoAparelhoFonador).
Asconsoantespodemserclassificadasdeacordocomparâmetrosarticulatóriosouacústicos.Tudodependedaperspectivaadotada.
Naclassificaçãopropostaaqui,consideraremososseguintesparâ-metros:
Direçãodacorrentedear (emportuguêseespanhol todosos1.sonssãoproduzidosnaexpiração);
Vibraçãodascordasvocais(surdas/desvozeadasousonoras/vo-2.zeadas);
Oralidadesomenteounasalidade;3.
Órgãosarticuladoresimplicadosnaproduçãodossons;4.
Mecanismoempregadonaobstruçãodacorrentedear.5.
MODO DE ARTICULAÇÃO LUGAR DE ARTICULAÇÃOTipo de
consoante segundo o
movimento
Passa-gemdo ar
Vibraçãodas
cordasvocais
Bila-bial
Labio-dental
Dental,alveolar
ou alveo-dental
Alveo-palatal
Médio-palatal
Dorso-palatal
(ou velar)Glotal
OclusivaOral
Surda
Sonora
Nasal Sonora
Africada OralSurda
Sonora
Fricativa OralSurda s
Sonora z
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
58
Tipo deconsoante segundo o
movimento
Passa-gemdo ar
Vibraçãodas
cordasvocais
Bila-bial
Labio-dental
Dental,alveolar
ou alveo-dental
Alveo-palatal
Médio-palatal
Dorso-palatal
(ou velar)Glotal
Tepe (vibrante simples)
Oral Sonora
Vibrante (múltipla)
Oral Sonora r
Retroflexa Oral Sonora
Lateral Oral Sonora
Quadro 7: Símbolos fonéticos consonantais relevantes para a transcrição do por-tuguês brasileiro (não foram consideradas todas as possíveis variações fonéticas do português do Brasil).
Noquadroquesegue,sãoapresentadosexemplosdepalavrasqueilustramossegmentosapresentadosacimaequeocorremnoportuguêsbrasileiro.
SímboloDo IPA Classificação Exemplo
ortográficoTranscri-
ção
Oclusiva, bilabial, surda pata [‘]
Oclusiva, bilabial, sonora bata [‘]
Oclusiva, dental (alveolar ou alveo-dental), surda taba [‘]
Oclusiva, dental (alveolar ou alveo-dental), sonora dado [‘]
Oclusiva, dorsopalatal (ou velar), surda capa [‘]
Oclusiva, dorsopalatal (ou velar), sonora gata [‘]
Nasal, bilabial, sonora mata [‘]
Nasal, dental (alveolar ou alveoden-
tal), sonora nada [‘]
Nasal, médiopalatal, sonora minha [‘]
Africada, alveopalatal, surda tivesse [‘]
A Fonética
59
Capítulo 04
Africada, alveopalatal, sonora ditado [‘]
Fricativa, labiodental, surda faca [‘]
Fricativa, labiodental, sonora vaca [‘]
sFricativa, dental (alveolar ou alveo-
dental), surda sapo [‘]
zFricativa, dental (alveolar ou alveo-
dental), sonora zebra [‘z]
Fricativa, alveopalatal, surda chapa [‘]
Fricativa, alveopalatal, sonora jato [‘]
Fricativa, dorsopalatal (ou velar),
sonora rato [‘]
Fricativa, velar, sonora rato [‘]
Vibrante simples/tepe, dental (alve-
olar ou alveodental), sonora caro [‘]
Vibrante múltipla, dental (alveolar ou alveodental), sonora carro [‘r]
Retroflexa, alveopalatal, sonora cirurgia [s‘]
Lateral, dental (alveolar ou alveo-
dental), sonora lata [‘]
Lateral, palatal, sonora palha [‘]
Quadro 8: Sons consonantais do português brasileiro, classificação e exemplificação
ComoaFonéticaanalisaosfonesconsiderandotodasaspossíveisvariações–incluindotambémas idioletais-,éimportanteressaltarqueosfonesaquiapresentadosrepresentamtão-somenteaquelesmaisfre-qüentementeobservadosnoportuguêsdoBrasil.Casosuapronúncianãocoincidacomnenhumadaspossibilidadesapresentadas,conversecomseustutoresouconoscoparasabermaisaesterespeito.
A Fonologia
61
Capítulo 05
A Fonologia
Neste capítulo, examinaremos o campo de estudos lingüísticos cha-mado Fonologia.
Emseusestudos,vocêencontrarádoistermosdiferentesquereme-temàmesmaquestão,asaber:FonologiaeFonêmica.Namaiorpartedosmodelospós-estruturalistas,encontraremosotermoFonologia.Oimportanteévocêsaberqueambostratamdoestudodacadeiasonoradafalaepossuempreocupaçõessimilares:estudarosaspectosinterpre-tativosdossonsesuaestruturafuncionalnaslínguas.
Anteriormente, constatamos que a Fonética está preocupada eminvestigarosdiversossonsdeumalínguaedesuasvariantesregionais.AFonologia,por suavez,procuradefinirquaisdentre todosos sonspossíveispossuemvalordistintivo,istoé,quaisdestessonspodemserusadosparadistinguirpalavras.
Noquadroabaixo,reitera-seoslimitesentreaFonéticaeaFonologia:
Fonética Fonologia
Estudo dos sons da fala, chamados fones.
Estudo dos sons com valor lingüístico, isto é, dos fonemas em relação
com um significado.
Os traços fônicos são analisados quanto à sua produção, percepção
ou valores acústicos.
Os traços fônicos são examinados em relação ao seu valor distintivo.
Fones: representados entre colchetes: [fones].
Fonemas: representados entre barras oblíquas: /fonema/.
Quadro 9: Limites entre Fonética e Fonologia
Vocêdevelembrardoexemploqueutilizamosanteriormenterelati-voàpalavra“tia”.Se,porumlado,aanálisefonéticaprovaráquehámaisdeumapossibilidadedepronúnciaparaestamesmapalavra,emrazãodasdiferençasdefalares,istoé:[‘i]e[‘i].Poroutrolado,aanálisefonológicaatribuiráumvalorúnicoaestesdoissons,tendoemvistaque,emalgumasvariedadesdoportuguêsdoBrasil,[]ocorresomentediante
5
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
62
davogal[i],eo[t]diantedetodososdemaissons.Ambasaspronúncias,[‘i]e[‘i],nosremetemàmesmapalavra,comomesmosignificado.
Quandoafonologiadetectasonsqueestejamemoposição,istoé,quepossuemvalordistintivo (ou seja, quedistinguempalavras), elessãodenominadosfonemas.
Observequearepresentaçãofonética(fones)earepresentaçãofo-nológica(fonema)poderãoserdiferentes.Porexemplo:[d’tad]éumarepresentaçãofonéticadeumaproduçãodefalantesdeumadetermina-daregião.Todavia,noquedizrespeitoàfonologiadoportuguêsbrasilei-ro,teremosapenasumarepresentaçãopossívelparaofonema/d/;nestecaso,apalavra“ditado”serátranscritadaseguintemaneira:/di’tado/.
Umdosprocedimentosparaoreconhecimentodefonemaséiden-tificarduaspalavrascomsignificadosdiferentes,quepossuamcadeiaso-noramuitosemelhante,emquehajaapenasumfonediferente.Chama-mosestadupladepalavrasde“parmínimo”.Porexemplo:“bata”e“pata”constituemumparmínimo.Esteparcaracterizaos fonemas/b/e/p/,poiselescontrastamemambienteidêntico.Trata-seaquidotestedaco-mutação.Poderíamoscontinuarcomutandoeobtendonovaspalavras:
/p/ p + ata /’pata/;
/b/ b + ata /’bata/;
/t/ t + ata /’tata/;
/d/ d + ata /’data/;
/k/ c + ata /’kata/;
/g/ g + ata /’gata/;
// ch + ata /’ata/;
/m/ m + ata /’mata/;
/n/ n + ata /’nata/;
/x/ r+ata /’xata/;
/l/ l+ata /’lata/;
Você deve ter percebido que não somente as con-soantes, mas também as vogais são transcritas di-ferentemente em Fonética e em Fonologia. Obser-ve, no parágrafo anterior, as transcrições fonética e fonológica de “ditado”. Você sabe qual a razão? Exatamente a mesma das consoantes. A Fonologia considera apenas os fones com valor distintivos, ou seja, os fonemas. Todas as variações que não são dis-tintivas não aparecem na notação fonológica.
A Fonologia
63
Capítulo 05
Oscasosemqueseobservaquedoisfonessemelhantesnãoseen-contramemoposição,ouseja,suadistribuiçãoécomplementar,devemseranalisadoscomoalofonia.Issoquerdizerqueosdoisfonesemques-tãonãosãodistintivos,tratando-sesomentedemanifestaçõesdiferentesdeummesmofonema,emcontextosdistintos,comoéocasode[]/[]e[]/[],porexemplo.Aalofoniaseráanalisadamaisatentamen-tenaseçãoseguinte(3.1.Aanálisefonológica).
Oestágioinicialdedescriçãodeumalínguatemporobjetivoiden-tificarcomoseorganizaacadeiasonoradafala.Vamosretomarabaixoestasquestõesdemodomaisdetalhadoaotratardaanálisefonológica,umavezqueotestedacomutaçãoétão-somenteumaentreasváriasfasesdaAnáliseFonológica.
5.1 A Análise Fonológica
Otrabalhodofonólogoépermeadoporconhecimentosaprofun-dadosemFonética.Oestudodosistemafonológicodequalquerlíngua–sejaelaconhecidaounão–poderáserotimizadopormeiodaobserva-çãoapuradadaspossibilidadesarticulatóriasexercidaspelosfalantesdalínguaexaminada,bemcomodascapacidadesdosistemaauditivodoserhumano.Atualmente,partedessasobservaçõespodeserrealizadacomoauxíliodeprogramasinformatizadosdeanálisedosinalacústico.
Aanálisefonológicaédeextremaimportânciaparaquevocêpos-saatingirumamaiorcompreensãosobreofuncionamentodaslínguas.Este tipodeanálise implicaumprocedimentometodológicobastantecriterioso,envolvendoetapasnecessáriasaseremcumpridas.Naspró-ximaspáginas,vamosexplicitaretapas:
Etapa 1
Todaequalqueranálisefonológicapartededadosfonéticosdafala.Ainvestigaçãoérealizadasobreumcorpusdefalanaturalquedeverásertranscritofoneticamente.Eismaisumadasgrandesimportânciasdatranscriçãofonética,istoé,elaéumaetapaincontornávelparaaanálisefonológica.
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
64
Então, o primeiro passo é fazer o levantamento de todos os fo-nesobservadosnousodalíngua,ouseja,nafaladosfalantesnativos.Evidentemente,nãoépossívelqueseinvestiguemtodososfalantesdeumalíngua.Pensearespeitodalínguaportuguesa.Somosemtornode210.000.000defalantesnativos!
Pelaimpossibilidadedesetrabalharcomatotalidadedapopula-ção, coletam-seosdadosapartirdeumaamostra significativade fa-lantes.Eladevesersignificativaparapoderrepresentarapopulaçãodaqualsepretendefalar,ouseja,apopulaçãoqueestásendoinvestigadaemtermosfonéticosefonológicos.
Saiba mais...
Aconstituiçãodeumcorpusdefalanaturalérealizadacomoem-pregodetécnicassociolingüísticasqueorientamo levantamentocontrolado e criterioso dos dados. Para aprofundar seus conhe-cimentossobreotrabalhodecampo,vocêpoderáconsultar,porexemplo,olivrodoProfessorFernandoTarallochamado:“APes-quisaSociolingüística”,conformeespecificadoabaixo:
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. 7. ed. SãoPaulo:Ática,2005.
Etapa 2
Depoisdefeitasastranscriçõesdocorpusdefalanatural,opróxi-mopassoseráelaborarumatabelanaqualserãoregistradostodososfonesidentificadosnocorpus.
Éinteressanteclassificarossonssegundoomodoeolugaroupon-todearticulação.Oobjetivoprincipalédetectarasdiferençasfonéticassalienteseagrupá-lasemcategorias.
Estatabelafonéticaconstituiráaprincipalbaseparaasetapaspos-teriores,quesereferemespecificamenteàanálisefonológica.Atéaqui,olevantamentoédeordemfonéticaeservedebaseparaquesepossaconduzirainvestigaçãofonológica.
A Fonologia
65
Capítulo 05
Pela importânciadesta tabela, sua elaboração exigiráumgrandeesforçodapartedopesquisadornosentidoderealizaçãodeumadescri-çãodetalhadaecuidadosadocorpus.
Saiba mais...
ParaestudarumpoucomaisarespeitodeFonética,Fonologiaeensinodelínguas,vocêpoderecorreraosseguintestextos:
HOYOS-ANDRADE,RafaelEugenio.Sistemas fonológicos, in-terferências e ensino de línguas.Uniletras,n.16,p.5-18,1994.
MASIP,Vicente.Fonética espanhola para brasileiros.Recife:So-ciedadeCulturalBrasil–Espanha,1998.
Etapa 3
Umavezorganizadasastabelasfonéticasvocálicaseconsonantais,devem-se identificar os sons foneticamente semelhantes (SFS). Estessonssãotambémchamadosdeparessuspeitos.
Umpardesonséfoneticamentesemelhantequandoháapenasumadiferençanaarticulação,sejanamaneiraounolugaremqueossonsemquestãosãoarticulados.Vejamosexemplos:
[p]e[b]sãoSFSporqueambossãoconsoantesoclusivas,orais,bi-labiais.Aúnicadiferençaentreeleséavibraçãodascordasvocais.[p]éumaconsoantesurda,e[b]ésonora.Tamanhaproximidadedearticula-çãopodelevaràalofonia.IssoquerdizerqueSFSpodemnãoserdistintosfuncionalmenteumdooutro.Porisso,elesprecisamserinvestigados.
[p] e [v],por suavez,nãoprecisamser investigados fonologica-mente,poissetratadesonsfoneticamentedessemelhantes,nãoconsti-tuindoparsuspeito.Comojávimos,[p]éumaconsoanteoclusiva,oral,bilabial,surda,e[v]éumaconsoantefricativa,oral,labiodental,sonora.Dadaagrandediferençadearticulaçãoentreestepar,nãohánecessida-dedeinvestigá-lo.Sabe-se,deantemão,quesetratadefonemasdistin-tosenãodevariantesdeummesmofonema.
No que se refere ao levan-tamento fonético da língua portuguesa, você não pre-cisará coletar dados. Basta retomar as explicações das vogais e consoantes do português brasileiro, nas seções 4.2.1 e 4.2.3, res-pectivamente. Se surgirem dúvidas, lembre-se de re-correr ao tutor ou ao pro-fessores da disciplina!
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
66
Omesmovaleparaoparvocálico [a]e [u].Nãose tratadeparsuspeito,porqueasarticulações sãomuitodessemelhantes. [a]éumavogal,oral,baixa,central,nãoarredondada,e[u]éumavogal,oral,alta,posterior,arredondada.
Etapa 4
TendoidentificadoosSFS,opróximopassoépesquisaraexistênciaouaacessibilidadeaparesmínimosparasabersesetratamdefonemasdistintosoudevariaçãodeummesmofonema,ouseja,alofone.
Paresmínimossãoduplasdepalavrasemqueaúnicadiferençano significante sãoexatamenteos fones sobanálise. “Faca” [ ] e“vaca”[ ]constituemumparmínimo,evidenciandoqueosfones[]e[]sãofonemasdistintos,ouseja,servemparadistinguirpalavras,neste caso. Portanto, podemos transcrevê-los fonologicamente como//e//.
É fundamentalpesquisarosparesmínimos.Eles sãoaevidênciamaissalientededistinçãofonológica.Muitasvezes,porfaltadeprofici-êncianalínguaanalisadaoumesmopelaimpossibilidadedeseconhecertodooléxicodeumadeterminadalíngua,nãoseconseguemlocalizarosparesmínimos,oquenãosignificaqueelesnãoexistam!
Bom,paraestescasos,éprecisorecorreràetapaseguintedaanálisefonológica:osambientesanálogos.Mas,antesdechegarmoslá,vamosrealizarmaisumaatividade.
OfatodevocênãoterencontradoparesmínimosparaalgunsdosSFSpropostosna atividade acima,não significaque estes sons sejamvariantesdeummesmofonema.Antesdetomarestadecisão,opesqui-sadorprecisainvestigarosambientesanálogos.Vamoslá,então!
Etapa 5
Aanálisedosparesmínimosnemsemprepermiteatestaraexistên-ciadeumfonemadistinto,pelosimplesfatodeque,muitasvezes,nãoselocalizamtaisparesperfeitos.
A Fonologia
67
Capítulo 05
Assim,porvezes,énecessáriotrabalharcomoquecomumentesechamadeambientesanálogos.Estetipodeanáliseocorrequandohádú-vidasemrelaçãoàclassificaçãodeumsom,istoé,quandoháincertezadequesetratarealmentedeumfonema.
Comosomosfalantesnativosdalínguaportuguesa,temosgrandefacilidadeparalocalizarparesperfeitosdepalavras.Maspodemospen-saremumasituaçãodiferente,simulandomenorgraudeproficiêncianesta língua.SuponhamosnãoterencontradoparesmínimosparaosSFS[] e [z].Nestasituação,precisaríamosnosenvolvernabuscaporambientesanálogos,quesãoparesdepalavrasemqueocontextopróxi-moaosomanalisadoéidêntico,maspalavraemsinãooé.Vejamosumexemploarespeitode[]e[z]:
“Caso” [z] e “favo” [] constituem ambientes análogospara [] e [z],porqueambosestãoemsílaba fraca: [-z] e [-].Assílabasintensassão[-]e[-].Alémdisso,ambosaparecementreasvogais[]e[].Adiferençaestáapenasnossons[]e[],que,peladistância, não interfeririam no valor fonológico dos sons analisados.Concluímos,assim,que[]e[z]sãofonemasdistintos,mesmoquenãoselocalizemparesmínimos.Osambientesanálogossãosuficientesparaevidenciarovalorfonológico.
Etapa 6
Oexamedoscontextosemqueumdeterminadosomocorre(parmínimo ou ambiente análogo) permite observar se há distribuiçãocomplementar.
Pordistribuiçãocomplementarentende-sequeossonsanalisadosnãoocorrememambientesidênticos(empalavrasdiferentes)nememambientespróximos,oquepodesignificarqueelesestejamemumare-laçãodealofonia,seelesforemSFS.
Quando dois segmentos estão em distribuição complementar,elesaparecememambientesexclusivos:ondeocorreumavariantenãoocorreaoutra.
Existem pares mínimos para os SFS [] e [z], a exemplo de “vela” [] e “zela” [z] ou “cava” [] e “casa” [z].
Lembre-se: Alofone é a va-riação de um fonema. Não há distinção, neste caso.
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
68
Elespodemaindareferir-seavariaçõesidioletaisoudialetais,oquesignificaquepessoasougruposdiferentespodemselecionarpossibili-dadesdistintasdesom.Parececomplicado?Analisemosexemplosparaesclarecer:
[]e []estãoemdistribuiçãocomplementar,umavezque,nosdialetosemque[]existe,eleocorreexclusivamentediantede[]ou//,e[]ocorreemtodososdemaisambientes.
Exemplo Transcrição fonética
Transcrição fonológica
“tipo” [] /’tipo/
“tinta” [] /’tta/
“teve” [] /’teve/
“tenda” [] /’tda/
“tédio” [] /’tdjo/
“tábua” [] /’tabwa/
“tampa” [] /’tãpa/
“toca” [] /’tka/
“todo” [] /’todo/
“tonto” [] /’tõto/
“tudo” [] /’tudo/
“tumba” [] /’tba/
Quadro 10: Análise da distribuição complementar de [] e []
Aindaexemplificando,sabemosque[]e[]sãofonemasdistintosemposiçãoacentuada,intensa,comopodemosverpormeiodosseguintesparesmínimos:“modo”[]e“mudo”[].Contudo,emposi-çãonãoacentuada,fraca,nenhumdestesfonesaparece.Oqueseobservaéapresençadeumaoutravarianteexclusivadestaposição,ofone[],quenãoocorreemnenhumoutrocontexto.Vejamosnovamenteosexemplosacima:“modo”[]e“mudo”[].Pelaausênciadedistinção,emtranscriçãofonológica,vamosoptarpor://e//.
A Fonologia
69
Capítulo 05
Asvariaçõesaquiexemplificadascaracterizamumtipodealofoniachamadodeposicional.Trata-sedevariantesposicionais,porquesuasocorrênciasdependemdoambiente/posiçãoemquesurgem.
Existetambémaalofonialivre,naqualsurgemasvarianteslivres,nomesmoambiente,semprejuízodosignificado.Estasvariantesestãorelacionadasaidioletosoudialetos,comoépossívelobservarnasocor-rênciasdo“R”forteemportuguês:
Exemplo Transcrição fonética
Transcrição fonológica
“carro” [] /’kaRo/
“carro” [] /’kaRo/
“carro” [r] /’kaRo/
Quadro 11: Exemplo de variação livre (dialetal ou idioletal)
Evidentemente,estamosdiantedeumcasodevariação!Épossívelexemplificá-loempregandoumúnicoexemplo, jáquesetratadeva-riantelivre.
Optamospela transcriçãodo “R” coma letramaiúscula, porquenãoháumfonepredominante,jáqueaseleçãoporqualquerumdelesdependedodialetoouidioletofalado.Nestesentido,semprequeem-pregarmoso“Rmaiúsculo”emtranscriçãofonológica,estamosnosre-ferindoao“R”forte.
Háaindaumoutrotipodeocorrênciaaexplicitar.Trata-sedoarqui-fonema.Certossegmentosapresentamcontrastefonológicoemdetermi-nadoscontextos,masperdemestecontrasteemoutroscontextos,ouseja,ocontrasteseneutralizadependendodaposiçãoouambiente.Oarqui-fonemarepresentaestaperdadecontraste/distinção.Paraexemplificaraexistênciadearquifonemaemportuguês,vamosrecorreraousodo[s].
Emposiçãopré-vocálica—considerandoasílaba—,o[s]seca-racterizacomoumfonema,vistoestaremcontrastecomtodososSFS a ele.Interessam-nosagoraparticularmenteossons[z],[]e[],paraquepossamosexemplificardevidamenteoarquifonema:
Considerando que som foneti-camente semelhante é aquele em que há apenas uma diferença de articulação, os SFS a [s] são: [z], [] e []. Você pode atestar isso retomando o quadro 7, da seção 4.2.3.
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
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Fones Pares mínimos Transcrição fonológica
[s] – [z] “assa” – “asa” /’asa/ – /’aza/
[s] – [] “assa” – “acha” /’asa/ – /’aa/
[s] – [] “assa” – “aja” (v. “agir”) /’asa/ – /’aa/
Quadro 12: Contraste entre [s], [z],[] e []
Entretanto,seanalisarmosaocorrênciasdestesfonesemposiçãopós-vocálica, observaremos que há neutralização, ou seja, perda decontraste.
Fones Pares mínimos Transcrição fonética
[s] – [z] “pasta” – “pasma” [’pasta] – [’pazma]
[]– [] “pasta” – “pasma” [’pata] – [’pama]
Quadro 13: Neutralização entre [s], [z],[] e []
Com base nestes exemplos, constata-se que ocorrem dois tiposdealofonia:posicionalelivre.Avariaçãoposicionalaconteceentreosfones[s]e[z]eentre[]e[],respeitandoaseguinteregra:osfonessurdosocorremdiantedeconsoantesurda(exemplo[]),eosfonesso-norosocorremdiantedeconsoantesonora(exemplo[]).Avariaçãolivre,porsuavez,ocorreporquestões idioletaisoudialetais.Existemvariantes lingüísticas que optampelas alveolares ([s] e [z]) emposi-çãopós-vocálica,ehávariantesqueoptampelasalveopalatais([]e[])nestamesmaposição.
Levandoemconsideraçãoestaexplicação,nastranscriçõesfonoló-gicas,tem-seoarquifonema[S]emposiçãopós-vocálicaparamarcaraneutralizaçãodocontraste.
Etapa 7
Depois de realizadas todas estas análises, o pesquisador deverádispor do inventário completo de fonemas da língua examinada. Es-tesfonemasdeverãoestardispostosemformadetabelaedevidamenteclassificados.
A Fonologia
71
Capítulo 05
Opesquisadordeverádisportambémdeumadescriçãodetalhadadosprocessosfonológicosdedistribuiçãodosfonemasedasregrasdealofonia.
Retomando e aprimorando a concepção de alofone:
Chama-sedealofoneàsdiversasrealizações/variaçõesdeumfone-ma.Ofonema/t/,citadováriasvezesaolongodesteCurso,podeserrealizadocomo[]em“tua”[]oucomo[]em“tia”[].Estasdiferentesimpressõesqueocérebrorecebepormeiodoner-vo auditivo não afetamo valor do fonema.Neste caso, estamosdiantedealofones,variaçõesdeummesmofonema.
Osalofonespodemserclassificadosem:
•livres:aquelesdependentesdoshábitosarticulatóriosdecadain-divíduooucomunidade.
•posicionais: aquelesmais facilmentemodificáveis em razãodaposição que ocupam no encadeamento fonológico e da influ-ênciados sonsvizinhos.Por exemplo: as influências açorianasnofalardeFlorianópolisgeramrealizaçõesmuitoparticulares,emfrancoprocessodedesaparecimento,talcomo[‘],para“oito”.Nestecasoo[]éconsideradoalofone.
• estilísticos: aqueles produzidos com intenção expressiva. Porexemplo,oalongamentode[e],emumdiálogodotipo:—Resolvisairdoemprego.—Vocêêêêêêêêê?!
Saiba mais...
Paraumestudominuciosoarespeitodaanálisefonológica,seguin-dodetalhadamentetodosospassosacimaespecificados,consulteolivrodoProfessorLuizCarlosCagliari,conformeabaixoindicado:
CAGLIARI,LuizCarlos.Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico.Cam-pinas,SãoPaulo:MercadodeLetras,2002.
Unidade B - A Fonética e a Fonologia
72
Considerações Finais a Respeito de Fonética e Fonologia
Nestaunidade, estudamosasmenoresunidades lingüísticas,nãosignificativas,decomponíveisemtraços,istoé,dedicamo-nosàinvesti-gaçãodosfonesedosfonemas,objetosdeestudodasáreasdaLingüís-ticaintituladasFonéticaeFonologia,respectivamente.
AFonética se dedica ao estudodos sons concretos, ou seja, dossonsemuso:suaarticulaçãoesuapercepção.AFonologia,porsuavez,volta-seàinvestigaçãodafunçãolingüísticadetaissons,considerandoosfonescontrastantes,suasvariaçõeseregrasdedistribuição.
Evidentemente,hámuitomaisparaseestudarnestasáreas.Contu-do,nesteCurso,tentamostrabalharcomasnoçõeseanálisesintrodutó-rias.Comopesquisador,serianecessárioconsideraroutrosfenômenosfonéticosefonológicosdaslínguas,taiscomoostraçossupra-segmen-tais(tom,acentoeduração)easílaba,porexemplo.Ostextossugeridospara leituras aprofundadas podem auxiliá-lo neste empreendimento,casotenhacuriosidade!
Napróximaunidade,dedicar-nos-emosao texto,voltando-nosàleituraeàproduçãotextual.
Bons estudos!
Glossário Relativo à Unidade B
Anatomofisiologia: estudoda forma eda funçãodosorganismosvivos,nocasoespecíficoaquitratado,refere-seaoserhumano.
Dialeto:Variedadesocialdefala,tambémconhecidacomovaria-çãodiatópica.
Etimologia:campodalingüísticadedicadoàinvestigaçãodopassadodapalavra,istoé,deseuprocessodeformaçãoaolongodosséculos.Nocasodoportuguêsedoespanhol,quepossuemhistóriamuitoparecida,estuda-seapalavradesdeolatimatéseuestadoatual.
A Fonologia
73
Capítulo 05
Idioleto: registroouvariedadeindividualdefala.
Neurologia:especialidademédicaquesededicaaoestudoetrata-mentodasdoençasqueatingemosistemanervosocentraleperifé-rico(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.20130).
Unidade CO Texto e a Leitura
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Uma breve conversa...
Nasunidadesanteriores,vocêrevisitoueestudoutemasrelativosàlinguagem,àlínguaeaosestudoslingüísticos;emparticular,estudouquestõesquedizemrespeitoàsáreasdeinvestigaçãodasunidadessono-ras,ouseja:FonéticaeFonologia.
Nestaunidade,vamosnosdedicar,fundamentalmente,àleiturae,porextensão,àproduçãotextual,temadecrucialimportânciaàsdiscus-sõesnoâmbitoeducacional,umavezque,independentementedaáreadeatuação,aleiturafuncionacomopré-requisitoaoestudo,àpesquisa,em síntese, aos processos de aprendizagemque envolvem sociedadesletradas.Sejánãobastasseesteirrefutávelargumento,háqueseconsi-derar,ainda,quevocêestápassandoporumperíododeformaçãoparaadocência.Então,alémdanecessidadeprementededesenvolvimentodesuasprópriascompetênciasemleitura,éfundamentaldesenvolvercom-petênciasquelhepermitamensinaralere,evidentemente,aescrever.
Otextodestaunidadeestáorganizadodaseguintemaneira:
Primeiramente,vamosconversararespeitodaconcepçãodeleitu-ra,desuaemergênciaedesenvolvimento,considerandotrêselementos-chave para o processo: o texto, o leitor e a situação de leitura.Nesteiníciodeconversa,focalizaremosalgunsolharesteóricos.
Emseguida,vamostratardequestõesmaispráticasacercadode-senvolvimentodaleitura,propondoatividadesquepermitamoseumo-nitoramento.Taisatividadesimplicamproduçãotextual,umavezque,emcontextosnaturais,nãosetemacessoaosprocessoscognitivosdelei-tura,senãopormeiodasproduçõesdosleitores.Serãopropostasativi-dadesdeleituracomaintençãodepromoverconsciênciadosprocessosenvolvidosemtãocomplexatarefa,bemcomoaprimoraraabordagemtextualpormeiodoempregodeprocedimentoseestratégiasadequadasàsituação,aotexto,aoobjetivoeàssuasprópriascaracterísticascomoleitorefuturoprofissionaldaáreadeLetras.
Vamos,então,aotrabalho!Esperoquetenhamosbonseproduti-vosmomentos!!
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Aspesquisasemleituratêmevoluídomuitorapidamente.Atual-mente,umconsiderávelnúmerodeestudosérealizadoemlabora-tóriospormeiodetécnicasdeimageamentocerebral,quepermi-temoacessodiretoaosprocessoscognitivos.Entreestastécnicas,podem-secitar,porexemplo,ressonânciamagnéticafuncional,to-mografiaporemissãodepósitronsenear-infraredspectroscopy.Sevocêtiverinteresseemconhecerestudosdesenvolvidosapartirdoempregodestastécnicas,podeencontrarinteressantesartigospublicadosnaseguinteobra:
RODRIGUES,Cássio;TOMITCH,LêdaMariaBraga. (Org.).Linguagem e cérebro humano:contribuiçõesmultidisciplinares.PortoAlegre:Artmed,2004.
A Leitura
79
Capítulo 06
A Leitura
Neste capítulo, discutiremos concepções e procedimentos de leitura de tex-tos escritos, bem como suas produções.
6.1 Leitura: o que é e como se desenvolve
Éimportanteesclarecer,desdeoinício,queleitura,assimcomoamaioriadaspalavras,possuiumcaráterpolissêmico,oquepodelevaradiferentesconcepções,dependendodousodotermoemdeterminadoscontextos.Épossível,porexemplo,quesefalesobreleiturademundo,leituradeumaobradearte(pintura,escultura,etc.),leituradeumapai-sagem,leituradeumdesenho,leituradeumpensamento,leituradeumcomportamento,enfim,leituraseleituras...
Basicamente,aleituraéumprocessoderepresentaçãoqueenvolveavisão.Nestesentido, leréolharparaumacoisaeconstruirmental-menteumaimagemdaquiloquesevê.Comoemqualquerprocessoderepresentação,nãoexisteigualdadeentrearepresentaçãoeaquiloqueérepresentado.Todarepresentaçãoapresentacaracterísticasaparente-menteparadoxais:selecionaedestacaalgunstraçosdoqueérepresenta-do;excluioutrostraçosdaquiloquerepresenta,dependendodosobjeti-vosedascondiçõesdeproduçãodarepresentação.Observeasimagensaolado(Figura10).Ambassãorepresentaçõesdistintasdeummesmoobjeto:oSol.Emborasejamvisivelmentediferentes,aseumodo,cadaumadelasguardatraçosdeaproximaçãocomaquiloquerepresentam.
Nestetexto,apesardasinúmeraspossíveisaberturasdotermo,leituraéentendidadentrodaquiloqueessencialmenteconstituiseuobjeto,ouseja,otextoescrito.Assim,asdemaisleituraspossíveisnãoserãoaquiabordadas.
Emboraosolharesatentosaosprocessosdeleiturapossamserob-servadosdesdeoséculoXIX,foisomentenasúltimasquatrodécadasqueapesquisaemleituraevoluiudemodoaquesepudessemformularmodelosteóricosdeconcepçãoedeprocessamentoemleitura.
6
(Representação/ Desenho do Sol)
Figura 10: Representação do Sol . Foto disponível
em: http://www.nasa.gov/centers/marshall/images/
content/161862main_hino-de_sun_2502x2649.jpg
(Representação/ Fotografia do Sol)
Unidade C - O Texto e a Leitura
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Emumexercíciodialético,a leituradotextoescritofoieaindaécompreendidaapartirdetrêsposicionamentosteóricosclaramentedis-tintos.Elesconstituemasseguintesperspectivasqueserãoaseguirex-plicitadas:ascendente,descendenteeinterativa.Éimportantedestacarquesetratadeteorias,desenvolvidasepublicadasapartirdofinaldadécadade60,quetentamdescreverosprocessosdeleitura.
Deacordocomomodeloascendente,aleituraérealizadaseguindoumcaminhoquepartedotextoemdireçãoaoleitor.Sobestaótica,aleituraécompreendidacomoumprocesso,essencialmente,dedecodi-ficação.Afunçãodoleitor,segundoestaabordagem,éadegarimpar li-nearmente otextoparaextrairasinformaçõescontidasemcadaumdoselementostextuais.Osentidoestánotexto,cabendoaoleitorencontrá-loecompreendê-lo.Estaconcepçãodeleituracomoextraçãodesentidovincula-seàidéiadequeotexto,dadaasuacentralidadenaexpressãodeidéias,possuiumsentidoexato,precisoecompleto,queseráalcança-dopeloleitorpormeiodoseuesforço,persistênciaecompetência.
Nas atividades iniciais de emergência da leitura, seja em línguamaternaounãomaterna,operamfundamentalmenteprocessosascen-dentes.Noperíododealfabetizaçãoemlínguamaterna,afaltadeco-nhecimentodosistemanotacionalalfabético/ortográficonaturalmenteprovocaodeslocamentodaatençãoedosrecursoscognitivosàsuper-fíciedo texto,ouseja,àdecodificação.Posteriormente,mesmoqueoindivíduojáestejaalfabetizadoemsualínguamaterna,aoestudarumalínguaestrangeira,eleénovamentelevadoaoperardemodoascendentenaleituradetextos.Destavez,nãosetratapropriamentededesconhe-cimentodo sistemadenotaçãooudanaturezada linguagemescrita,massimdebaixograude interlíngua.Afaltadeproficiêncianalínguaestrangeira estudada faz comque sepreciseprestarmais atençãoaosaspectoslingüísticosdoqueaosaspectosdeconstruçãodesentido.Umoutromomentoquetambémpodesercitadocomofavorávelaoproces-samentoascendenteéaqueleemqueoleitor—mesmoquesejaprofi-cientenalínguaemquestãoequetenhadesenvolvidosuficientementeas competências em leitura— se depara comum texto difícil de sercompreendido, seja por causada linguagemempregada, do tema,dogênero textualoudasituaçãoemqueatarefadeleituraéempreendida.
Figura 11: Leitura ascendente
A Leitura
81
Capítulo 06
Aconcepçãodescendentede leitura,porsuavez, trazo leitoraocentrodoprocesso,defendendoquelerimplicaumjogodeadivinha-ções, de levantamentodehipóteses, ou seja, trata-se de umprocessoquepartedos conhecimentosqueo leitor traz consigo emconfrontocomaspistastextuais,resultandoematribuiçãodesentidoaotexto.Se-gundoestaabordagem,aleiturapartedaquiloqueestápordetrásdosolhos:oconhecimentoprévio,enãodoqueestádiantedeles:otexto.Oprocessodeleitura,segundoestavisão,pode-seresumirdaseguintemaneira.Trata-sedeprocessonão-linearemqueoleitor,primeiramen-te,fazprediçõessobreosentidodotexto;depois,eleasconfirma;eporfim,fazascorreçõesnecessárias.Dissopode-seconcluirqueummesmotextopodeprovocaremcadaleitor—ouaindanomesmoleitor—umarepresentaçãocompletamentediferentedarealidade,umavezqueestarepresentaçãodependemuitomaisdos conhecimentospréviosqueoleitorpossuidoquedotexto.Nestecaso,aleiturapodesertantolentaecuidadosaquantorápidaesuperficial.
Noperíododedesenvolvimentoda leitura,depoisde teremsidoadquiridasashabilidadesecompetênciasbásicaseessenciaisparalidarcomotextoescrito,oleitorpassaaagirmaisautonomamentediantedotexto.Nestafasededesenvolvimentoematuraçãodoleitor,alcançadospormeiodaprática,menosatençãoédedicadaaosprocessosiniciais,quepassamaserautomatizados,possibilitandoaalocaçãoderecursosdeprocessamentoearmazenamentoaosentidodotexto.Dessemodo,osconhecimentospréviosdoleitorentramemcenae,porvezes,seso-brepõemàsinformaçõestextuais,dependendodasuaprópriaconcep-çãodeleiturae/oudaconcepçãoveiculadaematividadesescolares.
Porfim,asteoriasquedefendemumaconcepçãointerativadeleitu-raconsideramtantootextoquantooleitorcomoelementosfundamen-tais aoprocessode leitura.Ler, segundo estaperspectiva, é construirsentidoapartirdasinformaçõestextuaisquedesencadeiamprocessosderecordação,demodoapossibilitarainteraçãoentreosdadosdotextoescritoeosconhecimentospréviosdoleitor.Taisconhecimentos,arma-zenadosnoscomplexossistemasdememóriahumanos,sãodenaturezalingüística,textual,temática,cultural,entremuitosoutros.Trata-sedeumaatividadecognitivaessencialmenteconstrutiva.
Figura 12: Leitura descendente
Unidade C - O Texto e a Leitura
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Esteéolugarteóricoemquenossituamos.Aconcepçãodeleituraqueassumimosnestetrabalhodepesquisapodeserdesenhadadase-guintemaneira:
Leréumprocessoflexível,ativoemultidimensional,caracterizadopelacapacidadedeprocessamento,níveldeletramento,objetivos,co-nhecimentopréviodoassuntoedogênerodiscursivo,bemcomopeloenvolvimentocomatarefaepeloestadofísico-emocionaldoleitor.
Vocêjádeveterestudadomateriaisquetratamdoletramento,nãoémesmo?Aqui,comoofocoestávoltadoàleitura,oletramentoécom-preendidocomoumprocessoqueenvolvehabilidadesdedecodificação,compreensão,interpretação,retenção,reflexãoeusodetextosescritosparaalcançarobjetivos,desenvolvereaprimoraroconhecimentoepar-ticipar,efetivamente,davidaemsociedade.
Éimportantedestacarqueumleitorcompetenteécapazdelançarmãodediferentes tiposdeprocessamentotextual,sejamascendentes,descendentesouinterativos,dependendodotipodematerialenfrenta-doemrelaçãoaoseuconhecimento,dosseusobjetivos,dassuascon-diçõesfísicaseemocionais,dasituaçãoemquesedáoatodeleituraedas suascompetências lingüísticasamplase específicasà leitura.Estaflexibilidadefazcomquea leiturasedesenvolvaautomaticamenteatéqueoleitordetectefalhasemsuacompreensão.Adetecçãodestasfa-lhasimplicaummonitoramentoativoeconstanteporpartedoleitor,demodoqueelepossautilizar-sedeseuelencodeestratégiaseavaliarqualdelasmelhorseaplicaráàssuasnecessidades.
Taisestratégias sãocompreendidascomoatividadesdemetacog-nição,que implicamadesautomatizaçãoda leiturademodoquehajaconcentraçãonosprocessosparasechegaraoconteúdo.Fundamental-mente,ametacogniçãoimplicahabilidadedemonitoramentodapró-priacompreensãoetomadademedidasadequadaseeficazesquandoacompreensãofalha.Entreasatividadesmetacognitivas,épossíveldesta-car,brevemente,asseguintes:
Definiçãodosobjetivosdaleitura;1.
Figura 13: Leitura interativa
A Leitura
83
Capítulo 06
Alteraçõesdasestratégiasdeleituradevidoavariaçõesdeobjetivo;2.
Identificaçãodas idéiasedossegmentosmais importantes,con-3.formeosobjetivos;
Distribuiçãodaatençãodemodoa se concentrarmaisnos seg-4.mentosessenciais;
Reconhecimentodaestruturalógicadotexto;5.
Ativaçãoerecuperaçãodeconhecimentoprévionainterpretação6.deinformaçõesnovas;
Demonstraçãodesensibilidadearestriçõescontextuais;7.
Avaliaçãodaqualidadedaprópriacompreensão;8.
Avaliaçãodotextoemtermosdeclareza,completudeeconsistência;9.
Tomadadeatitudesquandoocorremfalhasdecompreensão;10.
Recobramentodaatençãoquandoocorremdistraçõesoudigressões.11.
Aoconsideraraleituraemlínguaestrangeira,érelevantedestacarque,quandoumestudanteéumleitorproficienteemsualínguamaterna,elepoderáagirestrategicamenteparacompensar,comvantagem,obaixograudeinterlíngua.
Considerandoacentralidadedeabordagensestratégicasdeleitura,naseqüênciadestaunidade,vamosproporalgunspossíveisprocedimentosdeleituraquepodemsermuitoúteisaosprocessosdeaprendizagemapartirdetextosescritos.
Saiba mais...
Aprofunde-senas teorias,concepçõeseprocessoscognitivosemleitura,estudandoasseguintesobras:
ALLIENDE,Felipe;CONDEMARÍN,Mabel.A leitura: teoria,avaliaçãoedesenvolvimento.8.ed.PortoAlegre:Artmed,2005.
KATO,MaryA.No mundo da escrita:umaperspectivapsicolin-güística.5.ed.SãoPaulo:Ática,1995.
LEFFA,VilsonJ.Aspectos da leitura:umaperspectivapsicolin-güística.PortoAlegre:Sagra–DCLuzzatto,1996.
Unidade C - O Texto e a Leitura
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6.2 Monitoramento em Leitura
Dependendodocontextoemquesetomaumtexto,doqueseestálendo,doobjetivoquesetemedoníveldeproficiênciaemleitura,au-tomaticamenteseselecionaaestratégiamaisapropriadaàsituação.Aleituradeumarevistaemumconsultóriomédico,porexemplo,envolveprocedimentosdistintosda leituradeumarevistaematividadespro-postasemaula.Ouaindaquandoseestálendoumlivro,osolhoseocérebrosecomportamdeformadiferentedequandoseestálendoumatabeladehoráriosdeônibus, a sinopsedeumfilmeouumabuladeremédio...Nãoénecessáriorecorreràspesquisascientíficasparaperce-berquetextosescritosdenaturezadiversaexigemprocedimentosdife-renciadosdeleituraequemesmotextossemelhantespodemenvolverabordagensdistintasseforemdiversososinteresses,osconhecimentosprévioseascaracterísticasdosleitores.Nossaprópriaexperiêncianosmostraisso.
Antesdeseembrenharemumtexto,dependendoevidentementedoobjetivodeleitura,éinteressantequeseprocedaaumapré-leitura.Esteéomomentoemquesepassamosolhospelotextoparaidentificarsuascaracterísticasmaissalientesdemodoapoderavaliarseeleéounãoadequadoaosinteresses,aospropósitosdeleitura,aoleitoreàsi-tuação.Naetapadepré-leitura,observam-seotema,ogênerotextual,omeiodeveiculaçãodotexto,aautoria,asreferências,otextoemsi,entreoutrosaspectosquepossamsetornarrelevantesemumadeterminadaexperiênciadeleitura.
Tendofeitoapré-leitura,oleitordecideseenvolvercomaleituradotextoouentãoabandoná-loepartirparaabuscadeumoutromate-rialquemelhorrespondaaosseusanseios.Seeleoptarpelaleituradotexto,considerandoseusobjetivosesuasprópriascaracterísticascomoleitor,deveselecionaraabordagemmaisadequadaparaqueatarefasejaexecutadademodosatisfatório.Evidentemente,aseleçãodeestratégiasnãoacontecedemodoconsciente,amenosquehajadificuldadedecom-preensão.Estaéaetapacrucialdaleitura,momentoemqueseconstróiosentidocombasenotextoenosconhecimentospréviosativados.Ésobreelaquevamostrabalharaseguir.
A Leitura
85
Capítulo 06
Napós-leitura,oleitorpoderefletirmaiscriticamentesobreosen-tidoconstruído,ampliando,confirmando,transformandoourefutandoseusconhecimentos,suavisãodemundo.Éumaetapaavaliativaque,inclusive,podeculminarcomumareleituradomaterialescrito.
Noquedizrespeitoàabordagemestratégicadotexto,vamosabor-dar, nesta disciplina, apenas cinco possíveis procedimentos a seremadotadosdurantealeitura-estudo.Sãoeles:marcação,auto-questiona-mento,esquema,mapeamentoeresumo.Evidentemente,existemmui-tasoutraspossibilidadesquetalvezseadaptemàssuascaracterísticas.Porisso,sugerimosaolongodestaUnidadealgumasleiturasextrasdemodoquesepossamcontemplaraheterogeneidadedosleitores.
6.2.1. Marcação
Afunçãodamarcaçãoousublinhadodeumtextoédestacardeter-minadosaspectosparaquesejapossívelretomá-losquandonecessário,semterquerelerotextointeiroousemquesejaprecisolocalizá-losemmeioatantaspossibilidadesqueumtextooferece.
Antesdetudo,parasaberoquemarcaremumtexto,vocêprecisaterclarezadoobjetivodaleitura.Porqueeparaquevocêvailerotexto?
Vejamosalgumascaracterísticasfundamentaisdamarcação:
Lembre-sedequevocêdevemarcarsomenteseusprópriostextos.Quaisqueranotaçõesfeitassobreumafolhadepapelnãopodemmaisserapagadassemquesedeixemvestígios.Quandosetomaumlivroouumtextoemprestadodeumabibliotecaoudeumco-lega,éimportantelembrarqueoutrosleitoresvãomanusear,lere/ouestudarestemesmomaterial.Possivelmente,elesterãoobjetivosdiferentesdosseus.E,mesmoqueosobjetivossejamsemelhan-tes,leitoresdistintostêmolharesdistintossobreummesmotexto.Todamarcaçãoquevocêfizerinterferiránasleiturassubseqüentes,inclusive,nassuasprópriasleituras.
Unidade C - O Texto e a Leitura
86
Primeiramente,lembre-sequeasmenoresalteraçõesnosfato-1.resqueconstituemoprocessodeleituraprovocarãomarcaçõesrelativamentedistintas.
Podemos,rapidamente,relembraralgunsdestesfatores:
Oleitor,comseuconjuntodeconhecimentos,crenças,ca-a.racterísticaseintenções;
Otexto,quesematerializaemdeterminadogênerodiscur-b.sivo,tempoeespaço,queserevestededeterminadaformadelinguagempeculiaraquemoescreveu,aosobjetivosdequemescreveu,aopúblicovisadoeaomeiodeveiculação;
A condição emqueo atode leitura acontece, permeadac.pelaspossíveiscalmariaseintempériesqueultrapassamodomíniodaprópriaatividadedeleitura.
Marque ou sublinhe o texto somente depois de ter lidouma2.porção significativa.Adefiniçãodoque sejaumaporção sig-nificativadependedotextoqueseestálendo.Podeserumpa-rágrafo,umaseção,umcapítuloou,atémesmo,otextointeiro.Amarcaçãoprecipitadapode levá-lo àmácompreensãoouàincompreensãodotexto.
Destaque,nomáximo,20%domateriallido.Geralmente,quan-3.doseressaltamaisdoqueisso,acaba-sepormarcardemaisotexto,poluindo-o.Talpoluiçãopodedificultar a retomadadomaterialouumapossívelreleitura.Marcardemaiséprejudicialàcompreensãoenormalmentecaracterizaleiturapoucoprofi-cienteeeficaz.
Tentetrabalharcomumacordecanetaoulápisapenas.Ouso4.decoresdiferentesparadestacartiposdiferentesdeinformaçãoconduzaumgastomaiordetempo,aodeslocamentodaatençãoàescolhadascoreseproduzoriscodeseseparareminforma-çõesquedeveriamseragrupadasouseagrupareminformaçõesquepertencemacategoriasdiferentes.Lembre-sedequeamar-caçãonãoéoobjetivodaleitura.Elaétão-somenteumaestraté-
A Leitura
87
Capítulo 06
giaparasalientarsegmentostextuaisimportantesconformeospropósitosdaleitura.
Emboraosublinhadosejaaformademarcaçãomaisfreqüen-5.te,nãoéaúnica.Vocêpodeoptarportraçosverticaisàmargem,aoladodainformaçãoaserdestacada,porcolchetes,porsetas,etc.Dependendodotipodetexto,daqualidadedaimpressãoedopapel,dotamanhodafonteedosespaçamentos,osublinha-dopodeobscurecerainformaçãoaoinvésdesalientá-la.Alémdisso,sublinharexigeahabilidadedetraçaremlinharetaparanãotacharotexto.Normalmente,ostrechosdetextotachadossãoaquelesquedevemserexcluídos,nãosalientados.
Amarcação,sedevidamenteempregada,éumaexcelentetéc-6.nicadeleituraeestudo.Todavia,sugere-seaopçãoporumaou-traestratégia,semprequevocêestiveriniciandooestudodede-terminadoassuntoouáreadeconhecimento.Nestassituações,recomenda-sequevocêsubstituaamarcaçãoporanotaçõesouperguntasàmargem,aoladodoparágrafo.Talprocedimentoéválidotambémnoscasosdeestudoaprofundado.
Empregue umamesma estratégia de destaque sempre que o7.objetivoformantido.Émuitoimportanteguardarcoerênciadeprocedimento.Issofacilitaaretomadadotextoeacompreensãodasanotaçõesrealizadasanteriormente.
Vejamosumexemplodoempregodaestratégiademarcação.Comoemqualqueratividadedeleitura,éfundamentalqueseestabeleçamospropósitosdatarefa.Nestecaso,nossoobjetivoécompreenderotextoe,porisso,vamosdestacarasinformaçõescentrais,aquelasquesãochaveàconstruçãodosentido.
Em 1910, no editorial do primeiro número do Journal of Educational
Psychology, uma das primeiras revistas especializadas neste âmbito do
conhecimento, mediante uma simples afirmação surgiria um desafio
fundamental: a necessidade de criar um novo profissional, cuja tarefa
deveria ser a de “mediar entre a ciência da psicologia e a arte do ensino”.
Em certo sentido, a história quase centenária da Psicologia da Educação
pode ser interpretada como uma série de esforços ininterruptos, com
seus lógicos avanços e retrocessos, em busca deste objetivo.
Unidade C - O Texto e a Leitura
88
Os objetivos gerais sempre deram origem a programas de trabalho fru-
tíferos, porém, como se sabe, os objetivos gerais também costumam ser
mais fáceis de enunciar que de alcançar. É provável que a pessoa que
escreveu o editorial não fosse consciente das dificuldades da sua pro-
posta. Muitas tentativas tiveram de ser realizadas – nem todas cobertas
de êxito – para perceber que, na verdade, a mediação proposta não era,
na realidade, esta.
Assim, ao contrário do que parece sugerir a frase citada, os caminhos se-
guidos pelo pensamento psicológico e educativo no decorrer do nosso
século revelam que não basta dispor dos conhecimentos que a “ciên-
cia da psicologia” nos proporciona, nem dominar a “arte do ensino” para
exercer a função de mediação. Sabemos hoje que, para poder mediar
o conhecimento psicológico e a prática de ensino, precisamos de algo
mais: temos de dotar de conteúdo o próprio processo de mediação,
temos de assentá-lo em bases conceituais sólidas; em suma, devemos
repensar em boa medida, a partir de uma perspectiva que abranja mais
do que as prescrições unidirecionais ou do que a simples mistura, tanto
a “ciência da psicologia” como a “arte do ensino”.
[...]
(Excerto do Prefácio da obra Estratégias de leitura (Solé, 1998, p.9), escrito por César Coll.)
6.2.2 Auto-questionamento
Aestratégiadeauto-questionamentoimplicaaelaboraçãodeques-tões sobre omaterial que se está lendo e a tentativa de respondê-laslivrementeapartirdaleitura,semanecessidadederecorreràsuperfíciedotextooriginalpararesgatarerepetirenunciados.
Trata-sedeestratégiaqueenvolvereflexãosobreotemaeproduçãotextual.Evidentemente,talproduçãoaindaserestringeaotextooriginal,umavezquesetratadeatividadefundamentalmentevoltadaàleituraechecagemdacompreensãoedoalcancedosobjetivos.
Vocêpodeformularasperguntaserespondê-lasoralmenteouela-borá-laserespondê-lasporescrito.Asegundaopçãoébastanteinteres-sante,poisexigemaioratençãoaoqueseestáproduzindo.Alémdisso,permiteretomadaeavaliaçãoposterior.
A Leitura
89
Capítulo 06
Outravariáveldizrespeitoaomomentoemqueseaplicaoauto-questionamento. Você pode empregá-lo durante a leitura, realizandoconcomitantementeasatividades,oudepoisqueconcluiraleitura,emumaatividadeconsecutiva.
Observemosumexemplodoempregodatécnicadeauto-questio-namento.Evidentemente,vocêpoderiaformularquestõesbastantedife-rentesdestasqueestamospropondo.
Conhecimento e Compreensão
O entendimento, ou compreensão, é a base da leitura e do aprendizado
desta. A que serve qualquer atividade, se a esta faltar a compreensão? A
compreensão pode ser considerada como o fator que relaciona os as-
pectos relevantes do mundo à nossa volta - linguagem escrita, no caso
da leitura - às intenções, conhecimento e expectativa que já possuímos
em nossas mentes. E o aprendizado pode ser considerado como a mo-
dificação do que já sabemos, como uma conseqüência de nossas inte-
rações com o mundo que nos rodeia. Aprendemos a ler, e aprendemos
através da leitura, acrescentando coisas àquilo que já sabemos. Assim, a
compreensão e o aprendizado são fundamentalmente a mesma coisa,
relacionando o novo ao material já conhecido. Para entendermos tudo
isto, devemos começar considerando o que “já temos em nossas men-
tes” que nos permite extrair um sentido do mundo. Devemos começar
compreendendo a compreensão.
(Trecho extraído do livro Compreendendo a leitura (2003, p.21), de autoria de Frank Smith.)
Questões Formuladas a partir do Texto(Auto-questionamento)
Oqueécompreensão?•
Acompreensãoestárelacionadaaoaprendizado?Porquê?•
6.2.3. Esquema
Oesquemasecaracterizaporserumaespéciedeesqueletodotex-to,quenospermite,domodomaissucintopossível,perceberassuasdimensõesmaisrelevantes.
Unidade C - O Texto e a Leitura
90
Trata-sedeumesboçotextual,altamenteinformativo,emformadetópicos,emqueimportammaisarelaçãoentreasidéiasdoqueaseqü-ênciaemqueelassãoapresentadasnooriginal.
Respeita-seàidéia,nãoasuperfíciedotexto,umavezquenãosetratadecópiaemontagem.
Vejamosaseguirumbreveexemplodautilizaçãodatécnicadees-quematização.Novamente,trata-seapenasdeumaproposta.Provavel-mente,vocêproporiaalgodiferente.Sedesejar,podetentarenósdiscu-tiremossuaproposição.
Comooesquemaésempreelaboradoemfolhadistinta,separadodotextooriginal,éfundamentalquesejaindicadaareferênciacomple-ta,demodoquesejapossível retornarao textooriginalcasosejane-cessárioe,sobretudo,desortequesepossaindicarafontesemprequeasinformaçõesveiculadasnooriginalecompreendidasnoprocessodeleituraforemutilizadas.
O corpo está intacto. Mas não dá para clonar
Os mamutes foram extintos há relativamente pouco tempo, conside-
rando-se a história da vida no planeta. Os últimos espécimes desapare-
ceram há 4.000 anos.
Hoje, fósseis desses gigantes pré-históricos são encontrados com fre-
qüência na Sibéria quando se vasculha o chamado permafrost, a ca-
mada de terra permanentemente congelada da região. Uma das mais
espetaculares dessas descobertas foi anunciada na semana passada.
Um bebê mamute, que viveu há 10.000 anos e morreu aos 6 meses de
idade, foi encontrado na Península de Yamal. O que espanta os cien-
tistas é o extraordinário estado de conservação do fóssil. O corpo, a
tromba e os olhos do mamute, uma fêmea, estão intactos, assim como
boa parte do pêlo. “Já encontramos muitas carcaças, mas nada se com-
para com essa em termos de preservação. Ela não tem defeito. Falta-lhe
apenas o rabo”, diz o paleontólogo Alexei Tikhonov, diretor do Instituto
Zoológico da Academia Russa de Ciências. Para muitos geneticistas, a
descoberta do bebê mamute siberiano reacende a esperança de que,
no futuro, se consiga criar clones de mamute e de outros animais extin-
tos. Dessa forma, seria possível fazer com que espécies desaparecidas
voltassem a habitar a Terra.
A Leitura
91
Capítulo 06
O processo para criar clones de animais extintos não seria muito diferen-
te daquele mostrado no filme Jurassic Park, de Steven Spielberg. No caso
dos mamutes, o que tornaria possível recriá-los, em teoria, é seu parentes-
co com os elefantes. Geneticamente, os mamutes são 95% idênticos aos
elefantes que vivem na Ásia e na África. Primeiro, é preciso encontrar no
fóssil uma célula que possua o DNA intacto. O próximo passo é substituir
o código genético original do núcleo de um óvulo de elefanta pelo ma-
terial genético retirado do fóssil do mamute. A seguir, o óvulo fertilizado
é implantado no útero de uma elefanta. “Quanto mais bem preservado
o animal, maiores as chances de conseguirmos amostras de DNA intac-
tas e, assim, recriarmos espécies extintas”, disse a VEJA Larry Agenbroad,
diretor do Centro de Estudos de Mamutes, laboratório independente de
Dakota do Sul. A maior dificuldade para clonar um animal extinto está
justamente em conseguir uma amostra de DNA intacta. Quando o con-
gelamento se dá em condições especiais, como se faz nos laboratórios,
o material genético da célula pode ser preservado indefinidamente. Mas
as condições de congelamento nos permafrosts estão muito aquém das
ideais – tudo o que se encontrou até hoje foram fragmentos de DNA.
Nem por isso os cientistas desistem. O biólogo Don Colgan, do Museu
Australiano, tenta há quase uma década clonar o tigre-da-tasmânia, ex-
tinto em 1936. Colgan já conseguiu reproduzir milhões de cópias de
fragmentos do DNA de um tigre-da tasmânia morto há 140 anos, mas
admite que as chances de ter um clone da espécie são “muito pequenas”.
A carcaça do filhote de mamute recém-descoberta será encaminhada
à Universidade Jikei, no Japão, destino de grande parte dos fósseis con-
gelados encontrados na região do Ártico. Animais bem preservados são
a maior fonte de informações sobre como era o planeta no tempo em
que eles viveram. Ao analisá-los, consegue-se descobrir o seu tipo de
dieta, a fauna e flora locais e as condições climáticas do período. “Nos
últimos 3 milhões de anos, houve 27 ciclos glaciais e interglaciais. Uma
das poucas formas de desvendá-los é por meio desses fósseis”, diz Je-
fferson Cardia Simões, coordenador do Núcleo de Pesquisas Antárticas
e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Ainda não há uma certeza sobre o que provocou a extinção dos mamutes.
Uma das hipóteses, levantada em pesquisas, é que tenham sido caçados
extensivamente pelo homem. Armados com lanças com pontas de pedra
lascada e fogo, os caçadores, ao que tudo indica, acuavam os mamutes
até que eles caíssem de penhascos. Até hoje, os fósseis de animais extin-
tos permitiram aos geneticistas apenas iniciar o seqüenciamento do DNA
Unidade C - O Texto e a Leitura
92
das espécies. O maior especialista do mundo em genética arqueológica, o
sueco Svante Paabo, está prestes a seqüenciar o DNA de um exemplar do
homem de Neandertal, um parente próximo do homem moderno que
desapareceu há 30.000 anos. “O trabalho de Paabo é importante porque
permitirá a comparação entre o Neandertal, o homem e os primatas, e
assim será possível entender o nosso passado evolucionário”, diz o gene-
ticista mineiro Sérgio Danilo Pena. “Mas, por enquanto, a possibilidade de
clonar mamutes ainda pertence ao terreno da ficção científica”, ele avalia.
(Texto completo publicado na revista Veja, 18 jul. 2007, p.110-111.)
1.2.4 Mapa
Omapaéumdesenhográficodotexto.Eleébastantevisuale,porisso,permitequeselocalizemasinformaçõesrelevantescomfacilidadenoespaçodapágina.
Proposta/exemplo de esquema:
CARELLI,G.Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclonar.Veja,p.110-111,18jul.2007.
Tema:a. a localização e a identificação, embomestadodeconservação,deanimaisextintos,possibilitandoaevolu-çãodosestudosgenéticos.
Objetivo:b. informar sobreaspossibilidadeseexigênciasdaclonagemde animais extintos, alémde evidenciaro valorhistóricodasinformaçõesgenéticasdestesanimaislocaliza-dosepromoveroconhecimentodoplanetaemépocasre-motas.
Condiçõesparaaclonagemdeanimaisextintos(possibili-c.dadefutura):
grandesemelhançagenéticaaanimaisexistentes;•
localizaçãodeamostraintactadeDNA.•
Dificuldade atual:d. localizaram-se apenas fragmentos deDNA.
A Leitura
93
Capítulo 06
Paraelaborá-lo,oleitordeve,primeiramente,analisarascaracte-rísticasdotextolido.Então,eledecidearespeitodopontodepartidadomapa,identificandoateseouaidéiacentral.Emseguida,estabeleceasidéiassecundárias,vinculando-asàprincipal.Porfim,seconsiderarimportante,acrescentadetalhesquereforçamateseouaquelesquesãofundamentaisaoalcancedosobjetivosdaleitura.
Oesquemaeomapaseaproximamnoquedizrespeitoàorganiza-çãodasidéiaseàredação.Adistinçãoresidenotipodeorganização.Oesquemaseassemelhaaumalista;omapa,porsuavez,aumdesenho,aumaespéciedeorganograma.
Assimcomonoesquema,semprequesemapeiaumtexto,deve-seindicarsuareferênciacompleta.
Vejamosum exemplodo empregoda estratégia demapeamentotextual.
O ciclo da desigualdade
Professores com menor formação e remuneração estão despreparados
para promover quem mais precisa da Educação, que é o aluno do ensi-
no público
Em muitos aspectos de nossa vida social e econômica, a desigualdade,
mais do que um problema crônico, parece ser um programa histórico. O
orçamento nacional, por exemplo, é um permanente concentrador de
riquezas, pois usa recursos subtraídos de investimentos sociais para pa-
gar a dívida pública e remunerar aplicações financeiras. A Educação vive
semelhante círculo vicioso, regido pela lógica de mercado, que amplia
continuamente as disparidades. A profissão de professoras e professo-
res, sua formação e sua condição de trabalho deveriam ser estratégicas,
se quisermos romper esse ciclo de desigualdade crescente: quem tem
Atenção:Aindicaçãodareferênciaéfundamental!Nãoconfiede-masiadamenteemsuamemória.Comgrandefreqüência,lembra-mosdasinformaçõesporqueelasnossãosignificativas,masnosesquecemosdasfontes.Porisso,aanotaçãodaorigemdasinfor-maçõeséessencial!
Unidade C - O Texto e a Leitura
94
melhor condição social obtém Educação com mais qualidade e quem
recebe essa Educação boa avança socialmente.
A seleção socioeconômica no acesso às carreiras mais competitivas nas
universidades públicas reflete um dos sentidos dessa desigualdade, pois
escolas privadas de elite provêem melhor formação que a média das
públicas. Reequilibrar essa disparidade implica aperfeiçoar as escolas e
as oportunidades de acesso à cultura e para tanto é essencial dar boa
formação aos educadores. Isso, no entanto, colide com o outro sentido
da desigualdade, como é fácil demonstrar.
O desprestígio e a expectativa de baixa remuneração do trabalho de
professor fazem com que os cursos de Pedagogia e as licenciaturas es-
tejam, de acordo com dados oficiais, entre os menos disputados, o que
contribui para uma inversão na seleção de entrada. Os dados também
mostram que isso resulta em cursos mais fracos nas instituições privadas
e em altas taxas de abandono nas públicas, reduzindo assim o número
dos que recebem boa qualificação teórica e prática.
Acompanho o trabalho magnífico feito na rede pública por professo-
ras e professores e defendo que, por sua qualificação e dedicação, eles
deveriam ser contratados como tutores na formação prática de novos
colegas. No entanto, nessa lógica perversa, eles não são reconhecidos
nem pagos por seu empenho ou excelência, já que são “funcionários
públicos como os demais”. Assim, muitos dos que têm melhor quali-
ficação cultural e técnico-pedagógica acabam atraídos pelas escolas
particulares (que já atendem a alunos de melhor condição econômica
e oferecem um ensino um pouco mais qualificado). O círculo mais uma
vez se fecha. Que fazer, então?
No curto prazo, é preciso reforçar propostas de aperfeiçoamento da for-
mação docente, baseadas no apoio direto ao trabalho feito nas salas de
aula e complementadas com oportunidades de mais vida cultural para
alunos e professores. As redes públicas de ensino, até por serem gran-
des, podem pôr em prática essas propostas com baixo custo unitário.
Mas essas são ações compensatórias, que não substituem um programa
que foque a formação e as condições de trabalho.
É preciso tornar a formação de professores mais atraente e eficaz, dispo-
nibilizando bolsas de estudos vinculadas ao desempenho e subsidiando
centros que, associados a escolas fundamentais e médias, se disponham
a formar uma vanguarda de profissionais. Ao mesmo tempo, é essencial
A Leitura
95
Capítulo 06
difundir uma nova lógica de reconhecimento do trabalho docente, espe-
cialmente dos que ensinam nas condições sociais mais carentes, por meio
de avaliação dos alunos no início e no fim do ano, premiando e promo-
vendo os responsáveis pela evolução dos que mais precisam da escola.
(Texto completo publicado na revista Nova Escola, set. 2007, p. 26.)
Exemplo de Elaboração de Mapa:
MENEZES,L.C.Ociclodadesigualdade.Nova Escola,p.26,set.2007.
6.2.5 Resumo
Pormeiodaspalavrasouidéias-chavedotexto,pode-seelaboraroresumo.
Estanãoéapenasumaestratégiadeleitura,mastambémdeprodu-çãotextual.Oresumo,alémderespeitarasidéiasoriginais,elepróprioprecisateroriginalidadenacomposiçãodotexto.
Trata-se de um texto sucinto, elaborado a partir de outro,maiscomplexoedenso.
Unidade C - O Texto e a Leitura
96
Vocêpodeelaborarseusresumospartindodeumesquemaoudeummapaprévio.Emtermostemáticos,oesquemaeomapasintetizamotextooriginal.Aelesfaltamoscontortoseaunidadetextual.Oesque-maouomapacompreendemmaisdametadedotrabalhodeelaboraçãodeumresumo!
Mas, se você preferir, é possível produzir diretamente o resumocombasenaspalavrasouidéias-chavedotextooriginal.
Aspalavras-chave formamumcentrode expansãoque constituiabasedotexto.Tudodeveajustar-seaelasdemodopreciso.Umadastarefasdoleitorédetectá-lasaolongodotextoe,apartirdelas,recons-truí-losucintamente.
Aspalavras-chaveaparecememtodootextodediferentesmanei-ras:repetidas,modificadas,retomadasporsinônimos,hipônimos,hipe-rônimos.Elascompõemoesqueletotextual.
Àsvezes,édifícilencontraraspalavras-chave;então,pode-sere-correràsidéias-chaveparaobteraessênciadecadaporçãotextual.
Emsíntese,emumaboaleituraseguidadeproduçãoderesumo,éimportantequeseconsideremosseguintescritérios:
Elaboraresquemaoumapaouentãoprocuraraspalavrasou1.idéias-chavedotexto;
Nocasodesetrabalharapartirdaspalavrasouidéias-chave,2.procurarasinformaçõesveiculadasesintetizá-lascomsuaspró-priaspalavras;
Sintetizar o texto demodo coeso e coerente, encadeando as3.idéiasapresentadas.Vocêéoautordoresumo!
Tomarnotadasreferênciascompletas.4.
Atítulodeexemplificação,vamosresumirotextoqueesquema-tizamosnaseção3.3.3:“Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclo-nar”.Sevocêpreferir,poderelerooriginaleoesquema,retornandoàquelaseção.
A Leitura
97
Capítulo 06
CARELLI,G.Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclonar.Veja,p.110-111,18jul.2007.
Resumo
Adescobertadeanimaisemexcelenteestadodeconservação–aexemplodomamutequemorreuhácercade10000anos-fazau-mentarasexpectativasemrelaçãoàclonagemdeanimaisjáextin-tos,assimcomopropiciaaevoluçãodosestudosemgenéticaeoconhecimentodascaracterísticasdoplanetaemépocasremotas.AclonagemdeanimaisextintosaindanãoépossívelporexigiralocalizaçãodeumacélulaquetenhaoDNAintacto,oqueéimpro-váveldevidoàscondiçõesinsatisfatóriasdecongelamentodosani-maisencontrados.Énecessáriotambémhavergrandesemelhançagenética entreo animal extinto eumanimalqueviva emnossaépoca,condiçãomaisfacilmentecontemplada.
Saiba mais...
Paradesenvolversuacompetêncialeitora,vocêpodeestudarasse-guintesobras:
CHEVALIER,Brigitte.Leitura e anotações:gestãomentaleaqui-siçãodemétodosdetrabalho.SãoPaulo:MartinsFontes,2005.
LIBERATO,Yara.É possível facilitar a leitura:umguiaparaes-creverclaro.SãoPaulo:Contexto,2007.
SOLÉ, Isabel.Estratégias de leitura. 6.ed. PortoAlegre:ART-MED,1998.
Unidade C - O Texto e a Leitura
98
Aprendendo a Ler e a Escrever: comentários finais
Existem instigantespesquisas a respeitodoque sejamas línguasedosfatoresquepodempromoveroudificultarseuaprendizado.Taisestudosultrapassam,emgrandemedida,aquiloquedizemosensoco-mumeasgramáticasetambémaquiloqueasaulasdelínguapropõemmuitofreqüentemente.Setaisestudosfossemlevadosaoambienteesco-lar,poderiamprovocarsensíveisrevoluçõesnoensino,produzindoprá-ticasmaiseficazesnoquedizrespeitoaodesenvolvimentoconsistentedaleituraedaescrita.Evidentemente,aaplicaçãodetaispropostasnãoresolveria os problemas escolares,mas poderia, sim, instigar práticasvoltadasaoletramentodosestudantes.
Por ser o letramento umprocesso constante,mesmo indivíduosproficientesemleituraeproduçãotextualcontinuamaprimorandosuacompetência,umavezquecadaatoéindividualerequerhabilidadeseconhecimentosespecíficosparaumdesempenhosatisfatório.
Aleituraéumacompetênciafundamentalaserdesenvolvidaemmeioseducacionais,poistodaaprendizagemnaescolaestáfundamen-tadanela.Umleitoreficienteécapazdeusardiferentestiposdeproces-samentotextual,quersejamascendentes,descendentesouinterativos,dependendodascondiçõesemqueoatodelerseconcretiza.
Nasúltimasdécadas,asrelaçõesentreoestudanteeotexto,sejaematividadedeleituraoudeproduçãotextual,têmsidoumadaspreocupa-çõesdepesquisadoresquesededicamaoprocessodeensino/aprendiza-gemdelínguas.Osestudantesvêmdemonstrandodesempenhoinsatis-fatórioemtarefasregularesdeleituraeescritaetambémemavaliaçõesintra-eextra-classe.Emboraotrabalhosobreasestruturaslingüísticasesobreodesempenhooralsejadeindiscutívelimportância,oensinodees-tratégiasmetalingüísticasdeleituraeescritacontribui,significativamente,aodesenvolvimentodoníveldeinterlínguadoestudante.
Apesardestasignificativaofertademateriaisdepesquisa,comgran-defreqüência,aspráticaspedagógicasnoensinoregulardelínguasaindaconstituemumquadropoucoeficiente,cujofocosecentra,emgrande
A Leitura
99
Capítulo 06
medida,emumensinomaiscomunicativo,voltadoàinteraçãooral,ouemaspectosgramaticais—normalmentenormativoseprescritivos.Asatividadesde leituraeescritaaindarecebematençãosecundária—ex-cetuando-se,evidentemente—oscursosdelínguacomobjetivosespecí-ficos,ouseja,asformaçõescujoobjetivoéinstrumentalizaroindivíduoparauma tarefa específica, freqüentemente ler e/ouescrever textos emdeterminadaáreaousituação.
Glossário relativo à Unidade C
Dialética:genericamente,adialéticapodesercompreendidacomo
umconflitogeradopelaoposição/contradiçãode idéiaseprincí-
piosteóricos(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001.p.1030).
Gênero textual:demaneirabastantegeralesimplificada—oque
porvezes leva adefinições inconsistentes—,osgêneros textuais
sãounidadesconcretasdacomunicaçãoverbaleinteraçãohuma-
Saiba mais...
Saibamaissobreosprocessosdeensino/aprendizagemdeleituraeescritaestudandoasseguintesobras:
BRAGA, Regina Maria; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros.Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativaparaasaladeaula.SãoPaulo:Peirópolis,2002.
FORTKAMP,MailceBorgesMota;TOMITCH,LêdaMariaBra-ga(Org.).Aspectos da lingüística aplicada.Florianópolis: Insular,2000.
McGUINNESS,Diane.O ensino da leitura:oqueaciêncianosdizsobrecomoensinaraler.PortoAlegre:Artmed,2006.
PAIVA,VeraLúciaMenezesdeOliveiraePaiva.Olugardaleitu-ranaauladelínguaestrangeiraVertentes.n.16–julho/dezembro2000.p.24-29.
Se você quiser saber mais sobre dialética, leia: DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.
Para se aprofundar na discussão sobre gêneros do discurso, leia: DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007
Unidade C - O Texto e a Leitura
100
nas,queserealizamdemodorelativamenteestável.Todaprodução
textualpertenceaumgênero.
Hiperonímia:relaçãoqueseestabeleceentreumapalavradesenti-
domaisgenéricoeoutradesentidomaisespecífico.Animaléhipe-
rônimodehomemetambémdecavalo,porexemplo.
Hiponímia:nahiponímia tem-seo contráriodahiperonímia,ou
seja,trata-sedarelaçãodepalavradesentidomaisespecíficoeou-
tradesentidomaisgenéricoqueguardatraçossemânticosamplos
quecompreendemapalavraespecífica.Porexemplo,cavaloeho-
memsãohipônimosdeanimal.
Interlíngua:estágiosdedesenvolvimentosituadosentreodomínio
delínguamaternaeodomíniodelínguaestrangeira.
Linear: nestecontexto,linearsignificadaesquerdaparaadireita,
decimaparabaixo,respeitandoaorganizaçãoespacialdaescrita
dalínguaportuguesa.
Polissemia:propriedadedos signos lingüísticosdepossuíremvá-
rios possíveis sentidos (DUBOIS; GIACOMO;GUESPIN et. al.,
1998,p.471).
101
Reflexões FinaisInsistiremos, ao finalizar, que é muito importante que os professores de
Letras, de modo geral, possuam uma concepção a respeito de língua e
linguagem que responda às vertentes atuais em termos das pesquisas
científicas. Naturalmente, a posição do professor diante de seus alunos
não deve assumir valor imperativo ou revestir-se de verdade absoluta,
embora saibamos que a posição do mestre interfere sobremaneira na
formação dos discípulos, determinando, por vezes, os rumos de suas
concepções em termos daquilo que significa ler, aprender, ensinar.
Assim, fica explicitamente estampado o compromisso social implicado
e subjacente às atividades docentes. Fazemos parte de um processo
educativo e somos os responsáveis por ele enquanto coletividade.
Quando mergulhamos nas diversas áreas de uma ciência, como a própria
Lingüística, constatamos que todos os aspectos estão intimamente integra-
dos. Os movimentos da linguagem são convergentes e sinergéticos. A acei-
tação das diversidades permite melhor compreensão dos elementos que
compõem as diferenças. Efetivamente não há de se negar normas, padrões,
enfim, as regras criadas para melhor explicar e compreender nossa própria
expressão, pois são eles que participam e, em muitos momentos, permitem
as coesões necessárias aos entendimentos sociais. As singularidades locali-
zadas nas bases devem ser tomadas como força para os aperfeiçoamentos.
É importante que o profissional do ensino valorize o potencial que cada
aluno possui. Eventuais diferenças provindas de nossos meios de origem
constituem riquezas sobre as quais se podem erigir novos conhecimentos.
A formação de formadores constitui um importante processo a ser desen-
volvido de modo responsável e com imenso compromisso científico.
103
Referências
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CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 1995.
______. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2002.
CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
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Fontes utilizadas exclusivamente para os exercícios de leitura
CARELLI, Gabriela. O corpo está intacto. Mas não dá para clonar. Veja, p. 110-111, 18 jul. 2007.
MENEZES, Luis Carlos. O ciclo da desigualdade. Nova Escola, p. 26, set. 2007.