LOGÍSTICA REVERSA: ESTUDO DASUSTENTABILIDADE AMBIENTAL EM UMA INDÚSTRIACATARINENSE SOBRE AS AREIAS DESCARTADAS DEFUNDIÇÃO
ILACI PAVESIUniversidade Federal de Santa [email protected] ELISETE DAHMER PFITSCHERUniversidade Federal de Santa [email protected]
LOGÍSTICA REVERSA: ESTUDO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL EM
UMA INDÚSTRIA CATARINENSE SOBRE AS AREIAS DESCARTADAS DE
FUNDIÇÃO
REVERSE LOGISTIC: STUDY OF THE ENVIRONMENTAL SUSTAINABILITY IN
CATARINENSE INDUSTRY ON THE FOUNDRY SAND WHICH IS DISCHARGED
RESUMO
Este estudo tem como objetivo verificar como se encontra uma fundição catarinense quanto à
logística reversa de suas areias descartadas através da aplicação parcial do SICOGEA
(Sistema Contábil Gerencial Ambiental). A trajetória metodológica divide-se em três fases,
sendo a primeira a fundamentação teórica, que aborda o processo de fundição, a problemática
das areais descartadas de fundição (ADF), revisão da literatura e o SICOGEA. A segunda fase
é a análise dos resultados, que traz um breve histórico da fundição catarinense, as soluções
para as ADF desenvolvidas e/ou aplicadas na empresa pesquisada e a apresentação da
sustentabilidade por ela alcançada. A pesquisa considera-se descritiva quanto aos objetivos,
qualitativa quanto à abordagem do problema e é um estudo de caso quanto aos procedimentos
técnicos. Os resultados obtidos demonstram que a empresa preocupa-se com as questões
ambientais atingindo um índice de sustentabilidade de 74% no critério de tratamento de
resíduos, considerado “bom” de acordo com a métrica do SICOGEA-Geração 2. As soluções
desenvolvidas e/ou praticadas pela empresa pesquisada variam desde a disposição em aterro
industrial próprio, regeneração, uso na produção de pavers, utilização como base e sub-base
na construção de estradas e para assentamento de tubos de esgoto.
Palavras-chaves: Sustentabilidade. Areias Descartadas de Fundição. Fundição Catarinense.
ABSTRACT
The aim of this study is to verify the status of a Catarinense Foundry Company whereas the
reverse logistic of discharging foundry sand by the use of partial application of SICOGEA
(Environmental Management Accounting System). The methodological strategy is divided in
three phases, first the theory basement, which explains the foundry process; the problem of
discharging foundry sand (FS), references review and the SICOGEA. The second phase is the
evaluation of the results, which brings a brief history of the foundry industry in the state of
Santa Catarina, solutions to the discharge of FS developed and applied in the company studied
and the presentation of the sustainability reached by the company. The research is descriptive
as for the objectives, qualitative as for the approach of the problem and it is a case study as for
the technical proceedings. The obtained results show that the company is concerned with
environmental issues, reaching sustainability percentage of 74%, considering the treatment of
residues, which is considered to be “good” according to the standard of SICOGEA-
Generation 2. The possible solutions in Brazil depend on federal regulation, by ABNT;
besides, it is necessary to have authorization of the environmental state organisms. Among the
solutions for the FS discharge, there is a study of using it as raw material for the production of
glass. And the solutions developed and/or carried out by the company studied vary from
disposal at an industrial landfill, owned by the company, regeneration, usage in the production
of pavers, usage as base or sub-base in the construction of roads and for laying plastic pipes.
Key words: Sustainability, Foundry Sand Discharging, Catarinense Foundry.
2
1 INTRODUÇÃO
Areias constituem o principal resíduo de fundição, visto que com elas são feitos todos
os moldes das peças fundidas (Klinsky, 2008; Carnin, Silva, Pozzi, Cardoso Jr., & Foguer,
2010). A areia utilizada na construção civil e a areia descartada de fundição em aterros causa
impactos ambientais negativos. Por isso, o reaproveitamento das areias descartadas de
fundição - ADF deveria ser incentivado para a redução do quantitativo de areia extraído da
natureza (Carnin et al., 2010).
Elkington (2001) apresentou um conceito para a implementação de práticas
sustentáveis nas empresas, chamado de Triple Bottom Line (TBL), também conhecido por
tripé da sustentabilidade ou 3P: People, Planet e Profit (Pessoas, Planeta e Lucro).
Organizações como Global Reporting Initiative (GRI) e AccountabAbilty (AA) promovem
este conceito e o seu uso em corporações de todo o mundo (Guarnieri, 2011). O índice TBL
adota o conceito de sustentabilidade do resultado triplo: melhorar o crescimento financeiro
reduzindo os impactos ambientais negativos e atendendo às expectativas da sociedade (Wang,
(2005 citado por Delai & Takahashi, 2008).
Os impactos ambientais negativos decorrem da não observância da correta destinação
do descarte de resíduos. Quanto à origem, o lixo pode ser domiciliar, comercial e público, de
responsabilidade municipal. E de proveniência hospitalar, industrial, agrícola ou ser um
entulho, de responsabilidade do gerador (Mano, Pacheco & Bonelli, 2005). Assim, os resíduos
industriais são aqueles originados nas atividades industriais, dentro dos diversos ramos
produtivos e cuja responsabilidade pelo gerenciamento, é o gerador (Grippi, 2006).
Resíduo Sólido, nos termos do artigo 3º, inciso XVI, da Lei Federal N º 12.305, Lei de
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2010a) é definido como:
Material, substância, objetivo ou bem descartado resultante de atividades humanas
em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades, tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
Para Bechara (2013), a destinação final adequada é parte integrante da gestão e
gerenciamento dos resíduos sólidos, que figura como um dos objetivos da política nacional
em vigor, a Lei 12.305:
VII- destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a
reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento
energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do SISNAMA,
do SNVS e do SUASA, entre elas a disposição final, observando normas operacionais
específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a
minimizar os impactos ambientais adversos. (Brasil, 2010a).
Quanto à toxidade, isto é, aos riscos potenciais para o meio ambiente, a Norma NBR
10.004/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004) estabelece a
classificação dos resíduos sólidos que podem ser enquadrados em uma das duas classes:
Classe I: perigosos, que podem ser inflamáveis, corrosivos, reativos tóxicos e patogênicos; e
Classe II: não perigosos e se subdividem em Classe II-A: não inertes e Classe II-B: inertes
(Mano et.al., 2005), como se observa na figura 1.
3
Figura 1. Classificação de Resíduos Sólidos - Norma ABNT NBR 10.004:2004
Esta norma serve como uma ferramenta aos diversos setores envolvidos com o gerenciamento
de resíduos sólidos (ABETRE, 2012).
A gestão dos resíduos sólidos industriais se tornou uma questão ambiental global.
Devido à falta de espaço e às altas taxas cobradas para o aterramento, práticas de reutilização
destes resíduos como subprodutos ou matérias primas alternativas se tornam cada vez mais
atrativas (Alves, 2012).
O lixo é matéria-prima fora do lugar (Grippi, 2006). Corrobora neste sentido, o
conceito de logística reversa, que é estratégia que cumpre o papel de operacionalizar o retorno
dos resíduos sólidos de pós-venda e pós-consumo ao ambiente de negócios e/ou produtivo
(Guarnieri, 2011). A Política Nacional de Resíduos Sólidos elenca entre os seus instrumentos,
a logística reversa como uma das ferramentas relacionadas à implementação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Bechara, 2013). Para
Guarnieri (2011), logística reversa é a área que visa a eficiente execução de recuperação de
produtos e tem como propósitos a redução, a disposição e o gerenciamento de resíduos
tóxicos e não tóxicos. A Lei 12.305 conceitua logística reversa em seu artigo 3º inciso XIII
como o instrumento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao
setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
outra destinação final ambientalmente adequada (Brasil, 2010a).
A indústria da fundição é conhecida como altamente poluidora, talvez, pelo fato de ser
confundida com o setor siderúrgico, ou também, pelo fato de em décadas anteriores,
despejarem seus poluentes na atmosfera, através dos seus fornos de fusão. Atualmente o
grande problema das empresas de fundição são os seus resíduos sólidos (Bonet, 2002).
Diante deste contexto, com base na atividade da empresa e importância da preservação
ambiental, tem-se como questão problema: como se encontra uma fundição catarinense
quanto à logística reversa de suas areias descartadas? Para responder a esta questão, tem-se os
seguintes objetivos: verificar as soluções desenvolvidas para o problema ambiental
decorrentes do descarte das areias de fundição possíveis no Brasil. Para atender esse objetivo
têm-se os seguintes objetivos específicos: identificar as soluções para recuperação/reuso das
4
ADF em uma empresa catarinense potencialmente poluidora e verificar a sua sustentabilidade
ambiental com ênfase à logística reversa desses resíduos.
2 METODOLOGIA
Quanto aos objetivos a pesquisa considera-se descritiva. Para Gil (1999) a pesquisa
descritiva tem como objetivo principal a descrição das características de determinada
população ou de determinado fenômeno, ou ainda o estabelecimento de relação entre as
variáveis. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas de coleta
de dados (Gil, 2008). No que se refere aos procedimentos técnicos trata-se de estudo de caso,
que de acordo com Silva (2003), pode ser utilizado para desenvolver entrevistas estruturadas
ou não, questionários, observações dos fatos, análise documental e o objeto da pesquisa pode
ser uma situação, o indivíduo, uma atividade ou uma empresa. Quanto à abordagem do
problema trata-se de um estudo qualitativo.
A pesquisa foi feita em publicações científicas, revistas especializadas, site
institucional e relatórios publicados na BM&FBOVESPA (2014), como o Formulário de
Referência, Demonstrações Contábeis/Relatório Anual.
A trajetória metodológica divide-se em 5 fases. A primeira é a fundamentação teórica
que aborda o Processo de Fundição; as Areias Descartadas de Fundição e seu panorama
mundial; as alternativas de aplicação das ADF segundo a legislação vigente; revisão da
literatura e por último, uma visão do Sistema Contábil e Gerencial Ambiental – SICOGEA
desenvolvido por Pfitscher (2004).
Na segunda fase trata-se da análise dos resultados onde primeiramente abordou-se um
breve histórico da indústria de fundição catarinense pesquisada, seguidamente pelas suas
soluções desenvolvidas e/ou aplicadas e, a demonstra-se o índice de sustentabilidade
alcançado pela fundição através do método SICOGEA-Geração 2.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 O Processo de Fundição e a Problemática das Areias Descartadas de Fundição
O processo de fundição consiste na fusão de um metal que, em estado líquido, é
vazado na quantidade necessária para o preenchimento de um molde e que, ao solidificar-se,
gera uma peça com o formato desejado (Campos Filho & Davies, 1978).
5
Figura 2. Fluxograma simplificado do processo de fundição
O processo de fundição em areia é basicamente a compactação, mecânica ou manual,
de uma mistura refratária plástica (areia de fundição) sobre um modelo montado em uma
caixa de moldar (Figura 3).
Figura 3. Processo de fundição em molde de areia
A areia de fundição consiste de uma mistura de um elemento refratário granular (areia)
com um elemento aglomerante. No processo de fundição de metais e suas ligas são utilizados
moldes de areia. A fabricação dos mesmos é feita por dois processos distintos: o primeiro
utiliza areia, bentonita e pó de carvão; e o segundo processo utiliza areia, resina fenólica e pó
de carvão. A utilização da resina fenólica ocorre porque esta confere um melhor acabamento
na peça e uma boa resistência no molde, ganhando importância nos processos atuais de
fundição. Contudo, após o uso é realizada a desmoldagem da peça, ficando a areia
contaminada com a resina fenólica (ABIFA, 2012).
3.2 A problemática das Areias Descartadas de Fundição – ADF
6
Areias constituem o principal resíduo de fundição, visto que com elas são feitos todos
os moldes das peças fundidas (Klinsky, 2008; Carnin et al., 2010). A extração da areia usada
para a construção civil aliado ao acúmulo de areia descartada de fundição em aterros causa
significativos impactos ambientais (Carnin et al., 2010).
Para cada tonelada de metal fundido, tem-se aproximadamente, a mesma quantidade
gerada de resíduo (Mcintyre et al., 1992 apud Klinsky, 2008). Corrobora neste sentido a
Associação Brasileira de Fundição, informando que o índice de consumo de areia,
dependendo do tipo de peça, varia de 800 a 1.000 Kg para cada 1.000 Kg de fundidos
produzidos (Alves, 2012 apud ABIFA, 2013). Esta areia normalmente é extraída de jazidas
naturais ou leito de rios, sendo considerado um bem não renovável (Costa et al., 2007 apud
Alves, 2012). Segundo Marioto (2001) apud Alves (2012) a disposição das ADF em células
de aterros industriais terceirizados pode custar até aproximadamente R$ 350,00 por tonelada
para resíduos perigosos e R$ 70,00 por tonelada para resíduos não perigosos.
Em 2012, a China ocupava a primeira colocação como o maior produtor mundial de
fundidos, com a produção de 42.500.000 toneladas, seguida dos EUA, Índia, Japão Alemanha,
Rússia, Brasil, Coreia, Itália e França. O Brasil, na sétima posição mundial, produziu
2.859.898 toneladas de fundidos em 2012 (American Foundry Society, 2013).
Figura 4. Gráfico da Produção de fundidos em 2012 (em toneladas)
De acordo com dados da Associação Brasileira de Fundição (ABIFA) (2011), em
Santa Catarina são produzidas 857 mil toneladas por ano de areia descartada de fundição
(ADF). Equivale dizer que no Brasil são geradas aproximadamente 2.859.898 de toneladas de
resíduos sólidos, e em Santa Catarina segundo ABIFA (2013), cerca de 857 mil toneladas.
O artigo 5º da Resolução N. 26 do Conselho Estadual do Meio Ambiente conceitua ADF
como:
I - areia descartada de fundição (ADF): areia proveniente do processo produtivo
da fabricação de peças fundidas, como areias de macharia, de moldagem, areia a
verde, preta, despoeiramento, resíduo de processo após processo interno de
recuperação entre outras areias que sejam classificadas conforme a ABNT NBR 10004
como classe II – não perigoso, livre de mistura como qualquer outro resíduo ou
material estranho ao processo que altere suas características. (CONSEMA, 2013).
O maior volume de ADF é constituído de areias de moldagem que são classificadas
7
pela ABNT como resíduos de Classe II A, não inerte, e seu único destino até alguns anos
atrás, eram os aterros industriais. (Klinsky, 2008).
De acordo com Chegatti (2012), trabalhos para regulamentação da reutilização das
ADF ganharam apoio junto a ABIFA em 2006 com a organização do setor produtivo e da
mobilização junto a órgãos públicos e articulação junto a ABNT para estruturar atual CB- 059
e respectiva CE-59:001.01 - Comissão de Estudo Resíduos de Fundição visando o
desenvolvimento de normas de reuso e armazenamento dos resíduos de fundição. Atualmente
estão publicadas as normas NBR 15702 – Areia descartada de Fundição – Diretrizes para
aplicação em asfalto (ABNT, 2009) e em aterro sanitário e NBR 15984 29 – Areia descartada
de Fundição – Central de processamento, armazenamento e destinação (ABNT, 2011).
3.3 As alternativas de aplicação das Areias Descartadas de Fundição – ADF
As alternativas de aplicação para a utilização das Areias Descartadas de Fundição
(ADF) dependem de autorização ambiental específica a ser conferida por órgão ambiental
licenciador e são as atividades listadas de acordo com a Resolução CONSEMA/SC Nº
13/2013, previstas no artigo 2º da Resolução nº 26/2013:
30.20.00 - Usinas de produção de concreto asfáltico - para produção de asfalto;
30.10.00 - Usinas de produção de concreto e argamassa - para fabricação de artefatos
de concreto;
33.11.00 - Implantação pioneira de estradas e rodovias, 33.12.00 - Implantação e/ou
pavimentação de rodovias, 33.12.02 - Retificação e melhorias de rodovias
pavimentadas - para uso em base, sub-base e reforço de subleito para execução de
estradas, rodovias e vias urbanas;
34.41.10 - Disposição final de rejeitos urbanos em aterros sanitários, 71.60.03 -
Disposição final de resíduos e/ou rejeitos Classe I, em aterros, 71.60.04 - Disposição
final de resíduos e/ou rejeitos Classe II em aterros – para uso como cobertura diária
em aterros sanitários e industriais;
10.40.10 - Fabricação de telhas, tijolos e outros artigos de barro cozido para fabricação
de artigos em cerâmica; e
34.31.11 - Sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários - como substituinte de
materiais minerais no assentamento de tubulações.
3.4 Revisão da Literatura
Estudos relacionados à destinação das ADF realizadas no Brasil foram realizados.
Alves (2012) analisou a viabilidade técnica e ambiental das possibilidades de
reaproveitamento das areias descartadas de fundição existentes, examinou amostras de ADF
com relação a sua segurança ambiental e comparou os caminhos adotados pelos países mais
avançados na reutilização das areias descartadas de fundição com os caminhos tomados no
Brasil. Neste sentido, Fagundes et al. (2010) estudou os caminhos para a sustentabilidade do
setor de fundição.
8
Algumas pesquisas específicas sobre o uso de areia descartada de fundição como
agregado para aplicações na construção civil já foram feitos no Brasil: Klinsky (2008)
apresentou proposta de reaproveitamento de areia de fundição em sub-base e base de
pavimentos flexíveis, através de sua incorporação a solos argilosos. Nesta mesma linha,
Klinsky e Fabbri (2009) avaliaram a possibilidade de reutilizar a areia de fundição misturada
a solos argilosos, como material de base e sub-base para rodovias de baixo volume de tráfego
e vias urbanas para a região de Sertãozinho/SP. Também pesquisa sobre o reaproveitamento
do resíduo de areia de fundição como agregado em misturas asfálticas (Bonet, 2002;
Coutinho, 2004; Carnini, 2008) apresentando resultados satisfatórios. Schulz (2005) estudou a
valorização de resíduos sólidos provenientes da indústria de fundição na produção de artefatos
de concreto para construção civil.
Uma cidade mineira apresentou um projeto de aterro de resíduos sólidos urbanos para
usar ADF como material de cobertura do aterro municipal, através da concepção do Programa
Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos- PMGIRS, conforme exige a lei e as
Normas ABNT NBR 15.702/2009 e NBR 15.984/2011. “A redução estimada de custos para
as empresas será de 80% além de gerar ganhos socioambientais, através da “economia” em
substituição de materiais de cobertura do lixo por ADF” (ABIFA 2011).
Carnini et al. (2010) apresentaram pesquisa sobre o desenvolvimento de peças de
concreto, conhecidas comercialmente como paver, contendo areia descartada de fundição para
pavimento intertravado.
Em outro estudo, outra solução foi apresentada pelo professor e consultor Dr. Carlos
A. Klimeck Gouveia, da Unisociesc de Joinville-SC, que desenvolveu e patenteou a técnica
para uso na fabricação de vidros (ABIFA, 2013). A ADF entraria em substituição à areia
virgem:
Como a areia é fundida à 1.600 º C, qualquer outro componente que haja na ADF
passa a fazer parte de uma estrutura sólida, estável, que não se dissolve em água e nem
tem a menor possibilidade de levar contaminação ao meio ambiente e ao homem,
eliminando qualquer questionamento quanto ao aspecto segurança por contaminação
(ABIFA, 2013).
3.5 Sistema de Gestão Ambiental – SICOGEA geração 2
A norma ABNT NBR ISO 14.001:2004 define Sistema da Gestão Ambiental como:
A parte de um sistema da gestão de uma organização que inclui a estrutura
organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas,
procedimentos, processos e recursos, utilizada para desenvolver e implementar sua
política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais. (ABNT, 2004).
Gestão ambiental diz respeito ao desenvolvimento e aplicação de sistemas de
indicadores ou ferramentas de avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade (Van
Bellen, 2002 apud Nunes, Pfitscher, & Uhlmann et al., 2011). Assim, uma das maneiras
encontradas para verificar o quanto uma entidade interfere no meio ambiente é por meio do
cálculo de sustentabilidade. Desta forma, surgiram sistemas de gestão ambiental, com base
nas premissas das normas ambientais e agregando ferramentas de gestão às suas
metodologias, para buscar melhores formas de obter dados e gerar informações aos usuários.
O Sistema Contábil Gerencial Ambiental - SICOGEA, resultado da tese de doutorado
de Pfitscher (2004) que teve sua origem em outro método, denominado Gestão dos Aspectos e
Impactos Ambientais – GAIA, desenvolvido e apresentado na tese do pesquisador Lerípio
(2001), ambos alinhados à norma ISO 14001 (Nunes et al., 2011).
9
O objetivo do SICOGEA é gerar informações ao gestor sobre os impactos das suas
ações sobre o meio ambiente. Segundo Pfitscher (2004), e possui três etapas distintas:
integração da cadeia; gestão de controle ecológico e gestão da contabilidade e controladoria
ambiental. A terceira etapa (Figura 5), utilizado nesta pesquisa, divide-se em três fases:
investigação e mensuração; informação; e decisão.
Figura 5. Estrutura da terceira etapa do SICOGEA
O SICOGEA, sofreu alterações, dando lugar à segunda geração do sistema,
denominado SICOGEA – Geração 2, que é uma ferramenta de gestão ambiental, que une a
contabilidade por meio de controles, trabalhando com fatores ambientais, econômicos e
sociais (Nunes, 2010, p. 156). Para o cálculo geral e detalhado do índice de sustentabilidade
ambiental detido pela organização estudada, a partir das respostas atribuídas às questões da
lista de verificação foi utilizada a fórmula (Nunes, 2010, p.172):
Índice geral de
Sustentabilidade
= Pontos alcançados
Pontos possíveis
De posse dos dados obtidos com a aplicação da lista de verificação, inicia-se o processo de
análise dos indicadores. Realizado o cálculo do índice geral da sustentabilidade da empresa
pesquisada, é necessário classificar sua sustentabilidade conforme Quadro 1, adaptado de
Lerípio (2001), Pfitscher (2004) e Nunes (2010).
Resultado Sustentabilidade Desempenho: controle, incentivo, estratégia
Inferior a 20% Péssimo – “P” Grande impacto pode estar causando ao meio ambiente.
Entre 20,01% a 40% Fraco – “F” Pode estar causando danos, mas surgem algumas poucas
iniciativas.
Entre 40,01% a 60% Regular – “R” Atende somente a legislação.
Entre 60,01% a 80% Bom – “B” Além da legislação, surgem alguns projetos e atitudes que
buscam valorizar o meio ambiente.
Superior a 80% Ótimo – “O” Alta valorização ambiental com produção ecológica e prevenção
da Poluição
Quadro 1. Avaliação da sustentabilidade e desempenho ambiental – SICOGEA - Geração 2
10
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Breve histórico da fundição catarinense pesquisada
A indústria pesquisada tem como atividade principal a fabricação de produtos
fundidos para a indústria automobilística, conexões em ferro fundido para aplicações em redes
hidráulicas e de gás, e granalhas e perfis Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São
Paulo (BM&FBOVESPA, 2014). Fundada em 1938, a fundição tem capacidade para produzir
848 mil toneladas anuais de peças em ferro fundido, nos parques fabris localizados em Santa
Catarina, São Paulo e no exterior. Certificada pelas normas ISO/TS 16949, ISO 9001 e ISO
14001, a empresa pesquisada emprega cerca de doze mil funcionários e exporta mais da
metade de sua produção, para aproximadamente 40 países.
Em 2013, como fato relevante, consta a adesão da empresa ao nível Novo Mercado.
Neste sentido o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa enfatiza que, das companhias
listadas nos segmentos mais altos de governança, espera-se maior comprometimento com
transparência (IBGC, 2009).
4.2 Soluções para as ADF desenvolvidas e/ou aplicadas na empresa pesquisada
Através de publicações em revistas especializadas, site institucional e relatórios
publicados na BM&FBOVESPA, como o Formulário de Referência, Demonstrações
Contábeis e Relatório Anual, apuraram-se as soluções que a fundição vem aplicando em seu
parque fabril.
A empresa utiliza regeneradores próprios para o reaproveitamento das areias advindas
dos processos de macharia. Já para as areias provenientes dos processos de moldagem, que
são em maior quantidade, ganham diversos destinos além do aterro industrial próprio da
fábrica. Outro projeto desenvolvido em parceria com a EPAGRI é um experimento de cultivo
de alface e cenoura em solo com adição de areia descartada de fundição. Também outros
projetos experimentais como a utilização das ADF como base e sub-base nas estradas e
utilização no assentamento de tubulação de esgoto em convênio com a companhia de água e
esgoto do município.
4.2.1 Produção de pavers com Areias Descartadas de Fundição
Com a assinatura, em 2008, de Resolução 11 do Conselho Estadual de Meio Ambiente
de Santa Catarina - CONSEMA autorizando o uso na composição de massa asfáltica e na
construção de artefatos de concreto sem funções estruturais, uma primeira frente foi aberta
pela empresa pesquisada. Em caráter experimental a empresa montou uma fábrica de pavers,
utilizados na pavimentação de calçadas, e vem produzindo lotes que estão sendo doados para
obras públicas na cidade. (ABIFA, 2013). Em 2009 a FATMA emitiu certidão ambiental após
verificar as análises ambientais e de toxidade do material.
De acordo com Carnin et al (2010) a fábrica de pavers experimental contou com a
adaptação e desenvolvimento dos seguintes equipamentos: 1. Silos para armazenamento de
cimento e ADF; 2. Um misturador para as matérias-primas: cimento, ADF, pó de brita e água;
3. Uma prensa hidráulica; 5. Um suporte para a realização da cura e estoque.
Inicialmente a produção foi utilizada de forma experimental com a colocação dos
pavers no pátio da própria indústria. Após a experiência, foi feita doação de 5 mil m2 de
pavers para a Prefeitura para a pavimentação da calçada do Batalhão de Infantaria da cidade.
11
Figura 6. Pavers no pátio da fábrica
4.3 Apresentação da sustentabilidade da empresa
Neste estudo, foi aplicada parcialmente a terceira etapa denominada Gestão da
Contabilidade e Controladoria Ambiental do Sistema de Contabilidade e Gestão Ambiental –
SICOGEA - Geração 2. Através da lista de verificação conforme Tabela 1, aplicada na
empresa pesquisada, são obtidas as respostas e com base nas mesmas, calculado a
sustentabilidade da empresa.
O cálculo da análise da sustentabilidade ambiental aqui representado pelo Índice de
eficiência alcançado no sub processo: Tratamento de Resíduos aplicado, utilizou-se a seguinte
fórmula, conforme Nunes et al (2004):
Índice grau de Sustentabilidade = Pontos alcançados
= 15,6
= 0,74 Pontos possíveis 21
4.3.1 Índice de eficiência no critério: Tratamento de Resíduos
Apurou-se que a empresa pesquisada encontra-se com índice geral de sustentabilidade
0,74, classificado como “bom”, alcançando 74,3% da pontuação possível, que significa que de
um total de 21 pontos possíveis, alcançou 15,6 pontos, enquadrando-se no intervalo de
60,01% a 80% segundo os critérios resultantes da aplicação da lista de verificação.
Os itens da lista de verificação que afetaram negativamente o resultado do índice
foram: a questão da ocorrência de multas ambientais existentes, processos judiciais
relacionados ao meio ambiente na qual a empresa é ré, e já ter sido notificada no passado em
questões ambientais. Como principais pontos positivos, o fato de a empresa pesquisada
possuir sistema de gestão ambiental (SGA) próprio, possuir tratamento de resíduos das areias
descartadas de fundição na própria empresa. Deve-se à aquisição de 2 equipamentos de
regeneração para as areias descartadas do processo de macharia e por possuir aterro industrial
próprio para depósito das areias descartadas provenientes do processo de moldagem. Parte
desta areia é destinada à fabricação de pavers, projeto que envolveu a comunidade. Também
outras destinações como a parceria com a prefeitura para o assentamento de tubulação de
esgoto o que evita o emprego de novos recursos naturais e desassoreamento de rios.
Da aplicação da lista de verificação (Tabela 1), extrai-se o resumo dos resultados
conforme Tabela 2.
12
Tabela 1 – Lista de verificação
GRUPO 01 - PRODUÇÃO
Res
po
sta
In
ver
sa (
S)
0% 20% 40% 60% 80% 100% --
Po
nto
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CRITÉRIO 3 –
TRATAMENTO DE
RESIDUOS
0 1 2 3 4 5 NA
1
O tratamento de resíduos
da produção é feito na
própria instituição?
X 1 80% 0,8
2
O tratamento de resíduos
da produção é feito por
terceiros? (inverso)
S X 1 20% 0,8
3
A empresa possui um
Sistema de gestão
Ambiental?
X 2 100% 2
4
Possui profissional (is)
encarregado(s) da
segurança, saúde e meio
ambiente?
X 1 100% 1
5
O sistema de gestão
ambiental da empresa
engloba processo de
gerenciamento das areias
de descarte?
X 1 100% 1
6
Ocorreram acidentes ou
incidentes ambientais no
passado envolvendo as
areias de descarte?
S X 1 80% 0,2
7
A empresa possui multas
ou indenizações de
natureza ambiental?
S X 2 80% 0,4
8
A organização é ré em
alguma ação judicial
referente à poluição
ambiental, acidentes
ambientais e/ou
indenizações trabalhistas
decorrentes do uso da areia
de descarte?
S X 2 80% 0,4
9
A empresa possui
tratamento de efluentes
(reuso de água tratada)?
X 1 100% 1
10
Os processos de descarte
das areias de fundição é
monitorado por algum
órgão municipal, estadual
ou federal?
X 1 100% 1
11
Há controle do grau de
conformidade das
atividades da instituição
com os regulamentos
ambientais?
X 1 80% 0,8
13
12
A empresa já obteve
benefícios, premiações
e/ou reconhecimento pela
sua atuação na
conscientização ambiental?
X 1 100% 1
13
A empresa acredita que
possa haver uma vantagem
competitiva no mercado
para as empresas do ramo
de Fundição com a Gestão
Ambiental?
X 1 80% 0,8
14
A empresa promove ações
de conscientização do meio
ambiente junto aso
colaboradores
X 1 80% 0,8
15
A empresa possui uma
política de capacitação na
área de gestão de resíduos?
X 1 80% 0,8
16
A empresa divulga em
manual e embalagens
riscos potenciais e
recomendações de uso e
descarte dos produtos
X 1 100% 1
17
A empresa possui
procedimentos para a
redução, reutilização e
reciclagem de resíduos?
X 1 100% 1
18 São feitas auditorias
ambientais? X 1 80% 0,8
Totais 0 1 0 0 11 9 0 21 15,6
Tabela 2 – Resumo dos resultados da lista de verificação parcial do SICOGEA-Geração 2
RESUMO DOS RESULTADOS DA LISTA DE VERIFICAÇÃO - SECOGEA Geração 2
CRITÉRIOS
0% 20% 40% 60% 80% 100% --
Po
nto
s
Po
ssív
eis
Esc
ore
Ob
tid
o
Po
nto
s
Alc
ança
do
s
Sustentabilidade
0 1 2 3 4 5 NA Resultado Avaliação
Critério 3 -
TRATAMENTO
DE RESÍDUOS
0 1 0 0 11 9 0 21 100% 15,6 74,30% Bom
Total Geral da
Empresa 0 1 0 0 11 9 0 21 100% 15.6 74,30% Bom
5 CONCLUSÕES
Com base neste estudo, pode-se verificar na prática como encontra-se a
sustentabilidade de uma fundição catarinense, potencialmente poluidora, quanto à logística
reversa de seus resíduos sólidos denominados areias descartadas de fundição (ADF).
O índice geral de sustentabilidade calculado para a empresa resultou em 0,74,
classificado como “bom”, ou seja, atingiu 74,3% da pontuação possível, o que significa que
de um total de 21 pontos possíveis, alcançou 15,6 pontos, enquadrando-se no intervalo de
60,01% a 80% para o critério Tratamento de Resíduos do Sistema Contábil e Gerencial
14
Ambiental (Geração 2). Como principais pontos positivos que contribuíram para o resultado,
é a adoção de sistema de gestão ambiental (SGA) próprio, possuir tratamento de resíduos das
areias descartadas de fundição na própria empresa. Foram adquiridos de 2 equipamentos de
regeneração para as areias descartadas do processo de macharia e por possuir aterro industrial
próprio para depósito das areias descartadas provenientes do processo de moldagem. Parte
desta areia é destinada à fabricação de pavers, projeto que envolveu a comunidade. Também
outras destinações como a parceria com a prefeitura para o assentamento de tubulação de
esgoto, ações que evitam o emprego de novos recursos naturais e desassoreamento de rios.
Como ponto negativo, ações ambientais. Ações judiciais e multas ambientais foram os pontos
negativos.
Conclui-se que a empresa mostra-se preocupada com os impactos ambientais e investe
em soluções sustentáveis principalmente para suas areias descartadas no processo produtivo.
O desenvolvimento de soluções para o correto destino para as areias descartadas pelas
fundições de forma sustentável evita a extração da areia virgem da natureza, uma vez que o
recurso não é inesgotável.
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