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MANUAL DE APOIO PSICOLÓGICO AO MÉDICO RESIDENTE
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização do autor.
Edição e coordenação Glauce Cerqueira Corrêa da Silva Coautoria Evandro Guimarães de Sousa Daniela Freitas Bastos
Luciana Mateus Santos
Tânia Mara de Araújo
Equipe técnica Evandro Guimarães de Sousa Luiz Antônio Nogueira-Martins Rogério Christiano Buys Lygia Miracy Coelho dos Santos Revisão Lygia Miracy Coelho dos Santos Projeto gráfico e diagramação Glauce Cerqueira Corrêa da Silva Ilustrações*
Maria Beatriz Areal Catalogação bibliográfica Glauce Cerqueira Corrêa da Silva Tiragem 1ª Edição - 2012 - 500 exemplares 2ª Edição - 2016 * Obra de interesse científico-educacional, com distribuição gratuita.
* Desenhos meramente ilustrativos, não retratando sugestões de exemplos de conduta.
Silva, Glauce Cerqueira Corrêa da.
Manual de Apoio Psicológico ao Médico Residente / Coordenação de Glauce Cerqueira Corrêa da Silva. – Rio de Janeiro, RJ – 2016 - 54 f.
Coautores: Evandro Guimarães de Sousa, Daniela Freitas Bastos, Luciana Mateus Santos, Tânia Mara de Araújo
ISBN 978-85-914267-0-6
Referências bibliográficas: f. 46-51.
1. Corpo clínico hospitalar - psicologia. 2. Corpo clínico hospitalar - educação. 3. Internato e residência. 4. Educação de Pós-Graduação em Medicina. 5. Ansiedade - psicologia. 6. Depressão - psicologia. 7. Estresse psicológico. 8. Esgotamento profissional. 9. Avaliação de desempenho.
II. Título
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Notas sobre os autores Autora
Glauce Cerqueira Corrêa da Silva é Psicóloga Clínica e
Hospitalar.
Pesquisadora Clínica e Consultora na Área de Saúde.
Mestre e Doutora pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ.
Terapeuta Cognitivo Comportamental, certificada pela
Federação Brasileira de Terapia Cognitiva – FBTC.
Presidente da SBRAMO – Sociedade Brasileira
Multiprofissional em Oncologia
Vice-Presidente da SBRAPO – Sociedade Brasileira de
Psicologia Oncológica
Desenvolve projetos relacionados com a Promoção da Saúde Mental dos
Graduandos em Medicina e de Médicos Residentes desde 2005.
(21) 99952-3670
(21) 98745-0234
Coautores
2 - Evandro Guimarães de Sousa: Doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 - Daniela Freitas Bastos: Psicóloga. Especialista em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 - Luciana Mateus Santos: Psicóloga. Especialista em Psicologia Hospitalar pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 5 - Tânia Mara de Araújo: Pedagoga e Psicóloga. Especialista em Psicologia Hospitalar e Neuropsicoterapia pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
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Equipe técnica
6 - Evandro Guimarães de Sousa: Doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Membro da Câmara Técnica da Comissão Nacional de Residência Médica / Ministério da Educação, Brasília, DF, Brasil. 7 - Luiz Antônio Nogueira-Martins: Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coordenador do Núcleo de Assistência e Pesquisa em Residência Médica (NAPREME), São Paulo, SP, Brasil. 8 - Rogério Christiano Buys: Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Professor Adjunto aposentado do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 9 - Lygia Miracy Coelho dos Santos: Especialista em Psicopedagogia Clínica pelo Centro de Estudos Psicopedagógicos do Rio de Janeiro (CEPERJ). Professora de Psicopedagogia Institucional e Didática Psicopedagógica – AVMRJ.
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Ao querido Preceptor Evandro Guimarães de Sousa, sempre educado, sábio, cordial, atencioso, paciente, admirador e orgulhoso pelas minhas vitórias. Seus ensinamentos e grandiosa colaboração na minha carreira acadêmica e vida pessoal fizeram, em algum momento da nossa convivência, o papel de Preceptor desaparecer e dar lugar ao amigo. Ao meu grande e querido amigo de todos os momentos, um pai.
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Sumário
1. Prefácio I 07
2. Prefácio II 09
3. Prefácio III 10
4. Apresentação 11
5. Introdução 14
6. Objetivos 17
7. Desenvolvimento 19
7.1 - A Residência Médica 20
7.2 - Quem é o Preceptor? 23
7.3 - Quem é o Médico Residente? 28
7.4 - A qualidade de vida do Médico Residente e o papel do Preceptor 31
7.5 - A saúde emocional do Médico e os principais aspectos psicoemocionais presentes na formação do Médico Residente 36
7.6 - O Suporte Psicológico para o Médico Residente 40
7.7 – Equipe 45
8. Referências bibliográficas 46
9. Links Úteis 52
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1 - Prefácio I
Luiz Antônio Nogueira-Martins
Foi com muita satisfação que recebi o convite para prefaciar este Manual.
Faço-o com muito prazer, na medida em que se trata de mais uma importante
contribuição da Psicóloga Glauce Cerqueira Corrêa da Silva para o
aprimoramento da formação profissional do Médico, campo de estudo ao qual
vem se dedicando nos últimos anos, consolidando seu trabalho desenvolvido no
Mestrado e Doutorado.
Ao longo do treinamento na Residência Médica, os Médicos Residentes
vivem um processo de desenvolvimento psicológico no qual devem aprender a
administrar conflitos extremamente desgastantes. Entre tantas outras tarefas, os
Médicos Residentes têm que aprender a lidar com sentimentos de
vulnerabilidade, fazer um balanço entre o desejo de curar e o desejo de cuidar,
administrar dolorosos sentimentos de impotência e de desamparo em relação ao
complexo sistema assistencial, estabelecer os limites de sua identidade pessoal e
profissional, o que implica em lidar com ambiguidades afetivas e profissionais.
A crescente atenção que tem sido dada ao estudo do estresse do
treinamento deriva do reconhecimento de que os Médicos Residentes, além de
terem que lidar com a maioria das tensões que afetam todos os Médicos, estão
sujeitos a um estresse adicional, na medida em que, para a construção de sua
identidade, precisam lidar com situações complexas inerentes aos jovens
profissionais: busca de independência, emancipação e autonomia em relação aos
pais, conflitos entre trabalho e lazer e conflitos ligados à consolidação de
relacionamentos afetivos.
A experiência com Residência Médica tem mostrado que os Médicos
Residentes são submetidos a diversos tipos de estresse que produzem,
simultaneamente, crescimento e disfunções profissionais. Os aspectos positivos
do treinamento estão associados a sentir-se confiante e competente em relação
às responsabilidades profissionais, com disposição para se encarregar das
tarefas assistenciais e de ensino, o crescente desenvolvimento de um espírito de
amizade e colaboração com os colegas e a sensação de ser capaz de tomar
decisões quanto ao tratamento dos pacientes. As disfunções profissionais se
expressam sob a forma de um conjunto de comportamentos e estados
8
emocionais: insatisfação no trabalho, faltas, licenças, erros, excesso ou falta de
confiança, desenvolvimento de um amargo ceticismo e de uma linguagem irônica
(uso de rótulos depreciativos em relação aos pacientes), perda da compaixão e
uma série de “comportamentos evitativos” como fazer consultas rápidas e evitar o
contato visual com os pacientes.
Este Manual se insere em um contexto caracterizado pelo crescente
investimento em pesquisas e estudos objetivando identificar as fontes de estresse
na Residência Médica e o desenvolvimento de estratégias preventivas e modelos
de intervenção visando a aprimorar esta forma de treinamento em Medicina.
Penso que este Manual deva e mereça ser considerado como uma espécie
de chamamento para que todos os envolvidos com educação médica se associem
no sentido de aliar a excelência técnica ofertada pelo treinamento à atenção com
a saúde mental e à qualidade de vida dos Médicos Residentes; isto resultará, sem
dúvida, em melhoria da qualidade da assistência médica ofertada aos usuários
dos Serviços de Saúde. Neste sentido, a criação de Serviços institucionais de
Assistência Psicológica aos Médicos Residentes é medida prioritária a ser
implementada por educadores e gestores de Serviços de Saúde que oferecem
programas de Residência Médica.
O objetivo último, portanto, a ser buscado é o aperfeiçoamento deste
sistema de treinamento que tem sido reconhecido como a melhor forma de
capacitação profissional do Médico.
Reduzir o estresse do treinamento, promover o crescimento profissional e
pessoal, prevenir disfunções profissionais e distúrbios emocionais nos Médicos
Residentes são objetivos que devem ser buscados sempre, no processo de
profissionalização em Medicina.
Parabenizo a autora por mais esta produção científica que merece ser
amplamente divulgada entre os Médicos Residentes, Preceptores e
Coordenadores de programas de Residência Médica. Esta obra representa uma
clara e inequívoca opção em prol da humanização da formação médica e do
exercício profissional.
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2 - Prefácio II
Rogério Christiano Buys
A Residência Médica é um período difícil na vida do jovem Médico, que,
quando ultrapassada com proveito, realmente prepara o profissional para as
vicissitudes da carreira. Mas quando as dificuldades que apresenta excedem as
condições medianas de com elas lidar, e isso em uma parcela significativa dos
Médicos Residentes – o que está demonstrado pela extensa bibliografia
apresentada – faz-se necessário aperfeiçoar as condições gerais que cercam este
momento fundamental da formação médica. Este é o trabalho apresentado pela
Doutora Glauce Cerqueira Corrêa da Silva.
Ganha relevo imediatamente, a leitura do trabalho em questão, o extremo
cuidado da autora em fundamentar, através dos trabalhos citados de vários
autores e Centros Especializados e os de sua própria equipe, a necessidade de
se reformular as condições da Residência Médica, principalmente no que diz
respeito ao Acompanhamento Psicológico dos Médicos Residentes e da
Preceptoria, facilitando o maior aproveitamento técnico e humano deste período
fundamental de formação dos novos Médicos.
A proposta da Doutora Glauce Cerqueira Corrêa da Silva é ampla, arejada
e moderna. Aproveita e atualiza experiências exitosas de outros Centros com
critério, sensibilidade e originalidade.
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3 - Prefácio III
Lygia Miracy Coelho dos Santos
O trabalho aqui apresentado pela Dra. Glauce Cerqueira Corrêa da Silva,
traz à luz, de forma criteriosa e definida, a necessidade de um olhar amplo e
cuidadoso para o Médico Residente, e toda a sorte de situações que esse
profissional vivencia no período de sua especialização, norteando os passos
dessa preparação, em seus diversos aspectos.
Uma realidade, entretanto, merece atenção especial: trata-se da
consistente e correta preparação do Preceptor, que muda de condição, passando
a ser o Orientador de um Grupo Residente, sem receber, de forma sistematizada
e didática, a Fundamentação e o Acompanhamento Psicopedagógico para lidar
com a forma através da qual o Médico Residente realiza as suas aprendizagens.
A união das contribuições das escolas Piagetianas, Psicanalíticas e da
Psicologia Social, demonstram que o ser humano, personificado nesse valioso
Manual, como Médico Residente, é constituído de três dimensões distintas e
igualmente importantes – cognitiva, afetiva e relacional - e nos leva a
compreender que estas dimensões devem estar em harmonia para que sua
aprendizagem seja estabelecida como uma solicitação que a explique, para
ganhar significado e, para ocorrer verdadeiramente.
Para esse entendimento, entretanto, deve-se pensar na preparação
especial, do Preceptor, que atua como mediador de todo o processo e precisa,
para tanto, estar preparado para assegurar a orientação correta e o saudável
relacionamento com as modificações a serem operadas nesse ser que aprende; o
Médico Residente.
A instrumentalização teórica do Preceptor torna-se, por conseguinte,
urgente e necessária.
11
4 - Apresentação
Evandro Guimarães de Sousa
A Residência Médica, como programa de Pós-Graduação para Médicos, foi
iniciada na década de 40, nos hospitais do Servidor Público no Rio de Janeiro e
de Clínicas da Universidade de São Paulo, por colegas oriundos de treinamentos
realizados nos Estados Unidos. Portanto, o modelo utilizado foi aquele
desenvolvido em instituições de saúde do hemisfério norte.
Em 1977, com a criação da Comissão Nacional de Residência Médica
(CNRM), todos os programas já existentes e os futuros passaram a ser
coordenados por um órgão central, com competência para estabelecer normas
visando a assegurar a qualidade do treinamento oferecido ao Médico Residente.
Entretanto, durante anos, reproduzimos aquilo que nos foi apresentado pelos
nossos Preceptores, ou seja, desenvolver o treinamento em Serviço
supervisionado por colegas mais experientes.
Vale ressaltar que, nós Médicos, por gerações e gerações fomos
preparados para exercer a assistência e, na maioria das vezes, sem nenhuma
orientação para atividades de aprendizagem das novas gerações. As nossas
atividades como docente em cursos de Graduação em Medicina, ou mesmo,
como Preceptores em programas de Residência Médica, foram espelhadas em
exemplos daqueles que mais nos influenciaram durante estes períodos. Mesmo
participando de disciplinas obrigatórias como Metodologia de Ensino Superior
ofertadas em cursos de Pós-Graduação stricto sensu, continuamos com
dificuldades em exercer atividades inerentes ao processo ensino-aprendizagem.
Portanto, com exceções, podemos admitir que sabemos tocar de “ouvido” a nossa
função de Preceptoria junto aos Médicos Residentes. Porém, na maioria das
vezes, não temos condições de ler a “partitura”, condição primordial para o
processo educacional destes aprendizes.
Vários trabalhos nacionais e internacionais já registraram os problemas que
podem ocorrer com o Médico Residente, tais como: ansiedade, depressão,
Síndrome de Burnout, uso excessivo de medicamentos e de substâncias não
convencionais, ocasionando prejuízos na formação e na qualidade de vida deste
aluno, além dos problemas que poderão ocorrer com os pacientes sob o seu
cuidado, bem como os familiares dos mesmos considerando estas condições.
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O Manual de Apoio Psicológico ao Médico Residente tem como objetivo
orientar os Coordenadores, Supervisores e Preceptores de programas de
Residência Médica para o reconhecimento, acolhimento, orientação e
encaminhamento de Médicos Residentes com problemas de saúde mental para
Serviços Especializados, no sentido do tratamento destes distúrbios e de
assegurar a continuidade da boa formação do futuro especialista.
Sugere-se aos integrantes da CNRM, junto com as CEREMs (Comissões
Regionais de Residência Médica) e em parceria com a Associação Brasileira de
Educação Médica (ABEM), incluir no programa de aprimoramento de Preceptores
temas relacionados com o Apoio Psicológico a ser oferecido aos Médicos
Residentes portadores de problemas relacionados com saúde mental.
13
14
5 - Introdução
Vários artigos foram publicados a respeito de disfunções profissionais e
estresse ocupacional ocasionados por diferentes situações a que são expostos os
Médicos1. A partir de estudos e trabalhos realizados ao longo do desenvolvimento
da Residência Médica no Brasil e em outros países, foram identificadas situações
de angústia apresentadas pelos Médicos Residentes durante o período de
treinamento2-4.
Nos EUA, de 1979 até 1984, trabalhos demonstraram que 1% dos Médicos
Residentes foi afastado por distúrbios emocionais. Destes, 2% suicidaram-se e
3% tentaram o suicídio.
Em 1986, Smith5 afirmou que durante a Residência Médica os estudos em
relação aos transtornos causados pelo treinamento são bastante escassos.
Desde 1933, já era enfatizada a importância dos aspectos emocionais dos
Médicos, mostrando que alguns ficavam depressivos e pessimistas em relação à
vida e à profissão, achando que não eram mais competentes para atuar, devido
ao excesso de trabalho e de suas relações com os colegas6.
Silva2-3 identificou fatores estressores, níveis de depressão e ansiedade em
Médicos Residentes de Radiologia e Diagnóstico por Imagem de dois hospitais,
que podem comprometer não só a formação do especialista, mas a sua vida de
forma global, alterando sua existência entre os sucessos e fracassos próprios dos
relacionamentos com pessoas, em especial durante situações de crise, doença e
morte. Apesar dessas constatações, a procura pelo Psicólogo ainda encontra-se
aquém da real necessidade, sendo observado com mais evidência em Médicos
Residentes do sexo feminino e, dentre as especialidades médicas, os maiores
índices de alterações psicológicas são encontrados em Anestesiologistas seguido
por Psiquiatras, Oftalmologistas e Patologistas7.
Para Mawardi8, o uso abusivo de substâncias psicoativas e de
psicotrópicos é muito frequente, favorecido por fatores como: acesso fácil, história
familiar de dependência, problemas emocionais, estresse no trabalho e na família,
automedicação para dor e humor, onipotência, prescrição exagerada, entre
outros. Além disso, segundo Wuillaume9, não se pode esquecer o papel
fundamental do Preceptor com toda a carga de responsabilidade que lhe é dada.
Todo o processo de aprendizagem na Residência Médica, caracterizado pelo
15
treinamento em Serviço, ocorre dentro de um contexto complexo de interações
entre Preceptores, Médicos Residentes, Profissionais de diferentes áreas do
conhecimento, pacientes e instituições.
Conforme Botti10, o papel do Preceptor refere-se a várias funções:
orientador, tutor, supervisor e mentor. A grande importância do Preceptor incide
no fato dele ser educador. Neste papel, oferece ao aluno ambientes que lhe
permitam construir e reconstruir conhecimentos; desta forma, trilha caminhos para
formar pessoas ativas na sociedade.
Na opinião de Wuillaume9, as noções que os Preceptores têm a respeito do
processo ensino-aprendizagem e formação médica na Residência Médica, são
indispensáveis para o exercício da profissão.
Como se pode perceber; é grande a carga emocional do Preceptor. Se esta
carga for negativa se transformar em fator destrutivo, neste processo de tanta
responsabilidade. O mais grave, entretanto, é o fato de que o Preceptor deixa de
ser um Médico Residente e assume essa nova função; se torna Preceptor sem
nenhum preparo emocional para lidar com o Médico em formação, o que o leva a
ter danos em sua saúde mental. Portanto, compreender o papel do Preceptor
neste processo, torna-se relevante para colaborar com a saúde mental do
mesmo.
Cuidar de pessoas requer vocação, preparo, incentivo, dedicação e
humanização. Tantas evidências tornam-se preocupantes e suficientes para se
dedicar maior atenção à formação do Médico e suas vicissitudes, com a saúde
física e principalmente com a saúde mental desses Profissionais.
Com a identificação de transtornos e distúrbios advindos da própria
formação médica, surgiu a necessidade de se elaborar um Instrumento Orientador
dos Profissionais envolvidos na formação do especialista e do próprio Médico-
aluno, para lhe permitir conhecer mais sobre sua saúde mental e fornecer
recursos que possam minimizar as consequências de tais alterações.
Este Manual apresenta a experiência vivenciada a partir de pesquisas,
estudos e atendimentos realizados por Psicólogos, em um período de 5 (cinco)
anos em dois hospitais - um público e um universitário - cujo objetivo era a
preocupação com a saúde mental do especialista em formação e de seus
Preceptores, com a qualidade de vida de ambos e com a qualidade do Serviço
oferecido à população2-3.
16
17
6 - Objetivos relacionados com à elaboração do Manual
Elaborar um Manual para oferecer Apoio Psicológico aos Médicos
Residentes.
Para tanto, é necessário alcançar os objetivos específicos que se seguem:
Identificar os níveis de ansiedade, depressão e a interferência destes na
motivação e no desempenho dos Médicos Residentes;
Ressaltar a importância e a necessidade da implementação de um Serviço
de Apoio Psicológico aos Médicos Residentes;
Promover a saúde mental dos Médicos Residentes, para o exercício da
especialidade com mais qualidade e competência;
Diminuir os riscos de suicídio, da automedicação exagerada e da Síndrome
de Burnout entre Médicos;
Incentivar os Preceptores a desenvolverem atributos considerados
importantes pelos Médicos Residentes;
Orientar o Preceptor para o diagnóstico precoce e identificação de
distúrbios emocionais nos Médicos Residentes, no sentido de encaminhá-
los ao Serviço de Psicologia.
18
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7- Desenvolvimento
20
7.1 - Residência Médica
A Residência Médica é reconhecida como uma modalidade de Pós-
Graduação considerada como o curso ideal para a formação de especialistas.
Para Gualberto11, é a mais perfeita modalidade de aperfeiçoamento e
especialização em Medicina, imprimindo na formação inicial dos docentes e
pesquisadores os mais elevados padrões de excelência, razão pela qual, tem
exercido papel fundamental na organização e qualificação da assistência à saúde
dentro das instituições em que foi implementada. O alto nível de formação do
especialista é adquirido em programas de Residência Médica, de tal modo que
torna-se difícil encontrar hospitais de referência, que não ofereçam este programa
de treinamento.
Desde 197712, todos os programas de Residência Médica no Brasil estão
subordinados à Comissão Nacional de Residência Médica, que estabeleceu
normas e critérios para o credenciamento de programas em Clínica Médica,
Cirurgia Geral, Obstetrícia/Ginecologia e Pediatria. Posteriormente, foram
determinados os requisitos para o credenciamento de outras especialidades.
Atualmente, são reconhecidas 53 especialidades e 53 áreas de atuação
pela Comissão Mista de Especialidades, composta por representantes da
Associação Médica Brasileira, Comissão Nacional de Residência Médica e
Conselho Federal de Medicina13
Segundo Sousa e Koch14, para o credenciamento de programas de
Residência Médica devem ser observados os seguintes requisitos: infraestrutura
adequada para o atendimento aos pacientes, uma dinâmica suficiente para
assegurar a realização dos procedimentos necessários e um programa
pedagógico bem elaborado, no sentido de alcançar os objetivos propostos
durante o período de treinamento.
Nos termos da Lei nº 6932/8115, está prevista a concessão de bolsas de
estudo, alimentação, alojamento, um dia de folga semanal e trinta dias
consecutivos de férias por ano de atividade. Além disso, a carga horária máxima
de treinamento programada para o Médico Residente é de sessenta horas
semanais, incluindo um máximo de vinte e quatro horas de plantão15.
A Medida Provisória 536/201116, altera o art. 4º da Lei nº 6.932, de 7 de
julho de 1981. Passa a vigorar que, ao Médico Residente é assegurada bolsa no
21
valor de R$ 2.384,82 (dois mil, trezentos e oitenta e quatro reais e oitenta e dois
centavos), em regime de treinamento em Serviço de sessenta horas semanais.
Porém, de acordo com depoimentos de Médicos Residentes, este valor não é
suficiente para o seu sustento e nem para as despesas com familiares, o que
determina a procura de nova fonte de recursos, geralmente sob a forma de
plantões o que gera angústia para este especialista em formação.
Para a supervisão permanente do treinamento do Médico Residente é
exigido Certificado de Residência Médica da área ou especialidade em causa ou
título superior, ou qualificação equivalente, a critério da Comissão Nacional de
Residência Médica (Resolução CNRM 02/2005)17. Portanto, verifica-se que não é
ainda exigido o preparo formal para a Preceptoria, nem a capacidade do
Preceptor acolher o Médico Residente com problemas psicológicos.
22
23
7.2 - Quem é o Preceptor?
Morrow apud Bain descreve o Preceptor como uma pessoa, geralmente
pertencente ao staff, que ensina, aconselha, inspira e desempenha o papel de
modelo que apoia o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo novato por um
determinado período de tempo, com o específico propósito de socializar o
principiante na sua nova atividade18.
Segundo Botti e Rego19, a definição do papel a ser desempenhado pelo
Preceptor ainda é assunto muito controverso na literatura científica e nos
documentos oficiais, mostrando que, no Brasil, atribuem funções diferenciadas a
este profissional chamado “Preceptor”.
De acordo com Brant20, os Preceptores são indispensáveis na formação
dos profissionais de saúde, pelo exemplo prático de suas ações no Serviço, e da
supervisão/orientação dedicada aos alunos, aos especializandos e aos Médicos
Residentes durante seu estágio. Eles são responsáveis pela formação prática dos
Graduandos de Medicina à beira do leito e ao mesmo tempo, pelo cuidado e pelos
procedimentos terapêuticos de pacientes internados nos hospitais universitários, e
pela rede de saúde em geral. No entanto, percebe-se em âmbito nacional, uma
preocupação e um movimento dirigido à formação pedagógica destes
Profissionais.
Conforme Brant20, considerando que a função do Preceptor é orientar nas
atividades práticas e nos diferentes cenários de aprendizagem, pressupõe-se que
no seu trabalho de Preceptoria, este detenha o domínio de algumas habilidades e
competências. Porém, o que se observa é que os Preceptores não têm clareza de
seu papel em relação aos objetivos a serem alcançados pelos alunos nas
atividades práticas.
Alguns atributos são indispensáveis para o exercício da Preceptoria.
Destes, podem ser destacados:
Para Sousa21:
Habilidade de comunicação interpessoal - inclui bom relacionamento com
os alunos, entusiasmo para ensinar, interesse no cuidado do paciente,
demonstração de respeito e confiabilidade;
Disponibilidade - abrange a capacidade de lidar com situações difíceis,
comunicar com clareza decisões ou ações tomadas, o que ajudará o aluno
24
em sua formação profissional. Deve encorajar os alunos a sentirem-se com
liberdade para questioná-lo e orientá-los para uma efetiva e concisa
apresentação oral e para o desenvolvimento da habilidade de escrever.
Deve demonstrar um exemplar comportamento ético e entusiasmo, na
interação com os outros membros da equipe multiprofissional;
Avaliação do progresso dos alunos - talvez seja a tarefa mais difícil para
um Preceptor. Este deve fornecer, frequentemente, o feedback relacionado
com o conhecimento, habilidades e atitudes alcançadas pelos alunos,
identificando suas forças e suas fraquezas. Assim, eles saberão o que
fazer para melhorar os respectivos desempenhos.
No trabalho desenvolvido por Wuillaume e Batista ao entrevistar 90
Preceptores de dois programas de Residência Médica em Pediatria, de duas
instituições do Rio de Janeiro, foi verificado que as categorias de atributos mais
citadas foram22:
O exercício da tutoria - responsabilidade profissional, assiduidade,
disponibilidade, pontualidade, participação, relação Preceptor-Residente,
flexibilidade, respeito;
Ética - paciência, humildade, ética, conduta democrática, formação
humanística, cordialidade, senso de justiça;
Competências e habilidades - conhecimento teórico, desempenho prático,
técnica de exames, experiência profissional;
Educação permanente - atualização, pesquisa.
Já Sousa entrevistou 121 Médicos Residentes que cursavam programas na
especialidade de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, em 44 instituições de
saúde. Deste total, 18 (14,06%) assinalaram como atributos do Preceptor a sua
disponibilidade, qualificação e competência21.
25
“O Preceptor tem como principais atribuições o ensino e a clínica, ou seja, auxiliar o aluno no desenvolvimento da habilidade prática. Para isto, ao Preceptor é reservado o lugar nada cômodo de ativador, mais do que ajudar ou facilitar seus estudantes no desenvolvimento das atividades, ele tem a função de estimular/encorajar um ambiente acolhedor. Sua relação com os alunos deve consentir a livre expressão de suas opiniões, e estes devem se sentir à vontade para realizar perguntas que esclareçam suas dúvidas, pois é sabido que eventuais situações de ansiedade podem prejudicar as possibilidades de aprendizagem.” BRANT20
De uma maneira geral, na opinião de Brant20, o Preceptor atua como
exemplo de conduta técnica e eticamente correta para os estudantes, sendo
como uma espécie de “mentor” na visão dos alunos sob sua responsabilidade.
Desta forma, todas as ações do Preceptor em relação aos pacientes sob seus
cuidados, tornam-se exemplos para os estudantes em formação que o
acompanham. Um dos temas mais centrais do aprendizado prático constitui a
preservação da adequada relação Médico-paciente. O Preceptor tem que estar
atento em não deixar que a atenção voltada para o “momento educativo”
prejudique a relação Médico-paciente.
Deve-se levar em consideração as qualidades e defeitos dos Preceptores,
lembrando que, a imagem que fica de um Preceptor para um aluno é aquela que
permanece na memória dele. Esta imagem pode ser positiva ou negativa,
dependendo da impressão deixada pelo Professor ao aluno. Experiência,
conhecimento, interesse, competência, didática e humildade são o que os alunos
esperam de um Preceptor.
Nas recomendações de Brant20, destacam-se as competências traduzidas
em condutas e trazidas em qualquer livro ou revista direcionados para as relações
educativas, e que necessitam ser resgatadas:
1. Elogiar os alunos sempre que sugerirem contribuições importantes na
abordagem dos casos clínicos;
2. Facilitar a interação dos e com os estudantes, evitando demonstrações de
domínio absoluto do assunto durante a discussão;
3. Intervir na discussão, realizando questionamentos apropriados com a
finalidade de aprofundar;
4. Orientar ou até mesmo re-orientar o raciocínio dos componentes do grupo;
26
5. Proporcionar oportunidades em que os estudantes testemunhem que o
cuidado em saúde é desenvolvido pelo conjunto dos Profissionais da
Equipe.
Não se pode esquecer a relação Preceptor-Médico Residente. De acordo
com um estudo feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em
200018, “... o diálogo que se estabelece entre pessoas tem coloridos diferentes,
harmoniosos ou não. Pelo menos em termos de discordância e restrições de
compreensão.”. Neste caso, não se pode deixar de citar a arrogância como maior
virtude negativa de um Preceptor. Portanto, conforme Sousa, a função do
Preceptor deve ser ressaltada e os seus atributos devem ser motivo de discussão
e de reflexão no sentido de atender as necessidades e anseios dos Médicos
Residentes, com Preceptores mais preparados emocionalmente. Esta é uma
tarefa a ser desenvolvida pelos integrantes da CNRM e das Comissões Estaduais
de Residência Médica21.
27
28
7.3 - Quem é o Médico Residente?
O Médico Residente é um egresso de um curso de Medicina reconhecido
pelo Ministério da Educação que almeja o aprimoramento em uma das 53
especialidades aceitas pela Comissão Mista de Especialidades, composta por
integrantes da Associação Médica Brasileira, Comissão Nacional de Residência
Médica e Conselho Federal de Medicina23.
Apesar do curso de Graduação em Medicina ser considerado como
terminal, a maioria dos recém-formados pretende cursar um programa de
Residência Médica como forma de aperfeiçoamento ou mesmo para suprir
deficiências em sua formação profissional. É bem conhecido que a Residência
Médica forma adequadamente o especialista e facilita sua entrada no mercado de
trabalho24 (No prelo).
Para Nogueira-Martins25, durante o treinamento em Residência Médica, o
Médico Residente vai constituir as bases da sua identidade profissional, que está
sustentada no desenvolvimento de três itens da psicopedagogia: conhecimentos,
habilidades e atitudes.
Conhecimentos - Permitem compreender a integração entre a construção
do conhecimento por parte do sujeito - o sujeito epistêmico e a constituição
do sujeito pelo conhecimento - seu desejo, sua história, sua singularidade;
Habilidades - Competência de um sujeito concreto frente a um determinado
objetivo;
Atitudes - Tendência que as pessoas têm de julgar os objetos como bons
ou ruins, desejáveis ou indesejáveis.
Apesar da disponibilidade de 22 mil bolsas de estudos para Residência
Médica, pagas em 2010, dados do Sistema da Comissão Nacional de Residência
Médica (SiSCNRM) demonstraram que há vagas não ocupadas nas 29
especialidades de acesso direto. A taxa média de ocupação, em todo o país,
atingiu 76% do total de 10.196 vagas disponíveis naquele ano26. Isto porque os
recém-formados escolhem determinadas especialidades com maior prestígio de
acordo com suas aspirações pessoais, incluindo a possibilidade de maiores
ganhos em detrimento de outras consideradas como de importância secundária.
Para alcançar este objetivo os alunos sacrificam o período do Internato
frequentando cursos preparatórios, visando a sua aprovação nos concursos para
29
Residência Médica. Geralmente, se inscrevem em processos seletivos de várias
instituições de ensino espalhadas por este país. Este poderá ser considerado um
período de angústia, ansiedade e estresse para o candidato. Caso não seja
aprovado retorna aos cursos, visando a sua preparação para novos concursos,
participando de um curso de especialização, geralmente reconhecido pela
respectiva sociedade de especialidade. Frequenta um estágio relacionado com a
especialidade pretendida ou se engaja no mercado de trabalho, participando de
plantões de emergência ou em equipes do Programa da Saúde da Família. A
aprovação não o isenta de problemas relacionados com sua saúde mental, pois a
responsabilidade profissional, o receio de cometer erros, a forte concorrência
entre os colegas, a jornada extenuante do treinamento, os plantões realizados
para complementar o orçamento e a mudança para outras cidades, contribuem
para a instabilidade emocional deste jovem Médico. Ontem era aluno, hoje atua
como Médico, sujeito às penalidades previstas no Código de Ética Médica27 e
Código Civil Brasileiro28.
São muitos os depoimentos atribuindo à Residência Médica um duplo
papel na formação dos Médicos; são Médicos e ao mesmo tempo ainda são
alunos. Porém, a Residência Médica é considerada como a modalidade de ensino
mais adequada para a formação do especialista, marcando assim, o perfil
profissional dos jovens Médicos29.
30
31
7.4 - A qualidade de vida do Médico Residente e o papel do Preceptor
“Atualmente, o conceito mais utilizado para definir qualidade de vida é aquele desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo o qual QV é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Esse é um conceito amplo, influenciado de forma complexa pela saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais e relação com características do ambiente.” BLAY E MERLIN APUD NOGUEIRA-MARTINS30
Estudos de González e cols. e Macedo apud Lourenção31-32 mostram que
os Médicos Residentes possuem algum conhecimento sobre qualidade de vida,
mas quase não é utilizado na prática. A qualidade de vida, no sentido social,
emocional e de saúde mental dos Médicos Residentes, pode ser comparada à
encontrada em pacientes com doenças crônicas. Assim, González e cols.
sugerem a necessidade de incorporar conhecimentos sobre qualidade de vida na
formação médica e sua utilização na prática do exercício profissional32.
Segundo Borus33, a Residência Médica determina várias mudanças, tanto
na vida pessoal como na vida profissional do indivíduo. Deixam seus familiares,
relacionamentos afetivos, suas cidades de origem, suas vidas sociais e partem
para um novo ambiente. Muitos precisam aumentar a sua renda, face ao aumento
das despesas, nesta incluindo plantões em Serviços de Urgência e Emergência.
Precisam aprender a lidar com a distância, com doenças dos pais e familiares que
estão próximos ou, muitas vezes, longe, com a morte de entes queridos e
familiares e com o "desligamento" da família, com a insegurança da nova vida
social e com as novas responsabilidades.
Seidl e Zannon34 relatam que são muitos fatores, entre eles diminuição da
energia, fadiga e dor, que comprometem a saúde e a qualidade de vida de
Médicos Residentes. Nesse contexto, a análise da qualidade de vida destes
Médicos permite contribuir com ações para melhorá-la pessoal e
profissionalmente, superando a qualidade do atendimento prestado aos
pacientes.
32
Para Lourenção e cols.32, apesar de estressante, a Residência Médica é
uma experiência enriquecedora, que propicia o desenvolvimento profissional e
pessoal dos jovens Médicos.
Na análise da literatura sobre o processo de formação do Médico
Residente, percebe-se que os Profissionais são acometidos por elevados índices
de problemas de saúde que interferem na qualidade de vida e,
consequentemente, no atendimento prestado ao usuário do Serviço. Os principais
problemas relacionados com a falta de qualidade de vida são: Síndrome de
Burnout, sono, estresse, fadiga e enfrentamento das condições de vida e prática
profissional32.
Conforme Lourenção e cols.32, alguns trabalhos comprovam isto. Entre as
principais conclusões destes artigos, pode-se ressaltar:
Os Médicos Residentes deprimidos cometem seis vezes mais erros do que
os Médicos Residentes não deprimidos;
A redução da jornada de trabalho foi proposta para melhorar a saúde e a
qualidade de vida dos Médicos Residentes. Entretanto, suspeita-se que
essa redução possa trazer prejuízos para o ensino, para a segurança do
paciente e satisfação com os cuidados;
Há presença de Burnout em 78,4% dos Médicos Residentes. Sugere-se
criar programas para prevenção. Ressalta a necessidade de dar
continuidade a esse tipo de pesquisa e desenvolver modelos mais
complexos para o entendimento do Burnout entre Médicos Residentes;
A incidência de Burnout entre os Médicos Residentes foi proporcional à
carga horária de trabalho;
42% dos Médicos Residentes se consideram estressados, sendo que 21%
referem que esse estresse interfere nas relações familiares;
38% dos Médicos Residentes são excessivamente sonolentos e 7% muito
sonolentos. 46% utilizam regularmente álcool, anti-histamínicos, calmantes,
benzodiazepínicos ou miorrelaxantes;
Os Médicos Residentes do sexo feminino têm relações sociais de trabalho
mais positivas e maior empenho nas atividades do que os do sexo
masculino;
33
34% dos Médicos Residentes consideram sua vida estressante; as
mulheres são mais acometidas que os homens;
Médicos Residentes com perfil afetivo-motivacional positivo têm ganho de
conhecimento nos dois primeiros anos de Residência enquanto que
Médicos Residentes com perfis afetivo-motivacionais menos positivos não
o apresentam;
Médicos Residentes com estilos de enfrentamento não funcionais são mais
suscetíveis a sofrer Síndrome de Burnout;
81% dos Médicos Residentes e 72% dos alunos apresentaram
sintomatologia depressiva, com predomínio nas mulheres. Em sua maior
parte, ingerem bebidas alcoólicas, são fumantes e solteiros;
Os Médicos Residentes apresentam baixa qualidade de vida. O sistema de
formação precisa ser melhorado;
Os Médicos Residentes são predominantemente jovens, solteiros, sexo
feminino e pedem ajuda psicológica, especialmente durante o primeiro ano
de formação. Os que procuram o Serviço espontaneamente apresentam
maior aderência ao Tratamento Psicológico. Depressão e ansiedade são
os diagnósticos mais frequentes, seguidos de pensamentos suicidas;
Os Médicos Residentes afastam-se da sua rede de apoio (família, amigos
e cônjuges) devido à alta exigência quanto à competência técnica e
interpessoal, somada à considerável quantidade de tempo que devem
dispor para exercer suas funções. Também precisam transitar entre
diferentes e antagônicos papéis dentro da instituição;
Fatores estressantes do treinamento e os efeitos dos mesmos nos Médicos
Residentes deterioram a qualidade da assistência prestada aos pacientes;
São 3 os tipos de estresse durante o treinamento na Residência Médica:
profissional, situacional e pessoal. Os 3 atuam mutuamente;
Quase a metade dos Médicos Residentes tem dificuldades de
enfrentamento do estresse emocional, o que afeta negativamente a relação
Médico-paciente e o desempenho profissional, e comprova a necessidade
de se criar estratégias que desenvolvam a capacidade dos Médicos
Residentes de lidarem com o estresse.
34
Ao escolher a profissão de Médico, o individuo enfrenta situações de dor,
sofrimento, doença e morte que estarão presentes durante toda a vida deste
profissional.
A qualidade de vida é individual. Não é possível padronizá-la, pois depende
dos objetivos, das metas traçadas e das pretensões de cada um. Além de
depender de fatores internos e externos. Para cada indivíduo há uma conotação
diferente de qualidade de vida, de acordo com sua vida na sociedade35-36.
Por fim, entende-se que o componente mais importante para a qualidade
na educação médica é a supervisão. Desta forma, a prioridade que precisa
impulsionar os Preceptores e as instituições para buscar sua própria excelência
em ética, competência e conhecimento é a qualidade não só acadêmica do seu
aluno, mas a satisfação de todos os envolvidos no ensino e na aprendizagem com
as recompensa que este pode ter durante seu curso37.
35
36
7.5 - A saúde emocional do Médico e os principais aspectos psicoemocionais presentes na formação do Médico Residente
De acordo com Mello Filho37, a característica de personalidade do Médico é
um fator determinante e de importância na qualidade da relação Médico-paciente,
mas a formação de um bom Médico não exige um tipo padronizado, muito pelo
contrário. A predominância de certas características psíquicas define o tipo de
personalidade que, numa descrição sintética, permite destacar os seguintes
aspectos: depressivo, maníaco, paranóide, obsessivo, fóbico, histérico,
esquizóide, psicopata e narcisista. Uma combinação destes itens converge para a
conduta médica, a qual fica estruturada numa série de capacidades e atitudes
internas do Médico, que somadas aos seus conhecimentos e habilidades,
definirão o perfil da sua formação.
Apesar de existirem, ainda são poucas as publicações que desenvolveram
estudos sobre os problemas de ordem emocional que apresentam e como vivem
Médicos em especialização, durante o período de treinamento na Residência
Médica, pois precisam de muita dedicação e orientação para vencer todas as
etapas programadas2.
“Embora estressante, a Residência Médica é uma experiência enriquecedora, que propicia o desenvolvimento profissional e pessoal dos jovens Médicos.” NOGUEIRA-MARTINS25
Para Braden38 a autoestima saudável está intimamente relacionada com
racionalismo, realismo, intuição, criatividade, independência, flexibilidade,
capacidade de enfrentar os desafios, disponibilidade para admitir (e corrigir) erros,
benevolência e cooperação. Quanto mais saudável for a autoestima de um
indivíduo, mais propenso estará para tratar os outros com respeito, benevolência
e boa vontade, uma vez que, não tende a percebê-los como ameaça, já que o
autorrespeito é a base do respeito pelo outro.
Existem seis importantes pilares responsáveis pela sustentação na
construção da elevada autoestima da vida do individuo: a prática de viver
conscientemente, a prática da autoaceitação, do senso de responsabilidade, da
autoafirmação, de viver objetivamente e a prática da integridade pessoal. Sem
37
estes pilares, corre-se o risco de vivenciar os sintomas da depressão que estão
compreendidos entre: desinteresse pelas atividades normais, perda da
autoestima, concentração diminuída, inquietação e hostilidade, perda de interesse
pelo trabalho, apetite alterado, diminuição do apetite sexual, cansaço, distúrbios
do sono, ideia de suicídio, entre outros38.
Conforme a Associação Médica Americana, os Médicos Residentes
constituem um grupo de risco para distúrbios emocionais e comportamentais.
Dentre estes distúrbios, a depressão, a ansiedade e a privação do sono são
considerados fatores desencadeantes do estresse2.
Na observação de Nogueira-Martins39, o medo de cometer erros e plantões
noturnos constituem as principais fontes de estresse identificadas nos Médicos
Residentes.
Na opinião de Martin40, o período de Residência Médica está ligado a
sentimentos como depressão, raiva, cinismo e retraimento emocional.
Infelizmente, não há grandes preocupações quanto aos efeitos que esses
sentimentos podem causar sobre as atitudes futuras e a postura profissional
destes Médicos. Isso mostra a necessidade dos Médicos Residentes em obterem
capacitação e orientação psicológica pessoal e profissional para se tornarem bons
especialistas. Os programas de Residência Médica deveriam oferecer o Serviço
de Acompanhamento Psicológico como “suporte” para o especialista em formação
desenvolver as habilidades de comunicação necessárias para se tornar
competente e humanizado na sua área.
Segundo Nogueira-Martins41 o estresse atinge seu ápice na Residência
Médica, devido a vários fatores: conflitos inerentes à transição aluno-Médico,
excesso de responsabilidade, pouco contato social, exaustão, privação de sono,
muito trabalho, medo de errar e tudo isso podendo levar a estados depressivos,
ideação suicida, excesso de consumo de álcool, drogas e medicamentos de fácil
acesso.
Lourenção e cols.32 alertam para o fato de que os Médicos Residentes são
submetidos a vários tipos de estresse durante o treinamento, que podem produzir
efeitos danosos nestes, afetando a qualidade da assistência prestada aos
pacientes. Os autores mostram resultados e conclusões importantes como altos
índices de Síndrome de Burnout, estresse, depressão, fadiga, sono, dificuldade
de enfrentamento, relação entre carga horária de trabalho e qualidade de vida e
38
necessidade de melhorias na legislação da Residência Médica para melhorar as
condições de trabalho e aprendizado dos Médicos Residentes.
Na ideia de Aach e Parker apud Nogueira-Martins e Jorge42 na Residência
Médica o estresse é classificado em três categorias: a) estresse profissional –
associado à responsabilidade profissional, que se pode definir como; atenção,
execução de tarefas, planejamento e organização. b) estresse situacional –
associado às circunstâncias do treinamento como: a privação do sono, fadiga,
muito trabalho e problemas relativos à qualidade do ensino e ao ambiente de
prática. c) estresse pessoal - associado, principalmente, a situações pessoais
como: temperamento e personalidade, vulnerabilidades psicológicas, situação
socioeconômica, problemas familiares, eventos de vida, etc. Conforme o autor,
essas três categorias de estresse estão associadas.
Além dos Médicos Residentes, observa-se um elevado grau de sofrimento
emocional entre Médicos e estudantes de Medicina descrito na literatura43,
expresso como altas taxas de suicídio44, elevada prevalência de transtornos
depressivos e ansiosos45, de abuso de álcool e drogas46, além de disfunções
profissionais muito frequentes47 que são: relação simbiótica com os pacientes,
aparente frieza ou afastamento emocional dos pacientes e negação das
vulnerabilidades pessoais48.
No entender de Simon e Ross49-50 os sentimentos de culpa por fracasso de
onipotência (limites de realidade) favorecem o surgimento de quadros depressivos
e suicídios, que são evidenciados por dados epidemiológicos, da literatura, de
incidência e prevalência, nesse grupo profissional, como mais elevado que a
população geral.
Já para Ford51 o Médico por ser, na maioria das vezes, ativo, ambicioso,
competitivo, compulsivo, entusiasta e individualista, é facilmente frustrado em
suas necessidades de realização e reconhecimento. Isto pode ser suficiente para
produzir ansiedade e depressão. Sendo assim, necessita de “cuidados
psicológicos” para não recorrer à somatização, abuso de álcool, drogas e ao
suicídio.
Silva e cols.52 descreveram algumas recomendações que objetivam a
implementação de um Serviço de Acompanhamento Psicológico para Médicos em
formação, enfatizando o estudo do autoconhecimento e da relação com o outro,
promovendo a saúde física e mental, melhorando a relação com a equipe,
39
reduzindo o estresse durante o treinamento e gerando relacionamentos mais
favoráveis, tanto por parte dos alunos quanto dos Preceptores. Estes aprendem a
identificar problemas de ordem emocional do aluno com mais facilidade e, desta
forma, encaminhá-lo para Acompanhamento Psicológico.
40
7.6 - O Suporte Psicológico para o Médico Residente
À necessidade de se incorporar conhecimentos sobre qualidade de vida na
formação médica e a sua utilização na prática do exercício profissional é de
extrema importância para a saúde mental dos alunos.
Estudos têm demonstrado que a implementação de Programas de
Assistência aos Médicos Residentes produz uma melhoria tanto na qualidade da
capacitação profissional, em termos de lidar com o estresse do treinamento, como
também na qualidade de vida pessoal, com um melhor relacionamento com os
pacientes.53-57
Em seu trabalho, Silva e cols.52 citam alguns dos Centros de Apoio
Psicológico ao Médico Residente e Profissionais da Área de Saúde mais
conhecidos. Dentre eles, pelo seu pioneirismo, três deles merecem destaque58:
NAPREME - Núcleo de Assistência e Pesquisa em Residência Médica. Foi
criado em 1996 na Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de
Medicina (Unifesp-EPM). É um Serviço de Apoio Psicológico para Médicos
Residentes e Pós-Graduandos. Os objetivos deste Núcleo são: oferecer
orientação e Assistência Psicológica e Psiquiátrica aos Médicos
Residentes e Pós-Graduandos, assessorar os Preceptores dos programas
de Residência Médica e de Pós-Graduação, reduzir o estresse do
treinamento e prevenir disfunções profissionais e distúrbios emocionais nos
mesmos, bem como, desenvolver projetos de pesquisa visando o
aperfeiçoamento da Residência Médica e da Pós-Graduação25;
GRAPAL - Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. É também um Serviço de
Retaguarda Emocional para seus alunos. Desde 1986, oferece assistência
aos alunos da FMUSP e aos Médicos Residentes do Hospital das Clínicas.
O objetivo de Grupo é qualificar a formação do Médico Residente com o
Apoio Psicológico que se fizer necessário43;
REPAM - Serviço de Retaguarda Emocional para o aluno do curso de
Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo (FCMSCSP). Foi criado em 1997 para tratar de
questões de natureza psicoemocionais de seus alunos, objetivando
oferecer um espaço de escuta e compreensão para as questões
41
emocionais, que no percurso da formação possam dificultar o bem-estar e
o desenvolvimento do aluno como pessoa e futuro profissional59.
Silva e cols.52 também comentam sobre o Serviço de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem de uma instituição pública do Rio de Janeiro, que conta
com o Apoio Psicológico ao Médico Residente e especializandos desde o seu
ingresso nos programas, por meio de entrevista inicial de seleção, seguidas de
outras até o término de sua formação. Este Serviço funciona desde 2007 e já
realizou mais de 100 atendimentos aos Médicos Residentes e especializandos
durante todas as etapas dos cursos em quatro anos de existência. Este Serviço
de Psicologia se tornou fundamental para o bom aproveitamento, tendo como
objetivo principal a diminuição das angústias, o controle da ansiedade e
depressão, apoio na falta de determinação e organização, além de colaborar nos
índices de motivação e desempenho dos alunos.
A relação do baixo desempenho acadêmico e profissional, na opinião de
Silva e cols.52, está ligada à vivência de um processo estressor, baseado na
condição de vida, com mudanças profundas, dos Médicos em formação. Estas
mudanças se caracterizam na postura existencial que estes experimentam: de
profissional-aluno para aluno-profissional, carregando uma responsabilidade
plena que, muitas vezes, pode desencadear a falta de motivação, determinação e
organização dos alunos, além de problemas de nível sócio-econômico e de
âmbito familiar que faz surgir um processo ansiogênico e/ou depressivo,
desestruturando assim, o desempenho esperado pelo próprio Médico,
Professores e Preceptores durante a sua formação.
As angústias e comportamentos negativos encontrados nos Médicos
Residentes desorganizam o desempenho destes, durante o programa de
treinamento.
Sintomas depressivos são os fatores principais no desencadeamento de
isolamento social. Além de manifestações nervosas e desconfortos
desencadeados pela exposição à avaliação social; o que ocorre quando a pessoa
precisa interagir com outras pessoas, realizar tarefas sob observação, ou
participar de atividades sociais.
Tarefas básicas do dia a dia, simples de se realizar, tornam-se um fardo
para pessoas que apresentam sintomas depressivos e têm como uma de suas
consequências mais desagradáveis o isolamento social. O deprimido sente uma
42
apatia generalizada. Perde o interesse por quase tudo o que costumava lhe dar
prazer. Sair com os amigos ou conhecer novas pessoas, por exemplo, pode
tornar-se angustiante para ele. Essa apatia pode levar a pessoa a ter uma
impressão cada vez mais negativa de sua vida. A chamada anedonia (perda de
prazer em geral) e a perda de energia levam o indivíduo a crer que não irá se
libertar desse mal estar e, em última instância, isolar-se completamente.
O Suporte Psicológico para o Médico Residente tem ação preventiva dos
sintomas afetivos, somáticos e cognitivos para um melhor desempenho do Médico
e superação de dificuldade no decorrer de sua formação. Desta forma, o Apoio
Psicológico estabelece o desenvolvimento de habilidades para o aproveitamento
dos obstáculos no crescimento profissional.
Sintomas afetivos (reatividade emocional diminuída, anedonia, isolamento
social e tristeza);
Sintomas somáticos (fadiga, alterações do apetite, alterações do ritmo
sono-vigília e diminuição da libido);
Sintomas cognitivos (atenção diminuída, memória prejudicada, dificuldade
em executar funções que permitem planejar e organizar, além da
dificuldade de concentração, ideação de desesperança, de culpa e de
inutilidade).
O profissional de Psicologia, num primeiro contato com o Médico
Residente, ajuda no acolhimento, integração e adaptação deste, para que ele não
se sinta tão “afastado” de casa. Identifica, com o uso de técnicas próprias e testes
psicológicos, problemas de ordem emocional ou psicológica que estes estejam
vivenciando e temores que poderão vivenciar. Os ajuda a reduzir o estresse a que
são acometidos ou a identificar fatores que podem desencadeá-lo, que muitas
vezes interfere na prática de suas atividades.
O Preceptor também recebe ajuda do Serviço de Psicologia. Ele é
orientado a lidar com problemas rotineiros do Serviço sempre de forma paciente,
mantendo uma postura coerente e solícita com o Médico-aluno não perdendo o
foco do seu trabalho. Também aprendem a perceber problemas de ordem
emocional do aluno, de forma a solicitar o Acompanhamento Psicológico para o
mesmo.
Todo este processo acontece dentro de um protocolo, que inclui dinâmicas
de grupo, atendimentos individuais e grupo informativo. Estas estratégias são
43
utilizadas para oferecer e alcançar o Apoio Psicológico proposto neste Manual,
dentro de uma abordagem humanista no sentido da promoção de uma abertura
emocional que promova resultados mais eficientes.
- Dinâmica de grupo: a experiência no grupo permite a identificação de
dificuldades e necessidades comuns a várias pessoas com os mesmos objetivos,
ajuda a desenvolver a criatividade e permite melhora no relacionamento
interpessoal com o grupo e a equipe. Tem como objetivos: acolher o aluno, trocar
experiências, promover a identificação e o conhecimento das dificuldades,
identificar e avaliar mudanças comuns e integrar o aluno em um novo convívio
social, além de orientar os Preceptores a entenderem esta dinâmica para que
estes participem de forma a perceber quando algo não está fluindo bem.
- Atendimento individual: algumas situações do dia a dia são específicas e
singulares, necessitando de conhecimento mais aprofundado para se fazer o
Apoio Psicológico. Tem como objetivos: diminuir a ansiedade, pontuar
dificuldades emocionais, esclarecer dúvidas, prevenir agravos à saúde, orientar
para solução de problemas pessoais e/ou profissionais, melhorar a qualidade de
vida, restaurar a autoestima e avaliar a necessidade de Acompanhamento
Psicológico, tanto do Médico Residente como do Preceptor.
- Grupo informativo: informação, Suporte cognitivo-comportamental e
prevenção da saúde física e mental. Visa, para os Médicos Residentes, a
melhorar a motivação e o desempenho curricular, além de promover a otimização
do trabalho, a melhora na relação Médico-paciente e relação do Médico com os
outros colegas; presta esclarecimentos a ele na conduta com o paciente, adverte
sobre a segurança no trabalho que desenvolve, ajuda na resolução de conflitos e
ajuda a aumentar o nível de interesse no que faz. Trabalha, também, outras
questões como: dedicação à prática e estudos, pontualidade, competência e
conhecimento no que faz, ajuda na elaboração dos horários e orientação nos
trabalhos e pesquisas. Para os Preceptores, visa a melhora da motivação, a
melhora na relação Médico-aluno, a esclarecer, no caso de dúvida ou
necessidade, na conduta com o paciente, adverte sobre a segurança no trabalho
que desenvolve, ajuda na resolução de conflitos, a aumentar o nível de interesse
no que faz. Além de reforçar os atributos que os Médicos Residentes esperam
encontrar nos seus Preceptores.
44
Deve ficar claro que a escolha da técnica fica a critério da avaliação
psicológica, conjunta com os ideais dos Médicos Residentes e Preceptores para
que se alcance qualidade nos resultados desejados e no desenvolvimento
humano e profissional.
45
7.7 - Equipe
Psicólogos com formação em Psicologia Hospitalar e/ou Psicologia Clínica
com competência para auxiliar a formação do especialista, por meio do Suporte
às vicissitudes destes durante seu treinamento, fornecendo ajuda para um melhor
desempenho. Para nortear os Preceptores, staff e funcionários do Serviço, no
acolhimento, adaptação e integração dos alunos proporcionando, assim, uma
excelente relação entre todos, a redução do estresse e das situações de
ansiedade e depressão vivenciadas por Médicos Residentes no decorrer do
curso.
46
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