KARMA YÓGA O caminho da ação e reação.
Luis Antonio Lemes Bernegozi Escola de Yoga Clássico de Sorocaba
REALIZAÇÃO DO CARMA – KARMA YÓGA
Um dos ramos clássicos mais simples, porém, o mais difícil de ser
compreendido e executado; é de caráter altamente prático, ou seja, esta ligada as
ações da vida, ação do dia a dia. Tanto nas ações físicas, como as mentais e até nas
espirituais. Seu princípio é: o que for semeado será colhido, assim sendo, cada
palavra, cada pensamento, cada gesto ou atitude será colocada a balança da justiça
eterna e suprema. Assim como a natureza esta ligada as leis cíclicas e inalteráveis, da
mesma forma, a natureza interior e exterior do ser humano estão ligados a lei do
carma e seus efeitos sucessivos e contínuos. Podemos resumi-la em três conceitos:
1. Consciência da semeadura:
2. Acumulo de experiências e existências.
3. Trabalho por amor e a obra.
O homem determina para si mesmo a sua verdadeira existência. As tendências
morais, físicas, mentais e espirituais que adquire numa vida vão determinar em grande
parte sua existência ou existências seguintes. Não há como escapar aos efeitos das
ações, mas, devem estar atentos as suas causas e efeitos. Se tomardes parte no
grande jogo da vida, envolvendo-se nos seus movimentos, fazei sempre o melhor que
puderes, pois será necessário agir, fazei o que vos compete no mundo, contente, feliz,
de boa vontade e imparcialmente, mas reconhecei que, os frutos são como nada ao
seu final, e ride-vos à idéia de que essas coisas relativas possam vir a ter algum valor
real para vós.
Dentro da visão filosófica do karma yóga há três divisões distintas.
1. Prarabdha (ação já realizada), não há como voltar atrás após a ação executada.
2. Samcita (ação ainda a ser realizada), ainda há uma possibilidade de não
cometer a ação (decisão e indecisão).
3. Agami (ação e reação ainda em observação), o discernimento e a experiência
do yogue determinarão o melhor caminho a ser tomado.
Portanto a lei do carma yóga serve para ensinar o homem que nada é arbitrário
neste mundo existencial. Podemos conduzir a vida e dominar as nossas ações
simplesmente observando e dominando nossos desejos e paixões, bem como,
desenvolvendo o Jnana (conhecimento) real das leis cósmicas e, praticando o
discernimento sobre nossas atitudes. E saibamos que, a insegurança, os medos, a
letargia, a ignorância, o apego e a glória nascem da falta de visão.
Karma-Yoga é a integração pela dedicação de todas as ações e seus frutos à
divindade. É a execução da ação em união com a parte divina interior, ficando
distanciado dos resultados mantendo o equilíbrio, seja em face do sucesso ou do
fracasso. Segundo Swami Shivananda, o carma-ioga é o serviço desinteressado para a
humanidade. É a ioga da ação que prepara o antahkarana (coração e mente) para
receber a Luz Divina, ou Conhecimento do Si-Mesmo.
A ação prende a pessoa ao mundo fenomênico (samsara) quando é ditada pelo ego
inbuída do senso de fazer-e-receber. Então ela é karma bindu, a pessoa se liga à ação.
Mas quando a ação é desinteressada, sem se esperar frutos, ela é libertadora. Então, o
carma se torna carma-ioga. A prática da ação sem esperar por seus frutos liberta do
medo e do pesar. O praticante de Karma Yoga deve se libertar da ambição, do desejo,
da raiva e do egoísmo. Deve ter um grande coração, amar a sociedade com os homens
de todos os tipos. Ao praticar a carma-ioga, essas qualidades vão se tornando parte da
pessoa.
Gandhi (Mohandas Karamchand Gandhi - 1869/1948) criou o princípio de
satyagraha, ou de resistência pacífica (política de não-violência) a partir da carma-ioga
citado no Bhagavad Gita, onde Sri Krishna ensina a Arjuna (príncipe-guerreiro
pandava), sobre ioga e samkhya.
No Bhagavad Gita, Krishna diz a Arjuna: se praticar a ação desapegada (karma
yoga) se tornará livre do cativeiro kármico do qual surge os ciclos repetidos de
nascimentos e mortes .
A carma-ioga é um dos temas centrais do Bhagavad Gita e permeia toda a obra,
nos verso 2.47 a 2.51 pode-se ler o básico do karma-yoga:
1. Somente tens direito ao trabalho, não a seus frutos. Que esses frutos nunca
sejam o motivo de seus atos, e nunca deverás ficar inativo.
2. Faça as suas ações no melhor de suas habilidades, Ó Arjuna, com sua mente
ligada ao Senhor! Abandonando a preocupação e o apego egoísta para os
resultados, permanecendo calmo tanto no sucesso como no fracasso. O
serviço sem egoísmo traz paz e tranqüilidade da mente, que conduz a união
com Deus.
3. O trabalho feito com motivo egoísta é inferior! E, está longe do serviço
desapegado. Portanto, seja um trabalhador desapegado, Ó Arjuna. Aqueles
que trabalham apenas para o gozo dos frutos dos seus trabalhos são
infelizes (porque não se tem controle sobre os resultados).
4. Um carma-iogue, ou uma pessoa desapegada, torna-se livre tanto da virtude
como do vício em sua vida. Portanto, esforce-se por serviço desapegado.
Trabalhar o melhor das suas habilidades, sem apegar-se egoisticamente
pelos frutos do trabalho, chama-se Karmayoga ou Seva.
5. Os carma-iogues estão livres do cativeiro do renascimento, devido a
renúncia do serviço desapegado aos frutos de todo trabalho, alcançando um
divino estado de salvação ou Nirvana.
É importante aprendermos a diferença entre agir e reagir. Ou, em outras
palavras, entre viver a sua vida e aprender com ela, tornar-se sábio. Como seres
humanos, temos de exercer a escolha sempre. A única coisa a qual não temos escolhe
é o fato de termos sempre que fazer uma escolha. E isso não deve ser um peso, mas
um privilégio, já que temos em um grau conhecimento muito superior aos outros
animais.
Uma vez que percebemos que a “inação na ação” não é não esperar um
resultado, mas sim aceitar que não podemos mudar um resultado e aceitá-lo em
santosha (contentamento), ou seja, agir sem apego ao resultado, agir com desapego;
então compreendemos o ensinamento do Karma Yoga.
Karma Yoga não é fazer uma ação, não é agir ou fazer algum tipo de trabalho.
Por isso, não é manter o jardim limpo, ajudar na cozinha, lavar a roupa, ajudar no
trabalho de escritório. Fazer isto, fazer aquilo. Como se pode fazer Karma Yoga? E por
outro lado como se pode deixar de produzir Karma?
“Nem mesmo por algum instante, alguém permanece sem praticar qualquer ação;
Querendo ou não, é impelido à ação pelos três gunas da Prakrti. (Bhagavad gítá III-5).
Se existe uma escolha entre agir e não agir. Os dois existem como vias para
libertação (moksha).
A expressão Karma Yoga é composta de duas palavras, karma e Yoga. A palavra
karma, neste contexto, significa ação apropriada. A palavra Yoga, aqui, significa atitude
correta. Assim, a ação correta e a atitude correta em relação aos frutos da ação
formam o Karma Yoga.
Ação correta
Os Shástras classificam as ações humanas em três tipos que podem influenciar as
ações sobre o chitta shuddhi ( purificação da mente). Os três tipos ou categorias são:
1. Uttama, (máxima influência positiva), que mais contribuem para evolução
espiritual, são as ações em que predomina o guna satva, são todas as ações
que vão beneficiar o máximo número de seres.
2. Madhyama, (limitada ou nenhuma influência), o que significa que são ações
que podem ter uma influência material positiva ou até muito positiva, mas
pouca influência espiritual. Literalmente são ações em que as outras
pessoas ou seres são ignorados. Não me preocupo com os seus problemas
devido às conseqüências das minhas ações sobre eles, preocupo-me apenas
comigo. Esses karmas egoístas ajudam-me no meu bem-estar material, mas
ou não contribuem ou pouco contribui para o meu crescimento espiritual.
3. Adhama karmani, as ações que tem (influência negativa), que atrasam o
nosso crescimento. Estas ações não me ajudam, bem como, só atrasam o
crescimento. Por exemplo, quando chego ao supermercado e existe um
lugar vago posso oferecê-lo a outra pessoa, posso correr para consegui-lo ou
posso até empurrar a pessoa que está ao meu lado para chegar primeiro ao
lugar. A cada uma das ações descritas correspondem respectivamente os 3
tipos de karmas que descrevemos, sendo a última opção adhama karma.
Adhama karma é inevitável e está sempre presente
A tentativa do karma yogue é alterar a proporção destes karmas de modo a
aumentar os primeiros, reduzir os segundos e deixar de praticar os terceiros. Por outro
lado, a ação está sujeita a uma escolha. Posso escolher:
a) Fazer;
b) Não fazer; ou
c) Fazer, mas de forma diferente da que havia planeado.
Mesmo quando por qualquer motivo estamos obrigados a fazer alguma coisa,
podemos sempre escolher não a fazer. Também podemos escolher os meios para
fazer. Esses meios devem estar de acordo com o Dharma. Por isso, a Gita (II-50) ensina:
“Yoga é a perfeição na ação.”
Ser perfeito na ação não é ter perfeição em algum tipo de ação, mas seguir e aceitar
o Dharma na ação.
Os resultados podem ser aceitáveis ou não aceitáveis. Para isso precisamos de
certo entendimento da ordem e as leis do Universo. O resultado das nossas ações é
sempre um resultado que está de acordo com a ordem do Universo, com as leis da
Natureza. O presente é sempre o momento cosmicamente perfeito, por isso devemos
aceitá-lo como prasáda (gratidão), como um objeto que nos é doado. Porém os
resultados das nossas ações podem ser definidos em quatro tipos:
1. Exatamente igual ao que esperávamos;
2. Mais do que esperávamos;
3. Menos do que esperávamos, ou
4. Completamente diferente do que esperávamos.
As grandes obrigações cármicas:
a) A obrigação cármica com o absoluto e seus vários aspectos (devarta), ou seja
para com a ordem cósmica e as quais fornecem para o ser humano as
condições de existência natural como a terra, água, o fogo, o ar e o éter.
Manter a harmonia da existência.
b) A obrigação cármica para com os ascendentes: promover a continuidade da
vida e a transmissão dos conhecimentos, cuidando para o seu
desenvolvimento.
c) A obrigação cármica para com os sábios e iluminados espirituais ou inspirados
que através dos tempos dedicou-se a transmitir o conhecimento profundo dos
valores superiores da humanidade.
O segredo da existência perfeita com o Karma Yoga resume-se em:
1. Realização da ação livre e desinteressada.
2. Agir porque é necessário interagir neste plano.
3. Saber que nada é arbitrário.
4. Entender que só você é responsável pelos seus atos e suas obrigações
5. Aceitar que o que você é hoje é reflexo de suas atitudes nesta e em outras
existências.
6. Ter participação no ser total compreendendo a lei da reciprocidade.
7. Discernir sobre as freqüências positivas e negativas.
8. Procurar anular uma ação agindo positivamente e imparcialmente.
9. Compreender as leis da atração e rejeição.
10. E o mais importante, ter o controle sobre si mesmo.
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