Quando assumimos a Prefeitura de
Bagé, em janeiro de 2001, uma das
grandes polêmicas que existia na cidade
era o desmantelamento das equipes de
agentes comunitários de saúde,
promovido pelo governo anterior que,
desta forma, interrompeu o processo de
adesão do município ao então Programa
da Saúde da Família. Quando deixamos o
governo, em dezembro de 2008, havíamos
montado 22 das 24 equipes previstas,
com o que conseguíamos cobrir
praticamente toda a população que usava
os serviços do SUS.
Tendo como base ações da mesma
natureza desenvolvida em países como
Canadá, Cuba, Suécia e Inglaterra, o
programa provocava uma mudança do
modelo assistencial a partir da atenção
básica da saúde. Deixa de tratar a
doença, de forma isolada, e passa a
incorporar práticas preventivas,
educativas e curativas tendo como foco
não apenas o indivíduo, mas a família
como centralidade do conjunto de ações
necessárias à promoção da saúde.
Por acreditar que os avanços nesta
área devem se medir não pela capacidade
do sistema atender cada vez mais um
número maior de pessoas, mas sim pela
Memórias de um tempo
De outra parte, ajudamos preservar e salvar vidas. Demos mais qualidade de vida a milhares de pessoas.
diminuição dos atendimentos e
internações, buscamos criar as condições
necessárias para que Bagé se integrasse
ao Saúde da Família, concepção que vinha
sendo articulada no País desde o início
dos anos 90. Para nós, quanto menos
pessoas consultando nas unidades, mais
eficiente seriam os serviços de saúde.
No início, o Saúde da Família era um
programa sobre o qual não se tinha
nenhuma garantia a respeito da
continuidade. Não poderíamos fazer
concurso público para contratar agentes
comunitários, enfermeiros, médicos,
dentistas e outros profissionais
necessários à sua implementação.
Buscamos as experiências de outros
municípios que, mediante convênios com
as mais diversas instituições,
terceirizavam a contratação.
Em Bagé, buscamos o apoio da Santa
Casa de Caridade e da Universidade da
Região da Campanha, duas instituições
sérias, idôneas, reconhecidas pela
comunidade e com vínculos na área da
saúde. Contamos com o apoio,
compreensão e espírito público dos
provedores Mario Menna Kalil e depois do
Luiz Alberto Corrêa Vargas, da Santa Casa,
e dos reitores Morvan Meirelles Ferrugem
e seu sucessor Francisco Arno Vaz da
Cunha, da Urcamp. Realizamos as
contratações através de seleção pública,
monitorada pela Secretaria Estadual da
Saúde, com acompanhamento do
Conselho Municipal de Saúde.
Sob o comando do nosso eficiente
secretário da Saúde, Manif Curi Jorge, as
equipes do Saúde da Família passaram a
estabelecer uma nova relação com a
população. Uma relação baseada muito
mais na prevenção, na conscientização,
do que apenas no caráter curativo.
Graças ao programa, e a outras
práticas nas mais diversas áreas da
administração pública, que interagiam de
forma transversal para melhorarmos a
saúde da população, avançamos muito.
Um dos mais representativos indicadores
de saúde, o da mortalidade infantil,
dimensiona o que estou falando. Em
2001, a proporção de óbitos era de 24,7
Memórias de um tempo
para cada mil nascidos vivos. Em 2008,
este número reduziu mais de 50%, ficando
na casa do 11,8 óbitos para cada mil
nascidos vivos.
Grupos
Para alcançar resultados como estes,
além da contratação de centenas de
profissionais, lançamos ou nos integramos
a outros programas que tinham um olhar
diferenciado sobre a família.
Identificávamos e dávamos uma atenção
especial aos chamados grupos de risco.
Tínhamos ações que cuidavam da
gestante e do seu bebê praticamente
desde a concepção. Nos preocupávamos
com as adolescentes e juntos a elas
desenvolvíamos campanhas de
esclarecimento, especialmente sobre o
risco da gravidez na juventude. O serviço
de assistência social, baseado nas Casas
da Família, com assistentes sociais e
profissionais da psicologia, exerciam
importante papel nestas ações
preventivas.
Nos hospitais era possível visualizar
os resultados concretos. Recordo, por
exemplo, que o conjunto de políticas que
adotamos contribuiu decisivamente para
reduzir em mais de 50% as internações
pediátricas, o que provocou igual corte no
número de leitos destinados a este setor,
os quais foram disponibilizados às
internações de alta complexidade. Nunca
mais houve superlotação na pediatria do
hospital. Nossas ações na área da saúde
produziam seus resultados.
Memórias de um tempo
*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.
Satisfação
A cada dia me convenço mais do
acerto das medidas que tomamos.
Otimizamos receitas, buscamos novas
fontes de receitas ao incorporar novos
serviços e passamos a cobrar do SUS
alguns serviços que o município
executava, mas não informava e, por isso,
deixava de arrecadar. Respeitamos os
direitos trabalhistas e não causamos
nenhum prejuízo às entidades parcerias.
De outra parte, ajudamos preservar e
salvar vidas. Demos mais qualidade de
vida a milhares de pessoas.