MIL DOBRAS
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO.
DEPARTAMENTO DE ARTES E REPRESENTAÇAO GRAFICA
MIL DOBRAS
A Desterritorialização da Escrita
Um Mapeamento Acerca da Linguagem em Não Territórios
Núcleo de Pesquisa PIPOL
Projetos Integrados de Pesquisa On-Line
Josimar José Ferreira
Orientador: Olympio José Pinheiro
Co-orinetador: Dorival Campos Rossi
ARTES
2011
0
“Por que é tão difícil? É desde logo uma questão de semiótica perceptiva. Não é
fácil perceber as coisas pelo meio, e não de cima para baixo, da esquerda para a
direita ou inversamente: tentem e verão que tudo muda.”
Gilles Deleuze e Félix Guattari
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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a minha mãe pelo imenso esforço e apoio para que
este dia chegasse.
Ao professor Dorival, pela primeira aula sua que assisti, e me fez mudar a rota,
verter o trajeto diante da vida. Como Alice no Pais das Maravilhas não sei
direito que caminho direito é este, mas sinto que a rota tinha que ser vertida.
Ao professor Olympio pela liberdade que foi dada nesta pesquisa e pelas
grandes conversas dentro da universidade.
Agradeço ainda a todos os meus amigos, que sem eles meus dias não teria
sido possível. A todas as alegrias, festas e dias complicados divididos.
Agradeço a todos que fizeram parte da minha trajetória nesta conquista. A
todos que estiveram presentes comigo, mesmo separados pela distância.
Estes em especial!
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Sumário
Agradecimentos................................................................................................01
Resumo.............................................................................................................03
Abstract.............................................................................................................04
1- Introdução – O Desenho do Vazio................................................................05
2- A Arte da Escrita e seu Novo Desenho.........................................................07
3 - Acerca de Virtualidades...............................................................................12
4 - Dobras e Articulações na Linguagem..........................................................16
5 - Casacos de Arlequim...................................................................................18
6 - A Desterritorialização da Escrita..................................................................22
7 - Conclusão: Princípios, Mapas e Rizomas...................................................24
8 – Referencias.................................................................................................27
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Resumo
Inserido em dias contemporâneos, este trabalho busca um mapeamento acerca
dos percursos e rotas em que a escrita dobra e se enverada. Uma busca
teórica, sem chegar à programação propriamente dita. Apenas
questionamentos e levantamentos acerca do virtual, das novas linguagens. Um
projeto que busca traçar relações entre signos mestiçados, estruturas
incorpóreas e dobras imperceptíveis. E a grande desterritorialização em que
escrita esta alçando seus voos. Um questionamento filosófico ancorado no real
sobre o futuro da escrita e novo desenho que se toma forma.
Palavras-chave: Escrita. Desterritorialização. Novas Linguagens. Semiótica.
Filosofia.
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Abstract
Set in aur days, this work searches a mapping of paths and routes in which the
worting is bending and is envering. A theoretical search, without attermpting the
programming itself. Only questions and surveys about the virtual, the new
languages. A project that aims draiving conexions between crossbred signs,
intangible structures and imperceptible folds. And the great deterritorialization in
writing is lifting its flights. A philosophical inquiry anchored in the real about the
future of writing and the new design that takes shape.
Keywords: Writing. Deterritorializaton. New languages. Semiotics. Phiosophy.
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1 - Introdução: O Desenho do Vazio
“Achar o contemporâneo, coisa tão difícil.”
Michel Serres
O contemporâneo é um grande desenho do vazio. Um desenho de formas
imperceptíveis. Com dobras e articulações invisíveis, incorpóreas. As coisas se
dão através das relações. E as não coisas (o imaterial) só são possíveis por
relações e conexões. Toda manifestação existencial, artística, poética ou
criativa, da mais simples a mais complexa se faz por relações. Devemos saber
encontrar a junção da solda na atualidade.
Tentamos buscar neste trabalho um breve mapeamento acerca da
desterritorialização e dobra em que a escrita esta passando. Qual é o novo
desenho que ela esta formando no mundo virtual e contemporâneo. Num livro,
como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou de segmentaridade,
estrato, territorialidades, mas também linhas de fuga, movimentos de
desterritorialização
Não é o vazio sem forma. É o vazio criador, o vazio onde abre espaço para
novas relações e acontecimentos. O entrelaçamento por onde possamos
navegar. A proposta deste trabalho é apenas esboçar um mapa, ou talvez um
dentre tantos os que já existem. Buscamos como Beiguelman propõe um
processo de investigação, trabalho de um processo de leituras de diversos
autores.
Esta pesquisa segue a proposta do PIPOL, não se trabalha mais projeto,
processo e produto separados. Eles são entrelaçados. Esta pesquisa busca
relações entre a nova ordem da escrita e as linguagens em que estamos nos
inserindo.
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O rizoma, modelo contemporâneo, procede por variação, expansão,
conquista, captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia,
oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido,
construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com
múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga.
Ele não é feito de unidades, mas de dimensões, ou antes, de direções
movediças. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele
cresce e transborda. Ele constitui multiplicidades lineares a n dimensões, sem
sujeito nem objeto, exibíveis num plano de consistência e do qual o Uno é
sempre subtraído (n-1).
Estive ciente de que nos projetos e pesquisas contemporâneas busca-se o
“como” das e não mais o “o que” das coisas. É uma busca de um novo
desenho para a escrita.
Fica claro que permaneci num campo projetual sem chegar à aplicação e
programação propriamente dita. Procurei traçar linhas virtuais de variações
infinitas, trabalhar com a heterogeneidade e mapear as diferenças na
linguagem.
Trabalhei o processo como investigação. Obras que são estudos longos,
subprodutos de reflexões sobre questões como o nomadismo contemporâneo,
a mobilidade, a construção da paisagem e do território ou não território.
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2 - A Arte da Escrita e seu Novo Desenho
„Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que
sejam regiões ainda por vir. ‟
Gilles Deleuze e Félix Guattari
O paradigma foi alterado. Existem dois modelos de projetar, um projeta
representações e o outro produz modelos. A escrita nesta passagem do milênio
e com as inovações tecnológicas esta sendo desterritorializada do seu suporte
físico e estático. Esta passando por uma grande dobra.
Desde suas origens mesopotâmicas, o texto é um objeto virtual, abstrato,
independente de um suporte físico. Atualizam-se em múltiplas versões,
traduções, edições, exemplares e copias. Em primeiro lugar, o texto é
esburacado, riscado, semeado de brancos. Ao lermos um texto rasgamos,
amarrotamos. Dobramo-lo sobre si mesmo. Relacionamos uma a outra
passagem que se correspondem.
Este ato de rasgar, de amarrotar, de torcer, de recostar o texto é necessário.
O artista, o grande nômade resolveu desertar a linguagem dos códigos, dos
territórios e romper c a estrutura, a arte nos dias contemporâneos alcança uns
de seus devires improváveis. A linguagem esta passando por fluxos e graus de
desterritorialização
Deleuze e Guattari dizem que um livro não tem objeto nem sujeito; é feito de
matérias diferentemente formadas, de datas e velocidades muito diferentes.
Num livro, como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou
segmentaridade, estratos, territorialidades, mas também linhas de fuga,
movimentos de desterritorialização e desestratificação.
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Essas linhas mensuráveis constitui um agenciamento, uma multiplicidade.
Um livro é uma espécie de organismo, ou uma totalidade significante. Mas não
devemos esquecer-nos de perguntar: qual é o corpo sem órgãos de um livro?
“Não há diferença entre aquilo de que um livro fala e a maneira
como é feito. Um livro tampouco tem objeto. Considerado como
agenciamento, ele está somente em conexão com outros
agenciamentos, em relação com outros corpos sem órgãos.
Não se perguntará nunca mais o que um livro quer dizer,
significado ou significante, não se buscará nada compreender
num livro, perguntar-se-á com o que ele funciona em conexão
com o que ele faz ou não passar intensidades, em que
multiplicidades ele se introduz e metamorfoseia a sua, com que
corpos sem órgãos ele faz convergir o seu. Um livro existe
apenas pelo fora e no fora.” (DELEUZE e GUATTARI, 1991 –
12)
A única questão, quando se escreve, é saber com que outra maquina a
máquina literária pode estar ligada, e deve estar ligada, para funcionar.
Partindo destes princípios imergimos nos processos criativos da escrita
contemporânea. Uma escrita um pouco não linear, com estruturas
caleidoscópicas, dinâmicas, fragmentadas e moveis. O novo escritor começa a
brincar com uma projeção imperceptível.
Estamos inaugurando o século das „não coisas‟. Cada vez mais lidamos com
o imaterial O novo homem não quer ter ou fazer, quer vivenciar, experimentar.
Não se trata mais de ações, mais sim de sensações. As informações imateriais
são tão inapreensíveis, são apenas decodificáveis (FLÚSSER, 2007 – 58).
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O grande debate agora é sobre as ideias atuais que pensam sobre o
universo das redes digitais, mobilidades na rede. Uma preocupação da escrita
em movimento, e de futuro e caminho em que esta se enveredando.
Explora novas criações rizomáticas e hibridas, com estruturas
caleidoscópicas, dimensões movediças, velocidades diferentes e não lineares
que estão emergindo nos novos meios. Que partem de estruturas simples e
vão se tornando cada vez mais complexas.
“O ideal de um livro seria expor toda coisa sobre um tal plano
de exterioridade, sobre uma única pagina, sobre uma mesma
paragem: acontecimentos vividos, determinações históricas,
conceitos pensados, indivíduos, grupos e formações sociais [...]
um encadeamento quebradiço de afetos com velocidades
variáveis, precipitações e transformações, sempre em
correlação com o fora.” (DELEUZE e GUATTARI, 2005 – 12)
A escrita, desde suas origens, foi sempre desenvolvida sobre um suporte
estático, tanto as ideografias quanto os alfabetos são providos de signos fixos e
lineares (LEVY, 1991). Hoje a escrita e todas as linguagens estão cada vez
mais imersas em meios líquidos, fluidos, híbridos e conectáveis. Alguns
escritores bifurcam e não param de bifurcar, são gêneros híbridos e
contemporâneos investigando os novos processos de criações.
No mundo contemporâneo e codificado, segundo Flússer, o novo homem
não lida mais com ações e sim com sensações. Não quer ter ou fazer algo,
quer vivenciar, experimentar.
A obra de arte é um ser de sensação, e nada mais: ela existe em si.
Segundo Deleuze e Guattari, pintamos, esculpimos, compomos, escrevemos
com sensações. Devemos criar seres de sensação que se compõe com o
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vazio. Um devir imperceptível, com dobras invisíveis. A escrita é inseparável do
devir. Deleuze ainda diz que escrever nada tem a ver com significar, mas com
agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir.
A arte é a linguagem das sensações, que faz entrar nas palavras, nas cores,
nos sons ou nas pedras. O escritor se serve de palavras, mas criando uma
sintaxe que as introduz na sensação, que faz gaguejar a língua corrente, ou
tremer, ou gritar, ou mesmo cantar [...] O escritor torce a linguagem. (Deleuze,
2005 - 45)
Pierre Lévy propõe que comecemos a projetar uma linguagem visual
autônoma, uma ideografia com movimento e dinamismo. Devemos aprender
logo a construir mapas e modelos mentais. Janet Murray propõe narrativas
interativas, com estruturas caleidoscópicas, movediças, feitas por escritores,
artistas e designers experimentais. Um novo casamento será feito na virada
desse século, entre o artista e o programador.
O texto (discurso elaborado ou propósito deliberado) esta se virtualizando
em mensagem complexas e sensíveis: ideogramas, mapas, simulações,
imagens animadas, mensagens iconográficas ou fílmicas. O meio segundo
Flússer e Cortazar o meio não é mais a mensagem, o meio agora é fluido e
liquido. E o texto será trabalhado de outra forma. O virtual é este meio liquido e
fluido.
A palavra não serve para designar o mundo. O pensamento se da por
imagens, afirma Lévy e Flússer. Daí o ideograma ser uma espécie de
escrita/imagem. O ocidente se apropria de uma forma enquanto que o oriente
de outra. Enquanto um é analógico, o outro digital. Os adventos das chamadas
Novas Tecnologias permitem o acesso a outras escritas e formas de
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pensamento. Pierre Lévy propõe a escrita por Ideografias Dinâmicas e Modelos
Mentais, por esses estarem mais próximos da forma de pensamento.
Flússer aborda que lidamos com „realidades‟, a língua é realidade, forma
realidade, cria realidade e propaga realidade. Um mundo caótico se torna
organizado, é transformado de caos em cosmo por meio da linguagem. A
linguagem organiza e estrutura o mundo. Afirma também que não há mais
tanto limites entre realidade e ficção, tudo se tornou ficção.
Deleuze e Guattari propõem que devemos traçar linhas de fuga nessa
realidade e criar realidades (a) paralelas que possam coexistir com essa. O
homem contemporâneo esta começando a projetar historias e narrativas mais
ficcionais, rizomáticas, labirínticas, sem a clássica estrutura de começo, meio e
fim. Se encontram sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo...
Vemos isso em boa parte do cinema mais alternativo, em uma literatura que
esta emergindo, e nas novas narrativas interativas. Trabalhar com a escrita a
partir de agora é saber lidar com a desterritorialização, potencialização e
virtualização da linguagem.
Estamos passando por uma mudança, talvez mais profunda que o
surgimento da imprensa de Gutemberg final do sec. XV. Os avanços das
tecnologias e seus meios é uma grande transformação em que estamos
inseridos e não temos como zarpar desse barco, temos que aprender a nadar,
flutuar e navegar. Temos que aprender a reescrever com os novos códigos.
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3 - Acerca de Virtualidades
“Mas o que é, exatamente, esse virtual, do qual tanto se fala? Trata-se claramente
de uma revolução. Uma alteração radical na forma de conceber o tempo, o espaço, e
mesmo os relacionamentos.”
Pierre Lévy
O processo de virtualização é o movimento pelo qual o homem se constitui e
continua a criar. No meio do caos, Noé construiu um pequeno mundo bem
organizado. Face ao desencadeamento dos dados, protegeu uma seleção. O
segundo diluvio não terá fim. Não há nenhum fundo sólido sob o oceano das
informações. Devemos aceita-lo como nossa nova condição, diz Lévy. Temos
que ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a navegar.
A arca do primeiro diluvio era única, estanque, fechada, totalizante. As
arcas do segundo diluvio dançam entre si. Trocam sinais. Fecundam-se
mutuamente. Abrigam pequenas totalidades, mas sem nenhuma pretensão ao
universal. Apenas o dilúvio é universal. Mas ele é intotalizável.
Fluida, virtual, ao mesmo tempo reunida e dispersa, essa biblioteca de
Babel não pode ser queimada. As aguas deste novo diluvio não apagarão os
signos gravados, são inundações de signos. Sua principal operação é a de
conectar no espaço, de construir e de estender os rizomas do sentido.
A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de
virtus, força, potência. É virtual o que existe em potência e não em ato. O
virtual tende a atualizar-se. “Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não
se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são duas maneiras de
ser diferentes” (LÉVY, 1996 – 15).
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Gilles Deleuze introduz a distinção entre possível e virtual. O possível
segundo o autor já esta todo constituído, mas permanece no limbo. O possível
é exatamente como o real: só lhe falta existência. A realização do possível não
é uma criação.
Já o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao
possível, estático e já constituído, o virtual é como um complexo problemático,
o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um
acontecimento, um objeto e que chama um processo de resolução: a
atualização.
Lévy exemplifica dizendo que a arvore esta presente na semente. O
problema da semente, por exemplo, é fazer brotar a arvore, ela “conhece”
exatamente a forma da árvore que expandirá finalmente sua folhagem acima
dela. Mesmo assim ela irá inventar, coproduzir o melhor arranjo desta arvore.
Um ditado chinês diz que uma figueira não poderá dar pêssegos. Na semente
esta contida todas as informações necessárias para esta atualização.
A atualização é criação, invenção de uma forma a partir de uma
configuração dinâmica de forças e de finalidades. É um verdadeiro devir. O
virtual se atualiza de maneiras diversas mais ou menos inventivas. “O real
assemelha-se ao possível; em troca, o atual nada se assemelha ao virtual:
responde-lhe.” (LÈVY, 1996 – 17) A atualização ia de um problema a uma
solução. A virtualização passa de uma solução dada a um (outro) problema.
Passa a ser colocada a ênfase ontológica. A virtualização fluidifica as
distinções instituídas, aumenta os graus de liberdade, cria um vazio motor. É
um dos principais vetores da criação de realidade.
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Como vimos o virtual não é uma ausência de existência e de realidade,
mas ele lida com a desterritorialização, muitas vezes o virtual “não esta
presente”. Uma comunidade virtual organiza-se sobre uma base de afinidade,
seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos
mesmos problemas, a geografia não é mais nenhum ponto de partida. Apesar
de “não presente”, esta comunidade esta repleta de paixões e de projetos, de
conflitos e de amizades. A virtualização reinventa a cultura nômade, fazendo
surgir um novo meio de interações sociais onde as relações se reconfiguram.
O virtual lida com novos espaços, novas velocidades e novos territórios. O
malabarista segundo André Lemos lida com territórios. É aquele que encontra
lugar para três coisas em um espaço para duas. Ele faz do tempo um espaço.
Ele tem que introduzir o tempo no seu território.
O espaço é produzido pela troca de lugar das coisas, sendo uma das
dimensões a do tempo, que o cria. O espaço é o que se produz das relações
entre as coisas e os seus respectivos lugares. Não é aquilo que contém as
coisas. O espaço é movimento e não o estático reservatório. O espaço é uma
rede, dinâmica, sempre se fazendo, produzido por relações no tempo e no
movimento.
A ação do malabarista parece para André Lemos uma ilustração bem
interessante das conexões e relações dos objetos no espaço e pode nos ajudar
a pensar as conexões de não-objetos em espaços virtuais. Na ação do
malabarismo, o espaço é criado pela troca de lugar dos objetos no tempo na
movimentação dos objetos passando de um lugar a outro. Por isso o
malabarista é um produtor de territorialidades, por controlar os lugares, o tempo
e o movimento na produção desse espaço. Território é controle da
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espacialização. O espaço é esse emaranhado de ligações invisíveis, de redes
que desaparecem nos movimentos dos fios pouco perceptíveis que se fazem e
se desfazem nos movimentos das coisas no ar. Ele não é o que contém. Ele é
o que é gerado. O espaço se faz e se desfaz a cada movimento, na troca dos
objetos de lugares no tempo.
Ainda segundo André Lemos, o espaço do ciberespaço é esse espaçamento
produzido pelos lugares, coisas, pessoas e objetos conectados ao redor do
planeta. Por isso está sempre em construção, sempre em expansão. A internet
das coisas vai produzindo espacialização na relação dos lugares e nas
movimentações pelas conexões de tudo e todos. Se a internet pudesse ser
representada por um personagem, talvez ela pudesse ser vista como um
malabarista de dados, jogando de um lado para o outro avatares, dados,
máquinas, em um espaço de controle que se faz e se desfaz nesse movimento
no tempo (real). É nesse malabarismo que se faz a cada momento, o
“ciberespaço”.
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4 - Dobras e Articulações na Linguagem
“Se você quer pegar um peixinho, pode ficar em aguas rasas. Mas se quer um peixe
grande, terá que entrar em aguas profundas.”
David Lynch
A linguagem alça voos inimagináveis em um mundo virtual, sensível de um
grande oceano em que navegamos: o da arte, do design, da ficção, do universo
mental humano em meio ao caos e ordem em que vivemos. A arte age sobre
outros universos e realidades com o auxilio de signos, por meio de linguagens.
Nessa pesquisa atualizamos a linguagem em escrita, a linguagem é a maneira
que as coisas se organizam.
As linguagens, assim como século XXI estão passando por uma dobra.
Resta-nos perguntar quanto ao seu futuro. O homem hoje trabalha com
linguagens cada vez mais hibridas. Signos mestiçados. Em um meio fluido,
liquido todo conectável e reversível.
Esta pesquisa traça um panorama de como as linguagens estão se
dobrando e se transformando, neste século. Elas se dobram se transformam,
se relacionam cada vez mais umas com as outras.
Os estudos de Semiótica, Lógica das Linguagens ou Teoria Geral dos
Signos induzem à construção e observação da clareza de ideias. A Semiótica
se corporifica no ato do pensar. Semiótica nos propõe que o mais alto grau
esta contido nas linguagens. A linguagem é um mapa e não um decalque. O
conteúdo não é um significado nem a expressão um significante, mas ambas
são as variáveis do agenciamento.
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O regime significante do signo (o signo significante) possui uma fórmula
geral simples: o signo remete ao signo, e remete tão somente ao signo,
infinitamente. O ilimitado da significância substituiu o signo.
“Não nos ocupamos especialmente dos índices, isto é, dos
estados de coisas territoriais que constituem o designável. Não
nos ocupamos especialmente dos ícones, isto é, das
operações de reterritorialização que constituem, por sua vez, o
significável. O signo já alcançou, então, um alto grau de
desterritorialização relativa, no qual é considerado como
símbolo em uma remissão constante do signo ao signo. O
significante é o signo redundante com o signo. Os signos
emitem signos uns para os outros. Não se trata ainda de saber
o que tal signo significa, mas a que outros signos remetem, que
outros signos a ele se acrescentam, para formar uma rede sem
começo nem fim que projeta sua sombra sobre um continuum
amorfo atmosférico.” (DELEUZE e GUATTARI, 2005)
Para Charles Pierce um Signo é tudo aquilo que esta relacionado com uma
segunda coisa, seu objeto de modo a trazer uma terceira coisa, seu
interpretante de uma forma ad infinitum. Signo é o processo mental das
operações de substituição e de relação. Designamos a esse processo de
semiose. Tudo no mundo são semioses.
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5- Casacos de Arlequim
“Tu te vestes como o roteiro de tuas viagens?”
Michel Serres
Mil Dobras é uma busca que remete aos casacos e costuras de arlequim.
Todo zebrado, tigrado, matizado, mouriscado, recamado, multicolorido,
rasgado, de cordões atados, de fitas cruzadas. Composição descombinada,
feita de pedaços, de trapos de todos os tamanhos, mil formas e cores variadas,
de idades diversas, de proveniências diferentes, mal alinhavados, justapostos
sem harmonia, sem nenhuma atenção as combinações, remendados segundo
as circunstâncias, à medida das necessidades, dos acidentes e das
contingências. Que mostras uma espécie de mapa-múndi, o mapa das viagens
do artista. (SERRES, 1993 – 02)
Perguntamos aqui, qual o futuro da escrita? Para onde ela caminha e como
caminha ou se desliza sem percebermos? E o que há de especifico no ato de
escrever, para que o homem tenha escolhido este código e não outro? E agora
que a comunicação esta se dando mais por imagens, o que acontecera com a
escrita?
Estamos imergindo em um mundo de códigos digitais e não podemos mais
continuar a viver como antigamente. Estamos entrando numa consciência pós-
histórica, pós-fonética e pós-escrita. Uma nova forma de escrita surge, e a
linguagem se organiza de outra maneira.
Devemos aprender a mapear e a projetar. Traçar linhas de fugas. Projetar,
sempre N-1. Subtrair o único da multiplicidade a ser constituída. Escrever a n-
1. De forma rizomática. Para passarmos e não nos perdermos na dobra em
que estamos vivendo.
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Mapeamos e abordamos questões relacionadas com as novas linguagens e
seus processos nos meios atuais. As criações contemporâneas se dão de outra
forma, estão cada vez mais mestiçadas, hibridizadas, adamascadas. Tanto
quanto se remete à escrita, as artes plásticas, ao design, a performance e a
todo e qualquer tipo de criação artística. Toda criação contemporânea terá que
aprender a lidar com camadas. Os novos desenhos e novas escritas serão
feitos de camadas sobrepostas. Camadas sutis e transparentes.
Uma grande criação contemporânea que lida com estes conceitos é o
grande Cirque du Soleil. O Cirque du Soliel redesenha o conceito de circo.
Enquanto o circo convencional é estático, dividido e focado somente em uma
tração por vez, o Soleil é dinâmico. O Soleil lida com uma grande plástica
virtual. O Soleil lida com signos. Signos mestiçados. Varias atrações ocorrem
ao mesmo tempo, permitindo ao espectador escolher seu foco. No seu
processo criativo, um ato puxa o outro, em nenhum momento eles deixam o
palco sem um desenho. É uma grande criação feita de camadas.
O Soleil ainda lida com precisão, beleza e magia. Coletividade é algo que
está óbvio no Soleil. Todos ali têm seu papel, todos trabalham juntos para fazer
do espetáculo o que ele é. Todos dependem de um, e um só depende de
todos. A coletividade vai além do “trabalhar junto”. Todos ali se ajudam e,
principalmente, confia um no outro. No design e na arte, isso se repete. Você
não consegue fazer algo completamente sozinho, cada um complementa para
resultar num bom trabalho.
Desta forma se dão os novos trabalhos e os novos projetos no século XXI.
O Soleil ainda brinca com o conceito de camadas, sabem unir duas coisas que
nunca haviam sido juntadas, pensar o impensável, sabem trabalhar com a
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heterogeneidade e as com coisas diferentes. Depois de observar o Soleil,
podemos entender melhor o que é ser artista, designer ou escritor no século
nos dias contemporâneos. Entendemos o que é estar trabalhando com novas
linguagens e com „N‟ dimensões.
O Soleil é um grande design de camadas, de relações, de sensações.
Estão realmente vivendo, reinventando, redesenhando, recriando as noções de
signo no contemporâneo. Os seus artistas transmitem sem medo, com graça e
ousadia o que é criar. Devemos nos inspirar neles para as novas criações.
Como um grande projeto artístico feito de camadas, se costura como os
casacos de arlequim. São estas costuras que buscamos nos processos
criativos atuais. O limite da solda.. Descobrimos que tudo esta interligado. Tudo
esta dobrado.
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6 - A Desterritorialização da Escrita
“Devir imperceptível quer dizer muitas coisas [...]
Desterritorializa-mos num devir.”
Gilles Deleuze e Félix Guattari
O meio não é mais necessariamente a mensagem diz Flússer. O meio é
fluido, liquido e efêmero. A desterritorialização da escrita lida com não
territórios, não lugares. Cortazar em certa altura do seu livro o Jogo da
Amarelinha diz que o mensageiro é a mensagem. A escrita desta forma é todo
um devir.
Os processos de desterritorialização e retteritorialização são relativas, estão
em perpetua ramificação, presos uns aos outros. Há ruptura no rizoma cada
vez que linhas se segmentares explodem numa linha de fuga, mas a linha de
fuga faz parte do rizoma. Estas linhas não param de se remeter umas às
outras. Eis modelos de escrita nômade e rizomática.
A escrita esposa uma máquina de guerra e linhas de fuga, abandona os
estratos, as segmentaridades, a sedentaridade, o aparelho de Estado. Mas por
que é ainda necessário um modelo?
“Escrever a n, n-1, escrever por intermédio de slogans: faça
rizoma e não raiz, nunca plante! Não semeie, pique! Não seja
nem uno nem múltiplo, seja multiplicidades! Faça a linha e
nunca o ponto! A velocidade transforma o ponto em linha! Seja
rápido, mesmo parado! Linha de chance, jogo de cintura, linha
de fuga. Nunca suscite um General em você! Nunca ideias
justas, justo uma ideia. Tenha ideias curtas. Faça mapas,
nunca fotos nem desenhos.” (DELEUZE e GUATTARI, 2001 –
36)
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O texto contemporâneo é feito alimentando correspondências on-line,
correndo em redes, fluido, desterritorializado, mergulhado no meio oceânico do
ciberespaço, esse texto dinâmico reconstitui, mas de outro modo numa escala
infinitamente superior, a co-presença da mensagem e de seu contexto vivo que
caracteriza a comunicação oral
Lévy discorre que a escrita acelerou um processo de artificializaçao, de
exteriorização e de virtualização da memoria. Virtualização e não simples
prolongamento
A comunicação humana para Flússer é um processo artificial. Baseia-se em
artifícios, descobertas, ferramentas e instrumentos. Símbolos organizados em
códigos. A cultura é todo um processo artificial de esconder a natureza. E
estamos cada vez inovando nossas formas de criar. Nesta virada criamos e
demos força ao hipertexto.
Define-se um hipertexto como um conjunto de nós ligados por conexões.
Cada nó conteria uma gama de informação que remeteria a outros textos e a
outros nós repletos de mais textos. Por textos entendem-se não só palavras,
como imagens, sons, gráficos, documentos. Par Lévy o hipertexto é um
programa que tem como pressuposto primordial a organização de dados ou
conhecimento. O hipertexto tem em si uma estrutura multimídia que lhe confere
um aspecto dinâmico: uma rede de interfaces multidimensional que vai além da
escrita estática e linear.
Hoje em dia, há códigos que transmitem melhor a informação que os sinais
gráficos. A questão levantada no final desta pesquisa é a seguinte: o que há de
especifico no escrever? De que maneira ele se distingue de outros gestos
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semelhantes, do passado, e do futuro – do pintar ideogramas chineses, do
digitar, do cinzelar o mármore com letras latinas. Estamos no meio dos jardins
que se bifurcam de Borges.
Para Flússer estamos aproximando cada vez mais os códigos lineares da
escrita com os não lineares. Se observarmos ao nosso redor, o mundo
codificado nos cerca. Estamos transcodificando o mundo que nos cerca.
Deveremos reaprender a escrever, virtualizar nossos textos, transcodificar
estes em códigos não lineares. Reinventar e redesenhar a forma que nos foi
ensinada. Devemos nos reeducar para desenhar o mundo e suas novas
criações.
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7- Conclusão: Princípios, Mapas e Rizomas.
“Não se propõe a representar, interpretar, nem simbolizar, mas apenas a fazer mapas
e traçar linhas, marcando suas misturas e distinções”
Gilles Deleuze e Félix Guattari
Para o novo modo de se fazer – mantém-se em mente que não se define
“fazer o que”, temos apenas um processo movido por princípios, não
finalidades -, ficam aqui expostos os seis princípios debatidos por Deleuze e
Guattari sobre as criações contemporâneas.
1 e 2 - Principio de Conexão e heterogeneidade. Não há ponto fixo, e sim
infinitas conexões de todos gêneros. Qualquer ponto de um rizoma pode ser
conectado a qualquer outro e deve sê-lo
3 - Principio de Multiplicidade. não havendo mais sujeito ou objeto, tem
somente determinações, grandezas, dimensões qual não podem crescer sem
que mudem de natureza. Não existem pontos ou posições num rizoma.
Existem somente linhas.
4 - Princípio da ruptura a-significante. qualquer linha segmentar de qualquer
rizoma pode ser rompida, reconstruir-se com facilidade em algo totalmente
diferente ou explodir enquanto linha de fuga.
5 e 6 - Princípio da cartografia e da decalcomania. por não serem regidos por
leis, os rizomas não se comparam a decalques – reprodutíveis infinitamente -, e
sim a mapas – experimentações ancoradas no real, construção de conexões
que não tendem a um fim – ao mapa adicionam-se informações
constantemente.
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Nos projetos contemporâneos trabalhamos com princípios, não com regras.
Entendemos também a necessidade de coletivização presente nos processos
criativos contemporâneos, e com isso, a necessidade de experimentação, para
que consigamos imergir realmente neste mundo em que vivemos.
Trabalhos contemporâneos busca a mesma sutileza e fugacidade
conseguidas na criação de T.A.Z – Zonas Autônomas Temporárias. Através de
linhas de fuga, será possível intervir no que entendemos enquanto realidade a
fim de criar um projeto do invisível, cuja finalidade não existe – existe apenas
projeto e processo.
A maneira como „focamos‟, ou a forma como lemos o mundo, nos permite
enxergar aproximações de grau. Deleuze diz que esta forma de se posicionar é
o que confere uma vaga certeza dos contornos dos mapas. Ao mudarmos o
foco, ao vertermos a rota, compreendemos outras formas de ver a mesma
coisa. Deleuze ainda diz que o melhor mapa seria um sem contornos.
“O crocodilo não reproduz um tronco de árvore assim como o
camaleão não reproduz as cores de sua vizinhança. A Pantera
Cor-de-rosa nada imita, nada reproduz; ela pinta o mundo com
sua cor, rosa sobre rosa, é o seu devir-mundo, de forma a
tornar-se ela mesma imperceptível, ela mesma a-significante,
fazendo sua ruptura, sua linha de fuga, levando até o fim sua
"evolução a-paralela". (DELEUZE e GUATTARI, 2001 -20)
Sobrepor um mapa sobre outro. Assim como arlequim se veste com vários
casacos, sem saber qual o lugar da junção, a costura e a solda do manto. Para
Deleuze as coisas como já dizemos estão dobradas umas sobre as outras,
formando a realidade.
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Dobra se entende como o menor elemento da matéria. Dobrar e desdobrar,
não se opõe, é apenas maneiras diferentes de ser da mesma coisa. Trata-se
de tender-distender, contrair-dilatar, comprimir-explodir. Ainda citando Deleuze
e Guattari, um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no
meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. Um projeto rizomático é um tecido
de conjunção.
E desta forma que a escrita se vê interligada, se dobrando se desdobrando.
Procurando uma nova forma de emergir na atualidade. E apostamos que ela
conseguirá. Sempre conseguiu. Um novo tipo de escritor atrelado a um novo
tipo de artista surgirá. Ambos aptos e empenhados para esculpir o virtual.
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