MULHERES
BORDADEIRAS
By Aparecida Torneros
Gosto de olhar a pintura de Pedro Bruno, no salão
ministerial do Museu da República, no
palácio do Catete, no Rio de janeiro,
quando ali estão, diante de mim, as
figuras de mulheres bordadeiras,
impregnando de estrelas uma enorme bandeira brasileira, espalhada pela sala,
com crianças ao redor, em gesto de
tecelagem medieval.
Bordadeiras. As que tecem arabescos, estrelas, flores,
matizes de sonho nas bainhas e nas toalhas, pequenos
desvelos a suscitarem
carinhosa medida de aprovação pelo
cotidiano.
Penso que os dotes são terapias.
Pequenos prazeres lúdicos a oferecer a
calmaria da divagação e a
recompensa da criação colorida.
Lembro da avozinha a cerzir os rasgos das meias dos meninos,
apoiando-se num ovo de madeira para os
costurar. Imito minha mãe que cria as mais
lindas peças de crochet, nas tardes
esquecidas no jardim da casa silenciosa.
Nós, mulheres, compramos linhas, agulhas, estojos, alfinetes, estojos que eternizam a
feminilidade para quando nos sobrar
mais tempo e pudermos bordar a inicial dos grandes amores em lençóis
de linho azul. Bordar em crivo. Coisa fina.
Gesto paciente. Ponto Paris. É
preciso relembrar como se borda esse pontinho lindo para
as bainhas que brotam de dedos e não de máquinas.
Vamos estocando apetrechos das
vovós antigas, que , certamente, nos dão
a dimensão necessária do quanto
é salutar pregar flores e estrelas em
algum tecido opaco e dar-lhe luminosidade
e alegria.
Sabemos que é
preciso juntar os retalhos, tecer
colchas aconchegantes, para
nossos homens, filhos, amigos e
amigas.
Um dia, lembraremos com saudade do ponto de cruz,
vagonite, pintura em seda ou
algodão, porque esses já não se
aprende em escola, quando se
formavam as prendas do lar.
Corte e costura foram substituídos por
dança e malhação? Hoje, as mulheres têm que aprender a teclar,
cozinhar no micro ondas, correr para a batalha, sonhar com
um tempo livre que parece não chegar
nunca. Temos que fazer brilhar estrelas
no amanhã dos nossos filhos brasileiros,
enfrentando a adversidade, mas não
dando pontos sem nós. Questão de
independência feminina porque já
somos maioria estatística como
chefes de família.
Bordados, crochets, tricôs, para onde marcharam seus
caminhos e centros de mesas? Nas camas
e nas mesas, certamente, lá estão vocês. No universo
da casa decorada, na delicadeza da mesa posta ou na cama
cheirosa e arrumada.
Que ressuscitem os veludos e os cetins,
nos enxovais das listas de presentes, nos chás de panelas,
nas alcoviteiras meninas que buscam
enfeitar um canto qualquer das suas
moradas interiores.
Um ninho de charme e decoração,mistura
de objetos com linhas modernas ao
artesanato das formas concebidas pelas mulheres do
quadro, que bordam estrelas na bandeira
da sua independência, que
aprendemos a empunhar, de um
século pra cá.
Mulher moderna é aquela que retoma o fio da meada e diz
pra si mesma: - Casa e descasa, mas não
perde a cor da paixão pela vida, porque, com um
retalhinho de nada, você faz um "fuxico", vai juntando, costura
tudo, apronta a manta, enrola na
alma, e, finalmente, corre pra abraçar o mundo e libertar o
Brasil!
CRÉDITOS
Autor do Slide: Prado Slide
E-mail: [email protected]
Texto: Aparecida Torneros Jornalista e prof. Universitária
Rio de Janeiro
Imagens: Internet
Música: Richard Clayderman
As Rosas não falam