IMPORTÂNCIA DA
NANOTECNOLOGIA NO
DESENVOLVIMENTO DE
MEDICAMENTO
Conceito de Nanotecnologia
A nanotecnologia compreende um novo paradigma na ciência, em que
as dimensões e as propriedades dos materiais são tratadas na escala
nanométrica. Tais materiais passam a apresentar novos comportamentos ou
propriedades diferentes daquelas observadas em escala macroscópica.
O prefixo “nano” vem do grego “anão” e é utilizado para designar um
parte em um bilhão, ou seja, um nanômetro (1 nm ou 10−9 -m) e corresponde a
um bilionésimo de um metro. Para se ter uma idéia desse tamanho, 1 nm
corresponde a cerca de 10 átomos enfileirados ou ao diâmetro de um nanotubo
de carbono. Uma molécula de DNA tem uma dimensão de cerca de 100 nm,
um pouco menor que um vírus, por exemplo. Fazendo uma comparação mais
simples, pode-se verificar que o diâmetro de um fio de cabelo é 0,1 mm ou
cerca de 100.000 nanômetros.
Analisando em termos tecnológicos, uma primeira motivação para o
desenvolvimento dessa tecnologia está associada ao fato de que um número
cada vez maior de possibilidades venha a ser reunido em sistemas de
dimensões muito pequenas, aumentando assim sua compactação, capacidade
de operação e eficiência. No entanto, mais que a procura pelo simples
benefício direto da redução de tamanho, a grande motivação para o
desenvolvimento de objetos e dispositivos nanométricos reside no fato de que
novas propriedades físicas e químicas, antes ausentes no material
macroscópico, são observadas.
Na verdade, a alteração das propriedades de um material ao atingir a
escala nanométrica se deve à combinação de dois fatores: de um lado os
efeitos quânticos, oriundos das dimensões nanométricas, e de outro os efeitos
superficiais, ocasionados pelo aumento na razão entre a área e o volume. Com
isso, a nanotecnologia busca um melhor aproveitamento das novas
propriedades desses nanomateriais que são obtidas por meio do controle de
propriedades, tamanho e formas adequadas.
Toda essa revolução nas propriedades intrínsecas dos novos materiais
abre um grande mercado a ser explorado em nanotecnologia. Praticamente
todos os segmentos industriais de grande porte podem se beneficiar e
aproveitar dessas vantagens competitivas em seus produtos, podendo-se
destacar as indústrias de polímeros, têxteis, resinas, semicondutores,
dispositivos eletrônicos, sensores de precisão, energia, produtos químicos,
alimentos, cosméticos e fármacos. O potencial desta nova tecnologia criou um
clima de competição científica e tecnológica, movendo recursos humanos e
financeiros na indústria mundial. Estima-se que a produção industrial anual
excederá a um trilhão de dólares entre 2010 e 2015 e que cerca de 15% dos
produtos vendidos apresentarão algum componente que envolva
nanotecnologia, requerendo aproximadamente dois milhões de profissionais
especializados.
A Utilização de Nanotecnologia em Medicamentos
A nanotecnologia tem invadido o mundo da biomedicina na última
década, com os cientistas cada vez mais usando nanopartículas como veículos
potenciais para entregar drogas aos tecidos específicos.
O grande problema encontrado é a produção ou compreensão como
reproduzir-las fora do ambiente de pesquisa dos laboratórios. Este assunto foi
discutido em Londres, no I Workshop Internacional de nanotecnologia em
medicamentos realizada pela European Medicines Agency (EMA), agência
responsável pelo controle de medicamentos na Europa, o equivalente a FDA
americana.
Segundo Simon Holland, diretor da empresa farmacêutica Glaxo Smith
Kline entender como se apresenta esta partícula quando as características
básicas como tamanho, forma e superfície são um dos maiores desafios para a
área.
Indústria Farmacêutica e Oportunidades
Uma das indústrias que mais pode se beneficiar com o advento da
nanotecnologia é, indubitavelmente, a indústria farmacêutica. O faturamento do
setor farmacêutico, em 2007, foi de aproximadamente 15 bilhões de dólares e,
para manutenção desse valor e aumento das receitas, o setor investe altos
montantes em pesquisa e desenvolvimento.
Atualmente, o gasto com o desenvolvimento de um novo fármaco é de
cerca de meio bilhão de dólares e o tempo empregado para tal
desenvolvimento é de dez a 20 anos. Além disso, não se pode esquecer que
pesquisa e desenvolvimento envolvem certos riscos, embora em alguns casos
estes sejam controlados ou minimizados. Uma das alternativas utilizadas pelas
empresas para minimizar custos, prazos de desenvolvimento e risco é o
desenvolvimento incremental de fármacos já existente e de eficácia
comprovada. Com isso, é possível despender valores entre 50 a 100 milhões
de dólares e diminuir o tempo de pesquisa para aproximadamente cinco anos.
Além disso, abre espaço para o patenteamento de novas apresentações e
novas formulações, oferecendo ao desenvolvedor vantagens competitivas no
mercado. Aliando-se ao conceito de desenvolvimento incremental, outro
aspecto importante na minimização dos riscos de Pesquisa & Desenvolvimento
(P&D) é o desenvolvimento em conjunto com institutos de
pesquisa e, principalmente, com empresas de desenvolvimento de base
tecnológica. Uma perspectiva para o desenvolvimento incremental de fármacos
consiste na elaboração de uma nova apresentação baseada em Sistemas de
Liberação Controlada (SLC) ou drug delivery systems. Os SLC são um
exemplo inteligente de como a nanotecnologia efetivamente contribui para a
pesquisa, o desenvolvimento e a inovação no setor.
Nanotecnologia Aplicada ao Desenvolvimento de
Produtos Farmacêuticos
A nanotecnologia, ciência e tecnologia que foca as propriedades
especiais dos materiais de tamanho nanométrico, está se tornando um dos
mais promissores campos de pesquisa da atualidade. Ela não possui uma
tecnologia específica, mas interdisciplinar, baseada na física, química, biologia,
engenharias, computação e medicina. Esta pequena grande ciência, como
referida por Gary Stix, tem despertado a imaginação de pesquisadores,
fabricantes e até mesmo da população, e teve um grande impulso nos EUA,
em 2000, após a National Nanotechnology Initiative identificá-la como uma área
emergente de interesse nacional.
Reconhecendo sua importância e imenso potencial, muitas agências
federais declararam a pesquisa em nanotecnologia como principal prioridade.
Assim, os países desenvolvidos têm investido muito em nanotecnologia.
Somente os EUA investem em torno de 2 bilhões de dólares por ano.
Há previsão de que o segmento da nanotecnologia atingirá uma
movimentação em torno de 1 trilhão de dólares em dez anos. No Brasil, a
pesquisa em nanotecnologia ainda está começando. Desde 2001 o governo
federal vem estimulando diretamente as pesquisas na área a partir da criação
de quatro redes brasileiras de atuação no segmento de nanociência e
nanotecnologia. A previsão de investimentos até 2007 era de 80 milhões de
reais.
A nanotecnologia teve seu início com o físico Richard Feynman, quando,
em 1959, realizou uma conferência no California Institute of Technology, em
que afirmou que em um futuro não muito distante os cientistas poderiam
manipular átomos e colocá-los onde bem entendessem, desde que as leis da
natureza fossem mantidas, possibilitando a construção de novos materiais
inexistentes na natureza. Na Universidade de Tóquio, em 1974, o professor
Norio Taniguchi, em seu primeiro artigo sobre o assunto, atribuiu o seguinte
conceito para nanotecnologia: “A nanotecnologia consiste principalmente no
processo de separação, consolidação e deformação dos materiais por um
átomo ou uma molécula”. Mais tarde, em 1992, Eric Drexler propôs não
somente manipular átomos, mas a construção de nanorobôs, que poderiam
criar diferentes objetos e até mesmo identificar e destruir seres vivos nocivos
ao corpo humano, como vírus ou bactérias.
O prefixo nano da palavra nanotecnologia, que em grego significa anão,
refere-se à dimensão da ordem de magnitude de 10-9 do metro. Embora os
limites não sejam rígidos, considera-se que acima de 1μm tem-se o macro
mundo e entre 1 e 999nm tem-se o chamado nano mundo, que abrange a
nanotecnologia. Nesta faixa de tamanhos, as propriedades dos materiais
emergem do comportamento coletivo dos átomos e moléculas que, em
conjunto, passam a exibir propriedades químicas, físicas, óticas, magnéticas e
elétricas diferentes da sua forma individual. Por exemplo, o aumento da área
superficial em partículas de dimensões nanométricas confere aos materiais
maior reatividade e maior penetração nas células. Assim, inspirando-se em
fundamentos da natureza, cientistas são capazes de auto-arranjar átomos em
estruturas com propriedades controladas e desejadas.
Duas estratégias de fabricação são utilizadas atualmente em
nanotecnologia: a denominada top down, na qual estruturas nanométricas são
produzidas por meio da quebra de materiais por moagem, nanolitografia ou
engenharia de precisão, e a denominada bottom up, a qual permite que
nanoestruturas sejam formadas de átomos ou moléculas individuais capazes
de se auto arranjar ou organizar . Atualmente, essa última estratégia tem sido
particularmente utilizada na indústria farmacêutica, para o desenvolvimento de
materiais capazes de encapsular e liberar gradualmente ingredientes ativos.
Para esses sistemas serem efetivos os ativos encapsulados devem ser
entregues no local apropriado, sua concentração mantida em níveis adequados
por longos períodos de tempo, além da prevenção da sua degradação.
Nanopartículas podem ser projetadas e produzidas com as características
anteriormente citadas, permitindo também maior eficiência de encapsulação e
liberação controlada quando comparadas aos sistemas de encapsulação
convencionais. Elas são ainda particularmente atrativas por serem pequenas o
suficiente para serem injetadas diretamente no sistema circulatório, além de
poderem ser administradas por outras vias como pulmonar, nasal,
transcutânea, transdérmica e oral.
As principais nanoestruturas utilizadas para encapsulação de ativos são
os lipossomas, as ciclodextrinas, as nanopartículas poliméricas e as
nanopartículas lipídicas. Os ativos podem ainda estar associados a
nanopartículas metálicas, fulerenos, dendrímeros ou nanotubos de carbono. As
vantagens destes sistemas
São a melhora da estabilidade química e física dos ativos, melhora da
biodisponibilidade, manutenção do ativo no tecido alvo, muitas vezes,
possibilitando a penetração deste em zonas corpóreas de difícil acesso,
solubilização de ativos hidrofóbicos, redução de efeitos colaterais e da
toxicidade, assim como do número de doses e frequência de administração,
proporcionando maior conforto do paciente e, Consequentemente, a maior
adesão ao tratamento.
Dentre todas as estruturas citadas, como deve ser feita a escolha? Na
verdade, não há uma opção estabelecida como ideal para todos os casos. O
melhor sistema é definido a partir das características da aplicação específica,
tais como via de administração, local de liberação, propriedades físico-químicas
e estabilidade do ativo, tipo de paciente, viabilidade de custo e de produção
industrial. A seguir serão apresentadas as nanoestruturas mais utilizadas na
indústria farmacêutica como carreadores ou veículos de ativos.
Lipossomas
Os lipossomas, também chamados de vesículas lipídicas, são estruturas
esféricas, compostas de bicamadas de lipídios que delimitam um
compartimento aquoso interno central. Esse tipo de estrutura permite a
encapsulação de compostos de naturezas hidrofílica, hidrofóbica e anfifílica, e
liberação controlada do conteúdo encapsulado por difusão, através da
bicamada lipídica e/ou por erosão da vesícula.
Uma propriedade adicional dessas vesículas é a flexibilidade de variação
de suas propriedades por meio de mudanças em sua composição, tamanho e
método de preparação, modulando-as para aplicações específicas.
Nos últimos anos, vários tipos de lipossomas foram desenvolvidos para
aplicações específicas e diferentes rotas de administração. Dentre os tipos
existentes, os mais conhecidos são lipossomas convencionais, polimerizados,
Stealth® ou furtivos, bifásicos, imunolipossomas e catiônicos. A seguir alguns
dos vários tipos de lipossomas.
Os lipossomas convencionais são compostos de fosfolipídios naturais ou
sintéticos (zwiteriônicos ou carregados negativamente) com ou sem colesterol.
Quando administrados por rotas parenterais possuem pequeno tempo de
circulação na corrente sanguínea, pois se acumulam rapidamente nas células
do sistema fagocítico mononuclear ou sistema reticuloendotelial (RES). Devido
a isso, as aplicações terapêuticas mais indicadas para esse tipo de lipossomas
são aquelas cujo alvo sejam os macrófagos e órgãos do sistema imunológico.
Os lipossomas polimerizados, geralmente, são compostos de lipídios
anfifílicos que apresentam insaturações, as quais constituem os grupos
polimerizáveis. A polimerização aumenta a resistência da bicamada lipídica e a
sua estabilidade in vivo, até mesmo para administração por via oral. As
vesículas furtivas mantêm-se por maiores períodos de tempo na corrente
sanguínea, devido à ligação covalente de moléculas hidrofílicas grandes em
sua superfície externa. Esta configuração impede a identificação dos
lipossomas pelo RES, por meio da criação de uma barreira estérica altamente
hidratada. Em geral, a molécula mais utilizada para este finalidade é o polímero
polietilenoglicol (PEG).
O tipo bifásico é adequado para liberação dérmica e mucosal de agentes
terapêuticos como proteínas e DNA, sendo seu compartimento central ocupado
por uma emulsão. Sua característica marcante é a consistência pastosa. Os
imunolipossomas possuem anticorpos específicos ou fragmentos de anticorpos
em sua superfície, visando o direcionamento e o aumento da especificidade da
ligação. Esse sistema tem sido utilizado principalmente na liberação de
fármacos para a terapia de câncer. Configurações lipossomais catiônicas,
carregadas positivamente, são mais utilizadas como vetores para a veiculação
de material genético. São formadas por moléculas anfifílicas catiônicas simples
ou pela combinação com lipídios zwiteriônicos.
Além dos lipossomas já citados, uma nova composição refere-se aos
chamados transfersomas ou lipossomas elásticos ou ultradeformáveis,
formados por fosfolipídios e tensoativos. Esses últimos fornecem à membrana
a característica de elasticidade, facilitando o carreamento dessas estruturas
através da pele, inclusive, em alguns casos, alcançando camadas profundas.
Alguns produtos lipossomais aprovados pela Food and Drug
Administration (FDA) e comercializados incluem: Ambisome® (anfotericina B
lipossomal), indicado para tratamento de infecções fúngicas sistêmicas e para
segundo tratamento da leishmaniose, Daunoxome® (daunorrubicina
lipossomal), para tratamento de Sarcoma de Kaposi, Doxil® (daunorrubicina
em lipossomas furtivos), para Sarcoma de Kaposi, câncer de ovário e de
mama, Depocyt® (citarabina lipossomal), para meningite, e Visudyne ®
(verteporfina lipossomal), para degeneração macular com tratamento a laser.
Ciclodextrinas
As ciclodextrinas (CD) são moléculas que apresentam a forma de um
cone com uma cavidade interior cujo tamanho e forma são determinados pelo
número de unidades de glicose. São hidrofílicas externamente, sendo o interior
da molécula relativamente apolar em água. Em consequência disto, as
ciclodextrinas são capazes de formar complexos de inclusão com substâncias
menos polares que a água e que possuem dimensões geométricas
correspondentes ao diâmetro de sua cavidade, produzindo alterações nas
propriedades físicas e químicas dessas substâncias. São denominadas α, β e
γ, de acordo com o número de unidades de glicose. A β, com sete unidades de
glicose, é a mais empregada na área farmacêutica devido ao seu menor custo,
porém, não pode ser administrada por via parenteral. Moléculas de β – CD com
a superfície modificada foram desenvolvidas para aplicação parenteral (por
exemplo, hidroxipropil β - CD e sulfobutiléter β - CD).
Nós últimos dez anos vários estudos enfocam a formação de complexos
de inclusão em ciclodextrinas, tais como iodometacina, praziqualtel e vários
anestésicos. O antiinflamatório piroxicam, atualmente, é comercializado em
ciclodextrinas.
Nanopartículas Poliméricas - Nanocápsulas e
Nanoesferas
A tecnologia de produção de nanopartículas poliméricas, nanocápsulas e
nanoesferas, para carreamento de fármacos hidrofóbicos, surgiu nos anos
1980. Os componentes estruturais das nanopartículas compreendem polímeros
tanto de origem natural quanto sintética. Os polímeros naturais são
normalmente utilizados em aplicações de curta duração, enquanto os sintéticos
podem apresentar liberação controlada por períodos prolongados (anos).
As nanoesferas caracterizam-se por possuir um sistema monolítico, ou
seja, um único domínio. As nanocápsulas possuem dois domínios, a parede e o
núcleo e, em geral, o ativo encontra-se dissolvido no núcleo.
Para aumentar o tempo de liberação em polímeros naturais, são
efetuadas reticulações ou ligações cruzadas entre os polímeros. A maior parte
dos polímeros naturais utilizados são polissacarídeos tais como alginato, obtida
a partir de algas, ácido hialurônico, obtido principalmente de fontes animais
(crista de galo e cordão umbilical), e quitosana, obtida por meio do
exoesqueleto de crustáceos, insetos e parede celular de fungos e leveduras.
Adicionalmente, alguns polímeros naturais, tais como a quitosana e o
ácido hialurônico, possuem também propriedades mucoadesivas, conferindo-
lhes a vantagem de bioadesão a mucosas (ocular, nasal, urinária,
gastrointestinal e vaginal), ocasionando maior biodisponibilidade dos ativos
administrados.
Dentre os polímeros sintéticos, o mais utilizado em liberação controlada
com administração parenteral é o ácido poli D-lático co-glicólico (PLGA), o qual
é seguro e aprovado para uso em humanos. Outros polímeros sintéticos
bastante utilizados são o poli DL-lático (PLA) e a poli ε-caprolactona. Eles não
são tóxicos e a velocidade de degradação pode ser modulada de acordo com a
aplicação pretendida. O polímero poli hidroxi butirato (PHB), atualmente
produzido no Brasil, é uma das alternativas mais promissoras devido às suas
propriedades e baixo custo. Uma desvantagem de alguns polímeros sintéticos
é o seu potencial antigênico, podendo apresentar toxicidade quando
degradados ou hidrolisados. Exemplos de fármacos comercializados em
nanopartículas poliméricas são Lupron Depot e Enantone Depot®, utilizados no
tratamento de endometriose, Decapeptil®, Abraxane e Paclitaxel, para câncer,
e Pariodel®, como antiinflamatório, etc.
Primeiro Medicamento com Nanotecnologia Começa a ser
Testado em Humanos
Remédio Inteligente
Uma equipe de cientistas, engenheiros e médicos dos Estados Unidos
afirma estar entusiasmada com os primeiros resultados do primeiro
medicamento anticâncer produzido com nanotecnologia.
A droga, chamada BIND-014, é o primeiro de uma classe conhecida
como medicamentos inteligentes que entra na etapa de testes clínicos em
humanos.
O nanomedicamento foi projetado para o tratamento de tumores sólidos,
e atua em conjunto com drogas já usadas em quimioterapia.
Medicamento Programável
O estudo mostrou a capacidade do BIND-014 para alcançar um receptor
expresso em tumores, de forma a aumentar a concentração dos medicamentos
quimioterápicos sobre o tumor.
O maior entusiasmo vem do fato de que o tratamento com o
nanomedicamento aumentou notavelmente a eficácia, a segurança e as
propriedades farmacológicas do fármaco quimioterapêutico sozinho, o
docetaxel (Taxotere).
A pesquisa e o desenvolvimento do primeiro medicamento com nanotecnologia
inaugura a chamada nanomedicina, com as prometidas drogas inteligentes, representando a
culminância de mais de uma década de pesquisas.
"O BIND-014 demonstrou, pela primeira vez, que é possível produzir
medicamentos com propriedades orientadas e programáveis, capaz de
concentrar o efeito terapêutico diretamente no local da doença, potencialmente
revolucionando como as doenças complexas, como o câncer, podem ser
tratadas," disse o Dr. Omid Farokhzad, da Universidade de Harvard.
"As tentativas anteriores de desenvolver nanopartículas direcionáveis
não conseguiram chegar à etapa de estudos clínicos em humanos devido à
dificuldade de projetar e dimensionar uma partícula que seja capaz de chegar
ao local, ficar por longo tempo no organismo, fugir da resposta imunológica e
liberar a droga de forma controlada," explica o Dr. Robert Langer, coautor do
estudo.
Sistemas de Liberação Controlada (SLC)
Os SLC, utilizados no campo farmacêutico, apresentam outras
aplicações em diferentes segmentos, por exemplo, no setor alimentício, que
utiliza este conceito para adição de agentes flavorizantes, estabilizantes,
conservantes e mascarantes de sabor. A indústria cosmética tanto emprega
essa tecnologia para aumento do tempo de vida de componentes ativos
instáveis como também para melhorar sua penetração na pele.
Dentre os SLC empregados na indústria farmacêutica, pode-se destacar
as tecnologias que estão atingindo o estado da arte como as nanoesferas, as
nanocápsulas, os hidróxidos lamelares, os dendrímeros e associações com
ciclodextrinas. As nanoesferas apresentam-se como partículas menores que 1
μm e de composição polimérica em que o fármaco ou o princípio ativo do
medicamento encontra-se uniformemente distribuído no interior da matriz
polimérica. Já as nanocápsulas apresentam um sistema do tipo reservatório em
que o fármaco está solubilizado em um solvente, ou não, no interior da cápsula,
cuja parede pode ser formada por um ou mais polímeros. A membrana ou
parede vai se rompendo e liberando o conteúdo de acordo com a alteração do
ambiente. Esta tecnologia permite uma liberação programada ajustar a tal
parâmetro as variações de temperatura, força iônica, pressão, atrito e até
mesmo choque de pH.
Outros sistemas interessantes são os hidróxidos lamelares ou hidróxidos
duplos lamelares, que promovem processos de intercalação de alguns
fármacos entre suas lamelas. Com isso, nesse tipo de SLC o indivíduo pode
ingerir via oral o novo medicamento e, ao entrar em contato com o suco
gástrico, este sofre um processo ácido-base tendo sua lamela dissolvida. Esse
sistema é interessante em casos de tratamento por fármacos que atacam a
mucosa gastrointestinal ou substâncias que estimulam a produção excessiva
de suco gástrico, pois a dissolução das lamelas alcalinas, além de auxiliar na
neutralização do sistema digestório, promove a liberação do fármaco. No caso
dos dendrímeros, os fármacos estão distribuídos entre suas cadeias orgânicas
e sofrem processo de liberação à medida que encontram um ambiente químico
apropriado.
Os SLC baseados em ciclodextrinas consistem em uma interação
supramolecular do tipo hóspede-hospedeiro entre as moléculas de ciclodextrina
e os fármacos. Esse efeito promove uma melhor solubilização do fármaco em
água (no caso de fármacos insolúveis) e uma liberação posterior no organismo
durante a solubilização do sistema. Para interação entre ciclodextrinas e
fármacos, as moléculas ativas têm que apresentar estruturas ou cadeias
hidrofóbicas que possam interagir com a cavidade interior de ciclodextrina.
Desempenho dos SLC
A tecnologia de liberação controlada de fármacos representa uma das
fronteiras da ciência e da nanotecnologia e envolve aspectos multidisciplinares,
podendo contribuir inequivocamente para uma melhoria na saúde humana. O
objetivo dos SLC é manter a concentração do fármaco dentro do nível
terapêutico por um determinado tempo de tratamento, utilizando-se de uma
única dosagem ou um número bem reduzido. Um fármaco convencional
apresenta oscilações no nível plasmático e por isso torna-se necessário ingeri-
lo várias vezes durante o tratamento. A diferença de concentração plasmática
efetiva em função do tempo, comparando-se sistemas convencionais aos de
liberação controlada.
Esse processo de liberação lenta, gradativa ou controlada oferece
inúmeras vantagens quando comparado ao tratamento com fármacos ou
medicamentos convencionais. Dentre essas vantagens destacam-se:
▪▪ Utilização de fármacos de todas as formas, características ou solubilidade
variadas;
▪▪ Especificidade de atuação nos alvos, sem a necessidade de sistemas
carreadores complexos;
▪▪ A eficácia terapêutica, com liberação controlada e progressiva do fármaco, a
partir da desestruturação ou solubilização da matriz;
▪▪ Diminuição significativa dos efeitos colaterais e aumento do tempo de
permanência na circulação;
▪▪ Minimização da quantidade de fármacos utilizados, ou seja, maior eficiência
ou eficiência equivalente com quantidade reduzida;
▪▪ Aumento da estabilidade de fármacos hidrolisáveis ou facilmente oxidáveis.
Efeitos do Nanomedicamento
Segundo a equipe, o nanomedicamento gerou uma concentração
elevada da droga quimioterápica sobre o local do tratamento - um aumento de
100 vezes do docetaxel presente no plasma sanguínea ao longo de 24 horas.
Isto produziu uma eficácia substancialmente maior, além da diminuição
dos efeitos colaterais da quimioterapia.
Foi observado também um aumento de até 10 vezes na concentração
intratumoral do quimioterápico.
Há indícios de que o nanomedicamento altera significativamente os
efeitos biológicos da própria droga, em virtude de mudanças fundamentais em
sua farmacologia, incluindo grandes aumentos na concentração no local do
tratamento.
Medicamentos em Nanotecnologia
Nanofábrica produz nanocápsulas para medicamentos
Cientistas do MIT estão transformando em realidade um objetivo
longamente sonhado pela nanotecnologia.
Minsoung Rhee e seus colegas construíram uma máquina capaz de
construir objetos em nanoescala com alta precisão.
E os produtos que saem dessa nanofábrica não são objetos curiosos
para demonstração de uma tecnologia futurística, são nanoesferas capazes de
transportar medicamentos dentro do corpo humano.
Microfluídica e Nanocarregadores
Os pesquisadores uniram dois conceitos que já estão em uso prático
para criar sua nanolinha de produção.
De um lado, estão os chamados nanocarregadores, partículas
microscópicas que transportam medicamentos diretamente para o local onde
eles são necessários, evitando os danos colaterais produzidos quando o
medicamento entra em contato com áreas sadias do corpo.
Do outro lado estão os biochips, ou chips microfluídicos, verdadeiros
microlaboratórios nos quais as amostras passam por análises químicas ou
sofrem reações no interior de microcanais construídos dentro de uma pastilha
de vidro.
O que os cientistas fizeram foi demonstrar que os dispositivos
microfluídicos podem ser transformados em fábricas para criar as nanoesferas
carregadoras de medicamentos.
Nanofábrica
Para que entrem no corpo humano sem causar danos e sem serem
alvejados pelo sistema imunológico, os nanocarregadores devem ter
composições e formatos muito precisos.
O novo sistema de produção oferece um algo nível de controle sobre o
tamanho e a composição das partículas, permitindo a fabricação de
nanopartículas homogêneas em larga escala.
Na linha de produção da nanofábrica, um fluxo do polímero é injetado
através de um canal microfluídico que é controlado em três dimensões.
Isso significa que o polímero não toca as paredes dos canais, permitindo
a formação de nanoesferas perfeitas quando o polímero entra em contato com
um fluxo de água que viaja na direção oposta.
O sistema usa um solvente orgânico chamado acetonitrila para manter
os polímeros longe das paredes e evitar a deformação e a aglomeração das
nanoesferas.
Nanocarregadores
O polímero utilizado na composição das nanoesferas é totalmente
biodegradável e biocompatível, podendo transportar uma grande variedade de
moléculas - os medicamentos - de forma controlada, sem dispararem o alerta
do sistema imunológico.
Além do medicamento, que normalmente vai em seu interior, as
nanoesferas possuem em sua superfície moléculas que se ligam unicamente a
proteínas existentes nas células a serem alvejadas - as células de um tumor,
por exemplo.
Depois de liberarem os medicamentos no lugar certo, as nanoesferas
são eliminadas pelo organismo.
Regulamentação e Ética Profissional
Os nanomedicamentos apresentam-se como uma revolução no setor
farmacêutico no aspecto econômico. Contudo, sua maior contribuição está no
tratamento de doenças, no alcance de alvos específicos ou na minimização dos
efeitos colaterais. Além disso, a utilização de uma quantidade menor de
princípios ativos e um aumento de eficiência pode proporcionar minimização de
custos de produção e promover economia de átomos e energia.
Com vistas a isso, os nanomedicamentos podem dar início a um grande
passo rumo ao desenvolvimento sustentável e à utilização dos conhecimentos
de química verde (green chemistry). Por se tratar de uma tecnologia
emergente, são necessários estudos avançados e responsáveis para uma
maior compreensão dos benefícios apresentados e eventuais problemas. Não
existe qualquer tecnologia, sistema ou processo que não apresente vantagens
e desvantagens, daí a importância de estudos sérios e não tendenciosos.
Torna-se indispensável a participação do governo na regulamentação dos
procedimentos, normas, estudos e no fomento de pesquisa e incentivos à
inovação. Mas o governo não pode caminhar sozinho e por isso é fundamental
o diálogo com institutos de pesquisa, Universidades, empresas de tecnologia e
a própria indústria.
A nanotecnologia, diferentemente de outras tecnologias, não surgiu
primeiro do empirismo e posteriormente voltou para o estudo e o entendimento.
Essa (nano)tecnologia surgiu do pensamento de cientistas, das idéias de
visionários que vislumbravam um mundo melhor. Primeiramente, a
nanotecnologia surgiu no “papel” e posteriormente foi para a “bancada”.
Atualmente, a nanotecnologia está sendo conduzida por profissionais,
por pesquisadores, por cientistas e por empresários que despendem anos de
dedicação ao estudo e aprimoramento desses conceitos. Por isso, a
nanotecnologia está sendo lapidada por profissionais. Caso contrário, na mão
de amadores, poderia haver inúmeros problemas. Um trabalho sério somente é
realizado por profissionais qualificados, com apoio governamental, estudos
isentos e, principalmente, fundamentado na ética profissional.
Brasil já usa Nanotecnologia no Desenvolvimento de
Medicamentos
O Brasil já desenvolve seus primeiros medicamentos com
nanotecnologia, uma das abordagens promissoras para a criação de drogas
menos tóxicas e mais eficazes. Há 15 anos, surgiram os primeiros grupos de
pesquisa no País. Agora, antibióticos, anestésicos e quimioterápicos já são
testados.
Nas terapias nanotecnológicas, o princípio ativo - principal substância do
remédio - fica envolvido por uma "pequena caixa" - o nanocarreador. É como
se o medicamento fosse empacotado para ser entregue no órgão no momento
adequado, para aumentar as chances de cura.
A nanotecnologia, ciência que procura manipular a matéria no nível dos
átomos e das moléculas, é fundamental para construir os nanocarreadores.
Muitas vezes, eles têm um diâmetro inferior a cem nanômetros. Para se ter
uma idéia, um nanômetro equivale a milionésima parte de um milímetro. Um
cabelo humano tem 100 mil nanômetros de espessura.
Resultados
Pacientes com câncer de fígado ou pulmão costumam utilizar um
quimioterápico injetável chamado doxorubicina que, ao cair na corrente
sanguínea, espalha-se para todo o corpo, prejudicando tecidos sadios. A
equipe do pesquisador Anselmo Gomes de Oliveira, da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), em Araraquara (SP), colocou o remédio dentro de um
nanocarreador construído com um nutriente muito consumido pelas células
cancerosas. A maior parte do "alimento envenenado" foi digerida pelas células
do tumor, causando sua destruição. A nova técnica diminuiu para um quinto a
toxicidade.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o
pesquisador Sócrates Tabosa do Egito envolveu o antibiótico amoxicilina com
uma nanoestrutura magnética. Depois, aplicou uma corrente elétrica no
estômago de cobaias infectadas com Helicobacter pylori, bactéria capaz de
causar úlceras. O medicamento, administrado por via oral, "estacionou" no
órgão e penetrou na sua mucosa, liberando o antibiótico.
O professor Antonio Tedesco, da USP de Ribeirão Preto aprimorou uma
terapia para câncer de pele com o uso da nanotecnologia. Uma pomada tópica,
em contato com uma fonte de luz vermelha, causa a morte das células
cancerosas - o tratamento resultante é mais eficaz no combate a cânceres de
pele mais profundos.
Brasileiros Revolucionam nos Medicamentos
Microscópicos
Uma equipe de pesquisadores brasileiros, coordenada por um
farmacêutico, conseguiu desenvolver a liberação controlada do anti-inflamatório
Triancinolona, no vítreo, interior do olho, por até mais de um ano, tempo cinco
vezes maior que o alcançado por laboratórios multinacionais. O produto é
acondicionado em micropartículas e micropellets. A pesquisa está chamando a
atenção de cientistas internacionais e da grande indústria.
Mais de 500 pessoas, entre cientistas e representantes de laboratórios
farmacêuticos multinacionais, lotavam um dos auditórios do Centro de
Convenções de Fort Lauderdale (EUA), quando o farmacêutico brasileiro
Anselmo Gomes de Oliveira, professor doutor, docente da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus
de Araraquara, apresentou um verdadeiro tesouro científico: o trabalho de
pesquisa que ele está coordenando sobre a liberação controlada do
antiinflamatório Triancinolona no vítreo (interior do olho). A parte clínica da
pesquisa é realizada pelos médicos oftalmolo- gistas José Augusto Cardillo,
Fernando Paganelli e Mirian Skaf, do Hospital de Olhos de Araraquara, público
municipal.
Vista geral do laboratório de equivalência farmacêutica, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, onde a maior parte da pesquisa está sendo realizada
O que essa pesquisa, iniciada, há cerca de cinco anos e envolvendo a
mais avançada tecnologia, traz de novo? Traz aquilo com que sonham
pesquisadores de todo o mundo: a permanência do principio ativo de um
medicamento, num determinado órgão, por longo tempo e de maneira
controlada.
O processo de liberação produzido pelo grupo da Unesp/Hospital de
Olhos é cinco vezes maior que o já alcançado pelas grandes indústrias do
Planeta. E mais: as micropartículas que desenvolveram para abrigar o anti-
inflamatório Triancinolona são cinco vezes menores que as já existentes e
possuem tamanho homogêneo.
A boa nova que tanto encantou os congressistas, em Fort Lauderdale,
vai melhorar a qualidade de vida de portadores de doenças do segmento
posterior do olho. A exposição oral do pesquisador brasileiro foi acompanhada,
com enorme curiosidade, pelas centenas de cientistas e representantes de
indústrias multinacionais presentes. Muitos destes últimos manifestaram
interesse em comprar os direitos de comercialização e de continuidade da
pesquisa.
Nanotecnologia - A pesquisa, realizada no Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, tem na
nanotecnologia a sua âncora. A nanotecnologia emprega uma medida
equivalente a um trilhão de vezes menor que o metro. Um nanômetro (nm)
corresponde a dez elevado a menos nove. Escrevê-lo é fazer um exercício de
acuidade, tantos são os zeros necessários: 0,0000000001m. É uma medida
invisível a olho nu.
Os tamanhos medidos em nanômetro só passaram a ser conhecidos, a
partir dos experimentos com o espalhamento da luz no laser. A ciência
farmacêutica, por sua vez, passou a aplicar a nanotecnologia, nos anos 80,
dando início a uma revolução na administração de medicamentos no
organismo.
A nanotecnologia faz com que um fármaco incorporado num sistema
nano-estruturado consiga atingir doenças, como infecções e inflamações que
jamais seriam atingidas, através de medicamentos convencionais. As doenças
do segmento posterior do olho são um exemplo dessas aplicações. Essas
doenças são o foco das pesquisas do grupo da Unesp/Hospital de Olhos.
As pesquisas não estão restritas à Triancinolona, mas também aos
antibióticos Vancomicina e Ciprofloxacino, com a mesma indicação terapêutica.
Para combater as doenças do olho nas quais estão focados os estudos
realizados, na Unesp, as nanopartículas, os lipossomas e os micropellets,e m
forma de microcilindros de polímero biodegradável associados ao fármaco, são
injetados ou implantados, no interior do corpo vítreo e, aí, liberam o antibiótico
ou o anti-inflamatório que combate diretamente as bactérias, ou atua nos
tecidos inflamados.
Os micropellets ficam presos entre a conjuntiva e a esclera, liberando,
continuamente, substância ativa para o corpo vítreo. Eles são implantados
diretamente no local onde se busca o efeito farmacológico, longe da barreira da
córnea. Assim, a substância passa a fazer contato com todo o interior do olho.
Esses cilindros ficam liberando substância ativa por um período
prolongado, que vai de semanas a mais de um ano. Aliás, este longo e
inusitado tempo de liberação é o atrativo da pesquisa, pelos inúmeros
benefícios que traz. Uma injeção de Ciprofloxacino e Vancomicina tradicional
age, num tempo curto, jamais superior a 12 horas, e são extremamente
dolorosas, quando aplicadas no olho.
Essa tecnologia de produção não é nenhuma novidade no universo
farmacêutico internacional, diga-se de passagem. O seu domínio na área
industrial está restrito, entretanto, a poucas empresas farmacêuticas. A
novidade é que nenhuma delas conseguiu obter tão longo tempo de liberação
quanto o grupo da Unesp. Isso faz a diferença.
Aplicação – Anselmo Gomes, coordenador da pesquisa, informa que
consegue desenvolver uma partícula de um micrometro, o que corresponde a
um milésimo de milímetro. Para abrigar um miligrama de Triancinolona, são
necessárias dezenas de milhares de partículas. Elas são envasadas em
ampolas estéreis, na forma de pó seco, no qual é introduzido um líquido
dispersante, no momento da aplicação.
Combate implacável - As nanopartículas contendo antibiótico chegam
facilmente às células infectadas, que desencadeiam o processo de fagocitose,
atraindo para dentro de si exatamente aquele que vai exterminar as bactérias
que as devastam. Dá-se, aí, o combate implacável do fármaco com uma
eficiência que as formas farmacêuticas, até então conhecidas, não conseguem
obter.
Pelo processo convencional, geralmente, os antibióticos não
conseguem, em sua inteireza, ultrapassar a membrana celular e atingir as
bactérias abrigadas no interior das células. Resultado: a doença vence, porque
os microrganismos multiplicam-se, no interior das células, rompem as suas
membranas e extravasam-se para a corrente circulatória.
Uma parte dos microrganismos é novamente fagocitada, iniciando-se um
círculo vicioso perigoso “A única maneira de se quebrar este ciclo é colocar o
antibiótico, lá no interior das células infectadas. É isso o que faz a
nanotecnologia farmacêutica”, explica o professor da Unesp, lembrando a
eficácia desse sistema no combate a outras doenças, como a tuberculose.
Mas o foco da pesquisa são as doenças do olho. Há algumas delas,
desenvolvidas no segmento posterior do órgão, de difícil combate, tamanha é a
dificuldade de o medicamento chegar àquela região ocular. Segundo o
farmacêutico pesquisador, de tudo o que se administra de medicamentos, por
via sistêmica, apenas cerca de 1% chega à área posterior do olho.
No caso dos colírios, informa ele, o lacrimejamento remove rapidamente
a substância ativa da superfície do olho. Além do mais, a córnea, com a sua
membrana semipermeável, faz o papel de barreira protetora, não deixando
passar cerca de 99% da concentração das substâncias medicamentosas.
Já a administração para efeito sistêmico, via oral ou injetável, não é
muito viável em oftalmologia, vez que requer uma dose considerada alta para
um aproveitamento pequeno demais, em consequência do fato de a substância
ser distribuída por todo o organismo do paciente. Mais: o princípio ativo é
rapidamente metabolizado e eliminado. Anselmo Gomes acrescenta que, além
dessas inconveniências, as injeções intraoculares são desconfortáveis,
dolorosas e podem causar traumatismos irreversíveis ao olho.
As doenças – A maioria das doenças do segmento posterior do olho é
de difícil tratamento, em razão da dificuldade de se atingir concentrações
adequadas de fármacos nessa região. Uma das doenças é a endoftalmite, uma
infecção de ambiente hospitalar, contraída, durante o processo operatório.
O tratamento tradicional para o seu combate é a aplicação de dolorosas
injeções intravítreo de antibióticos e anti-inflamatórios, mas o reduzido tempo
de liberação os torna pouco eficazes. As pesquisas desenvolvidas, em
Araraquara, voltam-se ao acondicionamento dos antibióticos Vancomicina e
Ciprofloxacino e do anti-inflamatório Triancinolona em micropartículas
aplicadas no vítreo, por um período programável que pode chegar a um ano, se
for necessário, mas os estudos indicam que tempos maiores podem ser
atingidos.
A uveíte também terá nos pellets um inimigo inclemente. Inflamação
crônica da íris que requer dos seus portadores o uso permanente de colírios e
outros medicamentos, a uveíte, com essa pesquisa, poderá ser atacada mais
diretamente e com um grau de eficácia, até então, desconhecido. Os pellets
incorporando corticoides serão usados, ainda, no caso da diabetes, evitando o
edema macular que reduz a visão do paciente.
Mas pesquisas do porte das que estão sendo desenvolvidas na
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, voltadas à
produção de lipossomas, micro emulsões ou micropartículas contendo
antitumorais, antifúngicos sistêmicos, anti-inflamatórios e antibióticos
oftalmológicos, ainda são tímidas, no Brasil, segundo o farmacêutico Anselmo
Gomes. Poucos grupos de pesquisa estão realizando estudos, utilizando
nanotecnologia, dentro de universidades, nesse campo, afirma o pesquisador.
O grupo - O grupo liderado por Anselmo Gomes reúne nove
pesquisadores da Unesp, todos farmacêuticos, sendo três mestrandos, três
doutorandos e três docentes pesquisadores. Fazem parte da equipe, ainda,
dois médicos do Hospital de Olhos de Araraquara e mais um médico e um
farmacêutico do Departamento de Oftalmologia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
O Segredo é a Liberação Prolongada
O farmacêutico Anselmo Gomes, professor doutor, docente de
Farmacotécnica e de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, da Universidade Estadual Paulista (FCFAR/Unesp), campus de
Araraquara, interior paulista, onde também é o Vice coordenador do Programa
de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, fala à revista PHARMACIA
BRASILEIRA do destino dos produtos que resultarão de sua pesquisa e do
apoio que a mesma recebe. Explica, ainda, o motivo de o setor privado não
investir nesse trabalho. Veja a entrevista.
ENTREVISTA / ANSELMO GOMES DE OLIVEIRA
PHARMACIA BRASILEIRA – Quando os produtos advindos dessas pesquisas
estarão à disposição dos médicos e da sociedade?
Anselmo Gomes de Oliveira – Estamos na fase pré-clínica dos estudos. Já
desenvolvemos a tecnologia, fizemos todo o controle da liberação da
substância ativa “in vitro” e, agora, estamos usando o modelo animal (coelhos)
“in vivo”. A fase clínica (utilização em humanos) deve iniciar- se,
posteriormente, talvez, em torno de seis meses. Será desen volvida, na Unifesp
e no Hospital de Olhos, aqui, em Araraquara. Estamos usando os antibióticos
Vancomicina e Ciprofloxacino e o anti-inflamatório Triancinolona.
É difícil prevermos quando concluiremos a fase clínica da pesquisa,
porque teremos que recrutar pacientes que têm os problemas de visão
suscetíveis de tratamento e nos submetermos aos rigorosos protocolos clínicos
estipulados pelo Comitê de Ética. É uma etapa demorada e que não pode ser
atropelada, apressada, porque estamos lidando com pacientes. Se for
aplicável, virá a fase de licenciamento do produto junto à ANVISA para uso
clínico.
PHARMACIA BRASILEIRA – Com quem ficará o direito de produção dos
medicamentos?
Anselmo Gomes de Oliveira - Aí, há duas opções: transferir a tecnologia e o
direito de produção para a iniciativa privada (contrato de venda), ou produzir o
próprio medicamento.
PHARMACIA BRASILEIRA – O que mais chama a atenção em sua pesquisa,
do ponto de vista científico?
Anselmo Gomes de Oliveira - O que mais impressiona em nosso trabalho, e
que é o seu segredo, é o domínio da tecnologia de produção das
micropartículas e dos micropellets a qual é responsável pelo efeito de liberação
prolongada. Conseguimos um período programável de liberação que ninguém
conseguiu, ainda, no mundo inteiro. Grandes laboratórios multinacionais estão
interessados em saber o que nós fizemos, para alcançar uma liberação tão
prolongada.
PHARMACIA BRASILEIRA – Quem apoia a sua pesquisa?
Anselmo Gomes de Oliveira – O apoio financeiro que temos – o básico – vem
da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Somos
apoiados, ainda, por um programa interno de nossa própria Faculdade,
chamado de PADC (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico). Outros apoios vêm da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento científico e Tecnológico), ambos de bolsas de estudos para
os alunos que participam do projeto. Vale salientar que o CNPq ainda nos
apoia com auxílio à pesquisa e também com bolsas de produtividade científica
para pesquisadores.
PHARMACIA BRASILEIRA – Esses apoios são suficientes?
Anselmo Gomes de Oliveira – Suficientes, não são. Eles cobrem apenas o
mínimo necessário para a gente continuar a pesquisa. Que fique claro que
ainda não há nenhum apoio especial.
PHARMACIA BRASILEIRA – O setor privado não os apoia?
Anselmo Gomes de Oliveira – O problema do setor privado, no Brasil, está no
fato de que este tipo de pesquisa envolve alta tecnologia que, normalmente, é
explorada pelas multinacionais. Portanto, as multinacionais que aqui estão não
nos apoiam, porque elas já desenvolvem as suas pesquisas básicas, em seus
países de origem. Já as nossas empresas pequenas, de capital nacional, têm
dificuldades de investir num campo que, no futuro, vai requerer ainda mais
recursos, para enfrentar a concorrência das multinacionais.
“O que mais impressiona em nosso trabalho é o domínio da tecnologia
de produção das micropartículas e dos micropellets a qual é responsável pelo
efeito de liberação prolongada. Conseguimos um período programável de
liberação que ninguém conseguiu, ainda, no mundo inteiro.”
(Anselmo Gomes de Oliveira, farmacêutico pesquisador).
Tratamento sem Depender da Adesão do Paciente
O médico oftalmologista Fernando Paganelli, do Hospital de Olhos de
Araraquara (SP) e associado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
é um dos médicos responsáveis pela parte clínica da pesquisa com as
micropartículas e micropellets de antibióticos e anti-inflamatórios. Ele concorda
com que a pesquisa da qual participa poderá revolucionar o tratamento de
algumas doenças do olho. Veja a entrevista.
ENTREVISTA / FERNANDO PAGANELLI
PHARMACIA BRASILEIRA – O que virá com o domínio dessa tecnologia e
dessa pesquisa dos senhores será uma revolução na aplicação de
medicamentos?
Fernando Paganelli – Sim, principalmente, no tratamento da uveíte e nos pós-
operatórios. Mas em relação à diabetes e à degeneração macular, há uma
concorrência muito grande com os laboratórios multinacionais, que dispõem de
muitos recursos, enquanto nós carecemos dos mesmos.
PHARMACIA BRASILEIRA – Pacientes do SUS poderão ter acesso aos
produtos estudados pelos senhores?
Fernando Paganelli – Sim. A tecnologia que nós desenvolvemos não permitirá
que o produto fique mais encarecido que um produto convencional. Os
micropellets são mais caros, porque a sua produção está restrita a poucas
empresas, que colocam os preços que querem. Mas nós não temos os
mesmos interesses de uma multinacional. Hoje, um implante de pellets custa
em torno de U$ 2 mil. Os produtos advindos desta pesquisa, portanto, serão
muito mais baratos que uma ampola de Verterporfina, que custa, hoje, R$ 4
mil. Certamente, as micropartículas poderão ser prescritas e dispensadas, no
SUS.
PHARMACIA BRASILEIRA – Qual a vantagem clínica da utilização das
micropartículas na medicina?
Fernando Paganelli – A vantagem está no fato de que, com uma única
aplicação, consegue-se manter a droga no olho por um tempo programável.
Poderemos programar micropartículas ou micropellet para agir, durante 120
dias, por exemplo. E, também, é mais eficaz, porque não depende da adesão
do paciente ao tratamento. A regularidade da liberação da droga no olho é
muito grande e isso é também uma grande vantagem.
Se alguém pingar uma gota de colírio no olho, a concentração será
grande, apenas naquele momento, no segmento anterior, mas, depois, não. Já
com o pellet ou com a micropartícula, a concentração será constante e
duradoura. Ou seja, a eficácia independe da adesão ou de outros fatores
externos. No pós-cirúrgico, é grande a falta de adesão do paciente,
principalmente, quando se refere ao uso de colírios.
“A vantagem é que poderemos programar micropartículas ou
micropellets para agir, durante 120 dias, por exemplo. E, também, é mais
eficaz, porque não depende da adesão do paciente ao tratamento.”
(Fernando Paganelli, médico pesquisador).
Considerações Finais e Perspectivas
As indústrias que estiverem mais atentas a essa tecnologia e mais bem
preparadas poderão encontrar um mercado pouco explorado pela frente, tendo
condições de realizar avaliação de mercado adequada, pesquisa,
desenvolvimento e inovação diferenciada. Com isso, é possível se tornar
líderes de mercado no Brasil e no restante do mundo. Essas perspectivas
também estão abertas aos profissionais: químicos, engenheiros, farmacêuticos,
bioquímicos, enfermeiros, médicos, pesquisadores etc. São estes os
protagonistas desse desenvolvimento. Além disso, também se observa um
grande espaço no mercado para novas empresas de desenvolvimento, P&D e
de alta tecnologia, assim como para start up, do tipo spin off ou spin out.
Espera-se que a atuação da nanotecnologia no setor farmacêutico traga
novos fármacos ou novas apresentações destes, com maior eficiência e
menores efeitos colaterais. Acredita-se que seja possível a liberação dos
princípios ativos em regiões específicas ou atuação sinergística entre dois ou
mais fármacos, o que não seria possível com química tradicional. Além disso,
com um maior entendimento e estudo dos SLC espera-se uma maior
segurança nos produtos encontrados no mercado e uma melhora na qualidade
dos tratamentos.
Pode-se ir além, utilizar a imaginação e a criatividade e, quem sabe, em
um futuro não muito distante, exista algum produto no mercado com
características once a week, ou seja, se tomaria uma única dose por semana e
não ocorreria o esquecimento e a consequente interrupção do tratamento, de
maneira que os maiores beneficiados dessa tecnologia seríamos todos nós.
Bibliografia
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farmaceutica/nanotecnologia-como-inovacao-a-farmacos-e-medicamentos
Acesso: 13/03/2013 às 10:43 am.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=800203&tit
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http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nanotecnologia-ajuda-transporte-
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Acesso: 13/03/2013 às 12:05 pm.