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Page 1: Neologismos

Trabalho sobre Neologismo

Daniel Perico Graciano, R.A: 603104

Livia Beatriz Damaceno, R.A: 603074

Introdução: corpus

O gênero discursivo escolhido para a coleta do corpus foi o literário, pois acreditamos

que a poesia é o gênero mais rico em significação e criatividade, a produtividade da

língua reside principalmente aí. Esse corpus específico contém uma grande

concentração de neologismos por ser uma obra de vanguarda, Galáxias, de Haroldo de

Campos, é chamada pelo autor de “constelação de signos”, onde o uso de novas

palavras visa romper com as barreiras impostas pela língua (cabe lembrar quando

Barthes nos diz que a língua é fascista por nos submeter às suas regras).

Segue o fragmento que nos serviu como corpus:

"no jornalário no horáriodiáriosemanáriomensárioanuário jornalário moscas pousam moscas iguais e foscas feito moscas iguais e foscas feito foscas iguais e moscas no jornalário o tododia entope como um esgoto e desentope como um exgoto e renova mas nao e outro(...) livro me salva me alegra me alaga o livro e mensagem de aragem e plumapaisagem e viagemviragem o livro e visagem no infernalário onde suo o salário no abdomerdário dromerdário hebdomesmário onde nada e vário (...)"

 Haroldo de Campos, Galáxias, pag. 4

Análise morfológica dos neologismos

Os dez neologismos retirados da obra foram: “jornalário”,

“horáriodiáriosemanáriomensárioanuário”, “tododia”, “exgoto”, “plumapaisagem”,

“viagemviragem”, “infernalário”, “abdomerdário”, “dromerdário” e “hebdomesmário”.

Começaremos por classificar os processos de formação da palavra “jornalário”,

seguindo a sequência dos neologismos da forma que estão dispostos no texto.

jornalário – processo de formação por sufixação, pois a palavra “jornal” recebeu o

sufixo “-ário”.

horáriodiáriosemanáriomensárioanuário – processo de formação por composição

morfossintática, pois várias palavras compuseram um único neologismo sem que

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nenhuma delas sofresse nenhum tipo de deformação (horário + diário + semanário +

mensário + anuário).

tododia – processo de formação por composição morfossintática, pois duas palavras

compuseram um único neologismo sem que nenhuma delas sofresse nenhum tipo de

deformação (todo + dia).

exgoto – processo de formação por prefixação (ex- + goto) seguida de extensão

semântica (esgoto).

plumapaisagem – processo de formação por composição morfossintática, pois duas

palavras compuseram um único neologismo sem que nenhuma delas sofresse nenhum

tipo de deformação (pluma + paisagem).

viagemviragem – processo de formação por composição morfossintática, , pois duas

palavras compuseram um único neologismo sem que nenhuma delas sofresse nenhum

tipo de deformação (viagem + viragem).

infernalário - processo de formação por sufixação, pois a palavra infernal (adjetivo

relacionado à palavra “inferno”), recebeu o sufixo “-ário”.

abdomerdário – processo de formação por amálgama (abdome + merda), seguido por

uma sufixação (as palavras “abdome” + “merda” receberam o sufixo “-ário”).

dromerdário – processo de formação por amálgama, a palavra “merda”opera sobre a

palavra “dromedário” alterando-a.

hebdomesmário – processo de formação de derivação sufixal (hebdo+madaire, do

francês, jornal que circula semanalmente), seguido por um processo de composição

morfológica.

Efeitos de sentido

Descreveremos os efeitos de sentido criados pelo enunciador. A palavra “jornalário”

apresenta uma depreciação a um jornal, sugerindo-lhe um caráter massivo, como local

de trabalho do poeta (esse efeito pode ser percebido pela locução prepositiva “no”), é o

mesmo efeito da palavra “horáriodiáriosemanáriomensárioanuário”, todas as palavras

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que compõem esse neologismo nos remete à uma rotina, assim como a palavra

“tododia” reforça essa mesma carga semântica. “exgoto”, por sua vez, trocadilho com a

palavra “esgoto”, quando o enunciador nos fala “o tododia entope como esgoto e

desentope como exgoto”, ele sugere também uma rotina, assim como o tédio que o

frustra, ou seja se pensarmos na sua comparação de um entupimento de um esgoto com

o seu acúmulo de tédio, podemos pensar no desentupimento como um ex-goto, onde o

prefixo ex-, naturalmente nos faz pensar em algo que deixou de ser o que era. O

neologismo “plumapaisagem” nos indica que o livro traz uma paisagem ao leitor por

meio de uma pluma, essa pluma é a pena (a caneta) pela qual o poeta compõe sua arte,

assim, a caneta se faz capaz de criar uma nova paisagem ao leitor, além disso, alguns

trechos do livro sugerem a própria obra como uma viagem, isso nos chama atenção ao

fato de que a composição “plumapaisagem” traz como ligação dessa fusão a palavra

“mapa”. “viagemviragem” nos faz pressupor que essa já citada viagem, provoca

mudanças, ou seja, ousa novidades rompendo com os padrões de escrita. “infernalário”

remete diretamente ao, nessa altura, insuportavelmente entediante “jornalário” local de

repulsa do sujeito. “abdomerdário” também se refere ao local de trabalho (jornalário),

pois o abdome é onde se produz as fezes, assim, podemos concluir que o jornal também

é um local responsável pela produção de porcarias. “dromerdário” sugere a insatisfação

com a carga de trabalho no jornalário, na frase em que se encontra esse neologismo, ele

é antecedido pelo enunciado “onde suo o salário”, ou seja, o sujeito trabalha como um

dromedário, no local onde se produz merda (merdário). “hebdomesmário”, hebdo, é

uma palavra de origem hebraica que significa semanal, ou semanalmente, do francês

hebdomadaire, é qualquer jornal ou revista que circule semanalmente, a junção da

palavra mesmo nos faz supor que no jornalário todas as semanas são iguais e nunca há

uma novidade.

Referência bibliográfica:

CAMPOS, Haroldo de. Galáxias. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2004.

Segue o link para ler o arquivo em pdf:

https://www.dropbox.com/s/9y8xks9ltmazlly/haroldo%20de%20campos%20-

%20galaxias.pdf?dl=0


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