JULIANA SILVEIRA ANSELMO
O ERGODESIGN COMO PRINCÍPIO PARA A MELHORIA DO AMBIENTE DE PRODUÇÃO DO PAPEL RECICLADO ARTESANAL: UMA APLICAÇÃO SOCIAL
JOINVILLE 2008
JULIANA SILVEIRA ANSELMO
O ERGODESIGN COMO PRINCÍPIO PARA A MELHORIA DO AMBIENTE DE
PRODUÇÃO DO PAPEL RECICLADO ARTESANAL: UMA APLICAÇÃO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Saúde e Meio Ambiente. Área de concentração: Meio ambiente. Orientadora: Dra. Denise Abatti Kasper Silva. Co-orientador: Dr. Marco Fabio Mastroeni.
JOINVILLE 2008
TERMO DE APROVAÇÃO
“O ergodesign como princípio para a melhoria do ambiente de produção do papel reciclado artesanal: uma aplicação social”
por
Juliana Silveira Anselmo
Dissertação julgada para a obtenção do título de Mestre em Saúde e Meio Ambiente, área de concentração Meio Ambiente, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente.
____________________________________________
Profa. Dra. Denise Abatti Kasper Silva Orientadora (UNIVILLE)
____________________________________________ Profa. Dra. Cladir Teresinha Zanotelli
Coordenadora do Programa de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente (UNIVILLE)
Banca Examinadora:
____________________________________________
Profa. Dra. Denise Abatti Kasper Silva Orientadora (UNIVILLE)
____________________________________________
Prof. Dr. Marco Fabio Mastroeni Co-Orientador (UNIVILLE)
____________________________________________
Profa. Dra. Nelma Baldin (UNIVILLE)
____________________________________________
Profa. Dra. Virginia Souza de Carvalho Borges Kistmann (UFPR)
Joinville, 15 dezembro de 2008.
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo apoio, paciência e carinho durante a execução desse trabalho.
Ao meu esposo Marcus, por todo seu amor, dedicação e atenção para comigo. À Deus pela força e saúde para finalizar a presente dissertação.
À professora Dra. Denise Abatti Kasper Silva, pela amizade, paciência e inesgotável presteza nas suas orientações.
Ao professor Dr. Marco Fábio Mastroeni, pelas essenciais sugestões prestadas durante a sua co-orientação.
À banca examinadora, formada pelas professoras Dra. Virginia Kistmann (UFPR) e Dra. Nelma Baldin (UNIVILLE), por gentilmente aceitarem o convite para avaliação e pelas sugestões, críticas e comentários oferecidos, que certamente enriqueceram o estudo.
À equipe dos projetos de pesquisa e extensão ao qual o respectivo estudo esteve vinculado.
Às mulheres do Recriando com Fibras, pela oportunidade de realizar esta pesquisa com o grupo, mas principalmente, pela troca de conhecimentos e vivência nos dois anos de trabalho.
Ao professor Remi Lopes, que dispôs do seu tempo no esclarecimento de minhas inúmeras dúvidas.
Aos parceiros Instituto Consulado da Mulher e Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, pelo apoio.
Ao Técnico em Segurança do Trabalho, Alexandre de O. Tesin, pelas explicações e apontamentos sobre segurança no trabalho.
À equipe do Laboratório de Fisiologia do Exercício – LAFIEX da UNIVILLE. À engenheira Geórgia C. R. Campos da Divisão de Patrimônio da UNIVILLE, pelas
informações técnicas para o projeto da oficina de produção artesanal. Ao colegiado e funcionários do Programa de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente –
MSMA da UNIVILLE, pelas sugestões e suporte na conclusão desse trabalho.
À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa de estudo.
Aos coordenadores do Curso de Design da UNIVILLE, pela oportunidade de realização do estágio de docência.
Aos colegas do mestrado, pela vivência e companheirismo. Às amigas, pelo incentivo e atenção para a finalização dessa grande etapa.
A todas as demais pessoas que de alguma forma contribuíram para a concretização desse estudo.
Muito obrigada!
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................. 8
ABSTRACT ......................................................................................................................... 9 LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ 10
LISTA DE TABELAS........................................................................................................ 12 LISTA DE APÊNDICES ................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14 2 REVISÃO ....................................................................................................................... 20 2.1 REAPROVEITAMENTO DE FIBRAS NATURAIS..................................................... 20 2.2 O PAPEL: RECICLAGEM E PRODUÇÃO ARTESANAL .......................................... 22 2.3 O PAPEL DO DESIGN NA PRODUÇÃO ARTESANAL: DESIGN SOCIAL E ECODESIGN....................................................................................................................... 30 2.4 O AMBIENTE DE TRABALHO: ASPECTOS ERGONÔMICOS E DE SAÚDE E SEGURANÇA..................................................................................................................... 33 2.4.1 Abordagens em ergonomia.......................................................................................... 34 2.4.2 Trabalho muscular ...................................................................................................... 37 2.4.3 Projeto de estações de trabalho.................................................................................... 38 2.4.4 Manuseio de carga ...................................................................................................... 39
3 METODOLOGIA .......................................................................................................... 44 3.1 BASE METODOLÓGICA DA PESQUISA .................................................................. 44 3.2 SUJEITOS DE PESQUISA ........................................................................................... 46 3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................... 46 3.3.1 Grupo Recriando com Fibras – apoiado pelo projeto Mulher com Fibra ..................... 47 3.3.2 Laboratório de Modelagem do CAD ........................................................................... 49 3.4 ASPECTO ÉTICO......................................................................................................... 51
4 RESULTADOS............................................................................................................... 52 4.1 GRUPO RECRIANDO COM FIBRAS ........................................................................... 52 4.1.1 Caracterização do grupo Recriando com Fibras .......................................................... 52 4.1.2 Descrição da oficina e do método de produção do grupo Recriando com Fibras ......... 54 4.1.3 Descrição dos EPIs inicialmente fornecidos ao grupo.................................................. 57 4.1.4 Entrevista com o grupo Recriando com Fibras............................................................ 58 4.2 LABORATÓRIO DE MODELAGEM DO CAD........................................................... 61 4.3 PROPOSTA DE LAYOUT PARA A OFICINA DO RECRIANDO COM FIBRAS ........ 64
5 DISCUSSÃO................................................................................................................... 66 5.1 QUANTO AO GRUPO RECRIANDO COM FIBRAS.................................................... 66 5.2 QUANTO AOS EPIS .................................................................................................... 69 5.3 QUANTO A ESTRUTURA FÍSICA ............................................................................. 74 5.3.1 Proposta de layout da oficina das artesãs..................................................................... 80
CONCLUSÃO.................................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 84
APÊNDICE 1 ..................................................................................................................... 90
APÊNDICE 2 ................................................................................................................... 100 APÊNDICE 3 ................................................................................................................... 102
APÊNDICE 4 ................................................................................................................... 103 APÊNDICE 5 ................................................................................................................... 104
APÊNDICE 6 ................................................................................................................... 105 APÊNDICE 7 ................................................................................................................... 106
APÊNDICE 8 ................................................................................................................... 108 APÊNDICE 9 ................................................................................................................... 109
APÊNDICE 10 ................................................................................................................. 115 APÊNDICE 11 ................................................................................................................. 116
RESUMO
Capaz de valorizar a cultura de um lugar, o artesanato é hoje uma das formas mais eficazes de valorização do ser humano por meio de um trabalho rudimentar e com fortes características regionais. Porém, à medida que a produção artesanal ganha destaque, problemas relacionados à produção, ao produto e principalmente ao bem-estar dos envolvidos na atividade crescem na mesma proporção. Neste sentido, esta pesquisa se desenvolveu a partir das experiências vivenciadas junto a um grupo de mulheres artesãs, que produz papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira, com o intuito de estudar a oficina do grupo para então propor melhorias referentes à saúde e segurança dos envolvidos, tendo como base, o ergodesign. A base metodológica utilizada na pesquisa foi a qualitativa, especificamente, o tipo pesquisa-ação. A coleta de dados se deu junto ao Recriando com Fibras e junto ao grupo de acadêmicos participantes desse trabalho durante as atividades no Laboratório de Modelagem do Centro de Artes e Design (CAD) da Universidade. Como resultados delinearam-se algumas propostas de melhorias, que juntamente com as observações feitas pelas artesãs sobre o processo artesanal, foram aplicadas e reavaliadas. Estas propostas consideram o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), mudanças de móveis e equipamentos, além de aspectos relacionados à ergonomia e bem-estar das artesãs. Essas melhorias foram requisitos na criação de uma proposta de layout de uma nova oficina para o grupo, com a preocupação de não descaracterizá-la como de produção artesanal. Conclui-se que o emprego dos EPIs auxiliou na proteção das atividades realizadas durante a produção artesanal, além de ter proporcionado às artesãs maior confiança no trabalho que desenvolveram. Os conceitos de ergonomia aliados aos de segurança no trabalho demonstraram que a oficina apresentou problemas, mas que são possíveis de serem solucionados sem que para isso sejam necessários grandes investimentos.
PALAVRAS-CHAVE: artesanato, ergodesign, papel reciclado artesanal, saúde e segurança.
ABSTRACT
Handicraft arts can value a place’s culture by means of rudimentary work with strong local characteristics. But, while handicraft production gains prominence, manufacturing, product and especially human welfare related problems grow as well. This research was developed through experience with a group of women artisans which produces banana fiber reinforced handicraft recycled paper with goal to study her workshop and handicraft production and then to suggest enhancements related to health and safety, based on ergodesign. The methodological base was qualitative, specifically action-research, and by application method, the participating observation. Data collection was done in the artisan´s workshop and with academics the Art and Design Center Modelling Laboratory (CAD). The results generates were some enhancements proposals which, along with observations taken from the artisans about handicraft process, where applied and reevaluated. This proposals consider use of individual protection equipment, furniture, equipment changes and ergonomic and artisans welfare-related aspects. These changes were requisite on the creation of a layout proposal to a new workshop for the group concerning about not untypifiing it as handicraft production. We conclude that the use of IPE protects during activities on handicraft production besides giving more confidence to the artisans. The ergonomic concepts united with safety concepts demonstrated that the workshop has problems, but they have low cost solution possibilities. KEYWORDS: handicraft, ergodesign, handicraft recycled paper, health and safety.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: “A” Santo com palha de milho e bananeira; “B” Renda de bilro; “C” Personagens da festa do boi-de-mamão; “D” Cestas e adornos indígenas. ..................................................... 15 Figura 2: Partes da bananeira, Musa sp................................................................................. 21
Quadro 1: Dados da bananicultura em Santa Catarina – 2006............................................... 21 Quadro 2: Produção de papel no Brasil, em toneladas - 2007................................................ 23
Quadro 3: Distribuição estadual do consumo de aparas e papéis usados - 2006..................... 25 Figura 3: As quatro fases mais importantes do fabrico do papel: a preparação da fibra, a formação da folha, a prensagem e a secagem........................................................................ 25 Figura 4: (1) varal; (2) buréis – feltros; (3) moldes – formas e marcos; (4) fonte de água; (5) zona de água com escoamento; (6) prensa; (7) ventilação; (8) bidons; (9) tinas e (10) tabuleiros. ............................................................................................................................ 26
Figura 5: Extração do pseudocaule da bananeira no bananal. ................................................ 28 Figura 6: Organograma do processo de produção de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira................................................................................................................. 29 Figura 7: “A” Porta-clipes do Núcleo Nacional de Reciclagem e “B” Jogo americano do grupo de mulheres de Pitombeira. ........................................................................................ 31 Figura 8: Quadro do parecer ergonômico: Formulação do problema e sugestões preliminares de melhoria. ......................................................................................................................... 36 Figura 9: Força muscular em relação à idade e ao sexo, segundo Hettinger (1960). .............. 37
Figura 10: Alturas de mesas recomendadas para trabalhos em pé. ........................................ 38 Quadro 4: Limites toleráveis a ruídos em diversos tipos de atividades. ................................. 39
Figura 11: Postura da coluna e distribuição da carga nos discos invertebrais no levantamento de pesos. .............................................................................................................................. 40
Figura 12: “A” Visão externa da oficina; “B” Visão interna da oficina; “C” Desenvolvimento de produtos. ......................................................................................................................... 54 Figura 13: “A” Papel picotado; “B” Fogões e botijão de gás; “C” Liquidificadores caseiros. 55
Figura 14: “A” Maceração; “B” Polpa de aparas; “C” Polpa de fibra de bananeira”.............. 55 Figura 15: “A” Caixa d´agua; “B” Telas e molduras; “C” Bancada. ..................................... 56
Figura 16: “A” Prensa hidráulica; “B” Varal. ....................................................................... 56 Figura 17: Kit básico de EPIs entregue às mulheres do grupo em outubro de 2007. .............. 57
Figura 18: “A” Carregar baldes cheios de polpa e água; “B” Carregar e virar panelas quentes; “C” Uso do liquidificador cheio de polpa; “D” Uso do cilindro na maceração; “E” Curvar o corpo no tanque para produzir folhas; “F” Esforço para usar a prensa................................... 62 Figura 19: “A” Fragmentadora; “B” Cozimento das polpas; “C” Liquidificador industrial. .. 63
Figura 20: “A” Contato com papel armazenado há muito tempo; “B” Contato com hipoclorito de sódio e hidróxido de sódio; “C” Contato com água, cola e polpa no tanque...................... 63 Figura 21: “A” Possível respingo da água quente e forte cheiro provocado pela inalação do vapor cáustico; “B” Uso de faca para cortar a fibra de bananeira; “C” Chão molhado. ......... 64 Figura 22: Proposta de layout da oficina do Recriando com Fibras. ..................................... 65
Figura 23: “A” Luva nitrílica; “B” Luva 100% silicone; “C” Máscara PFF2 Valvulada; “D” Avental de plástico; “E” Toca de rede. ................................................................................. 71
Figura 24: Papéis produzidos pelo grupo de mulheres no primeiro ano de atuação do projeto: “A” papel com 100% fibra de bananeira e cola de quiabo; “B” papéis com polpa de papel de escritório e fibra de bananeira em diversas proporções; “C” papel branco com aplicação de folhas secas; “D” papel com polpa de papel de escritório, fibra de bananeira, casca de cebola e alho e pó de café. ................................................................................................................. 92 Figura 25: Oficinas em parceria com o Projeto Matur(i)dade................................................ 93
Figura 26: Curso de extensão “Papel reciclado artesanal com aplicações de resíduos do cotidiano” ministrado em outubro de 2007. .......................................................................... 93
Figura 27: “A” Participantes do projeto Mulher com Fibra; “B” Formação do papel artesanal; “C” Grupo formado no primeiro ano de atuação do projeto. ................................................. 95
Figura 28: Marca do projeto Mulher com Fibra.................................................................... 96 Figura 29: “A” Luminárias; “B”cartões; “C” e “D” embalagens diversas. ............................ 97
Figura 30: Marca do grupo Recriando com Fibras apoiado pelo projeto Mulher com Fibra. 98 Figura 31: “A” 1º Feira de Produtos Artesanais e Agroecológicos da Economia Solidária Norte Catarinense, em 2007; “B” Exposição no Dia do Meio Ambiente do Jornal A Notícia, em 2008; “C” 22º Encatho - Encontro Catarinense de Hoteleiros, em 2008. ......................... 99
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Descrição do kit básico de EPIs. ........................................................................... 48
Tabela 2: Medidas antropométricas das participantes do Recriando com Fibras - 2008. ....... 60 Tabela 3: Altura de móveis e equipamentos da oficina do Recriando com Fibras - 2008. ..... 60
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice 1: Projeto de Extensão Mulher com Fibra................................................................90
Apêndice 2: Formulário - perfil do grupo...............................................................................100 Apêndice 3: Ficha-controle de entrega de EPIs......................................................................102
Apêndice 4: Roteiro da primeira entrevista (Outubro/2007)..................................................103 Apêndice 5: Pôster que apresenta imagens do grupo e das etapas de produção do papel artesanal..................................................................................................................................104 Apêndice 6: Roteiro da segunda entrevista (Setembro/2008)................................................105
Apêndice 7: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................................................106 Apêndice 8: Lista de materiais necessários para uma oficina de papel reciclado artesanal ................................................................................................................................................108 Apêndice 9: Quadro do parecer ergonômico..........................................................................109
Apêndice 10: Imagens dos equipamentos sugeridos para a melhoria da oficina....................115 Apêndice 11: Detalhamento da proposta de layout da oficina das artesãs.............................116
1 INTRODUÇÃO
O artesanato é responsável por resgatar particularidades de uma determinada cultura e
transportá-las para um produto, em cujo desenvolvimento prevalece a habilidade manual e a
possibilidade do seu agente produtor – o artesão, intervir em cada peça individualmente. A
produção artesanal não apenas preserva a tradição popular e a identidade cultural de uma
comunidade, mas é tão ou mais importante por apresentar, em sua essência, um papel social
capaz de contribuir como forma de expressão e de socialização, além de ser fonte potencial de
emprego e renda.
Desde que o homem começou a produzir os primeiros artefatos deu início a um
compromisso entre a arte e a técnica. Os termos “arte” e “técnica” apresentam o mesmo
sentido no latim e no grego e indicam, de uma maneira geral, o exercício de um ofício, que
compreende a habilidade adquirida por aprendizagem e ainda, os conhecimentos necessários
para realizá-lo. O “artista”/artesão medieval era o trabalhador especializado neste setor e sua
atividade pertencia às “artes mecânicas”, por oposição às “artes liberais” que eram os saberes.
Mas a partir dos séculos XVI ao XVIII os artesãos independentes da Idade Média tendem a
desaparecer e, em seu lugar, surgem os assalariados, que dependerão, segundo o mesmo autor,
do capitalista-mercador-intermediário-empreendedor (MORAES, 1999).
Muitas vezes, o artesanato é produzido por meio do conhecimento popular aliado ao
emprego de novas tecnologias. Entende-se por conhecimento popular ou sabedoria popular, o
conhecimento empírico, ou fundado no senso comum, que tem sido uma característica
ancestral, cultural e ideológica dos que estão na base da sociedade. A partir desse tipo de
conhecimento é possível criar, trabalhar e interpretar, predominantemente com os recursos
naturais diretos oferecidos ao homem (BORDA, 1982).
Safar (2002) complementa afirmando que a base do conhecimento no trabalho
artesanal é pessoal, ou seja, o artesão conhece intimamente o seu trabalho, o material, as
ferramentas, suas capacidade e limitações. Suas atitudes são mais sensíveis do que analíticas,
o que resulta, portanto, no ato criativo, que é uma síntese das experiências adquiridas.
O artesanato é uma das formas mais naturais de expressão de um povo. Por possuir
uma forte influência européia, indígena e negro-africana, aliada à enorme riqueza de
elementos naturais, o artesanato brasileiro apresenta as mais diversas particularidades que,
freqüentemente, o distingue do restante da produção artesanal no mundo. Neste contexto, o
15
artesanato do estado de Santa Catarina que, fruto da influência das inúmeras correntes
migratórias, encanta por sua tradição caracterizada pelos alemães, no trabalho em palha de
milho e bananeira (Figura 1 – A), pelos portugueses, que trouxeram a renda de bilro (Figura 1
– B) e uma das festas mais populares do estado, a do boi-de-mamão (Figura 1 – C), além dos
mais variados artefatos produzidos pelos indígenas, como cestas e adornos de sementes e
fibras vegetais (Figura 1 – D) (A ARTE DO ARTESANATO BRASILEIRO, 2002;
FAJARDO et al., 2002 e SEBRAE, 2008).
Figura 1: “A” Santo com palha de milho e bananeira; “B” Renda de bilro; “C” Personagens da festa do boi-de-mamão; “D” Cestas e adornos indígenas. Fonte: A Arte do Artesanato Brasileiro (2002), Fajardo et al. (2002) e Sebrae (2008).
A partir de um baixo custo de investimento, o artesanato atenua o crescimento
desordenado dos centros urbanos, promove a inserção da mulher e do adolescente em atividades
produtivas, estimula a prática do associativismo e fixa o artesão no local de origem, além de
utilizar, por muitas vezes, matérias-primas naturais (PEREIRA, 1979; SEBRAE, 2008).
Segundo dados do Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (2007), embora ainda existam praticamente na informalidade no Brasil, estima-se
que o artesanato gere 8,5 milhões de empregos e movimente cerca de R$ 28 bilhões/ano,
cerca de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), o que demonstra o seu importante papel social
como grande gerador de trabalho, renda e cidadania. Outro número apontado pelo Sebrae
16
(2008) foi que, em 2006, conforme dados da Agência de Promoção de Exportações e
Investimentos (Apex), o Brasil exportou R$ 1,41 milhões em artesanato.
Por considerar a produção artesanal uma importante atividade econômica, o país conta
com programas governamentais de apoio ao artesanato nacional, como o Comunidade
Solidária, que desenvolve ações voltadas para comunidades mais carentes, e o Programa do
Artesanato Brasileiro (PAB) gerenciado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior - MDIC. Segundo o sitio virtual desse Ministério (2008), o PAB tem por
finalidade instituir ações com objetivo de enfrentar os desafios, potencializar as muitas
oportunidades existentes para o desenvolvimento do setor artesanal, estimular o
aproveitamento das vocações regionais, preservar as culturas locais e formar uma mentalidade
empreendedora por meio da preparação das organizações e de seus artesãos para o mercado
competitivo e, assim, gerar oportunidades de trabalho e renda.
As atividades que envolvem a produção artesanal ajudam a melhorar a auto-estima de
pessoas e até mesmo de comunidades, pois criam possibilidades para o exercício da cidadania
(FAJARDO et al., 2002). Para o Sebrae (2008) a profissionalização da produção artesanal
vem se mostrando uma ferramenta de grande eficiência para a geração de ocupação e renda e
melhoria de qualidade de vida em todo o país, principalmente se a comunidade em que
atender for carente. Porém, para que o artesanato cumpra esse papel de forma eficaz, é preciso
estimular o empreendedorismo e o associativismo.
A formação de grupos artesanais, como associações e cooperativas, é uma forma
eficaz de atender esses segmentos. Já a presença da mulher nesses grupos, é uma forte
tendência no artesanato brasileiro. A mulher, com freqüência, se insere no mercado informal,
pois nele é possível conciliar a rotina doméstica e o fazer profissional que podem ser
desenvolvidos na própria residência e em jornada de trabalho determinada por ela mesma
(MAIA e LIRA, 2002).
Brito (2005) aponta que a mulher sempre trabalhou. O problema é, portanto,
reconhecer o trabalho profissional realizado por esse grupo, deixar de tomar suas
competências como qualidades naturais e afastar a relação de iminência entre trabalho
doméstico e trabalho profissional.
A Geração de Trabalho e Renda (GTR) é uma das formas que a mulher encontra para
construir a sua autonomia e conseqüentemente, a sua dignidade perante si mesma e a sociedade.
Para tanto, a Economia Solidária, compreendida como um conjunto de atividades econômicas
organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob forma coletiva e
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auto gestionária, é um dos principais agentes facilitadores da GTR, bem como da eqüidade
socioeconômica de gênero e da importância da mulher (ANSELMO et al., 2006).
Com fortes características de cooperação, autogestão, viabilidade econômica e
solidariedade, os Empreendimentos de Economia Solidária (EES) constituídos por
cooperativas, associações, grupos de produção, organizações suprafamiliares e clubes de
troca, estão em constante expansão no Brasil, conforme descreve o mapeamento realizado dos
EES pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2005. Nesse mapeamento, foram
identificados quase 15 mil EES em 41% dos municípios brasileiros, destes 17% encontrava-se
na região sul. A variedade de atividades trabalhadas é inúmera e, no contexto de produtos
artesanais, os mesmos estão em 3º lugar com 13,9% da produção realizada no país. Já os
principais motivos para a criação ou participação em um EES estão o “obter maiores ganhos”
e o “fonte complementar de renda” (ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2006).
Os empreendimentos que seguem os princípios da Economia Solidária não podem
desconsiderar a preservação do meio ambiente e dos recursos nele existentes, pois desta forma
está implícita a solidariedade com as gerações futuras (GALLO et al., 2005). Cabe aqui
destacar que 32% dos EES afirmam realizar reaproveitamento de resíduos (ATLAS DA
ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2006).
Porém, o setor artesanal tem passado por avaliações e reestruturações quando refere-se
ao processo produtivo, ao produto e ao mercado. Safar (2002) identificou em suas pesquisas
que, no passado, o artesão não precisava estar atento aos seus processos de trabalho, aquisição
de novos conhecimentos ou técnicas e nem na gestão do seu negócio.
Com o crescimento de demanda por produtos artesanais, estes aspectos se tornaram
elementos importantes para o sucesso da qualidade dos produtos produzidos, visto que, à
medida que surgem as oportunidades de venda, intensificam-se a dedicação e as horas
trabalhadas do artesão, bem como, segundo Wisner (1987), o aumento das cargas físicas,
psíquicas e cognitivas. Lembrando ainda que muitos dos sistemas produtivos deste segmento
são extremamente rudimentares e foram construídos para a produção de poucas peças.
A soma destes fatores – estrutura rudimentar, aumento de horas trabalhadas e de peças
produzidas e falta de controle da produção, decorrem em um prejuízo na qualidade final do
produto e, principalmente, na saúde e no moral desse trabalhador (SAFAR, 2002).
Neste cenário do fazer artesanal surge a oportunidade de aplicar o ergodesign que,
segundo Van der Linden (2007) é o projeto, ou design, orientado aos fatores ergonômicos.
Neste trabalho, o tema é abordado na melhoria de um ambiente de produção de papel
reciclado artesanal.
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Em publicação realizada pelo Sebrae (p. 40, 2008) vimos que: “O artesanato e o meio
ambiente convivem lado a lado, visto que grande parte da matéria-prima utilizada na
produção tem origem no extrativismo vegetal ou mineral”. Dentre as diversas possibilidades
de uso de resíduos está o reaproveitamento de fibras naturais e a reciclagem do papel para a
produção artesanal.
Como fonte de matéria-prima natural disponível, o emprego de fibras naturais na
fabricação de papel artesanal, como a da bananeira, é uma alternativa que além de atribuir
valor estético ao papel, proporciona-lhe um reforço. Garavello e Soffner (1997) já afirmavam
em relatório técnico que o uso da fibra de bananeira pode melhorar a qualidade do papel
reciclado, pois este tipo de papel perde parte de suas características originais, devido ao duplo
processo de tratamento.
Neste sentido, partindo de uma pesquisa aplicada experimental e interdisciplinar,
Bastianello (2005) propôs o uso de fibras vegetais de bananeira (cultivar Nanicão) e do arroz
“109”, selecionadas por serem culturas predominantes na região Nordeste do estado de Santa
Catarina, na fabricação de papel reciclado artesanal, e para posterior desenvolvimento de uma
embalagem ambientalmente amigável que pudesse ser empregada como alternativa de renda
para grupos do interior da região de Joinville/SC. Bastianello (2005) identificou por meio de
testes físico-mecânicos que a fibra de bananeira foi a melhor opção e seus resultados
contribuíram para a parceria entre a Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE e a
Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho – FMDR 25 de Julho, que
originou em 2006 o trabalho de extensão universitária denominado “Inclusão de novas
tecnologias e geração de rendas sustentáveis para as comunidades produtivas rurais da região
de Joinville/SC” e este por sua vez, gerou o projeto “Mulher com Fibra”, que encontra-se
detalhado no Apêndice 1.
O projeto Mulher com Fibra objetiva desenvolver produtos em produção
comunitária a partir de resíduos de papel de escritório e de subprodutos do cultivo da
banana, apoiando inicialmente um grupo formado por mulheres de Joinville/SC, o
Recriando com Fibras, que, além do gosto pelo fazer tradicional, buscam no artesanato
outra forma de gerar trabalho e renda.
A técnica de produção do papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira
adotado pelo projeto Mulher com Fibra é o mesmo utilizado por Bastianello (2005).
Entretanto, durante o período de repasse da técnica para as mulheres, foram observados
diversos fatores relacionados com a sustentabilidade do processo e produto. Fatores estes
apontados como não condizentes ao ergodesign e ao bem-estar das pessoas envolvidas na
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atividade, pois abrangem questões de saúde e segurança, como esforço e má postura do
indivíduo na produção da matéria-prima, bem como no uso de equipamentos, falta de
equipamentos de proteção individual, entre outros (ANSELMO et al., 2007).
A partir dessas primeiras observações na oficina das mulheres apoiadas pelo projeto
Mulher com Fibra, e ainda, que o ambiente de trabalho e como ele se realiza refletem na
formação da qualidade de um produto e, também, na qualidade de vida do trabalhador,
percebeu-se a importância de uma análise e atuação mais específicas para orientar o grupo
de mulheres e propor melhores condições de produção do papel artesanal reforçado com
fibra de bananeira.
Desse modo, o objetivo principal desse trabalho foi avaliar um ambiente de produção
de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira sob os aspectos da segurança do
trabalho aplicando o ergodesign como princípio. Como objetivos específicos definiram-se:
Identificar as características da oficina do grupo Recriando com Fibras que
precisam de interferência, quanto a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e aspectos
ergonômicos;
Propor e analisar alterações no ambiente de trabalho e nos equipamentos para a
segurança dos envolvidos, sem descaracterizá-lo como artesanal;
Sugerir a partir da análise um layout para uma oficina de produção de papel
artesanal.
Como pergunta da pesquisa definiu-se se seria possível aplicar melhorias quanto à
estrutura física e equipamentos num ambiente artesanal sem descaracterizá-lo como tal.
A estrutura da dissertação foi dividida em seis seções. A primeira, já apresentada,
consistiu na introdução, na qual foi identificada a contextualização do trabalho, a justificativa
e os objetivos da dissertação. Na segunda seção apresenta-se a revisão bibliográfica sobre o
reaproveitamento de fibras naturais, o papel do design (design social) neste segmento e das
possibilidades de atuações do ecodesign. Ainda na mesma seção, abordam-se alguns conceitos
de ergonomia e segurança no trabalho, temas que se destacaram para o desenvolvimento desta
pesquisa. A terceira seção é dedicada à metodologia qualitativa adotada para esta dissertação
e seus aspectos éticos. Os resultados alcançados estão apresentados na quarta seção e, na
quinta, as discussões. Na sexta seção encontram-se as conclusões e as sugestões para o
desenvolvimento de novos trabalhos sobre o tema estudado.
2 REVISÃO
2.1 REAPROVEITAMENTO DE FIBRAS NATURAIS
Garavello e Molina (2005) discutem que, no intuito de reaproximar o homem à
natureza, buscam-se novas fontes de materiais naturais, como as fibras, e o resgate de técnicas
tradicionais, em oposição à produção para o consumo e a construção de ambientes artificiais,
característicos do avanço tecnológico e industrial.
O Brasil utiliza as fibras naturais nos mais variados setores: na forma convencional,
como na produção de vassouras, bolsas e tapetes, e ainda em setores como a indústria
automobilística, têxtil e na construção civil, quando combinada com argila e polímeros, acaba
tornando-se um componente para a formação de materiais compósitos
(SATYANARAYANA, 2007).
Já a fibra de bananeira, em específico, insere-se numa tendência mundial de utilização
de fibras naturais na composição de ambientes e de objetos de design e artesanato. Com
ampla diversidade de texturas e tonalidades, tem proporcionado versatilidade e beleza
estética, tornando possível a composição de objetos originais e individualizados
(GARAVELLO e MOLINA, 2005).
A referida fibra possui um grande potencial de aplicação por ser o Brasil o 3º maior
produtor de banana no mundo, atrás apenas da Índia e Equador. A espécie mais cultivada no
Brasil é a Musa cavendishi, variedade nanicão (SATYANARAYANA, 2007).
Soffner (2001) ilustra que a bananeira (Figura 2) é um vegetal herbáceo completo,
típico das regiões tropicais úmidas, que possui raiz, caule subterrâneo, folhas, flores, frutos e
sementes.
21
Figura 2: Partes da bananeira, Musa sp. Fonte: Soffner, 2001.
Em 2006, foi possível produzir no Brasil aproximadamente 7 milhões de toneladas de
cachos de banana, o que representou um aumento de 3,8%, relativamente à quantidade
colhida no ano anterior. O rendimento médio nacional da cultura foi em torno de 14 t de
cachos/ha., e engloba as diferentes produtividades das diversas cultivares exploradas no país
(IBGE, 2006a).
Bahia e São Paulo são os maiores produtores da fruta, concentrando 34% da produção
nacional. O Estado de Santa Catarina está em terceiro lugar, contribuindo com
aproximadamente 9% desta produção. Dados do IBGE (2006b) mostram ainda que a
bananicultura, como lavoura permanente, produziu no estado de Santa Catarina em 2006 os
números apresentados no Quadro 1:
Banana – quantidade produzida 596.636 Tonelada Banana – valor da produção 181.745 Mil reais Banana – área plantada 30.672 Hectare Banana – área colhida 30.672 Hectare Banana – rendimento médio 19.452 kg/hectare
Quadro 1: Dados da bananicultura em Santa Catarina – 2006. Fonte: IBGE (2006b)
Uma das principais características deste cultivo é que, após a colheita do cacho, a
planta produtora tem o seu pseudocaule (“tronco”) cortado, já que não voltará a dar frutos,
sendo indicada sua remoção para favorecer o desenvolvimento de um novo broto de planta.
22
Deste procedimento, podem resultar resíduos que normalmente não são aproveitados pelo
produtor, ou seja, tornam-se resto de cultura, como folhas, pseudocaule e engaço (SILVA e
GARAVELLO, 2006).
Soffner (2001) explica que os pseudocaules e as folhas são utilizados no solo como
cobertura morta para manter a umidade e evitar a erosão, controlar as plantas daninhas e
retornar os nutrientes, o que contribui para a redução dos custos da adubação do bananal. Já o
engaço, ou ráquis, pode ser separado das pencas de banana no bananal ou somente na etapa de
embalagem em centros distribuidores ou casas de embalagem, o que gera problemas
ambientais e fitossanitários, devido ao seu grande volume e rápida degradação.
Estima-se que um bananal conduzido de maneira convencional pode fornecer cerca
de 200 t/h/ano de restos de cultura, compreendendo engaço, folhas e pseudocaule
(MOREIRA, 1987).
O uso das fibras da bananeira como matéria-prima para a produção de papel tem sido
uma possibilidade comprovada por diferentes pesquisas já realizadas em países que são
grandes produtores do cultivo, como Costa Rica, Guatemala e Filipinas. Sua viabilidade
técnica tem demonstrado o uso das fibras extraídas do pseudocaule, engaço e ráquis
(GARAVELLO e SOFFNER, 1997).
2.2 O PAPEL: RECICLAGEM E PRODUÇÃO ARTESANAL
A palavra “papel” provém do nome grego da planta papyros. Já sua invenção é
atribuída ao chinês T´sai Lun no ano de 105 a.C. que conseguiu criar os primeiros papéis da
história a partir de fibras vegetais extraídas de trapos, redes de pescar, casca de amoreira,
rami, cânhamo ou bambu (ASUNCIÓN, 2002).
Pereira, J.L. (2003) denomina o papel como aquela folha delgada obtida a partir da
união física de materiais fibrosos, principalmente a celulose, previamente hidratados.
A sua produção pode se dar industrialmente e artesanalmente. O processo industrial
garante a uniformidade do papel, e a sua produção em escala, o barateamento da folha
(PEREIRA, J.L., 2003).
23
Dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel – BRACELPA (2008) destacam o
Brasil entre os maiores produtores de celulose e papel no mundo, ocupando o 6º do ranking na
produção de celulose e o 11º na de papel. Em 2007 o país produziu quase 9 milhões de
toneladas de papel (Quadro 2), dentre as quais destaca-se a produção de papéis para
embalagem, para imprimir e escrever.
Tipo de Papel 2007 Jan - Fev/07 Jan - Fev/08 Papel de Imprensa 143.523 23.269 20.633 Papel de Imprimir e Escrever 2.493.236 411.020 411.176 Papel de Embalagem 4.367.365 687.378 725.518 Papel para fins sanitários 812.594 132.402 140.516 Papel cartão 635.999 101.802 117.536 Cartolinas 46.275 8.166 7.402 Outros 466.978 77.276 76.100 Total 8.965.970 1.441.313 1.498.881
Quadro 2: Produção de papel no Brasil, em toneladas - 2007. Fonte: Bracelpa, 2008.
Já o processo artesanal é aquele realizado manualmente pelo artesão papeleiro
(ASUNCIÓN, 2002). Neste tipo de papel podem ser utilizadas aparas para a formação básica
da pasta e, ainda, o acréscimo de outras substâncias ou recursos naturais, tais como flores,
folhas, palhas, cascas e fibras para diferenciar os produtos finais. Aparas é a denominação
dada ao papel que resulta das atividades comerciais, industriais e domésticas, entre outras
fontes, que são utilizadas para fins de reciclagem (PEREIRA, J.L., 2003).
A reciclagem de papel é um procedimento em prol da conservação da natureza, já que
em seu propósito transforma algo que só tem custo, o lixo, em algo com valor, contribuindo,
portanto, com a diminuição do lixo nos aterros e com o aumento da geração de empregos,
além de subsidiar estratégias de conscientização da população para o tema ambiental e
promover o uso eficiente dos recursos, conforme descreve o relatório dos Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável do Brasil (IDS, 2008).
Glavic e Lukman (2007) apresentam uma definição de reciclagem da Agência
Européia de Desenvolvimento – EEA (2004), que a define como um método de valorização
de recursos que envolvem a coleta e o tratamento de resíduos para uso como matéria-prima na
fabricação do mesmo tipo de produto ou similar.
Reciclar papel, segundo o Manual de Gerenciamento Integrado do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas – IPT (1995) significa fazer papel utilizando matérias-primas como
papéis, cartões, cartolinas e papelões, provenientes de: 1) rebarbas geradas durante os
24
processos de fabricação destes materiais, ou de sua conservação em artefatos, ou ainda
geradas em gráficas; e 2) artefatos destes materiais pré ou pós-consumo. O mesmo manual do
IPT afirma, ainda, que nem todos os tipos de papéis podem ser empregados na reciclagem,
como o papel vegetal ou glassine, o papel impregnado com substâncias impermeáveis à
umidade (resina sintética, betume, etc.), o papel-carbono, o papel sanitário usado (higiênico,
toalha, guardanapo, lenços), o papel sujo, engordurado ou contaminado com produtos
químicos nocivos à saúde e ainda, certos tipos de papéis revestidos com parafina e silicone.
A reciclagem de papel depende da forma como os recursos são utilizados no próprio
processo de reciclagem. Portanto, somente será viável quando garantir significativamente a
proteção do meio ambiente e a conservação de energia (PEREIRA, J.L., 2003).
Villanueva e Wenzel (2007) discutem que reciclar papel ainda é mais eficiente do que
destiná-lo à aterros e incineração. Apresentam também algumas vantagens deste tipo de
reciclagem como uma atividade que utiliza menos energia, têm menor impacto energético,
uma menor geração de resíduos e de substâncias tóxicas se comparada às outras categorias.
Num país em que o consumo aparente per capita de papel em 2006 foi de 41,2
kg/hab/ano - a média mundial é de 58,0 kg/hab/ano, trabalha-se para que a recuperação de
papéis recicláveis no país se torne cada vez mais intensa e eficiente. Dados mostram que são
processados por ano 3,5 milhões de toneladas de papel reciclado, o valor corresponde a 45%
de reaproveitamento do material produzido no país. Na Coréia do Sul, campeã mundial desse
tipo de reciclagem, a taxa é de 78% (BRACELPA, 2008).
No entanto, mesmo com campanhas de conscientização o crescimento da proporção de
material reciclado no Brasil ainda é lento. No período de 1993-2006 a reciclagem de papel
aumentou de 39% para 45%. Contudo, o aumento nos preços das matérias-primas e da
energia, associado a legislações cada vez mais exigentes, deve fazer com que os índices de
reciclagem de materiais recicláveis, como alumínio, papel, vidro, embalagens PET, latas de
aço e embalagens longa vida pelo menos mantenham a tendência de crescimento no longo
prazo (IDS, 2008).
Dentre os maiores contribuintes para o consumo de aparas e papéis usados estão os
estados de São Paulo e Santa Catarina, com 36% e 20% respectivamente, conforme Quadro 3,
que apresenta a distribuição estadual do consumo de aparas e papéis usados em 2006.
25
Estado 1000 t Participação % São Paulo 1.258,0 36,0% Santa Catarina 705,9 20,2% Paraná 452,3 12,9% Minas Gerais 429,6 12,3% Rio de Janeiro 180,2 5,2% Rio Grande do Sul 120,9 3,5% Pernambuco 118,8 3,4% Bahia 91,2 2,6% Paraíba 44,1 1,3% Outros 95,5 3,0% Total 3.496,5 100,0%
Quadro 3: Distribuição estadual do consumo de aparas e papéis usados - 2006. Fonte: Bracelpa, 2008.
A técnica de reciclagem pode ser empregada na produção de matéria-prima para a
confecção de novos produtos e gerar outra forma de renda, como o é o caso do papel reciclado
artesanal. Diversos são os processos de produção de papel artesanal com e sem adição de
fibras vegetais, como a da bananeira, destacando-se os apresentados por Garavello e Soffner
(1997), porém, para este trabalho dissertativo serão explorados os métodos de Asunción
(2002) e Bastianello (2005).
Segundo Asunción (2002) a confecção do papel artesanal compreende quatro fases:
preparação da pasta, formação da folha até sua saída da prensa e o acabamento, conforme a
Figura 3.
Figura 3: As quatro fases mais importantes do fabrico do papel: a preparação da fibra, a formação da folha, a prensagem e a secagem. Fonte: Asunción (2002, p.14).
26
O referido autor destaca ainda que, para produzir papel artesanal é preciso uma
estrutura adequada, ou seja, uma oficina que necessariamente possua uma boa ventilação e um
correto sistema de escoamento de água, devido à forte presença da água como meio para
fabricar o papel (ASUNCIÓN, 2002). A imagem da Figura 4 ilustra a organização de uma
pequena oficina de papel artesanal e seus principais equipamentos:
Figura 4: (1) varal; (2) buréis – feltros; (3) moldes – formas e marcos; (4) fonte de água; (5) zona de água com escoamento; (6) prensa; (7) ventilação; (8) bidons; (9) tinas e (10) tabuleiros. Fonte: Asunción (2002, p.51).
A descrição do processo de fabricação do papel artesanal proposto por Bastianello
(2005) se baseia nos procedimentos descritos por Josep Asunción (2002). Esse método é o
mesmo adotado pelo projeto Mulher com Fibra e que, além de um espaço físico, necessita de
materiais, equipamentos e matérias-primas, conforme Bastianello (2005) descreveu em sua
pesquisa. Já as fases de fabricação se dividem, basicamente, em:
Fase 1 – Preparação de polpa branca a partir de aparas: Separação; Picotagem;
Desinfecção; Cocção e Polpação.
Para a realização desta fase é necessário selecionar as aparas de papel e separá-las de
outros papéis, como jornais, revistas e papéis plastificados. Estas folhas devem estar
27
desprovidas de quaisquer manchas (mofo, sujeira ou gordura) e de grampos e clipes
(separação). A seguir, as aparas devem ser picadas manualmente com tamanho de 3x4 cm ou
com o auxílio de fragmentadora (picotagem). A etapa de desinfecção ocorre quando o
material picotado é colocado em recipiente plástico (balde) com adição de hipoclorito de sódio
(água sanitária) e água potável até que fiquem imersas. Para cada 100 g de aparas de papel,
adiciona-se 5 ml de água sanitária. A partir desse momento, as aparas chamam-se polpas e
devem ser conservadas em molho por um dia, posteriormente, lavadas em água corrente
(torneira), com o auxílio de peneiras para reter a polpa e eliminar a água. Este processo deve
ser repetido por, pelo menos, mais duas vezes. A próxima etapa é a cocção, que consiste em
colocar a polpa em uma panela de alumínio com água e hidróxido de sódio (soda cáustica),
para obter uma solução 0,05 (m/v), deixar cozinhar a polpa até ferver e em seguida marcar 30
min de cocção. O próximo passo caracteriza-se por esfriamento (a polpa cozida com soda
deve ser despejada ainda quente em um recipiente para esfriamento, pois a soda provoca
corrosão no alumínio) e lavagem da polpa em água corrente por 3 vezes, também com auxílio
de peneiras. Como última etapa desta fase, a polpação consiste em bater em liquidificador a
polpa com água até formar uma massa mais refinada, isso é garantido considerando-se que para
cada 100 g de polpa utiliza-se 1 L de água e deixa-se liquidificar por 30 s. Posteriormente a
polpa é coada, acondicionada em baldes e conservada em um refrigerador sem congelar.
Fase 2 – Preparação de polpa de fibra de bananeira: Separação; Maceração;
Picotagem, Desinfecção; Cocção e Polpação.
Para a produção da polpa de fibra de bananeira, devem ser extraídos pseudocaules
(Figura 5) já em estágio de senescência (ciclo vegetativo finalizado). Separá-los
manualmente em camadas, eliminando as extremidades com o auxílio de facas (separação).
Cortar as fibras em sentido longitudinal com largura máxima de 5 cm. Macerar as fibras com
o apoio de martelo, tipo batedor de carne, para a quebra das paredes parenquianas e
separação dos sais minerais existentes (maceração), e picar as fibras em pedaços menores
(picotagem). A seguir, a fibra percorre o mesmo processo de desinfecção, cocção e polpação
da produção da polpa de papel descrita na fase 1.
28
Figura 5: Extração do pseudocaule da bananeira no bananal. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Fase 3 – Obtenção de folhas de papel artesanal: Confecção; Prensagem e
Secagem.
A confecção consiste em adicionar as polpas e aglutinantes (cola branca ou cola de
quiabo) em um tanque com água que permita cobrir a metade da tela em pé. A quantidade e a
proporção da polpa irão depender do tipo de papel que se quer produzir: 100% polpa de papel,
100% polpa de fibra, a mistura das duas polpas, etc. Em seguida, a tela deve ser mergulhada
no tanque, elevar na posição horizontal, planando-a com movimentos circulares para escorrer
o excesso de água. Em uma bancada, devem estar carpets já umedecidos, onde
cuidadosamente será transferida a folha da tela, a seguir coloca-se uma folha de TNT. Após
serem intercaladas 10 folhas de papel com carpet e TNT, este conjunto deve ser prensado
com 10 t, levada à bancada para trocar carpet e TNT, adicionando feltros entre eles e prensar
mais uma segunda vez, agora com 6 t. Por último, pendurar as folhas para secarem em varal
convencional com o prendedor fixo no carpet. Depois de secas, as folhas podem passar por
um processo de acetinagem, que consiste em passar com um ferro quente o papel para deixá-
lo sem rugosidades.
Cabe ainda destacar as características toxicológicas dos dois agentes químicos - o
hipoclorito de sódio e o hidróxido de sódio, utilizados na produção do papel. O composto
químico hipoclorito de sódio (NaClO) é um forte agente oxidante e hidrolizante, usado
frequentemente como desinfetante e alvejante. Se ingerido, pode provocar dor e inflamação
na boca, faringe, esôfago e estômago, além de vômito. Se inalado, irritação das vias
respiratórias e edema pulmonar. Já o contato direto pode causar erupções na pele e dermatite
(BUDAVARI, 2001). O autor afirma, ainda, que o hidróxido de sódio (NaOH), também
conhecido como soda cáustica, é um hidróxido cáustico usado na indústria (principalmente
29
como uma base química) na fabricação de papel, tecidos, detergentes, alimentos e biodiesel.
Pode provocar irritação nas mucosas, pele e olhos, além de pneumonia. Para a pele e os olhos
pode causar queimaduras, e perda temporária do cabelo.
A Figura 6 apresenta um organograma de todo o processo de produção de papel
reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira.
Figura 6: Organograma do processo de produção de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira. Fonte: Adaptado de Bastianello (2005).
30
2.3 O PAPEL DO DESIGN NA PRODUÇÃO ARTESANAL: DESIGN SOCIAL E ECODESIGN
Para muitos o design surgiu da união entre estética e tecnologia, como estímulo à
criatividade para encontrar alternativas que unissem funcionalidade e beleza nos produtos
(MORAES, 1999).
Já a forte interação do design com as artes traz por muitas vezes dúvidas e discussões
sobre onde termina o artesanato e começa o design. Moraes (1999) discute que,
historicamente, o design relaciona-se a um modelo de produção – o sistema fabril – que foi o
responsável pelo fim das corporações de ofício e pela assimilação dos saberes e do trabalho
pelo capital, e conceitua o design como:
A tecnologia projetual que objetiva o desenvolvimento de produtos, com uma configuração definida, para produção em pequena ou grande série, considerando questões de uso, significação, desempenho, funcionamento, custo, produção, comercialização, mercado, qualidade formal e estética, impacto ambiental, urbano e ecológico.
Dentro de uma perspectiva de conscientização ambiental, Manzini e Vezzoli (2002)
sintetizam o significado do design como a atividade que liga o tecnicamente possível com o
ecologicamente necessário, e que faz surgir novas propostas que sejam social e culturalmente
apreciáveis.
Fala-se, portanto, do design social, que segundo o designer Eduardo Barroso Neto
possui “três pilares”: a criação de produtos cujo conceito esteja associado à preservação da
memória e da cultura, o desenvolvimento social e a sustentabilidade (LACERDA, 2007).
Uma das atuações do design com objetivo social que mais confere resultados é a sua
relação com comunidades artesanais como transformador social. Para Aflalo (2002), a ação
do designer se dá qualificando e inventando produtos que possam gerar renda para instituições
ou núcleos populacionais de baixa renda, além de possibilitar a inserção deste grupo no
mercado de trabalho, preservando sua identidade e, o mais importante, é que este trabalho se
dá de forma criativa. Assim, o designer deve atuar ponderando a situação em que o artesão
vive, buscando compreender o seu modo de produção, preservar as peculiaridades do
processo, aumentar a produção, mas com a preocupação maior de juntar a tradição e a
modernidade num mesmo fazer (FREITAS, 2006).
O Sebrae (p.32, 2008) expõe que “aliar artesanato e design é uma maneira de
estabelecer diálogo com o mercado consumidor, além de unir tradição e contemporaneidade”.
31
Muitos são os resultados positivos da interferência do designer em comunidades que
produzem artesanato. Na Índia, por exemplo, há mais de dez anos o governo contrata
designers italianos para atuarem junto às comunidades. No Brasil é possível encontrar a ação
de designers em grupos informais, cooperativas e associações com o objetivo de aprimorar a
qualidade dos produtos, a estética, a capacidade de produção dos artesãos, a apresentação e a
embalagem das peças, e até mesmo, a tecnologia empregada na produção. Todas essas
intervenções contribuem para uma melhora da inserção dos produtos artesanais no mercado,
sem perder as características culturais e de peças feitas à mão (ESTRADA, 2001).
Nascimento e Venske (2006) explicam que são várias as experiências de sucesso de
criação de peças artesanais utilizando resíduos como um caminho e que a criatividade do
artesão tem transformado o que era considerado lixo em produtos comercializáveis.
Como exemplo, no sítio virtual Planeta Sustentável (2008), tem-se o grupo de
catadoras de Goiânia que fazem parte da Cooperativa de Reciclagem de Lixo – Cooprec. O
grupo procurou professores da Universidade Católica de Goiás para desenvolver formas de
aproveitar os detritos que encontravam no lixo. A parceria deu origem ao Núcleo Artesanal de
Reciclagem, vencedor da categoria Ação Social do Prêmio Planeta Casa 2007, que se
especializou em papelão e que hoje cria produtos como cadernos de papel artesanal e porta-
clipes (Figura 7 - A). Outro grupo que também se destaca como um dos vencedores desse
prêmio e que também têm parceria com designers é um grupo de mulheres do Sítio
Pitombeira, em Salgueiro, PE. Capacitado pela ONG Artesanato Solidário, o grupo cria
produtos a partir de troncos de bananeira descartados na lavoura como bolsas, almofadas e
jogos americanos (Figura 7 - B) e assim, encontra alternativas de sustento e mantêm viva a
técnica tradicional, sem perder o foco no mercado.
Figura 7: “A” Porta-clipes do Núcleo Nacional de Reciclagem e “B” Jogo americano do grupo de mulheres de Pitombeira. Fonte: Sítio do Planeta Sustentável.
32
Em Joinville/SC encontra-se o Grupo de Artesanato Mãos Unidas. Constituído por
quatro mulheres, o grupo é incubado pela OSCIP (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público) Instituto Consulado da Mulher há cinco anos e, nesse período, o
empreendimento além de gerar trabalho e renda, explorou diversas formas de artesanato a
partir de matérias-primas não agressivas ao meio-ambiente como a reutilização do filtro de
café para a confecção de blocos de anotação, porta retratos, caixas, entre outros produtos
(INSTITUTO CONSULADO DA MULHER, 2008).
A oportunidade de trabalhar o lado social do design relacionando questões que
envolvem o meio ambiente é uma prática também explorada pelo ecodesign. Coimbra (2007)
aborda que por meio da utilização de resíduos ou materiais recicláveis ou de exploração
sustentável é possível compor produtos com características regionais, oportunizando, assim,
ações em comunidades carentes ou que ainda não possuem conhecimento de tais tecnologias.
O Ecodesign ou Design Verde originou-se do conceito de projeto para o meio
ambiente (DfE – Design for Environment) e pode ser considerado uma abordagem conceitual
e processual da produção que requer que todas as fases do ciclo de vida de um produto ou de
um processo devem ser orientadas para o objetivo de prevenção ou minimização de riscos, de
curto ou longo prazo, à saúde humana e ao meio ambiente (OLIVEIRA, 1998).
Papanek (1995) diz que o futuro do design encontra-se associado à síntese de várias
outras disciplinas, como a antropologia, a ecologia social e humana que são partes integrantes
na sua formação e que colaboram para o seu funcionamento.
Projetar e elaborar produtos com enfoque na otimização dos recursos, que por
conseqüência, reduzem os impactos no meio ambiente, não são fatos atuais. Sabe-se que até o
século XVIII, artesãos, marceneiros e ferreiros produziam móveis, vestimentas e utilidades
agrícolas com materiais facilmente encontrados na região e muito próximos aos locais de
consumo. Somente com a Revolução Industrial e a busca pelo aumento da produtividade, o
desenvolvimento dos produtos passou a ser uma tarefa de várias pessoas, e não mais dos
artesãos (NASCIMENTO e VENSKE, 2006).
A definição de ecodesign proposta por Fiksel (1996) diz que o projeto para o meio
ambiente é a consideração sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos
ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo ciclo de vida de um produto ou processo,
tornando-os ecoeficientes.
A mudança do consumo é parte integrante das alternativas em que pensa e trabalha o
ecodesign, isto é, conceber bens e serviços integrados ao desenvolvimento sustentável
(KAZAZIAN, 2005).
33
2.4 O AMBIENTE DE TRABALHO: ASPECTOS ERGONÔMICOS E DE SAÚDE E SEGURANÇA
Nas atividades artesanais é possível valer-se de aspectos que podem refletir uma
melhora nos processos produtivos, preservando as características do fazer artesanal e
valorizando o artesanato com um novo padrão de qualidade. Para isso, é necessária a
preocupação com a procedência da matéria-prima, a qualidade dos insumos utilizados, a
capacitação da mão-de-obra e o emprego de novas tecnologias (SEBRAE, 2005).
Barroso Neto (2001) lembra que a inserção de tecnologias na produção artesanal, que
podem ser ferramentas ou processos de produção mais simples e não as de ponta, não
significa que o artesanato autêntico acabe, pois essa autenticidade está na maneira em que o
artesão consegue representar ou expressar seus sentimentos e emoções no que produz. E que,
portanto, uma nova ferramenta pode melhorar o desempenho da atividade realizada, facilitar a
execução de uma tarefa, mas sempre precedida de uma reflexão sobre os ganhos que esta
mudança poderá trazer e se esta não mudará a forma de pensar do artesão.
O estudo e as aplicações de melhorias e alterações no processo produtivo só serão
compreendidas, assimiladas e, portanto, aplicadas se o artesão estiver estimulado a aprender
novos procedimentos, ou como Safar (2002) esclarece consciente das falhas cometidas.
Conforme relata Freitas e Romeiro Filho (2004) à medida que aumenta o volume da
produção, muitos dos sistemas produtivos artesanais precisam ser revistos em função não
apenas ao atendimento do mercado, mas também em função do bem-estar do artesão que
realiza a atividade. Deste modo, a qualidade no processo, bem como no produto gerado, está
também diretamente ligada a quem, como e onde produz. E para isso, a ergonomia colabora
como uma ferramenta perspicaz.
Segundo Iida (2005), a palavra ergonomia vem dos termos grego ergon (trabalho) e
nomos (legislação, normas). O autor considera a ergonomia como o estudo da atividade de
trabalho, utilizando-se conhecimentos científicos relativos ao homem, com o objetivo de
transformar e conceber um meio de trabalho, segundo critério de conforto, segurança e
eficiência econômica.
O desenvolvimento da ergonomia se deu durante a Segunda Guerra Mundial, quando
inicialmente ocorreu uma sistematização de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas.
Naquele momento, profissionais das mais variadas áreas, dentre eles fisiologistas, psicólogos,
antropólogos, médicos e engenheiros, realizaram um trabalho interdisciplinar para resolver
34
problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. O que deu início a
uma nova abordagem das ciências que se propunham a discutir questões de interação entre o
ser humano e as novas tecnologias (VAN DER LINDEN, 2007).
O Brasil instituiu em 23/11/1990 por meio da Portaria nº 3.751 do Ministério do
Trabalho a Norma Regulamentadora NR-17 que trata sobre a ergonomia. Essa norma
estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, com o objetivo de lhe proporcionar mais conforto,
segurança e desempenho.
Van der Linden (2007) lembra que seus significados e definições transformaram-se ao
longo dos anos. Seu papel ampliou-se ao envolver questões de produtos (Design, Engenharia
de Produto), processos (Engenharia de Produção, Administração, Psicologia do Trabalho) e
ambientes (Arquitetura, Engenharia de Segurança).
A partir do design surge um novo conceito que trabalha especificamente com fatores
ergonômicos, o ergodesign. O termo nasceu em meados da década de 1980, com o objetivo de
garantir que produtos e ambientes viessem a ser adequados aos seres humanos, no que se
refere à segurança e ao conforto (VAN DER LINDEN, 2007).
2.4.1 Abordagens em ergonomia
A ergonomia pode contribuir na melhoria de situações de trabalho, conforme a etapa
em que ela ocorre e também segundo a abrangência com que é realizada. A contribuição
ergonômica, de acordo com a ocasião em que é feita, classifica-se sob três fatores:
a) Ergonomia de concepção: a contribuição ergonômica é realizada durante a fase
inicial de projeto de produto, da máquina ou ambiente, sendo considerada a melhor situação,
pois as alternativas podem ser examinadas, mas também exige maior conhecimento e
experiência, pois as decisões são tomadas a partir de situações hipotéticas;
b) Ergonomia de correção: aplicada em situações reais para resolver problemas que se
refletem na segurança, na fadiga excessiva, em doenças do trabalhador ou na quantidade e
qualidade da produção;
35
c) Ergonomia de conscientização: trata da importância de conscientizar o operador,
por meio de cursos de treinamento e freqüentes reciclagens, ensinando-o a trabalhar de forma
segura, reconhecer os fatores de risco que podem surgir no ambiente de trabalho (WISNER,
1987 e IIDA, 2005).
O ser humano e a máquina mantêm uma relação recíproca e a esta chamamos de
sistema humano-máquina. O homem recebe informações da máquina e do ambiente, toma
decisões e atua sobre a máquina por meio dos dispositivos de controle (GRANDJEAN, 2005).
Moraes e Mont'Alvão (1998) explicam que o sistema humano-máquina pode apresentar
problemas que afetam o bom funcionamento desta relação. A partir dos estudos de Bunge
(1975), as autoras apresentam a problematização dividida em três fases:
Reconhecimento do problema: identificar os aspectos mais graves e flagrantes da
situação problemática que, numa primeira observação estão mais salientes;
Delimitação do problema: selecionar e classificar os diferentes aspectos da
situação problemática, a partir de uma observação mais profunda;
Formulação do problema: reduzir a situação problemática aos seus aspectos
significativos e solucionáveis; o que foi identificado na delimitação deve ser aprofundado em
termos de explicitação e detalhamento.
Moraes e Mont'Alvão (1998) afirmam que durante a apreciação ergonômica cumpre
ter como orientação categorias de problemas que compreendem deficiências e faltas e falhas
específicas. Dentre as diversas categorias podemos citar as informacionais/visuais, cognitivas,
movimentacionais, espaciais/arquiteturais, de acessibilidade, físico-ambientais, químico-
ambientais, securitárias, operacionais, acidentárias, organizacionais, dentre outros. Já para os
objetivos desta pesquisa, destacam-se:
Movimentacionais: excesso de peso, freqüência de movimentação dos objetos a
levantar ou transportar;
Físico-Ambientais: temperatura, ruído, iluminação, vibração, radiação;
Químico-Ambientais: partículas, elementos tóxicos e aero-dispersóides em
concentração no ar acima dos limites permitidos;
Acidentárias: comprometem os requisitos securitários que envolvem a segurança
do trabalho. Deficiência de rotinas e equipamentos para emergências e incêndios.
Para a problematização do sistema humano-máquina particularizam-se as categorias
acima às situações problemáticas específicas estudadas. Pode-se considerar esta fase
exploratória e que pode ser concluída com o parecer ergonômico.
36
O parecer ergonômico compreende uma síntese dos problemas identificados pelo
“Quadro do parecer ergonômico: Formulação do problema e sugestões preliminares de
melhoria” (Figura 8) e deve conter os problemas selecionados dentre aqueles apresentados
durante a problematização. Neste quadro incluem-se ainda:
Requisitos do sistema;
Constrangimentos da tarefa: que atuam sobre o operador;
Custos humanos do trabalho: que são as conseqüências para a produtividade e
qualidade do sistema e do trabalho, resultantes dos constrangimentos aos requisitos do
sistema;
Sugestões preliminares de melhoria: que são propostas verbais, ainda muito
incipientes, para a solução dos problemas e atendimento aos requisitos do sistema;
Restrições: que são os elementos presentes no ambiente do sistema que impedem
que os problemas sejam solucionados (MORAES e MONT'ALVÃO, 1998).
Classe de problema Problemas Requisitos
Constran- gimentos da tarefa
Custos humanos
do trabalho
Disfunções do Sistema
Sugestões preliminares de melhoria
Restrições do sistema
Movimentacionais
Físico-ambientais
Químico-ambientais
Acidentárias
Figura 8: Quadro do parecer ergonômico: Formulação do problema e sugestões preliminares de melhoria. Fonte: Adaptado de Moraes e Mont'alvão (1998, p. 88).
Grandjean (p.48, 2005) menciona que “Do ponto de vista ergonômico, é sempre
desejável a adaptação individual da altura de trabalho”. Portanto, é importante identificar as
medidas e as disposições dos postos de trabalho e do trabalhador para verificar as possíveis
alterações que venham a contribuir para tanto.
Com objetivo de um melhor entendimento da relação do homem e seu posto de
trabalho, vê-se necessário conhecer também sobre o trabalho muscular que seu corpo exerce,
além de algumas considerações para projetos de estações de trabalho e manuseio de cargas.
37
2.4.2 Trabalho muscular
O corpo humano é capaz de mover-se devido ao seu sistema muscular distribuído em
todo o corpo e que representa cerca de 40% do peso corporal. Cada músculo é composto por
um grande número de fibras musculares e sua capacidade de contrair-se até a metade do seu
comprimento normal em repouso é denominada de contração muscular, característica esta
considerada a mais importante dos músculos. Nesse sentido, quando uma atividade corporal
exigir um esforço considerável, os movimentos devem ser organizados de modo que os
músculos exerçam sua força máxima com o mínimo de esforço possível. Esta força máxima
depende da idade, do sexo, da constituição física, do grau de condicionamento físico e da
motivação do momento (GRANDJEAN, 2005).
O referido autor acrescenta que homens e mulheres com o mesmo condicionamento
físico podem ter a mesma força por seção transversal muscular, mas os músculos das
mulheres são geralmente menores, ou seja, exercem, em média, em torno de dois terços da
força de um homem.
Explorando as pesquisas realizadas por Hettinger (1960), Grandjean (2005) explica
que existe um pico máximo da força muscular para homens e mulheres, que ocorre entre os 25
e 35 anos de idade, como mostra a Figura 9. Já o trabalhador entre 50 e 60 anos de idade,
exerce apenas 75 a 85% de sua força máxima original.
Figura 9: Força muscular em relação à idade e ao sexo, segundo Hettinger (1960). Fonte: Grandjean (2005).
38
2.4.3 Projeto de estações de trabalho
Para o projeto de estações de trabalho é conveniente conhecer algumas medidas
antropométricas, que são medidas físicas do corpo humano, em termos de tamanho e
proporções, mas também levar em consideração as exigências específicas do trabalho
(GRANDJEAN, 2005).
As dimensões recomendadas na Figura 10 são de orientação geral, já que se baseiam
nos valores médios de medidas antropométricas ocidentais e não levam em consideração as
variações individuais. A linha de referência (±0) é a altura do cotovelo a partir do chão, e que
em média é 1050 mm para os homens e 980 mm para as mulheres.
Figura 10: Alturas de mesas recomendadas para trabalhos em pé. Fonte: Grandjean (2005, p. 48).
Para os trabalhos manuais de pé, as alturas recomendadas de bancadas ou mesas são
de 50 a 100 mm abaixo da altura dos cotovelos, ou seja, em média a altura de trabalho para
mulheres ocidentais é de 900 a 950 mm na posição em pé. Para trabalhos delicados
recomenda-se um apoio para os cotovelos, pois assim a musculatura do tronco ficará aliviada
da carga estática (GRANDJEAN, 2005).
Grandjean (2005) recomenda que as mesas tenham altura regulável, ao invés de
estrados para os pés ou o aumento das pernas das mesas. Porém, se não for possível modificar
a altura da mesa, em princípio, a altura de trabalho deve tomar como base as pessoas altas,
pois se tem como recurso o uso de plataformas (palletis ou estrados) como superfície de apoio
de compensação para as pessoas baixas ficarem de pé. Na medida do possível, procurar
39
trabalhar sentado, mas enfatiza que o melhor é alternar o trabalho sentado com o trabalho em
pé. Ficar de pé e sentar geram cargas em diferentes músculos e, portanto, a alternância
permite relaxar alguns grupos musculares, enquanto outros estão sobrecarregados.
Quando o ambiente de trabalho dispôr de prateleiras, sugere-se que estas não estejam
acima de 1500 a 1600 mm para os homens e 1400 a 1500 mm para as mulheres. Nestas
alturas, as prateleiras devem ter 600 mm de profundidade (GRANDJEAN, 2005).
Quando se projeta um posto de trabalho devem-se considerar também os ruídos, que
são sons indesejáveis, presentes no ambiente. Seguem no Quadro 4, os limites toleráveis a
ruídos em diversos tipos de atividades apresentados por Iida (2005):
Nível de ruído dB (A)
Atividade
50 A maioria considera como um ambiente silencioso, mas cerca de 25% das pessoas terão dificuldade para dormir.
55 Máximo aceitável para ambientes que exigem silêncio. 60 Aceitável em ambientes de trabalho durante o dia. 65 Limite máximo aceitável para ambientes ruidosos. 70 Inadequado para trabalho em escritórios. Conversação difícil. 75 É necessário aumentar a voz para conversação. 80 Conversação muito difícil. 85 Limite máximo tolerável para a jornada de trabalho.
Quadro 4: Limites toleráveis a ruídos em diversos tipos de atividades. Fonte: Iida (p. 505, 2005).
2.4.4 Manuseio de carga
Grandjean (2005) apresenta alguns conselhos práticos para o levantamento de pesos.
As seguintes regras são baseadas tanto na experiência como no conhecimento científico
descritos por Kroemer et al. (1997) e Mittal et al. (1993):
Segurar a carga e levantá-la com as costas retas e os joelhos dobrados (Figura 11);
Segurar a carga o mais próximo possível do corpo, mantendo-a, sempre que
possível, entre os joelhos e com uma boa colocação dos pés;
40
Assegurar que o lugar de pega da carga não está abaixo do nível do joelho;
Se a carga não tiver alças, amarrar uma corda em torno da carga e usar cintas ou
ganchos;
Evitar movimentos de rotação ou torção do tronco quando levantar ou abaixar uma
carga;
Sempre que possível, usar um elemento mecânico tal como um carrinho, uma
rampa ou similar;
Tentar empurrar e puxar, em vez de levantar e abaixar. Geralmente, uma esteira
pode ser usada para tornar o ato de empurrar ou puxar mais fácil.
Figura 11: Postura da coluna e distribuição da carga nos discos invertebrais no levantamento de pesos. Fonte: Grandjean (2005, p. 106).
O ponto ótimo para se pegar a carga é em torno de 750 mm do chão (Couto, 2002). O
autor apresenta ainda alguns limites de peso a serem levantados:
Na posição agachada, carga a ser pega do chão: 15kg;
Na posição fletida (pernas estendidas), carga a ser pega do chão: 18kg;
Nas melhores condições: 23kg para manuseio assimétrico com as duas mãos
(carga elevada, próxima do corpo, com boa pega, sem rotação lateral do tronco, pequena
distância vertical entre a origem e o destino, menos que uma vez a cada 5 minutos).
Ainda há algumas discussões a respeito dos conceitos relacionados às técnicas de
manuseio, levantamento e carregamento de cargas. Couto (2002) menciona que a “técnica
correta” (pegar agachado e levantar fazendo força com as pernas) leva a um cansaço muito
maior, que nem sempre é possível pegar a carga agachando-se, e que esta técnica acarreta
problemas importantes para os joelhos do trabalhador. Fala-se, portanto, de “limites
humanos” e de cuidados fundamentais no levantamento de cargas. Já Grandjean (2005)
41
completa sugerindo que as pessoas devem manter o tronco em uma postura ereta sempre que
possível. Porém, para tarefas de levantamento ocasionais, é difícil definir normas.
Abrantes (2004) discute que mesmo estabelecido este número máximo de peso, deve-
se sempre que possível diminuí-lo para que os riscos de lesão na coluna sejam minimizados,
segundo o critério NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) para
levantamento manual de cargas.
Alongamentos e relaxamentos são necessários para garantir que no desempenho de
esforços intensos, os músculos estejam devidamente preparados, evitando-se distensões e
outros transtornos musculares dolorosos, condizendo as recomendações de Couto (2002).
Quando se analisa um ambiente de trabalho é necessário também conhecer alguns
aspectos relacionados à sua segurança.
Na concepção de Baldin e Zanotelli (2006) o trabalho antes mesmo de ser o meio de
sustento do homem e de sua família, é um importante elemento de satisfação pessoal.
O trabalho faz parte do nosso dia-a-dia e para que ele seja realizado de forma
satisfatória, devem-se buscar melhores condições para o trabalhador. Desta forma, é preciso
distinguir em detalhes o que pode agredir as pessoas numa dada situação; entender mais sobre
o ser humano e o seu trabalho; conhecer a importância e a influência relativa de cada fator
determinante das condições de trabalho; e dispor de metodologias e recursos auxiliares para
análises (SELL, 2002).
O ambiente de trabalho e as condições em que ele se realiza são fundamentais para
contribuir na formação da qualidade de um produto, principalmente para a saúde do
trabalhador ou artesão, ou seja, para a sua qualidade de vida (FREITAS, 2006).
Diante do seu ambiente de trabalho, o indivíduo expõe-se a riscos que podem
comprometer sua saúde e bem-estar. Dentre estes, a American Conference of Governmental
Industrial Hygienists (ACGIH) (2001) referencia os riscos ambientais como aqueles possíveis
agentes de doenças ocupacionais que podem ser encontrados em uma determinada atividade
ou local de trabalho (COLACIOPPO, 2004).
Ao se conceber um ambiente de trabalho com características saudáveis é importante
buscar a harmonia entre a preservação do meio ambiente, a credibilidade do resultado das
pesquisas e a saúde do trabalhador. Faz-se necessário também reconhecer cada um dos fatores
de risco bem como as implicações que estes possam acarretar ao ambiente construído
(PESSOA, 2006).
Colacioppo (2004, p. 260) traz uma abordagem que relaciona diretamente as questões
ambientais com a saúde do trabalhador:
42
Ao encontrar no ambiente de trabalho a fonte primária do problema, deve-se agir de forma coordenada com ações que reduzam ou eliminem a exposição ocupacional, mas que por outro lado não provoquem uma exposição ambiental (no ambiente externo à indústria), lembrando-se que o trabalhador não respira apenas durante o horário de trabalho na empresa e, após sua jornada, ele estará exposto, juntamente com o restante da população, aos contaminantes que ele mesmo e seus colegas originaram.
O emprego de boas práticas em laboratórios é essencial para o desenvolvimento
seguro das mais diversas atividades. Estas por sua vez, minimizam os riscos de acidentes,
otimizam as atividades, aumentam a produtividade bem como melhoram a qualidade do
produto e o ambiente de trabalho (MASTROENI, 2006b).
O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) é uma forma eficiente de o
trabalhador se proteger diante das diversas atividades que ele desempenha.
Como o próprio nome sugere é um equipamento de uso individual, não se recomenda,
portanto, o uso coletivo por questões de segurança e higiene (SKRABA et al., 2006).
Instituído no Brasil em 1977 por meio da Norma Regulamentadora relativa à Lei
6.514/77 (NR6), os EPIs consistem em óculos, luvas, jaleco, protetor auricular, entre outros.
Cita-se também a importância de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), que consistem
em chuveiros de descontaminação, extintores de incêndio, entre outros (MASTROENI,
2006a).
Skraba et al. (2006) lembram que existem hoje no mercado diversos tipos de EPIs,
bem como diferentes fornecedores e materiais empregados, o que proporciona uma variação
de proteção ao usuário. Os EPIs devem ser caracterizados como atóxicos, não provocarem
alergias ou irritações na pele e, se possível, serem confortáveis. Os mesmos autores
recomendam alguns cuidados para prolongar a vida útil dos EPIs, como: guardá-los em local
próprio, longe da luz solar, fontes de calor, umidade e de contaminação; mantê-los em bom
estado de limpeza; se contaminados, proceder à descontaminação ou até mesmo, substituí-lo.
Lembrando que, quando adquiridos, devem vir acompanhados de instruções do fabricante
quanto ao emprego correto e demais procedimentos. Seguem algumas recomendações quanto
a escolha dos tipos de EPIs:
Calçado: O calçado é um EPI que tem como função proteger os pés contra
umidade, respingos de substâncias químicas ou material biológico, derramamento de líquidos
quentes e solventes, impacto de objetos diversos. Os calçados devem ser confortáveis,
laváveis, compatíveis com a temperatura ambiente e evitar a transpiração excessiva.
Equipamentos de proteção respiratória: O sistema respiratório é o principal
meio de penetração de contaminantes no organismo humano. Portanto, para garantir uma
43
adequada proteção respiratória, desenvolveram-se protetores semifaciais (nariz e boca) e
faciais (nariz, boca e face), denominados respiradores. Esse EPI possui elemento filtrante
adequado, além de oferecer melhor ajuste à face do usuário.
Luvas de proteção: O uso de luvas é obrigatório em ambientes laboratoriais, onde
opera-se com materiais quentes ou frios, lavagem de material, preparação de reagentes,
manipulação, transporte e estocagem de produtos químicos ou em qualquer outra atividade
que se conheça ou se suspeite sobre um risco. A luva deve ter como característica formato
anatômico, boa resistência, fornecer conforto e destreza ao usuário, além de proporcionar
maneabilidade e flexibilidade.
Óculos de proteção: Destinado à proteção dos olhos, que, conforme o tipo de
lente empregada protege contra respingos de material infectante, substâncias químicas,
partículas ou outros que possam causar irritações nos olhos ou lesões. O seu tipo pode variar
conforme a necessidade de uso: contra radiação ultravioleta; contra gases e vapores; contra
produtos químicos; contra aerodispersóides. Além disso, devem ser confortáveis, leves,
resistentes e maleáveis, construídos de forma a proteger completamente os olhos, sem
comprometer o campo visual, e assentar confortavelmente sobre o nariz.
Protetor auditivo: Destinado a prevenir a perda auditiva provocada por ruídos,
deve ser utilizado em situações em que os níveis de ruído sejam considerados prejudiciais ou
nocivos em longa exposição. Existem dois tipos principais de protetor auditivo: circum-
auriculares (tipo concha) e de inserção.
Roupas de proteção: As roupas de proteção devem ser utilizadas em todas as
atividades em que se manipulem agentes danosos e que possam vir a provocar doenças
ocupacionais. O objetivo de uso da roupa de proteção é evitar o contato de contaminantes com
a pele, eliminando ou minimizando, em alguns casos, as possibilidades de doença, lesão ou
intoxicação. Sua escolha se dará pelo tipo de atividade desenvolvida. Como roupas de
proteção citam-se o avental e a touca.
A interdisciplinaridade do trabalho fica evidente nesta seção que tratou de aspectos
sociais e ambientais da produção do artesanato, a preocupação com os indivíduos nesse
ambiente de trabalho, destacando-se a estrutura física do local e a segurança na atividade e
mobilidade das pessoas.
44
3 METODOLOGIA
3.1 BASE METODOLÓGICA DA PESQUISA
Partindo da premissa apresentada por Thiollent (2000), que o objetivo da metodologia
está em analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades,
potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua
utilização, verificou-se oportuno para o desenvolvimento deste estudo, a utilização
metodológica da pesquisa qualitativa.
A pesquisa qualitativa promove uma descrição detalhada da situação estudada com o
objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos, proporcionando, ainda,
maior flexibilidade e criatividade na coleta e análise dos dados (GOLDENBERG, 2000).
Dentre os diversos tipos de pesquisa qualitativa, o tipo de pesquisa adotado para a
execução deste estudo foi a pesquisa-ação, em especial, devido a sua característica social.
Thiollent (2000, p. 14) afirma que são diversas as definições da pesquisa-ação, mas enfatiza que:
Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
O autor ainda ressalta que a pesquisa-ação é um método ou uma estratégia de pesquisa
que agrega vários métodos ou técnicas de pesquisa social, com os quais estabelece uma
estrutura coletiva, participativa e ativa ao nível da captação de informação.
Além da participação dos investigadores, a pesquisa-ação supõe uma participação dos
interessados na própria pesquisa organizada em torno de uma determinada ação
(THIOLLENT, 1999).
A pesquisa-ação é frequentemente utilizada em ações que visam resolver problemas de
ordem mais técnica, como a inserção de uma nova tecnologia, ou ainda, de esclarecer os
problemas da situação observada (THIOLLENT, 2000). Este tipo de pesquisa enquadra-se nos
objetivos desse estudo, no que diz respeito à avaliação do ambiente de trabalho das artesãs de
45
modo a detectar a ocorrência de problemas que interfiram na sua produção e no bem-estar das
participantes.
As definições para pesquisa-ação são diversas, porém é importante salientar que além
de seu conceito, esse tipo de pesquisa apresenta diferenças significativas em relação à
pesquisa participante, visto que muitos autores atribuem conceitos muito parecidos para esses
dois tipos de pesquisa. Thiollent (2000) afirma que toda pesquisa-ação é de tipo participativo,
pois considera que a participação das pessoas nos problemas investigados é necessária.
Porém, pesquisa participante não é pesquisa-ação, pois a participação aqui é principalmente
dos pesquisadores e consiste em aparente identificação com os valores e os comportamentos
necessários para a sua aceitação pelo grupo considerado.
Para que não haja ambigüidade entre os dois tipos de pesquisa – pesquisa-ação e
participante, qualifica-se uma pesquisa como pesquisa-ação quando houver realmente uma
ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação, e que a ação
problemática mereça investigação para ser elaborada e conduzida (THIOLLENT, 2000).
Após definida a abordagem metodológica, de caráter qualitativo – pesquisa-ação como
norteadora deste estudo, partiu-se para a escolha do método de aplicação: observação
participante.
A observação participante, também conhecida como observação ativa, consiste na
participação real do conhecimento na vida cotidiana da comunidade, do grupo ou de uma
situação determinada (GIL, 1999). A pesquisadora deste estudo acompanhou as atividades
realizadas na oficina das artesãs do Recriando com Fibras, mas sem interferir de forma
prática na produção do papel artesanal e dos produtos.
Segundo o autor supracitado, esta técnica de observação pode classificar-se como: a)
natural, quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; e b)
artificial, quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma
investigação. Pode-se dizer, portanto, que neste estudo utilizou-se a técnica de observação
artificial, visto que a pesquisadora não faz parte do grupo de artesãs, mas capacita as artesãs
para as suas atividades de produção de papel artesanal e criação de produtos.
Para Thiollent (2000), o papel que o pesquisador desempenha na pesquisa-ação é ativo
no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações
desencadeadas em função dos problemas.
Só se conhece em profundidade alguma coisa do dia-a-dia da sociedade ou dos
reflexos culturais da comunidade, quando há envolvimento – em alguns casos,
comprometimento – pessoal entre o pesquisador e aquilo, ou aquele, que ele investiga
46
(BRANDÃO, 1999). O que justifica o método de observação adotado – participante, pois se
entende a necessidade de envolvimento no trabalho realizado pelas artesãs e no seu convívio,
mas com a preocupação de não descaracterizar ou interferir na referida atividade.
Ao discutir sobre um “Modelo Social” de design, Margolin e Margolin (2004)
afirmaram que a observação participante é um método que:
Possibilita o ingresso de designers em ambientes sociais, tanto como parte de um grupo multidisciplinar ou individualmente, para observar e documentar as necessidades sociais que podem ser atendidas com a intervenção do design.
3.2 SUJEITOS DE PESQUISA
Os sujeitos desse estudo são as mulheres integrantes do grupo Recriando com Fibras
de Joinville, apoiado pelo projeto de extensão Mulher com Fibra da UNIVILLE. Atualmente,
o grupo Recriando com Fibras constituí-se por seis mulheres, três da fase inicial do projeto
(2006-2007) e mais três participantes que entraram durante o andamento dos trabalhos. As
artesãs trabalham em uma oficina situada na Rodovia SC 301, km 0, distrito de Pirabeiraba,
junto à FMDR 25 de Julho, montada especialmente para realizarem suas atividades.
Com o propósito de preservar a identidade das mulheres do grupo, que foram
entrevistadas durante esse estudo, bem como facilitar os seus relatos na análise dos dados
levantados, usou-se de siglas como: Artesã 1 (A1); Artesã 2 (A2) e, assim, sucessivamente.
3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para não interferir no processo de produção do grupo Recriando com Fibras, uma vez
que o grupo está produzindo com a finalidade de iniciar a comercialização, os dados
referentes ao aspecto de saúde e segurança no trabalho artesanal das participantes do grupo
47
foram coletados em dois ambientes distintos: 1) Com o grupo de artesãs, na oficina em
Pirabeiraba e 2) Com o grupo de acadêmicos1 participantes desse trabalho durante as
atividades no Laboratório de Modelagem do Centro de Artes e Design (CAD) da UNIVILLE,
conforme segue:
3.3.1 Grupo Recriando com Fibras – apoiado pelo projeto Mulher com Fibra
Para um melhor entendimento dos procedimentos metodológicos seguidos junto às
mulheres que compõem o grupo Recriando com Fibras, descrevem-se os passos aplicados
para o desenvolvimento do estudo:
1º Etapa: Apresentou-se ao grupo de artesãs a proposta da pesquisa e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme esclarece os aspectos éticos
apresentados na seção 3.4.
2º Etapa: Realizaram-se visitas na oficina do grupo montada na FMDR 25 de Julho
com duração média de três horas cada. Inicialmente, as visitas eram realizadas semanalmente,
porém, conforme as necessidades das mulheres em dispor de tempo para a produção artesanal, a
forma e a periodicidade dos encontros da pesquisadora com o grupo de artesãs foram planejados
agendados com antecedência para que ocorressem a cada três semanas.
3º Etapa: Aplicou-se um formulário (Apêndice 2) com temas fechados e abertos para
traçar um perfil detalhado das artesãs, solicitando-lhes: dados cadastrais (nome, endereço e
telefone); sociais (faixa etária, estado civil) e técnicos (trabalho com artesanato e fibras).
4º Etapa: Identificou-se os EPIs necessários a serem aplicados ao grupo com base no
requisito inicial de proteção básica para o trabalho em uma oficina.
5º Etapa: Em outubro de 2007 um profissional técnico em Segurança do Trabalho
participou de uma conversa com as mulheres do Recriando com Fibras sobre acidentes de
trabalho, o uso dos EPIs e a importância do respectivo uso. Nessa oportunidade, foi entregue,
1 Bolsistas de Iniciação Científica (PIBIC– UNIVILLE) dos cursos de Engenharia de Produção Mecânica e Design e estão vinculados ao projeto de pesquisa intitulado “EcoQSS - Ecodesign e Gestão da Qualidade na fabricação de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira: melhoria do processo e da saúde e segurança dos envolvidos”.
48
ao grupo, um kit básico de EPIs (Tabela 1) e uma ficha-controle de entrega desses
equipamentos (Apêndice 3). Nessa ficha, havia a relação dos equipamentos entregues, a data
de recebimento e se a integrante participou da capacitação com o técnico.
Tabela 1: Descrição do kit básico de EPIs.
Equipamento Descrição e aplicação Luva Látex Natural Longa
Com forro flocado em algodão, palma antiderrapante, com virola e comprimento total de 29 cm. Possui boa flexibilidade e resistência a abrasão e rasgos. Seu uso evita o contato com produtos químicos, como soda e água sanitária, água e demais etapas do processo em que as mãos entram em contato com as polpas.
Óculos Inc. Fenix Em policarbonato resistente a impactos e choques físicos de materiais sólidos e líquidos, como: fragmentos de madeira, ferro, respingos de produtos ácidos, cáusticos, entre outros. Proteção contra raios UVA e UVB, apoio nasal e proteção lateral no mesmo material da lente. Recomendado para que seja usado quando da cocção das polpas e uso de produtos químicos.
Protetor Auricular Silicone
Protetor auricular em silicone, macio, antialérgico, lavável, reutilizável, tamanho universal e com cordão de algodão. Indicado quando os liquidificadores estão em uso.
Máscara Rexon Boca Respirador descartável para poeiras/névoas. O formato anatômico se ajusta automaticamente à face do usuário, especialmente na área sensível do nariz. O material filtrante é macio e não irrita. A concha externa é forte o suficiente para evitar que murche ou infle. Aconselha-se seu uso durante a cocção das polpas devido a névoa cáustica e o odor da soda.
Bota de Borracha Cano Curto
Bota de material emborrachado e forrado. Utilizada como proteção para os pés das usuárias na oficina, pois existem riscos de queda de materiais, além de ser um ambiente molhado.
Jaleco Em tecido sarja 100% algodão até o joelho e de mangas longas. Recomenda-se seu uso durante toda a produção, pois protege o operador e evita o contato da roupa e do corpo com água e produtos químicos.
6º Etapa: Um mês após o encontro com o técnico em Segurança do Trabalho, foi
aplicado um roteiro de questões integrado com a técnica da entrevista semi-estruturada de
forma individual e validado antecipadamente, conforme modelo, no Apêndice 4. As respostas
foram registradas por meio de gravador, transcritas e apresentadas às mulheres para anuência
e assinatura. Além do gravador, outro instrumento utilizado para as primeiras entrevistas foi
um pôster com fotografias do próprio grupo (Apêndice 5), que pôs em evidência as etapas de
produção de papel para que as mulheres pudessem relembrar as vivências na oficina e, assim,
identificar os possíveis problemas enfrentados durante a produção.
Nessas entrevistas, as mulheres foram abordadas sobre suas percepções quanto ao uso
de EPIs durante as atividades na oficina e à estrutura física (observações sobre equipamentos,
móveis, posturas, possíveis melhorias). Os dados provindos das respostas das primeiras
49
entrevistas foram tabulados, comparados com a literatura sobre o tema – ergonomia e
segurança do trabalho, e formuladas as primeiras propostas de melhoria de infra-estrutura e
uso de EPIs.
7º Etapa: Após a sexta etapa, o grupo recebeu outros EPIs para serem testados antes
da segunda entrevista, que foi realizada em setembro de 2008 (Apêndice 6). A nova entrevista
foi baseada no roteiro e nas respostas da primeira abordagem e, também, nas aplicações das
propostas de melhorias no processo de produção e na segurança das voluntárias. As respostas
dessa segunda entrevista também foram registradas por meio de gravador, transcritas e
apresentadas às mulheres para anuência e assinatura.
8º Etapa: Com objetivo de adequar algumas medidas de móveis e equipamentos da
oficina às artesãs, aferiu-se, com o auxílio de um estadiômetro de parede de 220 cm, da marca
Gofeka, a 90º em relação ao piso, as medidas de estatura e altura dos cotovelos (distância do
chão até o lado inferior do cotovelo dobrado em ângulo reto, com o braço na posição vertical).
Essas medidas foram tomadas no Laboratório de Fisiologia do Exercício – LAFIEX da
UNIVILLE. Aferiu-se ainda, com uso de uma trena, a altura de alguns móveis e equipamentos
presentes na oficina.
Salienta-se, também, que mesmo durante o desenvolvimento dessas ações da pesquisa,
o grupo de mulheres continuou sendo assistido pelos pesquisadores do projeto de extensão
Mulher com Fibra com o intuito de manter as boas práticas dentro do ambiente de trabalho,
além de cumprir seu papel no apoio das atividades realizadas pelo grupo, tais como, a
produção de papel e o desenvolvimento de produtos artesanais.
3.3.2 Laboratório de Modelagem do CAD
O Laboratório de Modelagem situa-se no CAD da UNIVILLE e é de uso comum dos
alunos e professores dos cursos de Design e Artes Visuais da Instituição. Se comparado à
oficina do grupo Recriando com Fibras, possui todos os equipamentos e estrutura necessários
para a produção do papel artesanal, mas difere-se no ambiente físico, quanto ao tamanho e
50
ventilação, e na aparelhagem, quanto ao liquidificador que é industrial e ao tanque que é
menor. As etapas das atividades realizadas nesse ambiente seguiram a ordem abaixo:
1º Etapa: Outubro de 2007 – primeira atividade de produção de papel. Todas as fases
inerentes ao processo de produção de folhas de papel artesanal foram desempenhadas nesse
encontro, com o objetivo de determinar possíveis problemas em cada uma das fases
(preparação da polpa de papel, preparação da polpa de fibra de bananeira, preparação da
folha) e suas respectivas etapas, e planejar as ações de melhoria.
A técnica utilizada para a coleta de dados no CAD baseou-se na metodologia da
observação participante. De acordo com a necessidade de observar as várias etapas do
processo de produção do papel – examinar o ambiente de trabalho (equipamentos e forma de
execução da técnica), considerando aspectos ergonômicos e de segurança, contou-se com uma
equipe de estudiosos que possibilitou um caráter e um olhar multidisciplinar para o trabalho.
A equipe foi constituída da pesquisadora e mais dois acadêmicos de Iniciação
Científica da UNIVILLE. Marconi e Lakatos (1999) apontam que quando uma equipe de
pesquisadores está registrando os problemas, existe a possibilidade de se checar os dados de
vários ângulos, para então verificar os mais diversos resultados.
Os instrumentos utilizados para as observações e registros referentes ao ambiente de
produção, nesta etapa, foram a fotografia e o quadro do parecer ergonômico, adaptado para as
classes de problemas detectadas conforme os objetivos desta pesquisa: movimentacionais;
físico-ambientais; químico-ambientais e acidentários.
A escolha de um instrumento ergonômico foi baseada na perspectiva de que a
ergonomia tem como critérios não apenas os aspectos relacionados à saúde do trabalhador,
mas também, àqueles ligados a qualidade e quantidade. Conforme aponta Wisner (1994,
p.77): “A ergonomia tem pelo menos duas finalidades: o melhoramento e a conservação da
saúde dos trabalhadores e a concepção e o funcionamento satisfatórios do sistema técnico do
ponto de vista da produção e da segurança”.
São inúmeros os instrumentos para a análise de um ambiente de trabalho. A escolha do
quadro do parecer ergonômico, portanto, se deu devido à flexibilidade e aos aspectos que esse
instrumento proporciona, mas, também, à sua estrutura que facilita a coleta de informações do
processo de produção do papel artesanal.
2º Etapa: Março de 2008 – segunda atividade de produção de papel. Esta etapa foi
conduzida como na de outubro de 2007.
3º Etapa: Os dados registrados das atividades desenvolvidas nas oficinas no CAD
foram tabulados, comparados com a literatura e com os dados obtidos nas entrevistas
51
realizadas com o grupo Recriando com Fibras, possibilitando delinear as propostas de
melhoria do ambiente de trabalho artesanal.
3.4 ASPECTO ÉTICO
A pesquisa seguiu os requisitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde/Ministério da Saúde (BRASIL, 1996), que regulamenta pesquisas envolvendo seres
humanos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas – CEP da UNIVILLE sob
processo nº 031/07 e aprovado em outubro de 2007.
Antes de dar início à coleta de dados com as mulheres participantes do grupo,
apresentou-se, a elas, a proposta do projeto. Àquelas que estiveram dispostas a participar da
pesquisa de forma voluntária receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –
TCLE (Apêndice 7), considerando, para tanto: a integridade das mulheres, bem como o
conhecimento da pesquisa; a livre escolha de participação por parte delas e o direito de recusa
à participação em qualquer momento da pesquisa. O referido termo foi assinado em duas vias,
sendo uma mantida sob posse da voluntária e, a outra, arquivada pela pesquisadora
responsável.
No momento em que as entrevistas ocorreram, foi novamente exposto às mulheres do
grupo, a finalidade, os objetivos, a relevância e a necessidade de colaboração. As mulheres
foram informadas sobre as entrevistas quando da entrega do TCLE e relembradas 15 dias
antes de essas ocorrerem.
Os dados gerados com os resultados das observações participantes e das entrevistas
ficaram sob a responsabilidade da pesquisadora, e serão divulgados em publicações e
congressos, sempre preservando o sigilo da identidade das envolvidas.
Todo o material necessário para a realização das oficinas onde foram feitas as
observações, bem como o kit básico de EPIs entregue ao Recriando com Fibras, foram
previstos nos recursos financeiros do projeto de extensão “Mulher com Fibra: manutenção,
aperfeiçoamento e autonomia na geração de trabalho e renda“, ao qual esta dissertação esteve
vinculada.
4 RESULTADOS
4.1 GRUPO RECRIANDO COM FIBRAS
Considerando-se as visitas realizadas na oficina do grupo Recriando com Fibras no
decorrer das atividades e as etapas de produção do papel reciclado artesanal reforçado com
fibra de bananeira adotado pelas artesãs, apresenta-se a seguir os dados referentes a:
1) Caracterização do grupo Recriando com Fibras;
2) Descrição do ambiente da oficina das mulheres, incluindo exposição do espaço
físico, móveis, equipamentos e materiais necessários em cada etapa da produção;
3) Descrição dos EPIs inicialmente fornecidos ao grupo;
4) Aplicação das entrevistas com as artesãs.
4.1.1 Caracterização do grupo Recriando com Fibras
O grupo é constituído de seis mulheres, três da fase inicial do projeto Mulher com
Fibra e mais três participantes que entraram durante o andamento dos trabalhos. Referente
aos dados socioeconômicos, a faixa etária predominante do grupo foi de 30 a 39 anos (50%)
e 20 a 29 anos (33%), a condição civil demonstrou que todas são casadas e a maioria (83%)
possui de dois a três filhos. Da totalidade, 50% têm o ensino médio completo e a maior
parte do grupo (66%) respondeu que trabalha com agricultura ou é “do lar”. Quanto à renda
mensal, 83% das artesãs e de suas famílias possuem renda acima de R$901,00. Todas
possuem moradia própria e acesso à televisão e revistas, apenas uma artesã disse não ter
acesso também à internet. Dentre os principais programas de televisão assistidos estão os
jornais locais e nacionais, globo rural, novelas e programas vespertinos. Entre as revistas
53
mais lidas estão Super Interessante, Saúde, Nova e aquelas que abordam sobre artesanato
em geral.
Quanto aos dados técnicos, foi possível identificar que a maior parte do grupo trabalha
com artesanato há muitos anos (em média, 5 anos ou mais) e apenas uma integrante disse
trabalhar há menos de um ano. Dentre suas habilidades manuais estão crochê, bordado,
pintura e tapeçaria. Em relação à participação em outros grupos ou cooperativas de artesanato,
percebeu-se que metade das artesãs já teve essa experiência. De todas as participantes, 50% já
fez cursos ou oficinas de artesanato nos mais variados temas, como pintura em madeira e
desenho. Outra característica do grupo é que 83% das mulheres já tiveram oportunidades de
comercialização de artesanato.
As artesãs também foram questionadas sobre participação em cursos ou programas
oferecidos pela FMDR 25 de Julho e apenas uma disse não ter participado. Dentre os cursos
mais citados estão: empreendedorismo, informações turísticas, fibra de bananeira, liderança,
floricultura e apicultura.
Quando questionadas sobre terem trabalhado anteriormente com fibras e reciclagem de
papel, 66% e 83%, respectivamente, relataram nunca terem trabalhado com as matérias-
primas mencionadas. Na questão sobre o significado do design, a maioria (66%) respondeu
que sabia o que o termo significava, porém nenhuma das artesãs descreveu no formulário o
que entendia sobre o referido assunto.
Finalizando o questionário, abordou-se sobre o que cada uma das mulheres esperava
do projeto e a disponibilidade para participar dele. Dentre as seis respostas, destaca-se a
participante “A1” que disse “Espero que o grupo se transforme em um empreendimento bem
sucedido e minha disponibilidade hoje é total, pois quero me empenhar ao máximo para o
crescimento do grupo”. A participante “A2” respondeu: “Espero que o grupo cresça cada vez
mais, que tenha sempre a venda e a compra de seus produtos e minha disponibilidade seria o
dia inteiro”. Já as participantes “A3” e “A5” responderam, respectivamente: “Quero aprender
coisas novas e aproveitar meu tempo com artesanato, tenho disponibilidade de duas vezes por
semana” e “Espero que nosso projeto seja bem sucedido técnica e financeiramente. A minha
disponibilidade é total”.
54
4.1.2 Descrição da oficina e do método de produção do grupo Recriando com Fibras
A área da oficina utilizada para a produção do papel artesanal e criação do artesanato
possuia cerca de 12m2, com pé direito variando entre 2,25 m e 2,40 m, de alvenaria e sem laje,
conforme a Figura 12 – A, que ilustra a parte externa da oficina. Numa visão interna (Figura
12 - B), observa-se que o piso era de taco, o teto forrado com madeira e o sistema de
ventilação restrito a três janelas laterais e a uma porta de madeira na entrada da oficina. A
iluminação se dava por meio de quatro lâmpadas fluorescentes de 40 Watts cada.
Era um ambiente único, sem divisões para a realização das etapas secas, como a
sepação e picotagem do papel, e molhadas, como a desinfecção da polpa e formação da folha.
O grupo realizava o desenvolvimento de produtos (Figura 12 – C) e a produção das folhas em
um mesmo local e, além disso, não havia um espaço para descanso ou realização de refeições.
As artesãs contavam ainda, com algumas banquetas de madeira.
Figura 12: “A” Visão externa da oficina; “B” Visão interna da oficina; “C” Desenvolvimento de produtos. Fonte: A autora.
O método de produção de papel utilizado pelo grupo é o mesmo apresentado por
Bastianello (2005), porém, nesta seção são descritos alguns aspectos da aplicação prática
desse método que são peculiares à forma de ação do grupo.
A separação e a picotagem (Figura 13 – A) dos papéis foram realizadas na
UNIVILLE pelos bolsistas do projeto de extensão e posteriormente, encaminhados ao grupo
de mulheres para o uso. Para a desinfecção das aparas utilizaram-se baldes ou grandes galões
de plástico para acondicionar o molho, além de água e hipoclorito de sódio. Na lavagem e na
troca de molhos, foram usadas peneiras de plástico e baldes. A cocção foi realizada com
panelas de alumínio, um fogão caseiro, um botijão de gás (Figura 13 – B), hidróxido de sódio
55
e água, além de colheres grandes de madeira para misturar o molho. A polpação foi feita com
água, liquidificadores caseiros (Figura 13 – C) e peneiras.
Figura 13: “A” Papel picotado; “B” Fogões e botijão de gás; “C” Liquidificadores caseiros. Fonte: A autora.
Na fase 2, preparação de polpa de fibra de bananeira, a separação das camadas do
pseudocaule foi feita em cima de bancadas revestidas com mármore e sem escoamento de
água, com 1000 mm de altura. Depois de separadas, foram maceradas (Figura 14 – A) com
martelo de cozinha (batedor de carne) e cortadas com faca. Para as etapas de desinfecção,
cocção e polpação foram utilizados os mesmos equipamentos da fase 1. Depois de
produzidas, as polpas de aparas (Figura 14 – B) e de fibra de bananeira (Figura 14 – C) foram
estocadas sob refrigeração (4ºC).
Figura 14: “A” Maceração; “B” Polpa de aparas; “C” Polpa de fibra de bananeira”. Fonte: A autora.
Com as polpas prontas, deu-se início a fase 3 da produção, que se caracterizava pela
obtenção de folhas de papel artesanal. Para a confecção das folhas foram necessários, polpa,
água, cola e tina. A Figura 15 – A ilustra a caixa d´água de 1000 L usada inicialmente pelo
grupo. A Figura 15 – B exibe as telas e molduras de madeira nos tamanhos A3 e A2 e a
56
Figura 15 - C, as bancadas com tampo de mármore. Utilizou-se ainda para a formação do
papel, carpet, TNT e borrifador.
Figura 15: “A” Caixa d´agua; “B” Telas e molduras; “C” Bancada. Fonte: A autora.
A prensagem da folhas foi realizada numa prensa hidráulica de 15 ton (Figura 16 –
A). Para a secagem das folhas (Figura 16 – B) foi utilizado um espaço no lado externo da
oficina com varais para pendurá-las. Após secas, foram protegidas com sacos plásticos e
guardadas em armários de madeira. No Apêndice 8 consta uma lista mais detalhada dos
equipamentos que compõe a oficina.
Figura 16: “A” Prensa hidráulica; “B” Varal. Fonte: A autora.
Salienta-se que todo o material utilizado para a produção do papel artesanal e para a
confecção dos produtos artesanais foram armazenados juntos em espaços limitados das
57
bancadas. Parte das peças artesanais criadas foram expostas em uma prateleira de madeira que
fica na entrada da oficina, e parte armazenada junto aos outros materiais de consumo do local.
O grupo contou ainda com um refrigerador e um condicionador de ar split fornecidos
por um dos parceiros, mas não se encontravam em funcionamento devido a falta de espaço e
estrutura da oficina.
4.1.3 Descrição dos EPIs inicialmente fornecidos ao grupo
Partindo das primeiras atividades do Mulher com Fibra junto ao grupo de mulheres
verificou-se alguns aspectos relacionados à saúde e segurança dos envolvidos que mereciam
uma maior atenção pela equipe do projeto. Assim, cada participante do grupo recebeu um kit
básico de EPIs (Figura 17), uma ficha-controle de entrega desses equipamentos e uma
capacitação com um técnico em Segurança do Trabalho.
Figura 17: Kit básico de EPIs entregue às mulheres do grupo em outubro de 2007. Fonte: A autora.
O técnico em Segurança do Trabalho fez algumas considerações a respeito desses
equipamentos, que foram essenciais para a proposta de novos EPIs, dentre elas destacam-se:
Quando usar a luva, dobrar a sua parte superior, para que qualquer substância não
escorra para dentro dela. A luva deve ser lavada em água corrente e sabão antes de sua
58
retirada da mão para diminuir o risco de contaminação, pois após a realização das atividades
na oficina alguma substância pode ficar no EPI;
Para atividades que envolvam muita água, como no caso da prensagem do papel,
sugeriu-se o uso de um avental de plástico e mais comprido que aquele utilizado no momento;
Utilizar uma luva para atividades em alta temperatura, nesse caso, no manuseio da
panela quente onde se cozinham as polpas. Nessa mesma etapa usar máscara descartável
PFF2 valvulada.
Devido a grande freqüência de manipulação em água, seja pela necessidade de uso
na fabricação do papel ou na limpeza da oficina e equipamentos, sugeriu-se o uso constante
das luvas.
4.1.4 Entrevista com o grupo Recriando com Fibras
Após um mês de uso do kit básico de EPIs durante os trabalhos na oficina pelas
mulheres do Recriando com Fibras, foram aplicadas as primeiras entrevistas semi-
estruturadas individuais. No momento em que a capacitação e a primeira entrevista foram
realizadas, o grupo contava com cinco integrantes, mas três meses depois uma das
participantes saiu do projeto e duas novas iniciaram as atividades. Cabe destacar que, as novas
participantes não tiveram capacitação sobre segurança no trabalho, mas responderam à
entrevista. Das respostas, foi possível agrupar em quatro temas as principais percepções das
mulheres, como segue:
a) Quanto ao trabalho:
Em média, as mulheres trabalham no projeto há um ano e meio e 60% delas nunca
havia trabalhado antes em outra oficina ou laboratório. As horas semanais trabalhadas variam
entre 4 a 12 horas e foram realizadas, normalmente, no turno da tarde. O ritmo de trabalho foi
considerado bom e até mesmo, um relaxamento, mas conforme resposta de uma das
integrantes, o grupo precisa se organizar para cada uma fazer uma tarefa diferente. As artesãs
não costumavam trabalhar sozinhas, porém uma afirmou que já realizou atividades na oficina
59
sem companhia. Ainda referente ao trabalho, uma consideração levantada quanto as etapas de
produção foi o tempo e a forma de higienização das aparas e das fibras, pois além de ser um
processo lento, utilizava muita água e agredia a natureza.
b) Quanto a acidentes de trabalho:
Não houve menção sobre acidentes de trabalho na oficina. Nas respostas das
entrevistadas, verificou-se que a maioria não considerava perigosa a produção de papel, mas
que era necessário prestar muita atenção na manipulação dos produtos químicos para não
inalar ou ingerir, principalmente no cozimento das polpas com soda, devido a fumaça cáustica
e o forte cheiro. Outra questão levantada foi o cuidado com o uso da prensa, onde se faz
esforço e manipula-se peças pesadas. Quanto a segurança das atividades na oficina, todas a
consideraram segura. Sobre dor física, 60% disseram não sentir dor, apenas um cansaço
normal de uma jornada de trabalho. Apenas uma das integrantes afirmou sentir um pouco de
dor nas costas.
c) Quanto aos EPIs:
As artesãs costumavam usar os EPIs disponíveis na oficina, conforme verificam a
necessidade de utilizá-los em cada etapa da produção. Ganhou destaque o uso das luvas e das
botas, mas cada artesã definiu o que achava necessário utilizar em determinado momento.
Como sugestão de alteração dos EPIs comentou-se sobre luvas mais compridas, máscaras
mais grossas e botas menos quente. O restante dos EPIs foram considerados confortáveis e
adequados.
d) Quanto aos móveis, equipamentos e ambiente físico:
Dos móveis existentes na oficina, uma artesã mencionou que o recipiente (tanque)
onde é feito o papel era muito baixo e grande. Mencionou-se sobre a necessidade de mudar a
caixa d´agua por um recipiente menor. Verificou-se pelas respostas a necessidade de adequar
os móveis ao tamanho das participantes. As próprias artesãs colocaram alguns estrados
(paletis) na frente das bancadas, que são altas, e embaixo do tanque, porém o grupo ainda
afirmou que algumas atividades são cansativas e exigem esforço. Em relação aos
equipamentos, a substituição dos liquidificadores caseiros por um industrial foi unânime, pois
os caseiros esquentam muito, são pequenos e de baixa potência e, portanto, atrasam a
produção. Sobre a etapa da maceração, o grupo tentou utilizar um triturador para macerar as
fibras de bananeira, mas não foram obtidos bons resultados. Sobre o ambiente físico, as
60
entrevistadas solicitaram um local planejado, com um piso melhor, ventilação adequada, sem
goteiras, pois consideram a atual estrutura muito precária, e a oficina em si deveria ser mais
bem trancada.
A partir das respostas das primeiras entrevistas, verificou-se a necessidade de conhecer
as medidas de estatura e altura dos cotovelos das mulheres (Tabela 2), além da altura de
móveis e equipamentos dispostos na oficina (Tabela 3), para assim adequar algumas medidas
destes às artesãs.
Tabela 2: Medidas antropométricas das participantes do Recriando com Fibras - 2008.
Nº da participante
Estatura em mm Altura do cotovelo em mm
01 1557 1045 02 1745 1160 03 1675 1100 04 1652 1090 05 1641 1094
Tabela 3: Altura de móveis e equipamentos da oficina do Recriando com Fibras - 2008.
Móvel / Equipamento Altura em mm Bancada 1020 Prensa 1250 Caixa d´agua 1000 L 800 Tanque branco 480 Tanque branco com estrado 860 Tanque marrom 850 Freezer 900 Fogão 850 Prateleira superior 2050 Prateleira mediana 1750 Prateleira inferior 1350 Profundidade prateleiras 245 Prateleira dentro bancada 460 Estrado 80 a 95 Banqueta 730
Após as visitas na oficina do grupo, a capacitação com um profissional de Segurança
do Trabalho, a aplicação das primeiras entrevistas, o estudo de referenciais teóricos sobre os
temas abordados, e principalmente, a preocupação de incorporar as observações feitas pelas
artesãs sobre o processo artesanal ou sobre o aprimoramento das técnicas que utilizam, foi
possível delinear e aplicar no decorrer de 2007/2008, as primeiras propostas de melhoria para
61
a oficina e para a produção do papel reciclado artesanal, quanto ao emprego de novos EPIs e
equipamentos.
Assim, após alguns meses de uso dos EPIs e dos novos equipamentos pelo grupo,
aplicou-se, em setembro de 2008, a segunda entrevista para uma avaliação desses resultados.
Porém, não foi possível realizá-las com todas as participantes – uma saiu do grupo, e outra se
ausentou por alguns meses e, portanto, não acompanhou as alterações na oficina. Um mês
antes da segunda entrevista, uma nova integrante iniciou as atividades no projeto, mas não foi
abordada devido o pouco tempo de adaptação e conhecimento das atividades. Os efeitos das
mudanças realizadas na oficina ou nos EPIs são analisados ao longo da discussão na seção 5.
4.2 LABORATÓRIO DE MODELAGEM DO CAD
Paralelamente às ações junto ao grupo Recriando com Fibras, realizou-se o parecer
ergonômico da produção artesanal de papel para auxiliar as tomadas de decisão sobre as
melhorias e proposta de layout para a oficina. Assim, a equipe realizou todas as fases da
produção de papel artesanal com fibra de bananeira, conforme descritas na página 27 e anotou
no quadro do parecer ergonômico todas as observações segundo as quatro classes de
problemas. O quadro é apresentado na íntegra no Apêndice 9 e, a seguir, os dados mais
relevantes levantados nas três fases da produção a partir das classes de problemas do quadro:
a) Movimentacionais:
Dentre os principais problemas movimentacionais identificados estão: carregar baldes
cheios de polpa com aproximadamente 15 kg (Figura 18 – A), pois o operador curva o corpo
para carregá-lo; carregar e virar panelas com polpa, água e hidróxido de sódio quentes (Figura
18 – B); uso do liquidificador cheio de polpa e água, o equipamento encontrava-se instalado
muito baixo, o que faz com que o operador curve o corpo para usá-lo, ou muito alto (Figura
18 – C); uso do cilindro para macerar a fibra da bananeira, onde o operador trabalha em pé
movimentando os braços para ativá-lo (Figura 18 – D); encher o tanque para fazer papel com
62
baldes cheios de água e polpa; curvar o corpo para fazer a folha no tanque (Figura 18 – E);
esforço físico no uso da prensa hidráulica para prensar o papel (Figura 18 – F).
Figura 18: “A” Carregar baldes cheios de polpa e água; “B” Carregar e virar panelas quentes; “C” Uso do liquidificador cheio de polpa; “D” Uso do cilindro na maceração; “E” Curvar o corpo no tanque para produzir folhas; “F” Esforço para usar a prensa. Fonte: A autora.
b) Físico-ambientais:
Dentre os principais problemas físico-ambientais identificados estão: barulho da
fragmentadora (Figura 19 – A) no fracionamento do papel; calor no ambiente de trabalho
provocado pelo cozimento das polpas (Figura 19 – B); barulho do liquidificador durante a
polpação (Figura 19 – C).
63
Figura 19: “A” Fragmentadora; “B” Cozimento das polpas; “C” Liquidificador industrial. Fonte: A autora.
c) Químico-ambientais:
Dentre os principais problemas químico-ambientais identificados estão: contato com
papel armazenado há muito tempo na fase de picote (Figura 20 – A); contato com hipoclorito
de sódio e hidróxido de sódio, respectivamente, nas fases de higienização (Figura 20 – B) e
cocção do papel; vapor cáustico da cocção das polpas; respingo de sais minerais do
pseudocaule da bananeira na maceração; contato com a água do tanque que contém cola e
polpa na confecção das folhas (Figura 20 – C).
Figura 20: “A” Contato com papel armazenado há muito tempo; “B” Contato com hipoclorito de sódio e hidróxido de sódio; “C” Contato com água, cola e polpa no tanque. Fonte: A autora.
d) Acidentários:
Dentre os principais riscos de acidentes possíveis de ocorrerem estão: corte no dedo no
uso da fragmentadora de papel; ingestão ou respingo de hipoclorito de sódio nos olhos na fase
de higienização da polpa; respingo da água quente do cozimento das polpas com hidróxido de
sódio, além do forte cheiro provocado pela inalação do vapor cáustico (Figura 21 – A); corte
64
nos dedos com as lâminas do liquidificador; uso de faca (Figura 21 – B) e cilindro para cortar e
macerar o pseudocaule; risco de queda em virtude do chão molhado da oficina (Figura 21 – C).
Figura 21: “A” Possível respingo da água quente e forte cheiro provocado pela inalação do vapor cáustico; “B” Uso de faca para cortar a fibra de bananeira; “C” Chão molhado. Fonte: A autora.
4.3 PROPOSTA DE LAYOUT PARA A OFICINA DO RECRIANDO COM FIBRAS
Baseando-se nas sugestões de melhorias para a oficina e na preocupação de incorporar
as observações levantadas pelo grupo Recriando com Fibras, segue uma proposta de layout
(Figura 22) para a oficina das artesãs desenvolvida com o auxílio de uma bolsista de iniciação
científica do curso de Design.
66
5 DISCUSSÃO
A partir dos resultados obtidos no CAD da UNIVILLE, que foram utilizados para
acrescentar àqueles alcançados junto ao grupo Recriando com Fibras, puderam-se delinear as
propostas de melhorias para a saúde e segurança dos envolvidos no processo artesanal de
produção de papel, com destaque para a aplicação de EPIs e melhoria da estrutura física da
oficina, além de relacionar a participação das artesãs nesses resultados.
5.1 QUANTO AO GRUPO RECRIANDO COM FIBRAS
Por meio da aplicação das entrevistas, pôde-se identificar a percepção das mulheres
quanto ao trabalho na oficina e, com a aplicação do formulário, foi possível conhecer
limitações e necessidades a serem trabalhadas com as artesãs.
Trata-se de um grupo de mulheres relativamente jovens, com boa escolaridade, onde a
maioria nunca havia trabalhado antes em uma oficina ou laboratório, mas que procuram nesse
trabalho artesanal, além de uma terapia ou relaxamento, uma fonte complementar de renda,
como observado na fala da artesã:
“Para mim, o trabalho na oficina é um relaxamento. Espero que nosso projeto seja bem sucedido tecnicamente e financeiramente.”(A1)
Confirmando, portanto, os dados levantados pelo Atlas da Economia Solidária (2006),
onde “fonte complementar de renda” está entre os principais motivos para a criação ou
participação em EES.
Percebeu-se também, pelas respostas, que muitas buscam a troca de experiências e de
novos conhecimentos, como declarou uma artesã:
“Espero que além do lucro com as vendas, possamos aprender a trabalhar em grupo.”(A5)
67
Nesse sentido, entende-se que o trabalho fora do ambiente peculiar da família pode
trazer para a mulher uma autonomia que por muitas vezes modifica suas relações com os
familiares e em especial sua autoconfiança, mas também sua vivência com o meio ambiente e
com a comunidade. Logo, o artesanato para o Recriando com Fibras também cumpre seu
papel na integração e promoção social, o que corrobora a literatura de Pereira J.C. (1979) e
Fajardo et al. (2002), mesmo que o perfil das artesãs não seja de baixa renda. Essas mulheres
querem ser reconhecidas pelo trabalho que produzem, pela sua capacidade criativa, mas
principalmente, por estarem produzindo peças artesanais que valorizam a preservação do
meio ambiente e a solidariedade, o que condiz com as palavras de Coimbra (2007): por meio
da utilização de resíduos ou materiais recicláveis ou de exploração sustentável é possível
compor produtos com características regionais.
Outro dado levantado por meio do formulário é a experiência que o grupo Recriando
com Fibras possui com a produção artesanal. Isso confirma o fato de estarem hoje no grupo
apenas aquelas que têm afinidade com trabalhos manuais, facilitando o desenvolvimento dos
produtos artesanais, pois estão acostumadas a trabalhar com criatividade e materiais que
requerem um maior cuidado no manuseio.
Quanto à participação em outros grupos ou cooperativas de artesanato, percebeu-se
que mais da metade das artesãs já teve essa experiência, o que proporciona, portanto, o
trabalho em grupo e a troca de conhecimentos no que diz respeito à formação de um
empreendimento de artesanato.
Outra característica das mulheres do Recriando com Fibras, é que a maioria não havia
trabalhado anteriormente com fibras ou reciclagem de papel. São essas as matérias-primas
necessárias para a confecção do papel artesanal produzido pelo grupo, o que demonstra por
parte delas, a iniciativa em trabalhar com materiais novos, diferenciados, mas principalmente,
por estarem reaproveitando resíduos, o que condiz com os trabalhos de Garavello e Molina
(2005): buscam-se novas fontes de materiais naturais e o resgate de técnicas tradicionais.
São muitas as experiências de designers atuando junto a grupos de produção artesanal,
como apresentam a literatura de Aflalo (2002), Sebrae (2008) e Estrada (2001). Porém, é
necessário repassar a esses grupos o motivo pelo qual se dá a atuação do designer e o que esta
irá refletir no produto ou na sua produção. No formulário, a grande maioria das artesãs
respondeu que sabiam o significado de “design”, mas nenhuma delas descreveu no espaço
reservado o que entendia sobre. Dentre tantos motivos, acredita-se que para as artesãs não
seja fácil escrever sobre o assunto, já que é relativamente novo e que ainda, não está no
repertório de compreensão dessas mulheres.
68
Nesse mesmo formulário, todas as mulheres afirmaram que tinham total
disponibilidade para se dedicarem ao empreendimento e à produção artesanal. Porém, a
primeira entrevista demonstrou que o tempo real dedicado pelas artesãs ao trabalho era entre 4
a 12 horas semanais. Já na segunda entrevista, esse número aumentou 30 a 40%, pois
conforme aumenta a demanda de trabalho, o grupo se esforça para trabalhar mais. As
mulheres que moram na área rural, dedicam menos tempo ao empreendimento, fato este que
pode estar relacionado à cobrança da família ou às muitas atividades da propriedade rural,
como relatou uma das artesãs:
"Meu ganha pão é a minha propriedade, gostaria de dedicar mais horas ao grupo, mas preciso trabalhar no bananal.”(A3)
Esse aumento da produção artesanal do Recriando com Fibras, aliado ao atual
ambiente precário da oficina do grupo, vai ao encontro do relatado por Freitas e Romeiro
Filho (2004), em que muitos sistemas produtivos artesanais precisam ser revistos em função
do bem-estar do artesão que realiza a atividade. Nesse contexto, surgiu a proposta de layout
para a oficina do Recriando com Fibras, apresentada na seção 5.3. As falas de algumas das
mulheres confirmam a necessidade de uma nova estrutura de trabalho:
“A estrutura é precária. Porque é antigo, não tem boa ventilação, tem cupim e chove dentro.”(A1)
“Gostaria que fosse uma estrutura planejada.”(A4)
“Precisa de um bom exaustor e uma boa ventilação devido a fumaça, além do piso que é um pouco baixo.”(A3)
Devido à característica social deste trabalho, entende-se que o tipo de pesquisa
selecionada para a sua realização – pesquisa-ação foi condizente para a obtenção dos
resultados, pois as artesãs do Recriando com Fibras participaram efetivamente no estudo, o
que corrobora a definição de pesquisa-ação apresentada por Thiollent (2000), onde as pessoas
ou grupos implicados no problema sob observação participam com alguma ação, e no referido
caso, as artesãs colaboraram com sugestões de mudanças e melhorias para a oficina.
Os procedimentos metodológicos adotados para o estudo – visitas e entrevistas
demonstraram a percepção do grupo de artesãs quanto a oficina e a produção, pois nesses
momentos forneciam informações à pesquisadora que somente elas possuíam conhecimento,
pois tem um contato quase que diário com a produção e com o ambiente, o que condiz com a
definição de Safar (2002), em que a base do conhecimento no trabalho artesanal é pessoal, ou
69
seja, as artesãs conhecem intimamente o seu trabalho, os materiais, as ferramentas, suas
capacidades e limitações.
A vivência junto ao Recriando com Fibras e as observações levantadas no
desenvolvimento desse estudo revelaram que uma mudança na oficina do grupo pode ser
realizada facilmente e é indispensável. Certamente, algumas dessas mudanças já realizadas
refletem no bem-estar das artesãs, pois não mais as expõe em perigo no local de trabalho,
mesmo que por muitas vezes, o grupo não tenha percebido tais perigos.
5.2 QUANTO AOS EPIS
A capacitação do técnico em Segurança do Trabalho, as observações realizadas no
CAD, o acompanhamento das atividades junto ao grupo e as primeiras entrevistas realizadas
com as artesãs demonstraram a necessidade de aplicar EPIs ou melhorar os já utilizados por
elas na oficina. Logo, com base na literatura de Skraba et al. (2006) e Mastroeni (2006) e nas
evidências que surgiram durante o trabalho diário das artesãs, discutiu-se a aplicação de novos
equipamentos nesse decorrer, além da incorporação das recomendações sugeridas pelos
autores e pelo técnico quanto aos cuidados para prolongar a vida útil dos EPIs. Essas
sugestões foram repassadas ao Recriando com Fibras no dia da capacitação com o técnico e
ao longo do ano.
No momento da entrega do kit básico de EPIs, em outubro de 2007, as artesãs puderam
sanar suas dúvidas com o técnico de Segurança do Trabalho e ter um melhor entendimento
quanto ao uso de EPIs e o trabalho delas na oficina. Também foi possível repassar às artesãs a
importância de utilizar o kit de EPIs nas atividades, mas principalmente, que esse uso é
individual. E ainda, que os EPIs devem ser guardados em local próprio, longe da luz solar,
fontes de calor, umidade e de contaminação; que devem ser mantidos em bom estado de
limpeza; e se contaminados, proceder à descontaminação ou até mesmo, substituí-los.
Uma das questões levantadas nas primeiras entrevistas e que se confirmou durante o
acompanhamento das atividades do grupo, foi a necessidade do emprego de luvas mais
70
compridas e que pudessem atender as necessidade das mulheres de não molhar o braço
quando na formação da folha no tanque, como o relato abaixo:
“É preciso uma luva um pouco mais longa para não entrar água durante a confecção das folhas.”(A3)
Para tanto, realizou-se um teste com um modelo de luva de PVC com 56 cm de
comprimento, porém sua espessura prejudicava o tato à tela e demais equipamentos
necessários durante a formação da folha. Considerando esta percepção das mulheres, efetuou-
se o emprego de uma luva nitrílica de 50 cm. A luva nitrílica (Figura 23 – A) proporcionou
destreza às usuárias, além de possuir excelente propriedade física, caracterizada pela
resistência mecânica de seu filme à abrasão, perfuração e corte. Segundo a Biosafety
Information (1998) apresentado por Skraba et al. (2006) a resistência química da luva nitrílica
é considerada muito boa quanto ao hidróxido de sódio, fator esse relevante nas atividades da
oficina, já que o hidróxido está presente no processo de produção das folhas.
Conforme sugestão do técnico em Segurança do trabalho, confirmada durante a
produção de papel reciclado no CAD, verificou-se necessário o emprego de uma luva para
manuseio das panelas de alumínio em que as fibras e as aparas são cozidas. Sugeriu-se,
portanto, a luva 100% silicone (Figura 23 – B). Com 35 cm de comprimento, esta luva é
totalmente impermeável, com palma antiderrapante, ambidestra e punho reto. Seu uso pode
ser efetuado em temperaturas de até 250ºC, o que atende as necessidades do grupo. Esta
percepção não foi mencionada pelas artesãs nas entrevistas, porém elas se dispuseram a testar
esse EPI.
Outro ponto levantado na entrevista, e também pelo técnico em Segurança do
Trabalho, foi o uso da máscara descartável, considerada inadequada para ser utilizada em
ambiente com vapor cáustico proveniente da cocção das polpas:
“A máscara têm que ser um pouco mais grossa.”(A5)
“Quando utilizamos produtos químicos, o grupo usa as máscaras, mas elas são finas.”(A2)
Portanto, aplicou-se a Máscara Descartável PFF2 Valvulada (Figura 23 - C), que foi
testada e aprovada pelo grupo. Essa máscara, segundo o fabricante, possui capacidade de
retenção de 94% de partículas sólidas. Indicados para proteção contra névoas de ácido e soda
cáustica e vapores à baixa pressão, e que, portanto, atende aos requisitos das atividades
realizadas na oficina.
71
Quanto à roupa de proteção, identificou-se a substituição do jaleco de sarja por um
avental de plástico de 1,20 m (Figura 23 – D), que além de ser mais fresco proporciona maior
proteção a respingos de água e outros produtos como hipoclorito de sódio. Já o uso da touca
de rede (Figura 23 – E) se deve a possível queda dos cabelos das mulheres durante a
produção, o que poderá prejudicar a qualidade do papel. Também foi repassado ao grupo, que
os cabelos longos devem ficar presos para se evitar acidentes.
Figura 23: “A” Luva nitrílica; “B” Luva 100% silicone; “C” Máscara PFF2 Valvulada; “D” Avental de plástico; “E” Toca de rede. Fonte: A autora.
O óculos e o protetor auricular fornecidos ao grupo no kit básico de EPIs em outubro
de 2007 foram testados pelas artesãs e considerados adequados e confortáveis. Quanto a bota,
sua substituição por outro calçado menos quente foi solicitada por uma das entrevistadas,
porém, esse EPI não foi trocado, já que a participante saiu do grupo e essa queixa não foi
apresentada pelas demais integrantes. Como exemplo, cita-se aqui depoimentos das
entrevistadas:
“Para a finalidade do trabalho, os equipamentos são adequados. As botas são bastante confortáveis e eficientes.”(A1)
“Precisamos apenas de luvas um pouco mais longas para não entrar água e a máscara um pouco mais grossa, pois o restante dos equipamentos está adequado.”(A3)
Durante a substituição dos EPIs no decorrer do ano, percebeu-se uma conscientização
por parte das mulheres pela forma correta de realizar suas atividades na oficina e utilizar os
EPIs. O grupo entendeu que era necessário não apenas mudar alguns equipamentos, mas
também, utilizá-los corretamente e com freqüência, como propõe Skraba et al. (2006).
72
Uma melhoria que está ligada à segurança das atividades realizadas na oficina, mas
também à manutenção do grupo foi a demanda apresentada pelas mulheres em se ter à
disposição um responsável que pudesse cuidar dos seus filhos durante o trabalho na oficina, já
que muitas delas precisam trazê-los nos encontros semanais. Para tanto, foi possível compor
um grupo de bolsistas do curso de Engenharia Ambiental da UNIVILLE para realizar
atividades de entretenimento/pedagógicas com as crianças pelo menos uma tarde na semana.
Após o acompanhamento do trabalho das artesãs com o uso dos EPIs e a substituição
desses equipamentos conforme entendia-se a necessidade de substituí-los, aplicaram-se novas
entrevistas em setembro de 2008, para uma avaliação.
Nessa segunda entrevista, percebeu-se a necessidade de realizar uma nova capacitação
com o técnico em Segurança do trabalho, pois das cinco entrevistadas, três não participaram
da capacitação de outubro de 2007 e aquelas que estavam presente, afirmaram que foi
esclarecedora. Propôs-se, então, realizá-la em dezembro deste mesmo ano, mas o grupo
sugeriu para no início de 2009.
Quanto ao uso dos EPIs, todas responderam que costumam utilizá-los, principalmente
quando o trabalho exige manipulação da soda. A satisfação do grupo ao emprego dos novos
EPIs demonstrou que são adequados para a atividade e que não têm sugestões sobre esses
equipamentos.
Abordou-se também sobre a presença das estagiárias da UNIVILLE no cuidado com
as crianças durante as atividades na oficina. As respostas confirmam a necessidade de um
acompanhamento dos filhos das artesãs e justificam a presença das estagiárias:
“Sem as estagiárias eu não conseguiria trabalhar direito, porque iria pensar na minha filha e no trabalho ao mesmo tempo, e, assim, fico mais tranqüila no trabalho, porque sei que ela está em boas mãos.”(A4)
“A presença das estagiárias é bem importante, porque as crianças têm que ter um acompanhamento.”(A1)
Na primeira entrevista, não houve menção sobre acidentes de trabalho na oficina.
Porém, na segunda, uma participante relatou uma intoxicação com o vapor cáustico do
cozimento da fibra de bananeira. Esse acidente de trabalho está relacionado diretamente à
falta de uso do EPI máscara:
“Tive uma intoxicação com a soda, com o vapor do cozimento da fibra de bananeira. Tive tonturas, náuseas e muita dor de cabeça, mas
73
sem seqüelas. No momento, eu não estava utilizando máscara, mas avisei a todas as demais que estavam na oficina.” (A2)
Apesar de o grupo dizer não ter sofrido acidentes de trabalho na oficina, com exceção
do relato acima, é preciso considerar que tais acidentes ocorreram, mas o grupo não soube
identificar. O que justifica, portanto, uma nova capacitação com o técnico em Segurança do
Trabalho para maiores esclarecimentos.
Ainda referente aos EPIs, o preenchimento do quadro do parecer ergonômico a partir
das atividades realizadas no CAD, apontou alguns problemas que não foram levantados pelas
artesãs nas entrevistas, mas que podem ser sanados com o uso de EPIs. Essas considerações
foram repassadas ao grupo de mulheres, conforme segue:
Barulho da fragmentadora no fracionamento do papel; barulho do liquidificador
durante a polpação: protetor auricular de silicone.
Vapor cáustico da cocção das polpas: máscara descartável PFF2 valvulada.
Respingo de sais minerais do pseudocaule da bananeira na maceração: avental de
plástico, bota e luva nitrílica.
Possível respingo da água quente do cozimento das polpas com hidróxido de
sódio: óculos de proteção.
Ambiente (chão) da oficina molhado devido a grande quantidade de água usada na
produção: bota.
Contato com papel armazenado há muito tempo na fase de picote; contato com
hipoclorito de sódio e hidróxido de sódio, respectivamente, nas fases de higienização e cocção
do papel; contato com a água do tanque que contém cola e polpa na confecção das folhas;
possível corte nos dedos com as lâminas do liquidificador; possível corte no dedo no uso da
fragmentadora de papel; uso de faca e cilindro para cortar e macerar o pseudocaule: luva
nitrílica.
Cabe destacar que, o uso de EPIs na produção do papel artesanal não impede que
acidentes de trabalho aconteçam, pois, além de equipamentos, é necessária a atenção da
artesã. Essa percepção foi mencionada na primeira entrevista realizada junto ao grupo, onde
uma participante respondeu:
“É necessário prestar muita atenção na manipulação dos produtos químicos, para não inalar ou ingerir, principalmente no cozimento das polpas.” (A1)
Outro cuidado quanto ao trabalho na oficina e que também foi uma percepção do
grupo demonstrada na entrevista, é evitar trabalhar sozinha na oficina.
74
5.3 QUANTO A ESTRUTURA FÍSICA
As observações levantadas pelas artesãs do Recriando com Fibras nas entrevistas e
durante as visitas junto ao grupo colaboraram para o desenvolvimento de algumas sugestões
de melhoria da oficina quanto à estrutura física e substituição de alguns equipamentos que,
por fim, resultaram numa proposta de layout de uma nova oficina. Constam no Apêndice 10,
as imagens desses equipamentos.
Analisando-se a idade das mulheres do grupo (66% têm mais de 30 anos), à luz da
literatura de Grandjean (2005), as artesãs não possuem mais tanta força muscular para realizar
as atividades que envolvem peso, tendo disponível aproximadamente 60% dessa força e que,
portanto, justifica adequar os pesos e medidas para evitar possíveis problemas de saúde às
trabalhadoras, mas principalmente conscientizar as mulheres da forma correta de fazê-lo.
Na oficina do Recriando com Fibras ateve-se também a aspectos ergonômicos que
estão diretamente ligados à qualidade de vida das artesãs e que, conforme a literatura de
Wisner (1987) e Iida (2005) classifica-se como ergonomia de correção e de conscientização,
pois se enquadra numa situação real, e sugere a conscientização das artesãs a trabalharem
corretamente e reconhecerem possíveis riscos. Dentre eles, destacam-se:
a) Liquidificador:
Um dos pontos mais abordados nas entrevistas foi a substituição do liquidificador
caseiro por um mais potente. Citam-se alguns relatos do grupo:
“Precisamos de um liquidificador industrial, pois os que se tem na oficina esquentam muito e é preciso parar de bater para poder continuar a produção, além do volume de produto que se coloca no liquidificador, sendo um liquidificador industrial, pode-se colocar mais produto.”(A2)
“É preciso um liquidificador maior, porque o caseiro é muito fácil de queimar.”(A3)
“Um liquidificador mais potente pra gente fazer mais polpa ao mesmo tempo.”(A4)
Portanto, aplicou-se um liquidificador industrial de 10 L da marca Metvisa, modelo
LQ 10, que proporcionou, segundo as artesãs, um aumento no rendimento da produção da
polpa em sete vezes, sem prejudicar a qualidade da polpa obtida. A inserção dessa tecnologia,
75
o liquidificador, condiz com as palavras de Barroso Neto (2001), pois melhorou o
desempenho da atividade e facilitou a sua execução, sem descaracterizar o produto.
Para o emprego desse equipamento, considerou-se também o ruído produzido por ele,
para que não ultrapassasse o nível máximo suportado sem provocar sequelas. Conforme o
fabricante, o ruído máximo do referido liquidificador à 1 m é de 67 dB e à 3 m, 55 dB, o que
condiz com os níveis recomendados em Iida (2005), já que o uso desse equipamento é
esporádico. Nas primeiras entrevistas não foi mencionado sobre o incomodo provocado pelo
barulho dos liquidificadores, porém as mulheres foram instruídas a sempre utilizarem os
protetores auriculares durante a polpação, mesmo que não estejam trabalhando diretamente
com essa etapa da produção. Os relatos colhidos confirmam a melhoria:
“Melhorou bastante a produção com o novo liquidificador e o barulho diminuiu.”(A1)
“O liquidificador industrial deu um incremento muito bom na produção e agora é possível programar a produção de polpa.”(A5)
Outro importante fator observado no liquidificador foi o seu peso (10,7 kg) e sua
altura (base com 300 mm e copo com 510 mm) para que as artesãs pudessem utilizá-lo sem
prejuízo a saúde. Atualmente, o equipamento é disposto no chão ou em cima das bancadas,
pois a oficina não possui um suporte ou uma bancada apropriada para acomodar o
equipamento e proporcionar um trabalho adequado e sem esforço físico para as mulheres.
Conforme conselhos práticos apresentados por Grandjean (2005) para agachamento e
levantamento de pesos, propõem-se para o projeto de layout da oficina do grupo, um suporte
de 400 mm de altura para que em cima do suporte, o liquidificador alcance 1200 mm. Esta
medida atende a recomendação de Couto (2002) do ponto ótimo para se pegar uma carga.
b) Prensa hidráulica:
Para a prensa hidráulica funcionar é preciso um esforço da artesã para realizar os
movimentos da alavanca de estimulação do óleo que faz a prensa funcionar. O uso da prensa
foi levantado por uma das participantes na primeira entrevista, quanto ao cuidado necessário
que se deve ter ao utilizar o equipamento, pelo esforço físico exigido e pela manipulação de
peças pesadas (uma placa de ferro, com 6,5 kg e duas placas de madeira, com 6 kg cada):
“Acho perigosa a hora da secagem do papel, de prensar. Tem que ter cuidado com as mãos para que nenhuma peça machuque, porque é ferro. É preciso trabalhar em dupla para ambas se ajudarem.” (A3)
76
Para o uso desse equipamento, foi repassado às artesãs que para retirar e colocar as
placas na prensa, essa atividade deve ser realizada em dupla, para dividir o peso das placas. Já
quando fossem ativar a alavanca para a prensagem, que a fizessem com as costas retas, os
joelhos semiflexionados e uma boa colocação dos pés, conforme conhecimentos científicos de
Kroemer et al. (1997) e Mittal et al. (1993), apresentados por Grandjean (2005).
Quando utilizada, o piso em volta da prensa hidráulica fica molhado, devido o excesso
de água que escorre da pilha de folhas prensada. Deste modo, com o objetivo de manter o
ambiente da oficina mais limpo e seguro, sugere-se para a proposta de layout, a construção de
uma zona de escoamento de água em volta da prensa e dos tanques de confecção das folhas, já
que se prevê a instalação desses ao lado da prensa. Essa proposta se baseia na ilustração de
Asunción (2002) apresentada na seção 2.2 deste trabalho.
c) Tanque:
Na etapa de confecção das folhas, o grupo de mulheres utilizava uma caixa d´água de
1000 L, que era arredondada, grande, sem rodinhas para deslocamento e próxima ao chão,
fazendo com que as operadoras se inclinassem com a tela nas mãos para formar a folha na
mistura contida no recipiente, o que tornava essa etapa cansativa e dolorosa. Tal caixa d´água
foi substituída pelas artesãs por uma tina menor de 120 L, mas que também era muito baixa,
configurando conforme o quadro do parecer ergonômico (Moraes e Mont´Alvão, 1998), um
problema movimentacional, além de limitar a confecção de folhas maiores. Fato que pode ser
ilustrado pelos relatos de duas artesãs, em suas entrevistas:
“Precisamos de uma caixa d´água menor para ser mais fácil de lidar na produção do papel e na área de trabalho.”(A1)
“Para se fazer o papel, o recipiente (caixa d´água) é muito baixo, onde esta etapa se torna meio cansativo, porque é preciso se abaixar muito.”(A4)
Deste modo, segundo relatos das artesãs nas entrevistas e durante o uso desses
recipientes, além da literatura de Grandjean (2005), para evitar qualquer postura curvada ou
não-natural do corpo, empregou-se um novo tanque, de 372 L de volume. Esse equipamento
possui formato retangular, com rodinhas e tampa, e não precisa ser disposto em cima de
estrados para ficar com uma altura confortável (850 mm). Está prevista ainda, a instalação de
uma válvula do tipo registro para facilitar o escoamento da água e evitar a perda da polpa que
é trocada todas as vezes que se produzem papéis diferentes. Em seu relato, uma das
entrevistadas confirma a melhoria proporcionada pelo novo tanque:
77
“Com o novo tanque é possível fazer folhas maiores utilizando menos água e polpa.”(A5)
d) Cilindro
Uma das participantes mencionou na primeira entrevista que a etapa de maceração é a
mais complicada de todo o processo de produção da polpa de fibra da bananeira. Porém, o
próprio grupo substituiu o martelo caseiro por um cilindro de pão para a quebra das paredes
parenquianas do pseudocaule. O emprego do cilindro demonstrou não alterar a qualidade das
fibras, além de facilitar essa etapa da produção, confirmando a literatura de Barroso Neto
(2001) que é possível inserir tecnologias simples em processos artesanais.
e) Varal:
Não se mencionou nas entrevistas, sobre possíveis dificuldades na etapa de secagem
das folhas artesanais produzidas, porém, durante o acompanhamento das atividades realizadas
pelo grupo e também nas atividades no CAD, identificou-se a possibilidade de construção de
um varal portátil, que facilitasse a secagem das folhas, pois as mulheres as penduram em um
varal no lado externo da oficina. Além de essas folhas ficarem muito perto uma da outra, o
que dificulta a circulação do ar e a secagem adequada, muitas vezes enrugam se a secagem for
muito rápida. O grupo também fica na dependência das condições do tempo, pois quando está
chovendo ou ventando forte, não é possível pendurar as folhas.
Assim, com o auxílio de um bolsista do curso de Engenharia de Produção Mecânica,
definiu-se a confecção de um varal móvel, de pequeno porte com capacidade de suportar a
secagem de até 60 folhas. O material utilizado na sua construção foi o aço SAE 1020 de perfil
retangular, nas dimensões 1800 x 800 x 2000 mm, com duas camadas, uma em cima da outra
intercalando os espaços em 50 mm, para melhor fixação e evitar que a água molhasse as
outras folhas de papel. Pensando na utilização do espaço, incluíram-se rodas ao varal para
movimentá-lo, facilitando tanto o procedimento de estender as folhas como o de deslocar o
varal para um ambiente com maior ventilação. O varal produzido foi testado durante as
atividades realizadas no CAD e prevê-se o fornecimento de um exemplar para as artesãs.
f) Prateleiras:
Existem na oficina das artesãs algumas prateleiras de madeira onde são guardados e
expostos os produtos artesanais. A mais alta está a 2050 mm do chão e a mais baixa à 1350
mm, com 245 mm de profundidade. Segundo recomendações apresentadas por Grandjean
(2005), sugere-se para a proposta de layout da oficina do grupo, que as prateleiras superiores
78
não devem estar acima de 1400 a 1500 mm e as mais baixas a 750 mm do chão, nesta altura,
devem ter 600 mm de profundidade.
g) Bancadas:
A literatura de Grandjean (2005) lembra que a definição da altura de trabalho tem
importância fundamental para o projeto dos locais de trabalho. Numa oficina de produção
artesanal é importante ater atenção nos móveis onde são realizados os trabalhos manuais e que
requerem uma maior delicadeza.
As bancadas da oficina do Recriando com Fibras, com 1000 mm de altura, é o móvel
onde é realizada a maior parte das atividades do grupo. Nas entrevistas, as artesãs
mencionaram a necessidade de adequar os móveis ao tamanho das participantes e o próprio
grupo empregou na frente das bancadas, estrados de madeira com 90 mm em média de altura.
Mesmo atendendo as necessidades de altura das artesãs, os estrados não são seguros, pois
possuem vãos entre uma madeira e outra, o que pode prender o pé e provocar uma torção,
como relatado por uma das mulheres. Citam-se aqui depoimentos das entrevistadas:
“Os balcões são altos, o grupo já colocou alguns paletis, mas é preciso verificar a ergonomia.”(A1)
“Alguns itens deveriam ser adaptados ao tamanho da participante.”(A2)
“A bancada é alta, e então os paletis são bem necessários. Mas já prendi o pé entre os vãos de madeira do estrado.”(A4)
Aplicando as definições de altura sugeridas por Couto (2002) e Grandjean (2005), aos
dados antropométricos do grupo de artesãs e o tipo de atividade a ser desenvolvida por elas,
propõe-se para as bancadas:
Altura regulável, porém, se não for possível um móvel com essa característica,
utilizar bancadas com alturas diferentes e que atendam as alturas recomendadas para os dois
tipos de trabalhos realizados na oficina: leve (900 mm) – produção de polpa e folhas, e de
precisão (1000 mm) – criação dos produtos artesanais. Nos trabalhos de precisão ou
delicados, empregar um apoio para os cotovelos. Para a definição dessas medidas, utilizou-se
a altura da artesã mais alta, conforme recomendações de Grandjean (2005), pois se tem como
recurso o uso de plataformas (palletis ou estrados) como superfície de apoio de compensação
para adequar a altura das artesãs mais baixas ao posto de trabalho.
Rodinhas com dispositivo de trava, para deslocar as bancadas mais facilmente;
79
Espaço de 100 mm para os joelhos;
Recuo de 130 mm para o pé da pessoa que está trabalhando com 100 mm de
altura;
São realizadas atividades nesse móvel que envolve tanto o uso de materiais secos,
quanto o uso de água, recomenda-se, portanto, revestir as bancadas com mármore escuro,
além de aplicar um sistema de escoamento de água para evitar o acúmulo de líquidos e
sujeira.
h) Transporte de produtos:
O artesanato produzido pelo grupo é bastante frágil e requer uma maior atenção no seu
transporte e armazenagem, seja dentro da própria oficina ou no transporte para feiras e
exposições. Para suprir essa necessidade, foram entregues ao grupo engradados de plástico
com dimensão de 500 x 300 x 230 mm. Segundo as entrevistas, esse equipamento foi
aprovado por todas as participantes, pois não há alteração dos produtos após serem
transportados. Além disso, o engradado de plástico é um instrumento que facilita o
levantamento de pesos, como recomendam os estudos de Kroemer et al. (1997) e Mittal et al.
(1993) apresentados por Grandjean (2005). As entrevistas demonstram que:
“Os produtos ficam com uma aparência melhor depois de serem transportados, não amassam mais, não estragam tanto.” (A3)
“É bem melhor guardar e carregar os produtos com o auxílio das caixas.” (A5)
i) Design de pegas:
Das observações realizadas, verificou-se que os baldes utilizados pelo grupo possuem
alças muito finas e dificultam a pega. Assim sendo, com base nas recomendações de
Grandjean (2005), foram disponibilizados ao grupo baldes com alças anatômicas e com
encaixe para as mãos na base, proporcionando um maior conforto.
j) Mangueira:
Uma forma de auxiliar o trabalho dentro da oficina é o uso de mangueira instalada na
zona de trabalho, que segundo Asunción (2002) facilita a limpeza do ambiente e
equipamentos, além de oferecer a vantagem de se poder levar a água até o lugar onde é
preciso, e não o contrário, pois transportar baldes e tanques é uma tarefa muito pesada e
desnecessária. O grupo possui uma mangueira, mas não costuma utilizá-la, preferem encher
80
os baldes com as torneiras das pias. Acredita-se que esse fato deva-se a falta de espaço na
oficina, e a mangueira tornar-se um obstáculo, por ficar no meio do caminho.
5.3.1 Proposta de layout da oficina das artesãs
O layout da oficina foi planejado conforme a seqüência das etapas da produção para
que desta forma, contribua para a organização e a qualidade da produção artesanal, como
sugerido por Freitas (2006) e abordado por uma das artesãs na primeira entrevista.
Numa área total construída de 53,5 m2, a proposta prevê um espaço principal (oficina),
onde serão produzidas as folhas recicladas; uma sala de criação, para o desenvolvimento das
peças artesanais; uma sala de convivência; para o descanso e refeições; um almoxarifado; um
banheiro e uma casa de gás externa.
De modo geral, prevê-se para a construção um pé direito de 3 m; paredes de alvenaria
de tijolo ou de concreto celular revestida com pintura acrílica lavável; laje de concreto ou pré-
moldada com pintura acrílica e piso em cerâmica ou epóxi. Segue no Apêndice 11, o
detalhamento da proposta.
Levou-se em consideração que o ambiente da oficina fosse um local agradável de
trabalhar, amplo, com janelas grandes para entrada de luz solar e ventilação, e embaixo
dessas, janelas basculantes para circulação constante do ar, diferente da atual oficina do
grupo, que além de ser quente e baixa, não permite que as artesãs permaneçam na oficina na
fase de cocção das polpas. Ambientes ventilados e servidos por luz natural consomem menos
energia, porque têm menor necessidade de iluminação artificial e por minimizarem ou
dispensarem o uso de condicionadores de ar.
É importante que a oficina receba muita luz solar e vento, pois a umidade
característica de Joinville é um fator prejudicial à qualidade das peças e das matérias-prima,
sem mencionar a saúde das artesãs. Atualmente, são freqüentes problemas com mofo na
oficina do grupo, além dos cupins, formigas e goteiras.
No atual espaço disponível para o trabalho das artesãs não existe um ambiente
exclusivo em que se possa descansar, relaxar e fazer refeições. Um ambiente como esse pode
81
promover as pausas para descanso que tendem a aumentar a produção, ao invés de reduzir,
pois as pausas do trabalho são indispensáveis para a condição fisiológica. Portanto, sugere-se
no layout, uma sala de convivência para ser utilizada em refeições e descanso. Esse ambiente
contaria com cadeiras com assento de tecido liso, e o apoio das costas, com uma almofada
lombar, diferentes das atuais banquetas de madeira, para que as mulheres possam alternar o
trabalho em pé com alguns momentos sentadas, como indica Grandjean (2005).
Ainda em relação ao bem-estar das artesãs, condizendo às recomendações de Couto
(2002), propõe-se a incorporação de atividade de alongamento, para garantir que no
desempenho de um maior esforço, os músculos estejam devidamente preparados, evitando-se
distensões e outros transtornos musculares dolorosos. A proposta está em ensinar as mulheres,
com o auxílio de um educador físico ou fisioterapeuta, algums exercícios básicos que
promovam relaxamento e qualidade de vida no trabalho. O parceiro Instituto Consulado da
Mulher possui uma voluntária que se dispôs a dar essa capacitação ao Recriando com Fibras
no início do próximo ano.
Quanto à adoção das sugestões para a melhoria da estrutura física da oficina das
artesãs, a proposta de layout será encaminhada ao parceiro FMDR 25 de Julho, e assim que
possível, serão aplicadas ao grupo Recriando com Fibras.
82
CONCLUSÃO
Por se tratar de um trabalho interdisciplinar, a contribuição de diferentes áreas do
conhecimento, como ergodesign e segurança do trabalho, promoveu uma variedade de
resultados que foram fundamentais para a avaliação do ambiente de produção do papel
reciclado artesanal do grupo de artesãs.
Pois, a identificação das características da oficina do Recriando com Fibras quanto a
equipamentos, estrutura física e forma de execução da técnica permitiu promover propostas de
mudanças para esse ambiente e melhorar as condições de segurança no trabalho desenvolvido
pelo grupo de artesãs, como a inserção de EPIs adequados.
As propostas de alteração e aplicação de alguns equipamentos no ambiente de trabalho
da oficina puderam ser articuladas em conjunto com as artesãs, proporcionando, maior
confiabilidade no estudo por parte do grupo, pois elas puderam participar efetivamente nas
decisões.
Das melhorias aplicadas, conclui-se que o emprego dos EPIs auxiliou na proteção das
artesãs nas atividades realizadas durante a produção artesanal, além de ter proporcionado a
elas maior confiança no trabalho que desenvolveram. Os conceitos de ergonomia aliados aos
de segurança do trabalho demonstraram que a oficina apresentou problemas, mas que são
possíveis de serem solucionados sem que para isso sejam feitos grandes investimentos.
A proposta de layout para a oficina do Recriando com Fibras atendeu as principais
características para a produção de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira,
quanto ao espaço físico, etapas da produção, equipamentos, móveis, segurança e necessidades
das artesãs. Neste contexto, compreende-se ainda que o ergodesign, como área do design
voltada às questões ergonômicas do projeto, colaborou por meio dos seus conceitos para a
proposta de layout, bem como para a melhoria da oficina do Recriando com Fibras.
Conclui-se ainda que, além das questões técnicas avaliadas, um dos maiores resultados
desse estudo foi a possibilidade de trabalhar com a comunidade – mulheres artesãs,
proporcionando a elas uma possibilidade de geração de renda com conforto e segurança.
O trabalho com as artesãs, em suas várias etapas de convívio e troca de informações,
trouxe um grande crescimento pessoal para a investigadora, principalmente nos problemas
enfrentados durante a execução da pesquisa, como a estrutura precária da oficina do grupo,
pois não havia um local adequado para conversar com as artesãs; a dificuldade de reuní-las
83
para as capacitações, entrevistas e entrega de equipamentos, principalmente com as mulheres
da área rural, já que a ida delas à oficina dependia de suas atividades na propriedade rural.
Observou-se que é possível inserir tecnologias na produção artesanal, como o
liquidificador industrial, melhorando o desempenho das atividades realizadas e otimizando o
processo, sem alterar suas características e a autenticidade do trabalho realizado pelo grupo de
mulheres, e que, portanto, responde a pergunta de pesquisa desse estudo.
Entendeu-se a necessidade da realização de outras pesquisas que abordem questões
que aqui não puderam ser aprofundadas como, por exemplo, a substituição do hidróxido de
sódio usado na cocção das polpas, por outro agente químico menos prejudicial à saúde e ao
meio ambiente. Sugere-se ainda, uma investigação sobre a possibilidade de aplicar conceitos
de gestão da qualidade numa atividade artesanal e a criação de uma cartilha sobre segurança
do trabalho e ergonomia que possa ser aplicada nesse setor.
Percebeu-se, também, a importância de repetir a capacitação com o técnico em
Segurança do Trabalho para atualizar os conhecimentos das artesãs quanto ao uso de EPIs e
de boas práticas na oficina. E ainda, trazer um profissional de fisioterapia ou educador físico
para ensinar às mulheres atividades de relaxamento e alongamento.
Quanto às contribuições dessa pesquisa para o contexto estudado, acredita-se que a
partir dos resultados alcançados, outros grupos que trabalham com os mais variados tipos de
artesanato possam se beneficiar dos aspectos discutidos e aplicados na saúde e segurança das
artesãs do Recriando com Fibras. Para tanto, pretende-se socializar os conhecimentos aqui
adquiridos por meio de congressos e artigos nas áreas de design, artesanato e ergonomia.
Os resultados encontrados nessa pesquisa deverão ser apresentados às mulheres do
Recriando com Fibras em forma de seminário e na entrega de um resumo escrito contendo a
proposta de layout da oficina e o seu detalhamento. Esse documento também será
encaminhado aos parceiros do projeto de extensão Mulher com Fibra, ao qual o grupo é
vinculado.
Capacitar empreendimentos de produção artesanal, como o Recriando com Fibras, é
uma forma de integração social, principalmente se o foco for além do produto em si, mas se
essa valorização também alcançar o artesão e o seu bem-estar, pois é neles em que a cultura
do lugar está representada.
84
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90
APÊNDICE 1
PROJETO DE EXTENSÃO MULHER COM FIBRA
A aproximação entre os conhecimentos científico-tecnológicos e as comunidades
produtivas rurais, por meio da pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos com a
utilização de recursos naturais renováveis é uma forma de promover a valorização tanto dos
processos artesanais de produção comunitária como os processos sustentáveis de
transformação de resíduos sólidos em matéria-prima novamente.
O conceito de sustentabilidade aqui adotado é o mesmo proposto por Scharf (2004) e
que se apóia sobre um tripé formado pelo respeito ao meio ambiente, pela eficiência
econômica e pela equidade social.
Com este intuito, deu-se início aos trabalhos do projeto de extensão universitária
Mulher com Fibra que procura atuar de forma sustentável na produção de papel reciclado
artesanal reforçado com fibra de bananeira, no desenvolvimento de produtos artesanais e na
capacitação de mulheres rurais para a geração desses, já que os produtos desenvolvidos visam
agregar valor a resíduos e oportunizar outra forma de trabalho e renda para essas mulheres,
bem como para suas famílias.
No seu primeiro ano de atuação, março de 2006 a fevereiro de 2007, o projeto Mulher
com Fibra, criado a partir do título do projeto de extensão, contou com uma parceria entre
universidade – UNIVILLE e poder público – Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural
25 de Julho (FMDR 25 de Julho). A UNIVILLE atuou como facilitadora, por meio de uma
ação coletiva e multidisciplinar entre docentes e discentes dos cursos de Design, Engenharia
Ambiental e Engenharia Química, proporcionando às mulheres o conhecimento e o exercício
da técnica de produção de papel artesanal. Já a FMDR 25 de Julho contribuiu por meio do
Programa de Desenvolvimento da Mulher Rural, orientado pela sua Coordenação de
Agregação de Valor, no fornecimento dos recursos naturais necessários para o fabrico do
papel reciclado - resíduos oriundos da bananicultura, e na disponibilização do espaço físico
para o repasse da tecnologia de produção para um grupo de mulheres previamente convidado
pelas extensionistas da FMDR 25 de Julho.
Como objetivo inicial, propôs-se desenvolver artesanato em produção comunitária
com a utilização de recursos naturais renováveis tendo como matéria-prima principal o papel
91
reciclado fabricado com aparas (que significam fibras de celulose que já passaram, pelo
menos uma vez, por um processo de fabricação de papel) de papéis brancos (oriundas dos
setores administrativos da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PRPPG da
UNIVILLE) juntamente com resíduos orgânicos da bananicultura (fibras naturais), da
olericultura (corantes naturais) e da mandiocultura/bananicultura (aglutinantes naturais). Para
alcançar este objetivo, o trabalho foi delineado em:
Introduzir conceitos de gestão ambiental nos setores da PRPPG da UNIVILLE em
parceria com o Programa Reciclar da instituição (programa este que institucionalizou a coleta
seletiva de resíduos sólidos gerados dentro da universidade), visando aperfeiçoar as ações de
separação e coleta dos resíduos de papel.
Promover a conscientização ambiental para os funcionários dos setores da PRPPG
da UNIVILLE e para as comunidades produtivas agroindustriais rurais integrantes dos
Programas de Assistência Técnica e de Extensão Rural da FMDR 25 de Julho.
Capacitar as mulheres do Núcleo de Artesanato da FMDR 25 de Julho a
produzirem papel reciclado com aplicação de fibras, corantes e aglutinantes naturais
provenientes das agroindústrias rurais de Joinville (Figura 24);
Repassar metodologias e ferramentas do design às mulheres para o
desenvolvimento de produtos a partir do papel reciclado artesanal;
Criar uma marca/selo para os produtos caracterizando-os como sustentáveis de
produção artesanal e comunitária;
Introduzir conhecimentos de gestão tanto focados nas ações de planejamento e
organização de um negócio quanto nas aplicações de metodologias e conceitos de
desenvolvimento de produtos, disseminando o design social e ambiental;
Viabilizar a inserção dos produtos desenvolvidos no mercado agroindustrial
artesanal rural e turístico da região, acrescentando renda às famílias rurais, praticando o
desenvolvimento sustentável, contribuindo para o cumprimento da missão e visão da
UNIVILLE, e consolidando a região rural de Joinville como um pólo turístico que vive da
valorização ambiental, social e econômica.
92
Figura 24: Papéis produzidos pelo grupo de mulheres no primeiro ano de atuação do projeto: “A” papel com 100% fibra de bananeira e cola de quiabo; “B” papéis com polpa de papel de escritório e fibra de bananeira em diversas proporções; “C” papel branco com aplicação de folhas secas; “D” papel com polpa de papel de escritório, fibra de bananeira, casca de cebola e alho e pó de café. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Por se tratar de um projeto de extensão, o Mulher com Fibra procura socializar os
conhecimentos produzidos com a sociedade por meio de capacitações e oficinas para a
comunidade. Em parceria com um outro projeto de extensão da universidade, o Matur(i)dade,
que propõe atividades a indivíduos com 50 anos ou mais, foram realizadas duas oficinas de
produção de papel reciclado e criação de produtos artesanais com o papel produzido: uma em
2007 com 20 participantes e outra em 2008, com 43 participantes, conforme ilustra a Figura 25.
93
Figura 25: Oficinas em parceria com o Projeto Matur(i)dade. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Ainda em 2007, um curso de extensão pôde ser desenvolvido com alunos de diversos
cursos da UNIVILLE. O curso “Papel reciclado artesanal com aplicações de resíduos do
cotidiano” foi ministrado em outubro de 2007 para um público de 12 alunos (Figura 26).
Nessa ocasião, trabalhou-se outros resíduos, além do papel de escritório, como casca de
cebola, casca de alho, pó de café, fios de lã, restos de lápis de cor e pó de giz de cera.
Figura 26: Curso de extensão “Papel reciclado artesanal com aplicações de resíduos do cotidiano” ministrado em outubro de 2007. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
METODOLOGIA DE TRABALHO DO PROJETO MULHER COM FIBRA
No início de 2006, o projeto pôde ser apresentado às mulheres em um encontro
organizado na FMDR 25 de Julho. A apresentação se deu por meio de slides, onde se mostrou
a equipe, os objetivos, as etapas e o cronograma de trabalho, o processo de fabricação do
94
papel de forma resumida e ilustrativa, e ainda questionamentos sobre o que é design e de
cases de sucesso de interferências de designers em comunidades artesãs.
Os momentos seguintes do trabalho se deram por ações de introdução, educação e
sensibilização ambiental. Para isso, contou-se com o apoio do Programa Reciclar da
UNIVILLE, onde foram realizados dois encontros, na forma de palestras, com os funcionários
da PRPPG da instituição, com os funcionários da FMDR 25 de Julho e com as mulheres
selecionadas do Programa de Desenvolvimento da Mulher Rural.
A partir da formação do grupo e da preparação da oficina, as atividades iniciaram-se.
Ministradas por técnicas, bolsistas e professoras da UNIVILLE, foram realizadas
periodicamente em uma oficina localizada na FMDR 25 de Julho e disponibilizada
especificamente para essa atividade, com pias, bancadas, prensa hidráulica, entre outros. Para
estas oficinas foi desenvolvida e entregue à cada participante uma apostila com a explicação
detalhada do processo de produção. Esta foi a fase mais longa do trabalho, devida à
quantidade de matéria-prima preparada e os detalhes na execução do processo para se garantir
a qualidade do papel reciclado.
Nas oficinas, exemplificaram-se quais tipos de aparas de papel poderiam ser utilizadas
e quais deveriam ser descartadas. Os papéis descartados foram aqueles com adição de verniz,
plastificação e com grande quantidade de impressão, bem como jornais e revistas. Esses por
sua vez foram encaminhados aos coletores do Programa Reciclar da UNIVILLE. Outros tipos
de aparas, como papel colorido, lista telefônica e até aparas de papel já recicladas foram
separadas e guardadas para serem usados, como experimento, em mistura ao papel principal
(aparas de papel branco). Já as aparas principais, que devem estar desprovidas de quaisquer
manchas (mofo, sujeira ou gordura), sofreram um processo de retirada de grampos e clipes.
Em fase posterior, realizou-se uma seção de workshops focados em metodologias e
ferramentas do design como apoio para o desenvolvimento de produtos a partir do papel
reciclado artesanal. Os workshops foram ministrados pelos bolsistas do curso de Design da
UNIVILLE e pelas designers que compõe o projeto. Os temas apresentados foram:
significado das cores (3h); criatividade (3h); ferramentas de criação (6h); embalagens, cartões
e origamis (6h); definição, costumes e estilo do público-alvo/mercado (3h); pesquisa de
produtos já existentes e estudo de novos produtos (3h); desenvolvimento de produtos e
protótipos (9h) e arte finalização (3h). Além dos conceitos do design, foram ministradas
palestras sobre empreendedorismo e plano de negócios.
95
MULHER COM FIBRA – ETAPA 2
Após o final do primeiro ano de atuação do projeto (fevereiro de 2007), conforme se
observa na Figura 27, o grupo se constituía de 10 mulheres que entenderam a proposta e as
peculiaridades do processo de produção do papel. Posteriormente, o grupo sofreu novas
alterações na sua formação para então, no segundo bimestre de 2008, constituírem o atual
grupo de seis mulheres. Foi então que se identificou a oportunidade de continuação do
trabalho e a reapresentação do mesmo no edital de apoio a projetos da Pró-Reitoria de
Extensão da UNIVILLE.
Figura 27: “A” Participantes do projeto Mulher com Fibra; “B” Formação do papel artesanal; “C” Grupo formado no primeiro ano de atuação do projeto. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Assim, em maio de 2007 o projeto, aprovado para mais dois anos de atividade,
recebeu o título “Mulher com Fibra: manutenção, aperfeiçoamento e autonomia na geração de
trabalho e renda”.
Mulher com Fibra foi o nome encontrado para expressar a marca do projeto (Figura
28), que tem como conceito enfatizar o público-alvo e a matéria-prima utilizada na confecção
dos papéis – fibra de bananeira.
96
Figura 28: Marca do projeto Mulher com Fibra. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Como na primeira etapa de execução do Mulher com Fibra focou-se em ações
voltadas para a formação e capacitação do grupo, logo na segunda etapa foi proposta a
realização de atividades de manutenção, aperfeiçoamento e autonomia para a geração de
trabalho e renda, visando a autogestão e a garantia de oferta de produtos e serviços de
qualidade, conforme segue:
a) A manutenção do grupo refere-se a elementos que cultivem a integração, a auto-
estima e um bom relacionamento entre as mulheres do grupo formado a partir da etapa um de
2006. Colaborando para o alcance deste objetivo, dinâmicas de grupo foram aplicadas,
proporcionando um clima bastante divertido e interativo entre o grupo, além de ter
contribuido para que todas as participantes pudessem conhecer mais umas as outras.
b) O aperfeiçoamento consiste no aumento e aprimoramento dos conhecimentos do
grupo na área de atuação, ou seja, realização de novos cursos e visita a outros grupos
produtivos semelhantes, além de buscar a melhoria contínua do processo e produto. Para isso,
o acompanhamento e a orientação quanto à produção das matérias-primas e dos produtos
(Figura 29) e sua comercialização, bem como o conhecimento de novas técnicas de produção,
colaboram para o alcance deste objetivo. Para tanto, realizou-se no início de 2008 uma
capacitação com o tema “Artesanato para decoração”. Esta capacitação foi solicitada pelo
grupo e executada pela designer que executa este trabalho e mais três bolsistas de Iniciação
Científica do curso de Design da UNIVILLE. Explanaram-se as principais tendências do
artesanato com fibras naturais, conceitos de marketing, dicas de qualidade, criatividade e
ainda, a dinâmica “Teste de Criatividade” (AYAN, 2001) que reforçou este último conceito.
97
Figura 29: “A” Luminárias; “B”cartões; “C” e “D” embalagens diversas. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
c) A autonomia para a geração de trabalho e renda faz-se imprescindível para que as
empreendedoras tornem viável o seu negócio. Assim, a criação de um plano de negócios, que
é um importante instrumento de planejamento, pode proporcionar ao grupo mais
oportunidades de sucesso em sua empreitada rumo à consolidação do grupo como um
empreendimento organizado sob forma coletiva e autogestionária. O repasse e o
desenvolvimento deste conteúdo estão sendo conduzidos pelo Instituto Consulado da Mulher.
Nesta segunda etapa do projeto, foi possível delinear mais detalhadamente o papel de
cada parceiro e a inclusão do Instituto Consulado da Mulher como novo colaborador. Assim,
o grupo de mulheres conta hoje com o apoio da UNIVILLE no repasse da técnica de produção
de papel artesanal; da OSCIP Instituto Consulado da Mulher, na constituição de um
empreendimento com princípios baseados na Economia Solidária e no fornecimento de
eletrodomésticos (freezer, fogão e geladeira); e da FMDR 25 de Julho, na mobilização das
mulheres do grupo, na coleta dos resíduos agrícolas, no fornecimento da estrutura física
necessária para a realização das atividades e no apoio para a comercialização dos produtos
confeccionados pelo grupo.
A inserção no mercado dos produtos desenvolvidos é também uma etapa importante
para o projeto e principalmente para o grupo de mulheres. Neste intento, a criação de uma
marca é essencial para que o grupo se consolide e seja identificado pelo próprio nome, já que
nos dois primeiros anos de atuação do projeto, as mulheres foram conhecidas como
integrantes do Mulher com Fibra.
98
Portanto, uma aluna de iniciação científica do curso de Design da instituição
desenvolveu junto as artesãs a marca Recriando com Fibras (Figura 30). No seu conceito está
intrínseca a idéia de recriação e transformação das fibras, além de lembrar o lado ambiental
do projeto, tendo como símbolo a metamorfose da lagarta em borboleta, que além de exigir
força, mostra a beleza da recriação, a feminilidade e a nova vida obtida através do esforço e
empenho em sair do casulo.
Figura 30: Marca do grupo Recriando com Fibras apoiado pelo projeto Mulher com Fibra. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Antes mesmo da etapa de criação da marca do grupo, elas já participavam de feiras e
exposições, onde vendiam seus produtos. Porém, com a marca do empreendimento, é possível
criar mecanismos de apresentação e divulgação dos produtos que colaboram como elementos
estratégicos de venda e marketing, tais como: desenhos de stand, vestuário das expositoras,
embalagens para os produtos, cartões de visitas, folders e catálogo.
O grupo conta, ainda, com outros pontos de comercialização, como os três Espaços
Solidários, situados em uma fábrica e em uma escola de idiomas em Joinville, que são locais
para exposição e comercialização dos produtos feitos por empreendimentos apoiados pelo
Instituto Consulado da Mulher e, ainda, as feiras e exposições (Figura 31) promovidas pelo
Fórum de Economia Solidária de Joinville e Região, já que o grupo é integrante do Fórum.
99
Figura 31: “A” 1º Feira de Produtos Artesanais e Agroecológicos da Economia Solidária Norte Catarinense, em 2007; “B” Exposição no Dia do Meio Ambiente do Jornal A Notícia, em 2008; “C” 22º Encatho - Encontro Catarinense de Hoteleiros, em 2008. Fonte: Projeto Mulher com Fibra.
Além de comercializar, uma outra preocupação do grupo e dos parceiros foi precificar
os papéis produzidos de forma justa, conforme os preceitos da Economia Solidária. Para
tanto, realizou-se uma mensuração do processo de produção do papel reciclado artesanal com
e sem fibra de bananeira. Este trabalho foi conduzido na oficina das mulheres situada na
FMDR 25 de Julho e executado por dois alunos de Iniciação Científica dos cursos de
Engenharia Ambiental e Engenharia de Produção Mecânica e pela pesquisadora deste
trabalho. Após a coleta dos dados, os mesmos foram encaminhados para um voluntário do
Instituto Consulado da Mulher especialista em finanças que analisou os dados e propôs os
possíveis preços dos papéis.
100
APÊNDICE 2
Formulário de Demanda de Mulheres Artesãs
PROJETO PAPEL ARTESANAL
1. Dados Cadastrais
Nome: Data de Nascimento: Naturalidade: Nacionalidade: Estado Civil: Endereço: Bairro: Cidade: UF: CEP: Fone: Celular: FAX: E-mail:
2. Dados Sociais
N° de Dependentes: 01 02 a 03 04 a 05 Mais que 05
Moradia: Própria Alugada
Trabalha: Do Lar Aposentada Outros Agricultora
Faixa Salarial da Família: Menos que R$ 300,00 R$ 501,00 a R$ 700,00 Mais que R$ 900,00 R$ 300,00 a R$ 500,00 R$ 701,00 a R$ 900,00
Grau de Instrução: 1º Grau completo 2º Grau completo Nível Superior completo 1º Grau incompleto 2º Grau incompleto Nível Superior incompleto
Acesso : Internet Televisão. Quais programas costuma assistir: ________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________________________________
Revistas. Quais: _______________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________
Livros. Quais: _________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________
101
3. Dados Técnicos
a) Quanto tempo trabalha com artesanato? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
b) Descreva as suas habilidades manuais: ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
c) Você participa ou participou de cursos ou programas da Fundação 25 de Julho, quais? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
d) Já participou de grupos ou cooperativas de artesanato, quais? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
e) Já participou de cursos ou oficinas de artesanato? Nome dos Cursos/Oficinas Instituição de Realização Ano
f) Já trabalhou com fibras, quais? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
g) Já trabalhou com reciclagem de papel? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
i) Artesanato para você é: Terapia
Renda complementar Atividade principal para seu sustento e da sua família
j) Possui experiência com comercialização de artesanato? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
k) Você sabe o que é design? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
l) O que você espera desse projeto e qual a sua disponibilidade para participar dele? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________
102
APÊNDICE 3
Controle de Entrega Equipamentos de Proteção Individual - EPI
Nome: Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Discriminação EPI Número do C.A. Quantidade Data de
recebimento Participação na
capacitação Protetor Auricular Silicone C.A. 12942 1 Oculos Inc. Fenix C.A. 9722 1 Luva Latex Natural Longa C.A. 9567 1 Máscara Rexon Boca - 1 Bota Borracha Cano Curto C.A. 3151 1 Jaleco - 1
Declaro que recebi nesta data, da UNIVILLE, os equipamentos acima descritos, os quais desde já comprometo-me sempre usar na execução de minhas atividades (produção de papel reciclado), cuidando de sua conservação e uso, como os estou recebendo agora, e devolve-los quando solicitados ou por ocasião de minha saída do projeto Mulher com Fibra.
___________________________________________ Assinatura
103
APÊNDICE 4
ROTEIRO DA PRIMEIRA ENTREVISTA (OUTUBRO/2007) Entrevistador: Juliana Silveira Anselmo Mestranda em Saúde e Meio Ambiente
Data da entrevista: _____ /_____ / 2007 Local: ___________________________ Idade: ______ (anos)
1. Quanto tempo você trabalha na oficina situado na Fundação 25 de Julho? 2. Já trabalhou em algum outro laboratório ou oficina? 3. Quantas horas por semana você trabalha na oficina? 4. Qual o seu turno de trabalho? 5. Você já sofreu algum acidente de trabalho na oficina? Se sim, qual?
Se não, passar para questão 13. 6. Você se machucou neste acidente? 7. Qual parte do corpo foi atingida? 8. Você teve seqüelas deste acidente? 9. Você estava utilizando equipamentos de segurança? 10. O que causou o acidente? 11. Você informou a alguém sobre o acidente? 12. Você costuma utilizar equipamentos de segurança? 13. Quais equipamentos você usa na oficina? 14. Quais equipamentos você considera necessário para sua segurança? 15. Você tem alguma sugestão sobre os equipamentos utilizados? 16. Você já costuma trabalhar sozinha na oficina? 17. Você considera alguma etapa perigosa na produção de papel? Por quê? 18. Você sente alguma dor física após as oficinas? Se sim, qual? 19. Você considera que os móveis existentes na oficina são ideais para o trabalho?
Exemplo altura, peso? Por quê? 20. Você considera que os equipamentos, como liquidificador, prensa, caixa d´agua,
existentes na oficina são ideais para o trabalho? Por quê? 21. Qual sua opinião quanto ao ambiente físico da oficina? 22. Qual sua opinião quanto à segurança no trabalho as atividades na oficina? 23. Qual sua opinião quanto ao ritmo de trabalho? 24. Observe as etapas de produção de papel artesanal nas fotos do pôster. Você tem
alguma observação a fazer sobre estas etapas? Picote do papel, coleta de fibra, maceração da fibra, desinfecção do papel, desinfecção da fibra, cozimento do papel, cozimento da fibra, polpação do papel, polpação da fibra, mistura da polpa no tanque, formação da folha, prensagem da folha, secagem da folha).
105
APÊNDICE 6
ROTEIRO DA SEGUNDA ENTREVISTA (SETEMBRO/2008) Entrevistador: Juliana Silveira Anselmo Mestranda em Saúde e Meio Ambiente
Data da entrevista: _____ /_____ / 2008 Local: ___________________________ Idade: ______ (anos)
1. Desde a nossa última entrevista teve um aumento do número de horas trabalhadas na oficina?
2. Você já sofreu algum acidente de trabalho na oficina? Se sim, qual? Se não, passar para questão 9.
3. Você se machucou neste acidente? 4. Qual parte do corpo foi atingida? 5. Você teve seqüelas deste acidente? 6. Você estava utilizando equipamentos de segurança? 7. O que causou o acidente? 8. Você informou a alguém sobre o acidente? 9. Você sente alguma dor física após as oficinas? Se sim, qual? 10. Você participou da capacitação com o técnico de segurança do trabalho em outubro de
2007? 11. Você gostou dessa capacitação? Por quê? 12. Você costuma utilizar os EPIs (Equipamento de Proteção Individual)? 13. O emprego dos novos EPIs foram satisfatórios? (luva mais comprida; luva de silicone
para uso em alta temperatura; respirador; toquinha; avental de plástico; bota; protetor aurilucar)?
14. Você tem alguma sugestão sobre esses equipamentos? 15. A substituição do liquidificador caseiro por um industrial foi satisfatória? 16. A substituição da caixa d´água grande por uma menor foi satisfatória? 17. O emprego dos estrados (paletis) na frente das bancadas e embaixo da caixa d´água
melhoraram o seu trabalho? Ficou mais confortável? 18. Você considera necessária a presença das estagiárias da UNIVILLE no cuidado com
as crianças durante as atividades na oficina? 19. O emprego da caixa verde de plástico (engradado) para condicionamento dos produtos
satisfatório?
106
APÊNDICE 7
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Conforme Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 (Conselho Nacional de Saúde) Eu, ____________________________________________________, aceito livremente
participar da pesquisa “Aplicação de conceitos de ecodesign e gestão da qualidade na
fabricação de papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira”, no laboratório do
projeto de extensão Mulher com Fibra da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE,
situado na Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, em Pirabeiraba, sob
responsabilidade da pesquisadora Juliana Silveira Anselmo, aluna do Programa de Mestrado
em Saúde e Meio Ambiente da UNIVILLE.
Este estudo tem como objetivo melhorar a qualidade do processo e produto na produção
do papel reciclado artesanal reforçado com fibra de bananeira e propor mudanças no ambiente
de trabalho de forma a obter melhores condições de segurança e saúde dos envolvidos na
fabricação do mesmo.
Minha participação neste estudo se resume a responder às perguntas estabelecidas pela
pesquisadora em entrevistas individuais e gravadas, marcadas sempre com antecedência de 15
dias. Demais informações pertinentes ao estudo e que a pesquisadora responsável julgar
necessário durante as visitas quinzenais ao grupo, também poderão ser respondidas por mim
para garantir o bom desenvolvimento do estudo.
Estou ciente de que a pesquisadora responsável pelo estudo se compromete em realizar
suas ações sem qualquer prejuízo para mim, garantindo os esclarecimentos necessários
durante o desenvolvimento da pesquisa e que esta não trará nenhum risco à minha integridade
física ou moral. Minha participação é voluntária e, portanto, em qualquer momento poderei
recusar a participar da pesquisa ou retirar meu consentimento, sem penalização alguma.
Compreendo também que as informações obtidas neste estudo serão úteis para a
melhoria da produção de papel artesanal, que seus resultados serão aplicados para beneficiar o
trabalho do grupo e que poderão ser divulgados em publicações e congressos, porém,
preservando o sigilo de minha identidade e das demais participantes do grupo.
107
Para outras informações ou esclarecimentos, entrar em contato com Juliana Silveira
Anselmo ou Denise Abatti Kasper Silva através dos números: 47 3422-3018 ou 47 9971-
8499. Para reclamações, entrar em contato através do número 47 3461-9152.
Atenção: A sua participação em qualquer tipo de pesquisa é voluntária. Em caso de
dúvida quanto aos seus direitos, escreva para: Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVILLE. Endereço: Campus Universitário – Bom Retiro – Caixa Postal 246 – Cep 89.223-251 – Joinville, SC.
Data ____/____/ 2007, Joinville, SC. _________________________________ _______________________________
Assinatura da voluntária Juliana Silveira Anselmo Pesquisadora responsável
108
APÊNDICE 8
LISTA DE MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA UMA OFICINA DE PAPEL
RECICLADO ARTESANAL
Material Quantidade Fogão a gás 1 Mangueira 1 Soda cáustica 3 kg Faca 3 Geladeira 1 Balde plástico 10 Peneira plástica 5 Tesoura 2 Guilhotina 1 Estilete 2 Água sanitária 10 l Liquidificador 2 Tela formato A3 e A2 com moldura 4 Bastidor 4 Pinça 3 Luva plástica 10 Chapa de compensado 2 Chapa de metal 1 Prensa hidráulica 1 Carpet 3 mm 20 m TNT 20 m Feltro 20 m Corda de varal 3 Prendedor de roupa 3 dúzias Balança 1 Saco plástico 30 Panela 9,5 l 3 Colher 3 Relógio despertador 1 Etiqueta adesiva 1 Detergente líquido 3 Sabão em pó 3 Pasta formato A3 5 Fósforo 2 caixas Esponja 3 Pano branco 5 Botijão de gás 1 Ferro de passar 1 Armário 1
APÊNDICE 9
Fase 1: Preparação da polpa de papel: Etapas: (1) picote; (2) desinfecção; (3) cocção; (4) polpação.
Classe de problema Etapa Problemas Requisitos
Constrangimentos da tarefa
Custos humanos do trabalho
Disfunções do Sistema
Sugestões preliminares de
melhoria
Restrições do sistema
1 - - - - - - -
2 Lavar a polpa; carregar o balde; altura da bancada.
Rever processo de lavagem; rever altura da bancada; rever baldes.
O operador fica em pé para lavar a polpa; curva o corpo para carregar o balde e para trabalhar na bancada.
Cansaço e possível lesão muscular.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Utilizar menos peso no balde; modificar altura da bancada; modificar alça do balde.
Desinteresse do operador.
3 Carregar e virar panela quente.
Rever atividade. O operador tem que curvar o corpo para virar a panela.
Possíveis dores nas costas e braços; possível queimadura.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Utilizar menos peso na panela; substituir por outro equipamento; usar luva para alta temperatura.
Desinteresse do operador.
Movimentacionais
4 Uso do liquidificador.
Rever uso do liquidificador.
O operador tem que curvar o corpo para virar o liquidificador.
Possível dor nas costas.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Substituir equipamento; instalar o liquidificador em bancada mais alta.
Desinteresse do operador.
1 Barulho da fragmentadora.
Rever equipamento. O ruído atrapalha o operador.
Possível dor de cabeça.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de protetor auricular; substituir por outro equipamento.
Desinteresse do operador.
2 - - - - - - - Físico-ambientais 3 Calor provocado
pelo cozimento das polpas.
Rever ambiente. Ambiente fica quente.
Possível mal estar. Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de exaustor; ambiente mais arejado; uso de máscara.
Desinteresse do operador.
110
4 Barulho liquidificador
Rever equipamento. O ruído atrapalha o operador.
Possível dor de cabeça.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de protetor auricular; substituição por outro equipamento.
Desinteresse do operador.
1 Contato com papel armazenado a muito tempo.
Rever tempo e local de armazenamento do papel; uso de EPI.
O operador precisa separar as folhas com as mãos para depois coloca-las na fragmentadora.
Possível contato com fungos que podem causar alergias.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas; máscara descartável; melhorar armazenamento dos papéis.
Desinteresse do operador.
2 Contato com água sanitária.
Uso de EPI. O operador fica em contato com a água que contém água sanitária.
Possível irritação da pele - coceira.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luva e jaleco. Desinteresse do operador.
3 Contato com soda; vapor da cocção das polpas.
Rever agente químico; uso de EPI.
Cheiro forte e mal estar.
Possível irritação e lesões na pele; riscos de intoxicação.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Exaustor; ambiente mais arejado; substituição da soda por outro produto.
Desinteresse do operador e local não apropriado.
Químico-ambientais
4 - - - - - - -
1 Cortar o dedo na fragmentadora.
Rever equipamento; uso de EPI.
Atenção do operador ao utilizar a fragmentadora.
Possível corte no dedo.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Atenção do operador no uso do equipamento.
Desinteresse do operador.
2 Ingestão ou respingo de água sanitária nos olhos.
Uso de EPI. O operador despeja água sanitária no molho do papel.
Possível irritação nos olhos ou intoxicação pela ingestão de água sanitária.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas, máscara descartável e óculos; atenção para realizar a atividade.
Desinteresse do operador.
3 Cozimento do papel com soda.
Rever equipamento; uso de EPI.
O operador aspira o vapor do cozimento; necessidade de emborcar a panela com líquido quente.
Possível irritação nos olhos e garganta; possível queimaduras.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas para alta temperatura, de máscaras, óculos e avental.
Desinteresse do operador.
Acidentários
4 Liquidificador Rever equipamento; uso de EPI.
Cortar o dedo nas lâminas do liquidificador.
Possível corte do dedo; possível choque elétrico.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas e atenção para realizar a atividade.
Desinteresse do operador.
111
Fase 2: Preparação da polpa de fibra: Etapas: (1) coleta; (2) maceração; (3) desinfecção; (4) cocção; (5) polpação. Outubro/2007
Classe de problema Etapa Problemas Requisitos
Constrangimentos da tarefa
Custos humanos do trabalho
Disfunções do Sistema
Sugestões preliminares de
melhoria
Restrições do sistema
1 Excesso de peso. Rever forma e
quantidade de coleta.
Agachar e curvar o corpo.
Possível dor nas costas.
Paradas e perdas da produção.
Diminuir a carga de trabalho
Desinteresse do trabalhador rural.
2 Trabalho em pé junto ao cilindro; movimentar os braços para ativar o cilindro.
Rever disposição do equipamento.
O cilindro é instalado de forma provisória em local não adequado.
Possível cansaço e dor nos braços.
Paradas e perdas da produção.
Melhorar posicionamento do equipamento e da bancada.
Desinteresse do operador.
3 Lavar a polpa; carregar o balde; altura da bancada.
Rever processo de lavagem; rever altura da bancada; rever baldes.
O operador fica em pé para lavar a polpa; curva o corpo para carregar o balde e para trabalhar na bancada.
Cansaço e possível lesão muscular.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Utilizar menos peso no balde; modificar altura da bancada; modificar alça do balde.
Desinteresse do operador.
4 Carregar e virar panela quente.
Rever atividade. O operador tem que curvar o corpo para virar a panela.
Possíveis dores nas costas e braços; possível queimadura.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Utilizar menos peso na panela; substituir por outro equipamento; usar luva para alta temperatura.
Desinteresse do operador.
Movimentacionais
5 Uso do liquidificador.
Rever uso do liquidificador.
O operador tem que curvar o corpo para virar o liquidificador.
Possível dor nas costas.
Paradas e perdas do ritmo de produção.
Substituir equipamento; instar o liquidificador em bancada mais alta.
Desinteresse do operador.
1 Uso de facão; animais peçonhentos no bananal.
Uso de EPI. Possíveis cortes e envenenamento.
Paradas e perdas da produção.
Uso de luvas e botas.
Desinteresse do trabalhador rural
2 - - - - - - -
3 - - - - - - - Físico-ambientais
4 Calor provocado pelo cozimento das polpas.
Rever ambiente. Ambiente fica quente.
Possível mal estar. Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de exaustor; ambiente mais arejado; uso de máscara.
Desinteresse do operador.
112
5 Barulho liquidificador
Rever equipamento. O ruído atrapalha o operador.
Possível dor de cabeça.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de protetor auricular; substituição por outro equipamento.
Desinteresse do operador.
1 - - - - - - -
2 Respingo de sais minerais do pseudocaule.
Rever equipamento; uso EPI.
O operador se molha. Possível irritação da pele - coceira.
Paradas e perdas da produção.
Luva, jaleco e bota. Desinteresse do operador.
3 Contato com água sanitária.
Uso de EPI. O operador fica em contato com a água que contém água sanitária.
Possível irritação da pele - coceira.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luva e jaleco. Desinteresse do operador.
4 Contato com soda; vapor da cocção das polpas.
Rever agente químico; uso de EPI.
Cheiro forte e mal estar.
Possível irritação e lesões na pele; riscos de intoxicação.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Exaustor; ambiente mais arejado; substituição da soda por outro produto.
Desinteresse do operador e local não apropriado.
Químico-ambientais
5 - - - - - - -
1 Uso de facão; animais peçonhentos no bananal.
Uso de EPI. - Possíveis cortes e envenenamento.
Paradas e perdas da produção
Uso de botas e luvas; cuidado no manuseio da faca.
Desinteresse do trabalhador rural.
2 Uso de faca e cilindro.
Rever equipamento. - Possíveis cortes nas mãos e dedos.
Paradas e perdas da produção
Uso de luvas, avental e bota.
Desinteresse do operador.
3 Ingestão ou respingo de água sanitária nos olhos.
Uso de EPI. O operador despeja água sanitária no molho do papel.
Possível irritação nos olhos ou intoxicação pela ingestão de água sanitária.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas, máscara descartável e óculos; atenção para realizar a atividade.
Desinteresse do operador.
4 Cozimento do papel com soda.
Rever equipamento; uso de EPI.
O operador aspira o vapor do cozimento; necessidade de emborcar a panela com líquido quente.
Possível irritação nos olhos e garganta; possível queimadura.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas para alta temperatura, de máscaras, óculos e avental.
Desinteresse do operador.
Acidentários
5 Liquidificador Rever equipamento; uso de EPI.
Cortar o dedo nas lâminas do liquidificador.
Possível corte do dedo; possível choque elétrico.
Paradas e perdas de ritmo da produção.
Uso de luvas e atenção para realizar a atividade.
Desinteresse do operador.
113
Fase 3: Preparação da folha: Etapas: (1) mistura; (2) formação; (3) prensagem.
Classe de problema Etapa Problemas Requisitos
Constrangimentos da tarefa
Custos humanos do trabalho
Disfunções do Sistema
Sugestões preliminares de
melhoria
Restrições do sistema
1 Encher o tanque com
água e polpa. Rever equipamentos.
Encher o tanque com balde pesado cheio de água ou polpa.
Possível dor nas costas, braços e mãos.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de mangueira para encher o tanque com água; modificar alça dos baldes.
Desinteresse do operador.
2 Inclinação do corpo no tanque com a tela nas mãos e nas bancadas; altura da bancada.
Rever posicionamento do tanque e altura da bancada.
Inclinar a coluna. Possível dor e lesão musculares.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Alterar altura do tanque e bancada; sugerir forma adequada de realizar atividade.
Desinteresse do operador.
Movimentacionais
3 Prensagem do papel. Rever posicionamento da prensa e do corpo do operador.
Inclinar a coluna, emprego de força nos braços e pernas.
Possível fadiga e lesão muscular.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Alterar altura da prensa; posicionar bancadas mais próximas do tanque; sugerir forma adequada de realizar a atividade.
Desinteresse do operador.
1 - - - - - - -
2 - - - - - - - Físico-ambientais
3 - - - - - - -
1 Contato com água do tanque que contém cola e polpa.
Uso de EPI. Molha os braços e mãos.
Possível irritação na pele.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de luvas mais compridas; uso de jaleco.
Desinteresse do operador.
2 Contato com água do tanque que contém cola e polpa.
Uso de EPI. Molha os braços e mãos.
Possível irritação na pele.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de luvas mais compridas; uso de jaleco.
Desinteresse do operador. Químico-
ambientais
3 - - - - - - -
Acidentários
1 Ambiente molhado, contato com água, cola e polpa.
Excesso de contato com água, cola e polpa; piso molhado.
Respingo de água e polpa no operador; piso escorregadio.
Possível irritação na pele; possível queda.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de luvas, avental de plástico e botas de borracha.
Desinteresse do operador.
114
2 Ambiente molhado, contato com água.
Excesso de contato com água; piso molhado.
Respingo de água e polpa no operador; piso escorregadio.
Possível irritação na pele; possível queda.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de luvas, avental de plástico e botas de borracha.
Desinteresse do operador.
3 Ambiente molhado, contato com água.
Excesso de contato com água, cola e polpa; piso molhado.
Respingo de água e polpa no operador; piso escorregadio.
Possível irritação na pele; possível queda.
Paradas e perdas do ritmo da produção.
Uso de luvas, avental de plástico e botas de borracha.
Desinteresse do operador.
116
APÊNDICE 11
DETALHAMENTO DA PROPOSTA DE LAYOUT DA OFICINA DAS ARTESÃS
a) Oficina
Descrição Características Dimensão Quantidade Oficina - 30 m2 1 Porta De madeira com 2 folhas 1200 x 2100 mm 1 Janela De alumínio e com grade 2000 x 1500 mm 4 Janela basculante De alumínio 400 x 400 mm 8 Condicionador de ar Split 9.000-Ciclo Frio (9000
BTU e 12000 BTU) 818 x 270 x 192 mm
(unidade interna) 1
Freezer Horizontal 420 l horizontal 1190 x 700 x 955 mm
1
Balança - 30 kg 1 Fogão Ideale 6 bocas 770 x 880 x 500
mm 1
Exaustor Industrial 1500 x 600 mm 1 Liquidificador Industrial Metvisa LQ10 810 mm 1 Fragmentadora PS270-2 - 1 Botijão de gás (Casinha)
Instalação lado externo da oficina numa central com
ventilação
1150 x 1350 mm 2
Varal portátil Aço SAE 1020 1800 x 800 x 2000 mm
1
Armário Com 4 portas e 1 prateleira dividindo o espaço ao meio
2000 x 400 x 900 m 1
Prensa 15 ton 550 x 400 x 1320 m 1 Tanque Com rodinhas e tampa 372 L - 850 x 710 x
1040 mm 2
Zona de escoamento de água
De azulejo, com mureta, ralo protetor, torneira para
mangueira
7 m2 1
Bancada Com rodinhas e trava, com saída d´água, com tampo de
mármore escuro
2000 x 800 x 900m
2
Pia Franke- Aço 600 x 520 mm 3 Torneira para mangueira - - 3 Mangueira - 15000 mm 1 Lixeira De separação do lixo - 1 Porta papel toalha e sabão - - 3 Lâmpadas Eletrônica - 6 Extintor de incêndio CO2 - 1 Tomada 110/220v - 8 Caixa primeiros socorros - - 1 Cabideiro para avental Plástico - 1 Quadro de anotações Branco 900 x 1200 mm 1 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1 Material de consumo Diversos - -
117
b) Sala de Criação
Descrição Características Dimensão Quantidade Sala de criação - 9 m2 1 Porta Em PVC sanfonada 900 x 2100 mm 1 Janela De alumínio e com grade 1500 x 1200 mm 1 Cadeira Com assento e encosto
estofados - 6
Mesa de luz e corte - 700 x 800 x 1000 mm
1
Computador - - 1 Mesa para computador - - 1 Extintor de incêndio Espuma - 1 Ventilador De teto - 1 Mesa Retangular, de MDF, com
cantos arredondados 1500 x 900 x 1000
mm 1
Estufa de papel Armário de 2 portas com luz interna
800 x 700 x 600 mm 1
Gaveteiro De MDF, com 4 gavetas 800 x 600 x 1000 mm
1
Armário Com 2 portas e 4 prateleiras dividindo o espaço
800 x 400 x 2000 mm
2
Prateleira De MDF fixada na parede a 1500 mm do chão
1000 x 600 mm 2
Lâmpadas Eletrônica - 2 Lixeira Para papel - 1 Tomada 110/220 v - 8 Telefone - - 1 Quadro de anotações Branco 900 x 1200 mm 1 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1 Material de consumo Diversos - -
c) Sala de convivência
Descrição Características Dimensão Quantidade Sala de convivência - 4 m2 1 Porta Em PVC sanfonada 900 x 2100 mm 1 Janela De alumínio e com grade 1500 x 1200 mm 1 Fogão Ideale 4 bocas 600 x 500 x 880 mm 1 Refrigerador Consul 240 l uma porta 550 x 550 x 1420
mm 1
Armário Com 2 portas e 1 prateleira dividindo o espaço ao meio
800 x 400 x 1000 m 1
Mesa Para refeições - 1 Cadeira Com assento e encosto
estofados - 4
Tomada 110/220 v - 8 Lâmpadas Eletrônica - 1 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1
118
d) Almoxarifado
Descrição Características Dimensão Quantidade Almoxarifado - 4,5 m2 1 Porta Em PVC sanfonada 900 x 2100 mm 1 Janela De alumínio e com grade 800 x 1000 mm 1 Prateleira De MDF fixada na parede a
1500 mm de altura do chão 1000 x 600 mm 4
Ventilação Tijolo elemento vazado - 3 Tomada 110/220 v - 8 Lâmpadas Eletrônica - 1 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1
e) Banheiro
Descrição Características Dimensão Quantidade Banheiro - 4,5 m2 1 Porta Em PVC sanfonada 900 x 2100 mm 1 Janela basculante De alumínio e com grade 400 x 400 mm 1 Vaso sanitário - - 2 Pia - - 2 Ventilação Tijolo elemento vazado - 3 Tomada 110/220 v - 8 Lâmpadas Eletrônica - 1 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1
f) Casinha de gás
Descrição Características Dimensão Quantidade Casinha de gás - 1,55 m2 1 Porta Em alumínio 600 x 2100 mm 1 Ventilação Tijolo elemento vazado - 3 Botijão de gás 30 kg - 2 Placa de identificação PVC ou MDF 200 x 150 mm 1
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