O imaginário político no mundo operário: as esquerdas do Brasil e a imprensa militante
(1922-1935)
LEANDRO RIBEIRO GOMES
Introdução
Este conciso artigo pretende ser um resumo da produção preliminar e inicial de minha
pesquisa de doutorado, que trabalha exclusivamente com a imprensa operária e militante
como fonte histórica. Procuramos abarcar em nossa proposta de pesquisa fontes jornalísticas
que representavam as principais correntes políticas do movimento operário da década final da
chamada “República Velha” (a partir de 1922) aos anos iniciais do período varguista (até
1935). Para isso, selecionamos em nosso projeto jornais ligados ao movimento anarquista, as
organizações comunistas e representantes do sindicalismo revolucionário, as grandes
tendências que disputavam os movimentos trabalhistas e que atuavam junto a suas
organizações (como nos sindicatos, associações de classe e na sua própria imprensa), fazendo
parte do próprio movimento dos trabalhadores. Inicialmente, projetamos analisar impressos
principalmente das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, os centros urbanos e industriais
onde se concentravam a maior parte das organizações operárias do período, porém também
propomos trabalhar com representantes de centros menores, como Santos e Porto Alegre.
Objetivamos aqui discutir as propostas teóricas e metodológicas e posteriormente
analisar algumas fontes de uma pesquisa que quer abordar a hipótese de trabalho de como o
contexto político, altamente polarizado da época, pode ter dado margens a uma diversidade de
perspectivas, ideias e interpretações no pensamento político que era produzido neste meio
jornalístico. O que pode ter gerado novos formatos e variações nas ideias políticas que eram
divulgadas e publicadas, e que até podiam desafiar as moldagens das tradições das correntes
políticas que estes jornais estavam envolvidos. Buscando, assim, um maior entendimento das
disputas políticas internas do movimento operário, através de alguns temas, e por meio de seu
espaço privilegiado, a imprensa operária, principal veículo de divulgação de suas ideias e de
expressão dos trabalhadores urbanos organizados. Para tanto, o trabalho com conceitos como
o de “imaginário político”, assim como o de “práticas” e “representações”, são fundamentais
Mestre em História pela UNESP-Assis e atualmente doutorando em História pela mesma instituição.
na compreensão das identidades políticas e dos projetos políticos dos grupos que estavam
envolvidos nesta produção jornalística.
As ideias políticas na imprensa operária brasileira do início do século XX
Em nossa pesquisa de doutorado nos concentraremos na produção da imprensa
militante durante a década de 1920 e início dos anos 30, e não mais apenas na imprensa
anarquista como trabalhamos na pesquisa de mestrado, mas também estendendo a pesquisa à
imprensa comunista e ao espaço jornalístico dos chamados “sindicalistas revolucionários”
(uma corrente política independente dedicada exclusivamente à ação sindical). Denominamos
de “esquerdas” estas correntes que foram selecionadas. Essa decisão, nesta nova fase de
pesquisa, de focar os estudos neste período recortado e de ampliar a análise às outras
correntes e posições políticas no interior do movimento operário decorre tanto das
potencialidades demonstradas no trabalho com a imprensa militante como fonte como pelas
particularidades da história do movimento operário brasileiro na década de 1920 e primeira
metade dos anos 30 – examinando o debate do anarquismo com as outras correntes políticas
em um novo cenário político.1
Em relação ao nosso recorte cronológico (1922-1935), selecionamos esse período
porque estas datas foram significativas e de grande importância para o movimento operário e
para os movimentos políticos que os acompanhavam – e também para a História Política do
Brasil. Iniciamos a nossa pesquisa no ano que terminou o nosso estudo de mestrado, pois
1922 é uma data simbólica por ter sido o ano em que foi fundado o Partido Comunista
Brasileiro, o PCB, e também por ter ocorrido o episódio dos “Dezoito do Forte de
Copacabana”, uma revolta do baixo escalão do exército que deu início ao movimento
tenentista. A pesquisa se estende até o ano de 1935 porque este foi o ano da “Insurreição
Comunista”, quando houve uma tentativa de revolta armada dos comunistas em apoio a ANL
(Aliança Nacional Libertadora), que se opunha a política de Getúlio Vargas. Tal revolta
1 Refiro-me ao trabalho que resultou na dissertação de mestrado intitulada: “Libertários e Bolcheviques: a
repercussão da Revolução Russa na imprensa operária anarquista brasileira” (GOMES, 2012). Nesta pesquisa,
em que foi analisada apenas a imprensa anarquista, ficaram evidentes as potencialidades de pesquisa deste tipo
de imprensa da época e de que ela poderia oferecer novas possibilidades de estudo, tanto de temas pouco
explorados na dissertação quanto de novas fontes não trabalhadas e levantadas na pesquisa de mestrado.
desencadeou uma perseguição violenta a todas as várias tendências revolucionárias
(comunistas, anarquistas, sindicalistas e trotskistas).2
Quanto à conjuntura do movimento operário nesse período, da também chamada
“República Velha”, não restringir a pesquisa apenas à voz anarquista da imprensa militante é
pretender focar a “produção das ideias políticas” no seu conjunto, ou seja, produzidas no
interior de um intenso debate entre as outras tendências do movimento. A nosso ver, somente
considerando o conjunto das posições entre as correntes é que poderemos ter uma visão mais
abrangente do debate político como um todo. Trata-se de um momento em que o movimento
operário no Brasil está mais dividido e heterogêneo do que em relação à década de 1910 – em
parte devido aos impactos da experiência soviética – e está sofrendo uma repressão ainda
mais sistemática do governo – algo que caracterizou a política do governo de Artur Bernardes,
de 1922 a 1926. Em função disso, as disputas políticas internas ficaram ainda mais delicadas e
polêmicas na imprensa operária nesse período. A importância e relevância da discussão de
certos temas nesta imprensa se tornou capital num momento de maior repressão policial e de
lutas políticas sérias que ocorriam no Brasil, como o tenentismo e a Coluna Prestes, que
repercutiram seus efeitos até o governo de Washington Luis (1926-1930).3
É importante salientar que partimos da hipótese de trabalho de que a revolução russa
impôs novos problemas e questões no movimento operário brasileiro, o que acabou gerando
um quadro novo, uma situação nova com novas configurações, nos contornos das suas
posições políticas e ideológicas. A nossa tese, portanto, é de que o evento russo, e o
consequente movimento comunista internacional, impulsionou uma diversidade de
perspectivas no já heterogêneo pensamento político do movimento operário no Brasil.
Observamos que a conjuntura da década de 1920 rompeu com o período anterior estudado no
mestrado e defendemos a tese que neste segundo momento a produção do pensamento político
apresentou uma multiplicidade de novas formas, que muitas vezes até desafiavam as
fronteiras entre as correntes políticas do movimento. Por isso, devemos considerar que a
imprensa e, portanto, o debate jornalístico conferem uma dinamicidade ao debate ideológico
que não se encontra nos livros, ou seja, que não se encontra nos clássicos que delimitam as
fronteiras das tradições e das tendências do movimento. De fato, enquanto os livros demoram
2 Sobre este episódio da “Insurreição Comunista”, as suas ligações com setores do exército e as repercussões da
consequente repressão governamental sobre as organizações operárias consultar: (DULLES, 1977: 424-427). 3 Sobre o contexto desta fase da Primeira República: (CARONE, 1974: 337 e 362). E sobre o conceito de
“movimento operário” que trabalhamos, enquanto a expressão “atuante” e “combativa” da classe operária, ver:
(BRAVO, 1991: 781).
a serem elaborados e publicados, “decantando” o debate, os textos na imprensa (aqui, a
imprensa operária) constituem uma resposta imediata aos conflitos do dia a dia e aos
acontecimentos vividos pelos trabalhadores organizados. Trata-se, por isso, de uma boa
amostra das “flutuações” dos pensamentos e das representações políticas, em consequência
das reflexões que eram publicadas.
Seguindo a linha de pesquisa de história política e das “ações e representações” na
política, visamos explorar as potencialidades de pesquisa que a imprensa operária do período
possui no que concerne à produção de suas “ideias políticas”, as “ações” militantes discutidas
em decorrência destas ideias e também as “representações”, ou seja, as ideias e as percepções
da realidade social produzidas por estes setores. Tudo isso privilegiando alguns temas que
foram importantes nas discussões e disputas políticas entre as tendências do movimento
operário como: as “questões relativas à liberdade e à democracia no socialismo”; a “política
e a ação militante no interior das organizações operárias e sindicais”; e os
“posicionamentos em relação às lutas políticas que estavam sendo travadas no Brasil”. Esta
pesquisa pretende estudar as relações íntimas das ideias políticas com a imprensa escrita, já
que os jornais são “aparelhos de produção e mediação” das ideias políticas, pois a finalidade
da história das ideias políticas é: “[...] conhecer melhor os sistemas de representações das
sociedades, o estudo desses sistemas tornou-se inseparável do dos aparelhos de produção e
de mediação: não é apenas a ideia que age, é também o lugar de onde ela vem [...]”
(WINOCK, 1996: 285).
Práticas e Representações
Se almejamos realizar uma história das ideias políticas na imprensa operária, o que
requer um entendimento maior de seus “sistemas de representações”, o esclarecimento destes
conceitos teóricos e propostas metodológicas é imprescindível. Por isso a importância de
remontarmos até Pierre Bourdieu.
Pierre Bourdieu, filósofo que se transformou em antropólogo e sociólogo, produziu
conceitos e teorias de grande relevância para os historiadores. Entre eles incluem o conceito
de “campo”, a teoria da prática, a ideia de reprodução cultural e a noção de “distinção”.
O conceito de “campo” refere-se a um domínio autônomo que, em dado momento,
atinge a independência em uma determinada cultura e produz suas próprias convenções
culturais. Convenções culturais que podem ser transmitidas por uma “reprodução cultural”
que é o processo pelo qual um grupo mantém sua posição na sociedade por meio de um
sistema educacional que parece ser autônomo e imparcial. Quanto a sua “teoria da prática”,
destaca-se o conceito de “habitus”, examinando a prática cotidiana em termos de
improvisação sustentada numa estrutura de esquemas inculcados pela cultura tanto na mente
como no corpo (BURKE, 2008: 76-77).
Bourdieu se utiliza bastante de uma metáfora abrangente, que tirada da economia,
analisa a cultura em termos de “bens”, “produção”, “mercado”, “capital” etc. Expressões
como “capital cultural” e “capital simbólico” entraram na linguagem de muitos historiadores.
Bourdieu também empregou a metáfora militar de “estratégia” para entender como os
indivíduos procuram a sua “distinção” uns dos outros. Como colocou o próprio Bourdieu: “A
identidade social está na diferença, e a diferença é afirmada contra aquilo que está mais perto,
que representa a maior ameaça” (BURKE, 2008: 77-78).
Interpretando as correntes revolucionárias do movimento operário e suas produções
jornalísticas de nossa pesquisa como um “campo” político e cultural específico, podemos
considerar muitas das especificidades das disputas ideológicas desta imprensa, de seus
acalorados debates teóricos e seus discursos políticos, como “estratégias”. Estratégias estas na
busca de uma “distinção”, isto é, o que diferenciava um grupo dos outros, o que cada grupo se
valia para convencer um maior número de adeptos dentro da política interna do movimento
operário. No texto: “A representação política. Elementos para uma teoria do campo
político”, Bourdieu, numa passagem importante, expressa a concepção que podemos utilizar
do quanto o acesso e o controle dos “instrumentos de expressão” cultural (como os jornais),
por um determinado grupo político, interage nas lutas de representações entre os grupos em
disputa, interferindo no “mercado” dos “produtos” oferecidos pelo campo político em
questão, na disputa que ocorre pela “percepção” do mundo social. Assim como as “censuras”
que limitam o universo do discurso político por um determinado grupo – que podem ser
expressas na forma de seus específicos componentes doutrinais, de suas formulações
ideológicas particulares, de seus sistemas de pensamento e posições políticas – são, também,
uma forma de poder simbólico que busca controlar o universo daquilo que pode ser pensável
politicamente:
Dado que os produtos oferecidos pelo campo político são instrumentos de
percepção e de expressão do mundo social (ou, se assim se quiser, princípios de di-
visão) a distribuição das opiniões numa população determinada depende do estado
dos instrumentos de percepção e de expressão disponíveis e do acesso que os
diferentes grupos têm a esses instrumentos. Quer isto dizer que o campo político
exerce de facto um efeito de censura ao limitar o universo do discurso político e,
por este modo, o universo daquilo que é pensável politicamente, ao espaço finito
dos discursos susceptíveis de serem produzidos ou reproduzidos nos limites da
problemática política como espaço das tomadas de posição efetivamente realizadas
no campo, quer dizer, sociologicamente possíveis dadas as leis que regem a entrada
no campo (BOURDIEU, 1989: 165).
Este poder simbólico consiste no “capital simbólico” deste campo político, é o “capital
político” que as correntes políticas do movimento operário lutam por garantir e acumular,
para cada vez mais, arrebatar os corações e mentes dos leitores que “consomem” a sua
imprensa:
O capital político é uma forma de capital simbólico, crédito firmado na crença e no
reconhecimento ou, mais precisamente, nas inúmeras operações de crédito pelas
quais os agentes conferem a uma pessoa – ou a um objeto – os próprios poderes que
eles lhes reconhecem. [...] O poder simbólico é um poder que aquele que lhe está
sujeito dá àquele que o exerce, um crédito com que ele o credita, uma fides, uma
auctoritas, que ele lhe confia pondo nele a sua confiança. É um poder que existe
porque aquele que lhe está sujeito crê que ele existe [...] (BOURDIEU, 1989: 187-
188).
Podemos pensar que a partir do momento que trabalhamos com um tipo de
documentação (no caso a imprensa operária) que consistia no palco em que se depositavam a
crença, as convicções e esperanças das pessoas, temos, portanto, uma fonte rica de conteúdo
do que era “imaginado” também, isto é, “sonhado”. Nestes jornais encontram-se expressões
dos contornos das “mentalidades” dos trabalhadores e militantes daquela época, seus
discursos jornalísticos são também “produções simbólicas” e, dessa forma, são
“representações” do mundo social, ou seja, como eles enxergavam os seu mundo social. A
nossa pesquisa histórica com estas fontes jornalísticas trabalha a história política numa
perspectiva de uma história cultural que, segundo o historiador Roger Chartier, que também
inspirou-se em Bourdieu, é um tipo de história que objetiva identificar como (num
determinado contexto) uma determinada realidade social é “construída”, “pensada”, “dada a
ler”. Portanto, é indispensável, ao se tratar de história da imprensa e especialmente de nossa
proposta, identificar os interesses, grupos e posições de quem produziu estes jornais, pois:
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos
interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário
relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza.
As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem
estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma
autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto
reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e
condutas. Por isso esta investigação sobre as representações supõe-nas como
estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos
desafios se enunciam em termos de poder e de dominação. As lutas de
representações têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender
os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do
mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio [...] (CHARTIER, 1988:
17).
Dessa forma, as “representações” estão contidas em nossas fontes jornalísticas tanto
quanto as “práticas”. Estas práticas sociais seriam tanto as “ações” políticas, ou seja,
posicionamentos políticos, as ações e “práticas” militantes, que eram assumidas e defendidas
num determinado discurso, quanto a “prática da leitura” realizada e expressas nestas fontes.
Nesta prática da leitura compreendemos como era a “recepção” dos textos jornalísticos que
eram publicados, por parte de leitores (que sendo redatores ou não), respondiam e
comentavam na própria imprensa o que era produzido. Produzindo discursos, que por sua vez,
também eram “práticas” políticas e militantes. Portanto, a grosso modo, as disputas de
“representações” do mundo social expressas nesta documentação, também eram disputas
políticas, disputas entre as tendência pelo poder de influenciar o movimento operário.
Uma História do Pensamento Político e do Imaginário Político
Após se esboçar um campo teórico e metodológico em que se abre espaço para a
abordagem dos discursos políticos enquanto “ações simbólicas” dos grupos sociais. E os
conceitos metodológicos aplicáveis de práticas e representações, buscamos agora tratar das
ideias políticas e suas relações com o imaginário político.
Ao estudar os temas que iremos trabalhar em nossa pesquisa com os jornais operários,
levando-se ainda em consideração a experiência do mestrado em que foi trabalhado o mesmo
tipo de documentação, destacamos que nestas fontes se expressaram toda a complexidade e
riqueza do pensamento político, das práticas e projetos militantes, das mentalidades e
imaginário social e, enfim, da cultura política das camadas populares ligadas ao movimento
operário em suas várias tendências (anarquistas, comunistas e sindicalistas). Portanto, são
fontes ricas para uma História das ideias políticas e do pensamento político destas camadas, e
é onde se insere a proposta de nossa pesquisa. A publicação deste “pensamento” se
encontrava num espaço (a imprensa) em que o debate político e ideológico é muito dinâmico,
conferindo uma ampliação das discussões e debates destas próprias tradições políticas em que
estes grupos estavam envolvidos, por isso a importância da imprensa, das fontes jornalísticas,
para este campo de pesquisa:
[...] Em suma, as idéias políticas não são apenas as dos filósofos e teóricos, mas
também as do homem comum. Pela extensão de seu campo de curiosidade, a
história das idéias políticas faz necessariamente fronteira com a história da opinião
pública e a história da propaganda; distingue-se delas, mas seus entendimentos com
uma e outra encontram-se numa relação de reciprocidade, numa sociedade de
expressão pública desenvolvida. Daí resulta uma primeira renovação da história
das idéias pela extensão da curiosidade a fontes antes inusitadas (WINOCK, 2003:
278-279).
Dessa forma, o que buscamos fazer é uma história do pensamento político do
movimento operário por meio da sua imprensa, que naquela época atingia uma parcela da
população trabalhadora, e que era afetada pela dinâmica de suas lutas sociais. Trata-se de
tentar descobrir as marcas das ideias políticas em setores mais amplos da sociedade, e a
“mediação” pelo qual passava as ideias políticas até chegar neste público mais amplo, e não
apenas nos intelectuais acadêmicos – seguindo, assim, as transformações da Nova História
Política:
[...] Dedicar-se às mediações e aos mediadores, tanto quanto aos “pensadores”,
resulta da necessidade metodológica, quando o historiador quer avaliar o trabalho
das idéias na sociedade tanto quanto o reflexo dos problemas sociais do momento
da expressão jornalística. [...] esse deslocamento da curiosidade do qualitativo para
o quantitativo, dos grandes autores para os fabricantes do pensamento cotidiano ou
semanal. O público dito “culto”, assim como os eleitores “sem bagagem”, são
submetidos sem cessar aos discursos infra- e metapolíticos, e esse contato é muito
maior que seu acesso à obra dos teóricos. [...] (WINOCK, 2003: 282).
É claro também que estas ideias políticas, expressas no pensamento político da
imprensa operária, ainda que contenha a sua parcela de originalidade – transmitidas nas
“reflexões” dos “jornalistas operários” –, elas derivam, também, de suas matrizes “clássicas”,
isto é, da “tradição” política em que estavam inseridas, que no caso é o amplo, diverso e
heterogêneo movimento socialista. Movimento este que desde o início tinha ligações com o
movimento operário e que tinha consagrado suas ideias principais nos debates e disputas
ocorridas desde o século XIX. Comunistas de vertente marxista, anarquistas de várias matizes
e sindicalistas revolucionários, expressavam as várias tendências e correntes políticas dentro
do que se entendia por socialismo no seu sentido mais amplo. E por socialismo, naquela
época, entediam-se que era uma luta política para radicalizar o modelo de democracia
burguesa para uma democracia mais ampla, que estendesse os direitos sociais a todos, e em
que o proletariado, os trabalhadores, tivessem um papel decisivo na administração da
sociedade. Estas considerações são importantes porque temos que identificar mais claramente
tanto os sentidos originais em que as principais ideias políticas tiveram nos textos clássicos;
os significados que elas representavam no contexto e na conjuntura em que se insere a
imprensa operária; e as leituras (interpretações, ressignificações e apropriações) que eram
feitas pelos redatores operários e militantes.
As correntes políticas do movimento operário são “revolucionárias”, e assim se viam,
no sentido que a revolução social era visto no horizonte histórico destas tradições políticas
como um caminho para o progresso. Por isso, na imprensa que estudamos era depositado
amplos sentimentos de esperança, de expectativas e de fé nas causas que defendiam. Por isso,
na análise histórica de um jornal, devemos atentar que nele estão contidas as inflexões de uma
época, que em suas páginas se refletem as relações na sociedade, e em que se expressa as
tentativas da sociedade de se atingir uma coerência possível entre as “doutrinas” e os “fatos”
reais (WINOCK, 2003: 282).
Assim, nós trabalhamos as nossas fontes na condição que elas são também portadora
de muito do que era “sonhado” dentro de seus discursos, ou seja, do era “imaginado” em meio
ao seu pensamento político, constituindo mitos políticos como a espera de uma “nova era”
com as mudanças da revolução. Por meio desta documentação, então, trabalhamos também
com o que se chama de uma história do “imaginário político”, campo este onde o autor Raoul
Girardet presta grande contribuição.
Girardet primeiramente chama a atenção que devemos considerar, neste tipo de
estudo, a densidade social e coletiva em que são palco estes tipos de debates ideológicos que
implicam em grande conteúdo passional, e com isso a necessidade de considerar a
singularidade de uma realidade psicológica específica (GIRARDET, 1987: 9 e 14). As
reflexões do autor apontam justamente para as características dos discursos que trabalhamos
em nossas fontes, onde as grandes construções doutrinais do pensamento político
revolucionário, invocando a força do rigor demonstrativo da “ciência” e da “razão”,
invocavam fortes sentimentos de adesão:
[...] E aí se encontram, sem dúvida, para muitas delas, a origem e a explicação de
seu poder de atração: qual teria sido o destino de um marxismo destituído de todo
apelo profético e de toda visão messiânica, reduzido exclusivamente aos dados de
um sistema conceitual e de um método de análise? ... (GIRARDET, 1987: 11).
A crença em uma “nova era” social com o advento revolucionário, fundamentada sob
uma doutrina filosófica e social com suas implicações proféticas e messiânicas, claro, não foi
uma característica contida apenas nos movimentos de caráter marxista. Estes traços também
são encontrados nos discursos militantes de anarquistas e sindicalistas, cada um com seus
traços ideológicos específicos, mas que também guardavam e depositavam grandes
esperanças e energias na causa dos trabalhadores organizados.
E levando-se em consideração o período que pretendemos abarcar (1922 a 1935) esse
tipo de estudo do imaginário se torna mais fértil. Já que: [...] “é nos ‘períodos críticos’ que os
mitos políticos afirmam-se com mais nitidez, impõem-se com mais intensidade, exercem com
mais violência seu poder de atração” (GIRARDET, 1987: 180). Pois pesquisamos um período
de fortes embates e disputas no interior do movimento operário, ao mesmo tempo em que este
enfrentava a conjuntura de governos muito repressivos e autoritários com o movimento dos
trabalhadores, e sofria os impactos das grandes crises sociais e políticas do período.
Dessa forma, o imaginário político é um tipo de discurso singular, onde se expressam
as ideias na sua forma de imagens visuais, de imagens verbais, ou de imagens mentais –
constituindo-se, ao olhar do historiador, como “arenas” específicas onde as diversas forças
políticas se colocam e se confrontam. As “imagens”, nesse sentido, podem ser “empunhadas
como instrumentos de poder”, o que coloca a pertinência da discussão das interconexões
possíveis entre a História do Imaginário e a História Política (BARROS, 2005: 138).
No entanto, o historiador do imaginário tem de buscar realizar uma história
problematizada, questionadora, o que consiste em relacionar estas “imagens” – em formas de
símbolos, mitos e visões de mundo – às questões sociais e políticas de maior interesse do
contexto da produção destas fontes. Assim, é trabalhar os elementos do imaginário para a
compreensão da vida social, econômica, cultural e política do meio que a produziu,
estabelecendo interconexões diversas (BARROS, 2005: 138). E este meio social, no nosso
caso, é o movimento operário e sua imprensa, que sofria as consequências e influências das
grandes questões políticas e dos problemas sociais de seu tempo. Com isso, é importante
compreender que abordar o imaginário político na imprensa operária de nosso período é
trabalhar, também, com formas de representações próprias das sociedades modernas, o que
revela uma forma específica de História Política:
Os horizontes abertos por uma busca da compreensão do imaginário político são na
verdade inúmeros. Os modos como o poder é representado – por exemplo em termos
de “centro” e de “periferia” – ou como a estratificação social materializa-se em
imagens como a de um espectro de alturas em que as classes sociais mais
favorecidas são chamadas de “classes altas” ... eis aqui algumas imagens sociais e
políticas que podem passar a fazer parte da vida de uma sociedade. Imagens como
estas têm se entranhado a tal ponto nos discursos políticos e nas representações das
sociedades modernas fazem de si mesmas que, não raras vezes, os próprios
analistas políticos esquecem que temos aqui imagens especializadas que são elas
mesmas produtos de confrontos, de imposições silenciosas, de ideologias que se
infiltram sutilmente nos discursos. [...] (BARROS, 2005: 140).
Sendo assim, estas “imagens”, em que se expressam “representações” políticas e
sociais, constituem-se em imaginários políticos que são, em certa medida, formas de
expressões das disputas pelo poder. Considerando que a História Política se diferencia pela
sua abordagem do fenômeno do “poder”, pretendemos desvendar estas disputas pelo “poder
simbólico” que ocorriam entre as correntes políticas da imprensa operária. E assim,
compreender melhor como ocorreu as disputas políticas no interior do movimento operário,
ou seja, as suas lutas políticas internas. Lutas estas que, expressas na imprensa do movimento,
produziu um pensamento político próprio e específico na história das esquerdas devido a
conjuntura crítica daqueles anos.
As Fontes históricas: a imprensa operária e seus dilemas
Estabelecido as nossas referências, caminhos, ferramentas e conceitos teóricos e
metodológicos básicos, esboçamos por fim uma análise preliminar de algumas de nossas
primeiras fontes que já foram levantadas na própria historiografia deste campo de pesquisa.
Como um dos episódios de maior expressão das cisões no movimento operário no início de
nosso recorte temporal, tratemos do caso da disputa das federações sindicais rivais no Rio de
Janeiro em 1923. Quando as discordâncias políticas entre comunistas e anarquistas no interior
da FTRJ (Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro), criada em 1920, acabou resultando
na refundação da antiga Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ) com maioria
anarquista, definindo a permanência dos comunistas na FTRJ.
Este caso é tratado na importante obra intitulada Clevelândia, do historiador
Alexandre Samis, que apresenta uma pesquisa sobre a colônia penal no Amapá para o qual
eram degredados os presos políticos nos anos 20, sob o estado de sítio do governo de Artur
Bernardes (SAMIS, 2002). Neste livro, apesar do objeto de pesquisa ser o movimento
anarquista, a sua militância sindical e a repressão política, que tanto debilitou o movimento,
também trata dos conflitos entre comunistas e anarquistas, que igualmente prejudicou o
movimento operário. Dessa forma, tornou-se uma referência importante para indicar o fato de
que as disputas entre anarquistas e comunistas e sindicalistas revolucionários, foram intensas
no período e produziram farto material na imprensa destes movimentos.
Logo no início daquele ano, em março, no jornal A Pátria, elencado entre os
impressos que utilizaremos em nossa pesquisa, encontramos um exemplar significativo de
vozes dissonantes das posições anarquistas dentro do movimento operário. Em artigo assinado
por C. Leitão, ainda de fevereiro, é possível medir os impactos da Revolução Russa e do
pensamento socialista de viés marxista nas “imagens” que se tinha da mudança social tão
desejada pelos militantes operários, e na crítica a nova federação sindical que estava sendo
criada:
“Fizemos estas considerações porque diversas têm sido as vezes que ouvimos os
militantes anarquistas dizer, que querem a ‘Revolução Social’ e ‘ipso facto’
recusam a Revolução Proletária – essa para a qual os trabalhadores de todo o
mundo se apresentam. Não querer a Revolução Proletária é o mesmo que dizer não
organizaremos os trabalhadores sob métodos que os mantenham em constante
ascendência, evitando dessa forma a eficiência da luta de classes.
É preciso que os trabalhadores em geral, e em particular, os da Comissão
Organizadora não se suscetibilizem com esse sentimentalismo de ultra
humanitarismo. O capital encontra-se admiravelmente bem montado em seu ‘cavalo
de ouro’ com sua ‘guarda de aço’.
Para desmontar pela palavra, seria necessário uma etapa de quinhentos anos no
mínimo, e que os anarquistas assentassem arraiais ou tenda em seu seio. Isso é
utopia. Entretanto, o processo ‘soviético’ deu resultados admiráveis na desmonta do
seu ‘pedestal de ouro’.
Ao meu ver deve a “Nova Federação”, sem cair em reformismos nem ‘águas frias’
– deixar uma entrada pela qual as grandes classes possam ingressar sem esbarrar
em teorias, que só com o tempo irão assimilando.”4
O jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, funcionou entre os anos de 1922 e 1924. Nesse
jornal havia uma seção trabalhista dirigida pelo operário anarquista e jornalista Marques da
Costa. Era um título incomum para um jornal que abrigava anarquistas, já que os anarquistas
eram contrários ao nacionalismo, mas que se explicava devido à oposição assumida deste
4 A Pátria, 01/03/1923 (Apud SAMIS, 2002: 282).
periódico ao regime de Arthur Bernardes.5 Portanto, um artigo com este teor era uma
inclinação a “bolchevização” do movimento operário, ainda sob efeitos diretos do recém
fundado PCB, e uma crítica direta aos pressupostos anarquistas do jornal, ao defender a ideia
da “Revolução Proletária” como uma prova da eficiência da “luta de classes”, e por ela ter
obtido bom êxito no “processo soviético” (se referindo aqui a Revolução Russa).
A defesa das ideias e “imagens” da “Revolução Proletária” sustentava-se pelo sucesso
das sublevações operárias que ocorreram na Revolução Russa, que conferia a imagem do
“processo soviético” como um modelo bem sucedido da eficácia da “luta de classes”, que é
um conceito chave do marxismo. Por isso, o autor criticava os métodos anarquistas que, por
ser descentralizado e não propor a tomada do poder do Estado pelo proletariado, como no
marxismo, era acusado de querer “desmontar pela palavra” as fortes estruturas do Capital e,
portanto, era tida pelo autor como uma corrente “utópica” – rotulando o movimento ácrata
com esta imagem.
Marx e Engels formularam as bases do “materialismo histórico” que fundamentam o
seu “socialismo científico”, e essas foram às sustentações ideológicas do movimento
comunista. A análise materialista da história de Marx, pressupõe a idéia de que as “condições
da produção da vida material” dos homens, condicionam a sua existência social. Por isso, as
classes sociais que detêm o poder sob os meios de produção, a classe dominante, são também,
em todas as épocas, os pensamentos dominantes (MARX; ENGELS, 1989, p. 47). Para o
pensamento de Marx e Engels, o primeiro pressuposto de toda a existência humana e de toda a
história, é de que primeiro os homens necessitam ter condições de viver, para “fazer a
história”, ou seja, beber, comer, morar, vestir-se. O primeiro fato histórico, então, seria a
produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, ou seja, a “produção da vida
material”. E com estes pressupostos, eles baseiam o conceito de “luta de classes”. 6
No entanto, alguns meses mais tarde, o mesmo jornal A Pátria publicava o que seria
os estatutos da nova Federação sindical (a FORJ), numa clara delimitação de fronteiras e
posições anarquistas diante do crescente movimento comunista nas fileiras operárias. Assim,
5 Cf.: (SAMIS, 2002: 275). O jornal A Pátria encontra-se disponível no acervo da Biblioteca Nacional no Rio de
Janeiro. 6 Sobre este “fato histórico”: (MARX; ENGELS, 1989: 22-23). A “luta de classes” é afirmada pelos autores
como sendo uma realidade em todas as sociedades que já existiram e que existem. Assim, o socialismo seria
construído pela “classe dos operários modernos”, os “proletários” das fábricas, os protagonistas da luta contra a
burguesia dominante, justamente por ser ela a classe mais explorada. Ver respectivamente nas páginas: (MARX;
ENGELS, 2007: 45 e 51-52).
os anarquistas ao fundar a nova Federação, em seu preâmbulo, já expressavam claramente os
pontos doutrinários clássicos do sindicalismo de viés anarquista:
“Não somente no Brasil mas universalmente, a luta política e a ação eleitoral vêm
empolgando as organizações trabalhistas, reforçando o Estado e, portanto, o
despotismo dos dominadores, apertando cada vez mais as algemas que prendem as
classes operárias.
Todos os partidos políticos, sem distinção de classes, têm-se infiltrado entre as
massas trabalhadoras, tentando tomar por assalto a direção de suas organizações
para mais facilmente conquistarem altas posições políticas e econômicas,
colocando-se acima e contra as populações e muito especialmente contra as mais
pobres, exploradas e oprimidas.
A politicagem tem destruído todos os sonhos de fraternização proletária, de
federação internacional do proletariado militante, combatendo e destruindo as
organizações que se colocam no verdadeiro campo da ação direta – sem
intermediários e sem diretores, na pugna subversiva tendente a fazer baquear – sem
a organização de Estados políticos, transitórios ou definitivos – o regime de todos
os poderes autoritários de todas as classes dominantes.
Considerando que todos os partidos políticos que surgiram ou surgem entre a
classe burguesa ou entre a classe trabalhadora, são poderosos elementos de
opressão econômica e política do proletariado, pois todos, absolutamente
todos, defendem a todo transe o capitalismo privado ou o capitalismo de Estado
e por consequência o regime do patronato particular ou o patronato
governamental; que todos, absolutamente todos, tendem a conservar o
ignominioso sistema do salariato;” [...].7
Marx propunha que o proletariado utilizasse o domínio político para centralizar todos
os instrumentos de produção nas mãos do Estado – que para ele seria o proletariado
organizado como classe dominante – para construir o comunismo.8 Porém, o teórico
anarquista russo, Bakunin, uma das principais bases teóricas do movimento anarquista, por
sua vez, argumentava que a escravidão política, o Estado, reproduz e conserva a miséria,
como uma condição de sua existência, assim, para destruir a miséria, era preciso destruir o
Estado por meio de uma revolução (BAKUNIN, s.d.: 97). Identificando, assim, o anarquismo
à um “comunismo libertário”.
Para o anarquismo, o governo é o fator da desordem, e só uma sociedade sem governo
poderia restaurar a harmonia social, a ordem natural, baseada sobre a liberdade e a
solidariedade: a Anarquia (GUÉRIN, 1968: 20). Por isso, o anarquista não crê na
emancipação pelo voto, que para ele é um ato de fraqueza, de cumplicidade com a corrupção
do regime da “democracia burguesa”. Com isso, os libertários foram acusados pelos
marxistas, que propõem a tomada do poder pelo proletariado com revolução ou vitórias
7 A Pátria, 06/06/1923 (Apud SAMIS, 2002: 333-334). 8 O que seria a chamada “ditadura do proletariado” Cf.:( MARX; ENGELS, 2007: 66-67).
parlamentares, de serem “abstencionistas”, de se abstraírem da política, enquanto os
“libertários” sempre afirmaram negar a “política burguesa”, propondo outra forma de se fazer
política (GUÉRIN, 1968: 25 e 26).
A partir destes pressupostos, os anarquistas no Brasil – na fonte publicada da
instituição da nova Federação – também mantinham as visões e imagens da luta política
institucional e eleitoreira, que os comunistas não negavam, como uma “politicagem” que
destrói a “fraternização proletária” – mantendo o movimento anarquista que propunha o não
aparelhamento dos sindicatos a partidos políticos dentro deste imaginário, do sonho e ideal da
“fraternidade”. Acusando a infiltração nos meios operários da ação eleitoral de partidos
políticos que acabam reforçando, segundo esta visão, o Estado e os poderes autoritários das
classes dominantes.
Com isso, quando os anarquistas publicam as bases da nova Federação em A Pátria
naquele momento, eles acusavam os comunistas de perpetuarem o capitalismo por proporem
um caminho político que criaria mais uma forma de Estado, e que este novo Estado
administraria o capitalismo – mantendo o regime social autoritário e despótico do “patronato”
e do “salariato”. Essa acusação dos anarquistas pode ser vista com ainda mais contundência se
considerarmos que nessa época, em 1923, muitas notícias do processo social da Rússia
soviética já tinham atingido o Brasil, e já era divulgado o fato da construção de uma espécie
de “capitalismo de Estado” na URSS. Bem como a bolchevização dos conselhos populares, os
sovietes, que tinham se espalhado por todo o país com a revolução, e o autoritarismo
institucional do Partido Comunista russo. Estes são fatos posteriores que manifestaram seus
efeitos mais tarde nos movimentos operários internacionais (FERRO, 1984, p. 62).
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