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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
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068 Barreto, Maribel Oliveira /O papel da cosnciência em face dos desafios atuais da educação / Maribel Oliveira Barreto - 1. ed. Salvador: a autora, 2005.
83p.: il.; 15x21 cm.
1. Educação - Consciência. 2. Educação - Estudo. 3. Consciência. I. Título.
133.901CDD20. ed.
1ª Edição - Salvador/Bahia, 2005.Direitos desta edição reservados à autora,
que permite e estimula a reprodução de parte do livro,desde que seja citada a fonte.
A educação integral é a demonstraçãofactual do avanço do sistema de
educação hoje tido como oficial. Ela, narealidade, representa o novo estágio da
humanidade, caracterizado pelo novoestado de consciência do Ser Humano.
(A Arca, II.13:3389)
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
AGRADECIMENTOS
A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,Pela nossa gratidão de existir...
A Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NATUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,Pela dedicação e zelo, pelas orientações claras,seguras e definitivas, bem como pela doação doselementos básicos, fundamentais, necessários àsnossas concepções, elaborações e realizações.
A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,Por nos proporcionarem asexperiências do dia-a-dia que nosoportunizam alcançar o valor real dasrelações - porquanto ninguém viveisolado -, para que compreendamos “O“O“O“O“OREAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
PREFÁCIO
A reflexão sobre a construção e/ou o despertar da
consciência acompanha a trajetória da história da existência
do ser humano desde os seus primórdios. No ocidente, alguns
filósofos antes e depois de Sócrates deixaram registrados,
nos seus escritos, profundas abordagens a respeito da
importância e da necessidade do ser humano construir e
expandir um estado de consciência a serviço do cuidado com
a Vida. Heráclito, por exemplo, considerava que a todos oshomens é permitido o conhecimento de si mesmos.
Através da apropriação do direito à vivência do conhece-te a ti mesmo, Sócrates demonstrou, com a sua vida e a sua
morte, que o indivíduo tem a capacidade e o direito de construir
a potencialidade da consciência humana. Na sua obra
filosófica, Plotino consolidou a sua compreensão de que o
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
caminho que o indivíduo desvenda/inaugura/percorre em
direção ao seu próprio eu interior é o caminho da consciência,
que abre os portais por onde os deuses se manifestam na
autoconsciência humana. Foi o reconhecimento da
espacialidade da sua vida interior, juntamente com a ativação
do seu olho interior, vislumbrado por Plotino, que levou
Santo Agostinho a assumir a necessidade de entrar em si
mesmo para assumir a responsabilidade pela construção da
sua autoconsciência.
Nicolau de Cusa, educador-filósofo precursor das idéias
que fundamentaram a perspectiva de Copérnico sobre o
heliocentrismo, percebeu, no seu processo de autoconhecer-se,
a sua douta ignorância. A partir do mergulho no
reconhecimento da sua ignorância ontológica, além de confessar
a impotência da razão, ele evidenciou que todo ser humano
precisa compreender, no movimento de construção da
autoconsciência, os limites de sua capacidade de conhecimento
(ou os princípios da sua ignorância) e apropriar-se da liberdade
do reconhecimento socrático só sei que nada sei.
O filósofo educador Baruch de Espinosa também
reconheceu e anunciou a necessidade do despertar da
consciência do ser humano, pois verificou que quanto maiso espírito se conheça, melhor compreenderá suas própriasforças e a ordem da natureza, quanto mais compreendasuas forças ou poder, mais apto será para se dirigir a simesmo e para conhecer a existência humana.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Apesar de os estudos sobre a consciência humana não
serem recentes, a história evidencia que, no século XX, o
surgimento das várias abordagens da psicologia e da pedagogia
– juntamente com a perspectiva filosófica fenomenológico-
existencialista, os postulados científicos-ontológicos da física
quântica, da teoria da relatividade, da ordem implícita, das
neurociências, da biologia molecular – revelam a urgente
necessidade da construção de uma educação para o
desenvolvimento integral do ser humano, fundamentada no
estudo da consciência e direcionada para a descoberta-ativação
de diferentes possibilidades da consciência do educando e do
educador na vivência da arte de aprender ou da arte de
autoconhecer-se.
Em consonância com vários filósofos e educadores da
antiguidade, da modernidade, da pós-modernidade e da
atualidade, a educadora Maribel Barreto também compreende
que a consciência é um fenômeno que se processa nointerior do homem”. No seu livro “O Papel da Consciência
em Face dos Desafios Atuais da Educação”, ela apresenta
algumas reflexões sobre a temática da consciência na
educação. Na escrita dos seus capítulos, ela assume a sua
intenção de ouvir e atender a um apelo contemporâneopor uma educação integral, transcendendo a visão dualentre ciência e religião, a partir do estudo da consciência.
No seu diálogo com Aidda Pustilnik, Stanislav Grof e,
especialmente, com Ken Wilber, a autora, além de ressaltar
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
que a consciência deve ser entendida como a totalidade da
experiência humana, evidencia a possibilidade da configuração
de uma concepção integral do ser humano alicerçada no estudo
da consciência. Fundamentada na sua compreensão de que a
consciência é uma das propriedades mais significativas damatéria em hominização e uma das mais importantesfaculdades inatas capitais do ser humano, ela sustenta que aeducação tem por finalidade auxiliar os educandos noprocesso de desenvolvimento dos estados de consciência,assim como das suas relações com a realidade e os valoresexistenciais. Na sua perspectiva, a educação deve ajudar no
direcionamento da auto-integração do ser humano, pois
compreende que todo projeto educativo responsável precisa
integrar e não afastar o ser humano de si mesmo.
Considero que a publicação deste livro, juntamente com
a ação educativa e as pesquisas desenvolvidas por Maribel
Barreto, representam uma valiosa contribuição para o
aprofundamento dos estudos e das práticas educativas
direcionadas para a construção de uma ação pedagógica a
serviço da ética do cuidado amoroso com a Vida Abundante,
também manifesta na existência dos seres humanos.
No seu conteúdo, a autora convida cada leitor a
mergulhar no porquê da sua compreensão do fato de que échegada a hora de tratarmos da consciência na práticapedagógica. Unindo a sua práxis educativa com o seu diálogo
com Ken Wilber e a construção discursiva da sua escrita a
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
respeito da temática da consciência na educação, ela apresenta
profundas reflexões sobre a possibilidade da construção de
uma genuína ação educativa que contemple a integração das
dimensões do ser humano como um todo. Na sua
compreensão, a visão integral do ser humano deve sustentar
uma educação integral em que façam presentes tanto asignificação do subjetivo quanto do objetivo, do individuale do coletivo, do empírico externo, do interno e doespiritual unitivo. Para tanto, propõe não apenas o estudo
da consciência no ensino formal, através de diversas práticas
pedagógicas, como também a criação de um Núcleo deInvestigações avançadas da consciência em todas as
modalidades de ensino. Além disso, sugere o desenvolvimento
de uma educação integral alicerçada no estudo da consciência,
através da criação das disciplinas: Iniciação à Consciênciano âmbito da Educação infantil e do ensino fundamental,Consciência no âmbito do ensino médio e Conscienciologiano âmbito do Ensino Superior.
Noemi Salgado
Doutora em Educação
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
PARTE IPARTE IPARTE IPARTE IPARTE IA COMPREENSÃO DA CONSCIÊNCIA A PARTIR DOS FUNDAMENTOS
DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
PARTE IIPARTE IIPARTE IIPARTE IIPARTE IIA CONSCIÊNCIA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES FACULDADES
DO SER HUMANO
PARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIO PAPEL DA EDUCAÇÃO NO DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA
REFERÊNCIAS
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
INTRODUÇÃO
A crise contemporânea da nossa sociedade, parece-
nos claro, está alicerçada, principalmente, no nosso descuido
ou mesmo descomprometimento com os valores morais,
éticos e estéticos elevados, demonstrados nas nossas ações
cotidianas, fazendo com que formemos, na maioria das vezes,
através, inclusive, da educação, profissionais e técnicos, mas
não seres humanos, ainda que estas pessoas possam se tornar
profissionais competentes.
Sustentamos, a minha experiência sugere, e a razão
não se recusa a aceitar, a teoria de que, para vivermos em
equilíbrio dinâmico, precisamos de moral, ética e estética
elevadas, pois, evitados os exageros, não é difícil verificar
que precisamos, sim, de moral elevada porque somos seres
humanos e, não raro, vivemos assolados pela decepção, dor
e sofrimento. Ora, se sofremos é porque estamos agindo, no
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
mínimo, incorretamente; se existe o incorreto, existe o
correto; e se existe o correto e o incorreto, então há a
necessidade de moral. Precisamos também de ética elevada,
porque nossos interesses nem sempre são,
concomitantemente, racionais, comuns e gerais; no entanto,
para que o todo viva em harmonia, os interesses individuais
devem ceder espaço para os interesses gerais. E precisamos
de estética elevada, porque, senão nada, pouco adianta ao
ser humano adquirir, cada vez mais, sabedoria e força, e não
ter beleza em suas ações.
É verificável o fato de que seres humanos sem
princípios, no mínimo, racionais, profissionais sem caráter e
sociedades sem moral, ética e estética elevadas, não são
inúteis, porquanto toda atividade é contributiva, mas são tão
fúteis quanto perigosos. Isto porque, é provadamente
verdadeira a teoria de que quando o ser humano não usa
princípios racionais como base de suas ações do dia-a-dia de
relações, usa o banal; daí demonstra haver, em si mesmo, a
falta da manifestação da consciência, em grau significativo;
por conseguinte, na sociedade, ele não só ameaça as
construções enobrecedoras conhecidas, possíveis e/ou
disponíveis, mas também, fomenta as vis.
Em virtude desse contexto, decidimos pesquisar a
temática da Consciência na educação, porquanto o nosso
interesse e preocupação refere-se à busca de uma educação
que realmente favoreça o desenvolvimento integral do Ser
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Humano nos seus aspectos físico, intelectual, emocional e,
sobretudo, espiritual, até porque nem tudo é tangível.
A tônica das discussões acadêmicas está voltada para o
estado de degeneração do planeta, o que nos conduz a pensar
que o Ser Humano, principalmente através da educação,
deve ser o alvo central desta abordagem. Assim, urgem não
só reformas e mudanças, mas também transformações nas
ações humanas. Atualmente, elas estão caracterizadas, muitas
vezes, por um egocentrismo desumanizador, portanto, sem
uma cuidadosa atenção às conseqüências de tais ações, como,
por exemplo, a descoberta da energia nuclear e fóssil para,
de maneira irrefletida, usar esse poder em detrimento dos
seres humanos, do meio ambiente, de si mesmo e, por
conseguinte, da humanidade. O uso descuidado dessas
energias sem a Consciência para uma programação plausível
por parte daqueles que têm a técnica em seu poder, vem
trazendo para o planeta conseqüências inesperadas e
negativas, mostrando que o próprio Ser Humano tornou-se
o principal produtor singular desses efeitos.
Infelizmente, o que presenciamos é a circulação de
trilhões de dólares, passando de mão em mão pelo planeta,
produzindo uma bola de neve especulativa e mostrando que
o mercado globalizado move-se segundo suas próprias regras,
muitas vezes em prejuízo das necessidades humanas.
Nossa civilização está próxima àquela situação, em que
há uma tendência à padronização estúpida e à massificação
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
obrigatória, o que impõe uma perspectiva mais do que
mecânica ao Ser Humano. Nesse contexto, ele,
vagarosamente, vai sendo administrado sutilmente como um
elemento da máquina. A vida de cada um de nós vem sendo
ajustada a um mesmo ritmo, predominante, de acordo com
as ditas necessidades imediatas do todo globalizado, reduzindo
as possibilidades da constituição de individualidades saudáveis,
que possam, diante de si e do outro, tomar decisões adequadas,
pautadas em princípios morais, éticos e estéticos elevados,
até porque, nós, a humanidade e o mundo somos um, e nós
os fazemos como são e estão.
À medida que o progresso segue o seu curso, somos,
na maior parte do tempo, alimentados pela propaganda que
massifica, vendendo ideologias, crenças, idéias e esperanças,
convencendo-nos de que só seremos felizes no contexto do
consumismo, acreditando que vive melhor quem mais
consome, sem sequer nos darmos conta de que o imediatismo
causa-nos lesões inevitáveis e prejuízos quase irreparáveis,
pois ele não só traz benefícios a curto prazo, mas também
malefícios a longo prazo.
Ora, toda propaganda é, não raro, enganosa. No
fundo, ela vende algo aos seres humanos inconscientes,
prometendo livrá-los do desconforto em que vivem, por não
saberem lidar bem com as questões da existência. Tais seres
humanos pensam que ser produto do meio, e não produtor,
os salva. Eles têm a nítida visão de que o que lhes pode
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
salvar é o que vem de fora, e não de dentro; e tentar mudá-
los é como quebrá-los por dentro.
Para tais seres humanos é melhor incorporar algo do
que produzir para a sociedade. E a sociedade, enquanto
fomenta isso, demonstra que não mais ignora, mas esquece
e/ou inobserva o que é indicado pela razão, para a evolução
equilibrada do gênero humano. Daí a importância da
construção e/ou despertamento da Consciência do Ser
Humano. Visto que somos e vivemos como seres abertos,
desde o nascimento até a morte, as questões da existência
exigem ser refletidas, a ponto de seus valores serem por nós
absorvidos em grau cada vez mais significativo, para que
vivamos em equilíbrio dinâmico, portanto, relativamente
integrados com o Universo, do qual somos parte integrante.
Por outro lado, temos o Estado, que, não raro, deixa
de ser uma entidade social e passa a atuar como uma entidade
financeira, com a mesma lógica que movimenta as empresas,
com a ética da lei do mais forte, fazendo com que entrem e
saiam governos sem que a atenção devida seja dada à
coletividade humana como um todo. Por mais que as
necessidades humanas sejam conhecidas e reconhecidas, se
não forem produzidas ações significativas para reduzir as
desigualdades sociais de alcance, porque não dizer,
planetárias, nem mesmo serão reparadas injustiças sociais
históricas, para com as minorias colonizadas em tempos
passados e/ou presentes.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
É verificável o aumento amedrontador do “fosso” que
separa os países, acirrando a dependência e subordinação dos
países mais pobres aos mais ricos, reafirmando o fortalecimento
das empresas transnacionais e, principalmente, financeiras.
Estamos vivenciando o individualismo institucionalizado,
considerado como liberdade individual, o que produz
consequências, não raro, nefastas em todos os âmbitos da
vida, tais como políticos, econômicos, sociais, religiosos...
A degradação ambiental, por exemplo, cada vez mais
abrangente e inquietante pelos riscos iminentes contra a vida,
vem constituindo um desafiante obstáculo à ação de cientistas,
políticos, administradores e governantes. O problema da
degradação ambiental caminha pari passu com o próprio
processo de uso e ocupação do solo, que se apresenta de
forma desorganizada e desequilibrada em diversas partes do
mundo. Isso prova que o Ser Humano, genericamente
falando, através de suas ações destituídas de moral, ética e
estética elevadas tem, muitas vezes, agido supostamente em
favor do bem-estar de todos; no entanto, o que tem se
verificado, cada vez mais, é o aumento da onda de destruição,
tanto para si mesmo quanto para os outros.
Essa configuração do presente traz em si, a nosso ver,
exigências que indicam que a eminente e razoável necessidade
de que a conduta e a ação humana sejam orientadas por
valores que, realmente, tenham por base a razão, em princípio
individualmente, e demonstrem, factualmente, primar pela
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
preservação da vida, tanto individual quanto coletiva. Esta
exigência, por sua vez, implica na necessidade da adoção de
novas perspectivas e novos modos de atuar, principalmente,
em educação. Isso porque, a educação tem por fim a
libertação, que é o único conhecimento que nos livra, inclusive,
do cárcere da propaganda, do imediatismo e/ou do
consumismo. Não é absurdo concluir que o caos geral é
produto do caos individual.
O predomínio da dita ética do lucro, por exemplo, age
em detrimento da vida e a favor do desmesurado descuido do
Ser Humano, tanto individual quanto coletivamente. Porém,
mesmo diante de tantos problemas, ainda não nos
convencemos da necessidade de tirar proveito da afirmação
de que o Ser Humano é, também, resultado de suas
experiências que deram errado.
Parecemos não acreditar que o Ser Humano é um ser
inacabado e em processo de construção e, por isso mesmo,
educável, o que significa dizer que pode e deve ser orientado
para assumir uma práxis cada vez mais saudável diante da
vida. Para tanto, propomos o estudo da Consciência na
educação formal. Sim, porque a Consciência é o primeiro e
último conhecimento que o Ser Humano pode e deve utilizar
para saber bem lidar com as questões da existência da vida,
pois esta mais do que cobra, aos desavisados, a vida que não
for vivida. Portanto, é inegável, principalmente no presente
em que vivemos, a necessidade de moral, ética e estética
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
elevadas, preocupadas com o Ser Humano em suas diferentes
dimensões e necessidades.
O caminho que a humanidade percorre nas suas distintas
etapas evolutivas, caracterizadas por transformações no modo
de sentir, pensar e agir conduz a progressos e avanços que
contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população
mundial, demonstrados pela melhoria verificável de alguns
índices de desenvolvimento humano e social.
No entanto, atualmente, é nítido que, não raro, esses
índices são mais notados no aumento do número de casas
majestosas, na versão mais atualizada de um software ou na
quantidade de carros luxuosos que são comercializados e
consumidos. O que observamos, de fato, é que esses mesmos
progressos não equacionaram adequadamente o problema
do Ser Humano. Ao contrário, têm-no conduzido a um
desenvolvimento unilateral de suas potencialidades,
evidenciando que o mesmo remédio que cura, também pode
conduzir a limitações e, nas situações mais graves, à
destruição.
Este contexto de egocentrismo, de individualismo quase
institucionalizado, e de ascensão do Ter em detrimento do
Ser, tem, por sua vez, raízes firmadas em um longo processo
de dinamização dos papéis sociais que foram ocorrendo ao
longo da modernidade, a qual passou por momentos de
dignidade e desastre. A dignidade refere-se à diferenciação
das esferas de valor (arte, moral e ciência/religião, filosofia
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
e ciência), ocorrida no momento em que elas puderam seguir,
independentemente, seus caminhos (séculos XVI e XVII). Esta
emancipação foi de substancial importância para o
aprofundamento dos estudos científicos, na medida em que,
a partir desse momento, a ciência estaria livre para especular
e investigar tudo o que quisesse, desde os eventos da natureza
ao corpo humano. Assim, o mundo se expandiu com os
esforços físicos e intelectuais do Ser Humano, fazendo emergir,
a partir desse momento, teorias científicas verdadeiramente
comprováveis e reprodutíveis em qualquer lugar do planeta.
A diferenciação das esferas de valor do conhecimento
começou fazendo com que as idéias teológicas sobre o
Universo fossem gradualmente superadas pelo raciocínio
crítico, cálculos matemáticos e, fundamentalmente, pela
observação tecnicamente aperfeiçoada. E assim, com os
dogmas da Igreja postos em xeque, estava aberto o caminho
para a visualização e o estabelecimento de uma nova
sociedade, baseada em princípios claros de racionalidade e
liberdade individuais.
Foi nesse mesmo período que a Reforma e o
Protestantismo libertaram a Consciência individual das pessoas
em face das instituições religiosas da Igreja e a expuseram
diretamente aos olhos de Deus; que o Humanismo
Renascentista colocou o Homem no centro do universo; que
as revoluções científicas conferiram ao homem a faculdade e
as capacidades de inquirir, investigar e decifrar os mistérios
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
da Natureza; que o Iluminismo, centrado na imagem do
homem racional, científico, libertado do dogma e da
intolerância, tinha diante de si a totalidade da história humana
para ser compreendida e dominada.
A nobreza das idéias modernas propôs a “paz universal”
que, infelizmente, até hoje não tem vigorado; apontou-nos
o caminho para a auto-realização humana com a superação
do reino da necessidade, através das forças produtivas;
evidenciou que o seu ideal de ciência era o de um saber a
serviço do homem, e não o de um objeto de manipulação,
cego e seguidor de lógicas dissociadas de fins humanos.
Nessa época, enfatizou-se que a moral era livre e visava
também uma liberdade concreta, valorizando e pregando uma
ordem em que, por exemplo, o cidadão não fosse oprimido
pelo Estado e o fiel não fosse oprimido pela Religião. Inclusive,
gritou para todos os cantos do mundo, fazendo ecoar a
doutrina dos direitos humanos que, embora fosse abstrata,
transcendia os limites do tempo e do espaço e estava sempre
aberta a proposições inovadoras, gerando, continuamente,
novos objetivos políticos.
Enfim, a ciência mostrou que suas estratégias e princípios
poderiam ser úteis tanto para ela mesma quanto para a
sociedade. Todavia uma parte do tecido social se rompeu
com a radical dissociação ocorrida entre arte, moral e ciência,
promovendo o distanciamento e a negação das esferas de
conhecimento. Cada uma seguiu uma direção diferente no
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
percurso da vida, sendo que esses caminhos, até hoje, século
XXI, encontram dificuldades para se cruzarem.
Em outras palavras, era como se os domínios da ciência,
filosofia e religião estivessem compartimentalizados,
pessoais, subjetivos, especulativos e, fundamentalmente,
distintos do público conhecimento objetivo do mundo
empírico. A Fé e a Razão estavam agora definitivamentecindidas.
Assim, como a repressora Igreja foi colocada em xeque
pela ciência, sendo gradualmente substituída pela simplicidade
racionalista de investigação do Universo, era possível também
uma mudança nas estruturas da sociedade. Era possível,
portanto, que o poder monárquico absolutista que reinava, o
privilégio aristocrático que dominava em detrimento dos demais,
a censura inescrupulosa do clero, as leis arbitrárias e opressoras
e as economias ineficazes fossem substituídos por novas formas
de governo, baseadas em direitos individuais, racionalmente
definíveis e contratos sociais – não baseados em supostas
sanções divinas ou em pressupostos tradicionais herdados –
benéficos, tanto para o soberano quanto para seus súditos.
Desta forma, a ciência substituía a religião como
autoridade intelectual proeminente, sendo agora definidora,
juíza e guardiã da visão cultural e, além de tudo, científica do
mundo. A Razão e a observação empírica substituíam a
doutrina teológica e a Revelação da Escritura como principal
meio para a compreensão do Universo.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
O grande aspecto positivo da modernidade, por sua
vez, acabou se transformando, pelo excesso de diferenciação,
em dissociação patológica, fragmentação, alienação, enfim,
em um desastre que abalou o final do século XVIII e início do
XIX. Deste modo, o mesmo remédio ofertado para curar as
mazelas da humanidade a asfixiou, no momento em que
ciência, filosofia e religião/arte, moral e ciência, passaram,
pouco a pouco, a não mais dialogar.
Isso montou o cenário para um forte domínio da ciência
empírica – razão instrumental – sobre as outras esferas. Com
isso, a ciência dominaria o discurso cognitivo no mundo ocidental.
A ciência passa, então, a ser monológica, ou seja, uma
ciência que não dialoga com as outras esferas de valores
(filosofia e religião ou arte e moral) em razão da convicção
de que não existe realidade a não ser aquela revelada pelos
instrumentos empíricos, que contribuem para a descrição
(monólogo) de comportamentos objetivos observáveis. É por
causa dessa ciência monológica que vivemos hoje, até que se
reprove, um grande desequilíbrio cultural, causado por uma
visão dualista da realidade, que separa, por exemplo, corpo
e espírito, pensamento e sentimento, ciência e religião,
objetividade e subjetividade, bem como dissemina um
comportamento individual e social voltados para a competição
ao invés da cooperação, ou mesmo da competência.
Sendo assim, podemos constatar que também o
cientificismo é o pano de fundo da nossa fragmentação.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Esta se traduz na separação de raças, credos, nações, classes
sociais e hemisférios – Oriente e Ocidente; em pessoas
separadas, auto-enclausuradas, fechadas, individualistas, em
busca unicamente de seus interesses pessoais, mesmo que
em prejuízo de terceiros; em grupos de pessoas agindo como
se não houvesse mais ninguém ao seu redor... comprometendo
a qualidade de vida das pessoas e do planeta.
Apesar de estarem separadas da filosofia, da ética, da
arte e da espiritualidade, é inegável que a ciência e a
tecnologia trouxeram muitos benefícios à humanidade. Tal
separação, entretanto, tem acentuado a visão dualista da
realidade e do Ser Humano, uma vez que tanto a ciência
quanto a tecnologia perderam o referencial do significado da
sua existência: o bem-estar da humanidade.
Dessa forma, a modernidade tem sido pautada pelo
predomínio de uma das dimensões do Ser Humano – a sua
dimensão externa – que, com certeza, traz suas necessidades.
Todavia esse olhar é reducionista, caso não se dê atenção às
outras dimensões do Ser Humano, especialmente às
dimensões internas, individuais e coletivas. A dimensão
externa é real e necessária, porém a exclusão da dimensão
interna produz as distorções que vivenciamos e que,
sinteticamente, apontamos previamente.
Assim, no amanhecer deste novo milênio, é constatável
que já passamos por diversas experiências individuais e
sociais, já abraçamos diversas teorias e, ainda assim, o
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
problema da integração do Ser Humano perdura,
instigando-nos a refletir sobre a insuficiência de uma
abordagem que zele somente pela dimensão exterior do
Ser Humano. Contudo, isto não quer dizer que devemos
abandonar a ciência e a tecnologia, mas sim buscar integrá-
las com o respaldo de princípios éticos, estéticos e morais.
Não podemos ser ingênuos em acreditar que uma
transformação desta natureza se originará de elites
dominantes ou será proveniente de instâncias superiores
figuradas como ordem divina, numa dimensão de fora para
dentro ou da sociedade para o indivíduo, mas ocorrerá,
sim, através de uma transformação que parta de dentro de
cada Ser Humano.
Nosso apelo pela transformação do Ser Humano não
está afeto a nenhuma abordagem religiosa ou mítica. É,
antes de tudo, um apelo por um equilíbrio de nossa alma,
para que possamos, pelo menos, iniciar uma jornada que
nos distancie da nossa rotineira preocupação com nossas
próprias pessoas. Esse egocentrismo nos faz esquecer de
que somos apenas uma peça dentro de um enorme quebra-
cabeça que precisa se integrar para que reflita uma imagem
sem distorções ou falhas.
Nesse contexto, evidencia-se, em todas as instâncias
sociais, a necessária reivindicação dos seres humanos de serem
tratados como organismos vivos, capazes de sentirem,
pensarem, organizarem-se e construírem valores.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
O projeto educativo é, então, tentar integrar e não
afastar o Ser Humano de si mesmo. Isto implica ter presente
seus valores subjetivos, além dos objetivos, proporcionando
aos educandos condições de uma formação adequada, de tal
forma que possam descobrir, por si sós, suas tendências e
seus valores próprios, bem como suas finalidades de existir,
seus deveres naturais para com a vida, incluindo valores que
envolvam as pessoas, de um modo geral, e o equilíbrio
dinâmico nas relações cotidianas.
Entendemos, pois, que caberá ao educador saber
expressar, com suas ações, o valor das coisas materiais e/ou
espirituais. É evidente que o educador disposto a educar
necessitará, inicialmente, para tal, observar a si próprio e
verificar o que tem em si como valores, demonstrando-os
através da sua conduta. Afinal, é a conduta do Ser Humano
que denuncia o seu grau de Consciência.
O presente livro pretende, portanto, atender a um apelo
contemporâneo por uma educação integral, transcendendo
a visão dual entre ciência e religião, a partir do estudo da
Consciência.
As nossas inquietações são expressas também por outros
pensadores, tais como Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000),
Ken Wilber (1990; 1994; 1998a; 1998b; 1999; 2001a; 2001b),
Dênis Brandão e Roberto Crema (1991), Jacques Delors et
al. (1999), entre outros. Esses autores compreendem que o
presente momento está carente de uma proposta e uma
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
prática educativa que aborde, factualmente, o Ser Humano
de forma integral.
Na perspectiva de apresentar essa abordagem integral
da educação, direcionamos nossa atenção para o estudo da
Consciência, estruturando esse livro em três partes.
Na primeira parte, apresentamos a compreensão da
consciência a partir dos fundamentos da psicologia transpessoal,
destacando as contribuições de autores, reconhecidos
mundialmente, tais como Stanislav Grof (1987, 1994, 1998,
2000) e, principalmente, Ken Wilber (1990; 1994; 1998a; 1998b;
1999; 2001a; 2001b), além das contribuições das estudiosas da
consciência, na Bahia, Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000).
Na segunda parte, evidenciamos a nossa concepção de
consciência como uma das mais importantes faculdades do
Ser Humano, possibilitando-lhe integrar os sentimentos,
pensamentos e atos, no dia-a-dia do viver, em prol de uma
educação verdadeira.
Na terceira parte, destacamos o importante papel da
educação no despertar da consciência, indicando caminhos
para a auto-integração, autoconhecimento e autotransformação
do Ser Humano, em busca da unidade de pensamento entre
os conhecimentos religioso, filosófico e científico, através do
sistema formal de ensino.
Por fim, desejamos a todos os leitores discernimento,
iniciativa e realizações !
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
PPPPPARARARARARTE ITE ITE ITE ITE I
A COMPREENSÃO DA CONSCIÊNCIA A PARTIR DOS
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
DDDDDesvelar o estudo da Consciência no âmbito
acadêmico representa um desafio aos tradicionais
modos de pensar e sugere um caminho inteiramente novo
para enfrentarmos a Realidade como ela é, a educação e,
porque não dizer, a nossa própria existência.
A Psicologia Transpessoal surge como base teórica para
o estudo da Consciência, na medida em que significa alémdo pessoal, além da personalidade, e porque não dizer
além do ego. É uma abordagem recente, que surgiu nos
Estados Unidos em 1966, a partir de um movimento que se
tornou conhecido como quarta força, depois doBehaviorismo e da Psicanálise, tendo sido consideradacomo um desdobramento da Psicologia Humanista.
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, por exemplo,
precursor da discussão sobre a transcendência humana,
dedicou sua vida ao estudo da Consciência Humana, que é
exatamente o objeto de estudo da Psicologia Transpessoal.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
De acordo com Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000),
psicoterapeuta e psicóloga transpessoal, respectivamente,
fundadoras da Escola Dinâmica Energética do Psiquismo,
já estamos ultrapassando os modos de acessar o
conhecimento exclusivamente pelos sentidos e pela
intelecção. Em função disso, vem emergindo esse novo
paradigma de conhecimento nas ciências em geral, junto
com uma nova compreensão sobre o significado da própria
Consciência. Até porque, não é demais considerar que Ela
não é mais uma expressão em busca de conceito, mas de
concepção inequívoca.
A Consciência é vista por muitos cientistas ortodoxos
como sendo um produto de matéria altamente organizada –
o sistema nervoso central – e como um epifenômeno dos
processos fisiológicos do cérebro. Essa concepção de que a
Consciência é um produto do cérebro não deve ser
considerada totalmente arbitrária, porém, não é sequer
razoável limitarmo-nos a essa definição “materializada”,
considerando, inclusive, que a realidade exige mais do que
compreensão.
A Consciência, segundo Theda Basso e Aidda Pustilnik
(2000), deve ser entendida como a totalidade de nossa
experiência; mais apropriadamente, como o Ser na sua
integralidade. Consciência, para as autoras, é a totalidade
do nosso ser, que se expressa visivelmente em nosso corpo,
como um todo, porquanto vivemos nos revelando pela forma
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
de sentir, pensar e agir.
Stanislav Grof (1987, p. 15), renomado pesquisador norte-
americano da Consciência humana, assim se expressa:
Nos anos recentes, a física está se aproximandorapidamente do ponto em que terá de lidar, de modoexplícito, com a Consciência. Há físicos importantesque acreditam que uma futura teoria ampla damatéria incorporará a Consciência como umconstituinte integral e crucial.
Segundo o autor, os problemas que enfrentamos não
são, em última análise, apenas econômicos, políticos e
tecnológicos. Eles são reflexos do estado emocional, moral
e espiritual da humanidade contemporânea, da alienação da
humanidade moderna de si mesma, da vida e dos valores
espirituais.
Além das necessidades próprias à sobrevivência,
acreditamos que devem ser supridas as necessidades
“espirituais”, trabalhando-se, prioritariamente, com o “eu”1 ,
para que possa haver um funcionamento completo do Ser
Humano no ciclo geral da vida, levando-se em conta os
diversos níveis e fases de desenvolvimento da sua Consciência.
Ken Wilber (1999)2 demonstra, no seu livro Los TrêsOjos del Conocimiento, que qualquer paradigma transpessoal
verdadeiramente compreensivo deverá recorrer por igual ao
olho da carne, ao olho da razão e ao olho da contemplação,
de acordo com as contribuições de São Boaventura3 . Um
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
novo paradigma verdadeiramente transpessoal deveria utilizar
e integrar os três níveis de conhecimento: o conhecimento
do senso comum, também chamado de empírico, que nos
faz perceber o mundo por intermédio dos cinco sentidos; o
conhecimento racional, ao qual pertence a ciência e os
conhecimentos logicamente constituídos; e o conhecimento
sensitivo, que implica o uso de uma mente expandida e,
pois, intuitiva.
Ken Wilber inclui-se entre os mais importantes
pensadores a integrar a ciência ocidental com as tradições
da sabedoria oriental e ocidental. Tornou possível a integração
do objetivo com o subjetivo e formulou uma visão integral
sobre o Ser Humano. Ele é visto como um expoente da
Psicologia Transpessoal e tem seu olhar voltado para a
integralidade do Ser Humano.
A obra e a pessoa de Ken Wilber apresentam muitas
facetas. O núcleo da sua obra é um modelo teórico
evolucionário do Ser Humano, no seu aspecto ontogenético4 ,
assim como filogenético5 . Seu propósito é integrar diferentes
modelos teóricos, formulando uma abordagem integral do
Ser Humano a partir do diálogo com muitos campos do
saber humano, tais como da sociologia, psicologia do
desenvolvimento, antropologia biológica e cultural, psicologia
clínica, filosofia perene, história, epistemologia, entre outros.
O seu objetivo maior é formular uma Teoria do Todo,
que demonstre a integração de todos os campos da
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
experiência humana, posicionando as diferentes verdades
parciais num modelo amplo e integral. Nunca perde de vista
o panorama geral, atento às tentativas de transformar
verdades parciais, como, por exemplo, ecologia, feminismo,
física e holismo, em uma compreensão integral, que, para
ele, é a mais verdadeira e, portanto, adequada.
Através do nosso estudo, verificamos que as
contribuições do pensamento de Ken Wilber, em todas as
suas fases, oferecem-nos indicadores significativos para, no
mínimo, refletirmos sobre a formação integral do Ser
Humano, especialmente a partir da educação. Entretanto,
são suas últimas e atuais formulações acerca da visão
holônica6 da Consciência as mais significativas para a
configuração de uma concepção de educação integral,
superando o modo fragmentado de conhecimento da
Realidade, que, até prova em contrário, tem gerado conflitos,
seja nas práticas educativas, seja nos âmbitos familiar, político,
enfim, na sociedade como um todo.
Entender o Ser Humano integralmente, remete-nos,
portanto, ao modelo integral da Consciência, cujo foco é
constituído de “todos os níveis, todos os quadrantes”. No
atual estágio de desenvolvimento de suas pesquisas, o autor,
além de abordar a Consciência como uma holarquia7 ,
acrescenta-lhe o fato de que cada nível dessa holarquiamanifesta-se através de quatro dimensões ou quadrantes:
individual-subjetivo (intencional), individual-objetivo
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
(comportamental), coletivo-subjetivo (cultural) e coletivo-
objetivo (sistemas sociais).
Uma hierarquia natural é simplesmente uma ordemde totalidade crescente (como, por exemplo, a quevai das partículas até os átomos, as células e osorganismos, ou que vai das letras às palavras, as frasese os parágrafos), onde a totalidade de um determinadonível da hierarquia forma parte da totalidade própriado nível seguinte. (WILBER, 1998b, p. 51).
Compreender a realidade através da perspectiva de
“todos os níveis, todos os quadrantes” possibilita superar os
limites da visão tradicional da Grande Cadeia do Ser8 , que
centrava atenção no lado espiritual e estético do Ser Humano,
esquecendo-se do lado comunitário (ético) e do lado objetivo,
externo (tratado pela ciência).
Assim, na fase mais recente do seu pensamento, Wilber
diferencia os níveis básicos da Grande Cadeia, integrando os
níveis de Consciência – sensorial, mental e espiritual – com
os quatro quadrantes.
Uma vez que reconheçamos e respeitemos os níveise dimensões da Grande Corrente, reconheceremos,simultaneamente, todas as modalidadescorrespondentes de conhecimento – não apenas oolho da carne, que desvenda o mundo físico esensorial, nem só o olho da mente, que desvenda omundo linguístico e simbólico, mas também o olhoda contemplação, que desvenda a alma e o espírito.(WILBER, 1999, p.55).
Para Wilber, o Ser Humano integra, em si, os referidos
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
níveis, bem como tem sua manifestação em quatro quadrantes
– o exterior e o interior do individual e do coletivo – que
envolvem os aspectos intencionais, comportamentais, culturais
e sociais. Esses quadrantes também dizem respeito às esferas
culturais de valore: arte, moral e ciência; o Belo, o Bom e a
Verdade; estética, ética e verdade; o EU, o NÓS e o ELE.
Articulando as quatro dimensões ou esferas de valor
com a Grande Cadeia do Ser, temos, segundo Wilber (1999),
uma verdadeira e abrangente visão integral do Ser Humano,
como expressa a frase anteriormente citada: “todos os níveis
e todos os quadrantes”.
Segundo depoimento do próprio Wilber, a exaustiva
pesquisa das diversas visões de mundo – entre elas, a teoria
de sistemas, as ciências ecológicas, a cabala, a psicologia
desenvolvimentista, o budismo iogachara, o desenvolvimento
moral, a evolução biológica, o hinduísmo vedanta, o
neoconfucionismo, a evolução cósmica e estelar, e toda uma
gama de ninhos pré-modernos, modernos e pós-modernos
– tornou possível agrupá-las de diversas formas. Com isso,
ele percebeu que, sem exceção, elas se enquadravam em um
dos quatro quadrantes existentes, os quais lidam com o interiore o exterior, com o individual e com o coletivo. Deste modo,
ele vai além, tanto da hierarquia clássica da religião tradicional
como da hierarquia padrão da ciência moderna.
A expressão “todos os quadrantes”, por sua vez, conduz
ao reconhecimento de que, em cada um desses níveis
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
(sensório, mente, espírito), há um interior individual e coletivo,
assim como um exterior individual e coletivo. Este
entendimento possibilita, em cada nível de ser e de conhecer,
uma experiência estética (EU), uma experiência ética (NÓS),
uma “ciência” sobre cada fenômeno individual, bem como
uma “ciência” sobre os sistemas de fenômenos coletivos (ELE).
Daí a compreensão de que uma abordagem integral do Ser
Humano deve levar em conta todos os níveis da Grande
Cadeia do Ser, bem como todas as suas dimensões.
Fonte: Adaptado de Wilber (2001a, p. 93).
Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1 – Os Quatro Quadrantes
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Os teóricos e investigadores do quadrante superior
direito, por exemplo, centraram-se no exterior do indivíduo,
dando origem ao comportamentalismo, ao empirismo, à
biologia, às ciências cognitivas, à neurologia, à fisiologia
cerebral etc.
Inclui-se, nesse quadrante, a versão científica que aborda
os componentes individuais do universo (átomos, moléculas,
células simples, incluindo organismos mais complexos), que
se constituem em hólons sucessivos e progressivamente mais
complexos e elevados, mais profundos ou mais extensos,
transcendendo e incluindo os anteriores, na escala evolutiva.
Na visão de Wilber eles se desenvolvem por processos de
diferenciação-e-integração, os quais, uma vez
desarmonizados, causam patologias.
No quadrante inferior direito estão representadas as
abordagens objetivas dos sistemas coletivos. Refere-se ao
estudo externo das relações que constituem as configurações
sistêmicas da realidade: a sociedade, os sistemas naturais, os
ecossistemas, a rede ecológica da vida, a teoria sistêmica, as
teorias do caos e da complexidade, as estruturas tecno-
econômicas, a política, a sociedade.
Esses dois quadrantes analisados anteriormente, segundo
o autor, representam realidades objetivas ou exteriores, que
têm uma localização no mundo sensório-motor e empírico.
Por serem exteriores e objetivos são descritos na linguagem
do ELE, que se expressa pela ciência e tecnologia
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
contemporâneas. “Os quadrantes da mão direita são os
hólons vistos pelo lado de fora, num tipo de investigação
objetiva, empírica e científica.” (WILBER, 2001b, p. 62).
Com esta abordagem, Wilber torna bem claro que, ao
longo da história, os diferentes pesquisadores da ciência
preferiram centrar sua atenção nos quadrantes do lado direito,
ocupando-se dos aspectos objetivos, cujas características
podem ser percebidas pelos sentidos ou por suas extensões,
ou seja, empiricamente, excluindo os demais.
Tratando-se, especificamente, do quadrante superior
esquerdo, vale explicitar que o mesmo inclui, segundo o autor,
as experiências interiores estudadas pela psicologia, filosofia
e espiritualidade. Esse quadrante é descrito na linguagem do
EU, relativo à Consciência, subjetividade, auto-expressão,
verdade, sinceridade.
O autor ressalta a diferença entre o interior do indivíduo
(a mente) e o exterior do mesmo (o cérebro). A mente é
conhecida por conhecimento direto; o cérebro, por uma
descrição objetiva. Conhecemos a nossa mente direta,
imediata e intimamente: todos os pensamentos, sentimentos,
aspirações e desejos que percorrem a nossa Consciência o
tempo todo. O cérebro, por outro lado, embora se localize
“dentro” do organismo, não está no interior da nossa
Consciência, como a mente. O cérebro é percebido de uma
forma exterior e objetiva. Portanto, em última análise, a
mente e o cérebro são duas visões diferentes da nossa
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Consciência individual, uma de dentro e outra de fora; uma
interior e outra exterior.
O quadrante inferior esquerdo, por sua vez, refere-se
às cognições individuais e subjetivas quando partilhadas com
outros indivíduos, o que resulta em uma visão ética da vida,
sendo descrita na linguagem do NÓS. Este quadrante envolve
a ética, a moral e a cultura e seu significado intersubjetivo
abrange compreensão mútua e justiça.
À medida que os hólons cognitivos individuais sedesenvolvem e evoluem; à medida que a Consciênciados indivíduos aumenta em profundidade, desdesimples sensações até imagens, conceitos e raciocínio(esquerdo superior); também a visão de mundocoletiva se torna mais profunda e mais complexa(esquerdo inferior) (WILBER, 2001b, p. 62).
Enquanto o quadrante superior esquerdo representa a
Consciência individual, interior e subjetiva, o esquerdo inferior
representa as formas coletivas ou intersubjetivas de
Consciência, os significados, valores e contextos culturais,
sem os quais a Consciência individual não se desenvolveria
nem funcionaria.
Os dois quadrantes do lado esquerdo (Figura 1)
representam realidades subjetivas ou interiores que não estão
localizadas no espaço físico, mas em espaços emocionais,
mentais e cognitivos. “Os quadrantes da mão esquerda são
os hólons vistos pelo lado de dentro, pelo interior, como
parte da consciência e experiência vividas diretamente.”
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
(WILBER, 2001b, p. 62). E, por serem interiores e subjetivos,
são descritos na linguagem do EU e NÓS.
Vale considerar, ainda, que cada um dos quatro
quadrantes possui contornos e tipos de dados muito diferentes,
assim como distintos “tipos de verdade” que precisam ser
reconhecido e respeitado, pois eles constituem a parte
“diversificada” da unidade-na-diversidade. Essa diversidade,
de acordo com Wilber, é tão importante quanto a unidade.
Assim considerado, parece-nos claro que cabe à
educação cumprir o seu papel, buscando a formação integral
dos educandos, a partir do reconhecimento, respeito e
despertamento das suas potencialidades, as quais envolvem
as quatro dimensões da experiência nos seus diferentes níveis.
O que Wilber, de fato, nos revela é que, dentro de uma
abordagem realmente integral, em cada um dos níveis da
Consciência (sensível, mental e espiritual), dão-se as dimensões
abordadas pelas três esferas de valor distinguidas na
modernidade (arte, moral e ciência). Dessa forma, existem
arte/estética, moral/ética e ciência/verdade no nível sensível,
no nível mental, bem como no nível espiritual. Portanto, na
busca de auxiliar o desenvolvimento integral do Ser Humano,
faz-se necessário primarmos por uma educação que envolva
os níveis sensorial, mental e espiritual.
No nível sensorial, devem ser incluídas as experiências
a partir do olho da carne, percebendo o mundo exterior do
espaço e do tempo, sem desconsiderar o desenvolvimento
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
da estética e da ética, ainda que de forma restrita. Já no
nível da mente, devem ser trabalhados os conhecimentos
racionais e/ou intelectivos, através do olho da razão, o qual
envolve o mundo das idéias e dos conceitos, possibilitando
uma estética focada no mental e uma ética baseada em
contratos, portanto, na justiça. Por fim, no nível do espírito,
deve ser trabalhado o conhecimento espiritual, incluindo o
olho da contemplação, que favorece experiências unitivas/
diretas da realidade, a partir da ampliação da percepção.
Configurar uma concepção de educação integral do Ser
Humano, a partir do estudo da Consciência, pressupõe,
portanto, a integração da noção da Grande Cadeia do Ser
com as esferas de valores culturais diferenciadas e dissociadas
pela modernidade.
Segundo Wilber (2001b, p. 11), uma verdadeira visão
integral
[...] deveria incluir a matéria, o corpo, a mente, aalma e o espírito tal como se apresentam em seudesdobramento através do eu, a cultura e a natureza.Deveria tratar-se de uma visão compreensiva,equilibrada e inclusiva, uma visão que abraçasse aciência, a arte e a moral, uma visão que englobassetodas as disciplinas (desde a física até aespiritualidade, a biologia, a estética, a sociologia ea oração contemplativa) e se expressasse atravésde uma política integral, uma medicina integral, umaespiritualidade integral.
Em síntese, a versão holônica ou dos quatro quadrantes
do Grande Ninho do Ser parece atender aos anseios do nosso
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
atual mundo moderno, por considerar que cada Ser Humano
possui um aspecto subjetivo ou a intencionalidade, um aspecto
objetivo ou o comportamento, um aspecto intersubjetivo ou o
significado culturalmente construído e um aspecto interobjetivo
ou o encaixe funcional e de sistemas sociais. As suas diferentes
formas de expressão de conhecimento estão fundamentadas
nessas dimensões reais correlatas.
Na concepção de Wilber, esta é a visão integral do ser e
do conhecer, confirmando a necessidade de alcançarmos níveis
cada vez mais sutis da Consciência rumo à educação integral.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
PPPPPARARARARARTE IITE IITE IITE IITE II
A CONSCIÊNCIA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES
FACULDADES DO SER HUMANO
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
NNNNNa perspectiva da abordagem transpessoal, surge
o espaço para tratarmos da Consciência na
dimensão para “além do ego” humano, envolvendo a sua
maneira de sentir, pensar e agir, através da sua conduta, que
denuncia o seu grau de Consciência.
A nossa experiência sugere, e a razão não se recusa a
aceitar, que não é demais concebermos a Consciência como
uma das propriedades mais significativas da matéria em
hominização. Ela é uma das mais importantes faculdades
inatas capitais do Ser Humano que lhe possibilita, além de
saber e sentir, suficientemente, acerca da realidade, segundo
não só conhece, mas também se aproxima daquilo que
estabelece aquela moralidade universal que a conduta dos
corpos celestes denuncia.
A Consciência, portanto, é o produto da ação do Ser
Humano, quando do uso da sua imaginação com inteligência,
cuja busca visa compreender a largura do seu Ser. Daí,
devemos buscar saber cada vez mais o que é ter Consciência
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
clara, pois é com ela que o Ser Humano se eleva na senda
da Iluminação, da bem-aventurança e/ou algo que equivalha.
Eis que o homem de Consciência é aquele que vem
demonstrar à humanidade, pela força do seu bom exemplo,
que é o resultado daquele Ser Humano que, uma vez
construtor, buscou viver, conscientemente, cavando túmulos
à ignorância e erguendo templos à sabedoria. Ou melhor,
cavando túmulos aos vícios e erguendo templos às virtudes,
demonstrando: o quanto tem de profundidade, na medida
em que busca viver, volvendo-se para dentro de si mesmo;
o quanto tem de largura, na medida em que busca viver,
conscientemente, dedicando-se a ajudar o seu semelhante,
bem como o meio no qual se insere; e o quanto tem de
altura, na medida em que busca viver, conscientemente,
elevando-se a Deus, de forma cada vez mais bela, rica e
significativa.
Após leituras de diversos teóricos da Consciência e um
sem-número de discussões, começamos a romper o véu que
nos separava da solução que procurávamos para o dualismo
que tem pautado as discussões científicas dos últimos séculos.
Assim, em função desses estudos que vimos realizando ao
longo dos últimos quinze anos, constatamos que o maior
desafio do Ser Humano é compreender a vida a partir de si
mesmo. Para tanto, ele deve lançar mão da sua Consciência,
pois quanto maior for o seu grau, maior será a sua
compreensão acerca da vida.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Parece-nos claro que a Consciência, quando despertada
e/ou construída em grau significativo no Ser Humano, ajuda-
o a eleger valores éticos, estéticos e morais, no mínimo,
elevados. Também lhe possibilita identificar as faculdades e
qualidades formadoras do seu ser, bem como buscar saber
significativamente acerca do Princípio Criador, da Finalidade
da Vida, bem como da Razão de Nossa Existência, a partir da
compreensão do valor significativo real das relações que
estabelece no dia-a-dia, porquanto a vida exige ser mais do
que vivida, exige ser compreendida. Para tanto, o Ser Humano
deve começar pelo que está mais próximo: ele mesmo.
Assim considerado, vale destacarmos o valor das relações
humanas no contexto da vida. A atividade-fim do Ser Humano
é compreender a vida; portanto ele faz uso da atividade-meio
específica: o viver, que nada mais é do que ser e estar em
relação. Afinal, não é demais salientar que no Universo nada
vive no isolamento, e tudo são ações nas relações. Daí vale
lembrarmos que o valor significativo real de uma relação não
é só a busca de segurança, de satisfação e da dita felicidade,
mas também da auto-revelação, para que possa haver, no ser,
o conhecimento, o autoconhecimento e a auto-realização,
tomando como exemplo a Moralidade do Universo, cuja
conduta os corpos celestes denunciam, incontestavelmente.
Tratando desse processo de auto-revelação, conta-nos
a história “Ser ou não Ser. Eis a questão” (OCIDEMNTE,
2001 p. 85-87):
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Maré de março rebentava na praia. O mestre imutabilista
O’Cavím estava com seus discípulos a contemplá-la em sua
incisiva investida contra os recifes, que deixavam clara a sua
intenção em resistir para não se transformarem de pedra
bruta naquilo que já era este pretenso amigo que, inclusive,
sua conduta denunciava ali e agora, era notório, como uma
coisa viva. Sabia, ela, que não seria evitada por muito tempo
pelos recifes, haja vista uma parte destes, já como areia,
denunciava o quanto não mais podia resistir à persistente
investida do mar, e chegava a ponto de ter que imitá-lo. Era
uma questão de tempo. Coisa que só a água e/ou algo que
equivalha sabe fazer, afinal, água mole em pedra dura, tantobate até que fura.
O mestre O’Cavím tinha uma verdadeira paixão pelos
benefícios incomuns da requintada combinação entre oscomplementares, e nunca se deixava impedir de acessar o
reservatório da Imutabilidade, ou seja, da Moralidade do
Universo que a conduta dos corpos celestes denuncia,
porquanto primava pela energia pura e a criatividade ilimitada.
A confiança, convicção e certeza, para com a verdadeira
essência, eram peculiaridades notáveis neste mestre.
Enfim, o mar continuava sua investida à praia e a
enamorava não só como devia, mas também como podia.
A mesma conduta tinham os shelas9 para com o seu
mestre, que os fazia experimentar direta, correta e
completamente a importância da contemplação e a sua
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
relação com a Consciência, uma das mais relevantes faculdades
inatas capitais do homem. Ensinava, este mestre, aos seus
discípulos: Quanto mais contemplativo mais próximo.
Nesta experimentação, por parte dos contempladores,
era notório o fato de que o mar, todo vaidoso, já fazia questão
de que fossem denunciadas a sua meiguice e doçura para
com a praia, porquanto ela já respondia a altura, tentando
retê-lo em suas entranhas, quando da investida do mesmo.
Eis que nesse tempo, no templo, quando do término
do exercício de aprimoramento espiritual, Greque, um dos
shelas do mestre O’Cavím, pediu-lhe que fizesse algumas
considerações acerca da relação mestre/discípulo. Que então
o fizera. Dizia ele:
- Meus caros, não existem mestres, mas discípulos.
- O fato de se dizer que se tem um mestre não significaque se é discípulo.
- Senão nada, pouco importa se ter um mestre e nãoser discípulo.
- O mestre dos mestres é o tolo.
- Quem faz um mestre é o discípulo.
- Só os que ainda não são discípulos, exigem mestres.
- Não depende de um mestre a nossa iluminação, anossa emancipação, a nossa bem-aventurança, enfim, anossa imutabilização, mas de nós mesmos.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
- Ser discípulo implica a capacidade de aprender esentir, de autoperceber, bem como de saber lidar racionale equilibradamente com situações novas, enfim, de serum eterno aprendiz.
- Ser discípulo é uma necessidade essencial para todos
nós, principalmente para aqueles que já se puseram no
caminho e a caminhar.
- Discípulo é aquele que está pronto. Pronto paradar seu sentimento, pensamentos, atos e obras, mas nãosó seus sentimentos, pensamentos, atos e obras, mastambém seu corpo, sua alma e seu espírito; e não só osseus sentimentos, pensamentos, atos e obras, bem comoseu corpo, sua alma e seu espírito, mas também seussentimentos, pensamentos, atos e obras, seu corpo, suaalma e seu espírito, bem como sua vida.
- Eis que, enquanto um homem tolo exige, senão ser,
ter mestre, um homem da ciência exige ser discípulo.
Finalizou o mestre, mas ainda ouviu:
- Sim mestre, mas o senhor é o nosso mestre, e lhesomos muito gratos, por tudo!
Reconsiderou Greque. E todos eram ouvidos, tempo
em que acenavam com a cabeça, como que numa ação de
confirmação.
- Meus queridos, ser mestre significa, no muito,encorajar a outros na busca da verdadeira morada, segundo
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
a força do seu exemplo, mas através da verdadeira tarefa,tal como fazemos agora. Ser mestre significa ter estadopreso quanto, como e onde outros estão, e ter achado achave para escapar, e então poder, não só dizer que épossível, mas também ensinar a outros de como devemproceder para tal; mas, como eu disse, pela força de seuexemplo, que a sua conduta deve denunciar.
Terminou o mestre, indicando com os olhos e acenando
com a cabeça que o mar já começava a se recolher, e deveria
ser, então, imitado por esses contempladores silenciosos, do
silêncio criador.
Ser Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar sabercomo ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.
Cumpre-nos, pois, ousarmos experimentar,
conscientemente, o que é, tal qual é, a dinâmica da vida, ou
melhor, a realidade, de forma mais intensa possível. Afinal,
parece-nos claro que, à medida que experimentamos de
forma direta, correta e completa a dinâmica da vida, nossa
Consciência cresce e nosso conflito diminui. Isto porque,
um dos maiores desafios do gênero humano reside na sua
capacidade de usar a qualidade de pensar para agir, sem
problemas produzir, ou melhor, sem caos criar, manter e/
ou ampliar.
Vivemos, portanto, um momento decisivo na história
da humanidade. Se inconscientemente encaminhada, tal
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
situação pode levar o planeta, senão à destruição, a um futuro
mais do que sombrio e duvidoso; se orientada pela
Consciência, levará a humanidade a um crescimento
seguramente qualitativo.
A educação, principalmente, não pode, tampouco
deve, ficar alijada desse processo. É chegada a hora de
tratarmos da Consciência na prática pedagógica, buscando
contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento humano,
como um todo.
Nesse contexto, importa-nos questionar acerca da
Consciência, em si. A palavra Consciência deriva do latim
Conscientia. (ABBAGNANO, 1999).
O significado que esse termo tem na filosofiamoderna e contemporânea [...] é o de uma relaçãoda alma consigo mesma, de uma relação intrínsecaao homem, “interior” ou “espiritual”, pela qual elepode conhecer-se de modo imediato e privilegiadoe por isso julgar-se de forma segura e infalível. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral– a possibilidade de autojulgar-se – vincula-seestreitamente ao aspecto teórico, a possibilidade deconhecer-se de modo direto e infalível.(ABBAGNANO, 1999, p.171, grifos do autor).
Segundo Cipriano Luckesi (1998), a Consciência não é
abstração ou algo intocável, mas sim aquilo que somos na
totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as
dimensões do corpo, da personalidade (no que se refere à
emoção) e da espiritualidade. Esse autor expressa que a
Consciência não é dada plenamente manifesta; ela nos é
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
dada como um dom, e para que se manifeste, necessita da
nossa capacidade para manifestá-la. Esta, por sua vez,
depende do nosso desenvolvimento.
Segundo Angela La Sala Batà (1976), a única finalidade
verdadeira da existência é o desenvolvimento da Consciência.
Antônio Damásio (2000), por sua vez, entende a
Consciência como a chave para que se coloque sob escrutínio
uma vida, seja isso bom ou mau; é o bilhete de ingresso,
nossa iniciação em saber tudo sobre fome, sede, sexo,
lágrimas, riso, prazer e intuição. Segundo o autor, em seu
nível mais complexo e elaborado, a Consciência ajuda-nos
a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a
arte de viver.
Na nossa concepção, a Consciência nos é
disponibilizada pela Natureza como uma faculdade latente
em nosso ser, mas para que se manifeste factualmente é
necessário despertá-la. Para tanto, precisamos desenvolver
as nossas qualidades, através das relações que estabelecemos
no dia-a-dia, seja com pessoas, seres, pensamentos e/ou
sentimentos, tais como: sentir, querer, pensar, reconhecer,
ousar e raciocinar, principalmente esta última.
Entendemos, pois, a Consciência como uma das
faculdades inatas, capitais do Ser Humano, que lhe favorece,
inclusive, absorver, se assim podemos dizer, o valor
significativo e real das relações, conforme o que estabelecem
as Leis Universais. Afinal, é fato inegável que no Universo
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
tudo são Leis. A Consciência refere-se, portanto, àquela força
interior do Ser Humano que o impele a exteriorizá-la sob
forma de ação, para os devidos fins, pois em tudo tem uma
razão de existir.
Mas, para fazermos isso, devemos buscar integrar o
nosso sentir, pensar e agir, quando das relações. Afinal, o
Ser Humano é também o produto do que sente, pensa e faz,
bem como do meio em que vive. Eis que os nossos
sentimentos, pensamentos e atos nada mais são senão
expressões de nossa Consciência.
Com isso, não nos cabe mais, por exemplo, buscar
fazer ciência sem Consciência, ou mesmo buscar promover
o desenvolvimento profissional, através da educação, sem a
preocupação com o despertamento, desenvolvimento e
socialização do potencial humano como um todo.
Assim, o que temos considerado, e até então sustentado,
é que devemos buscar integrar os princípios de moral, ética e
estética elevadas, os nossos coeficientes de inteligência,
emocional e espiritual, ao mesmo tempo. É preciso também
incluirmos o aprender a ser como o elemento basilar das
aprendizagens que perpassam o processo educativo,
conforme orienta o Relatório da UNESCO para a educação
do século XXI (DELORS et al., 1999). Portanto, muito importa
que tratemos urgentemente das nossas dimensões interior,
exterior, individual e coletiva, conforme expressamos na Parte
I, a partir dos fundamentos de Ken Wilber (1986, 1990, 1994,
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
1998a, 1998b, 1999, 2001a, 2001b).
Vale lembrar que o Ser Humano, ainda que pouco
consciente, vive, cada vez mais, adquirindo sabedoria e força,
mas, senão nada, pouco adianta adquirirmos sabedoria e
força e não termos beleza em nossas ações. No entanto,
não se adquire a sabedoria sem o sentir, a força sem o controle,
bem como a beleza das ações sem a razão, o bom senso e a
boa intenção. Não é demais lembrar que precisamos ter
sobrevivido às duas grandes guerras para entendermos a razão
de suas benesses.
Busquemos, pois, manter boas convivências,
racionalmente justificadas, como um meio de nos ensejar
um viver cada vez mais consciente e, no mínimo, com a
possibilidade de vivermos integrados conosco e com o todo
do qual fazemos parte, dando-nos a chance de sermos
exemplos significativos para nós mesmos e para o nosso
próximo. Afinal, é factualmente perceptível que medimos
o nosso grau de Consciência pela nossa conduta; que muito
mais educativo do que as palavras são os nossos atos; e que
toda conduta é um exemplo, e todo exemplo, enquanto
não educa, no mínimo, motiva.
Tratando-se de desenvolvimento humano, vale ressaltar
que a maior motivação do Ser Humano, até prova em
contrário, reside na busca de sentido da vida. Segundo Dana
Zohar e Ian Marshal (2000) diversas pesquisas realizadas pela
filósofa, física e consultora internacional na área de
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
desenvolvimento humano, Dana Zohar, comprovam esta
afirmação.
Quanto a avaliarmos significativamente o nosso grau
de Consciência, basta observarmos e verificarmos o quanto
refletimos acerca de quem somos, de onde viemos e para
onde vamos, bem como acerca do Princípio Criador de todas
as coisas, da Finalidade da Vida, e da Razão da nossa
Existência. É tarefa, pois, do homem de Consciência, no
mínimo, sinalizar para a humanidade acerca da importância
do que indica a noção exata de alma, de Consciência e de
Lei Natural para a sua evolução abreviada, principalmente
consciente, bem como para a sua dignidade e função, tanto
individual quanto social.
A razão não se recusa a aceitar que a Consciência é
um fenômeno que se processa no interior do homem e é
justamente em nosso interior que devemos trabalhar mais –
com dedicação e urgência – para despertá-la, se assim
podemos dizer, do seu torpor.
A partir do exposto, vale reforçar que nosso caminho
natural é o despertamento da nossa Consciência, como tarefa
emergencial, inclusive e principalmente, através da Educação,
em especial a individual, ainda que tenhamos muitos limites
e/ou obstáculos para tal.
A Educação, portanto, tem por finalidade auxiliar os
educandos no processo de desenvolvimento dos estados de
Consciência, assim como das suas relações com a realidade
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
e com os valores existenciais. Ela deve ajudar no
direcionamento da auto-integração do gênero humano,
possibilitando-lhe conceber da vida a sua real beleza, a sua
real riqueza, bem como a sua real significação.
Precisamos, por conseguinte, de uma pedagogia que
esteja de acordo com as pesquisas contemporâneas acerca
da Consciência como um todo, pois qualquer coisa em
contrário, só aumenta o caos no qual vivemos. Para Stanislav
Grof (1987), os resultados mais ambiciosos são inconcebíveis
sem que se introduzam a espiritualidade e a perspectiva
transpessoal na educação. Desta forma: mãos à obra!
Segundo a abordagem transpessoal, os nossos
conceitos de educação e sua finalidade, a construção do
conhecimento, o papel do educador, a função do ensino e
o desenvolvimento do educando devem ser,
ininterruptamente, repensados.
Nesse contexto, vislumbramos a possibilidade de uma
educação verdadeira, que contemple a integração das diversas
dimensões do Ser Humano, assim como de seus níveis de
conhecer, fazer, viver juntos e ser, portanto, a unidade do
conhecimento, a partir do despertamento, cada vez mais
claro, da Consciência, isto é, da nossa capacidade de reflexo.
Afinal, a obra reflete o artista.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
PPPPPARARARARARTE IIITE IIITE IIITE IIITE III
O PAPEL DA EDUCAÇÃO
NO DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
QQQQQuando falamos de educação, devemos lembrar
que ela pressupõe um movimento de dentro
para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a
necessidade de investirmos nas nossas potencialidades
internas. Para tanto, muito importa utilizarmos como
atividade meio o autoconhecimento, pois o Ser Humano
não vive sem o saber, enfim, sem o conhecimento. Mas o
único conhecimento que o Ser Humano não pode desprezar
é o conhecimento de si mesmo. Eis a senda da educação
verdadeira.
Entendemos que é necessário nos relacionarmos, através
da educação, não só com o mundo objetivo e empírico do
conhecimento moderno, mas também com o mundo subjetivo
e espiritual da sabedoria.
É um ledo engano a idéia de que, acumulando
ensinamentos e adquirindo técnicas, estamos nos educando.
Isso só nos trouxe separatividade e guerra. Basta olhar ao
nosso redor e verificar o estado em que nos encontramos,
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
com a corrupção, violência e volúpia como que globalizados.
Enquanto houver no Ser Humano uma distância
significativa entre a sua ação, o seu pensamento e o seu
sentimento, ou seja, entre o sentir, o pensar e o agir, é
evidente que não haverá auto-integração; portanto não
haverá autoconhecimento e tampouco autotransformação,
mas sim fragmentação. E o que pode produzir um
fragmentado, se toda ação produz uma reação igual e em
sentido contrário? Assim, não haverá ação criativa, mas sim
ação condicionada, esta que nos colocou hoje como estamos:
em caos generalizado.
Considerando nossa intenção em contribuir para a
realização de um processo educativo que prime pela unidade
de pensamento entre os conhecimentos religioso, filosófico
e científico, a partir da compreensão da necessidade de
integração de todos os níveis e de todas as dimensões do Ser
Humano, volvemos nossa atenção para o estudo da
Consciência, essa amiga que é, para todos nós, tanto bússola
quanto mapa, nessa jornada rumo à totalidade.
Estamos mais do que confiantes. Estamos convictos e
certos de que a educação integral, fundamentada no estudo
da Consciência, responde aos anseios da educação para o
século XXI, tal como expressa o Relatório Internacional da
educação para o século XXI, da UNESCO, intitulado
“Educação – um tesouro a descobrir” (DELORS et al., 1999).
Este documento expõe, claramente, os quatro pilares da
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
educação para esse período: aprender a conhecer, aprendera fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
O aprender a conhecer significa a aprendizagem doconhecimento científico e cultural que nos ajuda a distin-guir o que é real e o que é ilusório, e a ter um acessointeligente aos saberes de nossa época. Afinal, o SerHumano não vive sem o saber. Nesse contexto, o espíritocientífico, como uma aquisição fundamental da aventurahumana, é indispensável. Aprender a conhecer tambémsignifica ser capaz de estabelecer pontes entre os diferentessaberes; entre estes saberes e seus significados para nossavida cotidiana; entre estes saberes e significados e nossascapacidades interiores.
Já o aprender a fazer significa a aquisição de umaprofissão e dos conhecimentos e práticas que lhe sãopeculiares. Toda profissão, no futuro, deveria ser umaverdadeira profissão a ser tecida; uma profissão que es-taria ligada, no interior do Ser Humano, aos fios que aligam a outras profissões. No fim das contas, aprender a
fazer é um aprendizado da criatividade. Fazer também sig-nifica fazer o novo, criar, trazer suas potencialidadescriativas à luz.
Quando tratamos do respeito às normas que regem as
relações entre os seres que compõem uma coletividade, estamos
nos referindo à aprendizagem do viver juntos, segundo expressa
o Relatório da UNESCO. Todavia, estas normas devem ser
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
realmente compreendidas, admitidas interiormente por cada
sujeito, e não sentidas como pressões externas. Envolve,
diretamente, reconhecer-se na face do Outro. Trata-se de um
aprendizado permanente, que deve começar na mais tenra
infância e continuar ao longo da vida. Afinal, em boas condições
vive, quem boa condução tem.
Por fim, o aprender a ser significa formar-se
integralmente. A construção de uma pessoa passa,
inevitavelmente, pelas tensões entre o interior e o exterior,
entre o empírico, o mental e o espiritual. Aprender a ser
também é aprender a conhecer e respeitar aquilo que liga o
Sujeito e o Objeto.
O Relatório da UNESCO afirma que os três primeiros
objetivos ou pilares da educação assentam-se sobre o quarto;
ou seja, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o
aprender a viver juntos só fazem sentido se estiverem
assentados no aprender a Ser. É o Ser que integra, em si, as
diversas dimensões da vida, que nele se assentam. Afinal,
Ser se pratica (DELORS et al., 1999).
Conforme podemos observar, há uma inter-relação
bastante evidente entre os quatro pilares propostos para a
educação do século XXI e a visão do desenvolvimento integral
do Ser Humano, como foi configurado anteriormente.
Situamos o aprender a conhecer e o aprender a fazernos quadrantes superior e inferior direito, ambos relacionados
às nossas realidades objetiva e interobjetiva; o aprender a
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
viver juntos, no quadrante inferior esquerdo, e o aprendera ser, no quadrante superior esquerdo, referindo-os às nossas
realidades intersubjetiva e subjetiva. Nem tudo é tangível.
Pensamos, portanto, em uma educação que se dirija à
totalidade do Ser Humano, e não apenas a uma ou outra de
suas dimensões; ou a um outro dos seus níveis. Uma educação
que não privilegie, prioritariamente, nem a espiritualidade,
nem a materialidade, nem a individualidade, nem a coletividade,
mas sim que integre todas essas dimensões e níveis.
A educação integral, a partir desses referenciais,
esclarece, de uma maneira sempre nova, a necessidade que
cada vez mais se faz sentir atualmente: a de uma educação
permanente para o viver bem, isto é, em equilíbrio dinâmico,
factual. Com efeito, essa proposta de educação, por sua
própria natureza, necessita ser exercida não apenas nas
instituições de ensino, da educação infantil à universidade,
mas em todas as experiências da vida, individuais e coletivas,
espontâneas e institucionais. Eis que é uma obra de todos
nós, porquanto está mais do que na hora de provarmos a
nós mesmos que nada vive no isolamento. Conta-nos a história
“Tudo é relativo, porque nada é composto de um só elemento
indivisível” (OCIDEMNTE, 2001, p. 138), acerca do valor
significativo das relações:
Era um inverno rigoroso, não pelas chuvas, mas pelo
frio intenso. E o sol, ainda que à disposição, não se arriscava
em apresentar-se de maneira veemente, pois quase nunca
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
era convidado para ser contributivo como sabia e queria,
mas sim, só como podia. E as nuvens densas, atentas,
preocupavam-se em manter tal estado, encarregando-se de
assegurar a conduta desse amigo que, embora tenha a
intenção de contribuir com os planetas ao seu redor, quase
sempre o faz de maneira desordenada.
Pois bem, nesse tempo, a terra descansava seu solo,
refrescando-o, sem preocupar-se com os possíveis exageros,
porquanto agora era a hora de preparar-se para as águas
que viriam e deveriam ser saudadas como bem-vindas. Era
o momento de entender-se que a fauna e flora seriam
transformadas radicalmente. Eis que novas adequações
seriam exigidas.
No templo do mestre Poquí, um dos imutabilistas mais
estudiosos acerca da Imutabilidade, principalmente voltada
às Leis Invioláveis da Natureza, todos estavam reféns do frio.
Era um momento de reflexão e, neste tempo, sempre o
mestre usava da palavra para falar e dizer algo significativo
para os seus discípulos, que o acompanhavam na senda da
imutabilização, ou seja, na prática do conhecimento,
autoconhecimento e auto-realização, por conseguinte, na
prática da evolução abreviada consciente. O assunto do dia
era as relações.
– Mestre - dizia Borné, um dos seus discípulos mais
estudiosos - já aprendemos consigo que a vida se provapelo movimento e exige ser compreendida por todos nós,
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
mas só nos oferece o viver, que é ser e estar em relaçãocom o todo do qual somos parte integrante, tãoimportante quanto todas as outras. Já aprendemostambém que ser e estar cada vez mais conscientes distoimplica em, cada vez mais, saber absorver o valorsignificativo real das relações. E quanto mais assim,menos problemas somos, temos ou criamos.
– Pois bem, para ser e estar em condições mínimas
indubitáveis para isso realizar, tão consciente quanto a sua
importância exige, buscamos aqui, consigo, através das
indicações da Imutabilidade, comprovar isto, se assim podemos
dizer, o experimentando direta, correta e completamente,
em nós mesmos, através, inclusive, do trabalho de
despertamento de nossas faculdades, tais como: necessidade,
vontade, imaginação, inteligência, verdade, Consciência e
ciência; pelo desenvolvimento de nossas qualidades, a saber:
sentir, querer, pensar, reconhecer, ousar, raciocinar e realizar;
segundo o uso de nossas forças em domínio, tais como:
reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção,
contemplação e exaltação, respectivamente. Daí mestre, me
surgiu uma questão: afinal, qual a finalidade da vida, que só a
alcançamos através das relações?
– Meu querido Borné - continuou Poquí - o mestreverdadeiro é aquele que prima pelo método de ensino quefacilita o aprendizado; é aquele que prima pelos que estãoprontos a aprender, mas que não gostam, não necessitam,
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
não exigem facilidades, tão pouco dependem de serensinados, mas sim de ser bem conduzidos.
– Portanto lhes digo, aquilo que nos dizes agora
demonstra que estás em condições mínimas indubitáveis de
conseguires o que desejas. Assim, o que esse seu prezado
amigo pode agora lhe dizer é que os persistentes vencem,
mas só os inteligentes encontram a fonte.
– Eis meu caro, que a finalidade da vida eu não a posso
dar. Afinal, a vida não é algo que se possa narrar, descrever,
tampouco explicar, embora se possa favorecer alcançar o
seu valor significativo real, mas só absorvendo-o, em si
mesmo; portanto só aquele que já chegou neste grau de
Consciência pode realizar tal façanha e contentar-se em não
poder dá-la aos demais.
Terminou o mestre com um movimento estático, e o
seu corpo físico denunciava a sua alegria de haver no templo,
não só entendimento, mas também compreensão, que é,
para com os seus discípulos, a sua maior função. Porquanto
a compreensão vem com a percepção direta do que é, talqual é, e é isso o que possibilita a imutabilização.
E Borné? Ah! Borné relaxou e espalhou-se no chão
como se já não se preocupasse mais, porquanto, mais uma
vez, via demonstrado pelo seu mestre que, da vida, tudo já
foi dito e ouvido, embora nada tenha sido falado. Tratava-se,
agora, de ver quem deseja tornar-se testemunha e
testemunhar.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,tanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, para
alcançaralcançaralcançaralcançaralcançar, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real dasrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertar.....
Essa visão integral pode e deve sustentar uma educação
integral, em que se façam presentes, tanto a significação do
subjetivo quanto do objetivo; tanto do individual quanto do
coletivo; tanto do empírico quanto da mente e do espiritual.
Nessa configuração, caberá oferecer ao educando
aprendizagens que lhe possibilite formar-se em sua capacidade
de conhecer, tanto com o olho da carne (mundo empírico)
quanto com o olho da mente (experiência interna), bem
como com o olho do espírito (experiência espiritual e unitiva).
É nesse contexto que cabe a proposição urgente do
estudo da Consciência no ensino formal, através das diversas
práticas pedagógicas. Essa visão contempla, pois, o objetivo
e o subjetivo, como veremos, e atende à abordagem integral
do desenvolvimento humano, que o mundo de hoje demanda.
Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento
integral do Ser Humano, através da educação, propomos a
criação de um Núcleo de Investigações Avançadas da
Consciência em todas as modalidades de ensino de todas as
áreas do conhecimento, em instituições educacionais de
âmbito nacional e internacional, concomitante com a
implantação de disciplinas curriculares diretamente voltadas
para o estudo da Consciência.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
Nossa experiência confirma que essas disciplinas
precisam se adaptar a cada nível de ensino, acompanhar os
estágios do desenvolvimento humano e funcionar como um
processo de transcendência e inclusão da disciplina
predecessora, no intuito de integrar todos os níveis e
modalidades de ensino. Sugerimos, assim, uma educação
integral alicerçada no estudo da consciência e indicamos a
criação das seguintes disciplinas:
- Iniciação à Consciência, no âmbito da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental;
- Consciência, no âmbito do Ensino Médio;
- Conscienciologia, no âmbito do Ensino Superior.
Até o presente momento, o estudo da Consciência
enquanto disciplina curricular já faz parte da matriz curricular
de uma escola privada, na cidade do Salvador-Bahia, que
oferece educação infantil e ensino fundamental. No ensino
superior, já implantamos a disciplina Conscienciologia nos
cursos de graduação Normal Superior, licenciatura em
educação infantil e ensino fundamental, e Ciências
Biológicas, em faculdades e universidades privadas e públicas
do estado da Bahia, nas modalidades presencial e à distância.
Foi consolidada também em cursos de pós-graduação latoe stricto sensu nas áreas de ciências humanas e ciências
sociais aplicadas.
Em função da repercussão de tal proposta, bem como
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
pela percepção da real necessidade de favorecer o estudo da
Consciência em prol da formação humana, além da formação
profissional dos educandos, a disciplina Conscienciologia já
faz parte da matriz curricular de cursos de Master BusinnessAdministration (MBA), da Universidade Federal do Mato
Grosso, e vem se expandindo não só na área das ciências
humanas como também nas outras áreas do conhecimento,
em diferentes instituições de ensino superior.
O estudo da Consciência, nesse contexto, vem
apresentando os seguintes objetivos principais relativos ao
desenvolvimento humano: auxiliar o Ser Humano a observar
a relação entre a sua constituição física/psíquica/moral e a
sua maneira de sentir, pensar e agir, enfim, de realizar,
segundo as exigências de suas necessidades básicas individuais
e sociais; favorecer ao Ser Humano o estudo da relação das
raças/corpos e suas maneiras de ser e estar em relação a si e
ao meio no qual se insere, conforme suas realizações,
estudando a sua conduta psicossocial, portanto, buscando
verificar o grau de sua Consciência individual e social; além
de oportunizar ao Ser Humano o despertamento e/ou
construção do seu caráter, segundo aquilo que indica a noção
de moral, ética e estética elevadas.
Nesta perspectiva, a finalidade última da Consciência é
a de facultar aptidões ao Ser Humano, tais como o
discernimento, que o possibilitem compreender, absorvendo,
em si mesmo, a natureza real que reside em todas as coisas,
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
inclusive, e principalmente, o valor significativo real das
relações, conforme já citado anteriormente.
Assim, estamos sendo não só convidados, mas também
convocados, no presente livro, a refletir acerca de uma
educação que favoreça, de fato, o desenvolvimento integral
dos educandos, destacando o papel da Consciência.
A educação integral, fundamentada no estudo da
Consciência, por sua vez, inspira outra maneira de ver as
coisas em ciência, filosofia e religião, na medida em que
ela lida, ao mesmo tempo, com os diversos níveis e as
diversas dimensões do gênero humano. Precisamos,
portanto, cada vez mais, aprender a conhecer, aprender afazer, aprender a viver juntos, bem como aprender a ser.Enfim, temos que assumir o dever moral de sempre estar
relembrando que não somos somente o resultado do que
sabemos ou aparentamos ser.
Que a Consciência nos ilumine!
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
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Espanha: Kairós, 2001b.
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. QS: inteligênciaespiritual. Rio de Janeiro: Record, 2000.
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
NOTAS
1 Vamos utilizar, aqui, o termo “eu” para designar uma personalidade
suficientemente sadia, capaz de suportar a manifestação de estados
expandidos e não-lineares de Consciência; reservamos o termo “ego”
para designar os padrões de conduta solidificados, lineares, que dificultam
a manifestação de estados de Consciência não lineares.
2 Ken Wilber é o estudioso norte-americano que pesquisa sobre a Consciência
e seus estados de desenvolvimento. Bioquímico de formação, ele se dedicou
aos estudos da psicologia e da filosofia, os quais têm nos proporcionado
uma visão consistente que integra verdades de campos como a física e a
biologia, as ecociências, a teoria do caos e as ciências de sistemas, a
medicina, a neurofisiologia, a bioquímica, a arte, a poesia e a estética em
geral, a psicologia do desenvolvimento e um espectro de esforços
psicoterapêuticos ocidentais e orientais, respeitando o espectro inteiro da
Consciência, não apenas na esfera individual, mas também na coletiva.
3 Sobre São Boaventura, diz Wilber (1999, p. 13, tradução nossa): “[...] o
grande Doutor Seráfico da Igreja e um dos filósofos referidos pelos
místicos ocidentais.”
“[...] el gran doctor Seraphicus de la Iglesia y uno de los filósofos referidos
por los místicos occidentales.”
4 A abordagem sobre a ontogenia humana pode ser melhor explicada em
sua obra Projeto Atman, a qual oferece subsídios para a compreensão
do ciclo completo da vida, atravessando as fases pré-pessoal e
transpessoal (WILBER, 1999).
5 A abordagem sobre a filogenia humana pode ser melhor explicada em
sua obra Después del Éden, a qual trata da história do desenvolvimento
da raça humana, com suas respectivas unidades taxonômicas (WILBER,
1995).
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O Papel da Consciência... Maribel Barreto
6 O termo holônico deriva de hólon. Foi criado por Arthur Koestler, para
designar que a realidade é um “todo” que, por sua vez, também é
constituída de “[...] todos. Ou seja, um hólon é uma totalidade em si
mesma, que se relaciona horizontalmente com outros hólons, formando
uma totalidade mais complexa, que inclui e ultrapassa a menos
complexa.” (WILBER, 1999, p. 58).
7 Holarquia é uma hierarquia natural composta de totalidades ou hólons,
que se desenvolve em três níveis distintos, como uma série de círculos
concêntricos, dando a aparência de um ninho, em que cada hólon mais
complexo envolve ou engloba os menos complexos. (WILBER, 1999).
8 “A Grande Cadeia é também uma holarquia composta de hólons: o
Espírito transcende a alma que, por sua vez, transcende – ao mesmo
tempo em que inclui – a mente que, por sua vez, transcende – ao
mesmo tempo em que inclui – o corpo etc. Neste sentido, cada hólon
superior engloba e, neste sentido, inclui seus predecessores. Esta é a
verdadeira natureza das totalidades/parte, dos hólons e das holarquias,
ninhos cada vez mais globais e envolventes.” (WILBER, 2000, p.98). Nessa
fase, Wilber passa a chamar a Grande Cadeia de Grande Ninho do Ser.
9 Shela significa discípulo.
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