O Papel do Incra na Política de Destinação
de Terras Públicas
Raimundo LimaDiretor de Programa
03 de Julho de 2007
REFORMA AGRARIAconceito
Reforma Agrária é o conjunto de medidas que visa promover a melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade (Estatuto da Terra).
É um conjunto de medidas que visa promover justiça social, democratização do acesso a terra, distribuição da riqueza, da renda, do poder e o desenvolvimento sustentável, a partir do ordenamento fundiário.
REFORMA AGRÁRIApara quem?
Para os excluídos• Trabalhadores rurais sem terra• Quilombolas• Agricultores Familiares desintrusados de TI e
Territórios Quilombolas• Posseiros de boa fé• Populações tradicionais
– Ribeirinhos– Seringueiros– Castanheiros– Extrativistas em Geral
PRINCIPAIS ENTRAVES PARA A EXECUÇÃO DA RA
• Legislação Agrária• Índices de Produtividade• Ações no Poder Judiciário.• Grilagem, ocupação irregular,
exploração não sustentável e atividades ilegais.
• Baixo nível de envolvimento dos governos estaduais e municipais.
PLANO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL - ORDENAMENTO FUNDIÁRIO
Georreferenciamento e cadastramento de imóveis.
Implantação de mais 53 Estações de Referência (Bases Geodésicas), sendo 37 na Amazônia.
Reincorporação das terras griladas ao Patrimônio da União (Portaria de Retomada: 349 ações para 10 milhões ha. Já recuperados 5 milhões ha)
Legitimação de posses até 100 ha.
Regularização fundiária até 500 ha.
Criação de PA’s em modalidades sustentáveis.
COMBATE À GRILAGEM DE TERRAS - Portaria Conjunta MDA/INCRA nº 10/ 2004
Suspensão da emissão de Declarações de Posse (DP) e Certificados de Cadastros de Imóveis Rurais (CCIR) para áreas acima de 100 ha
RESULTADO:
Inibição de 30.556 CCIR– 74 milhões de ha na Amazônia Legal - contidos na base do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR)
Suspensão ou cancelamento de planos de manejos sobre terras públicas irregularmente ocupadas
Redução das Autorizações de Desmate e conseqüentemente do desmatamento ilegal.
DESTINAÇÃO DE TERRAS PÚBLICAS
Constituição Federal, Art. 188:“A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária“.
A concentração de terra na região Amazônica, foi maior que a concentração de renda. O Índice GINI (2000)
– distribuição de renda - 0,537, – concentração de terra- superior a 0,715
A desigualdade no acesso a terra é maior que a desigualdade na distribuição de renda.
Fonte: Incra, Balanço de Gestão 2000.
LEI Nº 11.284/ 2006 - GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS
Art. 6o Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes, por meio de:
I - criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, observados os requisitos previstos da Lei no 9.985/ 2000;
II - concessão de uso, por meio de Projetos de Assentamento Florestal, de Desenvolvimento Sustentável, Agroextrativistas ou outros similares, nos termos do art. 189 da CF e das diretrizes do PNRA;
III - outras formas previstas em lei.
INSTRUMENTOS DE GARANTIA DE POSSE DA TERRA
Legitimação de Posses - TD – áreas de até 100
ha – Artigo 29 da LEI nº 6.383/1976
Regularização Fundiária – CRU – áreas de 100 a
500 ha - LEI nº 11.196/2005 – que autoriza a
dispensa de licitação terras públicas para
imóveis de até 500 ha.
Requisitos: Imóvel situados na Amazônia Legal, com ocupação anterior a 1/12/ 2004, posse mansa e
pacífica, de boa fé e com morada habitual.
COOPERAÇÃO TÉCNICA: INCRA E SECRETARIA DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO
2005 – Termo de Cooperação Técnica INCRA/SPU - Transferência de áreas insulares da união, terrenos de marinha, e várzeas para a criação de assentamentos na Amazônia Legal, permitindo a inclusão social das famílias e a posse e uso sustentável dos recursos naturais.
Reivindicação de Agricultores Familiares
extrativistas da Amazônia ocupantes de ilhas e
várzeas, excluídos das ações do poder público.
MODALIDADES DE ASSENTAMENTOS FEDERAIS
Projeto de Assentamento (PA) - Modalidade onde as atividades produtivas básicas são a agricultura e pecuária
Projeto de Assentamento Agro-Extrativista (PAE) - Destinado a populações tradicionais extrativistas
Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) - Destinado a populações tradicionais ou não, comprometidas com o uso ecológico dos recursos naturais
Projeto de Assentamento Florestal (PAF) - A atividade produtiva é o Manejo Florestal de Uso Múltiplo. Destina-se ainda, à recomposição florestal de áreas já convertidas para outros usos
A CRIAÇÃO DE PROJETOS DE ASSENTAMENTOS
Os assentamentos são criados em terras incorporados a Reforma Agrária pelos seguintes instrumentos:
a) destinação de terras da União; b) retomada de terras públicas griladas e ocupadas irregularmente; c) desapropriação por descumprimento da função social da terra; e, d) compra de imóveis não passíveis de desapropriação.
Nas quatro categorias o passivo ambiental é expressivo, especialmente porque, em muitos casos a área de Reserva Legal é inferior aos limites normativos e as Áreas de Preservação Permanente foram totalmente suprimidas.
CRIAÇÃO DE PROJETOS DE ASSENTAMENTOS NA AMAZÔNIA
Período - 2003 a 2006
Muito dos assentamentos recém-criados na Amazônia, são originários de terras públicas griladas e desmatadas revertidas ao patrimônio público. Outros, de áreas desapropriadas e compradas com considerável passivo ambiental.
PA PAE PAF PDS
Nº de PAs 378 179 4 86Nº de Famílias 37.958 45.644 425 23.943 Área (ha) 2.502.530 3.759.821 101.353 3.367.514
Tipo de Projeto de Assentamento
LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOS ASSENTAMENTOS
Resolução Conama nº 387/2006:
• Trouxe alterações para agilizar o processo de licenciamento ambiental dos assentamentos.
• Dispensa o Licenciamento Prévio- LP dos assentamentos criados em áreas ocupadas por populações tradicionais sendo exigida somente a Licença de Instalação e Operação - LIO
• Prevê a solicitação da LIO embasada no Projeto Básico (Anexo III da Resolução) ou PDA.
• Portanto, no ato de solicitação da LIO, o Incra apresenta ao OEMA a real situação ambiental do assentamento.
PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO ASSENTAMENTO
• O PDA instrumento do Incra, obrigatório para a implantação
dos assentamentos,
• Reúne os elementos dos aspectos fisiográficos, sociais,
econômicos, culturais e ambientais, destacando-se a
contextualização sócio-econômico e ambiental da área, o
diagnóstico do meio físico, sócio-econômico e cultural e o
plano de ação para o desenvolvimento do assentamento.
• Define ainda a organização espacial da área, os projetos de
exploração, de conservação e de recuperação ambiental do
assentamento.
Licenciamento ambiental de assentamentos.
Recuperação de áreas ambientalmente
protegidas e/ou degradadas combinando
atividades agrícolas e agroflorestais.
Manejo florestal madeireiro e não madeireiro
da reserva legal ou da vegetação nativa
existentes nos assentamentos.
Destaca-se convênios e acordos assinados com
os estados do Acre, Amazonas e Pará.
AÇÕES AMBIENTAIS PRIORITÁRIAS EM ASSENTAMENTOS
O PROGRAMA DE ASSESSORIA TECNICA SOCIAL E AMBIENTAL – ATES
• “Assessorar técnica, social e ambientalmente as famílias
assentadas, nos Projetos de Reforma Agrária e Projetos de
Assentamentos reconhecidos pelo INCRA, tornando-os
unidades de produção estruturadas, inseridas de forma
competitiva no processo de produção, voltadas para o
mercado, integradas à dinâmica do desenvolvimento
municipal e regional, de forma ambientalmente
sustentável.”
• Essa ação vem sendo desenvolvida pelo Incra, sem a
devida abrangência, uma vez que os recursos anuais são
insuficientes.
RECURSOS APLICADOS NA AMAZÔNIA
(R$1.000)2003 2004 2005 2006
CRÉDITO 97.650,00 138.720,00 205.431,00 401.466,00
INFRA-ESTRUTURA 22.096,00 60.362,00 73.472,00 89.206,00
PDA/PRA - TOPOGRAFIA 10.351,00 9.027,00 8.076,00 13.534,00
ATES 6.315,00 14.951,00 46.246,00 32.902,00
TOTAL 136.412,00 223.060,00 333.225,00 537.108,00
CRÉDITO E INVESTIMENTO NOS PROJETOS DE ASSENTAMENTO
AÇÃO VALORES (R$1,00)Apoio Inicial 2.400,00 Aquisição de Materiais de Construção 5.000,00 Fomento 2.400,00 Plano de Desenvolvimento do Assentamento 200,00 Topografia 400,00 ATES 400,00 Infra-estrutura Básica 5.500,00 Total por Família Assentada 16.300,00
A estes recursos são adicionados mais R$6.000,00 para apoiar a construção ou a recuperação de habitações.
PRONAF GRUPO A
Estruturação, implementação, ampliação e modernização da infra-estrutura de produção e serviços na parcela ou em áreas comunitárias
R$ 16.500,00/família + R$ 1.500,00 ATER.
Até 35% do total do crédito para custeio das atividades associadas aos investimentos.
Juros deJuros de 1,15% aa e bônus de 40% do principal
Pagamento em até 10 anos e até 5 de carência
Nota: orientado para o manejo e outras atividades sustentáveis
RECONHECIMENTO DE UCS COMO BENEFICIÁRIAS DO PNRA
• Por demanda das comunidades tradicionais
habitantes em Unidades de Conservação, o
MDA e MMA, assinaram a Portaria
Interministerial nº13/2002, possibilitando ao
Incra o reconhecimento destas como
beneficiárias do Programa Nacional de
Reforma Agrária - PNRA, viabilizando o seu
acesso aos direitos básicos como créditos de
implantação e de produção (PRONAF A).
RECONHECIMENTO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO BENEFICIÁRIAS DO PNRA
Tipo de Unidade de Conservação
FLONA RDS RESEX
Nº de Ucs 7 7 30Nº de Famílias 855 2.231 27.351
Área (ha) 1.899.563 5.696.888 8.761.863
2003 a 2006
GESTÃO AMBIENTAL EM ASSENTAMENTOS
• Incorporação na Estrutura Organizacional do INCRA da Coordenação de Meio Ambiente e Recursos Naturais
• Ampliação da atuação multidisciplinar com a contratação de 1.800 novos servidores (Eng Florestais, Agrônomos, Biólogos, Veterinários, Geólogos, Geógrafos, etc).
• A aquisição de softwares para estruturação de SIG conferindo maior agilidade ao levantamento de dados sobre a situação ambiental dos PAs.
• Na obtenção de terras está sendo descontado do valor da terra nua, o valor referente à recuperação do dano ambiental existente nas propriedades desapropriadas ou compradas pelo Incra.
• Assim, há o ingresso de áreas com maior ou menor grau de dano ambiental na reforma agrária não implicando em ônus para a União, mas exigindo uma ação de recuperação desse dano.
AÇÃO MANEJO DE RECURSOS NATURAIS NO PPA
Despesas Correntes
Despesas deCapital
Despesas Correntes
Despesas deCapital
R$ 1.903.788 R$ 14.994.610 R$ 4.000.000 R$14.600.000
2006 2007
R$16.898.398 R$18.600.000
Para enfrentar o passivo ambiental nos assentamentos o Incra incorporou a Ação de Manejo e Recursos Naturais no PPA 2006, alocando os seguintes recursos Orçamentários e Financeiros:
EXPERIÊNCIAS EXITOSAS
•Projeto de Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado – Reca (RO) - exploração da Castanha-do-Brasil, cupuaçu e pupunha, desenvolvido pelas famílias do PA Alto Madeira referência nacional de Sistemas Agroflorestais.
•PA Pedro Peixoto (Acre), criado em 1977 e com uma área de 317.588 hectares e 4.220 famílias uma das principais referências de experiências de manejo florestal comunitário
•PAE Chico Mendes e PDS São Salvador (Acre), onde as famílias vem fazendo o manejo de madeira certificada pelo FSC, o mais conceituado sistema de certificação florestal do mundo
•PDS Bonal (Acre) - além do manejo de produtos madeireiros e não madeireiros, existem 2.000 hectares de seringal de cultivo e pupunha para indústria de palmito
DESAFIOS
• Alterações na Legislação Agrária.
• Aprovação da PEC 438 – Expropriação de imóveis com exploração de trabalho escravo.
• Aprovação da PEC 122 que prevê a criação da Justiça Agrária.
• Fortalecimento dos órgãos ambientais e fundiários na Amazônia.
• Universalização e melhoria do Sistema de ATES.
• Crédito Implantação do INCRA compatível com o Manejo Florestal.
• Créditos bancários voltados para os sistemas de exploração sustentável.
DESAFIOS
Os serviços ambientais gerados pela manutenção da floresta, dentre eles a melhoria da qualidade do ar e a diminuição da
emissão de CO2 para a atmosfera, atendem a
toda sociedade.
Assim, o certo seria que a sociedade dividisse o ônus dessa iniciativa de conservação com os assentados, numa forma de compensação econômica àqueles que se dispuserem a conservar a floresta.