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UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA
umarfeminismos.org
Observatório de Mulheres Assassinadas
OMA – Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR
Dados de 2013
(01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2013)
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O OBSERVATÓRIO DE MULHERES ASSASSINADAS
A União de Mulheres Alternativa e Resposta - UMAR, por meio do trabalho que
desenvolve no Observatório de Mulheres Assassinadas - OMA apresenta anualmente e
desde 2004, dados relativos ao femicídio ocorridos em Portugal.
No presente ano (2013) a UMAR afirma o conceito de FEMICÍDIO, passando a utilizar
este vocábulo para designar os assassinatos de mulheres valorizando o contexto da sua
ocorrência distinguindo-os, desta forma, dos assassinatos no âmbito da criminalidade
violenta em geral. A morte destas mulheres, isto é o femicídio surge pois, como
resultante da desigualdade entre homens e mulheres, assente numa sociedade
patriarcal que continua a manter e legitimar a discriminação de género.
Em rigor, verificamos que a maioria das situações registados pelo OMA surgem como
o culminar de uma escalada de violência perpetrada no seio de uma relação de
intimidade. Nesta salienta-se uma vivência relacional assente numa lógica de poder e
controlo estrutural que mantém as mulheres cativas em relações que as vitimizam.
Na continuidade do trabalho desenvolvido nesta área somos a reforçar como principais
objetivos:
- Lembrar, visibilizar e valorizar as mulheres vítimas desta forma de violência
extrema;
- Contribuir para a desocultação da violência exercida contra as mulheres e em
particular nas relações de conjugalidade e intimidade na sua forma mais grave;
- Desocultar esta realidade, potenciando o aumento do conhecimento e compreensão
do fenómeno, com vista a encontrar caminhos para a eliminação de todas as formas
de violência contra as mulheres.
- Desenvolver o estudo do femicídio e tentativas de femicídio de mulheres, em
consequência da violência contra as mulheres ou violência de género e conhecer o
seguimento dos casos.
- Propor medidas que auxiliem na prevenção destes crimes.
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Através do OMA, a UMAR vem lembrar que as mulheres vítimas destes crimes são, não raras
vezes, esquecidas! MULHERES cuja identidade não é resgatada que não pela efemeridade da
sua morte; mulheres que foram brutalmente ASSASSINADAS por aqueles com quem um dia
pensaram poder ser felizes; mulheres que perderam a sua vida por dizerem NÃO a uma
relação pouco satisfatória; mulheres que acabaram por ser silenciadas quando disseram
BASTA, quando “ousaram” refazer as suas vidas; mulheres ASSASSINADAS no silêncio e
(in)”segurança” de suas casas, ….
Mulheres ESQUECIDAS, cuja morte e horror surge como facto brutal visualizado pelo
mediatismo, mas sem que a sociedade no seu conjunto a relembre no seu quotidiano e
impulsione mudança estrutural no que tange à violência contra as mulheres.
O trabalho do OMA é conhecer, relembrar e potenciar a mudança por via do aumento do
conhecimento sobre o Femicídio em Portugal, contribuindo para a transformação ainda
necessária e para a propositura de estratégias de evitamento e/ou manutenção de uma
realidade que a todos/as deve envergonhar.
ÀS MULHERES,
EUFÉMIA, FERNANDA B., CARINA, FERNANDA P., MARIA DO CARMO, DJILAM, MARGARIDA,
MARIA DE LURDES, ROSA, DELMIRA, MARIA DA CÉU, MARIA TERESA, ANA CRISTINA,
TERESA, MARIA DO CARMO, MÓNICA, INÊS, MARIA LUCÍLIA, CIDÁLIA, MARIA DE LOURDES,
ELZA, ALZIRA, AMÉLIA, JOSEFINA, CÂNDIDA, CÉLIA, MARIA, ADÉLIA, MAYARA, AUGUSTA,
FILOMENA, MAFALDA, MARGARIDA, ANGÉLICA, MARIA CELINA, JÉSSICA, …
ÀS MULHERES,
MARIA HELENA, BETY, MARIA, CLÁUDIA, ELISE, MARIA FERNANDA, ANDREIA, CARLA,
CONCEIÇÃO, DULCE, ROSA, JOANA, OFÉLIA, MARIA C., FERNANDA, MARIA E ÀS MUITAS
OUTRAS MULHERES CUJOS NOMES NÃO IDENTIFICAMOS, …;
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO INFRA APRESENTADO
Tendo como fonte as notícias sobre femicídios e tentativas de femicídio na
conjugalidade e relações de intimidade, relatados na imprensa escrita nacional, a
UMAR vem apresentar os dados relativos ao Observatório de Mulheres Assassinadas
referentes ao ano de 2013 (01 de Janeiro a 31de Dezembro).
Os dados referentes ao femicídio e femicídio na forma tentada analisados nos anos
anteriores permitem-nos aferir que a sua maioria ocorre em contextos de violência
doméstica prévia, e muitas vezes conhecidos de familiares, amigos, colegas de trabalho
e mesmo de entidades oficiais, sem que tal facto tivesse minorado o impacto da
violência e evitado a morte e lesões graves nas mulheres e suas/seus filhas/os.
Os dados apresentados incluem ainda, os femicídios e tentativas de femicídio
praticados contra mulheres nas relações familiares privilegiadas (ascendentes e
descendentes diretos e outros familiares) nas quais, era conhecida uma situação de
vitimação, inserindo-se assim tais crimes e tentativas, em contextos de violência
doméstica e intrafamiliar.
O Observatório de Mulheres Assassinadas registou em 2013 uma diminuição no
número de femicídios e tentativas de femicidio quando comparado com período
análogo de 2012.
Até à presente data o OMA contabilizou, em 2013, um total de 37 femicídios e 36
tentativas de femicídio.
Em 2013 foram ainda noticiadas 2 (dois) outros femicídios ocorridos, um em 2010 e
outro em 2012. Sobem assim para 39 o número de femicídios conhecidos pelo OMA
durante o ano de 2013. Porém, tratando-se de femicídios que não ocorreram em 2013,
mas sim, cuja investigação sobre a relação entre as vítimas e os homicidas só foi
determinada em 2013, logo, noticiados neste ano, não serão objeto da análise no
capítulo dos femicídios ocorridos em 2013.
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De acrescentar que a morte destas 2 mulheres não se encontrava registada no OMA em
anos anteriores. Em termos de metodologia definiu-se a sua inclusão nos dados globais
comparativos ao longo dos anos.
Relativamente a estes dois femicídios apresentamos a síntese infra:
Ano de Ocorrência 2010 2012
Relação da vítima c/ o homicida Ascendente direto Mulher
Idade da Vítima Mais de 65 anos 51-64 anos
Situação Profissional Reformada S/ inf.
Idade do homicida 36-50 anos e mais de 65
anos (co-autoria)
51-64 anos
Situação Profissional S/ inf. Empregado
Mês de ocorrência Novembro Dezembro
Distrito Bragança Viseu
Concelho Mirandela Viseu
Motivação/Justificação Partilhas Contexto de VD
Arma do Crime/Meio empregue Asfixia Asfixia
História de Violência na Relação S/ inf. Sim
Local de ocorrência Residência Residência
Medidas de Coacção aplicadas Caução Prisão preventiva
Denúncia/Processos em curso Ni S/ inf.
De registar ainda um total de 27 vítimas associadas, sendo que 16 (dezasseis) são
vítimas diretas, 4 (quatro) delas mortais, e 11 (onze) vítimas indiretas, que
presenciaram a prática do crime.
Pudemos ainda contabilizar um total de 30 filhos/as das vítimas dos crimes, apesar de
na maioria das notícias existir a ausência de dados referentes a este item, sendo do
entendimento da UMAR que a violência exercida contra as suas mães, os vitimiza de
forma traumática.
Nas relações de intimidade entre casais do mesmo sexo (homossexuais e lésbicas),
informação introduzida pela primeira vez no OMA em 2012, notamos que, no ano de
6
2013, foi noticiado pela imprensa escrita a ocorrência de 1 homicídio enquadrando este
item.
DO ESTUDO DO FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO NAS RELAÇÕES
DE INTIMIDADE E RELAÇÕES FAMILIARES PRIVILEGIADAS
Apresentaremos em seguida a caracterização das vítimas diretas e dos autores do
crime de femicídio e femicídio na forma tentada, bem como a caracterização destes
crimes quanto à sua ocorrência em termos geográficos e temporais, local, meio
empregue, suposta motivação e contexto em que foram praticados.
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I- OMA – FEMICÍDIOS 2013
FEMICÍDIOS:
RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O HOMICIDA
Em termos da relação existente entre vítimas e homicidas, verificamos que continua a
ser o grupo dos homens com quem as mulheres mantêm uma relação de intimidade
aquele que surge com maior expressividade, correspondendo este ano a 57% (n=21) do
total de vítimas que foram assassinadas. Segue-se, tal como nos anos anteriores, o
grupo daqueles de quem as mulheres já se tinham separado, ou mesmo obtido o
divórcio com 19% (n=7) do total das situações registadas.
Verifica-se assim que as relações de intimidade presentes e passadas representam
76% do total dos femicídios noticiados.
A violência intrafamiliar, nomeadamente a praticada por outros familiares, contabiliza
11%, (n=4) e os ascendentes diretos registam 11% (n=4).
No presente ano foi ainda reportada uma (1) situação de femicídio perpetrada por
indivíduo que não aceitou que uma mulher não correspondesse à pretensão de com ela
estabelecer relação de intimidade (2%, n=1).
Relação de intimidade: Mulher, Companheira, Namorada
Ex-mulher, ex-companheira, ex-namorada, ex-relação de intimidade, separada
Ascendente directa
Outro familiar
Pretendida
21
7
4
4
1
Femicídios: Relação da vítima com o homicida
8
FEMICÍDIOS:
RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS
2004-2013
Desde o início do Observatório e, dos dados recolhidos, verificamos que mantém-se a
tendência de maior vitimização das mulheres às mãos daqueles com quem ainda
mantinham uma relação, fosse ela de casamento, união de facto, namoro ou outro tipo
relação de intimidade (n total=227), seguido pelo grupo dos ex-maridos, ex-
companheiros e ex-namorados (n total=74).
RELAÇÃO COM
A VÍTIMA
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Total
Marido,
Companheiro,
namorado,
relação de
intimidade
28
25
23
16
27
17
30
18
21 +1
21
226 +1
Ex-marido, ex-
companheiro,
ex-namorado
3
6
9
4
13
11
8
5
8
7
74
Descendentes
diretos
7 1 0 1 2 0 3 2 1 4 21
Outros
Familiares
2 2 4 0 1 0 2 0 7 4 22
Desconhecida 0 0 0 1 3 1 0 0 0 0 5
Ascendentes
diretos
- - - - - - +1 1 3 0 4 +1
Relação não
correspondida
- - - - - - - 1 0 1 2
TOTAIS ANO
40
34
36
22
46
29
44
27
41
37
356
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013.
(Vide preâmbulo)
9
FEMICÍDIOS:
IDADE DAS VÍTIMAS
Em 2013, o grupo etário que registou mais femicídios foi o das vítimas com idades
compreendidas entre os 51 e os 64 anos de idade (38%, n=14).
De seguida surgem os grupos etários de mulheres com idades compreendidas entre os
36 e os 50 anos e o das mulheres com idades superiores a 65 anos registando, cada um
deles, 19% (n=7, cada grupo etário) do total das situações.
O grupo de mulheres com idades compreendidas entre os 18-23 anos, bem como os 24-
35 anos registou 11% cada (n=4).
Numa das situações registadas não foi possível apurar a idade da vítima, pelo que ni
corresponde a 2% (n=1) das situações reportadas.
11% 11%
19% 38%
19% 2%
Femicídios: Idade das Vítimas
18-23 anos 24-35 anos 36-50 anos
51-64 anos Mais de 65 anos ni
10
FEMICÍDIOS:
IDADE DAS VÍTIMAS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013
Comparando os diversos anos desde 2004, podemos observar que o grupo etário mais
vitimizado pelo femicídio por violência de género tem oscilado.
Relativamente a 2013, verificamos que é o grupo de idades compreendido entre os 51 e
os 64 anos, o grupo predominante (n=14), seguido do grupo de mulheres com mais de
65 anos de idade e com idades compreendidas entre os 36-50 anos, ambos com igual
valor registado (n=7, cada).
IDADE 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
2011
2012
2013
TOTAL
Até 17 anos 1 0 0 1 0 0 0
0
0
0
2
Dos 18 aos 23
anos 2 2 3 3 4 4 3
3
2
4
30
Dos 24 aos 35
anos 6 7 9 6 19 8 14
7
9
4
89
Dos 36 aos 50
anos 14 11 12 8 10 13 13
9
12
7
109
> 50 anos 16 12 10 4 9 3 13 +1 8 17 +1 21 113+2
Dos 51 aos 64
anos - - - - - - -
- 11 +1 14 25+1
Mais de 65
anos - - - - - - 1
6 7 13+1
Desconhecido 1 2 2 0 4 1 0 0 0 1 11
TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 356
Desagregação do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões
etários: 51-64 anos e, mais de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de
50 anos.
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013.
(Vide preâmbulo)
11
Da análise comparativa com os anos anteriores, verificamos que em 2013, tal como
2004, 2005 e 2012, é o grupo etário das mulheres com idade superior a 50 anos que
apresenta, a maior taxa de prevalência correspondendo a 56,8% do total das situações
registadas (n = 21 situações).
Se desdobrarmos os escalões etários das mulheres com idades superiores a 50 anos,
verificamos que das 21 mulheres sinalizadas, 14 tinham idades compreendidas entre os
51 e os 64 anos e que 7 tinham idade superior a 65 anos de idade.
FEMICÍDIOS:
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS
No que toca à situação profissional das vítimas é de notar a ausência de informação
quanto a este item em 57% (n=21) das situações reportadas.
Naquelas em que foi possível recolher informação registamos que 13% (n=5) se
encontrava em situação de reforma e que 30% (n=11) das mulheres assassinadas
estavam inseridas em mercado de trabalho.
Sem informação
Empregada
Reformada
21
11
5
Femicídios: Situação Profissional da Vítima
12
FEMICÍDIOS:
IDADE DOS HOMICIDAS
No que se refere à idade dos autores do crime de femicídio, podemos observar que em
2013 são identificados três grupos etários com igual número de gomicidas; a saber, o
grupo etário dos indivíduos com mais de 65 anos, os com idades entre 51-64 anos de
idades e o grupo etário cujas idades estão compreendidas no intervalo 24-35 anos de
idade, registando cada um deles 9 homicidas (24% cada).
Logo de seguida surgem os homicidas com idades compreendidas no intervalo dos 36-
50 anos, a que equivale uma percentagem de 16% (n=6).
Com menor taxa de prevalência 3% (n=1) surgem os homicidas com idade inferior aos
18 anos. O grupo etário dos 18-23 anos regista 2 situações a que corresponde 6% do
total.
Em 2013 não foi possível recolher informação quanto a este item relativamente a um
dos homicidas, surgindo assim 1 situação em que não é identificada a idade,
correspondendo a 3% (n=1).
3% 6%
24%
16%
24%
24% 3%
Femicídios: Idade do homicida
Menos de 17 anos 18-23 anos 24-35 anos
36-50 anos 51-64 anos Mais de 65 anos
ni
13
FEMICÍDIOS:
IDADE DO HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013
Apresentamos, ainda, a tabela comparativa das idades dos homicidas ao longo dos
anos em que o Observatório de Mulheres Assassinadas tem trabalhado na denúncia
deste tipo extremado de violência de género incluindo a doméstica.
Podemos verificar que as idades dos homicidas seguem o mesmo padrão do das
vítimas, e também com oscilações ao longo dos anos.
Assim, dos dados registados em 2013, o grupo etário com maior prevalência é o dos
homicidas com idades superiores a 50 anos (n=18), tal como registado nos anos de
2005, 2011 e 2012. Ao desdobrarmos este intervalo, contabilizamos 9 homicidas com
idades compreendidas entre os 51 e os 64 anos e 9 com idades superiores a 65 anos.
Não podemos contudo descurar o número igual de homicidas com idades
compreendidas entre os 24 e os 35 anos (n=9) em 2013.
IDADES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total
Até 17 anos 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2
18 - 23 anos 0 0 0 2 1 3 3 0 2 2 13
24 –35 anos 2 6 7 4 10 4 6
7
7
9
62
36 - 50 anos 7 5 9 3 20 13 18 +1 6 13 6 100+1
> 50 anos 7 16 9 4 8 5 13+1 14 14+1 18 108+2
51-64 anos - - - - - - - - 10+1 9 19+1
> 65 anos - - - - - - - +1 - 4 9 13+1
Desconhecida 24 6 11 9 7 4 3 0 4 1 69
TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 45 27 41 37 357
Desagregação do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões etários: 51-
64 anos e, mais de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de 50 anos.
14
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013. (Vide
preâmbulo). Num dos Femicídio reportados para o ano 2010, porque o foi em co-autoria, justifica o facto
de surgir o número global de homicidas (357) superiores ao n.º total de vítimas (356).
FEMICÍDIOS:
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS HOMICIDAS
No que toca à situação profissional dos homicidas foi possível constatar que 12 (32%)
exerciam actividade profissional identificada e 8 (22%) estavam em situação de
desemprego.
Foram identificados ainda 4 (11%) homicidas em situação de reforma, e 1 (3%) como
sendo estudante.
De notar ainda que em 12 (32%) situações não foi possível identificar este item.
FEMICÍDIOS:
MÊS DE OCORRÊNCIA
Relativamente aos meses de ocorrência dos femicídios, Março foi o mês que registou
maior número de femicídios, contabilizando um total de 9 (nove).
Sem informação
Empregado
Desempregado
Reformado
Estudante
12
12
8
4
1
Femicídio: Situação Profissional do homicída
Sem informação
Empregado
Desempregado
Reformado
Estudante
15
De ressaltar ainda o mês de Junho e Outubro, com o registo de 5 (cinco) femicídios
cada, e o mês de Julho com 4 femicídios.
Porém, será de referir que todos os meses registam ocorrência de femicídios, sendo de
3 a média de mulheres assassinadas por mês em Portugal no contexto da
conjugalidade, relações de intimidade ou relações familiares privilegiadas, registados
pelo OMA.
Como se constata da análise do gráfico infra, os meses de Janeiro, Fevereiro, Abril, e
Setembro registaram um total de 4 femicídios.
Em meses de Novembro e Dezembro registaram-se 2 cada e, quer o mês de Maio, quer
o mês de Agosto registaram o assassinato de 3 mulheres em cada um deles.
FEMICÍDIOS:
MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013
No ano de 2013 assinalamos uma maior taxa de incidência do femicídio no mês de
Março, mês em que ocorreu 24% (n=9) do total dos femicídios noticiados.
0 5
10 15 20 25 30 35 40
1 1
9
1 3 5 4 3 1 5
2 2
37
Femicídos: mês de ocorrência
16
Em termos globais, da análise dos registos ao longo dos anos conclui-se que a
prevalência do femicídio das mulheres deixou de incidir, em particular, nos meses de
verão, pese embora seja ainda nestes meses que, em termos absolutos e pela análise do
conjunto dos anos do OMA, se registe o maior número de femicídios. Porém, e em
termos relativos, verifica-se uma dispersão da ocorrência do crime por quase todos os
meses do ano, num total de 356 mulheres assassinadas entre 2004 e 2013.
MESES
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
TOTAL MÊS
Janeiro 3 2 4 0 1 3 3 0 1 1 18
Fevereiro 4 3 1 2 2 1 0 2 5 1 21
Março 2 1 0 2 2 3 2 1 7 9 29
Abril 4 5 3 2 7 1 2 1 1 1 27
Maio 3 3 7 3 5 2 3 3 3 3 35
Junho 4 1 1 1 3 2 5 3 3 5 28
Julho 1 5 1 5 10 3 8 1 2 4 40
Agosto 8 4 5 0 3 0 4 5 4 3 36
Setembro 4 4 7 4 4 2 6 5 7 1 44
Outubro 4 3 3 1 3 4 6 1 2 5 32
Novembro 0 3 2 1 4 6 2 +1 3 1 2 24 +1
Dezembro 3 0 2 1 2 2 2 2 4+1 2 20 +1
TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 356
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013.
(Vide preâmbulo).
17
FEMICÍDIOS:
DISTRITOS
Quanto aos distritos, este ano, destacam-se negativamente Lisboa (13), seguido de
Setúbal e Leiria, ambos com o registo de 4 (quatro) femicídios cada. Os distritos de
Coimbra (2), Faro (2), Porto (2) e Santarém (2) registam 2 (dois) femicídios cada e, com
a notícia de 1 (um) femicídio, identificamos a região autónoma dos Açores (1), e os
distritos de Beja (1), Braga (1), Bragança (1), Castelo Branco (1), Évora (1), Guarda (1)
e Viana do Castelo (1). Sem registo de femicídios nas relações de intimidade e relações
familiares privilegiadas surge a região autónoma da Madeira (0), bem como os
distritos de Aveiro (0), Portalegre (0), Vila Real (0) e Viseu (0).
FEMICÍDIOS:
DISTRITOS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013
Partindo da análise dos dados dos femicídios recolhidos pelo OMA entre os anos 2004
a 2013 verificamos que os distritos de Lisboa (83), Porto (49) e Setúbal (34) continuam
a assumir taxas de incidência preocupantes perfazendo um total de 166 dos 356
femicídios praticados nesse período.
Aço
res
Ave
iro
Bej
a
Bra
ga
Bra
gan
ça
Cas
telo
Bra
nco
Co
imb
ra
Évo
ra
Faro
Gu
ard
a
Leir
ia
Lisb
oa
Mad
eira
Po
rtal
egre
Po
rto
San
taré
m
Setú
bal
Via
na
do
Cas
telo
Vila
Rea
l
Vis
eu
1 0
1 1 1 1 2
1 2
1
4
13
0 0
2 2
4
1 0 0
Femicídios por Distrito
18
Podemos ainda verificar que no ano de 2013, não existem registos de femicídios nos
distritos de Aveiro, Portalegre, Vila Real, Viseu e Madeira.
De notar que atendendo-se à fonte de recolha do OMA, a ausência de tais informações
não deve ser interpretada como garantia da inexistência de femicídio nos distritos
identificados, mas sim que não foram identificadas notícias de femicídios.
DISTRITOS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
2011
2012
2013 TOTAL
DISTRITO
Desconhecido 19 0 0 0 0 1 0 0
0
0 20
Aveiro 1 3
1 0 2 0 2 1 1 0 11
Beja 1 0
1 1 0 1 0 1 2 1 8
Braga 2 2
0 0 2 1 2 1 2 1 13
Bragança 0 1
1 0 0 1 0+1 1 0 1 5+1
Ctl. Branco 2 4
0 0 1 3 0 1 0 1 12
Coimbra 2 0
0 1 3 1 1 2 0 2 12
Évora 0 0
0 0 1 0 0 0 1 1 3
Faro 0 0
3 1 1 2 5 1 2 2 17
Guarda 0 0
0
1
1
0
0
0
0
1 3
Leiria 1 0
4 2 1 1 1 1 2 4 17
Lisboa 5 9
6 6 9 6 9 7 13 13 83
Portalegre 0 0
3 0 2 0 0 0 0 0 5
Porto 3 10
8 3 7 2 6 2 6 2 49
Santarém 0 1
3 1 2 1 0 1 1 2 12
Setúbal 0 2
3 2 4 3 8 5 3 4 34
Vila Real 1 0
1 0 0 3 2 1 2 0 10
Viana Castelo 2 1
0 2 0 0 0 0 1 1 7
Viseu 1 1
2 1 4 1 2 2 2+1 0 16+1
Madeira 0 0
0 0 0 1 4 0 1 0 6
Açores 0 0
0 1 6 1 1 0 1 1 11
TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 356
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013.
(Vide preâmbulo)
19
FEMICÍDIOS:
CONCELHO DE OCORRÊNCIA
Relativamente à desagregação da ocorrência do femicídio registada nos diversos
distritos, por concelhos, verificamos mais uma vez que, embora o distrito de Lisboa
surja referenciado como aquele em que ocorre a maioria dos femicídios noticiados, 13
de um total de 37, a identificação destes crimes pelos concelhos do distrito de Lisboa,
aponta Loures como sendo o Concelho que, em 2013, registou o maior número de
femicídios (n=4). O concelho de Lisboa surge, a par dos concelhos de Palmela e
Montijo, como aquele em que se registou um total de 2 femicídios/cada.
FEMICÍDIOS:
MOTIVAÇÃO OU SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO PARA A PRÁTICA DO
CRIME
Analisadas as características das vítimas e dos homicidas importa agora
compreendermos em que contexto, motivação, meio e local, o crime ocorreu.
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2
1
4
1 1 1 1 1 2
1 1 1 2
1 1 1 1 1
Ale
nq
uer
Alv
aiáz
ere
Am
ado
ra
Ben
aven
te
Bra
ga
Cal
das
da
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Cas
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Ver
de
Évo
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Fôz
Figu
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de …
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dão
Lisb
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Lou
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Mat
osi
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Mir
and
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orv
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Mir
and
ela
Mo
nti
jo
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ido
s
Oei
ras
Ou
rém
Pal
mel
a
Rib
eira
Gra
nd
e (S
. …
Sin
tra
Sob
ral d
e M
on
te …
Tom
ar
Via
na
do
Cas
telo
Femicídios: Concelhos
20
Atendendo-se à suposta motivação/justificação verificamos que em 2013, grande parte
dos femicídios praticados e registados pelo OMA ocorreu num contexto de violência
doméstica já conhecida (27% /n=10).
Os ciúmes e a atitude possessiva, como seja o não aceitar a separação, contabilizam
24% das situações registadas em que foram essas as causas ou suposta motivação
apontada para a prática dos femicídios, com 11% e 13%, respectivamente.
Em 8% das situações, o alcoolismo e/ou outras dependências surgem referenciadas
como a suposta motivação para o crime.
Os femicídios ocorridos com alegada justificação em psicopatologia do homicida,
problemas financeiros, pedido de divórcio, paixão não correspondida, motivos
passionais e compaixão pelo sofrimento da vítima, contabilizam 17% dos crimes de
femicídio registados.
8% 11%
2%
27%
3% 13%
3%
3%
3%
3%
24%
Femicídios: Suposta Justificação/Motivação
Alcoolismo e/ou outras dependências Ciúmes
Compaixão pelo sofrimento da vítima Contexto Violência Doméstica
Motivos passionais Não aceita a separação
Paixão n/ correspondida Pedido de divórcio
Problemas financeiros Psicopatologia
Sem informação
21
De salientar ainda que em 24% das situações noticiadas, não foi possível obter
informação relativa a este item.
FEMICÍDIOS:
ARMA CRIME / MEIO EMPREGUE
Analisando-se agora a arma do crime ou o meio empregue para a sua prática,
verificamos que 41% (n=15) dos femicídios foram praticados com arma de fogo e que a
arma branca foi utilizada em 24% (n=9) dos femicídios registados.
Por seu turno, verificamos que o espancamento (n=4) e a asfixia (n=5) foram os meios
empregues em 24% das situações contabilizadas, num total de 9 femicídios.
Registamos ainda que o afogamento (5%), o fogo e a agressão com objeto (3% cada)
foram os meios empregues para a consumação de 4 dos femicídios noticiados.
Arma de Fogo
Arma Branca
Fogo
Agressão com objecto
Espancamento
Asfixia
Afogamento
15
9
1
1
4
5
2
Femicídios: Arma do crime/Meio empregue
22
FEMICÍDIOS:
HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO
Cruzando a prevalência do femicídio com a presença de violência doméstica nas
relações de conjugalidade ou de intimidade, presente ou passadas, e relações familiares
privilegiadas, verificamos que 59% (n=22) das mulheres assassinadas em 2013 foi
vítima de violência nessa relação.
Verificamos ainda que, nas situações em que foi possivel identificar a presença de
episódios abusivos na relação, a mesma era conhecida por familiares, vizinhos, amigos
e muitas delas denunciadas aos órgãos competentes. Concluimos assim que tal não foi
suficiente na prevenção da revitimização e consequente femicídio.
De notar que do conteúdo das notícias não foi possível obter informação relativo a este
item em 10 das situações reportadas (27%).
Em 5 situações foi noticiado não existir episódios de violência doméstica conhecidos
na relação (14%).
59%
14%
27%
Femicídio: História de Violência na Relação
Sim
Não
Sem informação
23
FEMICÍDIOS:
LOCAL DE OCORRÊNCIA
Em consonância com os dados aferidos em anos anteriores constatamos que também
em 2013 a residência continua a ser o espaço onde a maior parte dos femicídios foram
praticados (70%, n=26), seguidos pelos crimes praticados na via pública (24%, n=9).
O local de trabalho e o local isolado encontram-se referenciados como tendo sido os
locais onde o femicídio foi consumado em 3% de cada uma das situações
contabilizadas (n=1).
FEMICÍDIOS:
MEDIDAS DE COACÇÃO APLICADAS
Da informação recolhida nas notícias publicadas, foi possível identificar que em 16 dos
37 femicídios consumados, a medida de coacção aplicada foi a de prisão preventiva.
Residência
Via pública
Local de
trabalho
Local de isolado
26
9
1
1
Femicídio: Local da prática do Crime
24
Não foi possível identificar qual a medida de coacção aplicada em 7 das situações
registadas.
Em 14 das situações, não era devida a aplicação de medida de coacção, dado que após
a prática do crime, o homicida suicidou-se.
FEMICÍDIOS:
DENÚNCIAS/PROCESSOS EM CURSO
Salientam-se neste item, as situações em que foi possível identificar a existência de
denúncias anteriores à ocorrência do crime de femicídio, ou mesmo aquelas em que,
haviam já sido aplicadas aos homicidas, medidas de coacção prévias pela prática do
crime de violência doméstica.
Pretende-se, assim, neste capítulo analisar, das situações de violência doméstica
identificadas, aquelas em que foi referenciada a existência de participação criminal, às
autoridades competentes.
Foi assim possível identificar que em 11% das situações existia denúncia anterior por
violência doméstica. Nestas, 8% das denúncias foi efectuada pela vítima e em 3% a
denúncia havia sido apresentada por parte de terceiros.
Em 5% das situações em que a situação de violência doméstica era já do
conhecimento oficial, o homicida havia já sido condenado pelo crime de violência
doméstica.
Prisão preventiva
nsa
Desconhecida
16
14
7
Femicídios: Medidas de Coacção aplicadas aos homicidas
25
Identificamos contudo, um grande número de situações noticiadas em que era
inexistente informação relativa à existência prévia ou não de processos por violência
doméstica ou da posição da vítima face à história de vitimação, num total de 81% dos
femicídios noticiados.
Em 3% das situações contabilizadas foi referenciada que, não obstante a história de
vitimação conhecida, esta nunca fora participada.
8%
81%
3% 3% 5%
Femicídio: Denúncias/Processos em Curso
Denúncia anterior/vítima
Sem informação
Denuncia anterior/outrem
Nunca quis denunciar
Condenado por VD pena suspensa
26
II- OMA – TENTATIVAS DE FEMICÍDIO 2013
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O AGRESSOR
Analisando-se a relação entre vítima e agressor verificamos que, no que concerne às 36
tentativas de femicídio contabilizadas em 2013, a maioria (86%) teve como seus
autores aqueles com quem as vítimas mantêm ou mantiveram uma relação de
intimidade.
Mantém-se assim a tendência registada em anos anteriores, verificando-se que 47%
(n=17) dos femicídios na forma tentada foram praticados pelos maridos,
companheiros, namorados ou outros com quem a vítima mantinha uma relação de
intimidade e 39% (n=14) pelos ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados.
Relativamente à violência intrafamiliar regista-se, no que concerne às tentativas de
femicídio, que 11% (n=4) das vítimas eram ascendentes diretos (mães) dos agressores e
em 3% (n=1) a vítima era outro familiar do autor do crime.
47%
39%
11%
3%
Tentativas de Femicidio: Relação das Vítimas com o Agressor Mulher, companheira, namorada, relação intimidade
Ex-mulher, ex-companheira, ex-namorada, ex-relação intimidade Ascendente Directo
Outro familiar
27
Continuamos assim a assistir à reiteração da prática do crime de femicídio e
femicídio na forma tentada como culminar de uma escalada de violência praticada
por aqueles com quem as vítimas mantêm relações de intimidade. Podemos por isso
induzir que a permanência em relações violentas aumenta o risco de violência letal,
considerando-se assim a violência doméstica como um preditor do femicídio e
tentativa do mesmo.
TENTATIVAS DE FEMICIDIO:
IDADE DAS VÍTIMAS
Apesar de nos termos deparado com a ausência de informação relativa à idade da
vítima em 10 das situações reportadas, verificamos que a faixa etária que predomina
entre as vítimas de femicídio na forma tentada, no período em análise, é a faixa dos 36-
50 anos, contabilizando 33% (n=12) do total dos crimes praticados. O segundo grupo
etário com maior taxa de incidência é o 51-64 anos, representado em 17% (n=6) da
amostra total, logo seguido do grupo etário compreendido entre os 24-35 anos a que
corresponde 14% (n=5).
Analisando-se a distribuição etária dos grupos verificamos que os dados são
congruentes com os retratados na literatura que apontam que, frequentemente, as
vítimas de violência doméstica que recorrem aos serviços de apoio têm idades igual ou
superiores aos 25 anos.
1 5
12 6
2
10
36 Tentativas de Femicídio: Idade das Vítimas
28
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS
Ao procurarmos analisar, desta feita, a situação profissional das vítimas de tentativa
de femicídio, deparamo-nos com uma percentagem muito significativa (75%, n= 27)
da ausência de informação nas notícias analisadas relativa a este item. Não obstante, foi
possível apurar que 17% (n=6) das vítimas encontravam-se activas no mercado de
trabalho, ao passo que 5% (n=2) estavam já reformadas e 3% (n=1) desempregada.
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
IDADE DO AGRESSOR
Direccionando o olhar agora para a caracterização dos autores do crime de Tentativa
de Femicídio constatamos que, à semelhança das vítimas, a maioria apresenta idades
superiores aos 25 anos (77%, n=28), evidenciando-se aqui o grupo etário 36-50 anos
como aquele que assume maior representatividade (33%, n=12).
75%
17%
3% 5%
Tentativas de Femícidio: Situação Profissional da Vítima
Desconhecida
Empregada
Desempregada
Reformada
29
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS AGRESSORES
Tal como nas vítimas, em mais de metade das notícias não foi reportada a situação
profissional dos autores deste crime (58%, n=21).
17% (n= 6) dos autores deste crime encontrava-se desempregado e 14% (n=5)
encontramos os que estavam inseridos no mercado de trabalho.
Em situação de reforma foram identificados 3 a que corresponde 8% do total das
situações, sendo que a categoria estudante integra 3% (n=1).
18-23 anos
24-35 anos
36-50 anos
51-64 anos
Mais de 65 anos
ni TOTAL
2 4
12 8
4 6
36 Tentativas de Femicidio: Idade do Agressor
58%
14%
17%
8% 3%
Tentativas de Femicídio: Situação Profissional do Agressor
Desconhecida
Empregado
Desempregado
Reformado
Estudante
30
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
MÊS DE OCORRÊNCIA
No que concerne à distribuição dos crimes de femicídio na forma tentada pelos
meses do ano verificamos que, a maioria destes crimes ocorreu no 1º semestre de 2013,
com uma taxa de incidência de 61% (n=22), evidenciando-se, aqui, pela negativa os
meses de Março e Maio, com 5 tentativas de femicídio cada. De salientar ainda que
todos os meses, à exceção de Novembro registam no mínimo dois crimes de tentativa
de femicídio, perfazendo uma média de 3 tentativas por mês.
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013
Tal como nos anteriores propomo-nos mais uma vez a fazer uma análise comparativa
da distribuição dos crimes de femícidio na forma tentada pelos meses ao longo dos
diferentes anos.
Jan
eiro
Feve
reir
o
Mar
ço
Ab
ril
Mai
o
Jun
ho
Julh
o
Ago
sto
Sete
mb
ro
Ou
tub
ro
No
vem
bro
Dez
emb
ro
Tota
l
3 4 5 3
5 2 3 2 2 3
1 3
36 Tentativas de Femicídio: Mês de Ocorrência
31
Verificamos, assim, que continuam a ser os meses de Maio a Setembro (à exceção de
Junho), onde se revela uma maior preponderância relativa às tentativas de homicídio
noticiadas, ao longo dos anos.
No total, podemos observar que, desde o início deste Observatório, i. é, entre os anos
2004 e 2013, 415 mulheres foram alvo desta forma extremada de violência que, dos
dados recolhidos, não foram fatais. No entanto, a severidade registada nestas agressões
permite-nos antecipar as sequelas a nível psíquico e físico que poderão perpetuar-se
por toda a sua vida e bem como a de todos/as aqueles/as que com elas vivem ou
viveram na altura da perpetração do crime.
MÊS
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
TOTAL MÊS
Janeiro 1 3 1 4 2 4 1 2 4 3 25
Fevereiro 1 1 0 11 4 1 2 1 2 4 27
Março 1 4 0 3 4 5 5 2 4 5 33
Abril 1 2 1 3 4 4 4 3 1 3 26
Maio 0 4 2 9 8 0 4 10 3 5 45
Junho 0 4 1 1 2 3 2 1 5 2 21
Julho 3 5 6 6 2 3 5 2 9 3 44
Agosto 1 1 7 5 5 4 6 6 8 2 45
Setembro 7 11 9 5 3 2 4 5 8 2 56
Outubro 5 5 9 6 2 0 1 5 4 3 40
Novembro 2 3 6 3 0 1 4 2 1 1 23
Dezembro 4 1 4 3 4 1 1 5 4 3 30
TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39
44
53
36 415
32
TENTATIVAS DE HOMICÍDIO:
DISTRITOS
De acordo com a leitura do gráfico infra é possível verificar que uma percentagem
significativa das vítimas de tentativa de femicídio registadas reside no Distrito de
Lisboa (31%, n=11), seguindo-se os Distritos do Porto (n=5) e Aveiro (n=3).
Salientamos ainda que nos Distritos de Évora, Portalegre e Viana do Castelo, e Regiões
Autónomas da Madeira e Açores, não foram noticiadas quaisquer tentativas de
femicídio em 2013.
Aço
res
Ave
iro
Bej
a
Bra
ga
Bra
gan
ça
Cas
telo
Bra
nco
Co
imb
ra
Évo
ra
Faro
Gu
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a
Leir
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Lisb
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Po
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Po
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m
Setú
bal
Via
na
do
Cas
telo
Vila
Re
al
Vis
eu
0
3
1 1 1 1 2
0
2 1
2
11
0 0
5
2 2
0 1 1
Tentativas de Femicídio: Distritos
33
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
DISTRITOS AO LONGO DOS ANOS 2004 A 2013
No decurso do estudo efetuado pelo OMA ao longo dos anos: 2004 a 2013, foi-nos
possível aferir que os distritos com maior incidência de tentativas de femicídio
continuam a ser Lisboa e Porto, com um total de 150 crimes praticados e noticiados
(84 e 66 respetivamente). O distrito de Aveiro continua também a destacar-se
DISTRITO
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013 TOTAL
DISTRITO
Desconhecido 18 0 1 1 0 0 0 0 0 0 20
Aveiro 0 5 8 11 4 2 4 1 2 3 40
Beja 0 1 0 0 1 0 0 1 0 1 4
Braga 0 2 4 5 1 4 4 2 2 1 25
Bragança 0 1 2 0 0 0 0 3 1 1 8
Castelo Branco
0 1 0 1 1 0 1 1 1
1 7
Coimbra 0 2 0 2 3 3 2 0 1 2 15
Évora 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 3
Faro 0 1 2 2 3 1 2 1 1 2 15
Guarda 1 0 1 0 0 1 1 1 2 1 8
Leiria 0 0 2 3 6 1 1 5 1 2 21
Lisboa 3 4 8 16 7 5 9 9 12 11 84
Portalegre 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 2
Porto 1 13 6 7 8 3 5 9 9 5 66
Santarém 1 1 1 3 2 1 0 4 3 2 18
Setúbal 1 3 0 1 2 2 4 5 12 2 32
Vila Real 0 2 3 0 0 0 0 0 1 1 7
Viana 0 2 0 0 0 0 0 1 0 0 3
Viseu 1 5 5 4 0 4 1 0 1 1 22
Madeira 0 1 1 2 0 0 0 1 2 0 7
Açores 0 0 1 1 2 0 4 0 0 0 8
TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39 44 53 36 415
34
negativamente, assumindo-se como o 3º distrito com taxa mais elevada ao nível dos
crimes de tentativa de femicídio noticiados (n=40).
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
CONCELHO
Tal como no ano anterior, o OMA propõe a análise da taxa de incidência dos crimes de
femicídio na forma tentada por concelho. Assim sendo, verifica-se que dentro dos três
distritos que apresentam um maior número de crimes registados – Lisboa, Porto e
Aveiro – são os concelhos de Loures, Amadora, Aveiro, Paredes e Sintra, que
apresentam um número mais elevado de crimes de tentativa de femicídio,
contabilizando 11 dos 36 crimes registados em todo o país.
Am
ado
ra
Ave
iro
Bar
reir
o
Bat
alh
a
Bej
a
Bra
ga
Can
tan
hed
e
Cas
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Entr
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ento
Faro
Lisb
oa
Lou
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Lou
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Mat
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os
Mir
a
Mo
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ou
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Par
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Pen
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Qu
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Rio
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dra
s
Vila
Vel
ha
de
Ro
dão
Vila
No
va d
e G
aia
Vila
Rea
l
Vis
eu
2 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
3
1 1 1 1
2
1 1 1 1 1
2
1 1 1 1 1 1
Tentativa de Femicídio por Concelhos
35
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO/MOTIVAÇÃO
Centrando-se agora na análise e compreensão dos motivos que estiveram na base da
perpetração deste crime verificamos, através da leitura do gráfico, que 36% (n=13) das
situações noticiadas ocorreram num contexto de violência doméstica, surgindo a
tentativa de femicídio numa escalada da violência vivenciada por estas mulheres.
Foi ainda noticiado que 17% (n=6) dos crimes de tentativa de femicídio surgiu num
quadro de separação da relação de intimidade não aceite pelo agressor.
3%
8%
36%
17%
3%
3%
8%
11% 11%
Tentativas de Femicídio: Suposta Justificação /Motivação
Atitude de possessão
Ciúmes
Contexto VD
Não aceita a separação
Conflitos no âmbito da Regulação das Resp. Parentais Problemas Financeiros
Psicopatologia do agressor
Sem informação
36
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
ARMA DO CRIME/MEIO EMPREGUE
O OMA vem registar mais uma vez que, no que se reporta à arma do crime e/ou meio
empregue, os agressores utilizam mais comummente as armas brancas (39%; n=14) ou
armas de fogo (33%; n= 12) para a consumação do crime de homicídio na forma
tentada.
33%
39%
14%
3% 5% 3% 3%
Tentativas de Femicídio: Arma do Crime/Meio Empregue
Arma de Fogo Arma Branca
Fogo Agressão com Objecto
Queda de Edifício Intoxicação por gás
Ácido
37
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO
O OMA pôde ainda identificar que em 47% (n=17) dos crimes de tentativa de
femicídio noticiados em 2013 foi reportada história de violência doméstica na relação.
Em 50% (n=18) das situações não constava informação relativa a este item nas notícias
publicadas.
Estes dados vêm mais uma vez reiterar que muitos dos crimes de femicídio e tentativa
de femicídio surgem numa escalada acentuada da violência perpetrada nas relações de
intimidade, sendo que não raras vezes esta história de vitimação é conhecida por
familiares, vizinhos e/ou amigos da vítima. De salientar ainda que das 36 tentativas de
femicídio analisadas obtivemos informação que 2 das vítimas já haviam apresentado
denúncia por violência doméstica nos órgãos judiciais competentes.
47%
3%
50%
Tentativas de Femicídio: História de Violência na Relação
Sim
Não
Sem informação
38
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
LOCAL DO CRIME
Por último apresentamos os registos referentes ao local da prática dos femicídios na
forma tentada.
Na categoria em análise, verificamos que continua a ser a residência o espaço onde
ocorre a maioria das tentativas de femicídio (55%), a que corresponde um total de 20
das 36 tentativas contabilizadas.
Registamos ainda que 14 dos crimes praticados ocorreram na via pública, a que
corresponde um valor percentual de 39 %. Um dos crimes foi praticado no local de
trabalho da vítima e numa outra situação não foi possível apurar o local da prática do
crime, dada ausência da referida informação nas notícias analisadas.
TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
MEDIDAS DE COACÇÃO APLICADAS
Na decorrência da prática deste crime assistimos à notícia da aplicação de 12 medidas
de coacção que se traduziram na aplicação da prisão preventiva, 2 medidas de
internamento hospitalar, 1 medida de afastamento e proibição de contactos com a
55% 39%
3% 3%
Tentativas de Femicídio: Local do Crime
Residência
Via pública
Local de Trabalho
Sem Informação
39
vítima, 1 medida de Termo de Identidade e Residência e 1 apresentação periódica na
polícia, como medidas de coacção aplicadas. Em 17 das situações reportadas
desconhecia-se a medida de coacção aplicada. Nas restantes 2 situações não é de
aplicar qualquer medida uma vez que o autor do crime cometeu suicídio.
Apresentação Periódica
TIR M. afastamento ou proibição de contacto
Prisão preventiva
Internamento Hospitalar
nsa Desconhecida
1 1 1
12
2 2
17
Tentativas de Femicidio: Medidas de Coacção Aplicadas
40
III- OMA – VÍTIMAS ASSOCIADAS 2013
FEMICÍDIO E TENTATIVA DE FEMICÍDIO
Como já é habitual, o OMA procura ainda aferir se, na decorrência dos crimes
praticados e anteriormente analisados, existiram ainda outras vítimas, mortais ou
atingidas, como é exemplo filhos/as, agentes de autoridade, outros familiares e/ou
amigos da vítima, vizinhos, colegas de trabalho i. é. outras pessoas que estavam
presentes na cena do crime e que directa ou indirectamente foram também elas
atingidas.
De referir que no ano de 2013, o OMA contabilizou um total de 27 vítimas associadas.
De salientar ainda que o total de vítimas directas, ou seja, pessoas que foram
directamente atingidas na sua integridade física e até vida pelo autor do crime
contabilizam no ano em curso, um total de 16 pessoas, sendo que destas, 4 acabaram
por falecer.
Directas Indirectas Total
16
11
27
Femicídio/Tentativas de Femicídio: Vítimas Assossiadas
41
Designamos por vítimas indirectas as pessoas que assistiram à prática do crime,
embora não tenham fisicamente sofrido quaisquer ofensas, contabilizando-se este ano
um total de 11 pessoas.
FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
RELAÇÃO DAS VÍTIMAS ASSOCIADAS COM O AUTOR DO CRIME
Da análise da informação recolhida no que respeita à relação existente entre o autor
dos crimes de femicídio e de femicídio na forma tentada e as vítimas associadas,
verificamos que se destacam duas categorias, a saber: aqueles que são filhos/as do
autor do crime num total de 10 (dez) a que corresponde 37% do total das situações e,
as categorias “outros”, onde se inserem amigos/as, vizinhos e companheiros actuais
das mulheres que foram assassinadas ou que sofreram tentativa de femicídio com 8
situações reportadas a que corresponde 29,5% e “outros familiares” onde incluímos
os sobrinhos e tios, que regista o mesmo valor percentual (29,5% a que correspondem
8 situações reportadas).
Aqueles/as cuja relação com o autor do crime era de descendente direto em 2º grau
surge em 4% (n=1) das situações noticiadas ou seja neto/a do autor do crime.
42
FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:
VÍTIMAS ASSOCIADAS AO LONGO DOS ANOS 2004 A 2013
Partindo-se da análise dos dados relativos às vítimas associadas contabilizadas nos
anos 2004 a 2013, verificamos que o OMA contabilizou um total de 301 vítimas
associadas diretas e indiretas de femicídio e/ou tentativa de femicídio.
10
1
8 8
27
Femicídio: Relação das Vítimas Associadas om o
Autor do Crime
43
8 16 13 25 5 6 3 4 7 10
97
19 29 49 24 6 21 19 7 27
3
204
301 Femicidios e Tentativas de Femicídio:
Vítimas Associadas 2004 a 2013
Femicídios Tentativas de Femicídio
44
IV- OMA – ACÓRDÃOS DE HOMICÍDIOS
DECISÕES JUDICIAIS EM 2013:
DOS FEMICÍDIOS OCORRIDOS E NOTICIADOS NA IMPRENSA
DURANTE O ANO DE 2013
(Decisões judiciais dos Tribunais de primeira instância)
Em 2013 o Observatório de Mulheres Assassinadas dá seguimento à análise de notícias
relativas a decisões judiciais pelo crime de homicídio, levantamento iniciado em 2010 e
respeitante aos femicídios registados pelo OMA quer no presente ano quer nos anos
anteriores.
Assim, em 2013 foram noticiadas 17 acórdãos relativas a 18 homicídios praticados em
Portugal, sendo que 1 é referente a homicídio ocorrido em 2013 e 16 acórdãos referem-
se a 17 femicídios consumados em 2012 (um dos homicidas assassinou duas
mulheres).
ACORDÃOS:
FEMICÍDIOS REGISTADOS PELO OMA EM 2013
MÊS/DECURSO DO TEMPO
O OMA verifica que relativamente aos homicídios praticados em 2013 apenas foi
possível apurar 1 decisão judicial dos 37 crimes de homicídio reportados. Foi ainda
possível apurar 17 decisões judiciais dos 40 homicídios registados em 2012 (1 decisão
judicial referia-se a 2 homicídios praticados pelo mesmo indivíduo).
De notar que o tempo médio entre a ocorrência do crime e o acórdão condenatório se é
de cerca de 12 (doze) meses.
45
ACÓRDÃOS TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA:
PENA APLICADA E INDEMMNIZAÇÕES FIXADAS
Relativamente à pena aplicada e do levantamento efetuado pelo OMA, apresenta-se de
seguida tabela na qual se identifica: a tipologia do crime, a condenação e a pena que o
Tribunal decretou para cada um dos crimes.
Decurso de tempo entre a prática do Crime e a decisão de 1.ª instância
Mês do Crime Mês da decisão a ele relativa Do crime à decisão em 1.ª instância
Março 2013 Novembro 2013 8 meses
Fevereiro 2012 Abril 2013 14 meses
Março 2012 Abril 2013 13 meses
Março 2012 Abril 2013 13 meses
Março 2012 Novembro 2013 20 meses
Abril 2012 Março 2013* 11 meses
Maio 2012* Maio 2013* 12 meses
Maio 2012 Junho 2013 13 meses
Junho 2012 Novembro 2013 17 meses
Julho 2012 Abril 2013 9 meses
Agosto 2012
Novembro 2013
15 meses Agosto 2012
Setembro 2012 Junho 2013 9 meses
Setembro 2012 Novembro 2013 14 meses
Setembro 2012 Novembro 2013 14 meses
Novembro 2012 Outubro 2013 11 meses
Dezembro 2012 Outubro 2013 10 meses
Dezembro 2012 Outubro 2013 10 meses
Tempo médio:
11 meses (11,83)
46
Tipologia da Agressão Tribunal Condenado por: Pena aplicada em 1ª
instância
Indemnização
fixada
Homicídio praticado em 2013 e cujo acórdão condenatório foi notificado em 2013
Morte por Esfaqueamento Torres Vedras Homicídio 18 anos de prisão ni
Homicídio praticado em 2012 e cujo acórdão condenatório foi noticiado em 2013
Morte por Espancamento
(agressão com objecto)
Ponta Delgada Homicídio
qualificado,
Violência
Doméstica e
Ameaça Agravada
20 anos de prisão 200 mil euros
Morte por espancamento
(martelada)
Vila Nova de
Gaia
Homicídio
Qualificado
17 anos de prisão
ni
Morte a tiro
Loures
Homicídio
Qualificado
25 anos de prisão
(duplo homicídio: ex-
mulher e enteado): 20
anos pelo homicídio da
ex-companheira e 22
anos pelo homicídio do
enteado (morto por
espancamento); mais 3
anos e meios por dois
crimes de detenção de
arma proibida, 1 ano e
seis meses por 1 crime
de coação na forma
tentada e 4 meses por
furto)
45.600 euros: 40
mil por danos
patrimoniais e
5.600, por
danos não
patrimoniais
Morte por asfixia Famalicão Homicídio
qualificado
20 anos 40 mil euros
Morte por estrangulamento
Oeiras
Homicídio
Qualificado
Inimputável
(internamento
psiquiátrico)
ni
Morte por esfaqueamento
Braga
Homicídio
Qualificado
21 de prisão
ni
Morte por Esfaqueamento Évora Homicídio
Qualificado e
Homicídio
Qualificado na
forma tentada
24 anos de prisão
500 mil euros
Morta a tiro
Moita
Homicídio
16 anos de prisão
ni
47
De notar que o OMA, no respeito pela informação constante da fonte que lhe serve de
base, referirá o tipo de crime e condenação que nela consta. Por tal facto poderá não
existir coincidência exata entre esta e a qualificação jurídico-penal e condenação
constante do acórdão condenatório.
Salientamos assim que as penas aplicadas em Portugal oscilaram entre os 16 anos e os
25 anos de pena de prisão.
A pena menos gravosa foi de 16 anos, aplicada por dois tribunais: pelo Tribunal da
Moita, por homicídio (morte da ex-mulher a tiro) e a também pelo Tribunal de Vila Nova
de Gaia, por homicídio qualificado (morte da ex-namorada a tiro).
Morte por esfaqueamento e
espancamento
Vila do Conde
Homicídio
Qualificado,
Violência
Doméstica e
condução sem carta
25 anos de prisão
ni
Morte por fogo
Sintra
Triplo Homicídio
25 anos de prisão
ni
Morte por fogo
Morta a tiro e por
esfaqueamento
Boticas Homicídio
Qualificado e
detenção de arma
proibida
Internamento
psiquiátrico mínimo de
3 e máximo de 16 anos
130 mil euros
Morte a tiro V. Nova Gaia Homicídio
qualificado
16 anos 75 mil euros
Morte asfixia e
espancamento
(pazadas)
Santo Tirso
Homicídio
Qualificado e
Ocultação de
cadáver
20 anos e 6 meses
120 mil euros
Morte por asfixia,
esfaqueamento e
profanação de cadáver
Oeiras Homicídio
Qualificado,
Profanação de
cadáver, incêndio e
furto
25 anos de prisão 118.550 mil
euros
Morte por estrangulamento Vila Franca de
Xira
Homicídio
Qualificado
17 anos e 4 meses de
prisão
ni
Morte por asfixia e
espancamento
(paulada)
Aveiro
Homicídio
Qualificado, 1
crime de Violência
Doméstica e 2
crimes de Ofensas à
Integridade Física
23 anos
ni
48
Relativamente às penas mais elevadas foram de 25 anos de prisão, aplicadas pelos
Tribunais de Loures (Morte da ex-companheira a tiro e morte do enteado, por espancamento e
outros crimes), Vila do Conde (Morte de ascendente directo por esfaqueamento e
espancamento), Sintra (Morte por fogo – triplo homicídio) e Oeiras (Morte da namorada por
asfixia, esfaqueamento e outros crimes).
Porém, se atentarmos somente à condenação pela prática de um (1) crime de homicídio
consumado, concluímos que a condenação mais elevada foi decidida pelo Tribunal de
Braga (morte da companheira, por esfaqueamento), com uma pena de 21 anos de prisão.
No que concerne às indemnizações fixadas verificamos ausência de informação em
notícias referentes a 9 (nove) dos acórdãos condenatórios. Relativamente às demais
situações reportadas foi possível aferir que a indemnização mais baixa foi decidida
pelo Tribunal de Vila Nova de Famalicão que fixou indemnização no montante de 40
mil euros (morte por asfixia) e que a mais elevada foi do montante de euros: 500 mil,
fixada pelo Tribunal de Évora (morte por esfaqueamento e homicídio na forma tentada).
ACÓRDÃOS TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA:
DISTRITOS
Dos registos do OMA verificamos a seguinte distribuição, por distritos, quanto aos
acórdãos dos tribunais de 1.ª instância relativas a femicídios reportados pelo OMA
quer no ano de 2013 quer em anos anteriores.
49
HOMICÍDIOS POR DISTRITO 2013-2012- 2011 -2010
DECISÕES POR DISTRITO 2013
Aveiro 5 1
Beja 3 0
Braga 6 2
Bragança 1 0
Castelo Branco 2 0
Coimbra 3 0
Évora 2 1
Faro 8 0
Guarda 0 0
Leiria 4 0
Lisboa 35 7
Portalegre 0 0
Porto 17 4
Santarém 2 0
Setúbal 17 1
Vila Real 6 1
Viana 1 0
Viseu 6 0
Madeira 5 0
Açores 3 1
TOTAIS 126 18
De referir ainda que não se verificarão julgamentos da totalidade dos femicídios
registados pelo OMA entre os anos 2010 e 2013 dado que em algumas das situações
reportadas, os homicidas consumaram o atentado contra a própria vida.
50
HOMICÍDIOS/FEMICÍDIOS NAS RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS:
GAYS E LÉSBICAS
Dando seguimento ao reporte iniciado em 2012 quanto à ocorrência de homicídios e
femicídios e tentativas deste crime nas relações de intimidade entre pessoas do mesmo
sexo, apresentamos infra informações recolhidas no ano 2013.
HOMICÍDIOS NAS RELAÇÕES ENTRE CASAIS DO MESMO SEXO
O OMA identificou no decurso de 2013, um total de 1 homicídio em relação
homossexual.
Dada a escassez de notícias relacionada com o crime de violência nas relações de
intimidade entre casais do mesmo sexo, optamos e pelo 2.º ano consecutivo, por
apresentar os dados não desagregados por capítulo, inserindo-os na tabela infra.
Uma vez que a amostra trabalhada é muito reduzida entendeu-se, também em 2013,
não se apresentar conclusões ou ilações, por considerarmos não serem representativas
do universo do crime em análise.
51
HOMICÍDIOS/FEMICÍDIOS
Homicídios
Relação com o agressor
Grupo etário da
vítima
Situação profissional
Grupo etário
do agressor
Situação profissional do
agressor
Local do crime
Arma/meio
Suposta justificação
História de violência
prévia
Medida de coacção
Concelho
Distrito
1 Companheiro 43 Empregado 36-50 anos
Empregado Residência Arma branca Conflito familiar
ni ni Loulé Faro
52
SÍNTESE DE RESULTADOS - OMA 2013:
SÍNTESE Nº VÍTIMAS
Femicídios 37
Tentativas de Femicídio 36
Homicídio Rel. Homossexuais 1
Tentativas Hom. Rel. Homossexuais 0
Vítimas Associadas 27
Filhos/as comuns 30
Decisões Judiciais 17*
* Relativa a 18 vítimas, uma vez que um homicida foi julgado por duplo homicídio.
53
CONCLUSÕES e REFLEXÕES DA UMAR FACE AOS DADOS
REGISTADOS E ANALISADOS PELO OMA
Em 2013 assistimos a uma diminuição da prevalência de femicídio e tentativas de
femicídio em relação ao ano transacto.
Porém, não podemos falar numa tendência na diminuição dos crimes perpetrados nas
relações de intimidade, dado que os dados aferidos no Observatório desde 2004
alertam-nos para uma oscilação, por vezes, acentuada, quer de aumento quer de
diminuição nos registos, conforme gráfico infra.
Ano
Femicídio
Tentativas de Femicídio
Total crimes/Ano
2004 40 26 66
2005 34 44 78
2006 36 46 82
2007 22 59 81
2008 46 40 86
2009 29 28 57
2010 43+1 39 82+1
2011 27 44 71
2012 40+1 53 93+1
2013 37 36 73
TOTAL 356 415 771
Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2013.
(Vide preâmbulo)
Ou seja, verificamos uma descontinuidade na incidência do femicídio e tentativas de
femicídio, o que obsta a uma conclusão absoluta no sentido de identificar uma
tendência de aumento ou de diminuição. Por tal facto, cingimo-nos a uma análise
comparativa relacional entre os resultados do ano em curso e o ano anterior, tendo
contudo presente os registos apresentados desde 2004.
54
Efectivamente registamos uma diminuição se compararmos com os dados de 2012,
porém se os cruzarmos com os dados obtidos em 2009, verificamos que nesse ano
ocorreu igualmente uma diminuição comparativamente a 2008, com um aumento
exponencial no ano de 2010.
Fazendo uma leitura transversal dos dados registados pelo Observatório de Mulheres
Assassinadas podemos procurar definir um padrão quanto aos femícidios tentados e
consumados, concluindo o seguinte:
1. As vítimas são mulheres que mantinham uma relação de intimidade, presente
ou passada, com o autor do crime.
2. Têm idades superiores a 36 anos (padrão que se mantém nos autores dos
crimes).
3. A residência é o local privilegiado para a prática do crime.
4. A arma de fogo é o meio mais comumente utilizado.
5. A violência doméstica é identificada como contexto prévio à ocorrência dos
crimes.
6. Os crimes surgem, assim, numa escalada de violência nas relações de
intimidade presentes ou passadas.
7. Os meses de verão são os que registam maior número de crimes. Não obstante,
em 2013 o mês de Março foi o que contabilizou o maior número de crimes
praticados (9 femicídios e 5 tentativas de femicídio);
8. Os distritos com maior número de registos destes tipos de crime são por ordem
decrescente Lisboa, Porto e Setúbal.
O número de femicídios e tentativas de femicídio são tradutores de uma realidade que
nos deve envergonhar a todos e todas, de uma sociedade que continua a ser permissiva
com a violência exercida no seio familiar e, que teima em manter padrões de
comportamentos e atitudes discriminatórias e atentatórias dos direitos das mulheres
com repercussões irremediáveis e não raras vezes fatais, consubstanciando-se assim
uma situação grave e muito preocupante.
Esta preocupação, legítima e real, sai reforçada, se analisarmos:
55
- que em mais de metade dos homicídios e tentativas registados, existia violência na
relação e algumas das situações haviam mesmo sido reportadas às entidades
competentes;
- que não obstante o conhecimento prévio da existência de violência doméstica, esse
facto não contribuiu para minimizar os impactos e consequências da vitimação, nem
foi impedimento da concretização dos homicídios e das tentativas de homicídio;
-que as formas mais graves de violência contra as mulheres ocorrem nas suas
residências, muitas delas após a separação entre a vítima e o agressor/homicida;
- que a permanência em relações violentas aumenta o risco de violência letal, sendo que
a violência doméstica surge como um preditor do femicídio e tentativa do mesmo;
Pelo exposto, somos do entendimento que os crimes de homicídio e de tentativa de
homicídio praticados na conjugalidade ou relação de intimidade não devem estar
dissociados do fenómeno da violência exercida contra as mulheres;
Acrescenta-se ainda que, nas situações em que foi possivel identificar a presença de
episódios abusivos na relação, a mesma era conhecida por familiares, vizinhos, amigos
e que, o homicídio ou a tentativa surge na escalada da violência e como antevisão do
seu desfecho;
Estamos certas de que:
- É possível diminuir a violência que é dirigida às mulheres, com consequências diretas
na redução da taxa de prevalência dos homicídios e de tentativas de homicídio;
- A lei não é, de per si, instrumento suficiente para impedir a prática de crimes e a
reiteração de condutas criminosas. A sociedade, no seu conjunto, terá de querer e agir
no sentido da eliminação da violência contra as mulheres e da tolerância zero a
quaisquer situações de violência;
- A prevenção, a solidariedade, uma educação para a igualdade de género e para a
cidadania ativa, bem como, a ampliação de recursos e meios, de forma consistente e
continuada, são fundamentais;
- Uma justiça célere, eficaz no que tange à penalização dos agressores, a medidas e
penas que tenham impacto directo e concreto na vida dos agressores e, medidas de
56
proteção com impacto efetivo na vida das vítimas, servirão mais os princípios de
prevenção geral e específica pretendida pelas normas jurídicas;
- Há que dar sinais mais claros de intolerância perante a prática dos crimes de violência
doméstica que estão também na base da maioria das situações de homicídios e
tentativas de homicídio na conjugalidade e relações de intimidade;
- Mantém-se pertinente reforçar a informação de que a violência doméstica é um crime
público, que podemos denunciá-lo e que todos e todas temos a responsabilidade de
intervir para lhe pôr termo.
A UMAR REITERA ASSIM, A SUA CONVICÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DE:
- REFORÇAR AS MEDIDAS DE POLÍCIA NAS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA;
- APLICAR INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO;
- PROMOVER E DECRETAR MEDIDAS DE COACÇÃO ADEQUADAS E EM TEMPO ÚTIL;
- POTENCIAR A MONITORIZAÇÃO DAS MEDIDAS DE COACÇÃO APLICADAS E PROMOVER A
VIGILÂNCIA ELECTRÓNICA DAS MESMAS E A APLICAÇÃO DA MEDIDA DE COACÇÃO DE
PRISÃO PREVENTIVA;
- AUMENTAR AS MEDIDAS DE FISCALIZAÇÃO PREVENTIVAS NO COMBATE À POSSE ILÍCITA DE
ARMAS;
- DESENVOLVER ESTRATÉGIAS QUE VISEM A PENALIZAÇÃO DOS AGRESSORES E NÃO A
REVITIMAÇÃO DAS VÍTIMAS;
TUDO, NO SENTIDO DE MELHOR PRESERVAR A SEGURANÇA, PROTECÇÃO, INTEGRIDADE
FÍSICA E PSÍQUICA DAS VÍTIMAS, POTENCIANDO VIDAS NÃO VIOLENTAS E EVITANDO
MAIS MORTES.
Por fim, não podemos deixar de realçar o papel que a comunicação social, em especial
a imprensa escrita, tem tido na desocultação e registo da informação de situações de
violência doméstica e na sua forma mais grave e letal.
57
Relação Femicídio e Crise económica
Considerando que, o quadro político, social e económico vivido em Portugal tem
levado frequentemente ao questionamento sobre a direta relação entre a crise e a
ocorrência do femicídio, quer consumado, quer na sua forma tentada, somos a concluir
que, dos dados analisados e tendo particular atenção ao contexto motivacional de
ocorrência, cruzando com dados analisados ao longo dos anos, o fator crise não surge
referenciado como o fator que determinou ou motivou a consumação do crime.
Surgem-nos antes as situações enquadradas em relações de vitimização, em quadros de
ocorrência prévia de violência doméstica, as atitudes possessivas do agressor para com
as vítimas, os ciúmes, em suma estratégias ligadas ao poder e controlo sobre as
mulheres nas relações de intimidade, assentes na lógica de discriminações de género,
como os principais fatores identificados como motivações para a prática do femícídio
ou tentativa deste e, em algumas situações, em contexto de quadros de
descompensação psiquiátricos.
Porém, não podemos deixar de salientar que a situação profissional dos indivíduos, o
contexto socioeconómico e a maior dificuldade financeira ou inexistência de meios para
fazer face ao governo da vida quotidiana mais elementar ou básica são fatores de
stress, de angústia de dificuldades sentidas as quais podem potenciar uma maior
agressividade, desorientação, descontrolo e mesmo quadros de psicopatologia, por
parte de indivíduos e nesta medida, serem identificados como fatores de risco e
conducentes a uma maior prevalência na ocorrência de atos ilícitos, nomeadamente de
femicídios e tentativas de femicídio.
Lisboa, 8 de Março de 2014
Pela União de Mulheres Alternativa e Resposta: Elisabete Brasil, Fátima Alves e Sónia Soares.