Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AMIZADE: UMA REFLEXÃO PERMEADA PELA LEITURA DE
CONTOS LITERÁRIOS
Autora: Irene Tijolin de Oliveira1
Orientador: Carlos da Silva2
Resumo: Este artigo procura apresentar algumas alternativas de leitura com o propósito de incentivar nos alunos do Ensino Médio o hábito de ler textos literários que tratam da amizade. É importante ressaltar que a escola é um espaço essencialmente social, é um dos lugares onde marcadamente as relações interpessoais se desenvolvem, por ser local de encontro diário, de brincadeira e, até mesmo, disputas e brigas entre os jovens. Nesse sentido, é necessário despertar nos alunos valores éticos como o respeito ao próximo, companheirismo, e dialogar sobre amizade saudável. A leitura é um dos maiores desafios das escolas brasileiras atualmente, pois os alunos não gostam de ler, e como resultado, são várias as dificuldades encontradas por eles tanto na compreensão dos textos que leem, como em usarem a escrita de forma adequada. Em vista dessas perspectivas, faz-se necessário buscar novos métodos de ensino para despertar o interesse e a atenção desses alunos para o ato de ler e escrever, uma vez que é tão importante adquirirem esse hábito para a inserção no mundo letrado. É válido revelar aos alunos o valor dos textos literários como forma de aquisição de saberes e dessa forma conhecerem o vasto mundo dos contos. Assim, acredita-se que esta pesquisa possa contribuir para a diminuição das animosidades no espaço escolar ao despertar nos jovens adolescentes o valor da amizade retratada em narrativas previamente escolhidas para leitura e interpretação. Como fundamento teóricos, recorreu-se a ANTUNES (2009); BAKHTIN (2003;2009); COLOMER (2002); GERALDI (2011), dentre outros. Palavras-chave: Leitura. Literatura. Contos. Amizade.
1. INTRODUÇÃO
A leitura é um dos maiores desafios das escolas brasileiras atualmente, pois
os alunos não gostam de ler, e como resultado, são várias as dificuldades
encontradas por eles tanto na compreensão dos textos que leem como em usarem a
escrita de forma adequada.
Este trabalho apresenta uma proposta de leitura, cujo objetivo é incentivar nos
alunos do Ensino Médio o hábito de ler textos literários que tratam da amizade. Faz
parte dos estudos de formação continuada realizada no Programa de
Desenvolvimento Educacional PDE- 2013, do Governo do Estado do Paraná.
1 Pós-graduada em Metodologia e Técnicas de produção textual. Graduada em Letras (Português/Inglês).Professora do Colégio Estadual Tiradentes em Cafezal do Sul/PR 2 Professor Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranavaí e orientador do PDE.
A partir dessa reflexão, ressalta-se que os educadores precisam mostrar a
esses alunos o valor da leitura, como forma de aquisição de conhecimento, de
diálogo, de apropriação da língua falada e escrita, para torná-los críticos e
participativos na sociedade em que estão inseridos.
É importante ressaltar que a escola é um espaço essencialmente social, é um
dos lugares onde marcadamente as relações interpessoais se desenvolvem. É local
de encontros diários, brincadeiras e até mesmo disputas e brigas entre os jovens.
Várias atitudes dos alunos podem revelar preferências por determinados tipos
de leituras, e que nos relacionamentos entre colegas, estes podem influenciar,
também, algumas das decisões que serão tomadas ao longo da vida e mesmo no
ambiente escolar.
É relevante destacar que dentre algumas das dificuldades que os professores
estão encontrando no trabalho em sala de aula, sobressai-se a falta de respeito dos
alunos com os educadores e, também, entre os próprios educandos, com
excessivas discussões e intrigas desnecessárias.
Nesse sentido, é necessário despertar em nos alunos valores éticos como o
respeito ao próximo, companheirismo, e dialogar sobre amizade saudável. É
importante propor leituras que possibilitem reflexões sobre os diversos vínculos
afetivos nas relações interpessoais e a importância do diálogo com o outro para
resolver conflitos. Assim, entende-se que o respeito e a tolerância podem ser
discutidos na escola, considerando a proximidade que existe entre os educandos e
a comunidade escolar, constituída, numa primeira instância, pelos professores e
demais educadores.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 UM POUCO SOBRE LINGUAGEM E TEXTO
Todo ser humano necessita comunicar-se, e isso acontece de diferentes
formas, desde o seu nascimento até a sua morte, pois é inerente em todo ser
humano a necessidade de partilhar aquilo que vivencia em sua vida. E isso acontece
desde os primórdios, mesmo quando o homem ainda não dominava a escrita ele já
utilizava os desenhos nas cavernas como forma de manifestar a cultura e os
saberes acumulados que foram produzidos socialmente.
Vale destacar, portanto, que o homem é essencialmente comunicador.
Bakhtin (2003) compartilha com essas reflexões quando ressalta que ―A língua se
deduz da necessidade do homem de expressar-se, de exteriorizar-se. A essência da
língua, de uma forma ou de outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo‖.
(BAKHTIN, 2003, p. 289)
É pertinente ressaltar que a comunicação acontece em todos os momentos
da existência humana e de diversas maneiras. Sendo que a linguagem é por
excelência um elo nessa cadeia de enunciados usados diariamente. É através da
língua (oral ou escrita) que o homem torna-se agente da comunicação e, por isso,
humaniza-se.
Conforme Bakhtin (2003) analisa:
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua — recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais —, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional (BAKHTIN, 2003, p. 279).
Tais afirmações vêm ao encontro do que se pretende analisar, pois é nessa
comunicação de enunciados que reside uma das principais formas do homem
interagir com os demais, de fazer-se entender e entender o outro. É através da
linguagem que, também, atua-se na sociedade, torna-se cidadão consciente,
participativo, conhecedor de direitos e deveres, podendo opinar, intervir, discutir com
argumentos sólidos, pois para ter cidadania é preciso ―falar‖, estar aberto à
comunicação.
Assim, como diz Irandé Antunes (2009):
O momento nacional é de luta, de renovação e incita á mudança, a favor de uma participação cada vez maior de toda a população e de um exército cada vez mais pleno da cidadania. O professor não pode ausentar-se desse momento nem, tampouco, estar nele de modo superficial. O ensino da língua portuguesa também não pode afastar-se desses propósitos cívicos de tornar as pessoas cada vez mais críticas, mais participativas e atuantes, políticas e socialmente. Não podemos, não devemos, pois, adiar a compreensão de que a participação efetiva da pessoa na sociedade acontece, também e muito
especialmente, pela ―voz‖, pela ―comunicação‖, pela ―atuação e interação verbal‖, pela linguagem, enfim (ANTUNES, 2009, p. 15).
Nesse sentido, é preciso reconhecer que há muito a fazer quando a questão é
a linguagem. Contudo, ressalte-se que os desafios são constantes na escola
pública. São diversas as dificuldades enfrentadas no trabalho com a língua materna.
Cabe destacar, que o professor de língua portuguesa depara-se com alguns alunos
que apresentam grandes dificuldades. Geralmente, alunos oriundos das classes
sociais mais desfavorecidas, que não dominam a norma padrão, a linguagem culta.
Contudo, esses alunos comunicam-se muito bem na oralidade, de forma
descontraída e informalmente, porém, quando necessitam escrever um texto de
forma mais formal, sentem dificuldades.
De acordo com Bakhtin (2003):
A comunicação verbal na vida cotidiana não deixa de dispor de gêneros criativos. Esses gêneros do discurso nos são dados quase como nos é dada a língua materna, que dominamos com facilidade antes mesmo que lhe estudemos a gramática. (BAKHTIN, 2003, p. 301).
É inerente entender que existem as variações linguísticas nos diversos grupos
sociais existentes no Brasil. A partir dessa reflexão, pode-se dizer que o português é
falado de diferentes formas no país, dependendo da região onde o falante se reside,
do grupo social a que pertença, da época, das pessoas com as quais ele relaciona,
entre outros.
De acordo com Geraldi (2011):
Todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma. A variedade lingüística é o reflexo da variedade social, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel, essas diferenças se refletem na linguagem (GERALDI, 2011, p. 35).
Porém, cabe lembrar que é importante respeitar esses falares informais como
sendo fator de comunicação para alguns alunos, mas é dever da escola ensiná-los
a usarem, quando necessário, a norma padrão, como forma de inseri-los numa
sociedade letrada, tornando- os críticos e atuantes.
Conforme Magda Soares:
Na área da linguagem, a escola, ao negar às classes populares o uso de sua própria linguagem (que censura e rejeita), ao mesmo tempo que fracassa em levá-los ao domínio da linguagem de prestígio, está cumprindo seu papel de manter as discriminações e a marginalização e, portanto, de reproduzir as desigualdades (SOARES, 1992, p.72).
A partir dessas reflexões, se faz necessário dialogar com esses alunos sobre
a linguagem falada e escrita, levá-los a perceber, através de diferentes métodos e
técnicas de leitura, que toda forma de comunicação é importante e tem a sua
contribuição para a língua. Entretanto, é pertinente adequar a linguagem a cada
circunstância e ocasião. Sendo, pois, oportuno conscientizar que a cada situação
social exige um falar ―diferente‖.
Também segundo as DCE’s: ―A linguagem é vista como fenômeno social, pois
nasce da necessidade de interação (política, social, econômica) entre os homens.‖
(PARANÁ, 2008, p.49)
Contudo, é extremamente importante destacar que toda forma de linguagem
oral ou escrita entre os seres humanos só faz sentido ser analisada se for estudada
em um determinado contexto. Vale ressaltar que palavras sozinhas não possuem
significados condizentes, não caracterizam os seus verdadeiros sentidos.
Com fundamento em Bakhtin, é preciso entender que ―Aprender a falar é
aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações
isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas.‖ (BAKHTIN, 2003, p. 302)
Assim também, na escola, o estudo deve partir sempre do texto. É no texto
que as palavras encontram sentidos, são entendidas, são contextualizadas. E o
trabalho com língua materna deve partir sempre dessa contextualização, e isso só
acontecerá de forma coerente com o uso do texto.
Assim escreve Bakhtin (2003):
Assim, por trás de todo texto, encontra-se o sistema da língua; no texto, corresponde- lhe tudo quanto é repetitivo e reproduzível, tudo quanto pode existir fora do texto. Porém, ao mesmo tempo, cada texto (em sua qualidade de enunciado) é individual, único e irreproduzível, sendo nisso que reside seu sentido (seu desígnio, aquele para o qual foi criado). É com isso que ele remete à verdade, ao verídico, ao bem, à beleza, à história (BAKHTIN, 2003, p. 331).
Essa síntese remete ao valor do texto, suas peculiaridades e a importância do
uso linguístico em situações de leitura.
Ainda segundo as DCE’s de Língua Portuguesa (2008), quanto ao processo
de ensino e aprendizagem da língua ― é importante ter claro que quanto maior o
contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais possibilidades se tem
de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de mundo‖ (PARANÁ,
2008, p.55).
Os estudos pertinentes desses autores vêm ressaltar que é através dos textos
que se deve pautar todo e qualquer conhecimento em leitura, pois, entende - se que
os textos são estruturados por enunciados. É necessário enfatizar que esses
enunciados estão bem correlacionados entre si, e que se forem analisados
separadamente, perderão o sentido primordial.
2.2 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Entende-se que a leitura é um fator importantíssimo para se adquirir
conhecimento. É através dos textos que o homem mergulha no saber: conhece
lugares diferentes, ―viaja‖ com personagens incríveis, vive aventuras em épocas
distintas, partilha histórias em diferentes culturas, sofre com os conflitos das
personagens, sorri com as narrativas das peripécias da vida, em suma, fazendo
parte de outro ―universo‖: o da leitura.
É necessário, pois, destacar que os alunos para entrarem nesse mundo, é
preciso que a leitura faça parte de suas vidas (principalmente no ambiente escolar) e
que gostem de ler. Porém, essa leitura não pode ser para cumprir uma tarefa escolar
ou para serem avaliados, mas que reconheçam a leitura como fonte de
conhecimento, de inclusão social, de saber estético e, principalmente, como forma
de apropriar-se da linguagem falada e escrita que circula nas esferas sociais.
Segundo as DCE’s de Língua Portuguesa (2008): ‖Ao ler, o indivíduo busca
as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,
religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.‖ (PARANÁ, 2008, p. 56)
Faz-se necessário ressaltar que é tarefa da escola buscar o letramento de
sua clientela, não só a leitura de decodificação de palavras, onde os alunos leem,
mas não entendem, não distinguem a ideia principal, os argumentos, as ideologias.
O letramento, porém, vai além da decodificação, conduzindo o educando à
compreensão.
Com base em Irandé Antunes (2009):
Ter acesso à palavra escrita representa a possibilidade de dominar um instrumento de poder chamado linguagem formal. É nessa linguagem formal que, em qualquer país, estão escritos os códigos, as leis, os regimentos, os ensaios científicos – tudo, enfim, que faz parte da organização e do funcionamento dos grupos. Daí o caráter de exclusão do analfabetismo: ele priva as pessoas de um tipo particular de informação (ANTUNES 2009, p.76).
Também segundo Geraldi: ―A leitura, por sua vez, é entendida como um
processo de interlocução entre leitor - texto - autor. O aluno-leitor não é passivo,
mas o agente que busca significações.‖ (GERALDI, 2011, p. 107)
Portanto, é necessário oportunizar ao educado o contato com diferentes tipos
de textos, de todas as esferas sociais e até mesmo os que ele vivencia em sua
realidade, em sua cidade e bairro.
Conforme as DCE’s (2008) ao tratar da relação educando-escola:
Nesse sentido, é preciso que a escola seja um espaço que promova, por meio de uma gama de textos com diferentes funções sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva nas práticas de uso da língua – sejam de leitura, oralidade e escrita. Destaca-se que o letramento vai além da alfabetização: esta é uma atividade mecânica, que garante ao sujeito o conhecimento do código linguístico (codificação e decodificação); já aquele, de acordo com Soares (1998), refere-se ao indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e escrita, posiciona-se e interage com as exigências da sociedade diante das práticas de linguagem, demarcando a sua voz no contexto social. O professor de Língua Portuguesa precisa, então, propiciar ao educando a prática, a discussão, a leitura de textos das diferentes esferas sociais (jornalística, literária, publicitária, digital, etc) (PARANÁ, 2008, p.50).
Tais afirmações vêm mostrar a importância do ato de ler, mas sabe-se que os
alunos têm pouco contato com a leitura (uma boa leitura) e isso fica claro ao terem
que produzir textos. Não conseguem escrever de forma clara e concisa. Pois,
entende-se que quanto maior for o hábito da leitura, o contato com textos diversos,
mais facilidade terão para se expressar na modalidade escrita, consubstanciando o
conceito de que: ―Assim é que a dificuldade dos alunos para escrever tem sua razão
de ser, também, no pouco contato que eles mantêm com textos escritos.‖
(ANTUNES, 2009, p. 76).
Assim sendo, é necessário salientar que é muito importante motivar os alunos
para a leitura, e uma forma de incentivá-los é apresentando as vantagens em ser um
bom leitor no mundo atual, onde as informações são tão constantes e rápidas,
podendo dialogar sobre vários assuntos, ao mesmo tempo em que apreciam a
beleza dos textos literários.
De acordo com Antunes (2009):
Tudo o que fazemos está preso a um interesse qualquer. Não pode ser diferente quando se trata de leitura, sobretudo quando se trata da leitura feita na escola. O aluno, antes de qualquer coisa, deveria estar convencido das vantagens de saber ler e de poder ler. (ANTUNES, 2009, p. 80)
Cabe destacar que ao apresentar textos que despertam o interesse dos
alunos, principalmente quanto ao assunto abordado, é possível ocorrer maior
envolvimento espontâneo com o ato de ler.
A partir dessas reflexões, pode-se inferir que a leitura é feita de modo mais
habitual quando é apresentada como fator, também, de entretenimento e valorização
do saber estético.
2.3 O CONTO LITERÁRIO
É importante que o professor de língua portuguesa trabalhe com os gêneros
literários em sua disciplina. É notório destacar que a literatura possibilita aprofundar
o valor estético do texto, a harmonia estrutural dos enunciados e a sensibilidade
presente em cada parágrafo. Porém, sabe-se que a literatura pode, também, discutir
os valores do ser humano.
Segundo Bakhtin (2003): ―(...) o estilo artístico não trabalha com as palavras,
mas com os componentes do mundo, com os valores do mundo e da vida.‖
(BAKHTIN, 2003, p. 209).
É relevante destacar o cuidado do escritor literário com as palavras,
procurando harmonizá-las, encaixá-las de forma a sensibilizar o leitor.
Conforme Fiorin (2007): ―No texto literário, o escritor não apenas procura dizer
o mundo, mas recriá-lo nas palavras, de modo que, nele, importa não apenas o que
se diz, mas o modo como se diz‖ (FIORIN, 2007, p.351).
Ao trabalhar com os gêneros, é válido destacar o conto, pois entende-se que
seja um dos estilos mais apreciados pelos alunos devido à popularidade alcançada
por esses textos.
O conto é uma narrativa que pode ser apresentada de diversas formas,
algumas vezes como um relato, memória, diálogo, reflexão, trazendo diferentes
vozes sociais. Quanto à linguagem utilizada nesse tipo de gênero literário, em geral,
é carregada de subjetividade, dispondo estrategicamente os recursos linguísticos e
estilísticos para atrair a atenção do leitor.
Conforme Gotlib (1988):
Estas considerações atentam já, sistematicamente, para uma característica básica na construção do conto: a economia dos meios narrativos. Trata-se de conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos. E tudo que não estiver diretamente relacionado com o efeito, para conquistar o interesse do leitor, deve ser suprimido. (GOTLIB, 1988, p.35 grifos da autora)
Desta maneira, o conto apresenta uma linguagem sutil e ao mesmo tempo
profunda, tornando a leitura simplesmente cativante.
É oportuno destacar que o conto apresenta uma estrutura fechada,
desenvolvendo a história em forma de narrativa e tem apenas um clímax. É conciso,
centrado em um relato referente a um fato ou um determinado acontecimento,
podendo ser real ou fictício e tem como característica um grupo reduzido de
personagens, o que faz com que seja praticamente impossível ler um conto pela
metade ou pular-lhe linhas.
Ainda segundo Gotlib ( 1988):
Porque cada conto traz um compromisso selado com sua origem: a da estória. E com o modo de se contar a estória: é uma forma breve. E com o modo pelo qual se constrói este seu jeito de ser, economizando meios narrativos, mediante contração de impulsos, condensação de recursos, tensão das fibras do narrar. Porque são assim construídos, tendem a causar uma unidade de efeito, a flagrar momentos especiais da vida, favorecendo a simetria no Uso do repertório dos seus materiais de composição. Além disso, são modos peculiares de uma época da história. E modos peculiares de um autor, que, deste e não de outro modo, organiza a sua estória, como organiza outras, de outros modos, de outros gêneros. Como são também modos peculiares de uma face ou de uma fase da produção deste contista, num tempo determinado, num determinado país. (GOTLIB, 1988, p.82)
É importante destacar que o ato de ―contar‖ histórias esteve sempre presente
na vida das pessoas. O homem, em geral, gosta de ouvir as histórias dos mais
velhos, ou mesmo partilhar um acontecimento entre os amigos, entre os familiares,
no ambiente de trabalho. Quem não gosta de ouvir histórias? Compreende-se que
são através das histórias contadas ou lidas que ensinamentos e valores pessoais
podem ser transmitidos.
Vale destacar com base em Bakhtin que ―Os gêneros mais propícios são os
literários - neles o estilo individual faz parte do empreendimento enunciativo
enquanto tal e constitui uma das suas linhas diretrizes‖. (BAKHTIN, 2003, p. 283).
Diante da necessidade de contar e ouvir histórias é que surgiram os contos
literários. O conto sempre esteve presente na sociedade, de uma forma ou de outra.
Desde a forma antiga de contar histórias oralmente aos mais jovens até aos textos
escritos da era moderna, a presença do conto na literatura ocidental, e após isso, na
literatura brasileira, é fato revestido de importância que lhe atribuem as diversas
classificações:
No que se refere às origens, o mesmo remonta aos tempos antigos, representado pelas narrativas orais dos antigos povos nas noites de luar, passando pelos gregos e romanos, lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais italianas, pelas fábulas francesas de Esopo e La Fontaine, chegando até os livros, como hoje conhecemos. Em meio a esta trajetória, revestiu-se de inúmeras classificações, resultando nas chamadas antologias, as quais reúnem os contos por nacionalidade: brasileiro, russo, francês e por categorias relacionadas ao gênero, denominando-se em contos maravilhosos, policiais, de amor, ficção científica, fantásticos, de terror, mistério, dentre outras classificações, tais como tradicional, moderno e contemporâneo. (BRASIL ESCOLA, 2011)
A partir dessas reflexões, pode-se dizer que os contos são grandes fontes de
conhecimento e história, expressando forte influência na cultura, pois é uma forma
de visualizar a realidade social atual através de um olhar sensível e crítico ao
mesmo tempo.
As DCE’s de Língua Portuguesa (2008) relatam que:
A literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não pode ser apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos e sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a cultura, a história, a economia, entre outros. (PARANÁ, 2008, P. 57)
De acordo com Bakhtin (2003):
A literatura é uma parte inalienável da cultura, sendo impossível compreendê-la fora do contexto global da cultura numa dada época. Não se pode separar a literatura do resto da cultura e, passando por cima da cultura, relacioná-la diretamente com os fatores sócioeconômicos, como é prática corrente. (BAKHTIN, 2003, p. 362)
Nesse sentido, a leitura voltada aos gêneros literários é extremamente
importante, porque envolve todo um processo de comunicação. E nesse processo,
três elementos são importantes: autor, obra, leitor.
Ainda, segundo Bakhtin (2003):
O sujeito falante — o autor da obra — manifesta sua individualidade, sua visão do mundo, em cada um dos elementos estilísticos do desígnio que presidia à sua obra. Esse cunho de individualidade aposto à obra é justamente o que cria as fronteiras internas específicas que, no processo da comunicação verbal, a distinguem das outras obras com as quais se relaciona dentro de uma dada esfera cultural — as obras dos antecessores, nas quais o autor se apóia. (BAKHTIN, 2003, p.298)
Conforme as DCE’s de Língua Portuguesa (2008):
O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo. (PARANÁ, 2008, p.59)
A partir desses levantamentos, faz-se necessário destacar a importância da
escolha de leituras produzidas por escritores que escrevem especificamente para os
jovens. Os professores percebem que os alunos gostam de determinados escritores
por possuírem uma abordagem mais direta aos adolescentes e jovens. É válido
possibilitar o contato com contistas que dialogarão diretamente com os anseios e
problemas característicos das vidas desses educandos.
3. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO
O colégio contemplado para a implementação do projeto foi o Colégio
Estadual Tiradentes – Ensino Fundamental e Médio, no Município de Cafezal do Sul
– PR, tendo como sujeitos envolvidos os alunos do 2° ano do Ensino Médio.
Iniciou-se a implementação expondo aos alunos o que é PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional) e que fariam parte de um projeto cujo objetivo
principal seria o contato com a leitura, o desenvolvimento de habilidades de
compreensão, a reflexão e a interpretação de contos.
Em seguida, houve a abordagem do gênero textual: Conto. Foi perguntado
aos alunos o que eles sabiam sobre esse gênero textual, como era a sua estrutura e
se alguém recordava de algum conto para que pudesse partilhar com a turma.
A professora deu continuidade à aula perguntando aos alunos se sabiam
dizer o que é amizade, o que entendem por isto. Dentro desta investigação,
procurou perguntar-lhes se eles tinham amigos. Após escutar os alunos, foi
necessário argumentar que a aula abordava este assunto pela importância que tem
na vida de todos, na sociedade. A professora fez uma pergunta provocativa para os
alunos, como argumento introdutório a questão sobre a amizade: vocês saberiam
dizer qual a importância da amizade para a vida de uma pessoa?
Após esses primeiros momentos, foi realizado um breve comentário sobre a
biografia do contista e a época pertinente em que a obra foi escrita, isso se fez
necessário para que o aluno entendesse melhor o espaço onde se desenvolve a
narrativa, os personagens e os conflitos, oportunizando conhecer um pouco mais
sobre alguns dos mestres em Literatura Brasileira, como Dalton Trevisan, Clarice
Lispector, Marina Colasanti e Machado de Assis.
Depois dessas primeiras informações, ocorreu a leitura atenta e interpretativa,
buscando o aprofundamento do gênero textual e, nesse sentido, envolvendo o aluno
na discussão do tema e na compreensão dos elementos narrativos do conto: as
personagens e suas características, o espaço, o conflito principal, o clímax, o
desfecho, entre outros.
Assim, como os textos escolhidos dialogavam sobre a temática da amizade -
O conto se apresenta, de Moacyr Scliar; A primeira só, de Marina Colasanti; Uma
amizade sincera, de Clarice Lispector e Um apólogo, de Machado de Assis – a
discussão desse tema foi abordada através de debates entre os alunos, como forma
de expressão de opiniões e de aceitação das conclusões de outros colegas.
Desse modo, compreende-se que foi necessário interagir, argumentar e
opinar com os alunos, fazendo com que o diálogo com o texto acontecesse de forma
crítica e participativa. Portanto, no decorrer das aulas o aluno pôde compreender o
que significa a amizade, e qual a sua importância para as pessoas. Além disso, as
aulas possibilitaram trabalhar a escrita, a oralidade, a crítica e a sociabilidade dos
educandos.
Observou-se que pelo fato do gênero escolhido ser breve e conciso, a leitura
tornou-se mais densa, explorando e exigindo do aluno habilidade de leitura e
compreensão do texto.
A partir das leituras conduzidas, dos debates e das conclusões levantadas, foi
relevante indagá-los quanto ao ambiente escolar e como estão se relacionando, se
estão tendo atitudes éticas e sociáveis para com os colegas.
É importante mencionar que a indagação permitiu-lhes refletirem seu
comportamento interpessoal. Desta forma, questões como essas foram pertinentes:
O que é amizade? Você tem amigos? Como escolher os amigos? É possível viver
sem ter amigos? Como manter os amigos? É bom estar sozinho? Os amigos são
importantes? Quem precisa de amigos? Entre outras questões.
Como resultado, os alunos foram orientados para a produção de alguns
contos que abordassem a temática da amizade, por fim, os textos produzidos foram
divulgados para os demais alunos do colégio, através de uma coletânea de contos.
4. GRUPO DE TRABALHO EM REDE
A formação e a participação em rede (Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
constitui-se em uma atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional –PDE
e caracteriza-se pela interação virtual entre o Professor PDE e os demais
professores da rede pública estadual de ensino, buscando efetivar o processo de
Formação Continuada já em curso pela SEED/PDE.
As atividades no ambiente virtual iniciaram-se pela apresentação de ambas
as partes, tutor e aluno do GTR, sendo que cada participante elaborou um texto de
perfil que foi disponibilizado para o grupo.
Em continuidade no Fórum, no ambiente Moodle, estabeleceu-se uma
discussão teórica e metodológica acerca do Plano de Trabalho no PDE, o objetivo
de estudo do tutor. A partir das ferramentas virtuais disponibilizadas os educadores
puderam conhecer o trabalho de pesquisa e ao mesmo tempo opinar, dar sugestões,
questionar e partilhar experiências relacionadas ao tema em discussão.
O material elaborado foi analisado levando em conta a pertinência da
proposta e a viabilidade do tema no âmbito escolar. Após as discussões, os
participantes do GTR enviaram novas sugestões teóricas e/ou metodológicas para o
enriquecimento do Material Didático do Professor PDE, o qual norteou toda a
implementação do trabalho.
O envolvimento dos professores ocorreu de forma muito satisfatória, pois
julgaram a temática da amizade abordada nos contos muito pertinente, nos dias
atuais, em nossa sociedade, sendo que muitas vezes acontecem violência e
desrespeito entre os alunos, também, no ambiente escolar.
As contribuições dos educadores participantes do GTR foram de extrema
importância na elaboração e viabilização do Material Didático (Unidade Didática)
produzida. Muitas ideias e sugestões foram partilhadas, visando tornar o material
mais enriquecedor para aplicá-lo em sala de aula.
A partilha do trabalho no GTR possibilitou um intercâmbio muito importante de
ideias e o resultado prático do trabalho foi bastante gratificante. A experiência de
trabalhar na tutoria de um curso a distância foi enriquecedora, oportunizando o
aperfeiçoamento da prática pedagógica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A motivação deste artigo tem sua existência no Projeto de pesquisa do PDE e
ocorreu, principalmente, pelo fato da valorização da leitura, da literatura e que
possibilitasse um diálogo sobre a amizade nos relacionamentos sociais, de forma
ética e responsável.
A necessidade da leitura foi constatada, ficando muito evidente que alguns
alunos possuem dificuldades para compreender o texto, interpretá-lo, e que
precisam da intervenção e ajuda do professor em vários momentos nas realizações
das atividades escritas.
Após a prática do trabalho com a leitura percebeu-se que ―o ler‖
verdadeiramente, necessita ser mais explorado nas escolas e que o professor deve
ser um leitor, que mantenha um posicionamento crítico sobre o que lê e o que será
oferecido para seus alunos lerem, objetivando cativá-los para uma boa leitura.
Portanto, os encaminhamentos metodológicos oportunizaram o
desenvolvimento de um importante trabalho educacional voltado para a
aprendizagem da leitura e da escrita. Os alunos foram orientados a ler os contos e a
desenvolver atividades de reflexões pertinentes ao gênero textual e ao tema
amizade e desta forma, passando a vislumbrar a leitura como uma atividade
prazerosa e significativa, ao mesmo tempo, obter um novo olhar sobre o ensino da
língua materna.
Os objetivos do projeto foram obtidos com êxito, já que as atividades
realizadas durante a implementação estimularam a criatividade, a leitura e a
melhoria na capacidade oral e escrita dos alunos.
Nesse sentido, possibilitou discutir a temática da amizade e suas implicações
na vida atual, como também a desenvolver a criticidade, conhecimentos que
possibilitarão ao aluno interagir na sociedade de maneira autônoma e consciente,
exercendo plenamente seu papel de cidadão,
Portanto, conclui-se que esta é uma experiência que necessita ter
continuidade devido à importância da temática para a vida, ao ensino e
aprendizagem dos educandos.
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