Poderes e Deveres do Administrador Pblico1 INTRODUOO Estado, pode-se afirmar, uma fico jurdica, ou seja, constitui criao humana, de representao coletiva. Contudo, o Estado, por ser uma abstrao, no age por si mesmo. Nesse quadro, surgem os agentes pblicos, aos quais a ordem jurdica confere prerrogativas diferenciadas, a serem utilizadas para a consecuo dos interesses da sociedade.Esse conjunto de prerrogativas de direito pblico que a ordem jurdica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins1denomina-se Poderes Administrativos. Regra geral, citados Poderes so concedidos por lei e destinam-se a instrumentalizar o Administrador Pblico para o atingimento do fim ltimo a que se presta o Estado: a satisfao dos interesses pblicos.Em contrapartida, por tutelarem interesses coletivos, impem-se aos agentes pblicos2, de modo geral, uma srie de deveres. Em determinadas hipteses, pode-se mesmo afirmar que os poderes convertem-se em verdadeiros deveres administrativos. De fato, enquanto na esfera privada o poder faculdade daquele que o detm, no setor pblico representa um dever do administrador para com a comunidade que representa. A doutrina fala, ento, em Poder-dever de agir, a ser mais detalhado abaixo.H que se fazer diferena, ainda, entre Poderes Administrativos e Polticos. Aqueles, so poderes instrumentais da Administrao, instrumentos de trabalho para cumprimento de tarefas de natureza administrativa, como no poderia deixar de ser. J os Poderes Polticos so estruturais e inerentes organizao do Estado, integrando a organizao constitucional, sendo que a inter-relao entre estes objeto de estudo de ramo prprio do Direito, o Direito Constitucional.Por fim, inmeros so os Poderes e Deveres do Administrador Pblico. Desse modo, sero analisados aqueles reiteradamente abordados pelos principais autores da doutrina ptria.2 DEVERES DO ADMINISTRADOR PBLICOAlm de poderes, os agentes administrativos, obviamente, detm deveres, em razo das atribuies que exercem. Dentre os principais, podem ser citados os seguintes, conforme aponta doutrina a respeito do assunto:Dever de probidade;
Dever de prestar contas;
Dever de Eficincia:
Poder-dever de agir.
2.1 Dever de ProbidadeAinda que no se estabelea ordem de importncia entre os deveres que devem nortear a conduta do Administrador Pblico, pode-se afirmar que o de probidade dos mais relevantes. Com efeito, alm de estar pautada na Lei, a conduta dos agentes pblicos deve ser honesta, reta, respeitando a noo de moral no s administrativa, mas tambm da prpria sociedade. de tal importncia a conduta proba que o Legislador a erigiu astatusconstitucional, conforme se v no 4, art. 37 da Carta Magna,verbis:Os atos de improbidade importaro a suspenso dos direitos polticos, a perda da funo pblica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao errio, na forma e gradao previstas em lei, sem prejuzo da ao penal cabvel.Em diversas normas encontram-se referncias improbidade, tal como na Lei 8.112/90, que estabelece o Regime Jurdico dos Servidores Pblicos Civis da Unio3. De toda forma, digna de destaque a Lei 8.429/92, que dispe sobre atos de improbidade administrativa.Um dos pontos de relevo daquela norma sua rea de abrangncia: atinge no s os agentes pblicos, mas tambm queles que induzam ou concorram para a prtica de ato de improbidade administrativa, ou dele se beneficie direta ou indiretamente, ainda que no seja agente pblico. Registre-se, ainda, que a Lei 8.429/92 de abrangncia nacional, isto , aplica-se Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios.As sanes estabelecidas pela Lei de Improbidade Administrativa so de ordem administrativa, civil e poltica. Assim, a Lei 8.429 no cuida de sanes penais. De toda forma, a ocorrer infrao prevista na Lei 8.429 que seja tipificada como crime, nada impede que o infrator responda na esfera penal pelo fato cometido.Por fim, ressalte-se que os atos de improbidade sero abordados com maior propriedade mais a frente, em captulo especfico.2.2 Dever de Prestar ContasEm decorrncia de gerir o que no lhe pertence, constitui dever do Administrador Pblico apresentar contas do que realizou toda coletividade. Ora, se na esfera privada j o assim, no poderia ser diferente no setor pblico. Bem esclarece Hely Lopes Meirelles, ao afirmar:a regra universal: quem gere dinheiro pblico ou administra bens ou interesses da comunidade deve contas ao rgo competente para a fiscalizao.Pela regra, percebe-se que o dever de prestar contas maior do que se pensa: abrange no s aqueles que so Agentes Pblicos, mas a todos que tenham sob sua responsabilidade dinheiros, bens, ou interesses pblicos, independentemente de serem ou no administradores pblicos.2.3 Dever de EficinciaElevado categoria de Princpio Constitucional de Administrao Pblica (vide Emenda Constitucional 19/1998), o dever de eficincia impe que a atividade administrativa seja cada vez mais clere e tcnica, ou seja, que se busque no s o aumento quantitativo, mas tambm qualitativo do papel desempenhado pelo Administrador Pblico. A busca contnua pela eficincia resulta, sem dvida, em maiores benefcios prpria coletividade, da por que constitui dever do administrador.Inmeros exemplos da busca da eficincia pela Administrao podem ser observados em textos legais, tais como o Decreto Lei 200/674, ou mesmo na Constituio Federal5.- Poder-dever de Agir.
O poder que possui o agente pblico significa, em realidade,
dever com relao comunidade, no sentido de quem o detm est na
obrigao de exerc-lo, sendo inadmitida a sua renncia. Assim, difere
em essncia com relao noo de poder na esfera privada, na qual o
poder faculdade de agir para quem seu titular.Por oportuno, cite-se
a lapidar lio, como de costume, do Prof. Hely Lopes Meirelles, que
ensina:Se para o particular o poder de agir uma faculdade, para o
administrador pblico uma obrigao de atuar, desde que se apresente o
ensejo de exercit-lo em benefcio da comunidade. que o Direito
Pblico ajunta ao poder do administrador o dever de
administrar.Assim, conclui-se que pouca margem de deciso subsisti
ao agente quando surge a oportunidade (dever) de agir. Disto
resulta que a omisso da autoridade ou o silncio administrativo
ocorridos quando seu dever atuar gerar a responsabilizao do agente
omisso, autorizando a obteno do ato no realizado por via judicial,
em regra, por intermdio de mandado de segurana, quando ferir
direito lquido e certo do interessado.3 PODERES DO ADMINISTRADOR
PBLICOJ se viu que aos agentes pblicos so concedidos poderes, para
que bem desempenhem sua funo de elemento concretizador da vontade
do Estado. A despeito da controvrsia que o assunto gera, faz-se
necessrio abordar aqueles mais relevantes, com base na doutrina
majoritria.3.1 Poder Discricionrio: impossvel a Lei prever todas as
condutas a serem adotadas pelo Administrador frente s situaes
concretas que se apresentam e que exigem pronta soluo. Dessa
maneira, a Lei faculta ao administrador a possibilidade de adotar
uma dentre vrias (ou pelo menos mais de uma) condutas possveis, a
qual deve estar alinhada ao melhor atendimento do interesse pblico,
o que resulta num juzo discricionrio por parte do responsvel pelo
ato, o qual, de forma alguma, pode ser confundido com um livre
arbtrio, pois a Administrao Pblica, ao revs dos particulares de
modo geral, s pode fazer aquilo que a Lei lhe determina
(atuao/poder vinculado vide item 3.2 abaixo) ou autoriza. Neste
ltimo caso que h discricionariedade. De toda forma, em ambas as
situaes (vinculao ou discricionariedade), a conduta do agente deve
estar pautada na legalidade, em nenhuma hiptese admitindo-se aes
que desbordem tal limite, faltando ao administrador pblico, por
conseguinte, a possibilidade de escolher livremente, da forma que
melhor entender (livre arbtrio), uma vez que limitado, SEMPRE, pela
Lei. Por tudo, pode-se afirmar que arbitrariedade , para a
Administrao Pblica, sinnimo de ilegalidade.Afirma, com razo, o
Prof. Jos dos Santos Carvalho Filho:convenincia e oportunidade so
os elementos nucleares do poder discricionrio. A primeira indica em
que condies vai se conduzir o agente; a segunda diz respeito ao
momento em que a atividade deve ser produzida. Registre-se, porm,
que essa liberdade de escolha tem que se conformar com o fim
colimado na lei...A lio auto-explicativa, sendo desnecessrios
comentrios adicionais.Ainda que discricionrios, os atos praticados
pela Administrao no refogem, de maneira alguma, ao controle
judicial. Conforme se viu em captulo prprio, os elementos do ato
administrativo so 5: competncia, finalidade, forma, motivo e
objeto. Os 3 primeiros so sempre vinculados, ou seja, sobre estes o
agente no possui liberdade quanto deciso a forma de agir. A
discricionariedade, quando existente, reside nos dois ltimos,
motivo e objeto, que constituem o que a doutrina denomina de mrito
administrativo, existente nos atos discricionrios. Assim, mais fcil
ao Poder Judicirio o controle daqueles 3 primeiros elementos, dada
a sua vinculao. Quanto ao motivo e ao objeto, o Julgador (Juiz ou
Tribunal) deve agir com cautela: no se admite que o controle
judicial invada a competncia que, por lei, foi reservada ao
Administrador, sob pena de ofender o princpio republicano da
separao dos poderes. No possvel, portanto, o Judicirio controlar o
mrito da deciso administrativa, desde que esta seja produzida
dentro dos limites da lei. De qualquer forma, o Judicirio tem se
utilizado dos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade,
dentre outros fundamentos, para coibir excessos na
discricionariedade administrativa. razovel a conduta que respeite
critrios aceitveis do ponto de vista racional, ou seja, que leve em
conta o senso comum de pessoas equilibradas, sensatas e prudentes.
No se admite, assim, que a Administrao adote condutas bizarras,
incoerentes, ou seja, em sntese, desarrazoadas6.A proporcionalidade
pode ser traduzida como a adeqabilidade entre os meios utilizados e
os fins pretendidos. Se a conduta do Administrador no respeita tal
relao, ser excessiva, portanto, desproporcional. A idia central da
proporcionalidade que ningum obrigado a suportar restries em sua
liberdade ou propriedade que no sejam imprescindveis ao atendimento
do interesse pblico.Pelo exposto, verifica-se que a apreciao do ato
do Administrador sob a tica da razoabilidade e da proporcionalidade
amplia a atuao do Judicirio, possibilitando a apreciao de atos que,
sob o manto da discricionariedade, consubstanciam verdadeiros
abusos de poder, podendo-se afirmar, por conseguinte, que o mrito
administrativo uma faixa de liberdade cada vez mais estreita ao
Administrador Pblico.3.2 Poder VinculadoTambm chamado de regrado, o
Poder Vinculado aquele conferido por Lei Administrao para a prtica
de atos nos quais a liberdade de atuao mnima, ou mesmo inexiste.
Difere em essncia do Poder e, por conseqncia, dos atos
administrativos discricionrios, nos quais h maior liberdade de
atuao da Administrao.Nos atos vinculados, todos os elementos que o
compem (competncia, finalidade, forma, motivo e objeto) no podem
ser valorados pela Administrao, a qual no goza de liberdade para a
prtica de atos vinculados. Da por que alguns autores considerarem
que no existe Poder Vinculado, uma vez que esse no encerra
prerrogativa do Poder Pblico, mas mera restrio atuao
administrativa, constituindo, quando muito, atributos de outros
poderes da Administrao. Essa a posio defendida por Maria Sylvia di
Pietro, por exemplo.3.3 Poder RegulamentarConforme j dito, no
haveria como o legislador prever todas as solues tcnicas a serem
adotadas frente s situaes reais enfrentadas pela Administrao
Pblica. Tampouco caberia a este mesmo legislador tornar exeqvel
todas as normas que edite. A tarefa tornar-se-ia por demais
onerosa, mesmo desvirtuando o sentido de abstrao e generalidade
inerentes s normas legais. Incumbe Administrao, ento,
complement-las, criando os mecanismos para sua efetiva implementao.
Essa constitui a principal caracterizao do Poder Regulamentar, o
qual, na lio do Prof. Jos dos Santos, pode ser conceituado como
aprerrogativa conferida Administrao Pblica de editar atos gerais
para complementar as leis e permitir sua efetiva implementao.
Ressalte-se ainda que, com acerto, alguns autores preferem falar em
Poder Normativo ao invs de Poder Regulamentar, uma vez que este
representa apenas uma das formas pelas quais se expressa aquele,
coexistindo com outras. Adota essa posio, por exemplo, a Profa.
Maria Sylvia di Pietro.3.3.1 Natureza do Poder
RegulamentarConstitui prerrogativa de direito pblico, dado que
conferido aos rgos que tem por responsabilidade a gesto de
interesses pblicos. o Poder Regulamentar, ainda, de natureza
derivada, somente exercido com base em lei anterior. As leis, de
sua parte, so normas originrias, arrimando-se diretamente na
Constituio.3.3.2 Materializao do Poder RegulamentarBasicamente, a
formalizao do Poder ora tratado se d por meio dos regulamentos e
decretos. Nessa linha, estatui o inc. IV, art. 84 da CF que compete
ao Presidente da Repblica expedir decretos e regulamentos7para a
fiel execuo das leis. Em decorrncia do princpio da simetria
constitucional, os Chefes de Executivos dos Estados possuem a mesma
prerrogativa.Outras autoridades, como os Ministros, podem editar
atos normativos (inc.II, nico, art. 87, CF).Tambm h possibilidade
de outras entidades, tais como as agncias reguladoras, assim
procederem. Para ambos os casos, evidentemente, h que se preservar
os limites postos pelo princpio da legalidade.3.3.3 Limites do
Poder RegulamentarO Legislador no pode, sob pena de ofensa ao
princpio de separao dos poderes, delegarin totum(integralmente) sua
competncia legiferante ao executivo. Nessa situao, ocorreria uma
delegao legislativa em branco, tida por inconstitucional pelo STF,
e, assim, inaceitvel em nosso sistema jurdico.Mesmo naquelas
matrias de alta dose de tecnicidade, a delegao concedida para a
Administrao regulament-las dever ser limitada. Assim, o Legislativo
poderia, por exemplo, determinar regras bsicas, enquanto
Administrao caberia a regulamentao tcnica, de maior complexidade,
de acordo com parmetros estabelecidos na norma. A Administrao no
pode, portanto, a pretexto de regulamentar norma, criar direito,
introduzindo novidade no mundo jurdico, dado que este papel cabe ao
Legislativo, este sim, possuidor da prerrogativa de produzir
novidades jurdicas.3.3.4 Decretos e Regulamentos: de Execuo,
autnomos e autorizados.Osdecretos/regulamentos de execuoso regras
jurdicas gerais, abstratas e impessoais, concebidas em funo de uma
lei, para lhe dar fiel execuo e referentes atuao da Administrao. No
mbito federal, a competncia para expedio desses decretos do
Presidente da Repblica ( nico, art. 84),sendo tal competncia
indelegvel. Fundamento bsico para a edio de decretos de execuo que
estes devem ser editados em funo de uma Lei que futuramente exigir
a participao da Administrao na sua efetivao. Assim, no seria
razovel, ou mesmo legal, a Administrao, sob a argumentao de uso do
Poder Regulamentar, expedir decretos de execuo em razo de normas
que nada tem a ver com o exerccio de suas atribuies, tais como
alguns dispositivos de direito comercial, por exemplo.Osdecretos
autnomosforam reintroduzidos em nossa ordem jurdica por intermdio
da Emenda Constitucional 32/2001. A partir da promulgao desta,
compete ao Presidente da Repblica dispor, mediante decreto, sobre:
a) organizao e funcionamento da administrao federal, quando no
implicar aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos; b)
extino de funes ou cargos pblicos, quando vagos. Ressalte-se que, a
despeito do que estabelece a alneaa, a criao e extino de Ministrios
e rgos da Administrao Pblica continua a depender de Lei (art. 88,
CF). So duas situaes distintas, ento: tratando-se de
organizao/funcionamento da administrao federal (alneaa), competncia
do Presidente da Repblica, por meio de decreto (autnomo),
competncia que delegvel, nos termos do art. 84, nico da CF/88; j a
criao/extino de Ministrios matria a ser tratada em lei.Por
fim,decretos/regulamentos autorizadosso os que complementam
disposies de uma lei, em razo de expressa determinao contida nessa
mesma norma para que o Executivo assim proceda. Ressalte-se, ainda
que repetitivamente, a impossibilidade da Administrao prover por
meio de atos administrativos situaes cuja regulamentao exija a edio
de Lei.3.3.5 Controle dos Atos RegulamentaresA regra geral que os
atos regulamentares (ou mesmo no regulamentares) devem ser
praticados sem vcios. Veremos, contudo, em captulo prprio
(referente aos Atos Administrativos), que, sob certas
circunstncias, podem ser corrigidos (convalidados, a expresso
correta) certos vcios. Nesse sentido, levando em conta a regra
geral, verifica-se a existncia de uma srie de instrumentos ou
mecanismos que visam coibir tal prtica nociva de se editar atos
ilegais.Inicialmente, diga-se que, conforme o inc. V, art. 49 da
CF, compete exclusivamente ao Congresso Nacionalsustar os atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
ou dos limites de delegao legislativo. Tal controle visa
nitidamente impedir a usurpao da competncia legiferante do poder
que, constitucionalmente, a detm, ou seja, visa restringir a invaso
de competncia do Legislativo pelo Executivo.Com relao ao controle
judicial dos atos regulamentares, este variar conforme a natureza
destes e em razo norma infringida. No caso de conflito com a lei, o
ato regulamentar estar sujeito ao controle de legalidade. De outra
parte, o ato regulamentar poder ser submetido ao controle de
constitucionalidade, desde que ofenda diretamente a Lei Maior.
Nesta situao, no haver lei subordinadora do ato regulamentar
editado, o qual ser qualificado como autnomo, podendo ser impugnado
por intermdio da Ao Direta de Inconstitucionalidade, permissiva da
invalidao dos atos que ofendem diretamente a constituio. Assim,
conclui-se que s so passveis de controle direto de
constitucionalidade os atos regulamentares normativos e autnomos.
Nessa linha, j decidiu o STF:Ao Direta de Inconstitucionalidade
Objeto Decreto. Uma vez ganhando contornos de verdadeiro ato
autnomo, cabvel a ao direta de inconstitucionalidade8.Por fim,
quando a Administrao deixar de regulamentar lei que para produo dos
seus efeitos exija, imprescindivelmente, a edio de ato normativo
prprio, os destinatrios do ato no editado podero utilizar o mandado
de injuno, para gozar todas as vantagens que seriam decorrentes.
Para tanto, a Lei produzida dever ter fixado prazo para sua
regulamentao, o qual, por sua vez, transcorrer em branco quanto
publicao do decreto regulamentar. Tal sada jurdica justificada,
pois a omisso do Executivo no poderia inviabilizar direitos
estabelecidos em norma editada pelo Legislativo. Ressalte-se que a
omisso do ato normativo tem que se referir a direitos de ordem
constitucional, que encontram supedneo no art. 5, inc. LXXI,verbis:
conceder-se- mandado de injuno sempre que falta de norma
regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerente nacionalidade,
soberania e cidadania.3.4 Poder HierrquicoNas relaes hierrquicas
vislumbra-se vnculo de subordinao entre rgos e agentes que
componham a relao de direito em questo. A despeito de ser inerente
ao Executivo, no se pode afirmar que as relaes hierrquicas se
restrinjam a este no mbito da Administrao Pblica. De fato, onde
ocorra o desempenho da funo administrativa poder ocorrer uma relao
hierrquica, mesmo no Legislativo ou no Judicirio. Mas, quando os
membros desses dois poderes estiverem exercendo suas funes tpicas,
de legislar ou de judicar (funes legislativa e jurisdicional,
respectivamente), inexiste hierarquia. No h, portanto, hierarquia
entre parlamentares ou membros da magistratura. o poder hierrquico
que permite Administrao distribuir e escalonar as funes de seus
rgos, ordenar e rever a atuao de seus agentes, estabelecendo a
relao de subordinao entre os servidores do seu quadro de pessoal9.
Nota-se, desse modo, a ntima relao existente entre o Poder
Hierrquico e o Disciplinar, a ser visto logo abaixo. Do Poder
Hierrquico resultam, ainda, as prerrogativas dos superiores de
ordenar, fiscalizar, rever, delegar ou avocar, com relao aos
subordinados.Ordenarimplica impor ao subordinado a conduta a ser
adotada diante do caso concreto. Consigne-se que o dever de
obedincia do subordinado no ser absoluto: nos casos em as ordens
emanadas pelos superiores foram manifestamente ilegais no h que se
cumpri-las. A afirmativa encontra amparo mesmo no texto da atual
Carta Magna, que estabelece, em seu art. 5, inc. II queningum ser
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, seno em virtude
de lei.Regra no mesmo sentido est contida na Lei 8.112/90, que
estabelece o Regime Jurdico dos Servidores Pblicos da Unio, ao
estatuir, no inc. IV, art. 116, que o servidor obrigado a cumprir
com as ordens que lhes so dadas,salvo quando manifestamente
ilegais.Fiscalizarsignifica verificar se a conduta dos subordinados
se coaduna com o que dispem as normas legais e regulamentares, bem
como em relao s diretrizes fixadas pelos agentes
superiores.Revisarimplica a apreciao pelos superiores quanto aos
aspectos dos atos praticados pelos inferiores, no sentido de
mant-los ou invalid-los. A reviso ocorrer de ofcio (iniciativa da
Administrao) ou por provocao do interessado, e s poder ocorrer at
quando o ato ainda no tenha se tornado definitivo para a
Administrao ou no tenha gerado direito adquirido para o
Administrado.Delegarconsiste na transferncia de atribuies de um rgo
a outro no aparelho administrativo10. No admitida com relao a atos
polticos, bem como de um Poder para outro, salvo nos casos
constitucionalmente previstos (por exemplo, no caso de lei
delegada). Em nvel federal, h, hoje, norma que trata de tal
instituto, a Lei 9.784/99, a ser tratada no captulo referente ao
Processo Administrativo.Avocar a possibilidade que tem o superior
de trazer para si as funes exercidas por um subalterno. medida
excepcional, que s pode ser realizada luz de permissivo legal e que
desonera o subordinado com relao qualquer responsabilidade
referente ao ato praticado pelo superior. No pode ser avocada,
destaque-se, a atribuio expressamente dada por lei a certo rgo ou
agente, como no caso dos julgamentos de licitaes pelas comisses
competentes.Finalmente, de se registrar que no se deve confundir
vinculao com subordinao. Enquanto a primeira tem carter externo e
conseqncia do controle que as pessoas federativas tm sobre as
pessoas administrativas que compem a administrao indireta, a ltima
de carter interno, estabelecida entre rgos de uma mesma entidade,
como decorrncia do poder hierrquico. Assim, a relao da Unio com uma
de suas autarquias de vinculao destas para com aquela, enquanto que
a relao de uma diviso de um Ministrio (rgos criados) com relao ao
prprio Ministrio de subordinao.3.5 Poder DisciplinarPode-se afirmar
que o Poder Disciplinar decorre, em boa medida, do escalonamento
hierrquico verificado no exerccio da atividade administrativa. Com
efeito, se ao superior dado poder de fiscalizar os atos dos
subordinados, nada mais lgico que, em verificando o descumprimento
de ordens ou normas, tenha a possibilidade de impor as devidas
sanes que a conduta infratora exija.Por oportuno, consigne-se o
ensinamento de Hely Lopes Meirelles, que conceitua o Poder
Disciplinar comofaculdade de punir internamente as infraes
funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas disciplina dos
rgos e servios da Administrao. Cabem algumas pequenas observaes com
relao ao conceito.
O termo faculdade contido na definio do Mestre poderia dar a
impresso de que se trata de deciso discricionria da autoridade, a
qual avaliaria a convenincia em agir. No o . Em verdade, trata-se
de um poder-dever, que obriga a autoridade a apenar o infrator,
caso a sano a ser aplicada esteja na esfera de sua competncia. Para
ratificar o afirmado, basta ver o que estabelece o art. 143 da Lei
8.112/90, que estatui o denominado Regime Jurdico dos Servidores
Pblicos Civis da Unio, Autarquias e Fundaes Pblicas:A autoridade
que tiver cincia de irregularidade no servio pblico obrigadaa
promover sua apurao imediata.... Deixar de promover a necessria
apurao de uma infrao que tenha conhecimento poder implicar
responsabilidade criminal ao Administrador, pelo que se v do art.
320, do Cdigo Penal, que cuida dos crimes contra a Administrao
Pblica:Deixar o funcionrio, por indulgncia, de responsabilizar
subordinado que cometeu infrao no exerccio do cargo, ou, quando lhe
falte competncia, no levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente... O assunto ser retomado com maior minudncia no captulo
Agentes Pblicos, mas deixe-se claro o seguinte: caso a autoridade
tenha conhecimento de infrao cometida por seu subordinado, dever
determinar sua apurao11.Deixe-se registrado, ainda, que no h de se
confundir o Poder Disciplinar, administrativo, com o Poder punitivo
do estado. Enquanto aquele de ordem interna, abrangendo as infraes
relacionadas ao servio, este realizado pelo Poder Judicirio, e
refere-se represso de crimes e contravenes, com tipos estabelecidos
nas leis penais. Tambm digno de nota que, em determinadas situaes,
h possibilidade de uma mesma infrao levar punio administrativa e
penal, sendo que a primeira de menor severidade, por assim dizer,
com relao ltima. Assim, certas infraes implicaro apenas sanes
administrativas, no alcanando conseqncias na esfera penal.
Observe-se que, por no terem uma tipicidade to rgida quanto as
sanes penais, as condutas administrativas infratoras permitem
autoridade valorar quanto penalidade administrativa a ser aplicada.
Aqui, sim, pode-se afirmar que h uma certa discricionariedade
relativa no agir da autoridade aplicadora, a qual, de toda forma,
deve se ater ao princpio da adequao punitiva, aplicando sano
adequada ao caso verificado.Por derradeiro, consigne-se que nos
atos de punio disciplinar sempre dever haver motivao, que pode ser
entendida como a exposio dos motivos, de fato e de direito, que
levaram aplicao da sano disciplinar. Ainda que de forma resumida, a
motivao dever ocorrer, como condio de validade do ato sancionatrio.
Tal providncia encontra-se positivada, por exemplo, na Lei
8.112/90, que estabelece no art. 128, nico:o ato de imposio da
penalidade mencionar sempre o fundamento legal e a causa da sano
disciplinar12.3.6 Poder de PolciaO conceito de Poder de Polcia
encontra-se positivado no art. 78 do Cdigo Tributrio Nacional -
CTN, que em seu art. 78 estabelece:considera-se poder de polcia a
atividade da administrao pblica que, limitando ou disciplinando
direito, interesse ou liberdade, regula a prtica de ato ou absteno
de fato, em razo de interesse pblico concernente segurana, higiene,
ordem, aos costumes, disciplina da produo e do mercado, ao exerccio
de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do
Poder Pblico, tranqilidade pblica ou ao respeito propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos. O conceito encontra-se contido
no CTN em razo do exerccio do Poder de Polcia constituir fato
gerador de taxas, em virtude do que dispe a CF/8813. Pode-se,
afirmar, ento, que indevida a cobrana de tarifa em decorrncia do
Poder de Polcia. De fato, a tarifa caracteriza-se por ser preo
pblico, tendo natureza negocial e contratual, adequada para
remunerar servios pblicos econmicos, no adequando-se, portanto,
instituio em razo do poder polcia.Ainda que de preciso jurdica, o
conceito dado pelo CTN por demasiado extenso, razo pela qual
opta-se, mais uma vez, por conceito dado pelo Prof. Hely Lopes
Meirelles, que assim o faz: Poder de polcia a faculdade de que
dispe a Administrao Pblica para condicionar e restringir o uso e
gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefcio da
coletividade e do prprio Estado. E explica o autor:em linguagem
menos tcnica, podemos dizer que o poder de polcia o mecanismo de
frenagem de que dispe a Administrao Pblica para conter os abusos do
direito individual. Em resumo, o Poder de Polcia consiste na
limitao do uso do exerccio dos direitos individuais, quando assim
exigir o interesse pblico. Evidentemente, h que se ter em conta
certos limites para o exerccio de tal mister, em razo das condies
verificadas. Passa-se, ento, anlise dos principais pontos
referentes ao Poder de Polcia.3.6.1 Sentido Amplo e EstritoDe forma
ampla, Poder de Polcia abrange todas as aes do Estado que impliquem
a limitao de direitos individuais. Aqui, relevante o papel do Poder
Legislativo, ao qual incumbe a funo precpua de criar o direito,
dado que apenas por lei pode-se impor obrigaes ou proibies, o que
constitui princpio constitucional, haja vista queningum ser
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de
lei(art. 5, II, CF, o j citado e conhecido princpio da reserva
legal).Estritamente, ao se referenciar o Poder de Polcia quer-se
tratar de atividades administrativas que culminam no uso pelos
agentes da administrao das prerrogativas que lhe foram concedidas e
que tenham por resultado a restrio e o condicionamento da liberdade
e propriedade. Aqui, a atuao da administrao ocorre dentro dos
limites estabelecidos pelas Leis, preexistentes quanto ao efetivo
uso do Poder de Polcia. Por oportuno, cite-se o comando contido no
nico do art. 78 do CTN, que estatui como regular o uso do poder ora
abordadoquando desempenhado pelo rgo competente nos limites da lei
aplicvel, com observncia do processo legal e, tratando-se de
atividade que a lei tenha como discricionria, sem abuso ou desvio
de poder.3.6.2 Polcia Administrativa e Judiciria.O poder
policialesco do Estado pode ocorrer em duas reas: na administrativa
e na judiciria.APolcia Administrativa atividade da Administrao que
se exaure em si mesma, ou seja, com incio e fim no mbito da funo
administrativa, levada a efeito por rgos administrativos e
incidindo basicamente sobre asatividadesdos indivduos. JPolcia
Judiciriaatua na preparao da atuao funo jurisdicional penal, sendo
executada por rgos de segurana (polcia civil de um estado, a
exemplo), referindo-se aoindivduo, ou seja, aquele que poderia
cometer um ilcito penal.Evidentemente, h ilcitos penais que
repercutiro na esfera administrativa, assunto o qual ser abordado
oportunamente em vrios pontos deste texto14. De toda forma, a ttulo
de esclarecimento, exponha-se a lio da Profa. Maria Sylvia di
Pietro: ...a linha de diferenciao est na ocorrncia ou no de ilcito
penal. Com efeito, quando atua na rea de ilcito puramente
administrativo (preventiva ou repressivamente) a Polcia
Administrativa. Quando o ilcito penal praticado, a Polcia Judiciria
que age. Como exemplo de polcia administrativa pode-se citar a
fiscalizao de atividades de comrcio, sobre condies de estocagem de
alimentos, etc. Quando h investigao criminal, com a audincia de
testemunhas, inspees e percias, por exemplo, esto a se desenvolver
atividades de Polcia Judiciria, aps o trmino das quais os elementos
devero ser enviados ao Ministrio Pblico, para a adoo das
providncias pertinentes.Outro critrio adotado para diferenciao
entre as Polcias Administrativa e Judiciria seria quanto a seu
carter: quando preventivo, trata-se de atividade de polcia
administrativa; quando repressivo, de polcia judiciria. Tal
critrio, contudo, deve ser relativizado.A Polcia Administrativa
tambm atua repressivamente quando, por exemplo, apreende arma usada
indevidamente ou quando interdita um estabelecimento comercial. J
os agentes da Polcia Judiciria podem agir, e modo preventivo, de
modo a evitar a prtica de delitos. Em resumo, pode-se afirmar: a
Polcia Administrativa reveste-se,eminentemente,de carter
preventivo, mas, sob determinadas circunstncias, ter carter
repressivo.3.6.3 Competncia para ExerccioA princpio, o critrio para
determinao de competncia para o exerccio do Poder de Polcia o que
diz respeito ao poder de regular a matria, o qual, por sua vez,
arrima-se no princpio de predominncia do interesse. Assim,
aproveitando os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles:os assuntos de
interesse nacional ficam sujeitos regulamentao e policiamento da
Unio; as matrias de interesse regional sujeitam-se s normas e
polcia estadual; os assuntos de interesse local subordinam-se aos
regulamentos edilcios e ao policiamento administrativo
municipal15.No caso de invaso de competncia de um por outro ente,
ou pessoa, que no detenha atribuio constitucional para regular a
matria, o ato de polcia ser invlido, j que ilegitimamente
praticado. Em verdade, muita confuso a esse respeito tem sido feita
e importa ao intrprete da norma, com base no caso concreto,
identificar a quem cabe o exerccio do poder de polcia, caso tenha
sido levantada dvida quanto titularidade. Para ilustrar o afirmado,
veja-se o seguinte exemplo: de acordo com a Smula 19 do Supremo
Tribunal de Justia STJ, compete Unio regular o horrio de
atendimento bancrio. De outro lado, fixa a recente Smula 645 do
Supremo Tribunal Federal STF, competncia para os municpios para
fixao do horrio para funcionamento de lojas comerciais. Desse modo,
a depender da situao, incumbir a um ou outro ente poltico a
competncia para exerccio do poder de polcia.3.6.4 Poder de Polcia
Originrio e DelegadoPor estar se tratando, em essncia, da polcia
administrativa, apenas a esta estaremos nos referindo.
Doutrinariamente, o Poder de Polcia pode ser dividido em originrio
e delegado.De maneira originria,o Poder de Polcia exercido pelas
pessoas polticas do Estado (Unio, Estados e Distrito Federal e
Municpios), abarcando os atos administrativos praticados por
estas.Ocorre que o poder pblico, sabidamente, no age exclusivamente
por rgos e agentes internos a sua estrutura. Quando o poder de
polcia levado a efeito pelas pessoas administrativas do Estado,
componentes da Administrao indireta, em decorrncia de delegao
(outorga) legal da entidade estatal a qual pertence est-se diante
do poder depolcia delegado. Duas so as condies para validade dessa
delegao:Deve decorrer de lei formal, oriunda do regular exerccio da
funo Legislativa;
O delegatrio (aquele que recebe a delegao) deve ser integrante da administrao indireta, devendo possuir, ainda, personalidade jurdica de direito pblico.
Observe-se que a doutrina inadmite outorga do poder de polcia a pessoas da iniciativa privada, sem vnculo oficial com os entes pblicos, dado que tais pessoas no possuem o poder de imprio (ius imperii), prprio e privativo do Poder Pblico.3.6.5 Limites e ExtensoEm razo do contnuo aumento das atividades estatais, o que tem se observado o proporcional aumento nas atividades de polcia administrativa, alcanando as mais diversas reas, tais como: proteo moral e aos bons costumes, controle de publicaes, sade pblica, etc. A regra para definir a rea de abrangncia da polcia administrativa a seguinte: verificando-se relevante interesse da coletividade ou do Estado, ocorre a possibilidade, de maneira correlata, do exerccio do Poder de Polcia Administrativa para a proteo desses interesses.De outra parte, no poderia ser ilimitado o exerccio do Poder de Polcia, haja vista que esse no poderia fulminar direitos da sociedade e dos indivduos, de modo geral. Assim, tm-se como limites do Poder de Polcia: os direitos do cidado, prerrogativas individuais e liberdades pblicas asseguradas na Constituio e nas leis16.Outros pressupostos de limitao do Poder ora estudado so a proporcionalidade dos atos de polcia, bem como a observncia do devido processo legal.Em decorrncia da proporcionalidade, que pode ser entendida como a adequada relao entre a medida restritiva e o benefcio a ser atingido, a deciso adotada pela autoridade no poder ultrapassar o necessrio para atingimento do benefcio desejado pela coletividade, sendo desproporcional o ato de polcia praticado com abuso de poder (a ser visto logo a seguir), podendo ser corrigido pela atuao do Poder Judicirio. No por outra razo que Celso Antnio Bandeira de Mello ensina:mormente no caso de utilizao de meios coativos, que, bem por isso, interferem energeticamente com a liberdade individual, preciso que a administrao se comporte com extrema cautela, nunca se servindo de meios mais enrgicos que os necessrios obteno do resultado pretendido pela lei, sob pena de vcio jurdico que acarretar responsabilidade da Administrao.Por fim, para a aplicao das sanes decorrentes do Poder de Polcia deve ser observado o devido processo legal (due process of law), garantindo-se ao administrado o direto ampla defesa, assegurado constitucionalmente (art. 5, LIV e LV, CF).3.6.6 Atributos ou CaractersticasTrs so os atributos costumeiramente apontados pela doutrina no que se refere aos atos resultantes do exerccio regular do poder de polcia: discricionariedade, auto-executoriedade e coercibilidade.Adiscricionariedadesignifica que a Administrao detm razovel liberdade de atuao no exerccio do Poder de Polcia. Dentro dos limites dados pela lei, a Administrao poder valorar critrios de convenincia e oportunidade para a prtica dos atos de polcia, determinando critrios para definio, por exemplo, de quais atividades ir fiscalizar, bem como as sanes aplicveis em decorrncia de uma certa infrao, as quais, lgico, devem estar previstas em lei. A regra que atividade de polcia administrativa discricionria, mas, sob determinadas circunstncias, ser vinculada. o caso das concesses de licena, que ato administrativo vinculado e definitivo, por meio do qual a Administrao reconhece o direito subjetivo de um particular prtica de determinada atividade, a partir do preenchimento de certas condies necessrias ao gozo desse direito. No h que se confundir a licena com o alvar, pois este apenas se apresenta como uma das formas de exteriorizar a licena. O assunto ser novamente abordado, diga-se, quando se tratar dos atos administrativos em espcie, em captulo prprio.Assim, pode-se afirmar que a regra a discricionariedade do exerccio do Poder de Polcia, mas nada impede que este, sob determinadas situaes, seja vinculado.Aauto-executoriedadeconsiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execuo pela prpria Administrao, independentemente de ordem judicial17. pressuposto lgico do exerccio do Poder de Polcia, sendo necessria para garantir agilidade s decises administrativas no uso desse poder. Contudo, a auto-executoriedade no est presente em todos os atos decorrentes do poder de polcia administrativa. Com efeito, no caso, por exemplo, das multas, permite-se, de maneira auto-executria, apenas a imposio destas, mas no a sua cobrana, a qual dever ser realizada por meio da ao adequada na esfera judicial. Em razo disso, parte da doutrina opta por desdobrar o atributo da auto-executoriedade em dois: a exigibilidade(privilge du pralable) e a executoriedade(privilge daction doffice).Em decorrncia da exigibilidade, a deciso administrativa constante de um ato de polcia se impe ao administrado, independentemente de sua concordncia. Para fazer valer esse instituto, a Administrao pode lanar mo de meios indiretos de coao, tais como as multas ou a impossibilidade de licenciamento de veculo, enquanto no pagas as multas anteriores.Pela executoriedade, haver coao direta, ou material, do administrado para a prtica de um ato. H executoriedade, por exemplo, na dissoluo de uma reunio ocorrente em determinado local. de se concluir, portanto, em consonncia com a abalizada lio de Maria Sylvia di Pietro quea exigibilidade est presente em todas as medidas de polcia, mas no a executoriedade (privilge daction doffice).No se confunda auto-executoriedade das sanes de polcia com punio sumria e sem defesa, a qual s pode ser aplicada nos casos urgentes, que imponham risco iminente sade ou segurana pblica. o que ocorre, por exemplo, na interdio de estabelecimentos que, por sua estrutura fsica, estejam a ameaar a vida das pessoas, ou na apreenso e destruio de alimentos imprprios para o consumo humano.Por fim, tem-se o atributo dacoercibilidade. Em razo deste, as medidas adotadas pela Administrao no exerccio do Poder de Polcia podem ser impostas de maneira coativa aos Administrados. A imposio coercitiva tambm independe de prvia manifestao judicial. De todo modo, frente a pretenses que podero sofrer forte resistncia dos particulares, a Administrao poder,a priori, demandar manifestao do Judicirio, no intuito de diminuir essa resistncia. Tal situao comum, por exemplo, na interdio de prdios que, em decorrncia de suas instalaes fsicas, sejam inseguros para o exerccio de certas atividades. De qualquer maneira, o particular insatisfeito com a atuao administrativa poder levar a situao apreciao do Poder Judicirio, a quem competir, ltima forma, decidir sobre a questo discutida. A coercibilidade justifica, ainda, o uso da fora fsica no caso de resistncia do administrado, a qual dever ser proporcional tal resistncia.Bom registrar que nem todo ato de polcia dotado de coercibilidade: de fato, as licenas, autorizaes e permisses, decorrentes do poder de polcia, contam com a concordncia do destinatrio do ato, da dizer que, nestes atos, no h falar em coercibilidade.3.6.6 Sanes decorrentes do Poder de PolciaAs sanes administrativas so os atos punitivos que resultam de uma infrao administrativa, a serem aplicadas por rgos da Administrao. Quando decorrer do Poder de Polcia, constituiro, obviamente, sanes de polcia. Devem guardar origem na lei, em face do princpio da legalidade, no podendo ser institudas, originariamente, por meio de atos administrativos. Em razo da abordagem elucidativa, exponha-se o julgado do Tribunal Regional Federal 1Regio:Portaria no instrumento adequado a, originariamente, prescrever infraes e sanes administrativas, de modo que, somente a lei, em sentido formal e material, pode descrever a infrao e impor penalidades.A ttulo de exemplo, podem ser citadas as seguintes sanes administrativas, em decorrncia do exerccio do Poder de Polcia: as multas, a interdio de atividades, demolio de construes irregulares, inutilizao de gneros, apreenso de objetos; etc.4 USO E ABUSO DO PODEROs Poderes concedidos aos agentes para o bom desempenho de suas atribuies de interesse pblico devem ser usados com normalidade, dentro dos contornos da lei. No pode a autoridade, por achar-se no uso legtimo dos poderes que lhe foram cometidos, desbordar dos limites estabelecidos Para que no sejam invalidados, os atos das autoridades e dos agentes em geral devem, ento, ser legtimos, legais e morais, atendo-se, em qualquer espcie, aos interesses pblicos da coletividade. Ao mau uso do poder, de forma desproporcional, ilegal, ou sem atendimento do interesse pblico, constitui oabuso de poder, que pode ocorrer de duas formas18:O agente atua fora dos limites de sua competncia; e,
O agente, embora dentro de sua competncia, afasta-se do interesse pblico que deve nortear todo o desempenho administrativo.
No primeiro caso, verifica-se oexcesso de poder, com o agente
pblico exorbitando das competncias que lhe foram atribudas,
invadindo competncias de outros agentes, ou praticando atividades
que no lhe foram conferidas por lei. O vcio aqui de competncia,
tornando o ato arbitrrio, ilcito e nulo.Na segunda situao, embora o
agente esteja atuando no raio de sua competncia, pratica ato
visando fim diverso do fixado em lei ou exigido pelo interesse
pblico. Ocorre, ento, o que a doutrina costumeiramente chama
dedesvio de poder ou de finalidade. Consequentemente, o vcio do
ato, nesse caso, no de competncia do agente, mas de finalidade. Em
duas acepes pode ocorrer essa violao da finalidade: de forma ampla,
quando o ato praticado ofende genericamente o interesse pblico,
como a concesso de vantagens pecunirias a um grupo de servidores,
ou de forma especfica, quando o ato, por exemplo, desatende o
objetivo prevista em norma, tal como no j clssico exemplo da remoo
de ofcio do servidor como forma de punio do mesmo. Tal figura
jurdica [a remoo] tem por fim o atendimento de necessidade do
servio, e no poderia, com intuito diverso, ser utilizada como forma
de punio do servidor, sob pena de invalidao por desvio de
finalidade.Ento, em rpida sntese, o abuso de poder gnero, do qual
so espcies o excesso de poder e o desvio de poder ou de finalidade,
com as caractersticas apontadas acima.1Manual de Direito
Administrativo Jos dos Santos Carvalho Filho.2No captulo referente
aos Agentes Pblicos ser feita a necessria diferena entre agentes
pblicos e administrativos: estes so espcie da qual aqueles so
gnero.3A improbidade, inclusive, fato motivador de demisso do
servidor pblico, conforme se extrai do art. 132 da Lei
8.112/90.4Controle de Resultados, sistema de mrito, etc.5Por
exemplo: possibilidade de firmatura de contratos de gesto entre o
Poder Pblico e seus rgos e entidades, visando a propiciar um maior
controle de resultados de suas atividades ver art. 37, 8, da Carta
Maior.6Conforme as idias de Celso Antnio Bandeira de Mello, em seu
Curso de Direito Administrativo.7Alguns autores, por conseqncia,
afirma que o Poder Regulamentar caberia s aos Chefes do
Executivo.8Adin 1396-3 (informativo STF, no. 98)9Conforme Hely
Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro.10Dicionrio
de Direito Administrativo Jos Cretella Jnior.11No determinando a
apurao, a autoridade poder sujeitar-se, ainda, responsabilizao por
improbidade administrativa, pelo que estatui o inc. II, art. 11, da
Lei 8.429/92.12Tambm se encontra disposio nesse sentido no art. 50,
inc. II da Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo na
Administrao Pblica Federal. Estabelece o dispositivo:Os atos
administrativos devero ser motivados, com indicao dos fatos e dos
fundamentos jurdicos, quando: I - ...; II -imponham ou agravem
deveres, encargos ou sanes; ...13Art. 145, II, alm do art. 77 do
mesmo CTN.14No captulo referente aos Agentes Pblicos, por
exemplo.15Informa a repartio de competncias o princpio da
predominncia de interesses16De acordo com a posio de Jos Cretella
Jnior.17Com base em Hely Lopes Meirelles.18De acordo com o prof.
Jos dos Santos Carvalho Filho.
RESUMO
Os poderes da Administrao soinstrumentais, ou seja, so instrumentos conferidos Administrao e empregados apenas para o atendimento do interesse pblico. Exceder os limites das atribuies ou desviar das suas finalidades constitui abuso de poder e, consequentemente, prtica de ato ilcito.O poder administrativo conferido autoridade para remover interesses particulares que se opem ao interesse pblico.Poder-Dever de Agir o administrador pblico tem o dever de agir, ele tem por obrigao exercitar esse poder em benefcio da comunidade. Esse poder irrenuncivel.Dever de Eficincia cabe ao agente pblico realizar suas atribuies com presteza, perfeio e rendimento funcional.Dever de Probidade a Administrao poder invalidar o ato administrativo praticado com leso aos bens e interesses pblicos. A probidade elemento essencial na conduta do agente pblico necessria a legitimidade do ato administrativo.Dever de Prestar Contas o dever de todo administrador pblico prestar contas, decorrncia da gesto de bens e interesses alheios, nesse caso de bens e interesses coletivos.Excesso de Poder ocorre quando o agente extrapola os limites de sua competncia, pratica o ato mesmo no tendo competncia para isso.
Desvio de Finalidade ocorre quando o administrador abandona a finalidade indicada na lei e busca atender outra diversa da estatuda na norma que autoriza a sua atuao (Princpio da Indisponibilidade do Interesse Pblico).
A Administrao Pblica no pode renunciar os poderes conferidos ela. H umdever de agir,o exerccio obrigatrio e indeclinvel.Espcies
Poder Vinculado- aquele conferido pela lei Administrao para a prtica de ato de sua competncia, ficando determinados os elementos e os requisitos necessrios a sua formalizao.
Poder Discricionrio- a Administrao tem liberdade de escolha da convenincia, oportunidade e contedo do ato.
Poder Normativo o poder conferido aos chefes do Executivo para
editar decretos e regulamentos com a finalidade de oferecer fiel
execuo lei. No se deve confundir regulamentos com a lei, no podendo
contrariar, restringir ou ampliar suas disposies.Constituio Federal
Art.84. Compete privativamente ao Presidente da Repblica:
IV sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execuo;
Poder Disciplinar- o exercido pela Administrao para apurar as
infraes dos servidores e das demais pessoas que ficarem sujeitas
disciplina administrativa. O poder disciplinar no pode ser
confundido com o poder punitivo do Estado, que exercido pela Justia
Penal, ele s abrange as questes relacionadas ao servio pblico.
Entretanto, uma mesma infrao pode dar ensejo a uma punio
administrativa e a criminal.O poder disciplinar da administrao no
est sujeito a prvia definio sobre a infrao funcional e a respectiva
sano. O administrador age segundo sua discricionariedade, ou seja,
aplicar a sano que achar cabvel, oportuna e conveniente, dentre as
que estiverem enumeradas em lei ou regulamento para as infraes
administrativas.
As penas disciplinares no nosso Direito Administrativo so:
advertncia, suspenso, demisso, cassao de aposentadoria ou
disponibilidade, destituio de cargo em comisso e destituio de de
funo comissionada.
Aqui tambm no se dispensa a ampla defesa do acusado e a motivao da
punio disciplinar sempre imprescindvel para a validade da pena.
Poder Hierrquico juntamente com o poder disciplinar, o poder
hierrquico sustentam a ordem administrativa. atravs do poder
hierrquico que a Administrao escalona a funo de seus rgos, rev a
atuao de seus agentes e estabelece a relao de de subordinao entre
seus servidores. A hierarquia existe no Poder Executivo.
O poder hierrquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e
corrigir as atividades administrativas, no mbito interno da
Administrao.
Poder de Polcia- a atividade do Estado que limita os direitos
individuais em benefcio do interesse pblico, ou seja, o mecanismo
de frenagem de que dispe a Administrao Pblica para conter os abusos
do direito individual. O interesse pblico est relacionado com a
segurana, moral, sade, meio ambiente, consumidor, propriedade,
patrimnio cultural.
Razo do poder de polcia interesse social.
Fundamento princpio da predominncia do interesse pblico sobre o
particular, supremacia geral que o Estado exerce em seu territrio
sobre todas as pessoas, bens e atividades.
Objeto todo bem, direito ou atividade individual que possa afetar a
coletividade ou por em risco a segurana nacional, exigindo
regulamentao, controle e conteno pelo Poder Pblico.
Finalidade proteo ao interesse pblico.
Extenso muito ampla, abrange desde a proteo moral e aos bons
costumes, a preservao da sade pblica, at a segurana nacional.
Limites so demarcados pelo interesse social em conciliao com os
direitos fundamentais individuais, atravs de restries impostas s
atividades do indivduo que afetam a coletividade.
Atributos discricionariedade (livre escolha de oportunidade e
convenincia), auto-executoriedade (decidir e executar diretamente
sua deciso sem a interveno do Judicirio) e coercibilidade (imposio
coativa das medidas adotas pela Administrao).
Meios de Atuao preferentemente preventiva atravs de ordens e
proibies, sobretudo por meio de normas limitadoras e sancionadoras
de conduta daqueles que utilizam bens ou exercem atividades que
possam afetar a coletividade.
Sanes so impostas pela prpria Administrao em procedimentos
administrativos compatveis com as exigncias do interesse pblico,
respeitando a legalidade da sano e a sua proporcionalidade
infrao.
Condies de Validade a competncia, a finalidade e a forma,
acrescidas da proporcionalidade de sano e da legalidade dos meios
empregados pela Administrao.