OS SACRAMENTOS NO ITINERÁRIO CATEQUÉTICO
Carlos Cabecinhas
Elemento fundamental e constitutivo da vida cristã, os sacramentos assumem um
papel especial na catequese, pois esta pretende ser precisamente uma iniciação das
crianças e adolescentes a essa vida cristã.
Os sacramentos, o credo, o Pai nosso e os mandamentos eram os “pilares” da
iniciação cristã dos adultos. Muito naturalmente, são também os conteúdos fundamentais
da catequese da infância e adolescência. Quanto aos sacramentos, vão surgindo ao longo
o itinerário catequético, nos seus 10 anos. Claro que, no 2º Ano se insiste sobretudo na
Eucaristia e na Reconciliação, pois é a ocasião de preparar as crianças para a participação
nesses sacramentos. De igual modo, o 10º Ano dá particular atenção à Confirmação, em
ordem à sua celebração. Há, contudo, dois anos da catequese que apresentam o
conjunto dos sete sacramentos de forma sistemática: o 3º e o 10º Ano.
Vamos por partes. Daremos especial relevo aos sacramentos da iniciação cristã,
pela sua especial relação com o sentido da própria catequese da infância e adolescência.
Depois, veremos os outros sacramentos. Por fim, uma palavra sobre outras celebrações
previstas nos catecismos e sobre o ritmo do ano litúrgico na catequese.
1. Iniciação cristã: conceito, natureza e configuração
A catequese tem uma muito especial relação com os sacramentos da iniciação
cristã: Baptismo, Confirmação e Eucaristia. De facto, a catequese de crianças e
adolescentes mais não pretende ser que a possibilidade de uma caminhada de fé, de
uma “iniciação”, que os adulto que são baptizados fazem antes do Baptismo. Da
Eucaristia já falámos. Falta agora referir o Baptismo e a Confirmação.
1.1. A Iniciação cristã: o conceito
“Não nascemos cristãos, mas tornamo-nos cristãos” (Tertuliano, escritor do século II).
Por muito cristã que seja a nossa família de origem, nenhum de nós nasceu cristão:
tornámo-nos cristãos. Diz o Catecismo da Igreja Católica: “Desde o tempo dos
Apóstolos que tornar-se cristão é programa que se processa através de um
itinerário e de uma iniciação em diversas fases. O itinerário (...) deverá sempre
incluir certos elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do
Evangelho que implica a conversão, a profissão de fé, o Baptismo, a infusão do
Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística” (n.º 1229). Esquematicamente, a
iniciação cristã comporta:
- O anúncio do Evangelho e o seu acolhimento, que implica a conversão a Jesus Cristo
e a profissão de fé – evangelização e catequese;
- Todo um itinerário, mais ou menos longo, de aprofundamento dessa fé em Jesus
Cristo, que nasceu do anúncio e da conversão - catecumenado;
- Celebração dos três Sacramentos da iniciação cristã – Baptismo, Confirmação e
Eucaristia.
A expressão “iniciação cristã” pode, entender-se em sentido estrito, entendendo-se a
celebração no decurso da qual se recebem os sacramentos do Baptismo,
Confirmação e Eucaristia, como sacramentos que fundamentam a existência cristã.
Em sentido lato, a expressão “iniciação cristã” designa o conjunto do processo que
vai da entrada no catecumenado até à celebração dos três referidos sacramentos.
Nos primeiros séculos da Igreja, a iniciação entendia-se prevalentemente no
sentido estrito. Hoje, é sobretudo neste sentido lato que se emprega a expressão
“iniciação cristã”, designando um processo de incorporação de alguém, mediante os
três sacramentos da iniciação, no mistério de Cristo e na comunidade crente, a
Igreja. Entendida em sentido estrito, sublinha-se a acção de Deus, que é quem,
através da Igreja, inicia / introduz o crente no mistério de Cristo. O sentido lato da
expressão sublinha sobretudo a progressividade de tal iniciação: exige tempo,
caminhada progressiva, um processo complexo.
1.2. Catequese e iniciação cristã
Como sublinha o número citado do Catecismo (n.º 1229), se este itinerário tem o seu
ponto máximo na celebração dos 3 sacramentos (Baptismo, Confirmação e
Eucaristia), supõe um primeiro anúncio da Palavra de Deus e supõe o acolhimento
do Evangelho e a conversão, isto é, a adesão pessoal a Jesus Cristo. Neste
itinerário, a celebração dos Sacramentos está, pois, intimamente unida à
catequese. Esta relação entre catequese e Sacramentos foi sublinhada pelo Papa
João Paulo II: “A catequese está intrinsecamente ligada a toda a acção litúrgica e
sacramental, pois é nos Sacramentos, sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age
em plenitude na transformação dos homens. (...) A catequese conserva sempre
uma referência aos Sacramentos; toda a catequese leva necessariamente aos
Sacramentos da fé. Por outro lado, a autêntica prática dos Sacramentos tem
forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental
empobrece-se e depressa se torna ritualismo oco, se não estiver fundado num
conhecimento sério do que significam os Sacramentos. E a catequese intelectualiza-
se, se não for haurir vida na prática sacramental” (Exortação Apostólica Catechesi
Tradendae, 23). Ora, é precisamente na iniciação cristã que melhor se manifesta
esta íntima relação entre Sacramentos e catequese. Por isso, o Directório Geral da
Catequese, n.º 66, afirma: “A catequese é um elemento fundamental da iniciação
cristã e está estreitamente ligada aos sacramentos de iniciação, de modo particular
ao Baptismo”.
A Igreja dos primeiros séculos concedeu uma importância excepcional a este itinerário de
iniciação cristã, e instituiu o catecumenado como caminho habitual para tornar-se
cristão. A palavra catecumenado vem da palavra grega “Katechein”, que significa
instruir através da palavra ou fazer ressoar. Da mesma raiz vem também a palavra
catequese. Este itinerário catequético e sacramental era composto de várias etapas
e possibilitava uma autêntica iniciação ao Evangelho, à vida cristã e à vivência
litúrgica.
1.3. Unidade da iniciação cristã: um “grande Sacramento”
Desde a mais antiga tradição eclesial que o culminar da iniciação cristã se encontra na
celebração conjunta dos chamados “Sacramentos da iniciação”. Estes 3
sacramentos não devem ser encarados como realidades autónomas, desligados uns
dos outros e do conjunto do processo de iniciação cristã. São como que um “grande
Sacramento”; formam um conjunto sacramental, que aparece bem em evidência na
iniciação cristã de adultos: nesse caso o catecúmeno recebe, numa mesma
celebração, os 3 sacramentos de forma unitária. Não quer isto dizer que não se
distingam os sacramentos uns dos outros: distinguem-se claramente, mas são
recebidos em conjunto.
Nesse conjunto sacramental, os dois primeiros sacramentos orientam para a Eucaristia.
“Do Baptismo à Eucaristia é um único processo que se desenrola por etapas: trata-
se de tornar-se plenamente membros do corpo eclesial de Cristo pela participação
no seu corpo eucarístico; trata-se de tornar-se eclesialmente o que se recebe
sacramentalmente. O Baptismo, «completado» pela Confirmação, está inteiramente
ordenado à Eucaristia”1. Compreende-se, pois, que a ordem não seja aleatória ou
secundária: Baptismo e Confirmação só se orientam para a Eucaristia, se for
conservada a sua ordem, que é também ordem de sentido, já que a Confirmação
não se pode compreender senão em ligação com o Baptismo.
Ora, é precisamente esta questão da unidade dos Sacramentos da iniciação cristã que
hoje é mais problemática. A progressiva separação da Confirmação do Baptismo,
primeiro, e a exigência da “idade da razão” para a participação na primeira
Eucaristia, mais tarde, pulverizaram, na prática, tal unidade que, teoricamente
(teologicamente, entenda-se) se mantém... Hoje, para a maior parte dos cristãos,
alterou-se a ordem dos Sacramentos (Baptismo – Eucaristia – Confirmação) e
acrescentou-se, no meio, um Sacramento que nunca pertenceu à iniciação cristã
(Penitência ou Reconciliação).
1 L.-M. CHAUVET, «Les Sacrements de l’initiation chrétienne», em J. GELINEAU (dir.), Dans vos assemblées, Desclée, 21998, 227.
1.4. A mesma iniciação, mas dois itinerários: os adultos e as crianças
Actualmente, a iniciação cristã tem duas configurações distintas: uma para adultos, outra
para as crianças. Um adulto que pretenda ser baptizado, faz toda uma caminhada
catecumenal, no fim da qual recebe, na mesma celebração, os três Sacramentos da
iniciação cristã. Para esta situação, há um livro litúrgico próprio: o Ritual da
Iniciação Cristã de Adultos.
Quando um cristão é baptizado em criança, o itinerário é bem diferente. Uma vez que a
caminhada catequética e catecumenal não se fizeram antes, têm lugar depois do
Baptismo. E nessa situação, altera-se normalmente a ordem da recepção dos
Sacramentos, por motivos pastorais. Esquematicamente: Baptismo – Catequese –
[Penitência ou Reconciliação] – Eucaristia – Catequese – Confirmação. Nesta
situação, a unidade deste “grande Sacramento”, que é a iniciação cristã, fica
bastante obscurecida... Para este itinerário, existem dois livros litúrgicos: o Ritual
da Celebração do Baptismo das Crianças e o Ritual da Celebração da Confirmação.
Quer um, quer outro destes dois livros litúrgicos continuam a sublinhar a unidade
destes três Sacramentos. “Os três sacramentos da iniciação, de tal modo estão
unidos entre si, que, por eles, os fiéis chegam ao seu pleno desenvolvimento, e
exercem a missão de todo o povo cristãos na Igreja e no mundo” (Celebração do
Baptismo das Crianças, 2). O Ritual da Confirmação, por sua vez, sublinha que este
Sacramento tem o seu lugar natural depois do Baptismo: “Os baptizados
prosseguem o itinerário de iniciação cristã pelo sacramento da Confirmação”
(Celebração da Confirmação, 1).
Além destes dois itinerários típicos, há outros, ligados ao processo de iniciação cristã dos
adultos. É o caso dos adultos que se preparam para a Confirmação (cf. RICA,
capítulo IV), aos quais deverá ser proposto um itinerário inspirado no
catecumenado de adultos. Nestes casos, se a pessoa ainda não fez a primeira
comunhão, deverá fazê-la necessariamente na celebração em que é confirmado.
Uma outra situação é a das crianças em idade de catequese que pedem o
Baptismo. Para estas, o Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (capítulo V) prevê um
itinerário adaptado às suas idades: com uma preparação própria (e não apenas a
catequese das crianças da sua idade) e a celebração do Baptismo e primeira
Eucaristia na mesma celebração (a não ser que obstem motivos pastorais), bem
como a Confirmação, se pastoralmente for considerado oportuno.
1.4.1. Iniciação cristã dos adultos
É a SC que estabelece a restauração do catecumenado. Nessa linha, é publicado, em
1972, o Ritual para a Iniciação cristã de Adultos (RICA), que apresenta um
itinerário catecumenal de iniciação. A configuração actual do processo de iniciação
cristã dos adultos é a seguinte (RICA, 6-7):
a) Pré-catecumenado (RICA, 9-13) — depois do primeiro anúncio do Evangelho e da
adesão pessoal a Jesus Cristo, os candidatos manifestam o seu desejo de serem
admitidos ao catecumenado; depois de um exame prévio sobre as suas motivações e
disposições, os candidatos são admitidos como catecúmenos, diante da comunidade
cristã, que assume também o encargo de os acompanhar e ajudar.
b) Catecumenado propriamente dito (RICA, 14-20) — período de 2 ou 3 anos,
orientado para uma catequese integral; nesta etapa de formação e de prova, escuta-
se a Palavra de Deus, partilham-se experiências, reza-se... No início desta etapa,
mais propriamente no rito de admissão ao catecumenado, tem lugar a entrega dos
Evangelhos àqueles que foram acolhidos na comunidade cristã como catecúmenos
(RICA, 93), símbolo da sua adesão a Jesus Cristo e da sua determinação em viver de
acordo com a sua vontade.
c) Tempo de purificação e de iluminação (RICA, 21-26) — esta etapa, que decorre
na última Quaresma antes do Baptismo, orienta-se para uma preparação mais
intensa da celebração dos sacramentos da iniciação cristã; nesta etapa, depois dos
Escrutínios, faz-se a entrega ou “Tradição do Símbolo” (RICA, 183-187.194-199) e a
entrega ou “Tradição da Oração Dominical” (RICA, 188-192). Completada a instrução
dos catecúmenos, recebem da Igreja os documentos que são considerados o
compêndio da fé da Igreja (a Tradição do Símbolo, isto é, do Credo) e da sua oração
(a tradição da Oração Dominical, do pai Nosso).
d) Celebração dos Sacramentos da iniciação cristã. Todo o processo culmina com a
celebração dos Sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal (ou pelo menos numa
celebração de carácter claramente pascal). Nesta situação, o adulto recebe os três
sacramentos na mesma celebração. Não podendo o Bispo estar presente, dará
autorização ao presbítero para que seja ele o ministro deste Sacramento.
e) Tempo da mistagogia (RICA, 37-40) — se a etapa anterior é quaresmal, esta é
pascal; os neófitos, plenamente inseridos na comunidade cristã, são guiados por essa
comunidade nos seus primeiros passos como cristãos, através da catequese
mistagógica (RICA, 37-40), que ajuda a interiorizar os mistérios celebrados e a
descobrir a riqueza dos Sacramentos de Iniciação.
É importante ter sempre presente que é a iniciação cristã de adultos que é a referência
para a iniciação das crianças, e não o contrário (apesar de ser muito maior o número de
crianças que recebem o Baptismo). O itinerário de iniciação das crianças está pensado
como uma adaptação do itinerário dos adultos, e não vice versa.
1.4.2. Iniciação cristã das crianças
Entre nós, o Baptismo das crianças tornou-se, de longe, a forma habitual de celebração
deste sacramento. Ora, em tal contexto, não é possível realizar o catecumenado,
como parte da iniciação cristã. Então, como se realiza a iniciação cristã das crianças
já baptizadas? Na celebração do Baptismo estão já presentes, de forma muito
abreviada, as fases preliminares dessa iniciação. Mas isso não basta: é o itinerário
catequético e sacramental que se desenvolve na infância e adolescência que
permite a realização completa desta iniciação. Assim, “por sua própria natureza, o
Baptismo das crianças exige um catecumenado pós-baptismal”, diz o Catecismo da
Igreja Católica (n.º 1231). E continua: “Não se trata apenas da necessidade de
uma instrução posterior ao Baptismo, mas do desenvolvimento necessário da graça
baptismal no crescimento da pessoa. É o espaço próprio da catequese”. O DGC
(1997) acolhe esta mesma perspectiva, considerando a catequese como “elemento
fundamental da iniciação cristã”, “estreitamente ligado aos sacramentos da
iniciação cristã, de modo particular ao Baptismo” (n.º 66). “O objectivo da
catequese [das crianças baptizadas] é fazer descobrir e viver as imensas riquezas
do Baptismo já recebido” (nota 18 do n.º 66). A catequese de iniciação, o
catecumenado, não é uma instrução preliminar, mas parte integrante dos próprios
sacramentos de iniciação2.
Como afirmaram os Bispos, na Mensagem ao Povo de Deus, do Sínodo sobre a
catequese, de 1977: “o modelo de toda a catequese é o catecumenado baptismal”
(n.º 8). Esta inspiração catecumenal implica que a catequese seja verdadeiramente
um processo de iniciação cristã integral.
Tudo isto pode parecer muito teórico e distante da nossa realidade, mas não é
verdade: basta reparar que, por exemplo, as mais importantes festas previstas pelos
catecismos provêm precisamente daqui.
1.5. As celebrações do itinerário catequético e a iniciação cristã
As principais celebrações não litúrgicas, previstas e propostas pelos nossos catecismos,
correspondem a momentos fundamentais do itinerário catecumenal, do itinerário de
iniciação cristã. Vejamos:
a) 1ª fase - 1º Ano: a Festa do Pai Nosso, embora “ainda não tenha raízes na
tradição catequética recente, é proposta na linha da famosa «traditio» do
antigo itinerário catecumenal”, diz o Guia do Catequista3. Isto é, o catecismo
coloca explicitamente esta festa na linha da entrega do Pai Nosso própria do
catecumenado.
b) 2ª fase: a entrega do Novo Testamento ou da Bíblia e a Festa da Palavra,
coroamento da caminhada desta fase, pode ver-se em relação com a entrega
dos Evangelhos, que se realiza na entrada no catecumenado, embora os
catecismos desta fase (3º e 4º Ano) não façam referência explícita a isso.
c) 3ª fase: a entrega do Credo e a Profissão de Fé têm pontos de contacto
com a entrega do Símbolo da Fé, prevista para a fase quaresmal do
catecumenado.
2 Cf. J. RATZINGER, Teoría de los princípios teológicos, Herder, Barcelona 1986, 40. 3 Cf. S.N.E.C., Jesus gosta de mim – Guia do catequista, Lisboa 1991, 159.
O sentido destas três festas. Desde o tempo dos Apóstolos que tornar-se cristão é
programa que se processa através de um itinerário e de uma iniciação em diversas fases.
A Igreja dos primeiros séculos concedeu uma importância excepcional a este itinerário de
iniciação cristã, e instituiu o catecumenado como caminho habitual para tornar-se
cristão. Este itinerário era composto de várias etapas e possibilitava uma autêntica
iniciação ao Evangelho, à vida cristã e à vivência litúrgica. A base e fundamento deste
itinerário era a Palavra de Deus. Por isso, simbolicamente, eram solene e publicamente
“entregues” aos catecúmenos os quatro Evangelhos: os bispo fazia a apresentação e
introdução a cada um dos Evangelhos e confiava-os simbolicamente àqueles que queriam
ser baptizados. Também no actual RICA esta “entrega” está prevista na celebração de
entrada no catecumenado. Os outros “pilares” ou elementos fundamentais desta
catequese são, segundo a mais antiga tradição da Igreja: o Credo ou Símbolo da fé, os
mandamentos, os sacramentos e o Pai Nosso. Destes elementos, quer o Credo, quer o
Pai Nosso são objecto de uma celebração especial: são entregues solenemente aos
catecúmenos. A entrega (traditio) realizava-se da seguinte forma: estando a comunidade
reunida, o bispo rezava o Pai Nosso, explicava o significado de cada uma das suas
afirmações e concluía, convidando os que iam ser baptizados a aprender de cor a oração
e, sobretudo, a vivê-la. Uma semana depois, os candidatos aos Baptismo “devolviam” a
oração do Pai Nosso à comunidade: rezavam (mostrando ter aprendido já a oração)
diante da comunidade. Ora, foi este rito que esteve na base desta “festa do Pai Nosso”. O
mesmo acontecia com o Credo: o bispo entregava o Credo ou símbolo da fé aos
catecúmenos, que o “devolviam” (recitavam de cor) posteriormente. Será esta a origem
da actual entrega do Credo e da Profissão de Fé nos catecismo (embora, de facto, o
catecismo não o diga explicitamente).
Em relação com o Baptismo e a vivência baptismal se deve ver e situar também a
chamada “Festa da Luz”. Foi pelo nosso Baptismo que nos tornámos “filhos da luz”,
como nos diz S. Paulo:
“Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Pois todos os
que fostes baptizados em Cristo estais revestidos de Cristo” (Gal 3, 26-27).
Quando fomos baptizados, revestimo-nos de Cristo, luz da vida. Tornámo-nos “filhos de
Deus” e “filhos da luz”. Esta celebração é um convite a experimentar Cristo como nossa
luz: no Baptismo fez-nos “homens novos”, “novas criaturas”, deu-nos a sua vida,
revestiu-nos da sua luz. Por este motivo, um dos nomes mais antigos e tradicionais do
Baptismo é “iluminação”. Por este motivo ainda, no dia do nosso Baptismo, foi acesa uma
vela, que os nossos pais ou padrinhos seguraram em nosso nome e que vós segurastes
para os vossos filhos. Aos adultos, quando são baptizados, é-lhes dito, quando recebem
a vela do Baptismo acesa: “Agora sois luz de Cristo. Caminhai sempre como filhos da luz.
Permanecei firmes na fé...” No caso do Baptismo de crianças, é aos pais que é confiado o
encargo de velar por essa luz.
Na celebração, as crianças experimentam a realidade das trevas, para
descobrirem, logo de seguida, Cristo como “Luz da vida”; descobrem que, pelo Baptismo,
também eles receberam essa luz e que devem agora viver como “filhos da luz”. No dia
do seu Baptismo, foram pais que receberam, por elas, o símbolo dessa luz, a vela acesa.
Agora, na celebração, são eles a transmitir aos pais essa luz de Cristo.
2. O Baptismo
2.1. Uma estrutura celebrativa comum aos diferentes itinerários
Os diferentes itinerários possíveis para a celebração do Baptismo, agora
apresentados, podem esquematicamente reduzir-se a dois: o Baptismo de adultos e o de
crianças. Apesar de itinerários distintos, há uma estrutura comum, que importa destacar.
O primeiro elemento é o acolhimento e entrada na Igreja. A Igreja acolhe e
acompanha aqueles que querem tornar-se cristãos. No caso de adultos, o acolhimento
segue-se ao anúncio da Palavra e à conversão, quando o candidato é admitido ao
catecumenado, e é feito diante da comunidade, pela signação na testa. Este acolhimento
vai sendo renovado pela Igreja, em cada etapa, até à celebração dos Sacramentos da
iniciação cristã. No caso das crianças, este rito de acolhimento, com a signação, é o
primeiro momento da celebração do Baptismo.
Um segundo elemento é a escuta da Palavra de Deus. É claro que a entrada no
catecumenado pressupõe já a escuta do primeiro anúncio e a conversão. Porém, todo o
itinerário de iniciação será marcado pela escuta da Palavra de Deus: antes da entrega
dos Evangelhos, antes do chamamento e eleição dos catecúmenos, antes da celebração
do Baptismo; o RICA prevê ainda várias celebrações da Palavra para o tempo do
catecumenado. No caso do Baptismo das crianças é o segundo momento da celebração,
depois do acolhimento.
Um outro elemento são os exorcismos. Realizados na celebração dos escrutínios,
no caso dos adultos, ou por meio de uma prece de intercessão, no decorrer da própria
celebração do Baptismo, no caso das crianças, os exorcismos indicam que toda a vida
cristã é um combate contra o mal, a exemplo de Cristo, para o qual precisamos da ajuda
divina.
O rito do «Effetha» e a unção com o óleo dos catecúmenos normalmente têm
lugar, no caso dos adultos, no decorrer do último período do catecumenado; no caso das
crianças, no decorrer da própria celebração.
Quanto aos restantes elementos, quer se trate de adultos quer de crianças, têm
lugar na celebração do Baptismo, pela mesma ordem.
2.2. A celebração do Baptismo das crianças4
O tempo da celebração. Não há dias fixos em que tenha de se celebrar este
sacramento, mas dada a sua natureza pascal, o seu tempo mais próprio é de facto a
Vigília pascal e o Domingo. Assim o exprimem os Preliminares do RBC:
“Para manifestar a natureza pascal do Baptismo, recomenda-se que
o Sacramento seja celebrado na Vigília Pascal ou ao Domingo, dia em que
a Igreja comemora a ressurreição do Senhor. Ao Domingo, o Baptismo
poderá ser celebrado dentro da Missa, para que toda a comunidade possa
estar presente ao rito e para mais claramente se manifestar a relação entre
o Baptismo e a Santa Eucaristia” (n.º 9).
A Vigília Pascal é sempre celebração baptismal: não só tem uma liturgia
baptismal, com a oração de bênção da água (mesmo não havendo baptismos), mas
também as leituras da Palavra de Deus são profundamente baptismais, porque pascais.
É, pois, a melhor data para a celebração deste sacramento que é a Páscoa do cristão,
daquele que é baptizado. Não tendo lugar na Vigília Pascal, o Baptismo deve
normalmente ser celebrado no Domingo, já que o Domingo é o dia da ressurreição, a
“Páscoa semanal” dos cristãos. É claro que em perigo de vida ou se existirem razões
pastorais fortes (e não de mera conveniência), se pode celebrar o Baptismo em qualquer
outro momento.
Quanto à estrutura da celebração, os seus elementos são:
1. ACOLHIMENTO 3. RITO BAPTIMAL
Diálogo inicial Bênção da água
Sinal da Cruz Renuncia e Profissão de Fé
Baptismo
Unção com o Crisma
Imposição da veste branca
2. LITURGIA DA PALAVRA Entrega da vela acesa
Leituras bíblicas «Effetha»
Homilia 4. RITO CONCLUSIVO
Oração dos Fiéis e invocação dos Santos Oração dominical
Oração de Exorcismo e unção Bênção e despedida
Os diversos ritos da celebração do Baptismo estão agrupados de acordo com o
espaço em que são realizados. Este é um aspecto a reter: a celebração prevê diversos
lugares, com o seu simbolismo próprio, que correspondem a quatro momentos, que vão
desde o acolhimento ao fundo da igreja ao corpo da igreja, daí à fonte baptismal, para
4 Cf. Catecismo 1234-1245; L.-M. CHAUVET, «Les sacrements de l’initiation chrétienne», em Dans
vos assemblées. Manuel de pastorale liturgique, dir. J. Gelineau, Desclée, s.l. 1998, 229-238.
terminar junto do Altar. Ao tratarmos dos elementos da celebração veremos o porquê
desses diferentes espaços.
O sentido e os efeitos do Baptismo no cristão aparecem claramente nestes
diversos ritos da celebração. Vejamos, então esses ritos.
A. Acolhimento. A Igreja acolhe aquele que vai ser baptizado e a sua família. O
Baptismo é o Sacramento de entrada na Igreja. A presença da Igreja manifesta-se quer
na presença do ministro ordenado, quer na assembleia litúrgica. Como a criança ainda
não pertence à Igreja, na qual vai ser incorporada pelo Baptismo, é acolhida à entrada,
junto da porta da igreja (afinal, quando acolhemos alguém em nossas casas, recebê-las
à entrada!).
Diálogo inicial. Vem depois a pergunta aos pais pelo nome da criança. Dizer o
nome da criança é, para a Igreja, apresentá-la diante de Deus, é reconhecê-la como uma
pessoa única, diferente de todos os outros. Segue-se a pergunta aos pais: “que pedis à
Igreja de Deus?” Depois, os pais e os padrinhos são confrontados com as suas
responsabilidades para com a criança que vai ser baptizada.
Sinal da Cruz (“signação”). Para selar este acolhimento, a Igreja assinala as
crianças, pela primeira vez, com o sinal da cruz, que “manifesta a marca de Cristo
impressa naquele que vai passar a pertencer-Lhe” (Catecismo 1235). Com o sinal da
cruz, feito pelo ministro do Baptismo, pelos pais e padrinhos, a criança começa a ser
configurada com Cristo.
Procissão de entrada na igreja. As crianças, marcadas com o sinal de Cristo,
podem então entrar propriamente na igreja com as suas famílias. Se o Baptismo é a
porta de entrada na Igreja, é importante que, na medida do possível, se valorize esse
aspecto com este acolhimento à porta da igreja e posterior entrada processional.
B. Liturgia da Palavra. “A celebração da Palavra de Deus tem por finalidade
despertar, antes da realização do mistério, a fé dos pais e padrinhos e das pessoas
presentes, e alcançar o fruto do sacramento mediante a oração comum”, diz o Ritual (n.º
17).
Leituras bíblicas. Esta pode ser uma Liturgia da Palavra com várias leituras e
Salmo Responsorial, ou uma Liturgia da Palavra abreviada, com apenas uma leitura do
Evangelho. Os textos do Evangelho põem em relevo o sentido do mistério celebrado: Jo
3, 1-6: o Baptismo é “nascer de novo”, “nascer do alto” (diálogo de Jesus com
Nicodemos); Mt 28, 18-20: o mandato missionário e a missão de baptizar e associa o
baptismo à missão da Igreja; Mc 1, 9-11: o Baptismo de Jesus, profecia do nosso
Baptismo; Mc 10, 13-16: “Deixai vir a Mim as criancinhas”. “Depois das leituras, o
celebrante faz uma breve homilia, para ilustrar o que foi lido, e para dispor as pessoas
presentes a entenderem mais profundamente o mistério do Baptismo e a abraçarem com
alegria a missão que dele nasce, sobretudo para os pais e padrinhos” (Ritual, n.º 45).
Oração dos Fiéis e invocação dos Santos. Segue-se a Oração dos Fiéis que,
reunidos em assembleia, imploram a bênção de Deus para as crianças que vão ser
baptizadas, para os seus pais e padrinhos e para toda a assembleia. Esta oração continua
com a invocação dos Santos (uma breve ladainha) e termina com uma oração de
exorcismo.
Exorcismo e unção pré-baptismal. “Porque o Baptismo significa a libertação do
pecado e do demónio (...) pronuncia-se sobre o candidato um exorcismo” (Catecismo
1237). Essa oração de exorcismo exprime a fragilidade da condição humana, a
necessidade de salvação, da ajuda de Deus na luta contra o mal. A esta oração segue-se
a unção com o óleo dos catecúmenos. Esta unção no peito significa que os que vão ser
baptizados recebem a força de Cristo na luta contra o mal. (Em vez da unção, por
motivos graves, o Ritual prevê que possa optar-se pelo gesto de imposição das mãos: cf.
n.º 51.88.115).
C. No baptistério. Segue-se a procissão para o Baptistério, onde se realizam os
momentos essenciais do Baptismo.
Bênção da água. “A água baptismal é consagrada por uma oração de epiclese. A
Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do Espírito Santo desça a esta água, para
que os que nela forem baptizados «nasçam da água e do Espírito» (Jo 3, 5)” (Catecismo
1238). Nesta oração de bênção, que é própria da celebração do Baptismo e da Vigília
Pascal, a água aparece como símbolo de lavagem ou purificação, símbolo de morte e
símbolo de vida.
Renúncia a Satanás e Profissão de Fé. Segue-se a renúncia a Satanás e a
profissão de fé. Não se trata de duas coisas distintas, mas de dois momentos de um acto
único. São como que o verso e o reverso de uma mesma adesão a Jesus Cristo. Sendo o
Baptismo o “sacramento da fé” a título muito especial, este momento da celebração
adquire grande importância. De facto, a Igreja sempre considerou a profissão de fé um
momento essencial do Baptismo. Esta profissão de fé é dialogada. No caso do Baptismo
de crianças, é dirigida aos pais e padrinhos, primeiros responsáveis pela educação da fé
das crianças; a assembleia associa-se a esta profissão de fé pelo “Amen” final.
Baptismo. “Segue-se o rito essencial do sacramento: o baptismo propriamente
dito, que significa e realiza a morte para o pecado e a entrada na vida do Santíssima
Trindade, através da configuração com o mistério pascal de Cristo” (Catecismo, n.º
1239). O Baptismo por imersão continua a ser o mais significativo (cf. Catecismo 1239),
mas, por motivos práticos, o modo mais habitual de baptizar consiste em derramar a
água sobre a cabeça daquele que é baptizado. No Baptismo de crianças, imediatamente
antes deste gesto, há uma pergunta dirigida aos pais e que sublinha a originalidade do
Baptismo das crianças: “Quereis, portanto que N. receba o Baptismo na fé da Igreja, que
todos, convosco, acabámos de professar?” As crianças são baptizadas na fé da Igreja;
esta pergunta acentua precisamente esse aspecto. A fórmula sublinha que o Baptismo é
acção trinitária: “Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Atrás
disse-se que os Sacramentos são sempre e primeiramente acção de Deus. É o Pai que
toma a iniciativa, salva e transforma o Baptizado, por acção do Espírito derramado sobre
o Baptizado; Cristo é o ministro principal, é quem baptiza (SC 7: quando alguém baptiza,
é o próprio Cristo que baptiza”); o Espírito transforma e faz viver.
Unção com o santo Crisma. O mistério do Baptismo e demasiado rico e profundo
para se esgotar na gesto sacramental da água: esse é o rito essencial, cujo significado é
depois significado através dos ritos que lhe seguem. É o caso da unção com o óleo do
Crisma. Esta unção significa o Dom do Espírito Santo e anuncia a Confirmação. Ungir
alguém significa que o Espírito o impregna, penetra em todo o seu ser. Esse era o
significado bíblico deste gesto. No Baptismo, o cristão é ungido pelo Espírito Santo.
Imposição da veste branca. “A veste branca simboliza que o Baptizado «se
revestiu de Cristo (Gal 3, 27): ressuscitou com Cristo” (Catecismo, n.º 1243). O branco
não é uma cor como qualquer outra: é símbolo da luz, a “cor de Deus”. Mais do que ser
símbolo da inocência e pureza da criança baptizada, o branco aparece aqui como
referência a Deus, à vida divina inaugurada no Baptismo. Recordemos o que nos diz Mc
9, 3, relatando a transfiguração do Senhor: “As suas vestes tornaram-se
resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma sobre a terra as poderia
branquear assim”. Recordemos ainda que na visão de João, em Ap 7, 9, os eleitos de
Cristo aparecem “de vestidos brancos”.
Entrega da vela acesa. “A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou
o neófito. Em Cristo, os baptizados são «a luz do mundo» (Mt 5, 14)” (Catecismo, n.º
1243). O Baptismo, na tradição cristã, sempre foi entendido como “iluminação”, e os
baptizados são convidados a viver como “filhos da luz”. Aos pais e padrinhos de uma
criança baptizada se confia o encargo de velar por essa luz, para que a criança viva, de
facto, como filho da luz.
«Effethá». Este gesto vem do próprio Jesus Cristo e pede a Deus, para o recém
baptizado, a abertura de coração necessária ao acolhimento do Evangelho. Põe ainda em
destaque o espírito missionário que deve animar o baptizado e levá-lo a professar a sua
fé “para louvor e glória de Deus Pai”.
D. Junto do altar. “A seguir (...) vai-se em procissão até ao Altar, levando
acesas as velas dos baptizados” (RBC, 67.102.127). Esta procissão é acompanhada de
um cântico baptismal ou do Magnificat. Esta procissão evoca o itinerário da iniciação
cristã: do Baptismo à Eucaristia. Este sentido é confirmado pelo Catecismo: “A Igreja
latina (...) exprime a abertura do Baptismo em relação à Eucaristia aproximando do altar
a criança recém baptizada para a oração do Pai Nosso” (n.º 1244). Esse mesmo itinerário
é evocado pelas palavras do ministro que preside, ao introduzir a Oração dominical.
Oração dominical. É junto do Altar que todos rezam a Oração do Pai Nosso, a
oração própria dos filhos de Deus. Como as crianças recém baptizadas não podem ainda
fazê-lo, é toda a comunidade reunida que, em seu nome, reza o Pai Nosso.
Bênção e despedida. A celebração termina com a bênção solene. No Baptismo de
crianças, a mãe e o pai da criança baptizada estão em particular destaque, pedindo-se
para eles a graça de Deus para que possam cumprir os seus compromisso.
Este é o desenrolar típico de uma celebração do Baptismo de crianças. Os
diversos ritos vão-nos introduzindo progressivamente no significado e na riqueza deste
sacramento.
2.3. O Baptismo de crianças: exigências e problemas5
Na maior parte dos países maioritariamente cristãos, a quase totalidade de
baptismos é de crianças, embora a situação tenha sofrido algumas alterações nos
últimos anos. Histórica e teologicamente, o Baptismo das crianças é correcto e
válido. É claro que os sacramentos supõem a fé (Catecismo, 1123) mas, não se
podendo supor a fé num recém nascido, a criança é baptizada na fé da Igreja. É
redutor afirmar que a criança é baptizada na fé dos pais e padrinhos: é baptizada
na fé da Igreja! Santo Agostinho afirmava, a propósito: “As crianças são
apresentadas para receberem a graça espiritual, não tanto por aqueles que as
levam nos braços (embora também por eles, se são bons fiéis), mas sobretudo pela
sociedade universal dos santos e dos fiéis”, isto é, pela Igreja (Carta 98, 5: AL
3447).
O Baptismo de crianças é, portanto, histórica e teologicamente correcto e válido.
Mas isso não elimina os grandes problemas que levanta a nível pastoral. Baptizar todas
as crianças, apresentando como única condição que os pais o desejem é banalizar o
sacramento6. Não se pode permitir o Baptismo indiscriminado de crianças. A
Congregação para a Doutrina da Fé, na Instrução sobre o Baptismo das Crianças (1980),
recorda que para o Baptismo das crianças, a Igreja exige “o consentimento dos pais e a
séria garantia de que a criança baptizada irá receber a educação católica” (n.º 15). Não
se pode baptizar uma criança sem que os pais assumam este compromisso. E o grande
problema reside aqui: a “séria garantia” de educação cristã posterior corre o risco de se
ficar por uma mera declaração de boa vontade, sem consequências posteriores. Por isso,
o documento continua: “Deve-se estar na posse segura de garantias de que tal dom se
possa desenvolver, mediante uma verdadeira educação na fé e na vida cristã (...) Se tais
garantias não são sérias, isso poderá constituir motivo para se adiar o Sacramento, e
dever-se-á mesmo negá-lo no caso de elas serem certamente inexistentes” (n.º 28). O
mesmo documento, nos parágrafos seguintes (29-33), apresenta algumas orientações
pastorais. Quanto à hipótese de adiar a celebração do Baptismo, o seu único fim é o de
proporcionar aos pais uma formação cristã que lhes permita assegurar o compromisso de
educar na fé o seu filho, antes do Baptismo. Se os pais não estiverem interessados nessa
catequese (que não pode ser uma ou duas reuniões, mas um itinerário sério e
relativamente prolongado), deveria negar-se o Baptismo. Mesmo nesta circunstância,
5 Cf. M. AUGÈ, L’iniziazione cristiana. Battesimo e Confermazione, LAS, Roma 2004, 233-244. 6 “É preferível protelar o baptismo conforme a condição, a disposição e também conforme a idade de
cada qual, sobretudo quando se trata de crianças. (...) Se compreendêssemos a importância do baptismo, temeríamos mais a recepção apressada do que o protelamento” (TERTULIANO, De Baptismo, 18, 4.6: AL 640).
avança-se ainda a possibilidade de inscrever a criança como catecúmeno, para que, em
idade escolar / catequética, possa frequentar a catequese e fazer o seu próprio itinerário
de iniciação.
“O problema de fundo do baptismo de crianças não é de ordem litúrgica ou
sacramental, mas sim catequético e evangelizador. Na Igreja Primitiva baptizava-se o
convertido; hoje temos de converter o baptizado, isto é, no nosso caso, os pais que
desejam baptizar os filhos, muitos dos quais são pouco crentes ou não praticantes
habituais”7.
Haveria ainda a considerar outros problemas:
— O problema dos padrinhos e da sua função, fonte de frequentes tensões...
— O problema da participação da comunidade cristã na celebração e na educação na fé
da criança (os pais não têm formação cristã... e a comunidade vive de modo a
possibilitar à criança um ambiente verdadeiramente cristão?).
2.4. O Baptismo de crianças em idade escolar. Situação distinta é a do
Baptismo de crianças em idade escolar / catequética. O Ritual da Iniciação Cristã dos
Adultos dedica um capítulo especial à iniciação destas crianças em idade de catequese
(RICA, cap. V). Trata-se, de facto, de uma situação especial: por um lado, já são capazes
de uma fé própria e não podem ser simplesmente baptizadas como os recém nascidos;
por outro lado, não devem ser tratadas como adultos, uma vez que o não são. Para estas
crianças propõe-se assim um itinerário de iniciação próprio, muito semelhante ao dos
adultos, mas adaptado às suas idades e capacidades. Os pais estão também presentes: a
eles cabe dar a palavra ao filho e ajudá-lo na sua iniciação cristã. Aliás esta é – ou pode
ser – uma ocasião única de catequese dos próprios pais.
A criança não baptizada pode incorporar-se no itinerário catequético normal das
crianças da sua idade. Isso possibilitaria a formação de uma comunidade acompanhante
do catecúmeno, formada pelo grupo de catequese (crianças e catequistas) e pelos pais.
No início do primeiro ano catequético poderia fazer-se a celebração de entrada no
catecumenado (RICA, 314-329). É claro que, para além da catequese normal, em
diversos momentos haveria encontros catequéticos específicos para a criança não
baptizada e para os pais. Algumas semanas antes do Baptismo, haveria uma caminhada
mais intensa, com as celebrações previstas com a participação da comunidade. Por fim, o
Baptismo (eventualmente, a Confirmação) e a primeira comunhão. Estes poderiam ter
lugar na Vigília Pascal, seu lugar normal, ou na mesma celebração em que os seus
colegas de catequese fizessem a sua primeira comunhão. A Confirmação poderá também
acontecer mais tarde, quando os restantes colegas a celebrarem (embora pudesse
celebrar-se conjuntamente com os outros sacramentos da iniciação cristã).
7 C. FLORISTÁN, Para compreender a paróquia, Gráfica de Coimbra, Coimbra s.d., 140.
São cada vez mais frequentes estas situações, pelo que é necessário que as
comunidades estejam atentas a estas situações e saibam criar o ambiente propício a este
itinerário de iniciação cristã.
2.5. O Baptismo nos catecismos do S.N.E.C.
Gostaria, de modo muito breve, de indicar, agora, a forma como o sacramento do
Baptismo aparece nos nossos catecismos da Infância e Adolescência. Abordarei apenas
as catequeses que tratam explicitamente do Baptismo.
1ª fase – Iniciação ao itinerário catequético: 1º ano: “Jesus gosta de mim”.
Neste catecismo, o Baptismo aparece explicitamente na catequese 22 – “somos a família
de Deus”. Como as crianças foram baptizadas de pequeninas, este primeiro ano do
itinerário catequético pretende levá-las a tomar consciência do seu Baptismo. Sendo o
Baptismo o fundamento da vida cristã, porque surge esta catequese no final do ano
catequético? Para tomarem consciência do seu Baptismo é necessário começar por
descobrir a pessoa de Jesus Cristo (1º trimestre); o núcleo da revelação cristã: Jesus
revela-nos o Pai (2º trimestre), dá-nos o seu Espírito e nós somos o grupo dos seus
amigos (3º trimestre). É neste contexto que aparece o Baptismo. Este é apresentado às
crianças como ponto de partida para participar nos dons de Deus, como entrada na
Igreja, que é a família de deus, dos seus filhos.
2ª fase – A vida do Discípulo de Jesus: 3º Ano: “Queremos seguir-Te”. Na
catequese 4 deste catecismo, o Baptismo aparece explicitamente tratado: “Pelo Baptismo
somos de Cristo”. Pelo Baptismo tornámo-nos cristãos, isto é, discípulos de Cristo. A
Palavra de Deus dá sentido ao nosso Baptismo, sacramento que faz de nós homens
novos e que revivemos na catequese. As catequeses seguintes ampliam esta temática do
baptismo: Catequese 5 – “Celebramos a luz de Cristo” (Festa da Luz): convida a viver
como filhos da luz, como consequência do Baptismo; Catequese 6 – “Somos a Igreja de
Cristo”: reflecte sobre a Igreja e convida as crianças a reconhecerem-se como pedra viva
do Templo do Senhor (da Igreja), desde o dia do seu Baptismo.
3ª fase – Aprofundamento da fé: 5º Ano – “Eu sou o vosso Deus”. Este
catecismo procura levar as crianças a ver o Antigo Testamento à luz de Jesus Cristo. O
Baptismo aparece na catequese 25 – “A água que nos dá vida”. O Baptismo é
apresentado como sacramento da entrada na comunidade dos discípulos de Jesus Cristo
ressuscitado, como sacramento pascal. Pretende levar a compreender que, pelo
Baptismo, nascemos para uma vida nova, levar a sentir a alegria de ser baptizado e a
desenvolver em cada dia essa vida nova recebida.
Os catecismos da 4ª Fase não tratam explicitamente do Baptismo.
5ª fase – Personalização da fé e compromisso cristão: 10º Ano – “Ousar Crer”.
O Baptismo surge explicitamente na Catequese 13 – “Nascer de novo”. Esta catequese
procura situar o Baptismo no conjunto dos sacramentos e, mais especificamente, no
conjunto dos sacramentos da iniciação cristã. Esta catequese apresenta ainda como
objectivos levar os adolescentes a “sentir a alegria de sermos novos em Cristo” pelo
Baptismo e a “desejar viver segundo as exigências das promessas baptismais”.
Convém ter presente que a ligação entre o sacramento do Baptismo e a catequese
não se esgota no aspecto agora abordado. Limitei-me a indicar os momentos em que se
reflecte explicitamente sobre este sacramento, mas a relação Baptismo/Catequese vai
muito além disso. Como diz o DGC: “O elo que une a catequese ao Baptismo é a
profissão de fé, que é, ao mesmo tempo, o elemento interior deste sacramento e o
objectivo da catequese” (n.º 66).
3. A Confirmação
“Com o Baptismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o
conjunto dos «sacramentos da iniciação cristã», cuja unidade deve ser salvaguardada.
Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é necessária para o
cumprimento da graça baptismal. Com efeito, «pelo sacramento da Confirmação, (os
baptizados) são mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma forma
especial do Espírito Santo e deste modo ficam obrigados a difundir e a defender a fé por
palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo» (LG 11)” (Catecismo,
1285). É com estas palavras que o Catecismo da Igreja Católica introduz o tema do
sacramento da Confirmação. Esta breve apresentação aponta as dimensões mais
importantes deste sacramento: a) a Confirmação é um dos sacramentos da iniciação
cristã e é nesse contexto que deve ser visto, isto é, em estreita relação com o Baptismo
e com a Eucaristia; b) a graça sacramental específica da Confirmação liga este
Sacramento a uma mais perfeita incorporação na Igreja (plenitude de comunhão eclesial)
e ao dom do Espírito Santo (plenitude do Espírito), em ordem a um testemunho cristão
mais autêntico (plenitude do testemunho).
É particularmente significativo que o termo Confirmação seja sempre
«confirmação do Baptismo», como já sublinhava o citado número do Catecismo.
Contudo, esta expressão é ambígua: pode exprimir um certo voluntarismo que não está
de todo ausente na forma como muitas vezes se apresenta este sacramento.
Concretizando: a Confirmação corre o risco de ser encarada prioritariamente como um
compromisso humano, uma espécie de profissão de fé solene, pela qual o confirmado
ratifica o seu Baptismo. Apresenta-se a Confirmação como o momento em que o
adolescente, o jovem ou o adulto assumem pessoalmente os compromissos baptismais,
que no Baptismo foram expressos pelos pais. Isto aparentemente não é problema;
parece uma forma de responsabilizar o que vai ser ou foi crismado. Contudo,
teologicamente é insustentável: como Sacramento que é, é sempre e primeiramente
acção e dom de Deus. É Deus que “confirma” o nosso Baptismo, que o “plenifica” e
“completa” de algum modo. É claro que este dom de Deus só poderá produzir frutos na
vida do confirmado se ele o assumir e procurar viver coerentemente com ele. Contudo, é
imperioso sublinhar que a Confirmação é primeiramente e antes de mais acção e dom de
Deus (e por isso é “Sacramento”). Dom que importa acolher e valorizar; mas dom
recebido gratuitamente.
A Confirmação tem as suas raízes bíblicas precisamente no acontecimento do
Pentecostes. Os apóstolos, “cheios do Espírito Santo”, os primeiros a receber o grande
dom do Ressuscitado, são também aqueles que comunicam esse mesmo dom do Espírito
pela imposição das mãos, “para completar a graça do Baptismo” (Catecismo, 1288). É
neste acontecimento do Pentecostes que a Confirmação encontra o seu carácter mais
específico. A Confirmação é o Pentecostes de cada cristão: por este Sacramento,
recebem hoje os cristãos a plenitude do dom do mesmo Espírito Santo que os apóstolos
receberam naquele dia. O Ritual da Confirmação afirma isto mesmo: “Os baptizados
prosseguem o itinerário de iniciação cristã pelo sacramento da Confirmação. Por ele
recebem o Espírito Santo que no dia de Pentecostes o Senhor enviou sobre os apóstolos”
(n.º 1). O gesto de imposição das mãos, abundantemente testemunhado nos escritos do
NT, tinha, entre outros, o significado de infusão do Espírito Santo. Por isso, “a imposição
das mãos é justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do
sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do
Pentecostes” (Catecismo, 1288).
3.1. A celebração da Confirmação
Quanto à celebração da Confirmação, propriamente dita, insere-se normalmente
numa solene celebração eucarística. A celebração consta, depois da homilia, da
renovação das promessas baptismais, da imposição das mãos e da crismação.
Integra-se numa Eucaristia festiva. A celebração da Confirmação integra-se
normalmente numa Eucaristia festiva em que a comunidade se reúne à volta dos
confirmandos, manifestando a ligação mais forte destes à vida e à missão da Igreja. Por
este motivo, o os Preliminares do Ritual chama a atenção para o carácter festivo e solene
que deve caracterizar a celebração (n.º 4). Além disso, esta integração na Eucaristia
sublinha a que a Confirmação é, de facto, um Sacramento da iniciação cristã: “A
Confirmação faz-se, normalmente, dentro da Missa, para que se torne mais clara a
conexão fundamental deste Sacramento com toda a iniciação cristã, que atinge o seu
ponto culminante na comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo. Deste modo, os
confirmados participam na Eucaristia, com a qual se completa a sua iniciação cristã”
(Ritual da Confirmação, 13).
A celebração segue o ritmo normal das celebrações dominicais. Depois das
leituras, os confirmandos são apresentados ao bispo e à comunidade. Segue-se a
homilia.
Profissão de fé. Depois da homilia, aqueles que vão ser confirmados são
convidados a fazer a renovação das promessas baptismais. Esta renovação faz-se pela
profissão de fé baptismal. “Assim se evidencia claramente que a Confirmação se situa na
continuação do Baptismo” (Catecismo, 1298).
Imposição das mãos. A imposição das mãos é um gesto comum a vários
sacramentos. Em geral, significa bênção, cura ou integração. O bispo (e os presbíteros
que com ele celebram) impõe as mãos sobre os confirmandos, invocando o Espírito
Santo, através de uma oração, que põe em relevo o sentido do gesto. Este gesto, na
Confirmação, exprime pois a doação do Espírito. Não sendo elemento fundamental, é de
grande importância, como sublinha o Papa Paulo VI:
“A imposição das mãos sobre os eleitos, que se faz acompanhar da oração
prescrita antes da crismação, embora não pertença à essência do rito
sacramental, deve ser tida em grande consideração, na medida em que
serve para integrar melhor o mesmo rito e para facilitar uma maior
compreensão do sacramento.” (Constituição Apostólica «Divinae
consortium naturae»: EDREL 237)
De facto, no NT era ao gesto de imposição das mãos que estava ligado o dom do Espírito
Santo.
A unção com o crisma. O Papa Paulo VI determina claramente que “o
sacramento da confirmação é conferido pelo unção do crisma na fronte, que se faz com a
imposição da mão, e pelas palavras: «Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de
Deus” (Constituição Apostólica «Divinae consortium naturae»: EDREL 237). O óleo do
Crisma tem o simbolismo de dom do Espírito Santo e exprime a comunhão com o bispo,
mesmo quando extraordinariamente não é ele a confirmar. O Ritual da Confirmação
afirma que “pela unção do crisma e pelas palavras que a acompanham, são claramente
expressos os efeitos do dom do Espírito Santo. Ao ser marcado pela mão do bispo com
óleo perfumado, o baptizado recebe um carácter indelével, marca do Senhor, juntamente
com o dom do Espírito que o configura mais perfeitamente com Cristo e lhe confere a
graça de difundir entre os homens «o bom odor»” (n.º 9).
A crismação faz-se sempre com o sinal da cruz na fronte dos confirmados. É sinal
de uma pertença e de um reconhecimento: o confirmado pertence a Cristo, está
assinalado com o seu selo. Como recorda o Catecismo, “o selo é o símbolo da pessoa,
sinal da sua autoridade (n.º 1295). Este selo do Espírito marca a nossa pertença total a
Cristo, a entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa de protecção
divina na grande prova escatológica” (Catecismo, n.º 1296).
A celebração continua, depois, com a Oração Universal ou dos Fiéis. Segue-se a
Liturgia Eucarística.
3.2. A Confirmação nos catecismos do S.N.E.C.
Tal como fizemos para o Baptismo, vamos agora voltar-nos para os nossos
catecismos da Infância e Adolescência para vermos como e quando aparece
explicitamente o sacramento da Confirmação ou temas afins.
Os catecismos da 1ª Fase não apresentam explicitamente o sacramento da
Confirmação.
2ª Fase – A vida do discípulo de Jesus: 3º Ano - Queremos seguir-Te. Neste
ano, as crianças são convidadas a descobrir o que significa ser cristão, enquanto
discípulo de Cristo: ser cristão é seguir Jesus em Igreja, é reconhecer e celebrar a
presença salvadora de Jesus (os sacramentos) e é comprometer-se com Jesus na
construção do reino de Deus. É no período entre o Natal e a Páscoa que se aprofundam
os sete sacramentos, enquanto formas privilegiadas da presença salvadora de Jesus na
vida do cristão. A Confirmação aparece na catequese 12: “Crescemos no Espírito Santo”.
Nesta catequese pretende-se que as crianças reconheçam que é o Espírito Santo dado
por Jesus que nos faz fortes na vivência cristã; vivam a catequese como autêntica
experiência do Espírito Santo; e descubram que é no sacramento da Confirmação que
recebemos de modo muito especial o Espírito Santo. Como as crianças ainda não foram
confirmadas, recorre-se ao testemunho de alguém já confirmado e que seja um membro
activo da comunidade cristã. O sacramento da Confirmação aparece claramente ligado ao
Baptismo, procurando sublinhar essa íntima relação que une estes dois sacramentos da
iniciação cristã.
3ª Fase – Aprofundamento da fé: 5º Ano - Eu sou o vosso Deus. Sendo
objectivo deste ano levar as crianças a uma visão global da história da salvação,
centrada em Jesus Cristo, não fala propriamente de cada um dos sacramentos, mas
dedica uma catequese ao Espírito Santo. A catequese 23 – “Vinde Espírito Santo”,
embora não trate explicitamente da Confirmação, fala do Espírito Santo que se comunica
aos cristãos. Um dos aspectos interessantes desta catequese é apresentar o dom do
Espírito Santo intimamente ligado ao mistério pascal de Jesus Cristo: o Espírito é o
grande Dom do Ressuscitado, é quem assegura a sua presença permanente no meio dos
seus. Esta catequese pretende levar as crianças a compreender que o Espírito Santo nos
dá a força para anunciarmos Jesus Ressuscitado; convida as crianças a estarem atentas
aos sinais da presença do mesmo Espírito na nossas vidas e a estarem disponíveis para a
sua acção.
4ª Fase – Busca do sentido cristão da vida: 7º Ano – Ele caminha connosco.
Tal como acontece no catecismo do 5º Ano, também este não trata explicitamente do
sacramento da Confirmação, mas dedica uma catequese ao Espírito Santo: a catequese
13 – “O Espírito, dom do Ressuscitado”. Tal como a catequese analisada antes, também
esta situa o mistério do envio do Espírito Santo unido intimamente ao mistério pascal de
Jesus Cristo. São objectivos desta catequese ajudar os adolescentes a descobrir o
Espírito Santo como Dom do Ressuscitado e a criar uma atitude de acolhimento à sua
força renovadora.
5ª Fase – Personalização da fé e compromisso cristão: 10º Ano – Ousar crer.
Tal como o catecismo do 3º Ano, também este trata explicitamente de cada um dos sete
sacramentos. A Confirmação aparece na catequese 14 – “A alegria de ser testemunha”.
Esta catequese começa por convidar os adolescentes a fazer uma verdadeira experiência
da presença invisível, mas real, do Espírito nas suas vidas. Esta experiência parte da
promessa do dom do Espírito feita por Jesus Cristo aos seus e da experiência que os
apóstolos fizeram desse mesmo Espírito nas suas vidas. Esta experiência conduz à
Confirmação, apresentada como “sacramento do Espírito Santo”, “da configuração mais
perfeita com Cristo”, “do compromisso eclesial” e “do testemunho cristão no mundo”. A
catequese pretende não só instruir os adolescentes sobre o sacramento da Confirmação,
mas também levá-los ao desejo de viver segundo o Espírito e a dar cada dia mais frutos,
os frutos do Espírito Santo. Também merece referência a última catequese: catequese 18
– “Celebração do envio”. Por ocasião da celebração do Pentecostes, o grupo é convidado,
como etapa importante da sua caminhada de fé, a fazer uma celebração do envio, na
presença dos pais e da comunidade cristã. O envio, isto é, a participação na missão da
Igreja, aparece claramente unido ao envio do Espírito Santo no Pentecostes. É no
catecismo do 10º Ano que a Confirmação é mais aprofundada e não é sem motivo que
começa pelo dom do Espírito Santo e só depois se foca o compromisso cristão, como sua
consequência. Nunca será demais sublinhar este aspecto: a Confirmação, como
sacramento que é, é sempre acção de Deus! O nosso compromisso existe na
Confirmação, como nos outros sacramentos, como consequência, conformidade e
coerência com o dom recebido.
A Confirmação celebra-se habitualmente no final deste itinerário catequético,
mas não obrigatoriamente. O que significa que pode adiar-se para mais tarde a sua
celebração, quer por impossibilidade do bispo, quer por conveniência pastoral, por se
considerar ser necessário ainda algum tempo de catequese mais intensa e de
amadurecimento da fé por parte dos adolescentes.
4. Penitência
A Penitência e Reconciliação não faz parte dos sacramentos da iniciação cristã,
apesar de, habitualmente, ser celebrada antes da primeira comunhão (primeira
participação plena na Eucaristia).
O Código de Direito Canónico, c. 913 §1 estabelece, como condições para que
uma criança possa comungar, o uso da razão (sem definir a idade exacta) e a preparação
devida. O c. 914 explicita que, nesse devida preparação, se inclui a prévia “confissão
sacramental”. Esta exigência corre, por vezes, o risco de gerar mal-entendidos em
relação ao Sacramento da Penitência: não nos confessamos para comungar! A
Reconciliação sacramental é restabelecimento de uma relação fragilizada, entre o cristão
e Deus. Para evitar essa redução da Penitência a uma preparação prévia para a
comunhão, parece-me importante não juntar demasiado a primeira confissão à primeira
comunhão. Vejamos então este Sacramento para, depois, verificarmos a sua presença
nos actuais catecismos e deixarmos algumas orientações pedagógicas...
A história da salvação, no fundo, outra coisa não é senão a história das contínuas
intervenções do Senhor para arrancar o homem do seu pecado. Toda a história da
salvação é uma longa história de Deus que em busca do homem e de infidelidades do
homem; por isso, uma longa história de misericórdia de Deus, de conversão dos homens
e de perdão e reconciliação. Em Jesus Cristo, manifestou-se de modo definitivo esta
vontade salvífica: “O Pai manifestou a sua misericórdia ao reconciliar o mundo consigo
em Cristo, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas que há
na terra e nos céus” (Ritual da Celebração da Penitência, n.º 1). É neste dinamismo que
se insere este sacramento da Penitência: gesto do amor de Deus que hoje, no tempo da
Igreja, continua a vir ao nosso encontro para nos oferecer o seu perdão.
O pressuposto: a realidade do pecado. Não há pecado sem relação com Deus: é
no confronto da própria vida com a vontade de Deus e a sua bondade, que o crente toma
consciência do quanto as suas atitudes significam uma ruptura com esse mesmo Deus.
“O pecado é ofensa a Deus, que quebra a amizade com Ele” (Ritual da Celebração da
Penitência, n.º 5). Ora, quanto mais frágil for a relação com Deus, menor será o sentido
de pecado; e, pelo contrário, os grandes santos, mais próximos de Deus, sempre se
consideraram grandes pecadores. Portanto, pecado não é a desobediência a uma regra,
mas sim ruptura de uma relação. É um conceito teológico que não pode ser confundido
com o sentido de culpa, de engano ou de erro. No entanto, só tem sentido falar de
pecado, no contexto da misericórdia divina. Foi sempre na revelação do perdão de Deus
que se pôs a descoberto a realidade do pecado. Qualquer outro modo de falar de pecado,
fora deste contexto do perdão e da misericórdia de Deus, será um modo “pecaminoso”
de falar de pecado.
4.1. A Penitência nos Catecismos
Nos Catecismo do S.N.E.C. este itinerário é claro. É particularmente elucidativo o
modo como este sacramento é apresentado na 1ª e 2ª fase, respectivamente no 2º e 3º
ano de catequese. O sacramento não aparece isolado, mas num contexto de misericórdia
divina.
2º Ano: Estou com Jesus. A catequese 14 (“Jesus chama o pecador”) centra-se
no episódio do encontro de Jesus com Zaqueu. Nos Evangelhos, Jesus aparece-nos como
aquele que acolhe os pecadores para os fazer experimentar o amor de Deus. É sempre e
só esse amor que transforma a vida (já S. Tomás de Aquino, no século XIII, dizia que as
nossas boas obras se não eram feitas por amor, mas apenas por medo do fogo do
inferno, de nada valiam). O objectivo desta catequese é levar as crianças a reconhecer
que o amor de Jesus é bem mais forte que os nossos pecados (“onde abundou o pecado,
superabundou a graça”, dirá S. Paulo); levá-las a experimentar e sentir que Jesus as
ama, apesar das suas fragilidades e pecados; levá-las a experimentar a alegria de ser-se
amado por Jesus.
Só depois desta insistência no amor de Jesus é que surge explicitamente o tema
do pecado: catequese 15 (“sou pecador”). Esta catequese visa levar a criança a tomar
consciência de que, comparando a sua vida com a Palavra de Deus, se descobre o
próprio pecado. A criança é convidada também a reconhecer que o pecado nos afasta de
deus e uns dos outros, cria desunião, conflito. E é convidada à atitude de pedir perdão.
Esta é uma experiência que, mais ou menos consciente, todas as crianças fazem: sabem
que quando fazem algo mal, devem pedir perdão aos pais, aos professores, etc. Que é
esse pedido de perdão que permite restabelecer e relação afectada.
Feita a experiência da necessidade de pedir perdão, a catequese 16 (“a alegria do
perdão”) pretende levar a criança a experimentar a alegria se ser perdoada. Trata-se de
apresentar o pedido de perdão como uma realidade positiva, que restabelece a relação e
dá alegria a quem assume tal atitude. Só agora se aponta para o sacramento da
Penitência: ser-se perdoado é uma alegria; ora, Jesus deixou-nos um meio por
excelência de experimentarmos esse perdão e de sentirmos essa alegria. Assim se
introduz explicitamente o quarto sacramento.
Consequência desta caminhada é a “Festa do Perdão” (catequese 17). Não se
trata de uma “aula” sobre o sacramento (como nenhuma das catequeses anteriores
deveria ser uma espécie de “aula”). Trata-se de celebração: de proporcionar a
possibilidade às crianças de experimentar e viver a alegria do perdão de Jesus. Este
sacramento é apresentado como um “reencontro” com Deus: pelo pecado, afastamo-nos
de Deus; neste sacramento, Deus vem ter connosco, perdoa-nos e faz festa. O texto
bíblico fundamental é a parábola do pastor que vai em busca do ovelha perdida (Lc 15,
4-7). A celebração desta festa retoma a caminhada feita até aí: confrontando a vida com
a Palavra de Deus, descubro-me pecador; peço perdão; dou graças e faço festa porque
Deus me perdoou. O ambiente festivo é fundamental!
Mas o caminho não termina aqui. No final da celebração da “Festa do Perdão”,
aponta-se a necessidade de viver em conformidade com o perdão recebido. E a
catequese 18 (“quero perdoar sempre”) desenvolve este princípio, apresentando a
atitude de perdão aos outros, que nos ofendem, como consequência directa na vida
daqueles que experimentaram a alegria de serem perdoados.
No 3º Ano (Queremos seguir-Te), a catequese volta a abordar este sacramento.
Não o faz de modo tão desenvolvido, pois as crianças já foram iniciadas a este
sacramento (e já o celebraram talvez... embora o possam celebrar apenas neste 3º Ano,
na catequese 18). Faz-se a sua apresentação, no contexto da abordagem ao conjunto
dos sacramentos.
Aqui, o itinerário parte do ano litúrgico: coincide com o início da Quaresma, tempo
penitencial por excelência. A catequese 16 (“reconhecemos a nossa fraqueza”). O texto
bíblico fundamental é o relato das tentações de Jesus no deserto, como imagem da
Quaresma e do caminho de conversão que somos desafiados a fazer. Ora, a conversão
exige, como primeiro passo, o reconhecimento da nossa fragilidade; mas também a
confiança em Deus e na sua misericórdia.
A catequese 17 (“a festa do amor de Deus”), partindo do relato do pai bondoso
que acolhe o filho pródigo (Lc 15, 11-32), sublinha precisamente a misericórdia de Deus
e a sua vontade de perdoar. A experiência que se procurar suscitar nas crianças é a do
amor de Deus e da alegria de se saberem e sentirem amadas por Deus.
A “Festa do Perdão” (catequese 18) surge como corolário deste percurso: uma
celebração festiva, na qual a criança é convidada a reconhecer o seu pecado com um
“não” ao amor de Deus; a celebrar o sacramento da Penitência (pode ser a sua primeira
confissão); e a fazer festa porque se saber perdoada por Deus. Insiste-se na dimensão
comunitária deste sacramento: é em comunidade que festejamos a alegria do perdão
recebido (e não se faz festa sozinho...).
Este sacramento voltará a marcar presença no 10º Ano da catequese (Ousar
Crer), de modo mais sistemático (mas também, bem menos vivêncial e bem mais
especulativo), na catequese 16 (“o perdão e a misericórdia”), no 1º e 2º encontro. Tal
como no 3º Ano, o contexto é o de uma abordagem dos sete sacramento.
4.2. A celebração da Penitência
Os actos do penitente. O Catecismo cita a formulação do Catecismo Romano do
Concílio de Trento sobre os actos do penitente, parte fundamental na celebração da
Penitência: “A penitência leva o pecador a tudo suportar de bom grado: no coração, a
contrição; na boca, a confissão; nas obras toda a humildade e frutuosa satisfação” (n.º
1450). Assim, o primeiro acto do penitente é a contrição, que corresponde ao
reconhecimento do próprio pecado e ao desejo sincero de conversão, de mudança de
vida, de procurar não voltar a pecar (Catecismo 1451-1454; Ritual da Celebração da
Penitência, n.º 6 a). A contrição nasce do confronto da própria vida com Deus e a sua
vontade e bondade, que leva a descobrir a própria fragilidade. O exame de consciência,
feito à luz da Palavra de Deus, visa precisamente possibilitar este confronto e esta
atitude de contrição. “É desta contrição de coração que depende a verdade da
penitência” (Ritual da Celebração da Penitência, n.º 6 a). O segundo acto do penitente é
a confissão dos pecados. “A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo de um ponto
de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliação com os outros.
Pela confissão, o homem encara de frente os pecados de que se tornou culpado; assume
a sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a deus e à comunhão da Igreja,
para tornar possível um futuro diferente” (Catecismo 1455). Ora, aqui reside uma das
dificuldades maiores deste sacramento na actualidade. “A confissão ao sacerdote
constitui uma parte essencial do sacramento da Penitência” (Catecismo 1456). O
“confesso-me directamente a Deus”, tantas vezes repetido, ignora completamente toda a
dinâmica sacramental: não recebemos a vida nova “directamente” de Deus, mas sempre
pela mediação sacramental e simbólica do Baptismo, para dar apenas um exemplo. O
“directamente” ignora que não somos “puros espíritos” e que a nossa relação com Deus é
sempre mediada pelo nosso próprio corpo, pela dimensão sensível... O terceiro acto do
penitente é a satisfação: o esforço por uma vida conforme à conversão expressa, a real
emenda de vida e a reparação dos eventuais danos que as nossas faltas provocaram.
“muitos pecados prejudicam o próximo. Há que fazer o possível por reparar esse dano
(por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputação daquele que foi
caluniado, indemnizar por ferimentos). A simples justiça o exige” (Catecismo 1459). Mas
não apenas isso: se o pecado enfraquece ou rompe a relação com Deus e a comunhão
eclesial, a satisfação, também chamada “penitência”, visa ser remédio que ajuda a
restabelecer a comunhão afectada pelo pecado. “Pode consistir na oração, num donativo,
nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e,
sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar” (Catecismo 1460).
As formas litúrgicas. A Penitência é uma acção litúrgica! Importa sublinhar este
facto, já que é o sacramento que, em muitas situações, fica reduzido à sua mínima forma
litúrgica, não se percebendo a sua dimensão eclesial e comunitária (ausência de
assembleia) e ficando a sua dimensão simbólica reduzida ao mínimo possível.
O actual Ritual da Celebração da Penitência apresenta três formas de celebração
deste sacramento: a celebração com um só penitente; a celebração da reconciliação de
vários penitentes com confissão e absolvição individual; e a celebração da reconciliação
de vários penitentes com confissão e absolvição geral. As duas primeiras formas são
normais; a terceira é excepcional e só pode celebrar-se dentro de condições muito
restritivas. Na catequese, a forma é sempre a segunda: a celebração da reconciliação de
vários penitentes com confissão e absolvição individual.
4.3. Penitência, Baptismo e Eucaristia. Há uma relação estreitíssima entre o
sacramento da Penitência e os sacramentos do Baptismo e da Eucaristia. A Penitência
tem origem baptismal: é actualização do Baptismo e acontecimento que reconduz à
condição baptismal perdida ou enfraquecida pelo pecado. No Baptismo realiza-se o
primeiro e fundamental momento de penitência e conversão (sobretudo no caso de
Baptismo de adultos), de renascimento, de remissão dos pecados, razão pela qual o
sacramento da Penitência sempre foi entendido como “penitência segunda”. O
sacramento da Penitência visa precisamente “restaurar” a vida baptismal, enfraquecida
ou desfigurada pelo pecado e pela infidelidade do cristão baptizado.
A Eucaristia, por seu lado, torna presente o sacrifício de reconciliação, pelo qual
fomos reconciliados com Deus em e por Jesus Cristo. É celebração comunitária de uma
comunidade reconciliada, meta de toda a vida baptismal. A Penitência prepara para a
Eucaristia, enquanto restabelece a comunhão com Deus e com os irmãos, necessária
para a celebração eucarística. Não se trata de confessar-se para comungar! Seria reduzir
e empobrecer quer a Eucaristia, quer a Penitência. É quem está em comunhão que tem
condições para celebrar o “sacramento da unidade”, que é sempre também
acontecimento de reconciliação.
5. Outros sacramentos e celebrações
É claro que, na catequese, são os sacramentos da iniciação cristã que marcam
maior e mais significativa presença. Se a catequese da infância e adolescência é
consequência e exigência do Baptismo celebrado na infância e se o seu objectivo é
proporcionar um itinerário de iniciação pós-baptismal, facilmente se compreende que
sejam estes sacramentos os mais presentes. A Penitência junta-se-lhes pelos motivos
indicados anteriormente. Contudo, os outros sacramentos não estão ausentes. De forma
necessariamente breve, uma palavra sobre os restantes sacramentos.
5.1. Unção dos Enfermos
“Pela santa Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a
Igreja encomenda os doentes ao Senhor, sofredor e glorificado, para que os alivie e os
salve; mais ainda, exorta-os a que, associando-se livremente à paixão e morte de Cristo,
concorram para o bem do povo de Deus” (Catecismo 1499). É deste modo que o
Catecismo introduz o tema da Unção dos Doentes. Quanto à designação deste
sacramento, não oferece dúvidas: Unção dos Doentes (ou dos Enfermos) ou Santa
Unção. “Unção” porque é esse o sinal sacramental: a unção daquele que se encontra
numa situação de doença com óleo dos enfermos. De evitar é a designação, em uso
durante séculos, a partir do século XII, de “Extrema Unção”, por desvirtuar a realidade
do sacramento, que é destinado aos cristãos em situação de doença grave e não
especificamente aos moribundos. As duas designações indicam dois modos distintos de
entender o sacramento. Ora, o novo Ritual, publicado depois do Vaticano II, adoptou
significativamente o nome de Ritual da Unção e Pastoral dos Doentes.
“A doença e o sofrimento estiveram sempre entre os problemas mais graves que
afligem a vida humana. Na doença, o homem experimenta a sua incapacidade, os seus
limites, a sua finitude. Qualquer enfermidade pode fazer-nos entrever a morte”
(Catecismo 1500). A doença é, por muito que isso nos custe e que a sociedade em que
vivemos o procure esconder, parte integrante da vida humana. Sendo os sacramentos
gestos do amor de Deus para connosco, Deus não poderia estar alheado deste drama
humano. Isso mesmo nos revela todo o Antigo Testamento, mas, de modo especial,
Jesus Cristo.
Contudo, impõem-se algumas observações prévias. A Bíblia não considera a
doença do ponto de vista científico ou médico, mas de um ponto de vista exclusivamente
religioso. Por isso, não nos exorta a ir ao médico, mas a dirigirmos o nosso olhar para
Deus na situação de doença. Isto, contudo, não significa que para o homem crente, a ida
ao médico e a busca de soluções científicas seja de menor importância: “faz parte do
plano da Providência que o homem lute arduamente contra todas as enfermidades e
busque também solicitamente o bem da saúde” (Ritual da Unção e Pastoral dos Doentes,
n.º 3; cf. n.º 32). A doença em si mesma nunca é um bem! Pode ser ocasião ou
oportunidade para um verdadeiro crescimento de fé, mas em si mesma nunca é algo
positivo.
Contudo, o texto mais decisivo, em todo o NT, é o de Tg 5, 14-15:
“Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes
orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé
salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-
lhes-ão perdoados”.
Segundo o Concílio de Trento, se em Mc 6, 13 aparece “insinuado” o sacramento da
Unção dos Doentes, este é verdadeiramente “instituído” e “promulgado” neste texto de
Tg 5, 14-15 (cf. DzH 1695 e 1716). Por isso, justifica-se analisar de perto este breve
texto bíblico. O contexto próprio desta passagem da Carta de S. Tiago é o da oração: é
preciso rezar em qualquer ocasião, alegre ou triste. Em caso de doença , é necessária a
ajuda da oração de toda a comunidade, na pessoa dos seus responsáveis, os presbíteros.
“Algum de vós está doente?” – Os destinatários. O termo usado refere-se a uma
situação de doença ou fraqueza em que o doente não pode, sozinho, encaminhar-se para
a assembleia ou para junto dos presbíteros. Mas não se diz qual o grau de gravidade da
doença. Contudo, é claro que se trata de doentes e não de moribundos.
“Chame os presbíteros da Igreja” – os ministros. O termo “presbítero”, neste
período, não tinha um sentido ainda bem definido: referia-se aos responsáveis da
comunidade, presbíteros ou bispos. “Da Igreja”, especifica-se, pois não são chamados a
título pessoal, mas enquanto presença da Igreja. Trata-se, pois, de um rito já
institucionalizado, de carácter comunitário e eclesial.
“Estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor” – O sinal
sacramental. A oração é o primeiro elemento: oração pelo doente. O uso da preposição
“sobre” induz a pensar na imposição das mãos. Segue-se a referência à unção com óleo.
A unção acompanha a oração. Esta unção bem como a oração são feitas “em nome do
Senhor”, isto é, “por ordem” ou “com a força” de Jesus Cristo Ressuscitado (“Senhor” é o
título atribuído a Jesus Cristo Ressuscitado). Nos dois elementos, oração e unção, viu
posteriormente a Igreja a matéria e forma do sacramento.
“A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido
pecados, ser-lhes-ão perdoados” – Os efeitos. “Salvar” é mais abrangente que “curar”,
refere-se à totalidade do homem. Os efeitos são de ordem corporal ou física (“o aliviará”
ou “o porá de pé”, traduzindo mais à letra) e penitencial (perdão dos pecados). O sujeito
de qualquer das acções é sempre o Senhor: é Ele que salva, que alivia a dor, que perdoa
os pecados. De notar porém que a referência aos pecados é condicional: “se tiver
cometido pecados”. Trata-se de uma eventualidade; não é, pois, o efeito principal. Jesus
recusou a causalidade entre pecado e doença e aqui mantém-se a coerência com os
ensinamentos de Jesus.
A tradição da Igreja sempre viu neste texto a referência fundamental para este
sacramento da Unção dos doentes. Contudo, este texto não pode ver-se isoladamente,
mas em íntima relação com toda a prática e mensagem de Jesus em relação aos
doentes. Isso mesmo afirmou o Concílio de Trento.
5.1.1. Nos Catecismos do S.N.E.C.
Este sacramento aparece explicitamente no 3º e 10 ano de catequese. São os dois
anos que, de forma sistemática, tratam dos sete sacramentos.
No Catecismo do 3º Ano – Catequese 14 ("Com Jesus amamos o irmão doente"),
a Unção dos Doentes aparece como um gesto de amor de Jesus para com aqueles que
estão doentes. Esta catequese começa por evocar a experiência de contacto com
doentes, por parte das crianças. Elas são convidadas a dizer os doentes que conhecem e
o que podem fazer por essas pessoas (visitá-las, fazer-lhes companhia, levar-lhes
alguma coisa...). Desta "experiência humana" se parte para o sacramento: mais ainda
que isso, há algo melhor que lhes podemos levar: e lê-se, como texto bíblico
fundamental Tg 5, 14-15. A partir desse texto é que se apresenta o sacramento: os
primeiros cristãos, ao irmão doente, levavam o anúncio do amor de Deus por eles
(Palavra); rezavam por eles (Oração); ungiam-nos (Unção com óleo). Pretende-se que as
crianças vejam o óleo e que se lhes explique que foi benzido (quando, como e porquê) e
o que se faz com este óleo na Unção dos doentes. É precisamente a partir do símbolo do
óleo que se apresentam os efeitos do sacramento (remédio, alíveio, perdão).
O interessante é que a proposta é sair da sala de catequese, ir visitar um doente
e celebrar com ese doente a Unção dos Doentes! Isto é, não se fala do sacramento de
forma abstracta: celebra-se o sacramento. É claro que isso implica um preparação por
parte das crianças, mas sobretudo, por parte dos catequistas: contactar um doente e
explicar-lhe o que se pretende; marcar cuidadosamente a celebração com um presbítero.
É preciso ter em conta que as crianças possivelmente nunca presenciaram tal celebração
e limitar-se a falar-lhes de um sacramento que lhes é completamente estranho pouco as
ajuda. Pelo contrário, participar numa celebração, marca as crianças, leva-as a fazer uma
experiência concreta e rica.
Não se pode esquecer que o objectivo desta catequese não é apenas informar,
"dar informação" sobre este sacramento: é motivar uma experiência e motivar as
crianças para a atenção aos doentes. Sensibilizar as crianças sobre a importância de
serem, elas mesmas, sinal e presença do amor de Deus junto dessas pessoas em
dificuldade.
Importante é ainda o carácter festivo e comunitário da celebração deste
sacramento. Este será o único modo de mudar a mentalidade de que se trata da
"Extrema unção", o sacramento que se recebe quando já não qualquer esperança; que se
celebra quase clandestinamente e em segredo...
No 10º Ano – Catequese 16, 3º Encontro ("A Unção dos Doentes") volta-se a
este sacramento. Neste catecismo, em que a preocupação de sitematizar os elementos
da catequese é um preocupação omniprensente, em odem à elaboração de um síntese
pessoasl, este sacramento sugre logo depois do sacramento da Penitência. Este dois
sacramentos ão habitualmente associados, por serem ambos "sacramentos da cura" e
por serem ambos "sacramentos eventuais".
Esta catequese é bem menos celebrativa e experiencial que aquela feita no 3º Ano
(daí, também a importância...) e bem mais teórica. O Adolescente / Jovem já tem outra
capacidade de abstracção. Está bem mais consciente das situações de doença e do que
isso implica. Começa-se pela "experiência humana" do sofrimento e pelas dúvidas e
angústias que a experência de sofrimento próprio e dos que nos rodeaim provoca. Como
resposta, é apresentada a prática de Jesus, particularmente atento aos doentes. O
sacramento da Unção dos doentes é apresentado como continuação, na Igreja e pela
Igreja, dessa atitude de Jesus. Mais uma vez aparece o texto fundamental de Tg 5, 14-
15. Explanam-se os efeitos do sacramento (alívio, perdão dos pecados e participação na
paixão de Cristo) e motiva-se a oração, com a qual termina esta catequese.
5.1.2. O sacramento dos moribundos e da morte cristã: a Eucaristia
Não é a Unção dos Doentes que é o sacramento da morte cristã; é a Eucaristia: o
Viático. Os romanos designavam como “viático” as provisões alimentícias e
pecuniárias para uma viagem. A analogia entre a caminhada do homem sobre a
terra e a caminhada do cristão para o Pai, levará à adopção deste termo para
designar todo e qualquer meio espiritual que ajudasse o cristão no momento da
passagem definitiva: a morte. Bem cedo, porém, o termo foi reservado para a
comunhão eucarística dos moribundos.
“Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do corpo e
sangue de Cristo tem um significado e uma importância particulares. É
semente de vida eterna e força de ressurreição, segundo as palavras do
Senhor: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Sacramento de
Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem
da morte para a vida, deste mundo para o Pai”. (Catecismo 1524)
Tendo como fundamento as palavras de Cristo (Jo 6, 54), a prática do Viático é
antiquíssima (a primeira determinação explícita sobre o Viático deve-se ao Primeiro
Concílio de Niceia, em 325: “Acerca dos moribundos, observar-se-á também agora a
antiga lei canónica, a saber: que em perigo de morte ninguém seja privado do último e
extremamente necessário viático” - DzH 129). Segundo o actual ritual do Viático, este
pode celebrar-se dentro da celebração eucarística (a forma melhor); ou na casa do
doente ou no lugar onde se encontra, se não puder deslocar-se à igreja. A estrutura da
celebração é a da comunhão fora da Missa. Se for possível, a morte do cristão é
preparada pela celebração da Reconciliação, da Unção dos Doentes e, finalmente, do
Viático: “a Penitência, a Santa Unção e a Eucaristia, como Viático, constituem, quando a
vida do cristão chega ao seu termo, «os sacramentos que preparam a entrada na Pátria»
ou os sacramentos com que termina a peregrinação” (Catecismo 1525). Contudo, estes 3
sacramento obedecem a uma clara hierarquia: em situação de perigo eminente de
morte, prescinde-se da Penitência; se se suspeita que nem para isso haverá tempo,
prescinde-se também da Unção e passa-se ao fundamental: a comunhão eucarística
como Viático!
5.2 Ordem
Os dois últimos sacramentos costumam ser associados sob a designação de
“sacramentos ao serviço da comunhão”, isto é, sacramentos ao serviço da edificação do
povo de Deus e que inauguram estados de vida ou vocações específicas, concretizações
da vocação comum recebida nos sacramentos da iniciação cristã. Contudo, não esgotam
as formas possíveis de vocação na Igreja.
Nos Catecismos, esta dimensão vocacional aparece de modo mais ou menos
explícita.
De notar que, em relação a estes dois sacramentos, não existem propriamente
celebrações previstas, pelo que, passaremos mais rapidamente por eles... Os motivos
são óbvios: são sacramentos que as crianças e adolescentes ainda não recebem. É claro
que o mesmo acontecia em relação ao sacramento da unção dos enfermos
(normalmente...), mas aí pretendia-se, além de experimentar a realidade do sacramento,
comprometer as crianças na acção em favor dos doentes...
Em relação ao sacramento da Ordem, o problema é a possível e mais que
provável ausência de uma experiência de participação na celebração de tal sacramento.
Só que, ao contrário do que acontece com a Unção dos Doentes, não é possível organizar
a sua celebração próxima, na qual as crianças possam participar... Então, como ligar este
sacramento à experiência das crianças? Através da figura do Padre, pessoa que
conhecem e com quem têm alguma relação. De facto, quer no 3º Ano quer no 10º Ano, o
sacramento da ordem é abordado a partir da figura do padre, possivelmente a figura que
é mais próxima das crianças e adolescentes para apresentar este sacramento. E aqui
reside uma dificuldade (de difícil solução, diga-se): este é o único sacramento em 3
graus distintos... algo praticamente ignorado pelos catecismos... O sacramento da Ordem
é um único, mas tem três distintos graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado.
Os dois primeiros graus são participação ministerial no sacerdócio de Cristo; já o diácono
não é sacerdote ordenado (apenas o são o bispo e o presbítero), mas é ordenado para o
serviço. Só o bispo tem a plenitude do sacramento da Ordem (LG 21). Os bispos são os
“sucessores dos Apóstolos”: “os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com uma efusão
especial do Espírito Santo, que sobre eles desceu; e pela imposição das mãos, eles
próprios transmitiram aos seus colaboradores este dom espiritual que foi transmitido até
aos nossos dias através da consagração episcopal” (LG 21). “Pela imposição das mãos e
pelas palavras da consagração, a graça do Espírito Santo é dada e é impresso o carácter
sagrado, de tal modo que os bispos fazem as vezes, de uma forma eminente e visível, do
próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e actuam em vez d’Ele” (LG 21). Os bispos, em
virtude do grau do sacramento da Ordem que receberam, formam o colégio episcopal.
Esta natureza colegial é evidenciada na participação de vários bispos na ordenação de
um novo bispo. E em virtude desta colegialidade, o bispo não é apenas responsável pela
porção do povo de Deus que lhe foi confiada, mas participa ainda da “solicitude por todas
as Igrejas” (Catecismo 1560) e é solidariamente responsável pela missão apostólica da
Igreja (cf. LG 23; CD 4).
Os presbíteros são “cooperadores da Ordem episcopal” (LG 28) na missão
confiada por Cristo aos Apóstolos e seus sucessores. “Ainda que não possuam o
pontificado supremo e dependam dos bispos no exercício dos seus poderes, estão-lhe
unidos na dignidade sacerdotal comum e, pelo sacramento da Ordem, ficam
consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, para pregar o Evangelho,
apascentar os fiéis e celebrar o culto divino como verdadeiros sacerdotes do Novo
Testamento” (LG 28). “Os presbíteros (...) constituem com o bispo um único presbitério”
(LG 28), isto é, formam também um “colégio” presbiteral: “estão unidos entre si numa
íntima fraternidade sacramental” (LG 28; PO 8). Na ordenação, esta colegialidade
manifesta-se na imposição das mãos, feita por todos os presbíteros presentes, e na
saudação dos presbíteros ao novo membro do presbitério. É sempre na dependência do
bispo e em comunhão com ele que os presbíteros exercem o seu ministério (cf.
Catecismo 1567).
“No grau inferior da hierarquia estão os diáconos, que recebem a imposição das
mãos «não para o sacerdócio, mas para o ministério [serviço]” (LG 29). “Para a
ordenação no diaconado, só o bispo é que impõe as mãos, significando com isso que o
diácono está especialmente ligado ao bispo nos encargos próprios da sua «diaconia»”
(Catecismo 1569). O sacramento da Ordem configura-os de modo especial a Cristo servo
de todos. Durante séculos, o diaconado só existiu como “passagem” para o presbiterado.
O Vaticano II restaurou o diaconado permanente, que pode ser conferido também a
homens casados. A restauração do diaconado permanente significa um enriquecimento
da própria Igreja, que assim conta com os três graus do sacramento da Ordem de modo
estável e permanente.
Um outro aspecto que chama a atenção é que, ao abordar este sacramento, não
está prevista uma celebração! (O que acontecia com todos os sacramentos, num ou
noutro momento da caminhada catequética). Os motivos são óbvios. Contudo, o
catecismo do 3º Ano – Catequese 23 ("A tempo inteiro para servir") tenta superar essa
falta por uma sessão de catequese de características especiais e originais:
- A catequese decorre em volta de uma mesa, procurando evocar a última ceia de
Jesus com os discípulos. Pretende-se, assim, situar o padre num aspecto fundamental
da sua missão, e também aquele em que as crianças mais o reconhecem (presidindo
à Eucaristia dominical da comunidade).
- Usam-se fotografia do trabalho do padre, procurando dar a conhecer às crianças a
sua missão.
- A catequese termina com uma visita ao padre que está ao serviço da comunidade ou,
se tal não for possível, com uma visita do padre ao grupo de catequese. Ou então,
que haja outra forma de contacto do grupo com o padre (carta? telefone? Vídeo? O
catecismo não explica...) Também se pode deixar esse contacto para um momento
posterior, que não coincida exactamente com aquela catequese. Mas pretende-se que
haja contacto.
A chave de leitura da figura do padre – e por isso do sacramento da Ordem – é o
"serviço: aquele que recebeu este sacramento, recebeu-o, não para ele, mas para
por ao serviço da comunidade. Por isso, o catecismo chama a atenção para a
necessidade de, na semana anterior, as crianças terem desempenhado algumas
tarefas na missa dominical: essa será a experiência humana de que se parte. Aquilo
que as crianças fizeram, é o que faz o padre na comunidade.
Porque os objectivos, nesta fase, são vivenciais, procura-se levar as crianças a
reconhecer no padre aquele que recebeu o sacramento da Ordem para servir, como
Jesus; reconhecer o seu papel importante (fundamental) na comunidade cristã; mas
também, para despertar nas crianças o desejo de colaborar com ele para bem de toda a
comunidade.
Os símbolos do rito de ordenação, contudo, ficam na sombra... As fotografia a
apresentar, no decorrer da catequese, devem ser da ordenação (se possível, da
ordenação do padre que as crianças conhecem!), mas o sentido dos gestos e ritos não
tem depois grande desenvolvimento.
No 10º Ano – Catequese 17, 1º Encontro, volta-se ao sacramento da Ordem. Tal
como no 3º Ano, o ponto de partida é a figura do padre, por ser, dos três graus deste
sacramento, o que lhes é mais familiar. A diferença é que, no 10º Ano se procura já
apresentar os três graus deste sacramento. Como é previsível, a catequese é menos
vivêncial, e mais teórica, em ordem a permitir ao adolescente a elaboração da sua
síntese de fé pessoal. Elucidativo é o objectivo apresentado pelo Guia do Catequista do
10º Ano, referente a este encontro: "Saber o fundamental sobre o sacramento da
Ordem" (184).
5.3. Matrimónio
Ainda uma palavra sobre o Matrimónio cristão. Tal como o anterior, este
sacramento aparece nos 3º e 10º Ano. Tal como acontece nas catequeses referentes ao
sacramento da ordem, também aqui é clara a distinção entre a catequese das crianças
(mais vivêncial e testemunhal) e a dos adolescentes (mais sistemática e teórica).
No 3º Ano – Catequese 24 ("O amor de Deus em nossa casa), o Matrimónio
aparece como o sacramento que consagra o amor entre marido e esposa. Para esta
catequese convida-se um casal. Ao contrário do que acontece com as ordenações, as
crianças já têm uma ideia sobre a celebração deste sacramento, uma vez que já
participaram, na maior parte dos casos, em casamentos. Convidar um casal tem a
vantagem de tornar dialogal a catequese. Claro que o casal tem de estar previamente
preparado e saber ao que vai. O que se pretende é que deixem às crianças o seu
testemunho e estejam disponíveis para responder às suas perguntas. Sabiamente, o Guia
do Catequista aconselha a que não se convidem os pais de nenhuma das crianças do
grupo de catequese...
O casal é convidado a falar da sua vida em casal, a partir de três textos bíblicos
chave, propostos para esta catequese, e apresentados pelo catequista:
- Gn 1, 26-29
- Gn 2, 18-24
- Ef 5, 21-33
O casal conta a sua história, que vai sendo "iluminada" pela Palavra de Deus. Do
casamento como projecto de Deus e da igual dignidade do homem e da mulher, parte-se
para a santificação do amor mútuo por Cristo, fundamento do matrimónio cristão.
Não se trata de uma celebração, mas de um encontro capaz de despertar as
crianças para este sacramento.
No 10º Ano – Catequese 17, 2º Encontro, faz-se, depois, a apresentação mais
sistemática do sacramento. Aqui, a catequese parte já das múltiplas dúvidas dos
adolescentes, sobre o sentido do matrimónio, sobre o divórcio, etc.
6. As celebrações ao ritmo do Ano Litúrgico
Todos os sacramentos estão presentes ao longo do itinerário catequético. Aos
sacramentos, especialmente aos da iniciação cristã, estão ligados, momentos
celebrativos importantes. Contudo, os sacramentos não esgotam a dimensão celebrativa
da catequese. Já atrás, ao falar da iniciação cristã, se referiram outras celebrações
importantes, mas não sacramentais. Para terminar, gostaria de sublinhar uma outra
fonte importante de celebrações, ao longo dos vários anos de catequese: o Ano Litúrgico.
O Ano Litúrgico é já um itinerário pedagógico, que nos permite celebrar "todo o
mistério de Cristo, desde a Encarnação até ao dia de Pentecostes e à expectativa da
vinda de Cristo" (NGALC 17), no ciclo de um ano. Naturalmente, a catequese não poderia
ficar à margem deste itinerário; pelo contrário, integra-o e estrutura-se acompanhando o
decurso do Ano Litúrgico. Isso aparece com evidência na importância dada ao Natal e à
Páscoa, em todos os catecismos. Mas não só: com relevos diversos, os tempos
preparatórios, como o Advento ou a Quaresma estão também presentes. Do mesmo
modo, o ritmo semanal é também explicitamente abordado, quer directamente, quer
tratando da Eucaristia.
O Domingo é a mais antiga festa cristã; é a "Pascoa semanal": "no primeiro dia
da semana, chamado 'dia do Senhor' ou 'domingo', a Igreja, por tradição apostólica que
vem do próprio dia da ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal" (NGALC 4). Dada
a sua importância, o catecismo do 3º Ano, catequese 22 ("Celebremos o Dia do
Senhor"), ocupa-se explicitamente dele. Não se trata de uma celebração, mas visa
preparar uma celebração! Vamos por partes.
Como é apresentado o Domingo? Como dia de festa. As crianças são
particularmente sensíveis à festa e àquilo que ela implica. O domingo aparece-lhes, pois,
como uma festa semanal. Mas festa porquê? Porque Cristo está vivo no meio de nós e
porque esse é o dia da escuta da Palavra, da Fracção do Pão e da comunhão fraterna.
Estas dimensões aparecem a partir do texto fundamental que é Act 2, 42. O primeiro
momento da catequese visa aprofundar o sentido do Domingo. O segundo momento da
catequese, já fora da sala (e noutro dia, se a catequese não for ao Domingo) é a
preparação e participação na Eucaristia domincal da comunidade. Nesse sentido, o
próprio catecismo dá as indicações do que é preciso preparar e como fazer:
- Antes da celebração, coloca-se na igreja um placard, em lugar visível, com a palavra
"Domingo".
- Na procissão de entrada, as crianças acompanham a entrada do sacerdote, levando
dos dísticos necessários. Ao chegar ao altar, o sacerdote apresenta as crianças à
comunidade e explica o que elas irão fazer.
- As crianças colam no placard os dísticos com os nomes dos dias da semana (excepto
o Domingo, já afixado)
- Antes das leituras, uma criança refere que os primeiros cristãos eram assíduos ao
ensinamento dos Apóstolos (e afixa-se o respectivo dístico).
- Na apresentação dos dons, uma criança refere que os primeiros cristãos se reuniam
para a Fracção do Pão (e afixa-se o respectivo dístico).
- Antes do gesto da paz, uma criança refere que os primeiros cristãos viviam em união
fraterna (e afixa-se o respectivo dístico).
- Antes da bênção final, uma criança afixa, sobre a palavra "Domingo", o dístico "Dia
do Senhor".
De modo muito simples, explicou-se o que é o Domingo, levaram-se as crianças a
experimentar o fundamental da sua vivência e fez-se uma catequese à comunidade sobre
o significado do Domingo. A isto acresce que se encontrou um modo de favorecer uma
participação activa das crianças na celebração eucarística da comunidade.
O Ano Litúrgico
Por ordem de importância
Ciclo Pascal (Tríduo Pascal – Tempo Pascal – Quaresma)
Ciclo do Natal (Natal e Epifania – Advento)
Tempo Comum
Por sequência
Advento – Natal (Epifania e Baptismo do Senhor)
Tempo comum
Quaresma – Tríduo Pascal – Tempo Pascal
Tempo Comum
Na catequese, os tempos aparecem na sua sequência cronológica. São as
celebrações fundamentais que marcam o ritmo da catequese. Para estes momentos mais
significativos, estão previstas catequeses celebrativas, inspiradas nos gestos das
celebrações litúrgicas ou centradas em alguns dos seus símbolos mais significativos.
Estas catequeses são muito importantes, não apenas porque ajudam a criança a tomar
consciência deste ciclo festivo da Igreja, mas também porque as deixam particularmente
despertas para os símbolos, as cores, os gestos das celebrações litúrgicas. Funcionam
como uma verdadeira iniciação à celebração da comunidade.
- Todos os catecismos assumem o ritmo trimestral, terminando o primeiro e segundo
trimestre com uma catequese sobre o Natal e começando o último com uma
catequese sobre a Páscoa. Não se antecipa a festa da Páscoa (como se faz com o
Natal). No final do segundo trimestre procura-se sintonizar a catequese com a
proximidade do Tríduo pascal (por exemplo, propondo uma festa da Cruz ou a
celebração da Ceia do Senhor, como no catecismo do 3º Ano).
- Também o Pentecostes aparece, nos catecismos, como ocasião privilegiada para
catequizar sobre o Espírito Santo.
- O tempo da Quaresma é, normalmente, o tempo em que se aborda o sacramento da
Penitência, dado o carácter penitencial deste tempo.
Bibliografia
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