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OFICINA DE FOTOGRAFIA DOCUMENTAL
Aryane Kovacs Fernandes (História – UEL – Projeto de extensão Contação de Histórias Norte do Paraná)
Thiago Machado Garcia (História – UEL – Projeto de extensão Contação de Histórias Norte do Paraná)
Orientadora: Profª. Dr.ª Regina Célia Alegro RESUMO: O setor de ação educativa do Museu Histórico de Londrina “Pe. Carlos Weiss”, com o apoio do PROEXT/MEC/SESU, promove o ensino de história a partir de seu acervo, a interação com o conteúdo histórico, concepções da memória e preservação. Desenvolve oficinas direcionadas aos alunos do nível fundamental e médio, as quais subsidiam estudo de documentos históricos. Uma delas é a “Oficina de Fotografia Documental”. O objetivo principal desta é sensibilizar o aluno a respeito da fotografia como documento histórico. A oficina também intenciona promover a aprendizagem de história, sensibilizar o olhar do aluno em um mundo visual, fazê-lo compreender que a produção da imagem fotográfica é uma forma de expressão humana inserida no tempo e no espaço, trabalhando assim noções de temporalidade, passado e mudanças. Introduz algumas técnicas básicas de tomada fotográfica a fim de que os alunos possam produzir, interpretar e analisar suas próprias fotografias e, portanto seus próprios documentos históricos. Apresenta-se aqui a análise de produtos dessa oficina.
Palavras-chave: Oficina de Fotografia Documental; Museu Histórico de Londrina; Projeto Contação de Histórias Norte do Paraná.
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A proposta da ação educativa
O setor de ação educativa do Museu Histórico de Londrina “Pe. Carlos
Weiss”, com apoio do PROEXT/MEC e atrelado ao envolvimento dos estagiários da
instituição, proporciona aos estabelecimentos de ensino oficinas pedagógicas. Estas
possibilitam o potencial educativo do Museu em benefício da comunidade a partir de seu
acervo, de interação com o conteúdo histórico e, ainda, concepção de espaço, memória,
patrimônio e preservação. De acordo com Adriana Mortara Almeida, pós doutora em
museologia,
A ação educativa em um museu seria, então, o conjunto de programas,
parcerias, projetos, que são desenvolvidas com a proposta de promover um diálogo, uma
comunicação entre a instituição-museu com as demais instituições da sociedade.
(ALMEIDA, 2012, p. 397)
Para desenvolver as oficinas são problematizadas questões acerca de
documentos históricos, pois muitas vezes ainda são deficientes nas escolas enquanto deveriam
ser melhores ou mais estimuladas na área do ensino de História. Para tanto, o objetivo dessas
oficinas é sensibilizar o olhar do aluno para perceber outras maneiras de se aprender história
ao trabalhar com variados tipos de documentos, como por exemplo, mapas, entrevistas,
maquetes e fotografias. Nas oficinas “o aluno é efetivamente visto como um dos agentes do
seu próprio conhecimento” (BARCA, 2004). A função dos estagiários dentro das salas é
provocar o participante a olhar para os homens ao seu redor com mais criti cidade, instigá-los
a pensar como um historiador, o qual investiga as presenças e experiências humanas em
determinado tempo e espaço.
É de suma importância levar em consideração o livro “Apologia da História
ou o ofício do historiador” de Marc Bloch. Autor com obras de leitura necessária
especificamente para estudantes de História e atuantes na área. O mesmo apresenta uma
reflexão sobre o objeto de estudo do historiador.
[...] Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
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aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja a carne humana, sabe que ali está a sua caça. [...] (BLOCH, 2002, p. 54).
Ao instigar o conhecimento prévio dos estudantes do ensino fundamental e
médio é possível identificar as noções relacionadas ao documento. O imaginário de
documento consiste nos registros pessoais de nascimento, de trabalho, identidade civil, isto é,
textos e escritos em geral. Contudo, possuem dificuldades em definir sua funcionalidade e
como trabalhar com os mesmos.
Portanto, busca-se evidenciar aos participantes das oficinas o que são
documentos históricos, sua análise e produção. De acordo com Bloch, “Tudo que o homem
diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele.” (2001, p. 79).
Neste sentido, não somente indivíduos de destaque e fatos importantes são considerados
significativos para a História, mas também pessoas comuns e fatos da vida cotidiana.
Imagem como documento histórico
As imagens, por exemplo, nem sempre são trabalhadas como documentos
históricos, mas amplamente utilizadas como ilustração. De acordo com Ulpiano Bezerra de
Meneses, uma referência sobre questões teórico-metodológicas relacionadas ao olhar da
história sobre os museus,
[...] a História continua a privilegiar ainda hoje, a despeito da ocorrência de casos em contrário, a função da imagem com a qual ela penetrou suas fronteiras no final do século atrasado. É o uso como ilustração. Certamente, de início, a ilustração agia com direção fortemente ideológica, mas não é menos considerável seu peso negativo, quando o papel que ela desempenha é o de mera confirmação muda de conhecimento produzido a partir de outras fontes ou, o que é pior, de simples indução estética em reforço ao texto, ambientando afetivamente aquilo que de fato contaria. Caso “criar clima” tiver que ser a função única ou primordial da imagem, para o historiador, é melhor alocá-la de vez numa História meteorológica. (MENESES, 2003, p. 20 e 21)
O que são imagens? Segundo a designer Lúcia Santaella (2012) existem três
tipos: As mentais, as quais são imaginadas na mente sem serem necessariamente previamente
conhecidas, assim como o “bicho papão”. As perceptíveis, imagens vistas diretamente da
realidade vivida e movida, isto é, no cotidiano. E as representações, aquelas criadas e
produzidas pelos seres humanos na sociedade em que vivem, como por exemplo, desenhos,
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pinturas, gravuras, imagens cinematográficas, televisivas, computacionais e também
fotografias, as quais serão visadas na oficina em questão.
A fim de trabalhar de maneira mais didática o cuidado do historiador em seu
ofício com este tipo de documento, são evidenciadas aos alunos participantes as informações
passíveis de serem retiradas. Assim busca-se compreender motivos, intencionalidades do
autor, importância, como, quando, por que e para quem foi produzido. “O essencial é enxergar
que os documentos e os testemunhos só falam quando sabemos interrogá-los...; toda
investigação histórica supõe, desde seus primeiros passos, que a investigação já tenha uma
direção.” (BLOCH, 2002, p. 27).
Com essas e outras perguntas possíveis de serem feitas o mesmo é
considerado como “evidência histórica”, expressão utilizada pelo historiador Peter Burke
(2004) um dos maiores estudiosos de imagens. Deste modo o documento deixa de assumir
posição ilustrativa permitindo variadas interpretações históricas.
Antes de tentar ler imagens “entre as linhas”, e de usá-las como evidência
histórica é prudente iniciar pelo seu sentido. Porém, pode o sentido de imagens ser traduzido
em palavras? [...] Imagens são feitas para comunicar. Num outro sentido elas nada nos
revelam. Imagens são irremediavelmente mudas. (BURKE, 2004, p. 43)
De acordo com Meneses,
Recentemente, muitos historiadores têm-se preocupado com examinar as relações entre sua disciplina e as imagens. Muitos apontam a importância das fontes visuais a partir dos anos 1960, e mesmo antes, fundamentando-se na ampliação da noção já agora consolidada de documento, em História e, portanto, na abertura de novos horizontes documentais. (MENESES, 2003, p.19)
A Oficina de fotografia documental
O objetivo desse texto é apresentar a Oficina de Fotografia Documental
realizada pelos estagiários do Museu, sua principal intenção, brevemente seu
desenvolvimento e, por fim, alguns de seus resultados.
Promove a sensibilização do olhar do aluno para a imagem, em específico a
fotográfica, como documento histórico. É iniciada a partir de diálogos sobre a percepção dos
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próprios alunos sobre a vivência num mundo cercado por imagens, presentes na televisão, no
computador, nos smartphones, nos outdoors, revistas, propagandas, videogames, tablets, entre
vários outros.
O crescente desenvolvimento da tecnologia torna o cotidiano das pessoas
cada vez mais visual. Quando se pergunta as crianças em sala de aula ou no museu (locais em
que as oficinas podem ser realizadas), sobre a preferência da leitura ou de um filme baseados
na mesma história, por exemplo, a resposta é quase unânime pelo filme. Por mais simples que
seja essa pergunta, é possível perceber uma aproximação muito maior com o mundo visual ao
textual.
[...] Nos próximos anos, será interessante observar como os historiadores de uma geração exposta a computadores, bem como à televisão, praticamente desde o nascimento e que sempre viveu num mundo saturado de imagens vai enfocar a evidência visual em relação ao passado. [...] (BURKE, 2004, p.16)
Ainda nesta ideia do visual possuir preferência ao texto, pode-se refletir que
um dos motivos do aumento da velocidade no comportamento das pessoas data-se
principalmente desde a revolução industrial. Com ela as pessoas se tornaram cada vez mais
domesticadas e dependentes do relógio e do tempo. Segundo Michel Foucault, filósofo
francês, os corpos se tornaram dóceis no decorrer dos séculos, a fim de se adequarem às
necessidades do momento. O mesmo exemplifica a importância do tempo no cotidiano das
pessoas ao pensar no corpo como dócil.
[...] O tempo medido e pago deve ser também um tempo sem impureza nem defeito, um tempo de boa qualidade, e durante todo o seu transcurso o corpo deve ficar aplicado a seu exercício. A exatidão e a aplicação são, com a regularidade, as virtudes fundamentais do tempo disciplinar. [...] (FOUCAULT, 1978, p. 131)
Talvez seja por este motivo que grande parte das pessoas manifestam
preferência pelo visual, isto é, por ser mais rápido do que folhear um livro a fim de aprender
algo. Dessa forma, é perceptível certa facilidade para se criar uma identidade com os
documentos imagéticos aos escritos por parte das crianças, mas ainda é necessário um
aprofundamento no trabalho com esses documentos. Para Burke:
Relativamente poucos historiadores trabalham em arquivos fotográficos, comparado ao número desses estudiosos que trabalham em repositórios de documentos escritos e datilografados. Relativamente poucos periódicos históricos trazem ilustrações e,
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quando o fazem, poucos colaboradores aproveitam essa oportunidade. Quando utilizam imagens, os historiadores tendem a tratá-las como meras ilustrações, reproduzindo-as nos livros sem comentários. Nos casos em que as imagens são discutidas no texto, essa evidência é frequentemente utilizada para ilustrar conclusões a que o autor já havia chegado por outros meios, em vez de oferecer novas respostas ou suscitar novas questões. (BURKE, 2004, p.12)
É cada vez mais comum trabalhar as imagens na História como forma de
evidência histórica. Contudo, a geração de historiadores de vinte anos atrás, por exemplo,
tiveram pouco contato com as fontes imagéticas. Burke prevê uma mudança na própria
maneira de ensinar história diante da questão do desenvolvimento tecnológico presente no
cotidiano.
Entretanto, é essencial ter os devidos cuidados ao trabalhar com todo tipo de
documento histórico, inclusive a fotografia. Burke cita uma frase de Lewis Hine, um
fotógrafo clássico estadunidense. “As fotografias não mentem, mas mentirosos podem
fotografar” (BURKE, 2004, p. 25). Lewis Hine, fotógrafo estadunidense, atenta para a
questão da manipulação fotográfica. Um dos motivos para o historiador ter cuidado ao
analisar determinada imagem como evidência histórica. As fotografias, muitas vezes dizem
mais sobre o fotógrafo do que propriamente o objeto fotografado. Segundo o jornalista Boris
Kossoy,
[...] existe sempre uma motivação interior ou exterior, pessoal ou profissional, para a criação de uma fotografia e aí reside a primeira opção do fotógrafo, quando este seleciona o assunto em função de uma determinada finalidade/intencionalidade. Esta motivação influirá decisivamente na concepção e construção da imagem final. (KOSSOY, 2002, p.27)
Além de realizar todo o trabalho citado anteriormente também é apresentado
um breve desenvolvimento das câmeras fotográficas. O princípio da câmara escura, o
Daguerreótipo, câmera Mamute, a popular “lambe-lambe”, Kodak De Fole, Instamatic
Camera, a primeira câmera digital do mundo e por fim as câmeras digitais mais populares
atualmente. A importância básica de cada uma é evidenciada aos alunos. Desta maneira,
torna-se possível trabalhar com noção de temporalidade, funcionalidade e intenções da
fotografia dentro do contexto das máquinas expostas. Vale ressaltar que o acervo do Museu
possui algumas dessas, portanto são mostradas aos participantes para que tenham uma
proximidade ainda maior com o assunto.
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Como dito inicialmente, ao analisar o documento imagético é necessário
compreender as intenções do autor. Sendo assim, são trabalhadas três funções atribuídas pelo
Homem à fotografia, as quais são como forma de recordação, propagandística e jornalística.
Se, por um lado, ela tem valor incontestável por proporcionar continuamente a todos, em todo o mundo, fragmentos visuais que informam das múltiplas atividades do homem e de sua ação sobre os outros homens e sobre a Natureza, por outro, ela sempre se prestou e sempre se prestará aos mais diferentes e interesseiros usos dirigidos. (KOSSOY, 2007, p.19)
Durante toda a oficina a importância da fotografia é evidenciada. O
jornalista Paulo César Boni questionou-se se era possível contar a História de Londrina sem
fotografias. Logo em seguida respondeu:
Sim, seria. Mas, além da tarefa se tornar bem mais árdua, com certeza ficariam faltando a riqueza dos detalhes e o “clima”de envolvimento que só a fotografia é capaz de despertar. Sem os registros iconográficos, seria preciso usar muito mais palavras, multiplicar substantivos e adjetivos e, mesmo assim, os leitores não teriam a mesma visualidade, aquele ar de imersão que a fotografia oferece. (BONI, 2004, p.245)
E segundo a historiadora Miriam Moreira Leite,
A fotografia permitiu que quase toda gente – não só os mais abastados – pudesse se transformar num objeto imagem, ou numa série sucessiva de imagens que mantém presentes momentos sucessivos da vida, ou ter presente a memória. (LEITE, 2001, p. 75)
Por fim há um momento na oficina dedicado exclusivamente à análise
histórica de fotografias. Os documentos apresentados para análise são de fotógrafos clássicos
mundiais estadunidenses como Nick UT, Lewis H. Wine, Dorothea Lange e o francês Henri
Cartier-Bresson. E a fim de aproximar o universo da fotografia ao espaço dos alunos também
são apresentados alguns trabalhos do brasileiro Sebastião Salgado e do fotógrafo regional José
Juliani.
Produção de documentos fotográficos por alunos
Certa vez, ao perguntar por que a fotografia é importante, um aluno do
quarto ano de uma escola da rede municipal de Londrina disse que a fotografia é importante
para guardar, pois quando estivesse com mais ou menos vinte e nove anos a pegaria e
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começaria a lembrar do seu passado. Outros se referiram a fotografia para recordar os
melhores momentos da vida. Ainda outros a consideravam importante por ajudar na procura
de pessoas ou animais desaparecidos.
Todas estas questões levantadas em sala de aula trouxe à tona a realidade
vivida pelos alunos, uma vez que nem todos possuíam câmera fotográfica, tiravam fotos
apenas em ocasiões consideradas por eles importantes. Além disso, em volta da escola havia
muitos cartazes de um animal desaparecido, por este motivo a lembrança.
Por meio das discussões acerca da fotografia, documento histórico e
técnicas básicas de tomada fotográfica, ao final da oficina os alunos, divididos em pequenos
grupos, produzem seus próprios documentos históricos, com câmeras digitais ou celulares,
como atividade da oficina. E em seguida apresentam e analisam tais documentos para toda a
classe. Assim, encontram-se como agentes ativos na história de sua escola. E do mesmo
modo com que as percepções daqueles foram valorizadas, ao apresentarem suas fotografias a
toda a classe também se procura valorizar cada linha da imagem. Logo, nenhuma delas é
concebida como mal produzida, afinal cada aluno possui pontos de vista diferenciados sobre
determinado assunto ou local. Deste modo, registram ambientes de sua escola seja de maneira
crítica, afetiva ou artística, assim como as fotografias apresentadas a seguir.
A primeira fotografia a ser analisada foi produzida em meados de 2013 e
tem como autora uma aluna do quarto ano da Escola Municipal Professora Claudia Rizzi,
localizada na região norte de Londrina. Embora aluna tenha produzido a imagem final, estava
inserida num grupo com outros alunos, logo, também podem ser considerados autores. Sendo
assim, entraram num consenso a respeito da escolha sobre o que deveria ser fotografado.
Logo, escolheram fotografar este pedaço do muro em processo de deterioração.
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Crítica à falta de cuidado com os muros da escola. Escola Municipal Professora Claudia Rizzi, Londrina, 2013.
O que os motivaram foi o fato de toda vez que passavam próximos ao local
representado na foto poderiam se machucar, uma vez que este muro é da altura dos alunos e a
cerca encontra-se caída para o lado de fora da escola. A foto foi tirada de dentro, pois a saída
dos alunos durante horário de aula não é permitida. Revelaram que a intenção principal foi a
de criticar o estado de conservação em que se encontrava a escola por falta de preocupação da
Prefeitura Municipal. Foi percebida a crença positiva por parte destes alunos sobre o poder
que sua fotografia causaria, pois queriam levá-la à Prefeitura a fim de garantir melhorias na
escola.
Por meio da fotografia, percebe-se o cuidado tomado pelos alunos ao
enquadrar no horizontal os elementos necessários, o muro e a cerca, para transmitir a
mensagem desejada. Ainda, fotografaram de uma ponta da parte quebrada do muro até a
outra, mostrando, assim, a extensão do problema e a consequência, porque deste modo a cerca
se soltou e caiu para o lado da calçada da rua, podendo machucar quem passasse por ela.
A segunda imagem a ser analisada foi produzida no final de 2013 e tem
como autor um aluno do quarto ano, também inserido num grupo, da Escola Municipal Padre
Anchieta, localizada no Patrimônio Heimtal, região norte da cidade. Foi possível perceber por
praticamente todos os alunos a relação afetiva estabelecida entre eles e a escola. Esta,
levantada por alemães em meio à floresta no início da década de 1930, foi a primeira escola
da região atualmente conhecida como Londrina. Além disso, tem a questão da tradição, pois
os pais e até mesmo os avós da maioria estudaram nesta escola. Assim, a escola se refere
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diretamente ao passado da família dos alunos, os quais valorizam tal fato. A escola aumentou
e mudou as cores de tons de madeira para azul claro e laranja, mas o grupo intencionou e se
motivou a registrar justamente a primeira parte construída a fim de se referir a esse passado.
O afeto pela primeira escola da região. Escola Municipal Padre Anchieta, no Heimtal. Londrina, 2013.
Estes alunos também se atentaram em produzir a fotografia no horizontal a
partir de um ponto de vista que mostrasse melhor a escola tornando-a ainda mais bela com a
presença de uma pequena parte da folhagem da árvore, no canto direito superior, causando luz
dura, isto é, sombras na pequena escola de madeira. Logo abaixo da árvore se vê o totem com
a bandeira do município, vermelha com quatro estrelas brancas, mostrando a cidade onde está
situada a escola. E atrás do mesmo um grupo de alunos também dedicados à atividade. A
escolha por esta perspectiva se deu pelo fato de que na foto tirada de frente apareciam muitas
árvores e não era possível enfatizar a escola, o principal foco. As árvores serviriam apenas
para dar um toque a mais de beleza. A cor do céu, azul, também contribuiu com a ênfase dada
à escola.
A terceira fotografia a ser analisada foi produzida em meados de 2013 e tem
como autora uma aluna do SESC referente ao Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA),
localizado na região central de Londrina. A oficina foi solicitada devido ao trabalho
desenvolvido pelo professor de História com as turmas em busca de exercícios de análises
históricas de documentos fotográficos. A oficina foi realizada no período da noite e escola
situa-se no primeiro andar do prédio do SESC. O grupo que produziu a fotografia abaixo
optou por uma representação artística, para isso seus olhares ficaram mais atenciosos a tudo
que seria interessante de ser fotografado.
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Manipulação da fotografia tornando-a mais artística. Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Londrina,
2013.
Este grupo, ao manusear a câmera digital, cedida pela ação educativa do
Museu Histórico de Londrina, descobriu algumas funções, como por exemplo, aplicar o preto
e branco à fotografia. Havia um espaço com quadros em exposição. O grupo primeiramente
tirou a foto em modo colorido, mas assim não resultaria na intenção desejada: fazer parecer
que a pessoa realmente esteja em um trapiche na beira de um rio. Na função preto e branco foi
possível. Apenas se observar atentamente a fotografia percebe-se que é um quadro, pois na
parte inferior vê-se parte da parede mais clara.
No rosto do menino há luz dura (sombras) devido à luz florescente
localizada acima do mesmo. Além disso, situou-se num local em que as linhas do corrimão do
trapiche terminavam nele, fazendo o observador olhar primeiramente para ele. O grupo o
tenha ajudado a se posicionar exatamente neste ponto a fim de deixá-lo em destaque. Com o
destaque do aluno a “paisagem” deixa de ser o foco, assim a pessoa que não tem ideia do que
estava havendo nem percebe ser um quadro.
Após a apresentação destas três fotografias produzidas pelos alunos,
percebe-se que seus olhares se tornam mais refinados ao se tratar da imagem fotográfica
naquele instante. Algumas apresentações e análises chegam a surpreender os professores e
estagiários diante da percepção dos alunos sobre importância da imagética ao se estudar as
disciplinas, não se limitando somente à História, e às exposições do Museu Histórico. A
questão mais satisfatória ao término da atividade é identificar o olhar mais crítico dos
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participantes. Ao perceberem que nenhuma fotografia, assim como as imagens em geral e
evidências históricas, são vazias de conteúdo, o objetivo foi atingido. Os alunos ficam
sensibilizados para a exploração desses documentos imagéticos por serem repletos de
intenções, as quais devem ser questionadas a fim de obter comunicação com os mesmos.
Portanto, a fotografia permite a captura imediata de determinado instante,
contudo é aconselhável o questionamento sobre a mesma por não representar a realidade.
Quando os alunos enquadram os elementos estão consequentemente manipulando a foto para
mostrar apenas o que desejam em variadas proporções, seja em tamanho ou quantidade. Logo,
omitem outros elementos. Estar sensibilizado a observação das constantes imagens expostas
no dia a dia possibilita o olhar crítico, lembrando que este não necessariamente seja negativo.
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