Petitio principii: As regras do jogo
Funciona mais ou menos assim: Você constrói um capital social repleto
de gente que quer enriquecer sem muito esforço. "Fé cega, faca amolada!" Ao
menos previna-se que cerca de 2/3 deles é hábil e discreto o suficiente para os
negócios; nada de gente escandalosa e pueril por perto. Esse é um jogo pra
adultos, lembre-se. Aos que não sabem lidar com a experiência e a
maturidade, preserve-os tão somente se, em contrapartida, possuírem carisma.
Perceba se eles sabem investir o que roubam, e se investem em imóveis antes
de arriscar a sorte no poker das especulações. Reitero, as crianças devem ficar
fora do barco!
Fique atento, essas são as primeiras lições! Encontram-se, semelhantes a
essas, várias outras em livros e manuais upados nas nuvens, mas não
adiantará de nada tentar baixá-las no torrent. Vivenciar a obra é o ponto chave
para o sucesso nessa empreitada, e, além do mais, essa estratégia o tornará
aos olhos dos seus um jogador de extrema habilidade. Mesmo que o blefe seja
o seu trunfo maior, negue!
Não há leitura possível para a piedade nesse jogo. À piedade deve-se reservar
a mesma importância que o policial militar de Cavaleiro, Sérgio, reservou à
Lurdes do Alto da Besta; simplesmente, não a deixe sobreviver. Como queiram,
os fins justificam os meios, eis o mantra sagrado! Outros cuidarão em organizar
o caos, não você! Seu trabalho deve pautar-se pelas coisas difusas, mas não
para organizá-las em relatórios trimestrais. Só um toque: toda vez que você
fala a palavra "coerência" nesse jogo, um cheiro danado de mofo sobe no ar.
Palavras velhas, e conceitos por demasia inflados, já diziam os sábios, devem
ser usados com prudência; não abuse e use C&A.
Não se deve descartar a tortura psicológica e o assédio moral para com seus
subordinados. Não haja como um santo ou um salvador, mostre-lhes que você
tem equilíbrio, sensatez e destreza para saber separar as questões de ordem
subjetiva das de ordem objetiva - sem cair na histeria. Como disse: as crianças
devem ficar fora do barco!
Permita-me apenas um último detalhe ante de terminar: vez em quando, em
público, esqueça um pouco os negócios. Não há quem aguente andar de
máscara o dia todo, use um alicate se preciso for para fazer a operação
dolorosa mas necessária de desnudar-se. Os aplausos deverão ser o seu
combustível; se a vaidade é mesmo uma má conselheira, espere só para ver o
que há dentro do espelho d'água.
Mandamentos imprescindíveis: se sua empresa for pequena, pense grande:
“um dia será maior, um dia será maior!” Lembra-se do mantra? então! Implante-
o em sua culpa franciscana. Se sua empresa for grande, um adendo, agentes
públicos e entes privados devem apagar as luzes antes de transar, a discrição
é a alma desse negócio.
Sem mais,
_Avelar da Cunha Amaral_
Gerente geral de petição de princípio
para jogadores acríticos
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