Rei, capitão, soldado, ladrão
Rei, capitão,soldado, ladrão,menina bonita
do meu coração.
Não quero ter coroa,nem arma na mão,nem fazer assaltoscom um facalhão.
Quero ser criança,quero ser feliz,
não quero nas lutaspartir o nariz.
Quero ter amigosjogar futebol,
descobrir o mundodebaixo do sol.
Rei, capitão,soldado, ladrão,
não.Mas quero a menina
do meu coração.
Tudo de pernas para o ar
Numa noite escura, escura,o sol brilhava no céu.Subi pela rua abaixo,vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poçomais alto que a chaminé,vi peixes a beber pão,rãs a comerem café.
Construi a minha casacom o telhado no chãoe a porta bem no cimopara lá entrar de avião.
Na escola daquela terraensinavam trinta burros.O professor aprendiaa dar coices e dar zurros
Associação de Professores de Português
#na_tua_escola
Poemas da Mentira e da Verdade, de Luísa Ducla Soares
Edição Livros Horizonte
Poemas da mentira
Canção da mentira Tudo ao contrário Peguei na serra da estrela Abecedário sem juízo Música Casamento A força das palavras Trocas A minha casinha À mesa D. Gonçalo a cavalo O que uma criança sofre Romance das dez meninas casadoiras A sementeira Rio douro Da minha janela à tua Perguntas Os números do menino guloso Tudo de pernas para o ar Se a panela tem asas Vamos trocar Poema às massas
Poemas da verdade
O jardineiro Quanto custa Noite Poema em G Poema em P Se SonhoO tempo O carrocel Pai O búzio Entre 4 paredes No bairro de lata A mãe A menina azul A menina feia A sombra Sim ou não Rei, capitão, soldado, ladrão A união faz a força Eu queria ser Pai Natal
CANÇÃO DA MENTIRA
Foi numa serra nevadaem Vila Franca de Xiraque um lagarto me ensinouesta canção da mentira.
Ia um rei a cavalgarna sua pulga preferida,em cada salto saltavauma légua bem medida.
Encontrou uma princesaque chiava de afliçãoao ver um gato com garfoe faca a comer um cão.
Como era um rei corajosopuxou da espada de paupara fugir a sete pésmas tropeçou num lacrau.
Passou por baixo da pontequando chegou junto ao rio.Tanto apertava o calorque ele tremia de frio.
Visitou uma cidadeque andava a fazer o pino,onde as igrejas dançavamequilibradas no sino.
Quando voltou ao castelono meio do olivalviu carapaus a voareme nuvens a chover sal.
Veio o pai abrir-lhe a portaquando ele bateu - truz, truz.Estava a mãe a nascerdo ovo duma avestruz.
Como um disco voadorcolhia flores no jardim,embarcaram todos trêse a história chegou ao fim.
TUDO AO CONTRÁRIO
O menino do contraqueria tudo ao contrário:deitava os fatos na camae dormia no armário.
Das cascas dos ovosfazia uma omelete;para tomar banho
usava a retrete.
Andava, corriade pernas para o ar;se estava contente,punha-se a chorar.
Molhava-se ao sol,secava na chuvae em cada péusava uma luva.
Escrevia no lápiscom um papel;achava salgadoo sabor do mel.
No dia dos anosteve dois presentes:um pente com velase um bolo com dentes.
PEGUEI NA SERRA DA ESTRELA
Peguei na Serra da Estrelapara serrar uma cadeirae apanhei um nevãonuma serra de madeira.
Com as linhas dos comboiosbordei um lindo bordado,quando o comboio passouo pano ficou rasgado.
Nas ondas do teu cabelojá pesquei duas pescadas.Olha para as ondas do mar,como estão despenteadas.
Guardo o dinheiro no banco,guardo o banco na cozinha.Tenho cem contos de fadas,que grande fortuna a minha.
Com medo que algum ladrãoum dia me vá roubar,mandei pôr na minha portatrês grossas correntes de ar.
Encomendei um cachorronaquela pastelaria;quem havia de dizerque o maroto me mordia?!
Apanhei uma raposa
no exame e estou feliz:vejam que lindo casacocom a sua pele eu fiz.
Entrei numa carruagempara voltar à minha terra,enganei-me na estaçãoe desci na Primavera!
ABECEDÁRIO SEM JUÍZO
A é o André, a beber a água pé.B é o Bruno, vai a fugir dum gatuno.C é a Camila, com corpinho de gorila.D é o Daniel, come lenços de papel.E é a Ester, que nunca usa talher.F é o Frederico, está sentado no penico.G é o Gonçalo, já hoje levou um estalo.H é a Helga, picada por uma melga.I é a Inês, a dar beijos num chinês.J é o João, põe ratos dentro do pão.L é a Luísa, vai para a rua sem camisa.M é a Maria, que só dorme todo o dia.N é o Norberto, que gosta de armar em esperto.O é o Olegário, caiu dentro do aquário.P é a Paula, tira bananas da jaula.Q é o Quim, meteu a mão no pudim.R é a Raquel, que se besunta com mel.S é a Sara, com dez borbulhas na cara.T é o Tiago, a pescar botas no lago.U é o Urbino, que sofre do intestino.V é a Verónica, tem a preguicite crónica.X é o Xavier, usa roupa de mulher.Z é a Zulmira, que na aula dança o vira.
MÚSICA
Paulina toca pianoe Virgílio, violino.Toca Tomás o tambore o sacristão toca o sino.
Eu toco à porta da rua,para irritar a vizinha,quarenta vezes seguidaso botão da campainha.
CASAMENTO
Casei um cigarrocom uma cigarra,fizeram os dois
tremenda algazarra
porque o cigarronão sabe cantare a cigarradetesta fumar.
Não digam que errei(mania antipática!)só cumpri a leique manda a gramática.
A FORÇA DAS PALAVRAS
Juntei várias letras -escrevi um letreiro.
Acendi as brasas -que grande braseiro!
Soltei quatro berros -armei um berreiro.
Juntando formigasfiz um formigueiro.
Será que com carnesse faz um carneiro?
TROCAS
Se me deresa lapiseiradou-te um gomo de maçã.
Se me deresum livrinhodou-te as asas de uma rã.
Se me deresuma bonecadou-te a flor que dá a lã.
E se eunão te der nada?Largo aqui uma galinhapara te dar uma dentada.
A MINHA CASINHA
Fiz uma casinhade chocolate,tapei-a por cima
com um tomate.
Pus-lhe uma janelade rebuçadoe mais uma portade pão torrado.
Pus-lhe um chupa-chupana chaminé;a fazer de neve,açúcar pilé.
A minha casinhabem saborosa...comi-a ao almoço.Sou tão gulosa!
À MESA
A mãe, se me vêcomer com a mão,prega-me logouma lição.
Então tenteicomer com o pé:
Tirei sapato,tirei a meia...Ia levando uma tareia.
Mas amanhãnão ralham comigopois vou comerpelo umbigo.
D. GONÇALO A CAVALO
Era uma vez um reichamado D. Gonçalo -passava toda a vidamontado num cavalo.
Com crinas se tapava,dormia, que regalo,até nascer o dia,deitado no cavalo.
Comia no selim,bebia do gargalo,nem para fazer chichidescia do cavalo.
País que ele pisasse,
era para conquistá-locom muita espadeirada,galopando a cavalo.
Entrou na catedralao bater do badaloquando se quis casarmontado no cavalo.
Mas a Dona Marçala,mulher de D. Gonçalo,não queria ser rainhavivendo num cavalo.
Quando ele a quis beijarela lhe deu um estalo -caiu el-rei Gonçaloabaixo do cavalo.
De tanto cavalgarno rabo tinha um caloe as pernas eram tortascom forma de cavalo.
Já não sabia andar.Pegou nele um vassalo.Que havia de fazer?Montou-o no cavalo.
O QUE UMA CRIANÇA SOFRE
Larguei o canáriono meu aquáriopara ele nadar.
Em vez de ficarcontente comigo,à noite, o meu paipôs-me de castigo.
Deitei o peixinhono meio do ninhopara descansar.
Em vez de ficarcontente comigo,à noite, o meu paipôs-me de castigo.
Enterrei dinheirodentro do canteiropara o semear.
Em vez de ficarcontente comigo,
à noite, o meu paipôs-me de castigo.
Eu dei ao bebésó um pontapépara ele voar.
Em vez de ficarcontente comigo,à noite, o meu paipôs-me de castigo.
ROMANCE DAS DEZ MENINAS CASADOIRAS
São dez as meninase sobre elas chove,mas chega um bombeiroe ficam só nove.
São nove meninascomendo biscoitomas chega um padeiroe ficam só oito.
São oito meninasfazendo uma omeletemas chega um gulosoe ficam só sete.
São sete meninaspintando papéismas chega um pintore ficam só seis.
São seis as meninasà volta de um brincomas chega um ourivese ficam só cinco.
São cinco meninasque vão ao teatromas chega um actore ficam só quatro.
São quatro meninasfalando francêsmas chega um estrangeiroe ficam só três.
São três as meninasguardando peruasmas chega um pastore ficam só duas.
São duas meninas
nadando na espumamas chega um barqueiroe fica só uma.
É uma meninaa apanhar carumamas chega um leão,não fica nenhuma.
A SEMENTEIRA
Semeei na minha quintaos cacos duma caneca:nasceu um velho sem dentesa pentear a careca.
Semeei na minha quintatrês postinhas de pescada:nasceram três gatos-tigrescom a cauda arrebitada.
Semeei na minha quintaum lápis bem afiado:nasceu uma professora,mandou-me fazer ditado.
Semeei na minha quintaseis carros do meu irmão:antes que algo nascesse,ele deu-me um bofetão.
RIO DOURO
Rio DouroDe ouro o anelAnel de SaturnoSaturno planetaPlaneta solarSolar do MarquêsMarquês de PombalPombal das pombasPombas da pazPaz e amorAmor ao próximoPróximo comboioComboio a vaporVapor de águaÁgua com peixesPeixes do rioRio Douro.
PERGUNTAS
Os ladrões vivem
nas águas furtadas?
O peito do pé usa soutien?
Em que carpintaria funcionaa Serra da Estrela?
Quando se come um prego, fica-se com ferrugem na barriga?
Em que mês aparecemandorinhas no céu da boca?
O Sumo Pontífice é feitode que sumo?
Em que guerra foi usadoo peixe espada?
DA MINHA JANELA À TUA
Da minha janela à tuavai o salto duma rã.Dá-me bolinhos de melao acordar, de manhã.
Da minha janela à tuavai o salto dum cabrito.Empresta-me a tua bola,senão ainda me irrito.
Da minha janela à tuavai o salto dum coelho.Faz-me os trabalhos de casaPois és dois dias mais velho.
Da minha janela à tuavai o salto dum burrico.Eu estou a pedir-te um beijo,Tu atiras-me um penico!
OS NÚMEROS DO MENINO GULOSO
Dá-me bolinhosmas não só um.Desde o almoçofaço jejum.
Dá-me bolinhosmas não só dois.Como um agoraoutro depois.
Dá-me bolinhosmas não só três,
que os vou paparduma só vez.
Dá-me bolinhosmas não só quatro,para os provarlogo no quarto.
Dá-me bolinhosmas não só cinco.Com tanta fomeeu bem os trinco.
Dá-me bolinhosmas não só seis,todos maioresque bolos reis.
TUDO DE PERNAS PARA O AR
Numa noite escura, escura,o sol brilhava no céu.Subi pela rua abaixo,vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poçomais alto que a chaminé,vi peixes a beber pão,rãs a comerem café.
Construi a minha casacom o telhado no chãoe a porta bem no cimopara lá entrar de avião.
Na escola daquela terraensinavam trinta burros.O professor aprendiaa dar coices e dar zurros.
SE A PANELA TEM ASAS
Se a panela tem asasdecerto pode voar.Ai, minha rica sopinhaonde irá ela parar?
Hei-de comprar uns sapatospara os pés da minha cama.Por andar sempre descalçatoda a noite ela reclama.
As costas desta cadeira
estão cheias de comichão.Ó cadeira, não te coces,que me atiras ao chão.
VAMOS TROCAR
- Vou comprar uma mãe novae um pai do meu agrado.Devem-se escolher os paisque temos ao nosso lado.Uma mãe que deite notaspela boca, pelo nariz,um pai que deteste a escolae me leve para Paris.
- Boa ideia, trocar filhos -disse o pai e mais a mãe.- Venha um filho muito amigo,que é o melhor que se tem.
Fiquei meio embaraçado.Que havia de decidir?Dei-lhes logo um grande abraçoe desatámos a rir.
POEMA ÀS MASSAS
Amassa a massa o padeiro,vende massa o merceeiro,usa massa o vidraceiroe também o cozinheiro.
Na Avenida e no Rossiopassam massas populares,as canções que as massas cantamvão voando pelos ares.
Ó ladrão, senhor ladrão,responda, mas não se zangue,a mania de roubarestá-lhe na massa do sangue?
Perdi todo o meu dinheiro,fui pedir massa emprestada,mas a massa que me deram,vejam - foi massa folhada!
Uma massa, outra massa...Com tanta massa amassada,digam lá se este poemanão é mesmo uma maçada!
O JARDINEIRO
Na cidadehá um jardime no jardim um canteiroe no meio do canteiroestá cavando o jardineiro.
A terra suja-lhe os pés,rasgam-lhe rosas as mãos,as dálias roçam-lhe a caraquando se dobra para o chão.
Há um jardim na cidadee no jardim um canteiro;quem vê as flores que lá estãonão pensa no jardineiro.
QUANTO CUSTA
Ó senhor crescido,quanto custa a lua?
Não custa dinheiro,se quiseres é tua.
Ó senhor crescido,e o sol é caro?
Não custa dinheiroeste sol tão claro.
Ó senhor crescido,mas a Terra então?Meu pai diz que a terracusta um dinheirãoe eu vi no jornalque um metro de terracusta um conto e tal!
NOITE
Filho,meu filho,vem-te deitar.Já sobre o maro sol se deitou.
Mãe,e a luase levantou.Se tenho mãosé para mexer,nunca mais quero
adormecer.
Filho,meu filho,vem-te deitar.Já sobre o maro sol se deitou.
Mãe,e a luase levantou.Se tenho pésé para correr,nunca mais queroadormecer.
Filho,meu filho,vem-te deitar.Já sobre o maro sol se deitou.
Mãe,e a luase levantou.Se tenho olhosé para ver,nunca mais queroadormecer.
Pôs-se a contarestrelas no céu;chegou a vinte,adormeceu.
POEMA EM G
Graça não gosta da guerra.Guilherme não gosta da guerra.Guida não gosta da guerra.A guerra matou-lhes o pai.A guerra queimou-lhes a casa.A guerra espantou-lhes o gado.Graça, Guilherme, Guida gritam.As granadas estoiram.Agora o sangue irriga as ruas.Graça, Guilherme, Guidaquerem gritarà gente grandeque se fica sempre a perder,mesmo que os generaisganhem as guerras.
POEMA EM P
A Paulapede a paz.
Os pardaisos peixesos pandasas plantasas pedraspedem a paz.
Os palhaçosos políciasos pintoresos padeirosos poetaspedem a paz.
Os prédiosas praiasos pastosas pontesas piscinaspedem a paz.
O planetapede a paz.
Políticos,não ponham na panelaa pomba da paz.SE...
- Se eu tivesse um carrohavia de conhecertoda a terra.
Se eu tivesse um barcohavia de conhecertodo o mar.
Se eu tivesse um aviãohavia de conhecertodo o céu.
- Tens duas pernase ainda não conhecesa gente da tua rua.
SONHO
Montei um cavaloque vi no terraço,voei para o circo
e fiz-me palhaço.
Toquei concertina,dancei ao compasso,dei saltos mortaisatravés do espaço.
Com um macaquinhopousado no braço,a cada meninoeu dei um abraço.
Desci os degrausdo sonho do meu quarto,caí sobre as coisasde que já estou farto.
Em tudo o que sou,em tudo o que faço,já não resta nadadaquele palhaço.
O TEMPO
Perdi o tempona ruaperdi o tempoa brincar.Ando agora atrás do temponão o consigo encontrar.
Mas prometo vinte escudosa quem mo tornar a dar.
O CARROCEL
Rodando no carrocelsubo e desço uma montanha.No meu cavalo de pau,A galope, quem me apanha?
À volta, à volta, entre o vento,o riso, a luz, as canções,corro entre duas girafas,seguido por três leões.
PAI
Pai,vens com os olhos cansados,os dedos gretados,os pés doridos,os sonhos moídos.
Onde colheste o sorrisoque me dáscomo uma flor?
O BÚZIO
Pus um búzio da praiana concha do meu ouvido.Logo ouvi o mar chamarmuito longe, num gemido.
Ó mar,Ó mar...
Peguei num búzio das águas,pousado ali na areia.Ele guardava a cançãosecreta duma sereia.
Ó mar,Ó mar...
É só um búzio das ondas,todos o julgam vazio.Mas eu viajo lá dentronum sonho feito navio.
Ó mar,Ó mar...
ENTRE 4 PAREDES
Pintei os sapatos de verdepara pisar um relvado.Pus um vestido de rosascom seu perfume encarnado.
Colei pratas nas janelascomo estrelas amarelas.
Fiz de uma vassourade pernas para o aruma palmeiraao vento a cantar.
Baloiçando o baloiçodo velho cortinadovoei enfimpelo meu jardiminventado.
NO BAIRRO DE LATA
Na ruaque não é rua
na casaque não é casa
uma bolaque não é bola.
Mas se o meninoa rebola
a bola finge de bolaa casa finge de casaa rua finge de rua.
E o meninofinge ou acreditaque a Terra também é sua?
A MÃE
A mãeé uma árvoree eu uma flor.
A mãetem olhos altos como estrelas.Os seus cabelos brilhamcomo o sol.
A mãefaz coisas mágicas:transforma farinha e ovosem bolos,linhas em camisolas,trabalho em dinheiro.
A mãetem mais força que o vento:carrega sacos e sacosdo supermercadoe ainda me carrega a mim.
A mãequando cantatem um pássaro na garganta.
A mãeconhece o bem e o mal.Diz que é bem partir pinhõese partir copos é mal.Eu acho tudo igual.
A mãe
sabe para onde vãotodos os autocarros,descobre as histórias que contamas letras dos livros.
A mãetem na barriga um ninho.É lá que guardao meu irmãozinho.
A mãepodia ser só minha.Mas tenho de a emprestara tanta gente...
A mãeà noite descasca batatas.Eu desenho caras nelase a cara mais lindaé da minha mãe.
A MENINA AZUL
A menina azulé fresca como um azulejoe tem lagos nos olhos.
A menina azulé a fadaque pintou o céu.
A menina azulé a água-marinhadum anel.
A menina azulquando se zangafica azul escurae quando ritão claracomo um regato.
A menina azultem sonhos azuiscomo peixes ondulantes.
A menina azultem sangue azulcomo tinta de escrever.
A menina azulé uma princesa de tuleque dança os tonsdo azul, azul, azul...
A MENINA FEIA
A menina feiatem dentes de ratoe pêlos nas pernasà moda de um cacto.
A menina feiatem olhos em bicoe o seu narizpica como um pico.
A menina feia,sardenta, gorduchanão parece gente,só lembra uma bruxa.
***
Se fechares teus olhos,a ouvires cantar,é uma sereia,princesa do mar.
Se fechares teus olhose chegares pertinho,ela cheira a rosase a rosmaninho.
Se lhe deres a mão,vês que é de veludoe tens uma amigapronta para tudo.
A SOMBRA
Eu tenho uma amiga, a sombra,que anda comigo e não fala.Por mais que eu puxe conversa,sempre a marota se cala.
Logo que corro para o sol,estende-se a sombra no chão.Pisam-na todos os pése senta-se nela o cão.
Salta para trás e para a frente,pula para cima, para o lado,mas parece que está presaà sola do meu calçado.
Faz tudo aquilo que eu faço:macaca de imitação!Até se lhe dou um estalome quer dar um safanão.
Eu sou branco, ela é preta,ando em pé, ela deitada.Mas nunca nos separamosaté ser noite fechada.
SIM OU NÃO?
Sim, não,sim, não...Ou fico com fomeou como feijão.
Sim, não,sim, não...Ou visto pijamaou ponho calção.
Sim, não,sim, não...Ou subo ao pinheiroou brinco no chão.
Sim, não,sim, não...Ou vou ao cinemaou leio a lição.
Sim, não,sim, não...Ou sou um porquinhoou uso sabão.
Sim, não,O que hei-de fazer?Mas que indecisão!
REI, CAPITÃO, SOLDADO, LADRÃO...
Rei, capitão,soldado, ladrão,menina bonitado meu coração.
Não quero ter coroa,nem arma na mão,nem fazer assaltoscom um facalhão.
Quero ser criança,quero ser feliz,não quero nas lutaspartir o nariz.
Quero ter amigosjogar futebol,descobrir o mundo
debaixo do sol.
Rei, capitão,soldado, ladrão,não.Mas quero a meninado meu coração.
A UNIÃO FAZ A FORÇA
Se todas as terrasse fossem juntarmas que grande monteiriam formar.
Se todas as águasse fossem juntarmas que grande maririam formar.
Se os homens de pazse fossem juntarmas que grande exércitoiriam formar.
E por sobre a terrae por sobre o marentão é que as guerrasiam acabar.
EU QUERIA SER PAI NATAL
Eu queria ser Pai Natale ter um carro com renaspara pousar nos telhadosmesmo ao pé das antenas.
Descia com o meu sacoao longo da chaminé,carregado de brinquedose roupas, pé ante pé.
Em cada casa trocavaum sonho por um presente.Que profissão mais bonitafazer a gente contente!
LIVRO
Livroum amigopara falar comigoum naviopara viajarum jardim
para brincaruma escolapara levardebaixo do braço.
Livroum abraçopara além do tempoe do espaço.