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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS - LEI 12.305/2010
UMA VISÃO GERAL E SUA INTERFACE COM O PORTO DE SANTOS
NATIONAL POLICY OF SOLID RESIDUES – ACT 12.305/2010
AN OVERVIEW AND ITS INTERFACE WITH PORT OF SANTOS
Jamir Mendes Monteiro1
Carla Carolina Pecora Gomes2
Loamy Sá3
Thatiane Freitas de Sousa Furtado4
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a gestão dos resíduos sólidos sob a perspectiva da
lei 12.305/2010 nas operações portuárias do Porto de Santos. A principal motivação vem
do histórico das Docas que durante 50 anos depositou materiais contaminados sem
tratamento, no bairro da Alemoa, naquilo que ficou conhecido como o lixão da CODESP,
o qual gerou um passivo ambiental sobre uma área de 350 mil metros quadrados. As
pesquisas foram voltadas para identificar os procedimentos, principalmente, relativos à
implementação da logística reversa no descarte correto dos resíduos sólidos. Para seu
desenvolvimento foi realizado um levantamento bibliográfico e recolhimento de
informações cedidas pelo Grupo Libra (operadores portuários). O trabalho identificou que
o gerenciamento ineficaz dos resíduos do Porto além de gerar custos desnecessários pode
atrair doenças e insetos. E que sua gestão ambiental apresenta-se inadequada devido à
fiscalização ineficiente, infraestrutura inapropriada, falta de educação ambiental e
conexão entre os agentes envolvidos. Assim, as evidências indicam que a integração entre
governo, iniciativa privada, terceiro setor e consumidores pode tornar-se uma solução
1 Doutor em Engenharia de Produção - Senac Santos - Pós-graduação 2 MBA em Logística - Senac Santos - Pós-graduação 3 MBA em Logística - Senac Santos - Pós-graduação 4 MBA em Logística- Senac Santos - Pós-graduação
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sustentável, efetiva e viável à gestão de resíduos portuários.
Palavras-chave: Porto de Santos, Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Logística
Reversa.
ABSTRACT
The present article aims to analyze the management of solid residues from the
perspective of the law 12.305/2010 in port operations at the Port of Santos. The primary
motive for this work comes from the Docks’ history, which for 50 years has placed
contaminated and untreated materials in the neighborhood of Alemoa, which became
known as the CODESP dumpsite, creating environmental hazards over an area of 350
thousand square meters. The studies were focused in order to identify the procedures,
especially concerning the implementation of reverse logistics in proper disposal of solid
residues. For the development of this project a bibliographical survey and collection of
information provided by the Libra Group (port operators) was conducted. This study has
identified that the ineffective management of the port’s residues, besides generating
unnecessary costs, can attract disease and insects to the area; and that its environmental
management is currently inadequate due to ineffective law enforcement, inappropriate
infrastructure, lack of environmental education and connection between the actors
involved. Therefore, the integration among government, private sector, third sector and
consumers becomes a sustainable, effective and achievable solution to the port’s
management of solid residues.
Keywords: Port of Santos, Solid Residues Management, Reverse Logistics.
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1. INTRODUÇÃO
A preservação ambiental é fator de vantagem competitiva sustentável,
especialmente, quando somada às ações de responsabilidade social organizacional.
Órgãos de administração pública, como a CODESP5, têm que funcionar como vetor de
modelo exemplar no descarte correto dos resíduos. As boas práticas na área ambiental
repercutem de forma amplificada o que favorece adesões espontâneas no
comprometimento com ações que preservam o meio ambiente e por outro lado inibem
ações contrárias a essas práticas.
No Brasil o Decreto Lei 794 de 19/10/1938 já incorporava preocupações
ambientais:
Art. 16. O lançamento de resíduos e detritos comprovadamente tóxicos
nas águas interiores ou litorâneas será regulado por instruções emanadas do
Serviço de Caça e Pesca.
§ 1º E’ expressamente proibido o lançamento de óleos e produtos
oleosos nas águas interiores ou litorâneas.
§ 2º Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 1:000$000 a
5:000$000 (um conto a cinco contos de réis), elevada ao dobro na reincidência.
Posteriormente o decreto lei 50.587 de 26/09/1961, ratifica o anterior e
estabelece:
Art. 1º Os resíduos líquidos, sólidos ou gasosos, domiciliares ou
industriais, somente poderão ser lançados às águas, "in natura" ou depois de
tratado, quando essa operação não implique na poluição das águas receptoras.
Art. 2º Fica proibida terminantemente, a limpeza de motores dos navios
e o lançamento dos resíduos oleosos dela provenientes nas águas litorâneas do
País.
Art. 3º Para os efeitos deste Decreto considera-se "poluição" qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas das águas, que possa
importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações e
ainda comprometer a sua utilização para fins agrícolas, industriais, comerciais,
recreativos e, principalmente, a existência normal da fauna aquática.
Uma série de outros decretos, portarias e normas se sucederam a esses sempre
objetivando a proteção e a preservação do meio ambiente e da vida.
5 Companhia Docas do Estado de São Paulo
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Assim, nunca faltaram instrumentos para controlar e coibir o descarte incorreto dos
resíduos gerados pela atividade humana.
O aumento da geração de resíduos sólidos é um dos principais agentes de
degradação do meio ambiente e redução da qualidade de vida do homem, problema que
vem se agravando cada vez mais com o crescimento da população, gerando a poluição. A
poluição pura e simples é um sinal de ineficiência produtiva, de desperdício de material
passível de reciclagem, consciência ambiental e falta de aplicabilidade das
regulamentações ambientais.
Contudo, o pneu inservível que hoje degrada o meio ambiente pode ser destinado
novamente para a cadeia produtiva, devendo ser encarado como oportunidade de melhoria
e de novos negócios.
O trabalho teve como objetivo analisar a política nacional de resíduos sólidos sob
os aspectos da Lei 12.305/2010 através de uma visão geral e sua interface com os resíduos
sólidos gerados no Porto de Santos.
Dessa forma, foi realizada uma pesquisa baseada no Porto de Santos, no processo
de gestão ambiental, no gerenciamento de resíduos sólidos, na logística reversa, e na
Política Nacional de Resíduos Sólidos, tendo como base, os autores da área logística,
expondo seus conceitos. Ressalta-se que O Grupo Libra disponibilizou todo o acesso
necessário para a realização deste projeto.
O tipo de pesquisa utilizado foi a análise descritiva e explicativa fundamentadas nas
técnicas de pesquisa bibliográfica e estudo de caso feito no Grupo Libra, no Porto de
Santos. O método de abordagem empregado foi a observação direta e a análise
documental e no que se refere à natureza metodológica, adotou-se a qualitativa.
Portanto, para gerenciar efetivamente os resíduos portuários, em específico os
pneus inservíveis, é primordial a utilização da gestão integrada da cadeia logística reversa,
implementando procedimentos e levando em consideração tanto o desenvolvimento
sustentável quanto a redução de custos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gestão ambiental portuária
O aquecimento da economia contribui para o crescimento das atividades portuárias
aumentando a quantidade de seus produtos, serviços e motivando a produção de um
considerável volume de resíduos na região portuária, surgindo a necessidade de uma
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gestão ambiental, ou seja, um conjunto de programas e práticas administrativas e
operacionais voltadas à proteção do ambiente, à saúde e a segurança da população.
A gestão ambiental portuária é a administração das demandas
ambientais visando o desenvolvimento sustentável da atividade produtiva e a
redução de custos ambientais, como soluções coletivas do tratamento de
resíduos, tratamento de efluentes, ações de emergência e monitoramento
(CUNHA, 2004).
O sistema portuário brasileiro é composto por 37 portos públicos. Desse total, 18
são delegados, concedidos ou tem sua operação autorizada à administração por parte dos
governos estaduais e municipais. Existem, ainda, 42 terminais de uso privativo e três
complexos portuários que operam sob o regime de concessão à iniciativa privada
(www.codeba.com.br).
Roitman (2000) indica que o gerenciamento ambiental das áreas portuárias tem
conquistado espaço e importância nas discussões políticas e na imprensa, além de uma
estrutura formada por organismos internacionais (IMO6), organismos nacionais
(IBAMA7, CETESB8) e especialistas em diversas áreas, contribuindo para a análise e
definição das diretrizes sobre as principais questões envolvendo a variável ambiental da
área sob influência do porto.
Seiffert (2002), em suas publicações, tem demonstrado que os impactos ambientais
decorrentes das atividades portuárias apontam problemas que extrapolam os limites da
região portuária. O autor destaca como principais problemas: destruição da
biodiversidade, alteração da qualidade do ar por emissão de materiais particulados,
descarte de resíduos não perigosos (ocupação de aterro), poluição da água por estações
de tratamento de esgoto e de efluentes, contaminação do solo por resíduos, contaminação
da água do mar na costa, consumo de recursos naturais, despejos de óleo, poluição da
água por resíduos industriais, locais de despejos de resíduos sólidos (ativos ou inativos).
Percebe-se que o processo de gestão ambiental dos resíduos sólidos é complexo,
envolve recursos, tempo, área física e a conscientização de toda a sociedade. Sendo assim,
os portos, localizados em áreas de extrema vulnerabilidade ambiental, devem ser alvo de
6 Organização Marítima Internacional 7 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 8 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
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uma interação do poder público com as organizações privadas para que os resíduos
gerados ao longo do processo produtivo sejam destinados de forma ambientalmente
adequada.
2.2 Plano de Resíduos Sólidos
Chiuvite e Andrade (2001) relatam que, podemos caracterizar resíduos como tudo
o que é rejeitado durante o processo de produção, transformação ou utilização de bens e
serviços e restos provenientes de atividade humana.
Os resíduos sólidos podem ser parcialmente reutilizados resultando em benefícios
para a natureza reduzindo os impactos ambientais e para a sociedade com a preservação
da saúde pública e a movimentação econômica gerada pela implantação de um sistema
de gerenciamento para resíduos sólidos que englobe a previsão de demanda de resíduos,
o tipo de material, a forma de coleta, o armazenamento e transporte desse material, além
da identificação de um destino final adequado.
Castilhos Junior (2003) afirma que o gerenciamento dos resíduos deve ser
integrado, englobando etapas articulares entre si, desde ações visando a não geração de
resíduos até a disposição final. A gestão focada de cada uma dessas etapas, desde que
operadas de forma integradas, resultará na eliminação de elementos tóxicos resultantes,
na redução do que se pode chamar de “resíduos dos resíduos”, cujo destino final poderia
ser os aterros sanitários, e a implementação dos processos de reutilização dos elementos
industrializáveis, gerando enormes benefícios para a economia e para a saúde ambiental.
A elaboração de um Plano de Resíduos Sólidos é obrigatória para a União, os
Estados, os Municípios e as empresas geradoras de resíduos sólidos ou resíduos
perigosos.
Os Municípios são os principais agentes gestores e fiscalizadores da coleta,
transporte e destinação ambientalmente adequada dos rejeitos gerados nos respectivos
territórios, geridos a partir dos planos municipais integrados de resíduos sólidos,
limitando-se aos resíduos domésticos e comerciais até 50 quilos.
Já aos Estados cabem controlar e fiscalizar as atividades dos geradores sujeitos a
licenciamento ambiental pelo órgão estadual do SISNAMA9. No caso do Estado de São
Paulo o órgão responsável é a CETESB.
9 Sistema Nacional de Meio Ambiente
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2.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010
A Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, instituiu no Brasil a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, a qual define resíduos sólidos, em seu Artigo 3o, inciso XVI, como:
"material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em
sociedade (...)”.
No mesmo Artigo, inciso VII, a Lei dos Resíduos Sólidos estabelece que a
destinação final dos resíduos tenha que ser "ambientalmente adequada" e lista as opções
da reutilização: reciclagem, compostagem, recuperação e o aproveitamento energético e
definindo o gerador dos resíduos como responsáveis pela logística reversa.
No caso de impossibilidade técnica ou economicamente inviável do
encaminhamento para uma dessas opções, os resíduos sólidos passarão a se denominar
rejeitos e a disposição final deve seguir normas operacionais específicas, de modo a evitar
danos ou riscos à saúde pública, à segurança e com o mínimo de impacto ambiental
adverso. Sendo o aterro sanitário um dos principais locais de destino dos rejeitos, devendo
ser verificada toda a regularidade do aterro sanitário, com os respectivos registros
ambientais.
Por outro lado, por essa legislação, fica expressamente proibida a destinação ou
disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou em quaisquer corpos
hídricos; in natura a céu aberto (exceto os resíduos de mineração); queima a céu aberto
ou em recipientes/instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade.
O conjunto de artigos da lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
exige para seu cumprimento uma visão sistêmica de todos os envolvidos no processo de
consumo do produto final e que estes considerem as variáveis ambiental, social, cultural,
econômica, tecnológica e de saúde pública.
Ainda, a legislação traz a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do
produto, delimitando as atribuições individualizadas entre fabricantes, importadores,
distribuidores, consumidores e dos titulares dos serviços público de limpeza urbana e de
manejo dos resíduos sólidos. Seguindo o conceito de ciclo de vida do produto como:
"série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matéria
prima e insumos, o processo produtivo e a disposição final” (Artigo 3o, inciso IV).
A norma prioriza a ordem ideal como metas a serem atingidas no gerenciamento
dos resíduos sólidos, quais sejam: Não geração; Redução; Reutilização; Reciclagem;
Tratamento e Disposição final ambientalmente adequada (Artigo 7o, inciso II).
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Visando o cumprimento dessas metas, o Decreto apresenta as ferramentas passíveis
de utilização e ambientalmente corretas:
2.3.1 Coleta seletiva
É o recolhimento dos materiais possíveis de serem reciclados (papéis, plásticos,
metais e vidros) previamente separados na fonte geradora evitando sua contaminação,
aumentando seu valor agregado e diminuindo seu custo de reciclagem.
A coleta seletiva deverá ser implementada mediante a separação prévia
dos resíduos sólidos (nos locais onde são gerados), conforme sua constituição
ou composição (úmidos, secos, industriais, da saúde, da construção civil, etc.).
A implantação do sistema de coleta seletiva é instrumento essencial para se
atingir a meta de disposição final ambientalmente adequada dos diversos tipos
de rejeitos. A coleta seletiva deve ser entendida como um fator estratégico para
a consolidação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em todas as suas áreas
de implantação. No tocante ao serviço público de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos deverá se estabelecer, no mínimo, a separação de resíduos
secos e úmidos e, progressiva-mente, se estender à separação dos resíduos
secos em suas parcelas específicas segundo as metas estabelecidas nos planos
de gestão de resíduos sólidos. (www.mma.gov.br)
2.3.2 Acordo setorial
Trata-se de uma ferramenta importante, principalmente na gestão integrada de
resíduo sólido em setores comuns, próximos e/ou interessados.
Define-se na legislação: "ato de natureza contratual entre o poder público e
fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação
de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto" (Artigo 3o, inciso I).
O acordo setorial propicia um modelo de gestão baseado na visão sistêmica do
processo, podendo diminuir custos com a destinação dos resíduos com ações conjuntas.
2.3.3 Logística reversa
Ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos, a logística reversa está presente em todos os capítulos da Lei que
demandam ações e procedimentos a serem adotados por empresas, consumidores e poder
público em uma cadeia logística invertida no seu sentido de fluxos.
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Sua aplicação é legalmente obrigatória para o retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de acordo com o Artigo 33, inciso (I) para os resíduos de agrotóxicos e
embalagens; (II) pilhas e baterias; (III) pneus; (IV) óleos lubrificantes e suas embalagens;
(V) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; (VI) produtos
eletrônicos e seus componentes.
A logística reversa gerencia e distribui o material descartado possibilitando seu
retorno ao ciclo produtivo agregando valor econômico e ecológico.
Leite (2003) conceitua logística reversa como a área da logística empresarial que
planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno
dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por
meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas:
econômico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
Portanto, o correto gerenciamento da logística reversa é essencial ao
desenvolvimento da reciclagem e, por conseguinte, mitigação dos impactos ambientais e
geração de rendas.
2.4 O Porto de Santos
O Porto de Santos foi inaugurado no dia 2 de fevereiro de 1892 com a atracação de
um navio de bandeira inglesa nos primeiros 260 metros de cais do Valongo. Na época, a
cidade de Santos passou por uma grande transformação, pois velhos trapiches e pontes
fincados em terrenos lodosos foram substituídos por aterros e muralhas de pedra. Desde
então, o Porto não parou de crescer, acompanhando as fases de crescimento econômico
do país e contribuindo para o desenvolvimento industrial da região. Da sua origem, ligada
ao café, passou à diversificação de importação e exportação de inúmeros tipos de
mercadoria (JORNAL PORTUÁRIO, 2013).
É primordial a contribuição das atividades portuárias nos resultados da economia
não só pela atividade fim ou principal, mas também pela geração de empregos, renda e
divisas ao país.
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Segundo o site PORTO DE SANTOS:
O Porto de Santos conta com uma área de 7,7 milhões de m², ficando
3,7 milhões de m² na Margem Direita e 4,0 milhões m² na Margem Esquerda.
Possui 13 quilômetros de extensão de cais e um total de 59 berços, dos quais
49 públicos e 10 privados. Possui 55 quilômetros de dutos e 100 quilômetros
de linhas férreas. A variação da maré é de 1,2 metros. Para armazenamento de
granéis líquidos conta com uma capacidade estática de, aproximadamente, 700
mil m³; e para granéis sólidos, instalações para acondicionar mais de 2,5
milhões de toneladas.
O Porto de Santos possui uma usina hidrelétrica para abastecimento
próprio, com capacidade de 15 mil KVA, buscando o excedente junto à
concessionária regional.
Sua área de influência primária, que concentra mais de 50% do PIB,
abrange os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. A hinterlândia secundária inclui os estados da Bahia, Tocantins,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Cerca de 90% da base industrial do Estado de São Paulo está localizada a
menos de 200 quilômetros do Porto de Santos.
O Complexo Portuário Santista responde por mais de um quarto da
movimentação da balança comercial brasileira e inclui na pauta de suas
principais cargas o açúcar, o complexo soja, cargas conteinerizadas, café,
milho, trigo, sal, polpa cítrica, suco de laranja, papel, automóveis, álcool e
outros granéis líquidos.
O Porto de Santos é um dos maiores e mais modernos da América Latina, sendo
que uma grande parcela do comércio exterior brasileiro o utiliza como corredor de
distribuição, sua movimentação de cargas é crescente e o volume de veículos que as
transportam, também.
2.4.1 Os Portos e os Resíduos Sólidos
Os portos estão inseridos na alínea "j", do inciso I, do Artigo 13 da Lei 12.305 que
trata de resíduos de serviços de transporte originários de portos e terminais alfandegários,
aeroportos, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira.
Assim, os terminais e outras instalações estão sujeitos à elaboração do plano de
gerenciamento de resíduo sólidos e sujeitos às sanções no caso de não tratarem os resíduos
da maneira correta.
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A CODESP, administradora do Porto de Santos, tem um núcleo ambiental lotado
na Superintendência de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, com a função de
gerenciamento ambiental na área portuária sob sua jurisdição. Conta em seus quadros
operacionais e de gestão com biólogos, químicos, técnicos em meio ambiente,
oceanógrafo, além de profissionais terceirizados contratados pelo Porto.
Em levantamento efetuado por técnicos da CODESP e do CECAP10, no complexo
portuário em 2012, identificou-se a existência de 15 diferentes tipos de resíduos que
resultaram nos seguintes volumes totais:
Gerados pela CODESP:
-Orgânicos e recicláveis: 1.932 t
-Perigosos (óleo usado): 2.925 t
- Total: 4.857 t
Gerados pelas embarcações:
-Orgânicos e recicláveis (taifa): 1.952
-Perigosos (óleo usado): 75.623 t
-Total: 77.575 t
Gerados pelas arrendatárias:
-Orgânicos e recicláveis (diversos): 13.320 t
-Perigosos (diversos): 2.080 t
-Total: 15.400 t
TOTAL GERAL: 77.575 t
Segundo Grota (2006):
10 Centro de Ensino Capacitação e Aperfeiçoamento
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O lixo de varrição do cais público, ruas e roçada é terceirizado desde o
recolhimento até a destinação. Igualmente é terceirizada a coleta seletiva de
papel e copos plásticos. Há caixas coletoras de pilhas e baterias que são
enviadas a empresas recicladoras. A coleta seletiva de pneus e lâmpadas é feita
por empresa privada e é destinada a leilão. Promove-se novo projeto de coleta
seletiva com: novo levantamento de dados, novos orçamentos e treinamento e
conscientização. O lixo de ambulatório, no posto de saúde da prefeitura, tem
sua coleta terceirizada pela prefeitura e é incinerado em Mauá-SP. Sucatas de
guindastes, trilhos, barcaças são armazenadas temporariamente e destinadas a
leilão. Entulhos: telhas, paralelepípedos, madeira são igualmente leiloados.
Resíduos decorrentes de mitigações como óleo, graxa e produtos químicos em
geral são acondicionados em tambores metálicos devidamente rotulados e
armazenados para posterior destinação. Para os resíduos gerados por navios há
quinze empresas cadastradas para recolhimento e destinação final sendo
incinerados em fornos qualificados e autorizados. Processam-se ainda os
resíduos gerados pela taifa de navios de passageiros em redor de 203 toneladas
por ano, bem como dos cargueiros com 90 toneladas por ano. Os resíduos
gerados nos navios resultantes da manutenção, contaminados com óleo, as
embalagens, estopas, panos, trapos, papeis, papelão, serragem e uniformes
impregnados com óleos e graxas são acondicionados. Os resíduos oleosos
(mistura de água de condensação com óleo combustível) são retirados por
caminhão tanque ou embarcação. O órgão controlador, em ambos os casos é a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica constituída por consulta a livros,
dissertações, teses, revistas científicas, sendo o acesso aos documentos obtidos por meio
de bancos de dados e em bibliotecas, com o objetivo de identificar quais os pontos a serem
abordados na elaboração de uma proposta de aplicação do conceito. Do ponto de vista
prático, optou-se pelo método do Estudo de Caso, por ser o mais adequado a este tipo de
pesquisa, aplicado a uma empresa operadora privada de terminal portuário.
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3.1 Os Pneus e o Meio Ambiente
A Reciclanip conceitua o pneu como um artefato inflável, constituído basicamente
por borracha e materiais de reforço utilizados para rodagem em veículos automotores e
bicicletas e, por isso, o tempo de decomposição do pneu na natureza é indeterminado,
podendo gerar diversos danos ao meio ambiente, além de ser local de criadouro de
mosquito da dengue, febre amarela e malária (www.reciclanip.com.br).
O pneu é um produto essencial à segurança dos usuários, garantindo melhor
desempenho, estabilidade e performance dos veículos. É fabricado para atender aos
hábitos de consumo, assim como às condições climáticas e às características do sistema
viário existentes em cada país. O peso de um pneu de automóvel varia entre 5,5 e 7,0 kg
e um pneu de caminhão pesa entre 55 e 80 kg. Contudo, seu material é de difícil
decomposição, de aproximadamente 600 anos, e não é biodegradável (ANDRIETTA,
2002).
Os pneus podem ser transformados em óleo, gás e enxofre. Além disso, os arames
que existem nos pneus radiais podem ser separados por meios magnéticos. Uma tonelada
de pneus rende cerca de 530 kg de óleo, 40 kg de gás, 300 kg de negro de fumo e 100 kg
de aço (AMBIENTE BRASIL, 2007).
Andrietta (2002) afirma que diversas outras formas de aproveitamento ou
reciclagem podem ainda ser destacadas:
Recauchutagem ou reforma: o pneu não deve apresentar cortes, deformações e
a banda de rodagem em condições que permitam sua aderência ao solo, para que se possa
realizar a reforma.
Recuperação: trituração dos pneus e moagem dos resíduos, reduzidos a um pó
fino. Os pneus recuperados são utilizados na mistura com asfalto para pavimentação e nas
fábricas de cimento.
Regeneração ou desvulcanização: a borracha é separada dos demais
componentes e desvulcanizada, passando por modificações que a torna mais plástica e
apta a receber nova vulcanização, sem as mesmas propriedades da borracha crua.
3.1.1 Pneus inservíveis
Os pneus usados, sem nenhuma possibilidade de reuso, ou seja, que não poderão
ser reutilizados na recauchutagem ou recapagem, classificados como pneus inservíveis,
são um problema de cunho internacional. O descarte de pneus inservíveis gera muitos
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problemas ao meio ambiente, sejam eles relacionados com saúde pública ou mesmo ao
seu volume em aterros sanitários.
De acordo com o engenheiro mecânico Carlos Lagarinhos (2011),
A disposição em aterros é inviável, porque são difíceis de comprimir, não sofrem
biodegradação e formam um resíduo volumoso, que ocupa muito espaço (...). Como se
não bastasse, os pneus podem reter ar e gases em seu interior, fazendo com que tendam a
subir para a superfície do aterro, rompendo a camada de cobertura. Com isso, os resíduos
ficam expostos, atraindo insetos, roedores e pássaros e permitindo que os gases escapem
para a atmosfera.
Acima de tudo, o descarte irregular de pneus, além das consequências já expostas,
pode se constituir em abrigo para vetores de diversas doenças. A sua queima contamina
o ar e o lençol freático e produz gases perigosos. Mas, todo esse passivo ambiental é
evitável, pois o pneu é 100% reciclável.
3.1.2 A Reciclanip
A Reciclanip foi criada em março de 2007 pelos fabricantes de pneus novos
Bridgestone, Goodyear, Michelin e Pirelli e, em 2010, a Continental juntou-se à entidade.
É uma associação sem fins lucrativos, com objetivo de recolher os pneus descartados,
criando um programa nacional de coleta de pneus inservíveis.
De acordo com informações cedidas pela Reciclanip:
No processo de coleta, a Reciclanip é responsável pelo transporte de
pneus a partir dos Pontos de Coleta até às empresas de trituração, quando
necessário, de onde os pneus serão encaminhados para destinação final.
No Brasil, uma das formas mais comuns de reaproveitamento dos pneus
inservíveis é como combustível alternativo para as indústrias de cimento.
Outros usos dos pneus são na fabricação de solados de sapatos, borrachas de
vedação, dutos pluviais, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais,
além de tapetes para automóveis. Mais recentemente, surgiram estudos para
utilização dos pneus inservíveis como componentes para a fabricação de manta
asfáltica e asfalto-borracha, processo que tem sido acompanhado e aprovado
pela indústria de pneumáticos.
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3.1.3 Logística Reversa de Pneus inservíveis
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei 12.305, estabelece em
seu Artigo 33 que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes são obrigados
a estruturar e implementar sistema de logística reversa, mediante retorno dos produtos
após o uso pelo consumidor para pneus e outros itens.
De acordo com o novo texto de Resolução nº 416/09 do Conama11, aprovado em
setembro de 2009, “para cada pneu novo comercializado para o mercado de reposição, as
empresas fabricantes ou importadoras deverão dar destinação adequada a um pneu
inservível”, excluindo-se dessa obrigação, os reformadores, pois estes já desenvolvem
atividades que contribuem para a preservação ambiental, tendo em vista que promovem
a extensão da vida útil de pneus usados.
Compreende o seu Artigo 8º que:
Os fabricantes e os importadores de pneus novos, de forma
compartilhada ou isoladamente, deverão implementar pontos de coleta de
pneus usados, podendo envolver os pontos de comercialização de pneus, os
municípios, borracheiros e outros.
O fluxo estabelecido pela legislação para o retorno dos pneus inservíveis seria o
consumidor efetuar a devolução dos pneus inservíveis para os comerciantes ou
distribuidores que por sua vez deverão encaminhá-los para os fabricantes ou importadores
e estes serão responsáveis pela destinação final ambientalmente adequada.
4. ESTUDO DE CASO: GESTÃO DOS RESÍDUOS DE PNEUS DE
CAMINHÕES, EMPILHADEIRAS E RTG12 DO GRUPO LIBRA NO PORTO DE
SANTOS
4.1 O Grupo Libra
Entre os anos de 1990 e 2000, o Grupo Libra participou e ganhou as licitações dos
Terminais 37, 35 e 33 do Porto de Santos, e o objeto dos editais de concorrência eram a
de movimentação e armazenagem de carga conteinerizada ou geral.
Nos referidos editais, além de delimitar as operações que a empresa deveria realizar,
11 Conselho Nacional de Meio Ambiente 12 Rubber Tired Gantry Cranes, em português, Guindastes Empilhador sobre Pneus.
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os preços cobrados, movimentação mínima e área a ser arrendada, a CODESP também
determinou que a empresa vencedora investisse na área com reformas e principalmente
na aquisição de modernos equipamentos para a movimentação das cargas.
Os principais equipamentos exigidos pela CODESP são os portêineres e
transtêineres, além de empilhadeiras de grande porte (reach stackers) e caminhões com
semirreboque adaptado para este tipo de operação.
4.1.1 Destinação de Pneus Inservíveis
Dentre os equipamentos elencados no parágrafo anterior, somente o portêiner não
utiliza pneus, já que sua movimentação é feita em cima de trilhos, instalados no costado
ao lado da área de acostamento das embarcações. O restante usa pneus de diversos
tamanhos e diâmetros, devendo o Grupo Libra, em consonância com seus princípios de
sustentabilidade e legislação aplicável, gerenciar e destinar corretamente os pneus
inservíveis.
Assim, para garantir que a reutilização ou a destinação final dos pneus dos
caminhões, transtêineres e empilhadeiras fossem feitas de forma padronizada e em
conformidade com a legislação ambiental vigente, o Grupo Libra confeccionou, através
do departamento de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SSMA), a Gestão dos Resíduos
de Pneus de Caminhões, Empilhadeiras e RTG.
No referido procedimento, a empresa define a sua aplicação, os departamentos
responsáveis e quais os pneus passíveis de reutilização ou destinação, bem como os
passos que devem ser seguidos para o descarte ou utilização correta.
As instruções da gestão iniciam no momento da manutenção dos equipamentos,
feitos pelo departamento de Manutenção e, ao constatar a necessidade de substituição dos
pneus, o setor deve definir se o pneu retirado do equipamento deve passar por algum
processo de recuperação (recapagem/recauchutagem), montagem de defensas para o
berço de atracação de navios, ou destinação final em empresas que realizam reciclagem
ou queima de resíduos de pneus (empresas conveniadas à Reciclanip).
Na Baixada Santista, a empresa AD Pneus é a empresa associada à Reciclanip e
cadastrada no IBAMA como ponto de coleta de pneus da região. Atualmente, é a empresa
contratada pelo Grupo Libra para a coleta interna e acondicionamento temporário dos
pneus inservíveis, sendo responsável pela emissão do certificado de destinação final do
resíduo.
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Internamente, há um colaborador responsável pela gestão dos pneus e ele deve
contatar o fornecedor para agendamento da retirada dos pneus. Além disso, deve
imediatamente elaborar a requisição de compra para a solicitação do serviço junto à área
de Suprimentos.
Ao ir retirar os pneus, a empresa contratada analisa e caracteriza se o pneu é
realmente inservível ou se é passível de reutilização.
No caso da reutilização, a empresa contratada encaminha para recuperação os pneus
que serão reutilizados nas defensas e registram essa recuperação em uma planilha
nomeada como Controle de Recuperação de Pneus. Então, a empresa contratada, ao
classificar o pneu como reutilizável, providencia o encaminhamento dos pneus para o
serviço de recuperação e acompanha o recebimento dos mesmos já prontos para o uso
como defensas. A planilha abaixo registra os dados para controle de recuperação de
pneus, controlada pelo SSMA:
Figura 1: Controle de Recuperação de Pneus.
Apenas os pneus inservíveis, provenientes de transtêineres e empilhadeiras de
grande porte, é que podem e devem ser utilizados como defensas13, diante da sua
dimensão e peso do navio que se apoiará na defensa no momento da atracação. Nesse
caso, o responsável pela gestão dos pneus deve, ao receber os pneus da empresa de
caracterização/recuperação, contatar a área de Manutenção Predial para que realizem o
13 É em náutica um objeto mole que se coloca ao longo do casco para proteger a embarcação de tocarem umas nas
outras ou no cais (WIKIPEDIA).
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armazenamento correto até o momento da montagem das defensas. Estas defensas são
gerenciadas pela planilha “Controle de envio dos pneus para defensa”, discriminada a
seguir:
Figura 2: Controle de Envio de Pneus para Defensa.
Para os pneus inservíveis, a empresa contratada para a recuperação e análise dos
pneus deve elaborar um laudo com os dados dos mesmos e o motivo da recusa, visto que
estas informações são utilizadas no processo de destinação final dos mesmos.
Para os pneus, recusados para recuperação e classificados como inservíveis, o
responsável pela gestão dos pneus deve realizar agendamento para a retirada sempre que
a quantidade padrão para armazenamento for atingida. Essa quantidade padrão é
controlada via planilha “Controle de Destinação de Pneus”:
Figura 3: Gestão de Pneus – Controle de Destinação de Pneus Inservíveis
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Esta planilha preenchida é encaminhada para a AD Pneus, e esta remete a proposta
comercial do serviço de retirada dos pneus.
O armazenamento dos pneus, no momento anterior da avaliação da empresa
contratada é a quantidade mínima para a retirada pela AD Pneus, sendo feito em local
específico, para tal identificado como “Armazenamento de pneus”. Com o objetivo de
manter a organização, controle de estoque e encaminhamento, o responsável pela gestão
dos pneus deve segregar os mesmos nos locais de armazenamento, conforme as seguintes
diretrizes:
4.1.2 Localização e diretrizes
Foto 1: Sala de armazenamento de pneus.
Foto 2: Pneus armazenados em prateleiras.
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Os pneus são segregados de acordo com a capacidade de armazenamento da sala,
portanto, segue identificação de suportes presentes no local, os quais seguem
identificados da seguinte maneira:
-5 suportes identificados como: pneus inservíveis Rodocarga (45 pneus);
-1 suporte identificado como: pneus inservíveis Cargolog (9 pneus);
-4 suportes identificados como: pneus para caracterização (36 pneus);
-1 suporte identificado como: pneus recapados (9 pneus);
-1 suporte identificado como: aros.
Não menos importante que o procedimento a ser seguido pelas áreas diretamente
envolvidas, o Grupo Libra possui princípios de relacionamento e sustentabilidade que
colocam no dia-a-dia do colaborador a sensação de corresponsabilidade pela proteção ao
meio ambiente e segurança no trabalho.
Com isso, todos os colaboradores são fiscais dos procedimentos que a empresa deve
seguir e os procedimentos são publicados via e-mail e intranet. Portanto, todos são fiscais
e conhecedores de como proceder.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Política Nacional de Resíduos Sólidos instituída pela Lei 12.305/2010 e
regulamentada pelo Decreto Lei 7.404/2010, teve como base o Projeto de Lei 203 de
1991, cujas tratativas pelo Congresso se iniciaram em 2001. Em vigor desde agosto de
2010, ela complementa, retifica, ratifica e substitui dezenas de leis, e resoluções de órgãos
ambientais, cujas práticas não se consagraram de forma eficiente e eficaz quer pela falta
de fiscalização, instrumentos de incentivos ou sanções eficazes. Considerada por
especialistas da área ambiental como moderna, ela já apresenta alguns sinais de alerta
quanto ao cumprimento de metas inseridas em seu texto, tais como: em agosto de 2012
venceu o prazo para implementação dos Planos Municipais de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos, um dos pilares da Política Nacional de Resíduos Sólidos, face à
competência atribuída aos Municípios para gerenciar fiscalizar e estabelecer parcerias
para o cumprimento de objetivos e metas, relativo aos resíduos gerados em suas
respectivas áreas; não há dados de quantos Municípios já implementaram os planos e
qual a sua qualidade, já que a exigência de comprovação é quanto à solicitação de
financiamento com verbas federais através dos agentes repassadores desses recursos.
No que se refere ao Porto de Santos, o fechamento em 23 de outubro de 2013 de
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uma empresa clandestina na Praia Grande/SP, que fazia a reciclagem de óleo usado,
adquiridos dos navios no Porto, denota a existência de falha grave na fiscalização e
controle por parte da CODESP e CETESB, que se esquivam de sua responsabilidade
solidária definida na Lei de Resíduos Sólidos e nos próprios procedimentos estabelecidos
pela CODESP.
Ou seja, apesar de na atualidade o Brasil possuir uma legislação concentrada,
límpida em suas definições e já em vigor, ela ainda está distante da realidade do cotidiano
do Porto de Santos e de todos da cadeia de responsabilidade pela destinação correta do
resíduo sólido.
Desta forma percebe-se, que a minimização do descarte de pneus inservíveis requer
uma significativa mudança de comportamento, tanto em relação ao processo industrial
como também em relação ao consumidor, associada a um plano de gerenciamento
ambientalmente adequado. Por outro lado, observa-se que o conhecimento das pessoas
sobre o impacto ambiental causado por esse tipo de material ainda é muito pequeno.
O plano de gestão dos pneus gerados na operação do Grupo Libra infelizmente é
uma exceção de logística reversa no Porto de Santos, que não iniciou as tratativas e
planejamentos para a implementação de ações conjuntas e eficazes.
Finalmente, este estudo delimita um marco referencial para futuras pesquisas que
poderão analisar os procedimentos da legislação aplicados e confrontar os resultados com
aqueles discriminados ao longo deste trabalho, dado a vigência da lei não ter atingido
ainda o seu primeiro quinquênio.
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