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Por que Sapadores-Bombeiros? - 10/11/2013 - Página 1 de 5 - © ANSB  - Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros    

ANSB  SAPADORES-­‐BOMBEIROS  DO  BRASIL

Por que "Sapadores-Bombeiros"? O excelente blog de Leonardo Aparecido Baldo Ferraz, disponível em http://diariobombeirocivil.blogspot.com.br/ aponta, já há algum tempo, as contradições da atividade dos Bombeiros Civis do Brasil. De outro lado, a ANSB é muito questionada por adotar o termo de Sapador-Bombeiro ao invés e no lugar de Bombeiro, reforçando a ideia de que várias pessoas utilizam as mesmas palavras para falar, no fim das contas, de coisas muito diferentes. Assim, um "bombeiro civil" do Brasil exerce uma atividade que não tem nada a ver com a atividade de um "bombeiro não militar" Francês. E nos EUA, ao contrário do que dizem alguns, não existe "bombeiro civil" como conhecemos no Brasil. Ou seja, não basta utilizar uma palavra, é preciso saber a quê ela corresponde. A França, único igual ao Brasil A França é o único país no mundo onde encontramos as mesmas profissões de socorro em incêndio que no Brasil. Estudando o seu funcionamento, é possível entender a confusão que existe aqui, e os problemas que ela cria. Em Paris e Marselha Imagine que você está em Paris e testemunha um incêndio. Um veículo de combate a incêndio vai chegar. Esse veículo é vermelho, com luzes rotativas azuis e uma sirene característica. Homens vão descer do veículo. Eles estão de uniforme, têm graus hierárquicos e um deles dá ordens. Eles têm equipamento de proteção respiratória, capacetes, mangueiras... e vão apagar o fogo. São "Sapeurs-Pompiers" e a população os conhece por esse nome. Como nós estamos em Paris, esses "Sapeurs-Pompiers" são militares. Eles dependem do ministério da defesa, que os coloca à disposição da cidade de Paris. Na cidade de Marselha, os Sapeurs-Pompiers também são militares. Em Marselha, eles dependem da Marinha. No vídeo, temos uma saída de vários veículos, inclusive uma escada, dos Sapeurs-Pompiers de Paris http://www.youtube.com/watch?v=9TDXBeFAM4s

- Os Franceses chamam-nos de "Sapeurs-Pompiers" sem jamais acrescentar a denominação de "militares" - Os Sapeurs-Pompiers de Paris ou de Marselha jamais se apresentam como militares - Ao todo, os Sapeurs-Pompiers militares Franceses são cerca de 15.000

No restante do território Francês Imagine agora que você está na França, mas fora de Paris e de Marselha, numa cidade grande, e você testemunha um incêndio. Um veículo de combate a incêndio vai chegar. Esse veículo é vermelho, com luzes rotativas azuis e uma sirene característica. Homens vão descer do veículo. Eles estão de uniforme, têm graus hierárquicos e um deles dá ordens. Eles têm equipamento de proteção respiratória, capacetes, mangueiras... e vão apagar o fogo. São "Sapeurs-Pompiers" e a população os conhece por esse nome.Como você já deve ter percebido, a cena, fora de Paris ou de Marselha, é 100% igual à que você viu naquelas cidades. A única diferença: esses Sapeurs-Pompiers dependem do Ministério do Interior (mais ou menos equivalente do Ministério da Justiça, no Brasil). Não são militares.

- Eles atuam a partir de quartéis - Não tem NENHUMA subordinação hierárquica com os militares - A população os conhece como "Sapeurs-Pompiers" - Eles jamais se apresentam como "não militares" ou "civis". Apenas como Sapeurs-Pompiers.

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Nessa equipe de Sapeurs-Pompiers não militares, há profissionais e voluntários. É totalmente impossível diferenciá-los. Os profissionais fazem essa atividade em tempo integral e recebem um salário. Os voluntários fazem esta atividade em tempo parcial, além de ter uma outra profissão. Eles recebem ajuda de custo em função do número e duração dos atendimentos. No vídeo, temos uma saída do caminhão de incêndio e veículo leve para um socorro de capotamento, com profissionais e voluntários em Valenciennes http://www.youtube.com/watch?v=_hmY_FLl7fw A relação entre o número de voluntários e de profissionais depende do tamanho da cidade. De fato, a superfície que uma unidade operacional pode cobrir em tempo aceitável é sempre muito pequena (na França, entre o momento em que você chama o socorro e o momento em que os Sapeurs-Pompiers chegam, passam no máximo 15 a 20 minutos.) Quando a densidade de população é alta na zona coberta por um serviço de socorro, o número de atendimentos é logicamente muito alto. Neste caso, pagar Sapeurs-Pompiers em tempo integral é justificado. Mas quando a população é pequena, o número de atendimentos é pequeno, e pagar pessoas em tempo integral para não fazer grande coisa é inaceitável economicamente. Algumas unidades de Sapeurs-Pompiers defendem territórios ocupados por menos de 2.000 pessoas, com a mesma qualidade que nas grandes cidades, mas exclusivamente com voluntários. Há graduados e oficiais (cabos, sargentos, tenentes, capitães, majores, etc.) não militares, tanto profissionais como voluntários. Em 100% do território Francês, os Sapeurs-Pompiers chegam para socorrer você em no máximo 20 minutos. Muito longe do que existe hoje no Brasil. No França, os Sapeurs-Pompiers não militares são cerca de 250.000. E dentre eles, cerca de 80% são voluntários. No vídeo, temos uma saída do veículo do chefe, caminhão de combate a incêndio, caminhão de incêndio florestal e da ambulância numa unidade operacional totalmente de voluntários, en Vanault. http://www.youtube.com/watch?v=XxJaheeR7T8 Anedota Para os Franceses, o termo Sapeur-Pompier designa uma atividade realizada a partir de um quartel. A população não sabe que há Militares e Não Militares. Há alguns anos, houve manifestações de Sapeurs-Pompiers em Paris. Os Sapeurs-Pompiers que faziam manifestação não eram militares (logicamente, pois os militares não têm direito de greve). O comandante dos Sapeurs-Pompiers de Paris, temendo a confusão, mandou colocar outdoors na cidade para dizer "Não estamos em greve, somos militares!" A necessidade de tais placas mostra que a população nem sabe que uns são militares, outros não. Nas lojas Imagine agora que nós continuamos na França, em qualquer cidade, e que estamos em uma grande loja, um hospital ou um grande museu. Começa um incêndio. Em poucos segundos, aparecem pessoas uniformizadas. Não é o mesmo uniforme dos Sapadores-Bombeiros e é óbvio que essas pessoas já estavam no local quando os incêndio começou, porque chegam em poucos segundos. São profissionais do incêndio e, principalmente, da evacuação. Em poucos instantes, seu perfeito domínio do local lhes permite evacuar alguns milhares de pessoas que estavam no centro comercial. Se eles podem combater o fogo, eles combatem, mas não é este seu objetivo essencial: sua função primeira é salvar o máximo de pessoas. Você vai ver que eles evacuam os clientes e acolhem os Sapeurs-Pompiers que eles chamaram. Você vai vê-los conversar com os Sapeurs-Pompiers, dizer onde estão os riscos temporários, os hidrantes, as colunas para pressurização, etc... Essas pessoas não são Sapeurs-Pompiers. Na França, eles são chamados de SSIAP (Serviço de Segurança contra Incêndio e Ajuda às Pessoas). No Brasil, são nossos famosos "Bombeiros Civis". Resumindo

1. Na França, há Sapeurs-Pompiers militares somente em Paris e Marselha. Eles são equivalentes aos Bombeiros Militares do Brasil.

2. Na França, há Sapeurs-Pompiers voluntários em todo o restante do território nacional. Eles são o equivalente dos Bombeiros Voluntários de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul.

3. Na França, há Sapeurs-Pompiers profissionais e que não são militares. Não há equivalentes no Brasil. 4. Na França, existem agentes de segurança contra incêndio em todos os estabelecimentos que recebem um

grande número de pessoas. São os SSIAP, equivalentes dos Bombeiros Civis do Brasil. A partir daí, vemos bem onde está a confusão: os Bombeiros Militares, ao chamar-se "militares", deixaram espaço livre para o nome de "Bombeiros Civis".

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Infelizmente, este nome foi adotado por uma profissão que não atua a partir de um quartel. Assim, duas profissões totalmente distintas têm o mesmo nome. A população fica sem entender, os políticos também, uns querem controlar os outros, e enquanto isso a população morre e ninguém faz nada...

Utilizar o nome de Bombeiro tanto para pessoas que cuidam da segurança do shopping quanto para as que atuam a partir de um quartel é misturar duas atividades diferentes. Os "Bombeiros Civis"/SSIAP são profissionais da evacuação, capazes de fazer 2.000 pessoas sair de um shopping em minutos. Os "bombeiros de quartel"/Sapeurs-Pompiers vão entrar no shopping com máscara respiratória para atravessar a fumaça e procurar duas pessoas que não foram evacuadas e estão encurraladas nos banheiros. Se uma dessas duas profissões tentar fazer o trabalho da outra, o resultado será ruim. Mais pessoas vão morrer nos incêndios, e haverá mais perdas materiais também. Confusão entre os Bombeiros Civis O pior é que esta confusão existe até entre os Bombeiros Civis do Brasil. Logicamente, se nós respeitamos a Lei, temos que admitir a existência dos Bombeiros Civis como profissionais da prevenção e da evacuação, que salvam vidas por meio da prevenção e da evacuação. Mas não pode existir um Corpo ou um quartel de Bombeiros Civis. Para um Francês, isso seria como imaginar um "quartel de SSIAP", o que é ridículo. Um quartel de prevenção e evacuação! Mas nós vemos pessoas, conscientes da falta de socorro nas suas cidades, que querem ajudar mas não sabem como fazer. Sem conhecer as diferenças entre as atividades, eles são presa fácil para escolas de bombeiros civis que os fazem sonhar com o salvamento de loiras bonitas em incêndios horrorosos, e dão cursos de má qualidade ou, no mínimo, inadequados para uma atividade em quartel. Quem certifica quem? Quanto a formação e certificação, as coisas são perfeitamente claras: tudo depende do território. Os Sapeurs-Pompiers militares (Paris e Marselha) e os não militares (todo o restante da França) agem em territórios vizinhos, mas que não se sobrepõem. Os militares não dão ordens aos não militares, os não militares tampouco comandam os militares. E os militares entre eles também fazem essa separação: os de Paris não comandam os de Marselha. Fácil entender, já que se comparamos com o Brasil, os Bombeiros Militares de São Paulo não comandam os do Distrito Federal, nem vice-versa. Cada um fica no território que ele protege.

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Quanto aos SSIAP, eles são certificados pelos Sapeurs-Pompiers do território onde eles atuam. Um SSIAP parisiense é validado pelos oficiais da Brigada de Sapeurs-Pompiers de Paris (militares), um SSIAP de uma cidade como Lyon é validado pelos oficiais Sapeurs-Pompiers da cidade de Lyon (ou seja, não militares) Por que Sapadores-Bombeiros? Agora, fica bem simples entender porque a ANSB escolheu o termo de Sapadores-Bombeiros para nomear seu pessoal: Como a ANSB trabalha na implantação de unidades de socorro, o pessoal deveria ser chamado de "Bombeiro". Mas como o pessoal não é militar, seria preciso usar o nome de Bombeiro Civil: quem não é militar é civil, claro. E nós caímos de novo na confusão! Por isso, decidimos utilizar o antigo nome dos serviços de socorro (Seção de Sapadores Bombeiros, em Sergipe, Paraná e outros Estados). Assim, os Sapadores-Bombeiros são "de quartel" e herdeiros da tradição dos Sapadores, pessoal que utiliza ferramentas de sapa (pás, picaretas...) para construir pontes e reforçar casas parcialmente destruídas por incêndios. Alguns casos específicos Como o nome designa uma atividade (realizada a partir de um quartel), existem na França outros tipos de Sapeurs-Pompiers, que encontramos também no Brasil. Existem Sapeurs-Pompiers militares que atuam dentro de unidades das Forças Armadas. Por exemplo, para proteger um terreno de exercício militar, como o campo de tiros de Canjuers, ou bases de mísseis). Também existem Sapeurs-Pompiers privados que defendem grandes usinas. Mas eles sempre possuem caminhões de incêndio e têm (no conjunto) todos o mesmo uniforme. Além disso, quase sempre as unidades de Sapeurs-Pompiers privados têm acordo com as cidades ao redor, e saem da usina para assumir o socorro da população. Algumas mentiras Vejamos alguns argumentos ouvidos por aí... Nos Estados Unidos, os bombeiros são bombeiros civis. Verdade, no sentido de que não são militares. Mentira, no sentido de que sua atividade não é a mesma dos bombeiros civis Brasileiros. Aliás, a profissão equivalente aos bombeiros civis nos Estados Unidos... não existe! Nos shoppings, não há um serviço específico de segurança contra incêndio. São os empregados das lojas que passam por uma formação básica de combate a incêndios. Os Bombeiros Civis têm a mesma formação dos Bombeiros Militares. Está é sem dúvida a mentira mais ridícula e absurda. A atividade operacional não tem nada a ver, a formação também não. Não é porque várias pessoas trabalham na área de incêndio que todos têm a mesma formação. Um dentista trabalha na área de saúde, e um cardiologista também. Mas eles não têm a mesma formação. Na Europa, quase todos os bombeiros são bombeiros civis. De novo, é verdade se você considera o fato de ser civil ou militar. Assim, na Alemanha, na Itália e na Bélgica, não há Bombeiros Militares. Mas é mentira, se você considera a atividade. Os "Bombeiros Civis" Franceses chamam-se de SSIAP, e não de Sapeurs-Pompiers. Todos os municípios do Brasil deveriam ter Bombeiros Civis, então há um enorme mercado de trabalho. Esse sim é um delírio total. Primeiro, porque a formação de Bombeiro Civil não tem nada a ver com a de um "bombeiro de quartel" e, além do mais, o custo salarial seria totalmente inaceitável. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, não há mercado de trabalho neste setor. Com mais 190.000 Bombeiros daria para proteger todo o Brasil. Com certeza não! Na França são necessários 270.000 Sapeurs-Pompiers para proteger 60 milhões de Franceses num território que é 1/12 do Brasil. Como então 190.000 seriam suficientes para o nosso país? Poderíamos proteger todo o Brasil com Bombeiros Militares, se o governo quisesse. Aqui, mais uma mentira, ou uma incapacidade de fazer contas de multiplicação. Para o número de bombeiros necessários, somente o custo salarial corresponderia à parcela da agricultura no PIB Brasileiro!... É preciso ter quartéis mistos, com militares comandando os civis. A experiência já foi tentada. Ela tem apenas dois resultados: ou um tipo de campo de férias onde alguns adolescentes espinhentos vêm fazer educação física, ou um quartel de muito baixa qualidade, com 3 ou 4 pessoas sem esperança de fazer qualquer coisa interessante. O pessoal

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civil intelectualmente apto a comandar, a organizar, etc. não aguenta ser comandado por militares e tratado como um "bombeiro de 2a categoria", na melhor das hipóteses. Conclusão Os Sapadores-Bombeiros são "bombeiros de quartel". Exclusivamente de quartel. Os Sapadores-Bombeiros não reconhecem as formações de Bombeiros Civis porque elas não são adaptadas à atividade das unidades operacionais. Um vídeo interessante: Feito pelo Ministério do Interior, ele chama os jovens para juntar-se aos 190.000 Sapeurs-Pompiers Voluntários que protegem a população Francesa. http://www.dailymotion.com/video/xjgcxn_les-sapeurs-pompiers-volontaires-volonte-de-faire_news


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