5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO
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PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS:
UM OLHAR DISCURSIVO
DENISE GOMES LEAL DA CRUZ PACHECO
UFRJ DOUTORADO EM LETRAS
ORIENTADOR: PROF DR MARIA APARECIDA LINO PAULIUKONIS
Rio de Janeiro
2006
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Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo
Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco
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Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco
PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS:
UM OLHAR DISCURSIVO
Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Letras do Instituto deLetras da Universidade Federal do Riode Janeiro, como parte dos requisitos
para a obteno do ttulo de Doutoraem Letras.Orientao: Prof Dr Maria AparecidaLino PauliukonisCo-orientao: Regina Lcia Pret DellIsola
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Letras
2006
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Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo
Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco
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FICHA CATALOGRFICA
PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz
Portugus para estrangeiros e os materiais didticos:um olhar discursivo / Denise Gomes Leal da CruzPacheco. Rio de Janeiro, 2006.
xi, 335 f.: il.
TESE (Doutorado em Letras) Universidade Federal do Rio de Janeiro,Instituto de Letras, 2006.
Orientadora: Maria Aparecida Lino PauliukonisCo-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola
1. Portugus para Estrangeiros 2. Ensino2. Materiais Didticos. 4. Anlise do Discurso5. Lingstica Aplicada
Teses.Pauliukonis, Maria Aparecida Lino, (Orient.) II.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto
de Ps-Graduao em Letras. III. Ttulo.
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RESUMO
PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz. Portugus para estrangeiros e os
materiais didticos: um olhar discursivo. Orientadora: Maria Aparecida Lino
Pauliukonis. Co-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola. Rio de Janeiro:
UFRJ/PGL, 2006. Tese (Doutorado em Letras), 335 pginas.
Portugus para estrangeiros (PLE) sob um olhar discursivo. Tomandocomo base de anlise a materialidade lingstica (textos monomodais e modais) dosmateriais didticos (MDs) de PLE dirigidos a adolescentes, publicados no Brasil, combase em constructos tericos de rea interdisciplinar entre a Anlise do Discurso(Semiolingstica Discursiva CHARAUDEAU: 1983) e a Lingstica Aplicada, apresente tese discute os contratos de comunicao firmados nesses MDs e os
efeitos da implementao da abordagem comunicativa de ensino (WIDDOWSON:1978); reflete sobre os conceitos de autenticidade e comunicao, no ensino delnguas estrangeiras, enfocando o letramento em PLE- ensino da leitura, dametalngua e da escrita sob a tica discursiva dos gneros textuais. apresentadaainda uma reflexo sobre o jogo discursivo no ensino de PLE, com foco nofuncionamento das instncias discursivas e nos processos de construo identitriado MD, do professor e do aprendiz de PLE, segundo os mecanismos defragmentao e homogeneizao que a materialidade lingstica dos MDs revela.Finalmente so apontadas perspectivas para o ensino de PLE no sculo XXI diantedas novas formas de multiletramento e sugeridos alguns encaminhamentos de(re)institucionalizao do ensino de PLE em nvel nacional e internacional.
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Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco
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ABSTRACT
PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz. Portugus para estrangeiros e os
materiais didticos: um olhar discursivo. Orientadora: Maria Aparecida Lino
Pauliukonis. Co-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola. Rio de Janeiro:
UFRJ/PGL, 2006. Tese (Doutorado em Letras), 335 pginas.
The aim of this work is to analyze guidelines of materials published withthe purpose of teaching Portuguese for Foreigners (PLE), to teenagers, using theCommunicative Approach (WIDDOWSON, 1978). This approach aims at orienting theexperiences of teaching and learning Brazilian culture and Portuguese language forforeigners during the last twenty five years in Brazil. In order to fulfill the objectives wehave established for the development of our work, we started by discussing theconcept of authenticity, communication and the communication contract in didactictextbook and materials with the support of two different but related theoretical pointsof view - Discourse Analyses (Semiolingstica DiscursivaCHARAUDEAU, 1983)and Communicative Approach (Applied Linguistics). From this comprehension of theconcept of communication and communication contracts we reflected upon therelations between the discursive game developed by the usage of these materialsand the image of the learning materials the didactic textbook (and itscomplements); the images of the teacher and the student (a foreigner). We alsoreflect about the teaching of reading and writing based on the concept of gender; theteaching of the language structures. We propose multiliteracy based on a discursiveapproach and on the concept of gender and the usage of technological tools. Weanalyze how the teacher and the foreigner language learners identity are created bythe materials. Adding to this we present some suggestions for teaching (PLE) in the
XXI century not only in Brazil but around the world.
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Dedico este trabalho a:
Meus pais, Jayme e Elza, razes das quais sou fruto...
Stelly e Giselly, frutos meus que frutificaram e dos quais me orgulho muito...
Joo Victor, fruto do meu fruto, minha chance mais intensa de amar...
Minha famlia, graas a ela, aprendi a ser o que sou...
Meus professores, que me despertaram o gosto por to digna profisso;
Meus alunos, com quem aprendi muito do pouco que sei...
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Agradecimentos
A Deus que sempre me protegeu enquanto eu andava distrada e me deu chancede viver e fazer muito mais do que jamais pudesse merecer e imaginar;
A Stelly e Giselly, atravs das quais tive a chance de ser me e vivenciarmomentos de mais intensa superao de mim e das mais intransponveis barreiras,mostrando que o esforo nos leva onde no pensvamos chegar;
A Maria Aparecida Lino Pauliukonis, minha orientadora, pelas lies, pela
pacincia e principalmente pela confiana;
A Ana Catarina Nobre, pelo apoio bibliogrfico, mas principalmente pelasorientaes, que me ajudaram a materializar o tema da presente tese;
A Vanise Medeiros, pela amizade, pelas lies, pela pacincia, pelo incentivo noenfrentamento de minhas crises tericas;
A Jos Carlos de Azeredo, pelo incentivo e pelos exemplos de sabedoria na artede ensinar;
A Regina Dell Isola e Danielle Grannier, pelas orientaes e pela chance doencontro nos caminhos da pesquisa aplicada;
A todos os meus professores, que colaboraram para que eu me tornasse aprofissional que hoje sou;
A meus amigos (que no nomeio para evitar imperdoveis omisses), de quemsempre recebi incentivo para continuar, mesmo quando o tempo era pouco e avontade de continuar e acabar, muita...;
A todos os meus alunos, com quem tenho aprendido muito, muito, muito, com opretexto de lhes ensinar;
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Essa estrangeira, que talvez jamais venhaser inteiramente a lngua para mim, nosentido que o minha lngua materna,desestrutura o meu pensar, desorganizaminha sintaxe, rearruma espaos, criaefeitos de sentido novos, insuspeitados nomeu dizer o mundo. Falando outra lngua,sou em outro lugar, fao sentidos diversosdo que faria se s conhecesse a minha.(PIETROLONGO, 2001, p. 196-197).
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SUMRIO
LISTA DE GRFICOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPTULO 1 PONTO DE PARTIDA OU HISTRIA DE UMA ESCOLHA
1. INTRODUZINDO A TEMTICA
2. EQUACIONANDO A ESCOLHA
2.1. Traando objetivos
2.2. Formulando hipteses de trabalho
3. ORGANIZANDO A TESE
4. DEFININDO A METODOLOGIA DE PESQUISA
CAPTULO 2 O LETRAMENTO EM LNGUA ESTRANGEIRA
2.1. O CONCEITO DE LETRAMENTO EM LE
2.2. ABORDAGENS E MTODOS DE ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA
2.2.1. Abordagens audio-orais/visuais situacionais
2.2.2. Abordagens ncio-funcionais comunicativas
2.3. O ENSINO DE LE E LIVRO DIDTICO
2.3.1. Histrico do livro didtico
2.3.2. O livro didtico de PLE
2.3.2.1. Cronologia da produo de livros didticos em PLE
2.3.2.2. Os materiais didticos de PLE para adolescentes
12
13
15
18
20
26
28
29
32
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CAPTULO 3 OS MATERIAIS DIDTICOS DE PLE E OS CONTRATOS
DE COMUNICAO
3.1. FUNDAMENTOS DA SEMIOLINGSTICA DISCURSIVA
3.1.1. A situao comunicativa e o contrato de comunicao
3.1.2. A noo de texto
3.1.3. A noo de discurso
3.1.4. As competncias discursivas
3.2. DO CONTRATO DIDTICO EM LE
3.2.1. A questo da autenticidade
3.2.2. As finalidades sociocomunicativas
3.3. LEITURA EM PLE3.3.1. O trabalho com textos
3.3.2.Do lugar da interculturalidade
3.3.3. A aquisio do repertrio vocabular
3.4. DO LUGAR DA METALNGUA NO ENSINO/APRENDIZAGEM DA LE
3.5. DA PRODUO DE TEXTOS: A (DES)CENTRALIDADE DOS
GNEROS TEXTUAIS
3.6. O GNERO DIDTICONOS LDS
3.6.1. A constituio do gnero didtico3.6.2. Abordagem didtica com os gneros em PLE
CAPTULO 4 O JOGO DISCURSIVO NO ENSINO DE PLE
4.1. O FUNCIONAMENTO DAS INSTNCIAS DISCURSIVAS NOS MDs
4.1.1. Imagens que fazem de si e do outro as instncias discursivas
4.1.1.1. A imagem que o EUc tem do EUe
4.1.1.2. A imagem que o EUc tem da imagem que o TUi tem do referente
4.1.1.3. A imagem que o EUc tem do TUi
A . A imagem de aluno como TUi
B. A imagem de professor como TUi
4.2. O APAGAMENTO NA CONSTRUO DA IMAGEM DE PROFESSOR
92
92
101
106
111
121
126
134
139144
166
171
180
191
207
208221
226
231
231
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CAPTULO 5 PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE PLE
5.1. O ENSINO DE PLE E O MULTILETRAMENTO
5.2. (RE) INSTITUCIONALIZAO DO ENSINO DE PLE
CAPTULO 6 ARREMATE COM RETICNCIAS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
254
263
283
295
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LISTA DE ILUSTRAES
GRFICOS
Grfico 1
Grfico 2
Grfico 3
Grfico 4
Grfico 5
Grfico 6
Grfico 7
Grfico 8Grfico 9
Grfico 10
Grfico 11
A lngua portuguesa no mundo
Projees demogrficas de falantes de Portugus LM
Classificao das atividades em TB?: abordagem e metodologia
Classificao das atividades em S A: abordagem e metodologia
Meio de produo textual: Tudo Bem?
Meio de produo textual: Sempre Amigos
Modo de realizao das atividades em Sempre Amigos
Modo de realizao das atividades em Tudo Bem?Produo textual Gneros Tudo Bem??
Materialidade lingstica: imagem do EUe nos MDs
Apagamento do professor nos MDs do corpus
21
22
184
185
202
202
203
204204
235
252
QUADROS
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Quadro 7
Quadro 8
Quadro 9
Tabela comparativa da proximidade entre portugus e outras lnguas
Esquema de competncia comunicativa
Classificao das abordagens e metodologias no Ps-mtodo
Tabela de textos autnticos em TB?
Distribuio de gnero: meio de produo e concepo de leitura
Objetivos comunicativos na Teoria Semiolingstica
Gneros textuais
Gneros emergentes na mdia virtual
Formatos de comunicao por computador (Marcuschi, 2004)
23
119
183
216
217
226
256
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 22
Figura 23
Figura 24
Figura 25
Figura 26
Figura 27
Figura 28
Figura 29
Figura 30
Figura 31
Figura 32
Fatores internos e externos do processo de aprender e ensinar lnguas
Abordagem de ensino de lnguas
Esquema de funcionamento da proposta RODA
Reproduo de tira de Ptio Revista Pedaggica
Capa de Tudo Bem vol. 1
cone de recurso internet em TB?
Pgina de entrada de TB? na internet
Detalhamento da situao comunicativa
O funcionamento do discurso (Charaudeau)
Excerto I de TB?Excerto I de S A
Excerto II de TB?
Excerto I de Interagindoem Portugus
Excerto II de S A
Excerto III de S A
Excerto III de TB?
Esquema de fluxo hierrquico e nohierrquico no texto
Pgina 15 de Portugus para Estrangeiros (Marchand) (20 ed).Pgina 16 de Portugus para Estrangeiros(Marchand) (28 ed).
Pgina 1 de Passagens
Pgina 1 de Interagindo em Portugus (vol. 1)
Foto de TB? capturada na internet
Foto da Revista MTV
Excerto IV de TB?
Capa de S A
Capa de TB? volume I
Excerto IV de S A
Excerto V de S A
Excerto V de TB?
Excerto VI de TB?
Excerto VII de TB?
Excerto VI de SA?
40
44
59
63
90
91
91
95
96
101101
115
124
129
129
130
146
147147
148
148
152
153
155
156
157
158
159
167
181
194
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Figura 33
Figura 34
Figura 35
Figura 36
Figura 37
Figura 38
Figura 39
Figura 40
Figura 41
Figura 42
Figura 43
Figura 44
Figura 45
Figura 46
Figura 47
Figura 48
Figura 49
Excerto VIII de TB?
Excerto VII de S A
Dimenses dos gneros do discurso
Excerto X de TB?
Excerto VIII de S A
Abordagem didtica dos gneros
Excerto IX de S A
Excerto X de S A
Excerto XI de S A
Print Screen de TB? Internet Psiu
Print Screende TB? na internet Dicas e sugestes
Excerto XI de TB?
Contnuo de gneros na comunicao tradicional
Contnuo de gneros na comunicao digital
Reproduo de e-mail de aprendiz de PLE
Reproduo de pgina de MD de Russo
Reproduo de pgina de MD de Japons
201
210
213
218
219
222
240
240
241
243
244
250
258
259
269
284
284
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LISTA DE ABREVIATURAS
ACD
AD
ABRALIN,
ALFAL
ANPOLL
CALL
CC
CD
CELPE-BrasCNLD
COLTED
CP
DA
DB
DUDL
ELE
EPLEET
EUc
EUe
FAE
FENAME
GEL,
ICT
INPLALA
LD
LE
LIBRAS
Anlise Crtica do Discurso
Anlise do Discurso
Associao Brasileira de Lingstica
Associao de Lingstica e Filologia da Amrica Latina
Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Letras e
Lingstica
Computer Assisted Language Learning)
Contratos de comunicao
Compact Disc
Certificado de Proficincia em Lngua Portuguesa para EstrangeirosComisso Nacional do Livro Didtico
Comisso do Livro Tcnico e do Livro Didtico
Condies de Produo
Deficientes Auditivos
Dicionrios bilnges
Declarao Universal dos Direitos Lingsticos
Ensino de Lngua Estrangeira
Ensino de Portugus Lngua EstrangeiraExcertos Textuais
Eu comunicante
Eu enunciador
Fundao de Assistncia ao Estudante
Fundao do Material Escolar
Grupo de Estudos Lingsticos do Estado de So Paulo
Information and Communication Technologies1
Intercmbio de Pesquisa em Lingstica AplicadaLingstica Aplicada
Livro didtico
Lngua estrangeira
Lngua Brasileira de Sinais
1 Esse termo empregado no sentido de unidade intermediria entre o texto (unidade menor e suamaterialidade lingstica) e o discurso (unidade maior).
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LM
MASTOR
MDs
MEC
MRE
PALOP
PBSL
PCNs
PLE
PLID
PLIDEF,
PLIDEMPLIDESU
PLM
PNLD
PSL
SA
SC
SD
SESUSIPLE
TB
TUd
TUi
UFF
UFRJ
UNB
WWW
Lngua Materna
Multilingual Automatic Speech-to-speech Translator
Materiais Didticos
Ministrio da Educao e Cultura
Ministrio das Relaes Exteriores
Pases de Lngua Oficial Portuguesa
Portugus do Brasil Segunda Lngua
Parmetros Curriculares Nacionais
Portugus Lngua Estrangeira
Programa do Livro Didtico
Programas do LD para Ensino Fundamental
Programas do LD para Ensino MdioProgramas do LD para Ensino Supletivo
Portugus Lngua Materna
Programa Nacional do Livro Didtico
Portugus Segunda Lngua (SL ou L2)
Sempre Amigos
Situao comunicativa
Semiolingstica Discursiva
Secretaria de Educao Superior do MECSociedade Internacional de Portugus Lngua Estrangeira
Tudo Bem?
Tu destinatrio
Tu interpretante
Universidade Federal Fluminense
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade de Braslia
World Wide Web
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CAPTULO I - PONTO DE PARTIDA OU HISTRIA DE UMA ESCOLHA
O Brasil (...) purilnge e multicultural (...) a imagem do pas que fala
somente portugus, e de que o portugus brasileiro no tem dialetos, conseqncia da interveno do estado e da ideologia da unidadenacional que desde sempre, com diferentes premissas e em diferentes
formatos, conduziram as aes culturais no Brasil.(OLIVEIRA: 2003, p. 8-9)
1.1. INTRODUZINDO A TEMTICA
O Brasil plurilnge2
. E sabemos que o desde 1500, quando aqui
chegaram os primeiros jesutas, incumbidos pelo rei portugus da tarefa de educar
os gentios, de estruturar um sistema de ensino, enfrentando uma primeira
dificuldade - o plurilingismo e as tenses desse processo decorrentes.
Quatro sculos de intercambialidade cultural separam o momento histrico
inicial de aculturao dos habitantes de nossa terra e a chegada de imigrantes
estrangeiros, que ao Brasil aportaram, motivados principalmente pelas novas
demandas da economia no cenrio nacional e internacional.
importante analisar a meno explcita feita educao desses novos
integrantes da populao brasileira no texto constitucional, pois ela d visibilidade a
esse processo histrico, conforme podemos observar na reproduo do artigo 149
da Constituio Federal de 1934, feita a seguir:
A educao direito de todos e deve ser ministrada pela famlia e pelos poderespblicos, cumprindo a estes proporcion-la a brasileiros e estrangeirosdomiciliados no Pas, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral eeconmica da Nao, e desenvolver num esprito brasileiro, a conscincia dasolidariedade humana. (nfase adicionada).
2Retomo o conceito de plurilingismo em comunidades lingsticas de contato: lnguas autctones (indgenas),lnguas alctones (em escolas bilnges), lnguas de fronteira (faladas em regies de fronteira entre os pases) elnguas estrangeiras (de imigrantes), conforme SAVEDRA (2003, p. 49).
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A presena da palavra estrangeiros no texto constitucional citado tem uma
significncia muito especial, porque fica assumida, de modo oficial, a presena de
uma plurietnia e, conseqentemente, de um plurilingismo no Brasil. A prpria
omisso de artigo antes do substantivo (estrangeiros) cria um efeito de sentido que
confirma a conhecida diversidade de grupos de imigrantes, que para o Brasil vieram
no incio do sculo XX, processo que foi exigindo mudanas no sistema
educacional estruturado at ento.
Percebe-se que houve mudanas. E assim todo e qualquer processo
histrico. Como podemos analisar essa trajetria? Vivemos hoje a Era dos Direitos,
da Declarao Universal dos Direitos Lingsticos (DUDL)3. Em relao realidade
brasileira, eles so a conquista de uma longa trajetria histrica de cinco sculos,
que chegou a ser classificada como lingicdio (LUNA: 2000, p.14), uma vez que
foram enfrentados muitos conflitos para a implementao do que hoje podemos
denominar Poltica Lingstica.
Esse processo teve como marco inicial o nosso descobrimento, desde a
chegada dos jesutas no Brasil no incio do sculo XVI. No podemos, pois, ignorar a
importncia desses religiosos no desenvolvimento de um sistema educacional na
colnia, na fundao de um discurso didtico e na instituio de prticas
pedaggicas, cujas ressonncias discursivas4 podem at hoje ser identificadas.
Podemos atribuir tambm aos jesutas o pioneirismo no processo histrico de
constituio dos Materiais Didticos (MDs) no territrio brasileiro, a influncia sobre
as primeiras escolas de imigrantes alemes, poloneses, italianos, japoneses. Esses
3Ela foi proclamada em junho de 1996, em Barcelona, tendo como pressupostos a Declarao Universal dosDireitos do Homem (1948), o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos (1966), Declarao sobre osDireitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou tnicas, Religiosas e Lingsticas (1992), a CartaEuropias sobre as Lnguas Regionais ou Minoritrias (1992), Declarao de Santiago de Compostela (1995),Declarao do Recife de 09/10/1987, Declarao Universal dos Direitos Coletivos dos Povos, Barcelona (1990),Declarao Final da Assemblia Geral da Federao Internacional dos Professores de Lnguas Vivas , Hungria,1991, entre outros.4No dizer de SERRANI-INFANTE (1994).
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constituem os primeiros ensaios de ensino de Portugus como Lngua Estrangeira
(PLE) no solo do Brasil, a produo de MDs, a presso das polticas pblicas de
educao.
De Pombal DUDL, muitos aspectos constituem elementos fundamentais
para a compreenso dos contratos de comunicao que do suporte ao discurso
didtico veiculado pelas polticas lingsticas adotadas no pas durante o perodo
colonial e republicano no que se refere ao ensino de PLE. E a essa temtica iremos
nos dedicar.
1. 2. EQUACIONANDO A ESCOLHA
A Lngua Portuguesa encontra-se, pois, particularmente bemposicionada no contexto da disputa lingustica que actualmente se trava
no panorama internacional, sendo um dos raros idiomas que detm oestatuto de lngua materna em estados ou territrios de quatro
continentes.(COUTO: 2004)
Dados estatsticos sobre as cem lnguas maternas mais faladas no mundo,
divulgados em 1999, colocavam a lngua portuguesa em sexta posio, com um total
de falantes calculado em 170 milhes. Verificava-se, por conseguinte, que entre as
dez lnguas maternas com maior expanso no planeta, o Portugus apenas era
suplantado pelo Chins (Mandarim), o Espanhol, o Ingls, o Bengali e o Hindi,
ocupando a posio de terceira lngua europia, embora com um nmero de falantes
idntico ao Russo. O Portugus , atualmente, a lngua oficial de oito Estados 5em
quatro continentes; lngua de trabalho em doze organizaes internacionais, sendo
5Portugal, Cabo Verde, Guin Bissau, So Tom e Prncipe, Mocambique, Angola, Brasil.
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utilizado quotidianamente por cerca de 200 milhes de seres humanos. O grfico 1
mostra a importncia da lngua portuguesa entre as dez principais lnguas maternas
do mundo:6
Grfico 1: A LNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
(In: http://www.instituto-camoes.pt/bases/lingua/portugues.htm )
Os dados, apesar de recentes, j esto defasados, visto que a populao
brasileira atinge hoje 182 milhes de habitantes, representando quase o dobro das
93 milhes de pessoas existentes no pas em 1970. Ou seja, em 34 anos apopulao do pas praticamenteduplicou. Em 2050, o contingente populacional do
Brasil poder alcanar os 259,8 milhes de habitantes, o que colocaria o pas na 6
posio do ranking mundial, precedido da ndia, com 1,531 bilho; da China, com
1,395 bilho; Estados Unidos, com 408,7 milhes; Paquisto, com 348,7 milhes; e
Indonsia, com 293,8 milhes.7
A sociedade mundial est em rpida transformao e os principais motores
desse processo so o avano tecnolgico e das novas tecnologias do conhecimento;
a internacionalizao e o processo de globalizao, favorecidos pelo uso cada vez
6In: . Acesso em 03 de outubro de 2004.7Os dados esto na publicao Projeo da Populao do Brasil por sexo e Idade para o perodo 1980-2050,Reviso de 2004, do Instituto Brasileiro de Geografia e estatstica (IBGE). Dado colhido em 06 de novembro de2004 no site governamental: .
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mais amplo da internet, pela formao de blocos de pases como a Comunidade
Europia (com moeda nica) e o MERCOSUL, s para citarmos alguns exemplos.
O MERCOSUL prev medidas de integrao educativas, culturais e lingsticas,dentre as quais o ensino de portugus e de espanhol nos pases membros [...]Quanto aos resultados, eles se mostram ainda bastante tmidos, eprovavelmente isto se deve em parte ao fato da [sic] lngua portuguesa assimcomo a lngua espanhola ocuparem um lugar de pouco prestgio como lnguaestrangeira no sistema escolar dos pases da Amrica do Sul. (PEREIRA: 2003,p. 59).
Os alunos que hoje aprendem PLE vivem nesse mundo globalizado, em um
contexto intercultural, o que lhes permite construir uma bagagem de experincias e
de conhecimentos cada vez mais heterognea. O grfico 2, a seguir, mostra a
projeo estatstica feita para 2050:
Grfico 2 PROJEES DEMOGRFICAS DE FALANTES DE PORTUGUS LM
Ainda conforme COUTO (2004):
A partir do cruzamento dos dados fornecidos pelas organizaes de carizregional em que o Portugus assume a funo de uma das duas lnguasoficiais com as projeces demogrficas das Naes Unidas at 2050chegamos concluso de que o nosso idioma encontra as maiorespotencialidades de crescimento, enquanto lngua de comunicaointernacional, na frica Austral e na Amrica do Sul [...] O recente fenmenode integrao regional que conduziu criao do MERCOSUL est a contribuirde forma intensiva para um movimento recproco de ensino do Portugus e doEspanhol entre os pases membros. A associao deste elemento novo edinmico com as projeces demogrficas revela que existe um vastssimoespao para um crescimento exponencial do ensino da Lngua Portuguesa na
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Argentina, no Uruguai e no Paraguai, actualmente com uma populao globalde 44,5 milhes de indivduos e que rondar os 60 milhes em 2025 e os 71milhes em 2050 (COUTO, Ibidem)
Dentro desse panorama de intenso crescimento que podemos conceber a
anlise de Materiais Didticos (MDs) de PLE que se constituem como instrumento
de veiculao da lngua/cultura brasileira em idioma portugus para falantes de
outras lnguas e, portanto, de culturas diferenciadas em contextos de imerso ou
no, (ou endolnge e exolnge, no dizer de FRANZONI, 1992), em um contexto
de forte demanda internacional. Mas devem levar em conta tambm a distncia ou
proximidade da lngua portuguesa em relao do estrangeiro que deseja estudar
PLE, se tomarmos por base bem genrica, o quadro a seguir, elaborado por
GRANNIER (2002, p. 58).
Quadro 1: Tabela comparativa da proximidade entre portugus e outras lnguas
O quadro apresentado destaca a relao de proximidade entre as lnguas e o
portugus, e identifica as possibilidades maiores ou menores de ser adotada a
estratgia de anlise contrastiva no ensino de PLE a alunos estrangeiros das
nacionalidades apresentadas.
Para que possamos entender mais claramente esse processo, necessrio
distinguir Segunda Lngua (SL ou L2) de Lngua Estrangeira (LE), tal como
concebemos PLE na presente pesquisa.
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Citando RICHARDS 1978, HEYE (2003, p. 31) situa a distino entre LE e SL
(L2) em termos de aquisio versus aprendizagem. H, em alguns casos,
preferncia por distinguir LE de L2, considerando a primeira (LE) como a lngua que
se adquire depois da materna (ou primeira), em um ambiente onde ela no usada
naturalmente, ou seja, em ambiente de sala de aula. A segunda (L2) a lngua que
se adquire depois da primeira (L1), num ambiente social onde ela usada como
meio de comunicao, tornando-se, para quem a adquire, uma outra ferramenta de
comunicao, alm de sua L1.
O autor distingue tambm bilingualidade de bilingismo, que, segundo ele
entendido como a situao em que coexistem duas lnguas como meio de
comunicao num determinado espao social, ou seja, um estado situacionalmente
compartimentalizado de uso de lnguas (HEYE: 2003, p. 33-4). Bilingualidade
seriam os diferentes estgios distintos do bilingismo, pelos quais os indivduos,
portadores da condio de bilnge, passam na sua trajetria de vida. Os estgios
so vistos como processos situacionalmente fluidos e definem, de forma dinmicaa
bicompetncia lingstica, comunicativa e cultural nas diferentes pocas e situaes
de vida (HEYE, Ibidem, idem).
Para ALMEIDA FILHO (2004b), LE uma outra lngua em outra cultura de um
outro pas pela qual se desenvolve um interesse autnomo (particular) ou
institucionalizado em conhec-la, enquanto L2 uma L no-materna que se
sobrepe a outra(s) que no circula(m) ou circula(m) setorialmente com restries
[...] que os alunos dominam bem ou dominam com lacunas.
GRANNNIER (2001, p. 2) introduz o termo nova lngua, referindo-se
segunda lngua lato sensu. Neste grupo a autora insere os brasileiros que tm como
L1 uma das mais de 180 lnguas indgenas brasileiras, [...] os que tm como a
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Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como sua L1, o caso dos africanos dos
pases de lngua oficial portuguesa (PALOP), que tm uma perto de 200 lnguas
africanas como sua L1 (...).
Diante dessa fundamental delimitao, vamos aprofundar nossa anlise nos
processos de constituio do PLE,assim como o portugus que foi sendo ensinado
pelos jesutas nos primeiros anos de nossa colonizao o era. Com o passar do
tempo, os descendentes dos nativos, que foram aprendendo portugus, passaram
a aprend-lo como L2 ou SL.
No exerccio de regncia de turmas de PLE, em turmas com alunos de
nacionalidades distintas, compostas de filhos de estrangeiros que tm o ingls como
lngua materna (LM), a prtica demonstra necessidades e interesses diferenciados
dos aprendizes. Essa constatao, ajuda a descortinar as distintas formas de lidar
com o aprender PLE de cada estrangeiro, o que vai demandar escolhas distintas no
que tange a estratgias de ensino, abordagem e mtodos, tipo de recursos a serem
explorados, os MDs a serem utilizados.
Ao lado da importante (s vezes confortvel ou desconfortvel) inquietao
que a escolha/utilizao de um MD suscita, outras no menos importantes surgem,
como fruto doestudo de textos tericos da Lingstica Aplicada (LA) como o desejo
de fugir do modelo perverso de simplesmente criticar os MDs por estarem ou no
estruturados com base nos constructos tericos eleitos para fundamentar a anlise,
na qual eles vo sendo enquadrados. O presente trabalho vai buscar no MD, na
materialidade lingstica de sua estruturao, incluindo os efeitos de sentidos
criados a partir da anlise de sua gramtica verbal e visual (KRESS & LEEUWEN:
1996) as bases tericas, reveladas por sua estruturao - uma concepo de ensino
aprendizagem que extrapola o mbito da LA e vai descortinando a exigncia por um
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olhar inter e transdisciplinar como to bem sugeriu BORDIEU (2002, p. 105). O
principal objetivo refletir e apresentar possveis caminhos de superao
metodolgica no ensino de lnguas (ALMEIDA FILHO: 2005, p. 87) na tentativa de
apresentar algumas respostas s perguntas por ele formuladas: Que novas
transformaes esperar agora? Por que chegamos s at aqui? At onde podemos
chegar? Como chegaremos l? (ALMEIDA FILHO: Ibidem, p. 97-100). Ousadia ou
Obstinao? Somente a partir da leitura e anlise do texto da presente tese essa
ltima pergunta poder ser respondida.
1.2.1. Traando objetivos
A principal meta da presente tese identificar como se do os contratos de
comunicao (CC) em MDs de PLE dirigidos a adolescentes com base nos
constructos tericos de uma rea interdisciplinar entre a Anlise do Discurso (AD)
Semiolingstica Discursiva de Charaudeau e a LA. Ela , portanto, produto do
entrecruzamento de referncias tericas especficas da LA e da AD confrontadas
com as experincias didticas, vivenciadas atravs de minha prtica pedaggica
como professora regente de PLE. No decorrer do trabalho sero investigados os
efeitos de sentido criados pelo respeito ou infrao dos contratos de comunicao
(CC) firmados na elaborao dos MDs de PLE, que explicitam seu objetivo (ensino
comunicativo), seu pblico-alvo (adolescentes), suas estratgias para atingir essas
condies de produo. Fica evidente que a complexidade do objeto de estudo vai
alm do ensino de LE, uma vez que trata a linguagem compreendida como um
conjunto de prticas sociais, com foco nos textos e nas circunstncias nas quais eles
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so utilizados, segundo os CC firmados entre as instncias subjetivas. Objetiva, ainda,
observar a construo do processo identitrio das instncias subjetivas no discurso
dos MDs, justificada atravs da anlise da materialidade lingstica com que ele
estruturado; fazer o levantamento e anlise dos itens lingsticos mais recorrentes e
relevantes para a construo das imagens das instncias enunciativas, segundo os
CC firmados entre elas (os itens que definem essas instncias); identificar possveis
relaes entre os CC e o contrato didtico (CHARAUDEAU, 1984) ao qual as
instncias enunciativas estariam/esto subordinadas; identificar possveis relaes
histrico-pedaggicas entre a trajetria do ensino de PLE e de elaborao de MDs de
PLE e a histria do Livro Didtico no Brasil; relacionar as implicaes histrico-scio-
culturais, pedaggicas e lingsticas dos contratos (didtico e de comunicao),
visando identificao de processos discursivos entre elas existentes que, pela
anlise dos CC, so evidenciados. Finalmente, objetiva sinalizar alguns caminhos de
(re)institucionalizao do ensino de PLE, sob o olhar discursivo.
Como docente/pesquisadora de PLE, sinto-me nesse incio de sculo XXI,
desafiada a colaborar no resgate de ressonncias fundadoras do ensino de PLE no
Brasil: o incio das atividades jesuticas na colnia, as medidas tomadas pela
metrpole a expulso dos jesutas, o processo de institucionalizao do portugus
como lngua nacional e as medidas de nacionalizao diante da expanso das escolas
de imigrantes-, a retomada do ensino de portugus como lngua estrangeira e,
finalmente, a configurao do atual quadro do Ensino de Portugus Lngua
Estrangeira (EPLE) e da pesquisa em PLE.
Passado tanto tempo do marco inicial do processo histrico de disciplinarizao
da lngua portuguesa como LE, a presente tese pretende contribuir para o
delineamento do espao que o ensino de PLE tem ocupado e eventualmente poder
ocupar no contexto geral de ensino da lngua portuguesa no Brasil no sculo XXI.
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1.2.2. Formulando hipteses de trabalho
Como a presente pesquisa situa-se no campo interdisciplinar entre a AD e a
LA, esto sendo levadas em considerao algumas hipteses de trabalho nessa
dimenso, para serem devidamente analisadas, segundo os elementos que
comprovem ou no dados colhidos no transcorrer do trabalho com base na
metodologia da AD emprico-dedutiva. So elas as seguintes:
1. Fazendo a retrospectiva histrica do EPLE no Brasil, poder-se-ia
estabelecer uma relao direta entre o modelo de constituio do livro didtico (LD)
de Portugus Lngua Materna (PLM) e os LDs de PLE, dada uma aparente
semelhana entre eles quanto estruturao (fragmentao, descontextualizao detextos e exerccios). Contudo, de modo especfico, os MDs de PLE, tal como
constitudos, apresentariam uma importante incoerncia constitutiva, cujas causas
estariam no seu modelo de produo, (des)focado dos fundamentos da abordagem
comunicativa, na qual consideram estar estruturados (autenticidade e sociointerao);
2. As instncias enunciadoras das prticas educativas pressupostas
pelos/nos MDs eu comunicante e tu interpretante poderiam produzir entre si (e de
si) um entrecruzamento ou provvel apagamento em relao instncia
enunciadora, cuja imagem ilusoriamente aparenta ser comunicante. Poderia haver
uma estreita ligao entre o contrato didtico e os CC armazenados na memria das
situaes de comunicao firmados nos MDs de PLE (CHARAUDEAU, 1984;
CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004), provocando determinados efeitos de
sentido, cuja investigao poderia elucidar o modelo de estruturao dos MDs no que
concerne concepo de ensino e sua conseqente implementao.
3. O eu enunciador (EUe) dos MDs seria, na verdade, a instncia subjetiva
do discurso pedaggico (o Estado, as Leis de Educao, os editores) e funcionaria
como um superpoder, pr-determinando as regras do CC firmado entre o eu
comunicante e o tu interpretante (consumidores potenciais dos livros: professores,
alunos, escolas de lnguas) e a constituio do modelo identitrio das instncias
subjetivas enunciadora e destinatria.
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1.3. ORGANIZANDO A TESE
O presente trabalho organiza-se, considerando as suas partes principais, em
cinco captulos, alm das consideraes finais, referncias bibliogrficas
consultadas durante a pesquisa e a listagem de figuras, quadros, grficos e siglas.
O Captulo I, intitulado Pontos de partida ou histria de uma escolha traa
uma panormica das inquietaes vividas como professora-pesquisadora e os
passos dados no desenvolvimento do trabalho investigativo, situando o contexto de
sua realizao. Mais do que um captulo de introduo, visa pontuar uma tenso de
carter constitutivo do ser professor, do ensinar/aprender uma LE. Tem como
objetivo principal postular o ser aprendente de uma LE, fazendo a distino
necessria entre LE, SL, L2, esclarecendo o conceito de bilingismo, de
bilingualidade e especificando as caractersticas da interlngua. Retratanto o
contexto do ensino de PLE, notadamente no Brasil e no exterior, sinaliza a
relevncia do estudo realizado e as possibilidades de extenso dos caminhos que
por ele sero apontados.
O captulo I ressalta ainda o carter interdisciplinar da pesquisa, entre a LA e
a AD Semiolingstica Discursiva - CHARAUDEAU, 1983a, 1984, 1992;
1995/2005, 1996, 1999, 2002; CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004. Finalmente
explicitada a metodologia de pesquisa, so equacionadas as hipteses formuladas
e elucidados os procedimentos adotados para consecuo dos objetivos definidos.
No captulo 2, intitulado O letramento em lngua estrangeira, estabelecida a
distino entre abordagem e mtodo e feita uma sucinta categorizao das
abordagens, segundo os dois tipos em que foram divididas: as abordagens audio-
orais/visuais situacionais e as ncio-funcionais comunicativas. A seguir, seguindo a
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unanimidade dos tericos em relao centralidade do LD no processo de
ensino/aprendizagem de LE, feito um histrico do LD no Brasil, do LD de PLE e
elencadas as obras publicadas na rea. feita a caracterizao dos MDs de PLE
para adolescentes, Sempre Amigos e Tudo Bem? que compem o corpus de
anlise.
O captulo 3 Os materiais didticos de PLE e os contratos de comunicao
iniciado com a definio desse tipo de contrato, em paralelo com o conceito de
contrato didtico (CHARAUDEAU, 1984). No que tange a PLE, so discutidos os
pilares da abordagem comunicativa e discutida a questo da autenticidade e das
finalidades scio-comunicativas nas prticas discursivas de leitura em PLE (com
destaque para o lugar da interculturalidade no trabalho com textos) e os processos
de aquisio de vocabulrio. So explicitados os conceitos de texto, discurso,
contexto discursivo, estratgias e competncias discursivas. Alm disso,
configurado o espao do ensino da metalngua dentro do contexto terico
comunicativista e estudadas as estratgias de ensino da produo de textos orais e
escritos em PLE. Finalmente, abordando o conceito de tarefa em perspectiva
relacional com o que preconizam os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de
LE, discutido o conceito de gnero textual e sua importncia para a definio de
um ensino/aprendizagem de lngua numa abordagem discursiva. Finalmente, com
base na anlise do corpus, formulado o conceito de transposio didtica de
gneroe de gnero didtico.
No captulo 4, intitulado O jogo discursivo no ensino de PLE feita a
apresentao das caractersticas das trocas linguageiras e definidas as instncias
discursivas que firmam entre si CC. No desenvolvimento da anlise descrito o
processo de ocupao dos papis discursivos e estabelecida a necessria relao
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entre a ocupao desses papis e a (re)caracterizao das prticas discursivas de
que eles so parte, segundo o critrio da autenticidade. So caracterizadas a
imagem de aluno, de professor e de LD; so explicitados os de seus modos de dizer
discursivo, os processos de homogeneizao, fragmentao e de apagamento
identitrio das instncias discursivas, o que, segundo a anlise vai comprovar,
interfere sobremaneira no desenvolvimento das prticas discursivas, abalando,
fortemente, os pilares da abordagem comunicativa apontados anteriormente: a
autenticidade e a sciocomunicao.
No captulo 5, so propostos caminhos e so retomadas, conseqentemente,
as hipteses de pesquisa e as reflexes sedimentadas na anlise dos dados. Com
base na anlise da materialidade lingstica dos prprios MDs, so analisados os
seus processos de fragmentao e homogeneizao e revelada a circularidade do
discurso didtico. No que tange ao ensino da leitura em PLE, destacada a
imprescindibilidade de uma ao de perspectiva intercultural e interdisciplinar.
Finalmente, so apontadas perspectivas para o ensino de PLE e sugeridas novas
prticas discursivas de multiletramento. So sugeridas, ainda, aes de
(re)institucionalizao do ensino de PLE.
No captulo 6 so apresentadas as concluses gerais da tese e, a seguir,
elencadas as referncias bibliogrficas que sustentaram teoricamente o presente
trabalho.
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1.4. DEFININDO A METODOLOGIA DE PESQUISA
Como explicitado anteriormente, o presente trabalho foi estruturado em rea
interdisciplinar entre a AD e a LA. Por essa razo, a tradicional apresentao dos
fundamentos tericos em que a tese ser embasada vai sofrer uma necessria
adaptao. Segundo o prprio CHARAUDEAU (1995/2005, p. 19-20):
A anlise do discurso, do ponto de vista das cincias da linguagem, no experimental, mas emprico-dedutiva. Isto significa que o analista parte de ummaterial emprico, a linguagem, que j est configurada numa certa substnciasemiolgica (verbal). esta configurao que o analista percebe, podendomanipul-la atravs da observao das compatibilidades e incompatibilidades das
infinitas combinaes possveis, para determinar recortes formais, simultaneamentes categorias conceituais que lhes correspondem. Uma anlise do discurso, deve,pois, determinar quais so seus objetivos em relao com o tipo de objetoconstrudo, e qual a instrumentalizao utilizada, de acordo com o procedimentoescolhido.
importante destacar a existncia de trs vertentes da AD. Aquela com a
qual vamos trabalhar, a Semiolingstica Discursiva - (CHARAUDEAU, 1983), com
filiaes pragmticas, psicossociolgicas, retrico-enunciativas e mesmo
socioideolgica, enfim, de carter pluridisciplinar. Segundo essa abordagem terica,
na semiotizao do mundo, a linguagem multidimensional e estruturada com base
no pressuposto de intencionalidade das instncias discursivas na
estruturao/interpretao do discurso. (CHARAUDEAU, 1995/2005). O principal
objetivo de anlise da AD destacar as caractersticas dos comportamentos
linguageiros (o como dizer) em funo das condies psicossociais que os
restringem segundo os tipos de situao de troca (os contratos) - CHARAUDEAU,
ibidem, p. 21- nfase do autor. A outra corrente da AD denominada de linha
francesa (Pcheux/Orlandi). PAULIUKONIS (2002) assim a define:
[...] prtica comum de anlise que comeou na dcada de 60 na Frana (em 1969apareceu um nmero especial da revista Langages com o ttulo Analyse dudiscours ), que se disps a caracterizar a nova tendncia: nessa poca, foi tambm
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importante a influncia da obra Analyse Authomatique du Discours, de MichelPcheux (1967) [...] denunciava-se como sendo uma iluso a idia de ser o sujeitoa fonte do sentido, uma vez que ele estaria sendo sempre assujeitado a umaideologia coletiva e social; privilegiava-se a desestruturao dos textos, para serevelar a ideologia social. Pode-se, em sentido amplo, definir essa corrente comouma tentativa de aproximao com a linha analtica do discurso de modo
psicanaltico, em que se decompe a totalidade para se chegar ao sentido.
A terceira corrente designada Anlise Crtica do Discurso (ACD) centrada
na anlise dos discursos preconceituosos, como o racista, o machista, o xenfobo
entre outros. Essa corrente de anlise tem arrebanhado adeptos que estudam as
influncias desses discursos nos espaos institucionais, uma vez que, envolvendo
valores, requerem, como conseqncia, um tratamento crtico. Seus maiores
representantes so Fairclough, Van Dijk, Emlia Ribeiro; Meurer e Motta-Roth (no
Brasil).
Apesar das reflexes que a pesquisa em AD tem apontado, sua importncia
na rea do ensino de lnguas ainda vista de forma controversa, sendo criticada por
alguns e defendida por outros, respectivamente citados a seguir:
[...] os resultados de pesquisa aplicada sobre questes do ensino comunicativono tm sido suficientes para compor um quadro terico slido que respalde aprtica renovadora. Isso pelos motivos que passo a expor: [..] idias com forastomadas de fora da lingstica aplicada/ensino de lnguas que se candidatam aalavancar mudanas metodolgicas de amplo alcance, quase sempre alm do quepodem oferecer grande operao do ensino de lnguas na prtica. (Acompanhauma postura aplicadora e muitas vezes salvadora que os inocentes no podiamver: por exemplo, alguns criticalistas escorados na AD de linha francesa oucriticalistas-transformadores na perspectiva de Freire). (ALMEIDA FILHO: 2005,p.100)
(...) A AD que tem basicamente trs vertentes distintas um campo terico que
oferece ferramentas imprescindveis para o tratamento das relaes entre lnguas, na medida em que prope, como pressuposto terico, a indissociabilidade entre asregularidades discursivas e as representaes de identidades sociais.(FANJUL:2002, p. 14).
Reiterando a crena na eficcia de uma abordagem interdisciplinar entre a AD
e a LA e, concordando com Fanjul, acreditamos que o processo de
inter(in)compreenso momentaneamente travado entre as falas destacadas acima
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seja extremamente profcuo para o desenvolvimento de pesquisas na rea de
ensino/aprendizagem de lnguas. Que as concluses a que chegamos no
desenvolvimento da presente tese sirvam para ratificar essa afirmao.
Conforme o exposto, a seguir so definidos conceitos tericos basilares na
fundamentao da Semiolingstica Discursiva (cf. captulo 2) e da LA ao ensino de
lnguas. No que se refere LA, basilar o conceito de abordagem.
Conjunto de conceitos nucleados sobre aspectos cruciais do aprender e ensinaruma nova lngua (...) a abordagem mais ampla que a metodologia por seenderear no s ao mtodo mas tambm s outras trs dimenses dematerialidade do ensino a saber:, a do planejamento (...) a dos materiais (que se
escolhe e se produzem)e a do controle do processo mediante avaliaes.(ALMEIDA FILHO: 2005, p. 93).
No ensino de lnguas, as abordagens podem ser classificadas em dois
grandes ramos a saber: as udio-orais /visuais situacionais e as nciofuncionais
/comunicativas. importante esclarecer que os MDs que compem o corpus de
anlise da presente tese soditos representantes da abordagem comunicativa de
ensino, portanto do segundo tipo identificado.
Outros dois conceitos tericos da LA so importantes para o desenvolvimento
de nossa anlise. O primeiro o de autenticidadeque, apesar de ser atribudo a
WIDDOWSON (1978/1991) nas exaustivas referncias feitas a este conceito por
lingistas aplicados, j era definido, em relao ao ensino de lnguas, duas dcadas
antes, por COSTE (1970): [...] tudo aquilo que no foi preparado para ao ensino de
francs como lngua estrangeira [...] aquilo que no adaptado ou retocado [...] que
no se limita a formas escritas.
interessante o registro do pioneirismo de COSTE (na rea de LA com o
conceito de autenticidade) e de Charaudeau, em 1984, em anlise desenvolvida em
campo interdisciplinar entre a LA e a AD, distinguindo, com base nesse mesmo
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conceito, o professor nativo (aquele que, no contrato didtico, ocupa o lugar
discursivo de testemunhaautntica), do professor no-nativo (a testemunhacrtica).
Os desdobramentos dessa formulao terica de Charaudeau vo ser definidos e
utilizados para anlise dos contratos didticos em PLE.
O outro conceito basilar da LA o de comunicao, ou seja, a qualidade de
ser comunicativo. ALMEIDA FILHO (2005, p. 102-3) assim o define:
Para responder com maior segurana sobre a centralidade da comunicao, parase aprenderem outras lnguas, precisamos considerar os seus vrios sentidosgerais possveis: (...)1 Entrar numa relao dialgica com outros permitindo que emerjam significados,laos sociais, conscincia e, eventualmente, ao transformadora;
2 Desenvolver atividades orais (compreenso de linguagem oral, repeties paraajudar a fixar, desempenho de papis em grupos e dramatizaes) com instruesna prpria lngua-alvo;3 Ensinar num ritmo rpido mantendo interaes orais breves com os alunos como intuito de praticar e testar a aprendizagem da lngua-alvo;4 Na prpria lngua-alvo (ou crescentemente nela) criar ambientes de uso ouvivncia enquanto se estuda algum tpico ou rea ou se busca resolver tarefas eprojetos; (...)Ao entrarmos em comunicao aumentamos fortemente a demanda nos alunos porlngua (vocabulrio, regras fonolgicas, sintticas e discursivo-culturais) nummomento em que eles (os aprendizes) ainda no as possuem. Este o grandedesafio pedaggico inicial o de abrir comunicao com poucos recursoslingsticos. (nfase adicionada)
Na relao entre o conceito de comunicao formulado acima (notadamente
nos itens de nfase adicionada) com os de AD no transcorrer da anlise, vamos
investigar se os contratos de comunicao firmados nos MDs implementam a
comunicao autntica, to buscada pelos comunicativistas.
A confluncia entre os pilares tericos at agora explicitados sugere
(exigem?) assumir o risco de delimitar fronteiras do(s) novo(s) territrio( s),
definido(s) a partir do conceito de desterritorializao: a dimenso cultural na
definio de territrio, o v antes de tudo como um espao dotado de identidade,
uma identidade territorial (HAESBAERT: 2002, p. 35). Em que territriosdentro e
fora do Brasil se fala o portugus? Qual o territrio do EPLE no Brasil e no
exterior? Qual o territrio da pesquisa aplicada do ensino de lnguas? No
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desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem de LE, qual o territrio do
aluno? E do professor? Estamos falando de polissemia ou de constitutividade?
Para concluir o presente captulo, cito SERRANI-INFANTE (1998, p. 232), que
reitera o encaminhamento da pesquisa em LA em direo multidisciplinar:
Os desenvolvimentos atuais dessa disciplina (Lingstica Aplicada),particularmente nas propostas de perspectiva transdisciplinar, a meu ver, permitemrepensarmos, no cruzamento com outros domnios, fatores fundamentais nocondicionamento de processos tais como o de aquisio de segunda lngua/lnguaestrangeira e seu correlativo de ensino aprendizagem. (nfase adicionada)
Segundo as atuais necessidades do mundo ps-moderno (HALL, 1996), no
pode ser considerada uma atitude perdulria ou teoricamente confusa, mas
intrinsecamente constitutiva do ser-pesquisador, a incurso por vrios territrios
acadmicos. Simultaneamente. Embasada nesses pressupostos, a presente tese faz
essa opo metodolgica.
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CAPTULO 2. O LETRAMENTO EM LNGUA ESTRANGEIRA
Ns somos medo e desejo/ somos feitos de silncio e som
Tem certas coisas que eu no sei dizer...
(Lulu Santos, CertasCoisas)
2.1. O CONCEITO DE LETRAMENTO EM LE
No saber dizer. No conseguir compreender. Querer expressar-se e no ter
palavras para faz-lo. Assim se sente o estrangeiro ao iniciar o processo de
aprendizagem de uma LE entrecruzando domnios, (re)delimitando fronteiras,
(re)dimensionando valores culturais... Falar sempre navegar procura de si
mesmo com o risco de ver sua palavra capturada pelo discurso do Outro [...] No
raro que esse navegar mude de direo (CHARAUDEAU: 2002).
O domnio de lnguas estrangeiras globalizou-se, tornou-se indispensvel e
sempre muito bem-vindo, tanto no que tange facilidade de interao em tempos de
popularizao da interao digital quanto nos processos de interao face-a-face, no
campo profissional, nas formas de lazer e de aprimoramento acadmico. Uma das
razes para algum se tornar bilnge , segundo MACKEY (1962) a existncia de
diferentes comunidades monolnges com as quais se precisa interagir. Do contato
lingstico resultar o bilingismo em diferentes graus de competncia, dependendo
das funes de cada lngua na vida de cada falante.
No que tange a adolescentes, pblico a quem se dirige os MDs analisados na
presente tese, a situao de aprendizagem de uma lngua estrangeira pode ser uma
necessria mas indesejada imposio. Na condio de imigrante compulsrio,
muitos chegam ao Brasil em funo das oportunidades de trabalho dos pais. Deixam
para trs um lastro de amizades, de expectativas um universo sociocultural com
que se exprimem em lngua materna. Nesses casos, a saudade dos amigos
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deixados no pas natal e at mesmo um eventual namorado(a) podem criar
situaes de dificuldade no processo ensino/aprendizagem, com as quais o
professor de LE dever saber lidar atenta e cuidadosamente, para que o processo
deslanche de modo positivo.
Em um primeiro momento, elas se evidenciam fisicamente, atravs da
adaptao do aparelho fonador s necessidades articulatrias para produo dos
sons da nova lngua:
Comear o estudo de uma lngua estrangeira se colocar em uma situao
de no saber absoluto, retornar ao estgio do infas, do nenm que no falaainda, (re)fazer a experincia da impotncia de se fazer entender. Osentimento de regresso associado a essa situao reforado quando aaprendizagem privilegia, no incio, como acontece freqentemente,, umtrabalho exclusivamente oral focalizando os sons. [...] to difcil para eles(aprendizes de uma LE) sair dos automatismos fonatrios de sua lnguamaterna que no conseguem, repetir mesmo as seqncias mais simples(REVUZ: 1998, p.221).
Outras dificuldades vo surgindo, conforme a realidade de cada aprendiz, que
lida com um segundo importante e flagrante entrave: a visibilidade da arbitrariedade
do signo lingstico:
[...] a operao de nominao em lngua estrangeira, mais do que umaregresso, vai provocar um deslocamento das marcas anteriores. A lnguaestrangeira vai confrontar o aprendiz com um recorte do real mas sobretudo comum recorte em unidades de significao desprovidas de sua carga afetiva [...] oque se estilhaa ao contato com a lngua estrangeira a iluso de que existe umponto de vista nico sobre as coisas, a iluso de que uma possvel traduotermo a termo, de uma adequao da palavra coisa [...] o arbitrrio do signolingstico torna-se uma realidade tangvel, vivida pelos aprendizes na exultao... ou no desnimo (REVUZ: Ibidem, p. 223 - nfase da autora).
O aluno vai aprender o significado das palavras e expresses utilizadas, mas
inicialmente, no conseguir sentir o seu peso, processo que vai mobilizar ou no
os filtros afetivos (KRASHEN: 1982), conforme seja sua experincia pessoal diante
desse estranhamento do dito na outra lngua. Os processos anteriormente
apresentados, ainda segundo a autora, mobilizam as mais variadas reaes nos
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aprendizes, que vo desenvolver diferentes estratgias para lidar com a nova
situao (REVUZ: Ibidem, p. 224-5).
A primeira a da peneira o aprendiz retm muito pouco do que lhe
ensinado. A segunda, a do papagaio os alunos decoram frases-tipo para
empreg-las em situaes especficas (termos tcnicos, por exemplo, ainda que seu
uso seja inadequado ao contexto discursivo). Na terceira, a do caos, ou seja, [...] a
lngua estrangeira ficar eternamente um acmulo de termos no organizado por
regra alguma. Finalmente, na do afastamento total, os aprendizes rejeitam todo
contato direto com a lngua estrangeira. Ela freqente nos casos de adolescentesimigrantes que no aceitam a nova condio e, muitas vezes, para agredirem os
pais, se recusam, a aprender a LE. Dois sentimentos so manifestados pelos
aprendizes diante dessa constatao: exultao ou desnimo (REVUZ: Ibidem, p.
223)8.
A complexidade do processo de ensino-aprendizagem de uma LE bastante
significativa: [...] quando se aprende uma nova lngua, no se aprende apenas uma
nova tcnica palavras, sons, regras mas se aprende tambm a recortar o mundo
de forma diferente. [...] Ao professor de LM cabe ampliar a competncia lingstica
do falante e ao professor de LE constitu-la (BITTENCOURT:1997, p. 92-98). E a
prpria autora complementa sua afirmao, atravs da tipologizao dos saberes
necessrios aprendizagem de uma LE: elocucional (saber sobre as coisas do
8Em relao aos adolescentes, minha experincia docente destaca o interesse e a enorme curiosidade. Lembro-me de um momento marcante em que, ao trabalhar com os alunos uma situao de comunicao telefnica, eulhes expliquei uma das maneiras brasileiras de dizer no. Uma delas seria dizer A gente se fala. Os alunosriram, se divertiram, experenciando o entrecruzamento das ressonncias de sentidos: os da LM (A gente se fala,significando Vou ligar mais tarde para combinar) e dos aprendidos nas aulas de PLE - o brasileiro que,dizendo isso, no vai ligar, ou seja, est polidamente dizendo no. Outro exemplo a ser mencionado o davivncia de dois sentidos da palavra gostosa: A pizza est gostosa. Essa garota gostosa. Um ex-alunoestrangeiro, descobrindo o sexo em plena juventude, em toda situao de comunicao oral, proposta em aula,inventava uma maneira de incluir uma mulher passando para ele dizer Gostosa. Atravs dessa repetio (e osmovimentos de face e a entonao com que proferia a frase), manifestava tambm uma sombra de machismoque os meninos da classe curtiam muito, pois irritavam as meninas...
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mundo), idiomtico(saber lingstico) e expressivo (saber concernente a uma dada
situao).
As consideraes iniciais sobre o aprender/ensinar uma nova lngua at aqui
apresentadas podem ser visualizadas no esquema a seguir (figura 1), no qual so
listados os fatores que interferem no processo de ensino/aprendizagem de uma LE.
Observe-se a presena de vrios fatores intercorrentes, cuja influncia no processo
ser apresentada no transcorrer da anlise.
Figura 1: Fatores internos e externos do processo de aprender e ensinar lnguas 9
Analisando os discursos dos aprendizes sobre a histria deles com a
aprendizagem de uma lngua estrangeira, TAVARES (2003, p. 10-11) mostra que:
9In: Almeida Filho,2005, p.18. Registre-se que na produo dos esquemas e grficos nas obras mais recentespode-se perceber uma inevitvel polifonia, fruto das relaes intertextuais entre elas e os textos dospesquisadores que produziram os conceitos fundadores empregados na LA como Fillmore, Krashen, Widdowsonentre outros.
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[...] fica claro que h algo da ordem das subjetividades [...] o papel que elesconferem lngua estrangeira na vida deles, a frustrao por, muitas vezes, noalcanar o sucesso na aprendizagem e o desejo por dominar a lngua estrangeira[...] o grande desejo subjacente ao aprendizado de uma lngua estrangeira: odizer-se na lngua do outro, a possibilidade de ter outros significantes que
possam significar os sujeitos.
Ainda que sejam levados em considerao todos os fatores at agora
elencados, imprescindvel frisar que a mobilizao dos saberes necessrios
aprendizagem de uma LE se d sempreatravs de um trabalhode expresso, no
qual o aprendiz vai vivendo um questionamento permanente sobre a adequao
daquilo que diz quilo que quer dizer (REVUZ: Ibidem, p. 227). E os que aprendem
uma lngua estrangeira sabem que a LM continua sendo a eleita para expressar as
emoes mais intensas, os assuntos mais pessoais. Parafraseando a epgrafe do
presente captulo, de autoria de Lulu Santos, usando a LE tem certas coisas que
no se sabe dizer.
Assim, o letramento em PLE o processo de aprendizagem no s da
estrutura gramatical da lngua-cultura/alvo, mas a aquisio do saber elocucional,idiomtico e expressivo dessa lngua. o desenvolvimento da competncia
comunicativa para a leitura e produo de textos nessa lngua, de modo que,
paulatinamente, possam ser identificados o peso das palavras, ou seja, o seu valor
discursivo. Nesse processo, o aluno vai estar utilizando os conhecimentos
adquiridos na aprendizagem de sua LM e de outras LE, no que se refere s
estruturas gramaticais, aos processos de discursivizao, bem como de identificao
dos diferentes gneros textuais e de sua materialidade lingstica constitutiva, para o
atingimento cada vez mais eficiente de seus objetivos comunicativos.
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2.2. ABORDAGENS E MTODOS DE ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA
Adquire-se uma lngua materna, mas aprende-se uma lngua estrangeira(KRASHEN: 1982).
Muitos pesquisadores tm-se dedicado a pesquisas em LA em busca da
melhor maneira de ensinar uma LE, movidos pelo desejo de equacionar omtodo
mais eficiente, a abordagem mais adequada. Para dar prosseguimento anlise
do letramento em LE, vamos, inicialmente fazer a distino entre abordagem e
mtodo:
A abordagem seria [...] refletidora de cmbios e equao contnua de umparadigma ou modelo de fazer pesquisa aplicada rumo produo de maisconhecimentos relevantes sobre o ensino e aprendizagem de lnguas nascondies que temos [...] a abordagem encapsula um corte epistmico cujoreconhecimento rigoroso traz benefcios ao desenvolvimento terico do ensino delnguas (ALMEIDA FILHO: 2005, p. 95).
[...] mtodo basicamente um conjunto ordenado, estvel e coerente deprocedimentos, atividades e tcnicas de ensino, utilizados pelos professores paradesenvolver o contedo programtico [...] mtodo a aplicao de princpiostericos e, por estarem atrelados s teorias, os mtodos apresentam podernormativo, com tcnicas padronizadas de ensino a serem seguidas peloprofessor. Dessa forma, a prtica pedaggica limita-se aos procedimentosprescritos pelo mtodo, ou seja, significa ser fiel a ele (MENEGAZZO & XAVIER:
2004, p. 116).
Mtodo significa, ento, uma combinao de princpios e tcnicas. Os
princpios representariam a estrutura terica do mtodo envolvendo cinco aspectos
do ensino de LE: o professor, o aluno, o processo de ensino, o processo de
aprendizagem e a cultura da lngua-alvo, enquanto as tcnicas (estratgias)
englobariam atividades feitas em sala de aula, realizadas com base na aplicao
dos princpios (LARSEN-FREEMAN:1986). Caso dois mtodos compartilhem
princpios, uma determinada estratgia poder ser desenvolvida em ambos.
Alguns autores consideram questionvel o conceito de mtodo, visto que as
tcnicas, atividades e procedimentos especficos de um mtodo no so exclusivos
dele. Podemos citar como exemplo, os dilogos dramatizados, que podem ser
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utilizados nos mais diversificados mtodos. Segundo PRAHBU (1990), muitos
fatores interferem na escolha do melhor mtodo, dentre os quais podemos destacar
os relacionados ao prprio aluno (ex. suas aspiraes, personalidade, estilo de
aprendizagem), ao professor (ex. sua motivao, habilidade, atitude frente lngua
que ensina) e organizao educacional (ex. objetivos da escola, carga horria,
recursos).
Em relao ao ensinar LE de modo institucionalizado, podemos identificar os
dois extremos. H docentes que s dispem de um ttulo de livro didtico (para
estudo dos alunos e seu prprio) e um aparelho de som (com entrada para fita
cassete), quando h. o caso de muitos profissionais que atuam em escolas,
geralmente da rede pblica, em que as condies de ensino clamam por reviso. H
aqueles que trabalham em instituies na qual o professor dispe de recursos os
mais variados (dentre os quais livros didticos de vrios autores e livros tericos,
laboratrio com computadores conectados internet ininterruptamente e interligados
em rede, Smart Board10, assinatura para acesso a vrios links institucionais
educativos). Acrescente-se aos fatores anteriormente mencionados a diferena nos
estilos de aprendizagem, de conhecimentos prvios em LE trazidos por alguns
alunos, de bagagem cultural acumulada em ensino-aprendizagem de LM, fatores
que influenciam decisivamente na eficincia e agilidade do processo. Sem falar nos
aspectos emocionais, que so extremamente importantes.
A relao direta existente entre a escolha da abordagem e a seleo das
estratgias de ensino/aprendizagem e de avaliao, bem como a identificao do
10O Smart Board um quadro computadorizado onde o professor pode escrever e ir abrindo novos quadros novas telas. Tudo o que escreve fica armazenado e ele pode ir retomando o que foi escrito e vrios quadrospodem ser abertos ao mesmo tempo. Toda a aula em udio e vdeo pode ser registrada (esses arquivos ficamdisponibilizados para os alunos ou para consulta posterior). Durante o uso do Smart Board o professor teminclusive acesso internet. O uso desse equipamento permite o encaminhamento diferenciado das atividades defixao dos contedos estudados. Sobre os recursos citados cf captulo 5 da presente tese.
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pblico-alvo, so de extrema relevncia no planejamento de cursos e elaborao de
MDs, conforme podemos visualizar na figura 2, reproduzida a seguir:
Figura 2 Abordagem de ensino de lnguas11
Segundo CORACINI (1995) a concepo de lngua(gem) e as vises de
leitura podem ser classificadas em trs tipos distintos: o de base estruturalista,
cognitivista e discursiva. Segundo cada tipo de abordagem, h variaes no conceito
de texto. Para os estruturalistas, o texto visto como fonte nica de sentido. Para
os cognitivistas, ele o conjunto de pistas deixadas para serem descobertas pelo
leitor. Na abordagem discursiva, o texto e sua materialidade lingstica so
concebidos como uma infinita rede de jogos de linguagem (WITTGENSTEIN: 1969),
de significados partilhados por instncias enunciativas em determinado scio-
histrico-ideolgico.
Para os estruturalistas, o leitor decodificador, receptculo do saber contido
no texto. O sentido (nico existente) encontra-se nas palavras e nas frases; a leitura
(autorizada pela forma do texto) um processo passivo de decodificao. Na
concepo cognitivista, a lngua um sistema de esquemas socialmente adquiridos;
11In: ALMEIDA FILHO (2002, p.22).
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o leitor um sujeito ativo, inferidor de sentidos, recuperados pelas pistas deixadas
pelo autor, e a leitura um processo interacionista autor/leitor/texto realizado com
base no confronto entre os conhecimentos prvios do leitor e os dados do texto. Na
concepo discursiva, a produo de sentidos se d pela ao das instncias
enunciativas (, portanto, processual) e, por conseguinte, cada leitura nica, pois
sero sempre variveis o momento, os sujeitos e os lugares em que ela se
desenrolar.
As numerosas pesquisas em LA tm revelado o ecletismo com que tem sido
desenvolvido o trabalho de ensino de lnguas. Vamos, portanto traar um sucinto
panorama dos principais mtodos de ensino de lnguas, dividindo-os em dois
grandes ramos de abordagens: as udio-orais/visuais situacionais e as nocio-
funcionais comunicativas.
2.2.1. Abordagens udio-orais/visuais situacionais
De base estruturalista, no Mtodo da Traduo e Gramticaocorre o privilgio
da leitura, habilidade a ser desenvolvida alm da escrita. A capacidade de se
comunicar oralmente na lngua-alvo no um objetivo de ensino. A traduo, meta
mais importante para o aluno, empregada no ensino da LE (sendo inclusive, ponto-
chave na avaliao). Para uma boa traduo, acredita-se ser necessrio o domnio
das regras gramaticais e das conjugaes verbais da lngua-alvo, alm, claro, da
memorizao do vocabulrio.
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O professor domina os turnos de fala durante a aula. A participao do aluno
bastante restrita e quase nula a interao aluno-aluno. Entre as atividades mais
desenvolvidas destacam-se exerccios de traduo de passagem literria da lngua-
alvo para a materna (momento em que o aprendiz desenvolve sua capacidade de
procurar de sinnimos e antnimos, de identificar cognatos e aplicar, ainda que
intuitivamente, regras gramaticais assimiladas).
A ampliao de vocabulrio se d pela memorizao de palavras, que se
espera sejam insumo para formao de frases. So realizados exerccios de
preenchimento de espaos com palavras omitidas nos textos e testes de
compreenso de leitura. Como atividade de produo escrita, os alunos fazem
composies partindo de um tpico dado pelo professor.
O Mtodo Direto segue na contramo e condena a traduo para a LM.
Conseqentemente, as aulas so totalmente ministradas na lngua-alvo (inclusive
para principiantes), atravs de mmicas e simulaes de situaes reais, nas quais
fundamental o uso, pelo professor, de relias (objetos, fotos, ilustraes em geral),
de gestos e mmicas na introduo do contedo e depreenso dos significados pelos
alunos.
A diviso dos turnos de fala equnime entre alunos e professores e entre
alunos e seus colegas de classe. A gramtica nunca apresentada explicitamente,
mas deve ser intuda pelos alunos. Leitura em voz alta de passagens, peas ou
dilogos; ditados e exerccios de pergunta e resposta, de preenchimento de lacunas
so conduzidos na lngua-alvo. Ocorre ainda a simulao de conversao e
produo escrita discente sobre situaes reais.
O Mtodo Audiolingual e o Mtodo Direto tm muitos aspectos em comum,
mas muitas diferenas tambm. Surgido a partir das idias geradas pela lingstica
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descritiva e pela psicologia behaviorista, o principal objetivo no mtodo Audiolingual
tornar os alunos capazes de usar a lngua-alvo para a interao. Presumia-se,
quando de sua implementao, que os aprendizes podiam aprend-la
automaticamente, sem parar para pensar, formando novos hbitos na lngua-alvo
e superando os antigos assimilados de sua LM. Nesse mtodo, o contedo
sempre bastante estrutural e introduzido atravs de dilogos iniciais aprendidos com
memorizao, imitao e repetio. A partir desses recortes interativos so
propostos exerccios de fixao dos contedos e do vocabulrio novo.
A estratgia de proposio de jogos tambm adotada e as repostas corretas
apresentadas pelos alunos so reforadas positivamente com prmios ou elogios.
Introduzido de modo indireto, atravs dos recortes estruturais, includos
intencionalmente nos dilogos, o conhecimento gramatical no vem acompanhado
de sistematizao de regras. A interao aluno-aluno uma constante,
especialmente nos drills, quando cada aprendiz se reveza nos diferentes papis do
dilogo. Essa interao dirigida pelo professor, responsvel por apresentar aos
alunos um modelo de fala, alm de ser o facilitador no processo de dirigir e controlar
o aprendizado lingstico dos discentes.
Sendo o foco a competncia oral, a pronncia ensinada desde o comeo,
geralmente com os alunos trabalhando em laboratrios de lnguas e em atividade
em pares. As estratgias mais empregadas so as de memorizao de frases
longas parte por parte, de memorizao e dramatizao de dilogos, para a
realizao de jogos de completar esses mesmos dilogos ou bem similares. So
tambm desenvolvidas atividades de conversao em pares; drills ou jogos de
vrios tipos como repetio (para memorizar estruturas ou vocabulrio); de
pergunta-resposta (para praticar estruturas); de construo de frases a partir de
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pistas (palavras) dadas; de transformao de frases negativas em afirmativas (entre
outros), alm de jogos para diferenciar palavras parecidas (tia /dia; po/pau) ,
realizados com o objetivo de melhorar a pronncia dos alunos.
No Silent Way (ou mtodo silencioso), a aquisio lingstica considerada
um processo no qual as pessoas, atravs do raciocnio, descobrem e formulam
regras sobre a lngua aprendida, com o objetivo de estimular a expresso do
pensamento, a percepo e o sentimento dos alunos e desenvolver sua
autoconfiana e independncia. Centrado no aluno e na crena de que ele e
somente ele constri seu processo de aprendizagem, o papel do professor o de
provocar o raciocnio discente usando o silncio como estratgia tanto para atingir
esse objetivo como estimular o trabalho cooperativo entre os aprendizes. Segundo
sua estrutura de funcionamento, a implementao do mtodo requer a elaborao
de fichas com cores, ou sinais que representem sons ou palavras. Os sons da lngua
so distintos e aprendidos atravs da memorizao das cores de cada uma das
fichas manipuladas pelo professor. Paulatinamente, os alunos vo formando
palavras com a associao dessas fichas aos sons que elas representam.
O ensino da estrutura da lngua feito pelo professor, medida que vo
sendo criadas situaes que focalizam a ateno dos alunos para o mnimo de
pistas faladas, em cuja base eles so conduzidos a produzir a estrutura. As
habilidades de falar, ouvir, ler e escrever se reforam mutuamente. Como o prprio
nome diz, o silncio do professor a mola mestra do mtodo. Aliado a ele, o uso de
fichas coloridas associadas a sons ou palavras, uso de gestos e de um quadro de
palavras. A avaliao dos alunos realizada atravs de correo em pares -
avaliao da lio no final da aula pelos prprios alunos, o que favorece o
desenvolvimento de uma atitude contnua de autocorreo.
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SERRANI-INFANTE (1989, p. 261), estudando os bloqueios provocados nos
aprendizes em suas etapas iniciais do processo de aprendizagem de uma LE,
mostra como eles podem interferir no processo de aquisio dessa LE. A etapa de
silncio funcionaria como um marco de produo pr-verbal. Essa posio
defendida por GRANNIER (s/d, p. 2)12 que, estudando as dificuldades de
comunicao de aprendizes hispanofalantes devido a falhas de pronncia, afirma:
(...) quando a percepo estiver bem consolidada que o aprendiz devercomear a produzir enunciados com a distino em questo. A queima de etapas eo estmulo produo oral espontnea constituem impedimento aquisio depropriedades distintivas. Na maioria das vezes, o impedimento torna o processoirrecupervel, pois o aprendiz se acostuma a transferir o portugus para a fonologiade sua lngua materna (o espanhol).. (nfase da autora).
Outros autores tambm reforam a importncia da consolidao de
conhecimento comunicativo-alvo antes de o aluno ser impelido a realizar atividades
em que esse conhecimento seja exigido. Em outras palavras, preconizam que no
se cobrem do aluno a sua explorao, sem um preliminar e consistente trabalho de
ensino/aprendizagem.
Suggestopedia (Sugestopedagogia) um mtodo que parte do princpio do
esperado atraso da aprendizagem lingstica em decorrncia de barreiras que o
prprio aprendiz se impe, por medo ou auto-sugesto. H uma grande
preocupao no sentido de ajudar os alunos a superarem esses entraves e o
trabalho concentrado no sentimento dos alunos e na necessidade de ativao de
suas potencialidades cerebrais. H tambm um grande investimento na composio
do ambiente de estudo, que deve ser acolhedor, relaxante e confortvel, pois o
aluno precisa sentir-se bem, confiar no professor, para que este possa ativar sua
imaginao e ajud-lo no desenvolvimento de seu processo de aprendizagem.
12Texto capturado em http://lamep.aokatu.com.br, acesso em 30 de julho de 2005.
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A utilizao de reforos visuais como psteres com informaes gramaticais
dispostos pela sala um recurso empregado para incitar a aprendizagem perifrica
do aluno, ou seja, sua capacidade de aprender atravs de estmulos externos e do
recebimento de insumos constantes no ambiente escolar, como mecanismo de
suprir os que muitas vezes no so objetiva