PRÁTICAS SOCIAIS E PROCESSOS EDUCATIVOS: EDUCAÇÃO,
CULTURAS E ANCESTRALIDADE NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA DO CEDRO MINEIROS/GO.
COSTA, Vanderlei Balbino1.
RESUMO
O presente estudo é resultado do processo de investigação realizada na comunidade
quilombola do Cedro em Mineiros/Goiás. Nossos objetivos neste estudo foram: Conhecer e
descrever como ocorrem as práticas sociais e os processos educativos na comunidade
remanescente de Quilombos do Cedro; Averiguar se o poder público municipal tem garantido
os diretos sociais como: educação, saúde, emprego e moradia para que a comunidade possa se
manter na terra; Identificar junto à comunidade quilombola se seus traços culturais, hábitos,
costumes e ancestralidade têm sido mantidos pelos seus remanescentes. A metodologia
utilizada foi a pesquisa qualitativa, ancorada nos pressupostos da Análise do Discurso, cujo os
principais precursores foram Michel Pêcheux, Dominique Mangueneau e Eni Orlandi. Os
resultados nos mostraram que é necessário a realização de estudos, pois o que percebemos é
uma quase total ausência do Estado em relação aos direitos sociais da comunidade. Nossas
considerações acerca da comunidade quilombola do Cedro são as de que é urgente a
necessidade de que o poder público possa investir na comunidade, no sentido de garantir
educação, saúde, emprego e moradia para todos que lá habitam.
PALAVRAS CHAVE: Práticas sociais. Processos educativos. Educação quilombola.
Cultura. Ancestralidade.
Introdução
O mundo moderno, globalizado, sem fronteiras, vive atualmente um grande dilema
social, o de abrigar diferentes seguimentos sociais, sem que possa haver pré-conceitos,
estereótipos estigmas e discriminações.
Práticas de exclusão social, traços de pré-conceitos, resquícios de estigmas e
estereótipos contra negros, indígenas, idosos, menores de rua, homossexuais, profissionais do
sexo, pobres e pessoas com deficiência, são os mais diferentes processos de exclusão social
que presenciamos na segunda metade do século XX e nos primeiros anos do século XXI.
Pensamos ser relevante assinalar neste estudo que o maior exemplo de comunidade
quilombola se deu na Serra da Barriga, em Alagoas, quando negros se refugiaram para não
serem mais explorados pelos donos de engenhos e produtores de café. Partindo desta
1 Docente, UFG/Regional Jataí. [email protected]
premissa, Miranda (2012, p. 371-372) citando Schmitt; Turatti; Carvalho, (2002) podemos
considerar como quilombos: "Toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em
parte despovoada, ainda que não ranchos levantados e nem se achem pilões nele”.
Identificamos na literatura, acerca da legislação que as comunidades quilombolas são
legitimadas mediante a um conjunto de leis assim descritos. De acordo com Miranda 2009,
citando o decreto n.4.887, em 20 de novembro de 2003 subscreve:
Art. 2º - Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos,
para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de
auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada
com a resistência à opressão histórica sofrida.
No mundo atual é notório assinalar que a educação formal em sua essência e por
excelência se coloca como um dos mais importantes elementos para se efetivar à inclusão
sócio educacional de todas as pessoas. Neste paradigma nota-se que em relação às populações
especiais como: indígenas, pessoas com deficiência, negros e em especial os remanescentes
de quilombos, isto não se efetivou, pois este contingente populacional ainda encontra-se
marginalizado dos direitos sociais.
Historicamente é necessário assinalar que os quilombos no Brasil estão situados desde
o século XVI. Neste sentido, é valido salientar que isso demonstra lutas, pela sobrevivência e
resistência em se manter laços culturais, hábitos costumes, culturas e ancestralidade.
A formação dos seres humanos passa necessariamente por ações sociais que em geral
procura legitimar direitos. Neste sentido, Miranda (2012, p. 369) afirma: “Identidade,
diversidade e diferença são dimensões que compõem o cenário atual das políticas
educacionais brasileiras, se não de forma central, de maneira persistente”.
Historicamente é necessário assinalar neste estudo que por longos séculos, hiatos
sociais, traços de preconceitos, estereótipos e estigmas configuraram como mecanismos para
que as diferenças não fossem respeitadas. Neste sentido, cumpre-nos ressaltar que de acordo
com Miranda (2012, p. 370):
Essas políticas operam a focalização em grupos marcados pela diferença
transposta em vulnerabilidade. Seu limite consiste em inserir a diferença na
perspectiva da tolerância e tratar o direito como carência de suplementação
para se atingir um grau de universalidade. O pressuposto de uma igualdade
essencial persiste, e, desse modo, a desigualdade permanece naturalizada. No
caso das políticas de diferença, questiona-se o limite naturalizado do sujeito
de direitos referenciado na figura do homem, heterossexual, branco, legítimo
proprietário.
A relevância deste estudo se justifica diante da tese de que no Brasil nas ultimas
décadas tem-se investido em estudos, na formação de professores, no currículo e na
construção das identidades. Ao referirmos à formação no campo da alteridade, da inclusão das
pessoas com deficiências e na construção das identidades, em especial, quando se trata das
comunidades quilombolas, é necessário afirmar que as políticas públicas ainda têm muito a
fazer para que essa população possa ser melhor assistida. Isso pode ser observado ao olhar
para Jesus e Nascimento (s/d) citando Meyer (2005, p. 259) quando descreve:
Nessa perspectiva a escola é um espaço de “processos e mecanismos de
homogeneização, de uniformização, de nivelar ou suprimir diferenças”
(Meyer, 2005, p. 259). Este enfoque aponta para a necessidade de
compreender e problematizar o processo educacional, assim como o
currículo escolar para além da escola, considerando os processos de
construção da cultura local, da ressignificação dos processos e métodos
disseminados no espaço escolar, assim como as percepções de currículo,
docência, conhecimento formal e as relações professor – aluno –
comunidade.
Não é comum vermos estudos e/ou pesquisas que retratam a questão da identidade
quilombola. Também não é comum vermos nas escolas pessoas discutindo a promoção da
igualdade racial, principalmente quando nos referimos às comunidades quilombolas. Desse
modo, este estudo se justifica mediante a necessidade de que possamos construir um conjunto
de ações políticas que possibilitam atender as comunidades quilombolas em todas as esferas,
em especial, na educação, saúde, emprego, renda, moradia cultura e lazer.
Atualmente no estado do Rio Grande do Sul identificam-se várias comunidades
remanescentes de quilombos, e que foram expulsos de suas terras. Historicamente é de
fundamental importância ressaltar que até poucos anos não era reconhecido pelo Estado à
existência de quilombos. No entanto, deve-se salientar que há registro de fugas de escravos
aquilombados nas regiões mais produtivas. De acordo com Anjos (2005), existem 90
comunidades remanescentes de quilombos no Rio Grande do Sul, que acabam por ocupar
diferentes áreas neste estado sendo ladeada por alemães e italianos.
Logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 68 foi
possível aferir na literatura que vem crescendo de forma acentuada os movimentos sociais
entorno da causa quilombola. Mesmo que ainda sendo um tanto quanto ofuscado pelo poder
público, ou mesmo pela imprensa nacional, as comunidades de remanescentes de quilombos
tem desempenhado um papel fundamental de organização social. Neste sentido, Gomes
(2007, p. 27) assinala que:
No âmbito nacional, desde 1995, os movimentos sociais quilombolas também vêm
se organizando na Conaq – Coordenação Nacional de Quilombos, a partir das
associações locais, nos municípios e nos estados-membros. As organizações sociais
são importantes como parte do controle social das políticas públicas e as
organizações sociais quilombolas são partes integrantes desse universo.
Ao direcionar nosso olhar para a legislação que regem a educação quilombola, é
preciso averiguar que de acordo com Sousa e Molina (s/d):
A educação escolar quilombola deve ter como referência valores sociais, culturais,
históricos e econômicos dessas comunidades. Para tal, a escola deverá se tornar um
espaço educativo que efetive o diálogo entre o conhecimento escolar e a realidade
local, valorize o desenvolvimento sustentável, o trabalho, a cultura, a luta pelo
direito à terra e ao território.
O presente artigo resultou do trabalho de investigação realizado na comunidade de
remanescentes de quilombos do Cedro Mineiros/Goiás no ano de 2014. Cumpre-nos assinalar
que o respectivo estudo se originou de algumas visitas realizadas na comunidade do Cedro
Mineiros/GO. Cuja intenção foi identificar se está comunidade conta com direitos sociais
como: educação, saúde espaço de lazer, cultura, trabalho, emprego e moradia.
Objetivos
o Conhecer e descrever como ocorrem as práticas sociais e os processos educativos na
comunidade remanescente de quilombos do Cedro;
o Averiguar se o poder público municipal tem garantido os diretos sociais como:
educação, saúde, emprego e moradia para que a comunidade possa se manter na terra;
o Identificar junto à comunidade quilombola se seus traços culturais, hábitos, costumes e
ancestralidade têm sido mantidos pelos seus remanescentes.
Metodologia
Nossa opção neste estudo foi pela abordagem qualitativa, ancorada nos pressupostos
da observação. Neste sentido Vilelas (2009, p. 105), ressalta que “por considerar que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o
mundo objetivo e a subjetividade do sujeito”. Deste modo é importante salientar que
lançamos mão nessa investigação da observação como um dos procedimentos registrando-as
sistematicamente em notas de campo. Para Negrine (2004, p. 61), as observações significam
que:
A base analógica desse tipo de investigação se centra na descrição, análise e
interpretação das informações recolhidas durante o processo investigatório,
procurando entendê-las de forma contextualizada.
A pesquisa ora em evidência fez opção pela abordagem qualitativa, tendo como
referencial a análise do discurso fundamentado na corrente francesa por meio de autores
como: Pêcheux (1997), Orlandi (2004, 2005), dentre outros, partimos do pressuposto de que
os discursos dos sujeitos da pesquisa são constituídos por vozes conflitantes e, portanto
contraditórias, sustentadas por diferentes filiações discursivas, especialmente quando nos
referimos à educação e as ações afirmativas, em especial no que concerne as práticas sociais e
os processos educativos observados nas comunidades remanescentes de quilombos, ladeadas
obviamente por tensões pelos sujeitos discursivos. Essa abordagem de pesquisa tem como
precursores, Jean Dubois, Michel Pêcheux, Dominique Mangueneau.
Resultados
Construímos os resultados e discussões neste estudo a partir de referenciais
bibliográficos, artigos científicos e entrevistas no interior da comunidade de remanescentes de
quilombos do Cedro, Mineiros GO. Identificamos que a comunidade se localiza
aproximadamente 3 quilômetros da periferia urbana do município de Mineiros/Go.
A dura constatação que verificamos ao visitar essa comunidade é a de que não há
escola para atender as 36 famílias que lá habitam. Isso faz com que as crianças, adolescentes,
jovens e adultos que precisam estudar têm que se deslocar para o centro urbano e procurar
vagas nas disputadas escolas públicas que oferecem ensino fundamental e médio para a
população.
No que concerne a constituição das lideranças na comunidade quilombola do cedro
identificamos que essa liderança é composta por pessoas mais experientes na comunidade.
Essa orientação não se faz por acaso. Na ótica da comunidade dos remanescentes de
quilombos os mais velhos exercem um poder de liderança sobre os demais, e, esse poder é
algo peculiar da própria comunidade. Este fenômeno pode ser vivenciado ao observar Gomes
(2007, p. 27) ao descrever:
Existem características básicas para que um indivíduo possa se tornar um líder, tais
como visão, integridade, conhecimento da realidade, autoconfiança, maturidade,
capacidade para ouvir e dialogar e disposição/vontade de assumir riscos, dentre
outros. Os líderes são, em regra, pessoas muito persistentes, com grande carisma,
motivadas pelo seu instinto e detentores da capacidade de decidir.
No que concerne à educação quilombola é salutar afirmar que de acordo com o Art.
41, os processos de educação quilombola são desenvolvidos em unidades educacionais em
suas terras e culturas, respeitando suas especificidades culturais, locais, hábitos e costumes.
Isso pode ser observado de acordo com Parágrafo Único. “Na estruturação e no
funcionamento das escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser reconhecida e
valorizada a diversidade cultural”. (BRASIL, 2010a)
De acordo com a literatura supramencionada, ao visitar a comunidade dos
remanescentes de quilombos isso não se constatou, pois na comunidade não há escolas para
atender as 36 famílias que lá habitam.
Ao referirmos a promoção da igualdade racial é notório acentuar que um dos maiores
desafios que o sistema educacional vem enfrentando atualmente diz respeito a formação
docente, pois não há muitas opções de universidades que habilita professores para atuar nesta
área. Isso pode ser observado de acordo com Miranda (2012, p. 376) ao assinalar:
Outro desafio a ser enfrentado na implantação da modalidade de educação
quilombola refere-se à formação de professores (as) que lecionam nas
comunidades. Reiteradamente se encontram referências à desconsideração da
singularidade das populações quilombolas pelos (as) profissionais da
educação que atuam em escolas localizadas nessas áreas.
No decorrer do estudo identificamos que na comunidade dos remanescentes de
quilombos além de não ter escolas rurais em nível do Ensino Fundamental e Médio para
atender as crianças, jovens e adultos que lá residem, não há registro de professores que foram
formados e/ou habilitados para atuar nesta comunidade e ministrar aulas para esses
remanescentes de quilombos.
Ao olhar para o senso escolar de 2004 é necessário acentuar que no Brasil existem
49.722 estudantes matriculados em 374 escolas que se localizam em áreas de remanescentes
de quilombos. É relevante assinalar que deste contingente de alunos matriculados, 62%
encontra-se na região nordeste. Os dados mencionados nos revelam que há no Brasil, ainda
muitas comunidades remanescente de quilombos que não são atendidas pelo poder público,
pois em muitas dessas além de não contar com escolas, postos de saúde, não contam também
com moradias financiadas pelo governo, trabalho, renda e atividades de cultura e lazer.
A construção da identidade na visão dos remanescentes de quilombos se dá pela
efetiva participação na escola. Neste sentido, a escola para a comunidade significa ser um
espaço privilegiado para se construir o conhecimento e neste aspecto, a sociedade brasileira
tem uma divida histórica em relação à reconstrução das identidades e da auto-estima da
população que se originaram dos Países Afro descendentes.
Ao se referir aos direitos sociais das comunidades remanescentes de quilombos é
notório assinalar que em se tratando da comunidade Quilombola do Cedro em Mineiros Goiás
há pelo poder público uma dívida histórica para com esta comunidade, pois o que
evidenciamos nos depoimentos dos moradores foi uma quase total ausência do poder publico
em relação aos direitos sociais garantidos pela constituição federal de 1988.
Nas visitas que fizemos nas comunidades de remanescentes de quilombos
identificamos que há uma relação conflituosa de convivência entre a comunidade, o poder
público e os fazendeiros. Estes últimos em via de regras adquiriram o titulo de suas terras
através das grilagens.
Outros, por sua vez, compraram propriedades de alguns membros da própria
comunidade, em um processo realizado de maneira questionável, pois alguns destes que
venderam essas áreas também não possuíam o titulo de propriedade dessas terras.
Os resultados nos mostraram que são significantes as riquezas culturais registradas nas
comunidades remanescentes de quilombos, a criatividade, o apego a cultura, valores e hábitos
revelam o quanto preservar esses traços de ancestralidades são importantes. Frente a essa
assertiva, Gomes (2007, p. 25) assinala:
Quando se constata a riqueza criativa das vivências dos moradores das comunidades
remanescentes de quilombos, principalmente dos mais velhos, no que diz respeito ao
uso das ervas medicinais, no modo de trabalhar a terra, de tirar dela seu sustento, nas
linguagens gestuais, na música, nas festas, no modo de se divertir, de cantar, dançar
e rezar vê-se a importância de ter acesso a esse conhecimento. É esse conhecimento
que constitui o contexto em que se tecem as teias de significados que recriam
incessantemente sua cultura e sua identidade contrastiva, isto é, a afirmação da
diferença. Nas práticas dos moradores das comunidades, há um forte apelo ao
reconhecimento dessa identidade.
Não é possível manter uma educação quilombola sem seus princípios da autonomia,
afinal, os remanescentes de quilombos têm características próprias, costumes hábitos culturas
e ancestralidades. Diante dessa assertiva é notório assinalar que três aspectos merecem
destaque acerca da escola genuinamente quilombola, a saber:
1. a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) e da proposta curricular da
escola deverá ser espaço de troca de conhecimentos e experiências de todos aqueles
envolvidos na oferta dessa modalidade de educação em articulação com a
comunidade local.
2. a formação inicial e continuada dos professores com base na realidade da
comunidade quilombola na qual a escola está inserida, sem perder de vista a relação
entre o local e o nacional.
3. a gestão da escola deverá se efetivar autônoma e democraticamente para que o
atendimento à especificidade dessas comunidades seja um dos eixos da educação
igualitária, exigindo dos sistemas de ensino a garantia efetiva do direito à educação
escolar quilombola.
No que concerne aos três aspectos mencionados é profícuo esclarecer que ao se referir
a comunidade Quilombola do Cedro em Mineiros Goiás nem um desses foram constatados,
pois na comunidade não há escolas e por conseguinte um Projeto Político Pedagógico que
possa se voltar para os interesses da comunidade.
Não há também pelo poder publico local, regional e até federal preocupação com a
formação docente que atuam nessa comunidade, pois como já mencionamos não há escolas
para as pessoas que lá moram.
Finalmente não há uma política de gestão escolar na comunidade, pois como frisamos
reiteradas vezes esta comunidade despossuídas desses importantes direitos sociais.
Nas comunidades remanescentes de quilombos, não é possível pensar em uma
educação que não envolva homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens e idosos, bem
como sua relação com a terra, com a cultura, com o sagrado e com as diversas maneiras de
organização social. Neste paradigma, pode-se ressaltar o importante papel que ocupa a escola,
no sentido de desconstruir uma sociedade moldada para atender apenas os anseios da classe
dominante, detentora de um saber supostamente sistematizado.
Ao discutir a importância da construção da identidade quilombola em diferentes
espaços sociais que convivemos no cotidiano, ou, mesmo na escola, lócus onde supostamente
desenvolve o conhecimento cientifico, o saber elaborado e a prática de libertação, uma
indagação paira no ar: o que é identidade? Ao responder essa indagação, pensamos não ser
difícil afirmar que é a identidade que mostra quem somos, onde estamos, o que queremos, em
fim, como nos tornamos seres visíveis em todos os contextos sociais. Assim, pensamos ser a
identidade algo que se refere aquilo que um ser/individuo, ou um grupo ou mesmo de forma
mais ampliada a comunidade, povo, pátria, nação define de si.
Conseguimos identificar nesta análise que a construção da identidade dos
remanescentes de quilombos não pode e jamais poderá ser feita sem antes não reconhecermos
que a mais de quatro séculos essa comunidade vem lutando para se manter viva no cenário
nacional brasileiro. Neste aspecto, é primordial que possamos desenvolver práticas de
fortalecimento das identidades étnica de direitos para que seja construído um projeto de escola
quilombola. Assim, é salutar que possamos compreender que os quilombos são iguais na sua
condição humana e no direito a ter direito, porém são diferentes no modo de viver, na
expressão da cultura e nas maneiras de se relacionar com os outros.
Considerações Finais
Atualmente, no entanto, contemplamos mobilizações do Governo e de Universidades,
trabalhado, para que ao menos, se diminuam essas exclusões, focando em leis e programas
que tentam captar ou abranger pessoas estigmatizadas de alguma forma pela sociedade.
Não é de hoje que ouvimos o discurso de que a sociedade discrimina negros,
indígenas, idosos, menores de rua, profissionais do sexo e pessoas com deficiência. Pensamos
que muitas destas situações ocorrem por que parte desta sociedade não tem uma consciência
clara do que é discriminar, manter preconceitos e estigmatizar.
No que concerne à educação das comunidades quilombolas, em especial, sua
identidade, acreditamos que entre as categorias que ainda precisam ser olhada, percebida e
respeitada, são as comunidades quilombolas, pois em linhas gerais, pode se afirmar que as
politicas publicas precisa investir muito na promoção da igualdade racial, ate porque, não e
visível as ações governamentais acerca do atendimento a essa população.
A promoção da igualdade racial em relação as comunidades Quilombolas precisa
imediatamente ser priorizada pelas políticas publicas, pois os dados em geral revelam que
grande parte da população desses remanescentes são originários de pessoas jovens e que
necessitam de investimentos nas áreas de saúde, educação, moradia, transportes, cultura e
laser. Nesse paradigma é necessário assinalar que de acordo com Jesus e Nascimento (s/d):
Os dados mostram que, 42% das pessoas encontram-se na faixa etária entre 0
a 18 anos; 48% estão na faixa etária de 19 a 59 anos e 10% com idade acima
de 60 anos. Os dados caracterizam uma comunidade de população jovem,
com baixo índice de escolaridade.
Pensamos ainda ser necessário assinalar que a universidade tem um importante papel
nesta tarefa, pois é aqui que se produz ciências e por ser exatamente aqui que o conhecimento
científico e o saber sistematizado ocorre. Diante do exposto, é que justificamos a veemente
necessidade de executar projetos desta natureza, pois é do nosso conhecimento que as
comunidades quilombolas têm muito a contribuir com a construção de identidades, alteridade,
cultura e por fim do lazer.
A luz da literatura, Paré, Oliveira e Velloso (2007) assinala que: as comunidades
quilombolas que foram reconhecidas oficialmente pelo Estado Brasileiro através da
Constituição Federal de 1988 por meio do Artigo 68, das disposições constitucionais
transitórias não tem conseguido se efetivar enquanto remanescentes de quilombos pois se
verifica uma quase total omissão do Estado em relação a essa população.
Em se tratando da formação dos professores para atuarem nestas comunidades,
identificamos algumas lacunas, a saber: *Os professores nem sempre são da comunidade, daí,
surge um problema, os diferentes saberes cultuados pela comunidade não são respeitados;
*Falta formação inicial e continuada a esses professores, no que concerne aos saberes
culturais que as comunidades remanescentes de quilombos precisam preservar; *Nessas
comunidades, devido à falta de formação e habilitação para atuar na realidade quilombola,
esses professores acabam por trabalhar nas escolas apenas os conteúdos sistematizados
oficialmente nos livros didáticos; *Outra constatação identificada junto a essas comunidades
foi a de que falta formação inicial e continuada para os professores que se originam da própria
comunidade, pois se o poder público promovesse a formação desses docentes, seguramente
hábitos, costumes ancestralidades, culturas e saberes dos remanescentes de quilombos seriam
mais facilmente preservados.
No decorrer do estudo, identificamos na comunidade que o poder público em todas as
esferas precisa investir muito em áreas prioritárias como: educação e saúde, pois nesta
comunidade não tem escolas, na qual a população possa frequentar regularmente.
Não é por falta de legislação que os direitos à educação não são respeitados. Não é
também por falta de políticas públicas que indígenas, negros, pessoas com deficiência, e neste
caso, em especial, os remanescentes de quilombos ainda se encontram em um profundo
processo de invisibilidade social e educacional. Neste aspecto é salutar que em 2010, em
Brasília a Conferência nacional de educação (CONAE) realizou um intenso debate sobre
diversidade no campo da política educacional. Nesta conferência, as discussões resultaram na
proposta de inclusão da educação escolar quilombola como modalidade na rede básica.
Assim, é relevante assinalar que de acordo com o Parecer CNE/CEP 07/2010 e na Resolução
CNE/CEP 04/2010 que instituiu as diretrizes curriculares para a educação básica, a educação
dos remanescentes de quilombos passaram a ser oficializadas por uma legislação especifica.
Nossas considerações acerca do processo de educação para os remanescentes de
quilombos são as de que falta aos gestores públicos em todas as esferas ação política, no
sentido de implementar direitos como: *direito à formação inicial e continuada que visa
habilitar os professores para atuarem nas comunidades quilombolas mantendo obviamente
seus hábitos, costumes e ancestralidades; *o respeito ao conceito especifico de educação
quilombola para seus remanescentes; *o quilombo como território próprio que cultiva sua
cultura; *Cultura e sua ancestralidade africana como direito de seus remanescentes; *os
avanços e direitos dos quilombos na legislação brasileira;
No Brasil atualmente não se tem ao certo o número de comunidades quilombolas. No
entanto, dados da fundação cultural Palmares do Ministério da Cultura, existem hoje cerca de
3.754 comunidades remanescentes de Quilombos identificadas com maior concentração nos
Estados do Maranhão, Bahia e Minas Gerais.
Se fizermos uma busca junto aos órgãos governamentais, é possível aferir que de
acordo com INEP (2013), há 1.561 escolas de ensino fundamental e 57 de ensino médio em
áreas de remanescentes de quilombos.
Ao fazer uma análise dos resultados desta pesquisa, é possível identificar que as
comunidades quilombolas se localizam em áreas rurais em geral de difícil acesso, cuja
população não tem luz elétrica, água tratada, acesso as políticas públicas básicas como:
educação, saúde, transporte e moradia.
O respeito à educação quilombola se faz mediante um amplo processo que inclui a
convivência com os outros, com o diferente, com a família com as relações de trabalho
comunal no campo e com as ancestralidades, aqui representado pelo sagrado e com as
vivências nas escolas.
Ao mencionar aspectos que identificam as comunidades remanescentes de quilombos,
é salutar que um desses aspectos é a terra. Terra esta aqui identificada como: um território,
lugar espaço, onde floresce a vida, onde se compartilha a memória dos mais experientes, a
partir das relação com os mais antigo. Deste modo, a terra é o lugar da história, onde se
registra resistência de um povo que a séculos encontra-se marginalizado pela omissão do
poder público estatal.
O estudo ora em evidencia não é conclusivo, pois configura-se como resultado parcial
de uma observação associada a uma entrevista que fizemos na comunidade. No entanto
constatamos nessa visita que a comunidade dos remanescentes de Quilombo do Cedro em
Mineiros Goiás, encontra-se carente de alguns direitos sociais básicos como: escolas, postos
de saúde, moradia, cultura e lazer.
Na comunidade dos remanescentes de Quilombos identificamos que assim pelo poder
público local uma quase total ausência de políticas públicas que possam atender os anseios
dessa comunidade. Diante do exposto pensamos ser nós professores especialmente do ensino
superior responsáveis em não apenas anunciar, mas também denunciar esta omissão, visto que
concebemos a Universidade como lócus de formação, onde-se discutem direitos sociais,
formação dos cidadãos, identidades, alteridades, enfim, local onde-se debate mecanismos que
possam de alguma forma solucionar problemas que desrespeitam as comunidades, em
especial quando nos referimos aos povos Quilombolas marginalizados a séculos pelo poder
público.
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