O DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NO SISTEMA JURÍDICO
BRASILEIRO
Felipe Junqueira d’Ávila Ribeiro Aluno do 2º ano do Curso de Direito da
UNESP (campus de Franca-SP)
Sumário: 1. Introdução. 2. Breve histórico da tutela da propriedade industrial. 3. Propriedade industrial e propriedade intelectual: distinções. 4. A nova lei da propriedade industrial e o INPI 4.1. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). 5. A propriedade industrial no âmbito internacional: a Convenção de Paris e a OMPI 6. Das patentes.6.1. Requisitos da patenteabilidade. 6.2. Do pedido de patente. 6.3. Dos direitos sobre a patente e das licenças. 6.4. Da nulidade, da extinção e da restauração da patente. 7. Do registro de marcas. 7.1. Requisitos da registrabilidade de marca. 7.2. Do pedido de registro de marca. 7.3. Da exploração da marca. 7.4. Da nulidade e da extinção da marca. 8. Do registro de desenho industrial. 8.1. Requisitos da registrabilidade de desenhos industriais. 8.2. Do pedido de registrabilidade de desenho industrial. 8.3. Dos direitos sobre o desenho industrial. 8.4. Da nulidade e da extinção do registro industrial. 9. Das indicações geográficas. 10. Dos crimes contra a propriedade industrial e a concorrência desleal. 11. Conclusão. 12. Bibliografia.
1. Introdução A menção ao termo “propriedade industrial” nos remete a princípio às marcas
e às patentes, institutos mais afamados e mais utilizados no cotidiano comercial da
atualidade, no que concerne a bens empresariais imateriais. A associação não deixa
de ser correta, embora seja necessário destacar a inclusão neste conceito também
do desenho industrial, além do nome empresarial e outros institutos incorpóreos
referentes ao mundo mercantil.
Segundo Fábio Ulhôa Coelho, direito industrial é a “divisão do direito
comercial que protege os interesses dos inventores, designers e empresários em
relação às invenções, modelo de utilidade, desenho industrial e marcas”. Esta
definição diz respeito ao ramo jurídico que tutela a propriedade industrial, indicando
seu objeto de incidência.
Este estudo tem por escopo a apresentação dos principais aspectos
relacionados ao tema, discutindo-se seu âmbito de aplicação, o direito de
exclusividade, condições essenciais para o registro e figuras afins.
Adotaremos como base estrutural do trabalho a Lei n. 9.729/1996, a nova lei
da propriedade industrial, considerando ser essa a maneira mais didática de
explanação do tema, evitando confusões entre as características especiais dos
diversos institutos abrangidos pela propriedade industrial.
Iniciaremos as considerações a partir de um enfoque histórico, para em
seguida tratar detalhadamente das marcas, dos desenhos industriais e das patentes,
destacando suas formas de registro, seus objetivos, seu âmbito de proteção e os
direitos dela decorrentes, bem como acerca de sua nulidade, possibilidade de
extinção e concessão de licenças.
Encerrar-se-á o trabalho com alguns apontamentos especiais relevantes para
o estudo do tema ora tratado, além da exposição de notas conclusivas de cunho
próprio.
2. Breve histórico da tutela da propriedade industrial A criatividade é inerente ao espírito humano, e acompanha o homem desde a
sua existência. Com o aparecimento da imprensa e o advento da Revolução
Industrial, as idéias novas que surgiam no intelecto de cada um passaram a ser
difundidas, e logo essa publicidade passou a requerer a proteção à obra de seu
autor - algo criado por ele, e que somente a ele deveria pertencer.
O Direito então, constatando o novo dilema social advindo da evolução
tecnológica, implementou uma tutela legal a esse tipo de bem imaterial, tão valioso e
digno de proteção quanto os bens materiais.
As primeiras formas de exclusividade na exploração de idéias surgiram na
Inglaterra, em 1623, com o Statute of Monopolies, e nos Estados Unidos, quando da
elaboração de sua Constituição, em 1787 - ambos referentes à proteção aos
inventores, especificamente.
Em 1883 foi criada a União de Paris, convenção da qual o Brasil faz parte
desde o início, que disciplina o direito industrial em um âmbito global. Conferiu novo
tratamento à matéria, estabelecendo um conceito amplo de propriedade industrial.
Esta proteção passou a ser referente então às patentes de invenção, modelos de
utilidade, aos desenhos ou modelos industriais, às marcas de fábrica ou de comércio
e de serviço, bem como ao nome comercial e à repressão da concorrência desleal.
A história do direito industrial brasileiro se inicia a partir do processo de
desentrave da nossa economia colonial, no início do século XIX. O Brasil foi um dos
primeiros países do mundo a disciplinarem o tema em sua legislação, tendo
elaborado diversas cartas acerca de marcas e patentes desde então. Em 1971, foi
promulgado o Código da Propriedade Industrial que, a despeito de sua pomposa
denominação, recebeu críticas por parte da doutrina, já que não abrangia
dispositivos a respeito do nome empresarial e do estabelecimento mercantil, estes
também inclusos no conceito de propriedade industrial.
Muito embora sem sanar completamente o defeito, em 1996 foi criada a Lei n.
9.279, de 14 de maio de 1996, a nova lei da propriedade industrial, que hoje
disciplina a matéria em âmbito nacional.
3. Propriedade industrial e propriedade intelectual: distinções É comum haver no meio estudantil e até mesmo no campo doutrinário uma
divergência acerca dos conceitos de propriedade industrial e intelectual. Mister se
faz o discernimento entre ambos para o prosseguimento mais eficaz do nosso
estudo.
A propriedade industrial diz respeito, como já dito, às patentes de invenção,
às marcas de produtos ou serviços, ao nome empresarial, etc. São bens imateriais
de propriedade do empresário, utilizados para um fim comercial.
Já a propriedade intelectual tem sentido mais amplo, abrangendo, além das
supracitadas marcas e patentes, também as obras científicas, artísticas, literárias e
outras. Portanto, o direito intelectual é o gênero, do qual são espécies o industrial e
o autoral.
Estas duas espécies de direito imaterial diferem em dois aspectos principais:
em primeiro lugar, quanto à origem do direito; segundo, quanto à extensão da tutela.
A exclusividade da exploração de direito industrial é conferida por meio de ato
constitutivo administrativo, enquanto o direito autoral não decorre de nenhuma
concessão legal, mas da própria criação por seu autor. Ou seja, o inventor e o
designer só titularizam o direito exclusivo de utilização de sua invenção, modelo ou
desenho após a expedição da patente pelo INPI, da mesma forma que o faz o
empresário que deseja registrar a sua marca. Trata-se de direito constituído, recém-
nascido, e não declarado. Em vista disso, pode ocorrer que o titular de uma patente
não seja necessariamente quem realmente a inventou, já que o direito de
exclusividade será concedido a quem primeiro requerer a patenteabilidade da
invenção, e não a quem criou e elaborou o invento, independentemente de prova. Já
no caso do direito autoral, essa “injustiça” feita ao criador não ocorre. O direito é
apenas declarado, ou seja, é pré-existente ao ato de concessão de exclusividade. O
autor pode, mesmo que não tenha registro, reivindicar em juízo o reconhecimento de
seu direito de exploração exclusiva da obra, desde que possua meio de provar a
veracidade do fato alegado.
A segunda diferença entre os dois sistemas protetivos da propriedade
intelectual concerne à extensão da tutela. O direito industrial protege não apenas a
forma exterior do obejto, como a própria idéia inventiva, ao passo que o direito
autoral apenas protege a forma exterior. A proteção liberada pelo direito autoral não
alcança a idéia do autor, mas só a forma pela qual ela se exterioriza e se apresenta
ao público.
4. A nova lei da propriedade industrial e o INPI Como se viu, foi no século XIX que o Direito brasileiro começou a se
preocupar com a questão referente à propriedade industrial. Através da manufatura
de inúmeros produtos brasileiros, surgiu então a necessidade de um instrumento
hábil que assegurasse as descobertas e privilégios daqueles que se dispunham a
exercer esse tipo de atividade produtiva.
A Constituição de 1824 – a primeira Carta Magna da história do País – já
determinava, no título que versava sobre as garantias civis e políticas, que a
qualquer cidadão era assegurado o direito exclusivo sobre seus produtos, mesmo
que temporário, além do ressarcimento de possível perda ocorrida em virtude da
vulgarização desses.
A primeira lei específica de marcas e patentes surgiu no Brasil em 1875 e a
primeira ação judicial referente ao tema que se tem notícia foi formulada pelo
eminente jurista e advogado Rui Barbosa, ao defender seu cliente, detentor da
marca de rapé “areia preta”, contra o uso indevido da marca de rapé “areia parda”.
A evolução legislativa ao longo do tempo levou à promulgação, em 1971, do
Código da Propriedade Industrial, que foi atualizado, em 1996, pela Lei n. 9.279,
referência deste trabalho.
Esta lei, em muito influenciada pela Convenção de Paris, disciplina todo o
processo de patenteabilidade de invenções e modelos de utilidade, estabelecendo a
forma do pedido de patente, as características que a cercam, a sua concessão e
vigência, sua proteção, a possibilidade de ser nula, bem como sobre as licenças e a
extinção da patente.
Nos capítulos referentes às marcas e aos desenhos industriais, estabelece
como se dá o registro específico de cada um dos institutos, atentando para suas
peculiaridades, como o faz no caso das patentes. Ainda disciplina as chamadas
indicações geográficas.
Em sua parte final, elenca os crimes contra a propriedade industrial e trata da
questão processual envolvendo as concessões de marcas e patentes, além de fazer
referência às transferências de tecnologia e de franquia, tema novo no Direito
brasileiro, que vem merecendo cada vez mais destaque no cenário mercantil.
4.1. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
Como será notado ao longo deste estudo, as concessões de marcas e
patentes devem ser requeridas em determinado órgão estatal, que decidirá sobre
todas as questões relevantes ao tema. Esta função cabe ao Instituto Nacional de
Propriedade Industrial. Em várias ocasiões, será o referido instituto citado na
explanação dos caracteres que envolvem a proteção da propriedade industrial,
portanto mister se faz a conceituação deste, para melhor compreensão de toda a
sistemática jurídica protetiva desses bens imateriais.
O INPI é uma autarquia federal destinada a conceder privilégios e garantias a
todos aqueles que efetuem o registro de suas marcas e invenções a nível nacional.
O instituto tem como objetivo a regulação da propriedade industrial em função
de seu caráter social, técnico, jurídico e econômico, resguardando por outro lado o
direito do próprio desenvolvimento econômico do país, através de medidas objetivas
no sentido de acelerar e regular a transferência de tecnologia e dar melhores
condições de negociação e utilização das patentes, cabendo ainda, pronunciar-se a
respeito de sua conveniência, tratados, convênios, acordo e denúncias sobre a
propriedade industrial.
A nova lei da Propriedade Industrial dispõe que “o INPI tem por finalidade
principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a propriedade
industrial, tendo em vista a função social, econômica, jurídica e técnica, bem como
pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de
convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial”.
O mesmo diploma legal, em seu art. 239, continua: “Fica o Poder Executivo
autorizado a promover as necessárias transformações no INPI, para assegurar à
Autarquia autonomia financeira e administrativa, podendo esta:
I – Contratar pessoal técnico e administrativo mediante concurso público;
II – fixar tabela de salários para os funcionários, sujeitos à aprovação do
Ministério a que estiver vinculado o INPI; e
III – dispor sobre a estrutura básica e regimento interno, que serão aprovados
pelo Ministério a que estiver vinculado o INPI.
Parágrafo único. As despesas resultantes da aplicação deste artigo correrão
por conta de recursos próprios do INPI”.
5. A propriedade industrial no âmbito internacional: a Convenção de Paris e a OMPI
O estudo da propriedade industrial no direito brasileiro requer também
conhecimento sobre a disciplina jurídica da matéria em todo o mundo, que influi
direta ou indiretamente na legislação pátria.
Destacamos no cenário internacional um tratado multilateral celebrado no fim
do século XIX, do qual o Brasil faz parte desde o início e uma organização mundial
que cuida do tema.
A OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual - foi criada em
1967, e é um dos 16 (dezesseis) organismos especializados do sistema das Nações
Unidas, de caráter intergovernamental, com sede em Genebra, Suíça.
Tem como funções principais estimular a proteção da Propriedade Intelectual
em todo o mundo mediante a cooperação entre os Estados; assegurar a cooperação
administrativa entre as Uniões de propriedade intelectual; e estabelecer e estimular
medidas apropriadas para promover, a atividade intelectual criadora e facilitar a
transmissão de tecnologia relativa à propriedade industrial para os países em
desenvolvimento em vista de acelerar o desenvolvimento econômico, social e
cultural.
A OMPI, também incentiva a negociação de novos tratados internacionais e a
modernização das legislações nacionais. Neste sentido, uma parte fundamental do
trabalho da OMPI está representada pela constante atualização e proposição de
padrões internacionais de proteção às criações intelectuais em âmbito mundial. Os
exemplos mais marcantes desta atuação são o Tratado de Cooperação em Matéria
de Patentes (PCT); o apoio ao Convênio Internacional para a Proteção de
Obtenções Vegetais (UPOV); o Tratado sobre Circuitos Integrados; a as
negociações relativas à harmonização no campo de patentes e marcas.
No referido campo dos tratados internacionais, destaca-se a União de Paris,
convenção que exerce forte influência na matéria jurídica brasileira referente à
propriedade industrial.
A Convenção de Paris reuniu-se pela primeira vez em 20 de março de 1883 e
foi revista em Bruxelas, em 14 de dezembro de 1900, em Washington, em 2 de
junho de 1911, em Haia, em 6 de novembro de 1925, em Londres, em 2 de junho de
1934, em Lisboa em 31 de outubro de 1958, e em Estocolmo, em 14 de julho de
1967.
Foi só a partir desta data que finalmente os países participantes destas
convenções chegaram a um consenso comum a respeito dos direitos e obrigações
sobre a proteção da propriedade industrial e, através de protocolo que foi redigido,
pode-se dizer que, em linhas gerais, convencionou-se que: a) países signatários da
Convenção constituem-se em União para a proteção da propriedade industrial; b) a
proteção da propriedade industrial tem por objeto as patentes de invenção, os
modelos de utilidade, os desenhos ou modelos industriais, as marcas de fábrica ou
comércio, as marcas de serviço, o nome comercial e as indicações de proveniência
ou denominações de origem, bem como a repressão da concorrência desleal; c) a
propriedade industrial entende-se na mais ampla acepção e aplica-se não só à
indústria e ao comércio propriamente ditos, mas também às indústrias agrícolas e
extrativistas e a todos os produtos manufaturados ou naturais; d) entre as patentes
de invenção compreendem-se as diversas espécies de patentes industriais
admitidas nas legislações dos países da União, tais como as patentes de
importação, patentes de aperfeiçoamento, patentes e certificados de adição, etc.
O Brasil, como país unionista, deve obedecer a princípios estabelecidos pela
Convenção de Paris, como o da assimilação e o da prioridade. Segundo o primeiro,
o direito brasileiro não pode adotar legislação protetiva dos nacionais, devendo
conferir igualdade de condições entre as marcas e patentes pátrias e estrangeiras.
Já de acordo com o princípio da prioridade, é possível a qualquer cidadão de país
signatário da União reivindicar prioridade de patente ou registro industrial, no Brasil,
à vista de igual concessão obtida, anteriormente, em seu país de origem, desde que
o faça em 6 meses, para o modelo ou desenho industriais, marca ou sinal de
propaganda, ou em 12 meses, para a invenção ou modelo de utilidade, contados da
apresentação de seu primeiro pedido. É uma eliminação das fronteiras nacionais
para fins de proteção à propriedade industrial, como se houvesse um único sistema
global de proteção. Convém anotar que o mesmo direito que têm os estrangeiros no
Brasil, têm também os brasileiros quando desejarem direito de exclusividade sobre
sua criação em países estrangeiros signatários da União de Paris.
6. Das patentes Após discorrermos, de maneira introdutória, sobre os aspectos históricos da
propriedade industrial, e termos feitos alguns esclarecimentos e distinções
pertinentes à compreensão do tema, nos cabe agora, enfim, o início do estudo da
propriedade industrial em si, começando pelas patentes e todas as peculiaridades
que a envolvem.
Patente é o nome que se dá à proteção concedida na exploração de
determinada invenção ou modelo utilidade.
A invenção é o único dos quatro bens integrantes da propriedade industrial
(invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e marca) que não tem definição
legal, fato este plenamente justificável pela extrema dificuldade de se conceituar o
instituto. Todos sabem intuitivamente do que se trata, mas é difícil chegar a seus
parâmetros conceituais. Sabe-se que é ato original do gênio humano, desconhecido
de qualquer outra pessoa, mas essa simples característica não a define, por ser este
um conceito muito abrangente. Em vista disso, preferiu o legislador adotar um
critério de exclusão que caracteriza o que não é invenção. Por eliminação, chega-se
ao que é.
Nesse sentido, a Lei da Propriedade Industrial, em seu art. 10, não considera
invenção: a) as descobertas e teorias científicas (a teoria da relatividade de Einstein,
por exemplo); b) métodos matemáticos (o cálculo infinitesimal, de Isaac Newton); c)
concepções puramente abstratas (a lógica heterodoxa, de Newton da Costa); d)
esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização (a pedagogia do oprimido, de
Paulo Freire, é exemplo de método educativo); e) obras literárias, arquitetônicas,
artísticas e científicas ou qualquer criação estética e programas de computador
(tutelados pelo direito autoral); f) apresentação de informações, regras de jogo,
técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, terapêuticos ou de diagnóstico, e os
seres vivos naturais.
Difere também a invenção da descoberta, por ser esta a simples revelação de
uma coisa existente na natureza, enquanto aquela consiste na criação de uma coisa
até então inexistente.
Já o modelo de utilidade é tido como um aperfeiçoamento da invenção,
chamado por alguns de “pequena invenção”. A lei o define como “objeto de uso
prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma
ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu
uso ou em sua fabricação” (LPI, art. 9º). Não é uma invenção, por não ser algo
totalmente novo, e sim apenas parcialmente. É uma invenção melhorada pelo
acréscimo de alguma novidade. Uma modificação de forma, sem efeito técnico novo,
que tenha uma serventia prática.
Para ser caracterizado o modelo de utilidade, seu criador deve ter praticado
um avanço tecnológico, reputado pelos especialistas na área como algo engenhoso.
Se faltar essa peculiaridade, o objeto será uma mera “adição de invenção”.
6.1. Requisitos da patenteabilidade
Tanto as invenções como os modelos de utilidade, para serem como tais
considerados e protegidos pela concessão do INPI, devem conter determinados
requisitos essenciais. São os seguintes: a) novidade; b) atividade inventiva; c)
industriabilidade; d) desimpedimento.
a) Novidade
A novidade diz respeito ao desconhecimento do objeto por parte dos
cientistas ou pesquisadores especializados. Segundo a lei, a invenção é nova
quando não compreendida no “estado da técnica” (LPI, art. 11). Estado da técnica é
compreendido como todos os conhecimentos acessíveis por qualquer pessoa, seja
por que meio for. Se a descrição do objeto já houver sido divulgada antes, falta-lhe a
característica de novidade, e desta forma o requerente não pode ser considerado o
inventor do objeto, não haverá a proteção do direito industrial.
Além dos conhecimentos divulgados, o estado da técnica também abrange os
descritos em patente depositada anteriormente, mas ainda não publicada. Como se
verá posteriormente, quando um inventor de determinado objeto requisita sua
proteção junto ao INPI, e seu pedido é mantido em sigilo durante 180 dias, até que
seja publicado. Desta forma, o estado da técnica compreende também esses
conhecimentos ainda não divulgados, mas que já se encontram devidamente
depositados no INPI, aguardando publicação.
Por outro lado, determinadas formas de divulgação não chegam a
comprometer a novidade do invento, como no caso da divulgação feita pelo próprio
inventor em congressos ou através de revista acadêmica nos 12 meses anteriores.
Da mesma forma, se a divulgação for feita em razão de fraude ou por quem não
estava autorizado a fazê-lo, a proteção jurídica ao invento ainda é possível.
Observa-se que em ambos os casos deve haver o limite da divulgação nos 12
meses anteriores; é o chamado “período de graça”.
A doutrina costuma distinguir novidade de originalidade, atributo de toda
invenção, sob o ponto de vista subjetivo. A originalidade diz respeito ao
conhecimento por parte de uma pessoa de algo que desconhecia, em razão de seu
esforço próprio. Todavia, por mais original que seja a idéia no espírito de uma
pessoa, não terá sido ela a inventora, se o objeto já houver sido antes concebido e
depositado no INPI por outro.
b) Atividade inventiva
O segundo requisito para a concessão de invenção ou modelo de utilidade é a
atividade inventiva, a qual corresponde a um verdadeiro engenho do criador, que
deve partir de um ato intelectual inventivo assaz arguto. A invenção não pode
decorrer do estado da técnica de um modo óbvio, para um especialista.
A inventividade é preceito básico do direito industrial em diversos países e
deriva do direito norte-americano (non-obviousness). Essa capacidade deve ser
analisada sob um prisma objetivo, ou seja, exaure-se na comparação entre, de um
lado, a descrição submetida à análise e, de outro, o estado da técnica e suas
decorrências óbvias. Nenhuma patente poderá ser negada em função de critérios
subjetivos, isto é, das qualidades apresentadas pela pessoa do inventor.
O resultado obtido a partir da atividade inventiva é critério preponderante na
verificação do non-obviousness, pois exames analisam os frutos proporcionados, em
termos econômicos, à empresa e aos consumidores.
c) Industriabilidade
O terceiro requisito é a possibilidade de utilização ou produção do invento, por
qualquer tipo de indústria (LPI, art. 15). Relaciona-se a atividade produtiva, ou seja,
não se restringe a mera transformação de matéria-prima em mercadorias (noção
estrita de atividade industrial), mas também à agricultura, pecuária, construção civil,
prestação de serviços, etc.
Em verdade, a intenção do legislador ao requerer aplicação prática da
invenção foi afastar a possibilidade de concessão de patentes a invenções que
ainda não podem ser fabricadas, seja porque muito avançadas, ou muito inúteis.
O que está em questão não é a impossibilidade de produção em larga escala,
e sim o impedimento relacionado à inexistência dos conhecimentos técnicos
indispensáveis à fabricação do invento.
Criações sem qualquer utilidade para o homem também não atendem aos
requisitos de patenteabilidade. Por mais curiosa ou intelectualmente instigante que
seja uma invenção, ela não será protegia pelo direito industrial caso não represente
algum proveito para o homem.
d) Desimpedimento
O último requisito para que seja legalmente concedida a patente a alguma
invenção ou modelo de utilidade é o seu não-impedimento. A lei proíbe, por razões
de ordem técnica ou de atendimento ao interesse público, a patenteabilidade de
determinadas invenções ou modelos. Essa restrição é prevista não em atenção a
qualidades intrínsecas do invento, mas sim a valores sociais vigentes, relacionados
a preceitos de ética científica.
O art. 18 da Lei da Propriedade Industrial diz que não são patenteáveis:
I – o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde
públicas;
II – as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie,
bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos
processos de obtenção ou modificação quando resultantes de transformação do
núcleo atômico; e
III – o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que
atendam aos três requisitos de patenteabilidade – novidade, atividade inventiva, e
aplicação industrial – desde que não seja mera descoberta.
O parágrafo único do referido artigo, para evitar confusões conceituais na
aplicação do dispositivo, define os microorganismos transgênicos como aqueles que
“expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma
característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais”.
6.2. Do pedido de patente
O criador de determinado invento ou modelo de utilidade que deseja ter
direitos exclusivos sobre sua obra, deve requerer pedido de patente junto ao Instituto
Nacional da Propriedade Industrial, o INPI.
O direito industrial brasileiro adota um sistema misto na tramitação dos
pedidos de exclusividade sobre determinada coisa. Enquanto o registro de desenho
industrial se submete ao sistema de livre-concessão, o registro de patentes e marcas
fica sujeito ao regime do exame prévio. Este consiste na observância de todos os
requisitos fundamentais para a concessão, antes de ser esta deferida. O ato
administrativo é sempre constitutivo de direito industrial, e pode ser posteriormente
discutido judicialmente por interessados se houve regularidade na concessão ou não
por parte da autoridade administrativa.
O processo administrativo no INPI segue tramitação que compreende quatro
fases: depósito, publicação, exame e decisão.
O depósito diz respeito ao protocolo do pedido, mas gera uma série de efeitos
complexos. Ele assinala a anterioridade do pedido, impedindo que outro patenteie
posteriormente objeto idêntico e também dá início á contagem de importantes
prazos, inclusive o da duração da patente.
Segundo o art. 19 da LPI, o pedido deve conter:
I – requerimento;
II – relatório descritivo;
III – reivindicações;
IV – desenhos, se for o caso;
V – resumo; e
VI – comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito.
Já a publicação é o ato que dá aos interessados a notícia da existência do
pedido de concessão de direito industrial. É fato indispensável para a concessão do
direito industrial, pressuposto para a patente. Através dele, todos os profissionais e
estudiosos da área têm conhecimento do invento, o que pode levá-los a fazer
reivindicações, para defender seus interesses.
A obrigatoriedade da publicação é a causa principal da preferência de
empresários em manter em segredo de empresa os avanços tecnológicos que sua
empresa venha a alcançar. Uma vez tornada pública o depósito de patente, qualquer
pessoa terá acesso a esses avanços e poderá deles se utilizar, o que pode vir a
causar prejuízos no mercado para o empresário criador. Caberá ao titular do
depósito da patente – e só a ele – zelar para que terceiros não se utilizem
indevidamente de sua criação industrial. O segredo de empresa, desta forma, torna-
se vantajoso em muitos casos, e sua usurpação gera responsabilidade civil e penal,
em observância á disciplina jurídica da concorrência.
Depois de depositado, o pedido de patente será mantido em segredo, no
INPI, pelo prazo de 18 meses, a contar do depósito (LPI, art. 30). No vencimento do
prazo, será feita a publicação, salvo no caso de patente de interesse da defesa
nacional, que tramita totalmente em sigilo (LPI, art. 75) O requerente pode também,
se for do seu interesse, solicitar a antecipação da publicação, já que este prazo de
sigilo é direito disponível do criador, e não obrigação.
A fase do exame é a terceira no processo de tramitação do pedido no INPI, e
consiste esta na análise das condições de patenteabilidade, em atenção ao regime
de exame prévio para a concessão de patentes no Brasil.
Além do inventor-depositante, qualquer pessoa pode apresentar ao INPI o
pedido de exame, nos 36 meses subseqüentes à data do depósito. Vale dizer,
qualquer interessado pode apresentar à autarquia os elementos que possuírem, seja
para demonstrar eventual desatendimento aos pressupostos fundamentais (por
exemplo, no caso de o pedido colidir com outra patente, anteriormente depositada
ou concedida), seja para contribuir com a outorga do direito industrial (no caso de
um outro empresário interessado na futura exploração da invenção, mediante
licença).
Se deferido o pedido, ao requerente é expedida a carta-patente, único
documento comprobatório da existência do direito industrial sobre a invenção ou
modelo de utilidade, que garante exclusividade em sua exploração e poder de
exigência de sanção a quem transigi-lo.
6.3. Dos direitos sobre a patente e das licenças
A patente, uma vez concedida, confere direitos de propriedade ao seu titular.
Assim, a extensão da proteção conferida pela patente será determinada pelo teor
das reivindicações, interpretado com base no relatório descritivo e nos desenhos.
Diz o artigo 42 da LPI que a patente confere a seu titular o direito de impedir
que terceiro, sem o seu consentimento, possa produzir, usar, colocar à venda ou
importar com estes propósitos:
I – produto objeto da patente;
II – processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado.
Ao titular da patente é assegurado ainda o direito de impedir que terceiros
contribuam para que outros pratiquem os atos mencionados no artigo 42. Diz o § 2ª
do referido artigo que “ocorrerá violação de direito da patente de processo, a que se
refere o inciso II, quando o possuidor ou proprietário não comprovar, mediante
determinação judicial específica, que o seu produto foi obtido por processo de
fabricação diverso daquele protegido pela patente”.
O art. 43 enumera exceções a esse direito exclusivo, quando o uso da
patente não tiver finalidade econômica, ou quando já vinha sendo utilizado
anteriormente por alguma atividade econômica organizada. Avulta nesse caso o
princípio da conservação da empresa, plenamente compatibilizável com a proteção
liberada em favor das criações industriais.
Este direito pode ser também cedido ou licenciado, também através do INPI,
como prescreve a lei. A cessão do direito industrial é o contrato de transferência da
propriedade industrial, que pode ser total ou parcial. Sua disciplina jurídica é
amparada nas normas atinentes à cessão de direitos do Código Civil brasileiro.
Já a outorga de licença de uso é a forma indireta de exploração do direito
industrial, concedida pelo titular da patente.
Por meio dessa licença, que deve ser averbada no INPI, o titular autoriza
terceiro a utilizar seu invento ou modelo de utilidade, sem deixar de deter a
propriedade industrial.
Normalmente, a licença é ato voluntário, um acordo entre o licenciador e o
licenciado. No entanto, há casos em que a lei obriga o titular da patente a licenciar o
seu uso em favor de terceiros. São os seguintes: a) exercício abusivo do direito,
como, por exemplo, a cobrança de preços excessivos; b) abuso do poder
econômico, em que a patente é usada para domínio de mercado; c) falta de
exploração integral do invento ou modelo no Brasil, quando viável economicamente
a exploração; d) comercialização insatisfatória para atendimento das necessidades
do mercado; e) dependência de uma patente em relação a outra, se demonstrada a
superioridade da patente dependente, e a intransigência do titular da dependida em
negociar a licença; f) emergência nacional ou interesse público, declarado por ato do
Poder Executivo Federal.
O interessado pode requerer ao INPI a licença compulsória depois de 3 anos
de concedida a patente a seu titular, ficando a cargo daquele o ônus de provar
alguma das situações acima citadas que justificam o pedido de licença. Mesmo
outorgada pelo INPI, esta licença é remunerada, ficando obrigado o licenciado a
utilizar seu direito em até um ano, sob pena de cassação dessa caso não o faça.
6.4. Da nulidade, da extinção e da restauração da patente
Embora não caiba recurso da concessão de patente ou registro, a lei prevê a
sua nulidade, por via administrativa ou judicial, quando não houver sido concedida
em observância às exigências legais.
A nulidade administrativa pode dar-se no prazo de seis meses da concessão
da patente ou registro. Quanto à nulidade judicial, a ação que tiver por objeto a
concessão de patente pode ser proposta a todo tempo da vigência desta, enquanto
a que objetivar a nulidade do registro será ajuizada no prazo de cinco anos,
contados da concessão deste.
A iniciativa da ação, em qualquer caso, cabe ao INPI ou a qualquer pessoa
com legítimo interesse, podendo o juiz determinar a suspensão dos efeitos da
patente ou registro.
O direito industrial, embora não nulo, pode ser extinto, por diversas razões. A
patente de invenção dura 20 anos, contados da data do depósito, ou 10 da
concessão, o que ocorrer por último, enquanto modelo de utilidade dura 15 anos, a
partir do depósito, ou 7, após a concessão, também o que ocorrer por último. Estes
prazos são improrrogáveis e extinguem a patente ao seu término.
A caducidade do direito é fator extintivo decorrente do abuso ou desuso no
exercício do direito industrial. Assim, se o titular explora sua patente de modo
inadequado, ou não a explora no prazo de 3 anos, qualquer interessado poder
requerer a licença compulsória. Decorridos mais dois anos, se as irregularidades
praticadas pelo titular da patente persistirem, será ela declarada extinta,
resguardado o direito de defesa.
Outras hipóteses de extinção da patente são a renúncia ao direito – ato
unilateral do titular – ou a falta de representante legal no Brasil, quando domiciliado
ou sediado no exterior o titular da patente ou do registro (LPI, art. 217).
Extinto, por qualquer motivo, o direito industrial, o respectivo objeto cai em
domínio público.
Depois de extinta a patente, admite ainda a lei a possibilidade de sua
restauração. O titular pode requerer seu direito novamente, em até 3 meses,
contados do recebimento da notificação do arquivamento do pedido ou da extinção
da patente, mediante o pagamento da retribuição específica.
7. Do registro de marcas Define-se a marca como todo sinal distintivo, determinado e reproduzível,
usado com certa constância pelas empresas em relação a certos produtos concretos
ou serviços oferecidos ao mercado, para individualizar-lhes e tornar possível sua
seleção com base em uma motivação qualquer, como dispõem os arts. 122 e 123 da
Lei da Propriedade Industrial.
A marca juridicamente considerada não exerce outra função que a de
individualizar em um ou outro aspecto produtos ou serviços, porém, podendo afetar
essa individualização ou singularização a diferentes fatores, sem assegurar a
persistência destes, pelo que, na realidade, a presença de uma marca em alguns
produtos ou serviços somente significa que todos eles têm algo em comum que pode
ser tanto uma fabricação única, uma distribuição uniforme, uma qualidade
controlada, uma matéria prima coincidente, uma determinada característica física,
um idêntico estímulo publicitário, etc.
O artigo 123 distingue as marcas em três tipos; a) marca de produto ou
serviço, como sendo a usada para os individuar, distinguindo-os de outros idênticos,
semelhantes ou afins, de origem diversa; b) marca de certificação, como a que
atesta a conformidade de produto ou serviço a normas ou especificações técnicas; c)
marca coletiva, como a que informa ser o produto ou serviço fornecido por
empresário filiado a certa entidade.
7.1. Requisitos da registrabilidade de marca
O registro de marca está sujeito a três condições: a) novidade relativa; b) não-
colidência com marca notória; c) desimpedimento.
a) Novidade relativa
A marca não precisa representar uma novidade absoluta, ou seja, não precisa
ser criada pelo empresário. O que deve ser nova é a utilização daquele signo na
identificação de produtos industrializados ou comercializados, ou de serviços
prestados. Por esta razão, inclusive, a marca é protegida, em princípio, apenas no
segmento de atividade econômica explorada pelo titular da marca, em relação aos
produtos ou serviços com os quais o identificado por ela pode eventualmente ser
confundido pelos consumidores. Este princípio da especifidade da marca de acordo
com sua classe encontra uma única exceção nas marcas de alto renome, passíveis
de proteção extensiva a todos os ramos de atividade (LPI, art. 125).
O titular de marca, registrada em uma ou mais classes, pode requerer ao INPI
que lhe atribua a qualidade de “alto renome”. Se deferido o pedido, terá esta marca
proteção absoluta, ficando impedida a sua utilização por qualquer outro empresário,
mesmo os dedicados a atividade econômica diversa.
b) Não-colidência com marca notória
O segundo requisito para o registro de marca é a não colidência com marca
notória, que não depende de registro no INPI. Assim, se alguém pretender apropriar-
se de marca que evidentemente não lhe pertence, o seu pedido poderá ser
indeferido pelo INPI, mesmo que não exista registro anterior da marca no Brasil.
O art. 6º bis da Convenção da União de Paris diz: “os países da União
comprometem-se a recusar ou invalidar o registro, quer administrativamente, se a lei
do país o permitir, quer a pedido do interessado, e a proibir o uso de marca de
fábrica ou de comércio que constitua reprodução, imitação ou tradução, suscetíveis
de estabelecer confusão, de uma marca que a autoridade competente do país do
registro ou do uso considere que nele é notoriamente conhecida como sendo já
marca de uma pessoa amparada pela presente Convenção e utilizada para produtos
idênticos ou similares. O mesmo sucederá quando a parte essencial da marca
constitui reprodução de marca notoriamente conhecida ou imitação suscetível de
estabelecer confusão com esta”.
c) Desimpedimento
A lei impede – como o faz em relação às patentes – o registro, como marca,
de determinados signos. Por exemplo, as armas oficiais do Estado, ou o nome civil,
salvo autorização pelo seu titular, etc. Para ser registrado como marca, não pode o
signo correspondente enquadrar-se nos impedimentos legais.
Cumpre anotar que o impedimento legal obsta o registro do signo como
marca, mas não a sua utilização na identificação de produtos ou serviços. O
impedimento diz respeito apenas à proibição do exercício de direito de exclusividade
sobre a marca.
7.2. Do pedido de registro de marca
Quando efetuado o pedido de registro de marca junto ao INPI, observa-se se
este está convenientemente instruído, para então ser efetuado o depósito (LPI, art.
155). Se a instrução estiver incompleta, é lícita a emissão de um recibo por parte do
órgão que garante o depósito, desde que o pedido seja retificado no prazo de até 5
dias.
Em seguida ao depósito, é feita a publicação da marca, podendo qualquer
interessado, nos 60 dias seguintes, apresentar oposição. Se não houver nenhum
fato impeditivo, o INPI, analisa as condições de registrabilidade e decide se concede
ou nega o registro da marca.
Ressalva-se aqui a prioridade a pedidos de países unionistas no Brasil, que
tem direito de registrar a sua marca em até 6 meses depois do primeiro pedido.
7.3. Da exploração da marca
A marca confere ao seu titular, no que se refere ao sinal depositado, um
direito de natureza real, oponível a todos, sobre todo o território nacional. Ou seja,
pode ele se opor que um terceiro, sem o seu consentimento, faça uso da marca, já
que foi ao titular concedido direito exclusivo sobre ela.
A proteção legal abrange o uso da marca em papéis, impressos, propaganda
e documentos relativos à atividade do titular, e o seu uso não autorizado caracteriza
a contrafação, responsabilizando-se o infrator penal e civilmente pela ilicitude.
Cumpre fazer uma ressalva quanto à simples reprodução de uma marca em obra
artística: por não ter conotação econômica e social, este uso do sinal exclusivo não
enseja punição.
Ademais, pode o titular da marca licenciá-la, permitindo o uso por terceiros,
mediante remuneração ou a título gratuito. Este contrato de licença é limitado no
tempo e pode ser limitado no território, o que o diferencia do contrato de cessão de
marcas.
O titular da marca, salvo estipulação em contrário, continua tendo o direito de
explorá-la pessoalmente. Em se tratando, no entanto, de licença exclusiva, o
licenciante só pode continuar a explorar sua marca se houver cláusula expressa
nesse sentido.
Além de gerar obrigações ao licenciante, o contrato também impõe deveres
ao licenciado, como o de explorar a marca. O inadimplemento dessa obrigação pode
gerar prejuízos ao titular, e o contrato pode ser resilido.
7.4. Da nulidade e da extinção da marca
É nulo o registro quando estiver em desacordo com as disposições previstas
pela lei para a registrabilidade de marca. Nos processos de nulidade tem intervenção
o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, que tomará decisões apenas pró ou
contra o demandado, analisado tão-somente a validade do registro impugnado. O
direito de demandar a nulidade preclui em cinco anos.
Pode ser também extinta a marca pelas seguintes razões:
I – expiração do prazo de vigência de 10 anos, quando não houver sido renovado;
II – renúncia em relação aos produtos ou serviços assinados pela marca, quando
deixar de haver correlação entre ela e seu objeto, deixando assim de ter finalidade.
III – caducidade por falta de pagamento das retribuições, extinção da personalidade
do titular da marca, vontade do interessado, falta de uso da marca durante período
superior a cinco anos consecutivos (salvo desuso justificado) ou ausência de
procurador domiciliado no Brasil, quando for o titular domiciliado no exterior.
8. Do registro de desenhos industriais O desenho industrial é definido na lei como “a forma plástica de um objeto ou
o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que
possa servir de tipo de fabricação industrial” (LPI, art. 95). Pode-se dizer que tem
como característica a futilidade, já que não deixa o objeto mais útil, apenas o reveste
de um aspecto diferente.
A diferença do desenho industrial para a obra de arte – haja vista que ambos
tem um caráter fútil – reside no fato de que esta é meramente artística, sem qualquer
função prática, enquanto aquele, apesar de não aumentar a utilidade do objeto, pode
ter uma função industrial.
8.1. Requisitos da registrabilidade de desenhos industriais
a) Novidade
Assim como se dá com a invenção e o modelo de utilidade, é considerado
novo o desenho industrial quando não compreendido no estado da técnica. A forma
criada pelo desenhista deve, para merecer a proteção do direito industrial, propiciar
um resultado visual inédito, desconhecido dos técnicos do setor.
b) Originalidade
Deve ter o desenho uma configuração própria, diferente de outros objetos, ou
combinada de maneira original com outros elementos já conhecidos. Enquanto a
novidade é uma questão técnica, a originalidade é estética.
c) Desimpedimento
Assim como no caso das marcas e patentes, a lei restringe algumas
circunstâncias em que não pode ser concebido o direito sobre desenho industrial.
Não pode ser registrado o desenho que: a) tem natureza puramente artística; b)
ofende a moral e os bons costumes, a honra ou imagem de pessoas, ou atente
contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso, ou contra idéias ou
sentimentos dignos de respeito e veneração; c) apresenta forma necessária, comum,
vulgar ou determinada essencialmente por considerações técnicas e funcionais.
8.2. Do pedido de registrabilidade de desenho industrial
O pedido de registro de desenho industrial, como já falado acima, tem a sua
tramitação disciplinada pelo regime de livre concessão, ou seja, independe de
verificação pelo INPI da sua novidade e originalidade. A autarquia checa apenas as
razões de impedimento e, na falta delas, concede o depósito, que será seguido
imediatamente da publicação do feito, com a concomitante expedição do certificado.
Se, em momento posterior, for demonstrado o desatendimento dos requisitos
da registrabilidade, o INPI instaura de ofício o processo de nulidade do registro
concedido.
8.3. Dos direitos sobre o desenho industrial
O registro, uma vez obtido, vigorará pelo prazo de 10 anos a partir do
depósito, prorrogável por mais três períodos sucessivos de cinco anos cada.
O principal benefício no plano da proteção é a segurança de quem explorava
o objeto ou registro antes do depósito ou da prioridade do pedido, de continuar essa
atividade, sem ônus e na forma e condições anteriores.
Salvo esse caso específico, fica resguardado o direito de exclusividade ao
titular do registro, cabendo ação civil e penal contra quem lesá-lo.
8.4. Da nulidade e da extinção do registro industrial
O registro de desenho industrial será declarado nulo se infringir o disposto
nos arts. 94 a 98 da LPI, ou seja, se não obedecer aos requisitos da existência do
direito industrial.
A ação de nulidade, no caso de tratar-se de registro de desenhos industriais,
é exatamente análoga aos procedimentos que habilitam tal desiderato em relação às
invenções e modelos de utilidade. Há, porém, prazo decadencial de cinco anos
contados da concessão do registro para intentá-la, sob pena de preclusão.
Já a extinção do direito industrial sobre o desenho pode se dar de quatro
maneiras, enumeradas no art. 119 da Lei de Propriedade Industrial:
a) expiração do prazo de vigência. Como se viu, este prazo é de 10 anos
contado da data do depósito, e é renovável por três períodos sucessivos de cinco
anos cada. Decorrido esse tempo, extingue-se o direito e o desenho industrial pode
ser explorado livremente por qualquer um;
b) renúncia pelo titular do registro, quando não houver mais interesse, desde
que não prejudique direito de terceiros;
c) falta de pagamento das taxas anuais;
d) não constituição e manutenção do procurador devidamente qualificado e
domiciliado no Brasil pelo depositante domiciliado no exterior.
9. Das indicações geográficas
Indicação geográfica corresponde à associação de um determinado local a
determinado produto, devido a características de qualidade e de originalidade
devidas ao meio geográfico natural e ao meio humano.
O termo constitui gênero do qual são espécies a indicação de procedência e a
denominação de origem.
Indicação de procedência é o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como o centro de
extração, produção ou fabricação de determinado produto ou prestação de
determinado serviço.
Já a denominação de origem é o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que distingue o produto ou serviço, cujas qualidades ou
características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos
fatores naturais e humanos.
Segundo prescreve o art. 182 da LPI, o uso da indicação geográfica é restrito
aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda,
em relação às denominações de origem, o atendimento de requisitos de qualidade.
A proteção estender-se-á à representação gráfica figurativa da indicação
geográfica, bem como ao seu nome, desde que este não tenha se tornado de uso
comum para designar produto ou serviço. Se não for indicação geográfica, o nome
poderá servir de elemento característico de marca para produto ou serviço, salvo
caso de induzimento à falsa procedência.
10. Dos crimes contra a propriedade industrial e a concorrência desleal A Lei de Propriedade Industrial tem capítulo específico referente às infrações
penais decorrentes do uso indevido de direito industrial alheio, em que tipifica
diversos delitos contra as patentes, contra os desenhos industriais, contra as
marcas, contra as indicações geográficas e demais indicações.
No entanto, estas normas penais - caracterizadas principalmente pela
repreensão à fabricação, exportação, importação ou fornecimento ilegal de produtos
protegidos pelo direito industrial – elaboradas com o intuito de esgotar as
possibilidades delituais, acabaram tornando-se eivadas de prolixidade e inócuas, o
que leva a pensar que a subsunção perfeita de um fato a alguma regra ali
estabelecida constitui verdadeira utopia no cenário mercantil brasileiro.
Além dos crimes contra a propriedade industrial, a LPI também trata, em seu
art. 195, do crime de concorrência desleal. A livre concorrência é princípio básico
das relações comerciais no mundo todo há tempos, mas se apercebeu o Direito de
que essa liberdade irrestrita poderia resultar em abusos e danos à sociedade.
A livre concorrência, como toda liberdade, não é absoluta, e encontra barreira
nos preceitos que guarnecem e protegem os outros comerciantes. A LPI procurou
proteger esses direitos, e enumerou no referido artigo 195 diversas situações em
que os limites da concorrência seriam excedidos, o que a tornaria desleal.
11. Conclusão Procurou-se nessas linhas acima redigidas delinear a propriedade industrial
no direito brasileiro, partindo-se de seus preceitos históricos, passando pela sua
proteção no âmbito internacional, até chegar à disciplina jurídica pátria sobre o tema,
consagrada na Lei n. 9.279/1996, a nova Lei da Propriedade Industrial.
A criatividade é inerente ao homem, que, quando dela conseguiu auferir
lucros e proveitos próprios, percebeu também a urgente necessidade de estabelecer
formas de proteção à obra de cada um, evitando que outros parasitassem idéias
alheias e assim pudessem causar danos a quem deveria obter apenas benefícios
em razão de sua criação.
O direito industrial evoluiu no sentido de satisfazer essa necessidade social e
proteger as invenções, modelos de utilidade, desenhos industriais e as marcas
criadas pelos indivíduos, que passaram a ter segurança jurídica e confiança do não-
prejuízo em suas relações comerciais, no que tange à propriedade industrial.
O Brasil tem se preocupado com a matéria desde tempos remotos e ainda
hoje o faz, como reflete a nova Lei da Propriedade Industrial. A concessão de
marcas e patentes é fundamental para o sucesso das operações mercantis, cada
vez mais evoluídas em um cenário onde a forte concorrência tem marcado presença
marcante.
Apesar de imperfeito e ainda lacunoso, o diploma legal sobre a propriedade
industrial tem função importantíssima, regulando matéria há muito controvertida na
seara jurídica da proteção a bens empresariais incorpóreos. Esta lei, associada a
outras que vêm surgindo, como a que trata da franquia de marcas, aprimoram o
direito brasileiro, que continua em busca constante do melhor atendimento possível
às necessidades da sociedade, conforme sua evolução no tempo.
12. Bibliografia COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial, v.1. 2 ed. São Paulo: Saraiva,
1999.
COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de direito comercial. 19 ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
COMPARATO, Fábio Konder. Direito empresarial: estudos e pareceres. São Paulo:
Saraiva, 1997.
LOUREIRO, Luiz Guilherme de A. V. A lei de propriedade industrial comentada. São
Paulo: LEJUS, 1999.
MUJALLI, Walter Brasil. A propriedade industrial. Nova lei de patentes. São Paulo:
Editora de Direito, 1997.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1998.
STRENGER, Irineu. Marcas e patentes: análise sucinta da Lei n. 9.279, de 14 de
maio de 1996. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996.