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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Psicomotricidade Aquática para 3ª Idade.
OBJETIVOS:
Servir como Base de Orientação de Ações, servindo
de base de estudo para profissionais de educação
física e outras áreas que desejem trabalhar com a 3ª
idade, valorizando o idoso como um todo.
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AGRADECIMENTOS A minha família que sempre esteve ao meu lado nos
momentos de angústia ou felicidade. Aos amigos da
equipe de natação da academia Activa,
principalmente a tão querida amiga Michele
Fernandes que me acompanhou desde o início de
nossa vida acadêmica.
Agradeço a Deus que me deu a capacidade de chegar
onde cheguei.
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DEDICATÓRIA
Dedico este livro as grandes mulheres da minha
vida: Mãe, Avó, Irmã e Tia que sempre acreditaram
no meu potencial, dando crédito e apoiando todos os
passos de minha vida.
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RESUMO
O presente trabalho, que abordará a psicomotricidade aquática para 3ª idade, tem
como principal objetivo fazer uma pesquisa bibliográfica sobre: psicomotricidade,
psicomotricidade aplicada no meio líquido e terceira idade, tornando-se assim, referência
de estudo para profissionais que se interessem pelo assunto e queiram aprofundar seus
conhecimentos e aplicá-los no seu cotidiano.
O problema é transferir a psicomotricidade e seus conceitos para o meio líquido e
aplicá-los a alunos com uma idade acima de 60 anos, trazendo-lhes resultados positivos
para seus campos psíquicos, cognitivos e motores, considerando-os como um ser único e
completo.
O idoso hoje em dia, tem vivido a margem da sociedade sendo desprezado e
esquecido pelas gerações mais jovens e por toda sociedade. A sociedade individualista,
capitalista e competitiva que está sendo criada, esquecem-se das gerações mais antigas e
que eles tem muito o que ensinar e também o que aprender. Nos últimos anos a população
mais velha tem aumentado muito, devido à evolução da tecnologia e da medicina avançada,
além de outros fatores, tudo isso levou a um aumento da perspectiva de vida.
Será que esse indivíduo tem seu lugar nesta sociedade? Uma sociedade que valoriza
os mais novos e não os mais experientes, onde o mercado de trabalho exclui profissionais
com mais de 40 anos e trata seus idosos praticamente como se eles não existissem ou
simplesmente não “servissem” mais para nada. A sociedade e todos os seus profissionais
tem que ter consciência de que a população idosa no Brasil cresce a cada dia e que sua
qualidade de vida está extremamente ligada a sua integração social, pois os idosos precisam
se sentir ativos (participativos), para se sentirem vivos.
O trabalho com a psicomotricidade aquática voltada para a terceira idade tem como
intuito, devolver sua auto-estima, sua vivacidade e alegria de viver, além de proporcionar
alguns ganhos físicos e motores por se tratar de uma atividade física. Tudo isso tem como
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maior objetivo devolver esse individuo a sociedade, com condições e maiores
possibilidades de exercerem e reivindicarem seu papel de experientes, e não inúteis ou
aniquilados.
Então a psicomotricidade aquática vem trabalhar com novas conquistas e
perspectivas diferentes, para indivíduos que possam achar que sua fase de aprendizagem
passou, o que não é verdade, pois podemos estar aprendendo e melhorando a cada instante
da nossa vida. Com todas essas questões de conquista e aprendizagem trabalhamos no
idoso além dos benefícios da atividade física, o resgate da sua auto estima, auto confiança
entre outros, envolvendo também toda a parte psíquica, afetiva e social do ser humano.
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METODOLOGIA
A metodologia está apoiada em pesquisa bibliográfica dos principais autores da área
da Psicomotricidade, da Natação e do Envelhecimento. Estão entre estes autores: Wallon,
Piaget, Vygotsky, Jocian Machado Bueno, Gislene Oliveira, Nieman, McARDLE,
KATCH & KATCH, entre outros.
Além desta pesquisa bibliográfica o trabalho também está pautado na observação da
prática profissional de adaptação ao meio líquido, junto ao projeto Água, Lazer e
Movimento que acontece na Academia Activa. Esse projeto tem como objetivo trazer
novas vivências a pessoas que tenham sofrido trauma na água, ou que por algum motivo
tenham medo do meio líquido, então envolve o motor, o psíquico e o afetivo
(psicomotricidade) do indivíduo nos fazendo trabalhar exatamente com a psicomotricidade
para tentar mostrar que nunca é tarde para vencer medos, traumas ou até mesmo aprender a
aprender
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I PSICOMOTRICIDADE: Conceitos Funcionais e Percepções. CAPÍTULO II ATIVIDADE FÍSICA E ENVELHECIMENTO CAPÍTULO III PSICOMOTRICIDADE AQUÁTICA PARA 3ª IDADE CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ÍNDICE
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INTRODUÇÃO
Desde a antigüidade o homem difunde o corpo e a alma, reservando o corpo para o
mundo “real” e a alma para a divindade.
“Filósofos como Platão fazem apenas do corpo o lugar de transição da existência no
mundo de uma alma imortal”. (Coste, J. C., 1992, p.10)
Descartes acreditava no dualismo entre corpo e alma:
“eu sou uma coisa que pensa, uma coisa da qual toda a
essência decorre de pensar; entretanto, eu possuo um corpo ao qual
estou estritamente vinculado, mas que é somente uma coisa extensa
e que não pensa. Por conseguinte, parece certo que a minha alma
(ou seja, eu) é inteiramente distinta do meu corpo mas não pode
existir sem ele”. (Coste, J. C., 1992, p.11)
Maine de Biran foi o primeiro a descobrir que é na ação do corpo que o eu adquire
consciência de si e do mundo. A partir daí percebe-se que o corpo e a alma são um só, pois
a inteligência é essencialmente prática. “O cérebro imprime ao corpo esses movimentos e
as atitudes que desempenham o que o espírito pensa”. ( Bergson citado por Bueno, J. M.,
1998, p.21).
“ ... a psicomotricidade empenha-se em superar essa
oposição : o homem é o seu corpo – mostra-nos ela - e não o
homem e o seu corpo. O homem é antes de tudo, um ser falante e,
ao denominar-se ele fala de seu corpo: eis o que o caracteriza. Em
contrapartida, seu corpo fala por ele, até mesmo a sua revelia.”
(Coste, J. C., 1992, p.9)
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Hoje a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, define a mesma como: “uma
ciência que tem por objetivo o estudo do homem por meio do seu corpo em movimento, nas
relações com seu mundo interno e externo.” (Bueno, J. M., 1998,p.19)
O objetivo do presente trabalho é explorar a importância da atividade física
psicomotora na terceira idade, aliada ao meio líquido que tem como artifícios proporcionar
sensações agradáveis, e ainda assim, trazer grandes conquistas tanto motoras, quanto
cognitivas e afetivas para a terceira idade. Segundo Ajuriagerra (citado por Velasco, 1994),
“o corpo não á apenas um instrumento de ação e de construção, mas também, o meio
concreto e último de comunicação social, daí a sua relevância em qualquer processo de
aprendizagem.”
Segundo Bueno (1998), “a água é o maior brinquedo existente na terra” e para
Lewin (citado por Bueno, J. M., 1998, p.119) a natação é “um desporto que constitui uma
fonte de recreação, de alegria de viver e de saúde, para pessoas de todas as idades”. Nela,
há a relação do corpo com o outro, com o objeto e com o próprio corpo, em que as pessoas
de todas as idades são estimuladas para se desenvolverem, de forma lúdica, conhecendo-se
e aceitando-se, ajustando sua conduta às exigências do meio social.
“Permanecer ou estar na água é, sobre o ponto de vista
sensorial e psicomotor, amplamente diferente do que estar situado
ou posicionado em terra, daí a especificidade da reaprendizagem
postural e motora.” (Velasco, 1994, p.45)
O meio aquático, será o meio de ação e de troca de experiências para que o
indivíduo se encontre saudável, seguro e confiante de dominar uma habilidade,
transformando-se e melhorando sua conduta às exigências do meio social. Tudo isso nos
faz pensar a natação como uma atividade aquática psicomotora, que trará melhorias
motoras, cognitivas, afetivo-sociais para os idosos de forma lúdica e prazerosa. Como
comenta ARAÚJO JR. (1993), citado por Bueno: “nadar é o abraçar na água e ser
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envolvido por ela sem ressentimentos, mas com prazer. É o sentir a água e entende-la
amiga”.
A Psicomotricidade tem seus conceitos suas funções, tudo envolvendo corpo e
mente. As percepções corporais também passam do âmbito corporal para o pensamento e
ação.
A atividade física vem mostrar que nunca é tarde para desenvolver suas capacidades
físicas e melhorar o estilo de vida do indivíduo, independente dele ser jovem ou idoso. O
exercício é um preventivo de doenças tanto corporais, quanto mentais.
A psicomotricidade utilizada num trabalho de atividade física dentro da água só
vem enriquecer um trabalho que tem como objetivo não o condicionamento físico, mas a
retomada de uma vida que possa estar em ócio, tanto mental como corporal.
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CAPÍTULO I
Psicomotricidade: Conceitos Funcionais e Percepções
“Somos um ser que sente, pensa e age” Jocian Machado Bueno (1998)
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CAPÍTULO I
PSICOMOTRICIDADE: Conceitos Funcionais e Percepções.
Corpo e mente, movimento e pensamento, ação e emoção, tudo isso se refere a uma
só coisa, a um ser único e indivisível que sente, pensa e age. Indivíduos que sentem o
mundo com o corpo e interagem com o mesmo a partir do movimento, e que a partir daí se
constroem e definem sua forma de agir e de pensar, sua personalidade.
Aristóteles já afirmava que o homem era constituído de corpo e alma. Merleau-
Ponty (citado por OLIVEIRA, 2001,p.), ultrapassava a divisão dualista corpo e mente e
afirmava que o homem é o seu corpo, “é na ação que a espacialidade do corpo se completa
e a análise do movimento próprio deve permitir-nos compreendê-la melhor”.
Piaget, um dos grandes estudiosos das estruturas cognitivas sempre ressaltou a
importância do período sensório-motor (sentidos e movimento) e da motricidade no
desenvolvimento da inteligência. Ele diz que um indivíduo está sempre tentando se
“equilibrar”, ou seja, frente aos desafios do mundo exterior tenta sempre se adaptar, se
“reequilibrar”, e essa adaptação vem inicialmente através de suas interações e manipulações
com objetos do meio exterior, modificando seus reflexos primários, desenvolvendo assim,
sua inteligência.
Wallon, um dos pioneiros no estudo da psicomotricidade, ressalta a importância do
afetivo, antes de qualquer outro tipo de comportamento. Para ele, a evolução tônica e
corporal, chamada de diálogo corporal, é fundamental, pois mostra a importância da ação
(do motor), na estruturação cortical e está na base da representação.
Os movimentos são o escape das emoções vividas. Wallon diz sobre pensamento e
movimento: “Movimento (ação), pensamento e linguagem são uma unidade inseparável.
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O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato.”(citado por
OLIVEIRA, Gislene, 2001).
Muitos outros autores e estudiosos têm sua colaboração para psicomotricidade
(Vayer, Vitor da Fonseca, Le Boulch, Lapierre), mas o que todos dizem em comum, é que o
movimento é o suporte primário para que a criança conheça o mundo que a rodeia, através
do seu corpo, percepções e sentidos.
“a educação psicomotora pode ser vista como preventiva,
na medida em que dá condições à criança de se desenvolver melhor
em seu ambiente. É vista também como reeducativa quando trata
de indivíduos que apresentam desde o mais leve retardo motor até
problemas mais sérios.”(Oliveira, 2001, p.36)
1.1. Conceitos Funcionais ou Áreas Psicomotoras:
Conceitos Funcionais são ações que podem ser avaliadas qualitativamente, tornando
possível detectar distúrbios psicomotores, que prejudiquem a integralização motora do ser
humano num espaço e num tempo enquadrado.
Para começarmos a entender o trabalho psicomotor, devemos saber que: “o corpo,
essa estrutura orgânica neuro-fisiológica pode ser considerada como nosso equipamento
existencial” (Velasco, 1996, p.21). E observando-o com olhos psicomotores é possível
promover um melhor entendimento e conhecimento de si próprio, aprendendo a utilizá-lo
com maior eficácia (tirando maior proveito desse equipamento).
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1.1.1 Coordenação Motora Global ou Dinâmica Global
O conceito coordenação motora global é considerado por muitos autores, como uma
conduta motora de base, e diz respeito às atividades que envolvem os grandes músculos, ou
seja, controle dos movimentos amplos do nosso corpo. Segundo Alves:
“para que essa coordenação ocorra, é necessária uma
perfeita harmonia de grupos musculares colocados em movimento
ou em repouso. Sua função é permitir, da forma mais eficaz e
econômica possível, movimentos que interessam a vários
segmentos corporais, implicados em um gesto ou em uma atitude.”
(citado por Bueno, 1998, p. 51)
A coordenação motora global pode ser estática, que consiste do equilíbrio dos
músculos antagonistas, que conservam atitudes voluntárias, em função do tônus. E também
pode ser dinâmica, ou seja, em movimento envolvendo ações simultâneas de grupos
musculares diferentes. Podemos notar que a coordenação estática está subordinada a um
bom controle postural e para ter um automatismo bem desenvolvido dependemos de uma
adequada coordenação dinâmica.
A maior “experimentação” corporal da criança (grande variedade de vivencias
corporais), levará a mesma a ter movimentos mais econômicos, coordenados e
harmoniosos. Além disso, a criança ainda desenvolve a dissociação de movimentos, que é
a associação de grupamentos musculares diferentes e independentes uns dos outros.
1.1.2. Coordenação Motora Fina (óculo-manual , músculo-facial e
óculo-pedal)
O conceito coordenação motora fina é a habilidade de destreza dos pequenos
músculos, para os movimentos mais refinados como: cortar, modelar, entre outros.
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Esse conceito ainda envolve a coordenação óculo-manual que consiste na
coordenação dos movimentos da mão e da visão, que permite ao indivíduo realizar tarefas
como a escrita e o manuseio de pequenos objetos. Também envolve a coordenação
músculo-facial que são os movimentos refinados da face, que são de fundamental
influência para a aquisição da fala, da mastigação e da deglutição. Bueno (1998, p.54), diz
que “saber falar através do olhar e da expressão revela mais que o simples falar”.
A coordenação óculo–pedal relaciona os movimentos dos pés com a visão. Onde o
indivíduo tenha que olhar para realizar alguma tarefa com os pés.
1.1.3 Equilíbrio (tônus e postura)
Para a realização de qualquer movimento o indivíduo estará o tempo inteiro se
equilibrando e se reequilibrando, tentando encontrar seu centro de gravidade, distribuindo
seu peso em relação a espaço e tempo. Então o equilíbrio é à base da coordenação motora
global. E ele está estritamente ligado com o sistema labiríntico (localizado no ouvido) e
com o sistema plantar.
Para o idoso, em particular, e para a atividade aquática, o equilíbrio é de
fundamental importância, como veremos quando abordarmos esse conceito num esquema
de aula.
Falar sobre equilíbrio requer um conhecimento de postura e tônus muscular.
Alguns autores, como Jocian M. Bueno, colocam esses dois conceitos como conceitos
funcionais psicomotores.
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- Postura
O equilibro postural é de fundamental importância para que o indivíduo seja capaz
de dominar cada postura. E a cada mudança dessa postura, reorganizar seu tônus a fim de
encontrar o equilíbrio adequado. Ou seja, a postura está intimamente ligada ao tônus, pois
para se obter uma nova postura o tônus deve se alterar e se adequar a mesma.
- Tônus
Como foi citado anteriormente o tônus está estreitamente ligado a postura, pois é
com a sua adequação que se chega ao equilíbrio postural. O tônus muscular é a firmeza
presente nos músculos tanto em repouso quanto em movimento. GANONG, citado por
Bueno (1998),diz que “é a resistência de um músculo à distensão.”
Um músculo pode ser hipotônico ou hipertônico. O músculo hipotônico é quando
ocorre um grau de flacidez elevada, ou seja, existe pouca resistência a distensão. E o
músculo hipertônico é exatamente o contrário, o músculo tende a ser mais rígido, ou seja,
com muita resistência a distensão. Qualquer uma das duas anormalidades tende a afetar no
desenvolvimento da aquisição dos movimentos manuais coordenados, ou seja, coordenação
viso-manual, pois o estado de “atenção muscular” é necessário para a harmonia do gesto e
equilíbrio do organismo.
Além de toda essa parte motora que citei, o tônus muscular é constantemente
influenciado pelo comportamento humano, como defende os estudos de alguns autores
como Reich, Lowen e Alexander. Eles dizem que dependendo do estado emocional do
indivíduo (nervosismo, medo, alegria, susto, depressão, hiperatividade física), o músculo
tende a relaxar ou tensionar em demasia. AJURIAGUERRA, citado por Bueno (1998),
afirma que “o tônus que prepara e guia o gesto é simultaneamente a expressão da realização
ou frustração do indivíduo”, isso demonstra que só a vivencia corporal de situações
psicomotoras e relacionais levarão o indivíduo a moldar o seu tônus muscular, oscilando
entre hipertonia, normalidade e hipotonia, moldando-se a cada situação. Então os estados
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emocionais estão intimamente relacionados com o tônus. “É a maleabilidade nas relações
afetivas por meio do diálogo tónico-afetivo (tônus muscular e emoções) estabelecido entre
dois indivíduos que instituirá a verdadeira comunicação.” (Bueno 1998, p.55)
Então a Postura e o Tônus estão intimamente ligados com o equilíbrio, pois o
domínio ou não dos mesmos, implicará no desempenho do equilíbrio (eficiente ou
ineficiente).
Existe o equilíbrio estático, sem movimento, e o equilíbrio dinâmico. O dinâmico
(equilíbrio em movimento) tem estreita ligação com as funções tônico-motoras, pois o
corpo em movimento deve estar a todo o momento se reequilibrando, procurando seu
centro de gravidade, usando –se das contrações compensadoras (um músculo se contraindo
e o outro relaxando) para que se chegue a movimentos e gestos harmoniosos.
1.1.4 Esquema Corporal
“O esquema corporal é um elemento básico indispensável
para a formação da personalidade da criança, sendo seu núcleo
central, pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e
sua maturidade. A consciência do corpo é alcançada pela
percepção do mundo exterior, da mesma forma que a consciência
do mundo exterior acontece por meio do corpo.”(BUENO, 1998,
p.57)
O esquema corporal é abordado por vários autores com diferentes nomenclaturas e
significados interrelacionados: consciência corporal (Bueno, Ajuriaguerra), esquema
corporal (Bueno, Damasceno, Le Boulch), imagem corporal (Bueno) e noção do corpo
(Fonseca).
Para Bueno (1998), a consciência corporal é o conhecimento do corpo, em que o
indivíduo relaciona as ações corporais com uma organização mental consciente, ou seja,
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mentalmente sabe o que pode fazer com cada parte do seu corpo, como por exemplo, sabe
que sua perna é capaz de chutar uma bola. A expressão corporal é única e varia de um
indivíduo para outro, sendo característica do gesto motor.
De acordo com a mesma autora, o esquema corporal é um dos conceitos
psicomotores funcionais estruturais (aliado ao tônus, à postura e à respiração), que estão
entre a estrutura física e o desenvolvimento, sendo fundamentais para o desenvolvimento
das crianças. Esse conceito engloba o conhecimento das partes do corpo e quando bem
integrado implica na percepção e no controle do próprio corpo, num equilíbrio postural
econômico, numa lateralidade bem definida, na independência dos segmentos em relação
ao tronco (dissociação de movimento) e uns em relação aos outros, no controle e equilíbrio
das pulsões ou inibições estreitamente associadas ao esquema corporal e ao controle da
respiração.
Em relação à imagem corporal, esta é a impressão que temos de nós mesmos, ou
seja, se nos sentimos baixos, altos, gordos etc. Segundo Bueno, esse conceito corresponde à
intuição que a criança tem de seu corpo em relação ao espaço dos objetos e das pessoas
durante a ação psicomotora. Assim, a cada experiência de nosso corpo com o objeto ou
com o outro no espaço a criança renova sua imagem corporal.
Segundo Damasceno (1997), o indivíduo toma consciência de si mesmo, de seus
segmentos corporais e de sua projeção no espaço desde bebê, ao exercitar os órgãos dos
sentidos e as sensações proprioceptivas que surgem dos seus movimentos espontâneos e
naturais alcançando, mais tarde, a elaboração mental do gesto a ser realizado na execução
de uma ação. Posteriormente, o esquema corporal dará condição para a execução do ato
motor voluntário.
O esquema corporal não é algo fixo ou imutável, tem uma evolução progressiva que
relaciona sua situação espacial (pelas referências perceptivas recebidas do exterior) à
realização do gesto (pelas intenções motoras). Dessa forma, a criança se descobre
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inicialmente pela sua atividade global ou instintiva, e depois pela atividade diferenciada e
intencional, que lhe permitem descobrir o mundo que a rodeia.
Uma boa estruturação do esquema corporal “contribui diretamente à adaptação do
sujeito no espaço e no tempo, contribuindo para uma disposição corporal mais adequada
para a realização de diferentes atividades” (Defontaine, citado por Damasceno, 1997).
Conseqüentemente, um esquema corporal mal definido, traduz-se em lacunas no
desenvolvimento infantil, como enumera Damasceno, citando Le Boulch (1972): déficit da
percepção (estrutura espaço-temporal); da motricidade (incoordenação nas atividades); da
relação com o outro (insegurança – incidência no plano emocional).
Fonseca (1995) explica a consciência corporal na expressão de noção do corpo ou
somatognósia: resultado da recepção, da análise e do armazenamento das informações
vindas do corpo, provocando a tomada de consciência. Esta por sua vez, é aprendida pela
experiência motora e pela mediação social. Em termos psicomotores, a noção do corpo é
resultante da organização sensorial tátil-cinestésico, vestibular e proprioceptiva, numa
imagem interiorizada e estruturada, emergindo numa representação mental, que constitui a
referência interna para todas as relações com o exterior. Ao longo da experiência, essa
imagem sensorial interna é organizada pelo cérebro a partir da atividade motora, tornando-
se cada vez mais precisa e atualizada e é finalmente armazenada.
Os fatores psicomotores tonicidade, lateralidade e equilíbrio contribuem para a
construção da noção do corpo pela criança, que elabora todas as suas experiências e
organiza toda a sua personalidade. Assim, a criança evolui à medida que adquire mais
conscientização e mais conhecimento do seu corpo.
O referido autor considera que inicialmente a consciência corporal na criança é
intuitiva decorrente de uma auto-imagem sensorial interior, progredindo para uma noção
especializada linguisticamente, a partir da experiência cultural integrada ao emocional e o
afetivo, o mágico e o fantástico, o velho e o novo, o objetivo e o subjetivo etc. Para ele,
“A noção do corpo é o alfabeto e o atlas do corpo, mapa semântico com equivalentes
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visuais, táteis, quinestéssicos e auditivos (linguístico), verdadeira composição de memórias
de todas as partes do corpo e de todas as suas experiências.” (p.184)
1.1.5 Lateralidade
A lateralidade é um fator fundamental na relação e orientação do indivíduo com o
mundo exterior. E se desenvolve lado a lado com o esquema corporal. Existe a
dominância lateral que é a preferência de um dos lados, determinando se o indivíduo é
destro (dominância do lado direito) ou canhoto (dominância do lado esquerdo). Essa
definição de dominância lateral é diferente de conhecimento dos lados (direita - esquerda),
a criança pode ter sua dominância definida (o lado mais forte de melhor precisão), porém
não saber qual é seu lado esquerdo e seu lado direito. Esse conhecimento surge mais ou
menos dos 6 aos 7 anos de idade.
1.1.6 Organização Espacial
De acordo com TASSET,1993, citado por Bueno, 1998, “orientação espacial é a
orientação, a estruturação do mundo exterior referindo-se primeiro ao eu referencial, depois
a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento.”
O indivíduo precisa se organizar perante o mundo e para isso a noção do corpo no
espaço (informações visuais, dos receptores vestibulares, dos proprioceptores articulares
que fornecem dados das várias partes do corpo), é o termo de referência. Pois é através da
interação do corpo com os objetos que o rodeiam, que as pessoas conseguem se
movimentar, trocar um objeto de lugar, saber onde é acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado,
se um objeto ou indivíduo está perto ou longe. Então nossa percepção do mundo é uma
percepção espacial que tem o nosso corpo como referência.
LAPIERRE,1986, citado por Bueno, afirma: “a estrutura espacial não se ensina nem
se aprende, descobre-se.”
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1.1.7 Organização Temporal
É a capacidade que o indivíduo tem de se situar em função de sucessões de
acontecimentos (antes, depois, durante); duração de intervalos e do caráter irreversível do
tempo (noção de envelhecimento).
Essa noção está intimamente ligada com a noção de espaço. Alguns autores nem
separam noção de espaço e tempo, chamam de organização espaço-temporal, assim
avaliamos o movimento no tempo, distinguindo o rápido do lento, o sucessivo do
simultâneo e tendo a memória com um papel importantíssimo para a compreensão do
tempo, trabalhando o hoje, o amanhã, o ontem, o tarde, o cedo, o rápido, o lento, o forte e o
fraco.
Para FONSECA (1983), a orientação temporal é o tempo ligado ao espaço e
envolve ritmo.
1.1.8 Ritmo
O ritmo é inerente ao ser humano, nos gestos diários e na vida cotidiana, o jeito que
andamos e até que respiramos, é o ritmo vital. O ritmo biológico ou vital envolve os ritmos
cerebrais, do coração e da respiração, mantendo nosso corpo atuante. Ainda podemos citar
os ritmos do sono, do metabolismo (esses são ritmos internos).
Os ritmos externos envolvem a organização e sucessão de eventos naturais como,
estações do ano, dias e horas.
Na atividade motora sincronizada, movimentos rítmicos são econômicos e
ocasionam menos fadiga, sendo assim, muito mais fácil de serem realizados. Os exercícios
sem ritmo são desarmônicos, pois não conseguem alternar os tempos fortes e fracos, de
contração e de relaxamento. Então numa atividade psicomotora o ritmo vem permitir a
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flexibilidade, o relaxamento, a dissociação de movimentos, que são elementos
indispensáveis para a autonomia motora.
O ritmo não deve ser mecânico, deve ser sentido profundamente, levando a
consciência intuitiva do mesmo. O corpo com seu ritmo interno e “vital”, são a vivência
para que se chegue ao controle do ritmo em relação a si, depois em relação ao outro e ao
mundo exterior.
Como AJURIAGUERRA, citado por Bueno (1998), diz: “a educação pelo ritmo é
um meio extremamente eficaz de combater a ansiedade, a inibição, a debilidade motora, a
inexpressão, a rigidez de atitudes e etc”.
“Ritmar é dar forma ao movimento” (PICCOLO, 1995, citado por Bueno). Então o
ritmo não deve ser visto como um acontecimento do tempo, mas sim como um fenômeno
do movimento.
1.2 Percepções:
Percepção é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos. Esta percepção
depende de estímulos sensoriais, ou seja estímulos do meio externo que serão captados
pelos sentidos: audição, visão, tato, olfato e paladar.
Para Frostig (in MENDES, citado por Bueno, 1998),
“percepção é a ponte de relação entre o indivíduo o e seu
meio exterior. Além da capacidade de reconhecer os estímulos à
discriminação, a seleção e a identificação, na sua correlação com as
experiências anteriores, estão aí incluídas.”
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Com um bom desenvolvimento do sistema sensorial, a criança terá uma concepção
ajustada do mundo que a rodeia. Pois com o estímulo da percepção a criança registrará
tudo que está sob domínio de seus sentidos.
A percepção tem uma relação intima com o corpo, pois é através dele que sentimos,
é com a vivência do corpo que percebemos o mundo. O indivíduo aperfeiçoa sua
faculdade de adaptação e reforça a construção da sua personalidade, através das sensações,
percepções e atividades motoras.
As sensações podem ser: proprioceptivas, vividas por uma parte ou conjunto do
corpo, chegando a nível consciente (informações a nível muscular). São exemplos disto,
rigidez, flexibilidade. Interoceptiva, refere-se aos órgãos internos. E por último as
sensações exteroceptivas, que vem do mundo exterior, através de órgãos dos sentidos
(audição, visão, tato, olfato e gustação).
Percepção é a sensação mais o movimento, imagem do modelo global, comparação
e adaptação.
1.2.1 Percepção Auditiva
É a interpretação dos estímulos auditivos, associando-os a estímulos anteriormente
percebidos. Então está ligado a capacidade de organizar e compreender estímulos sonoros,
recebidos do mundo exterior e podendo ou não, realizar respostas a estes estímulos, através
de comportamentos auditivos.
A percepção auditiva é feita por meio das seguintes áreas:
Ü Consciência e discriminação auditiva - capacidade de encontrar diferenças
ou semelhanças nos sons
Ü Atenção auditiva – capacidade de apresentar resposta voluntária a um
estímulo sonoro.
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Ü Memória auditiva – capacidade de armazenar e evocar o material auditivo
apreendido, através de mecanismos associativos.
Ü Localização do som e figura-fundo auditiva – capacidade de selecionar um
determinado som em meio vários estímulos auditivos.
Ü Análise e síntese auditiva – a análise decompõe as informações sonoras
recebidas e a síntese une as partes para compor uma informação sonora.
Esta percepção é importantíssima para a linguagem falada. A percepção dos sons
que o indivíduo emite e ouve, desenvolve a linguagem de uma forma geral. Uma
deficiência nesta área ocasionará defasagem na linguagem interna, na linguagem receptiva
e na expressiva falada.
A perda da audição na terceira idade influência muito no equilíbrio do idoso, além
de deixá-lo isolado do mundo exterior, pois muitos se acham inúteis devido a falta da
audição, e isolando-se ele se torna vulnerável a depressão.
1.2.2 Percepção Visual
Esta percepção está presente em quase todas as nossas atividades. Quando
manipulamos objetos, diferenciamos cores, tamanhos e símbolos, quando passamos por
lugares nos norteamos pela visão. Alem de tudo isso, ainda discrimina símbolos abstratos,
como é o caso das letras e palavras.
Todo olho saudável deve se mexer para ver, alinhando os dois olhos e concentra-los
num ponto ou num plano é fundamental, pois uma inadequação da mobilidade ocular pode
prejudicar a percepção das formas e dos detalhes.
A perda da visão também é um fator que leva ao isolamento e depressão do idoso,
pois a sensação de inutilidade, ou incapacidade diminui sua auto estima e confiança em si
mesmo.
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1.1.3 Percepção Tátil
O sentido tátil é o mais velho dos sentidos, existe desde o ventre materno, com
todas as sensações de contato que a criança senti. Nesta percepção exploramos a variação
de pressão, de temperatura, do pesado e do leve, do seco, úmido e molhado e de objetos
conhecidos, formas, volumes, sem a ajuda da visão.
Quando experimentamos o tato, vivenciamos nossa forma corporal externa e nossa
identificação. Além da temperatura, volume, formas,que percebemos através do tato,
também percebemos algumas comunicações corporais e não-verbais: ternura, dor
indiferença e agressão.
“O tato estabelece-se, na periferia da pele e no contato
essa periferia é ultrapassada. O contato estabelece uma
comunicação metafórica desse corpo com os outros corpos e
objetos, levando a uma harmonização das tensões e equilíbrio
emocionais.” (BUENO, 1998, p.71)
1.2.4 Percepção Olfativa
Capacidade de distinguir odores, associando-os à origem. Está intimamente ligada
com a percepção do paladar, contribuindo para a discriminação de alguns alimentos.
1.2.5 Percepção Gustativa
Capacidades de distinguir sabores, associando-os à origem. Sua importância está no
fato de permitir ao indivíduo a escolha dos alimentos segundo seu desejo e necessidade
nutricional.
26
Há várias formas de trabalhar as áreas psicomotoras, e cada uma delas com sua
importância, o trabalho tem a preocupação de atender as necessidades do idoso, ajudando-o
a melhorar sua vida cotidiana e propondo-lhes uma atividade agradável e sem dores (devido
às doenças que os acometem, nesta etapa da vida). Então enfatizarei no capítulo III, o
quanto pode ser proveitoso unir a atividade psicomotora ao meio líquido.
Este trabalho envolverá o aspecto afetivo-social, pois veremos o quanto esse
aspecto é importante para as atividades com idosos. Pois o afetivo e o relacional aparecem
nas posturas, nos comportamentos e influenciam a cada atividade do indivíduo, tanto
motoramente, como nas suas atitudes como um todo. Abordarei com maiores detalhes a
parte física e a parte afetiva-social do idoso nos próximos capítulos.
27
CAPÍTULO II
Atividade Física e Envelhecimento
“Sempre te lembra que a pele enruga... O
cabelo se torna branco... Os dias se
transformam em anos... Mas o importante não
muda... Tua força e segurança não tem idade...
Teu espírito é o espanador de qualquer teia de
aranha... Atrás de cada linha de chegada há
uma partida...”
Camille Claudel
28
CAPÍTULO II
ATIVIDADE FÍSICA E ENVELHECIMENTO
O envelhecer é uma fase onde o organismo entra em declíneo (catabolismo). O
fenômeno fisiológico do envelhecimento, alterações sofridas pelo corpo, como: mudanças
na composição corporal, incluindo perda de massa muscular, força, flexibilidade e
densidade óssea, variam de pessoa para pessoa dependendo de vários fatores como:
sedentarismo, hábitos alimentares, etc.
2.1 – Conseqüências na motricidade do idoso
A motricidade do idoso depende muito do estilo de vida do indivíduo (ativo ou
sedentário). Para os indivíduos treinados é uma fase de crescente diminuição do
rendimento motor. E diferente da fase anterior a regressão gradativa da motricidade
também acontece no cotidiano (atividades diária e profissional). Nesta fase tornam-se
visíveis às diferenças entre indivíduos que são ativos e sedentários. A regressão nas
capacidades de velocidade, força e resistência iniciam-se em pessoas inativas. “Também
deve-se levar em conta uma grande incapacidade nas habilidades de aprendizagem,
adaptação e transformação motoras.” (Meinel,1984, p.381)
“Na terceira idade adulta deve ser destacada a elevada
variabilidade da capacidade de rendimentos motores. Ela é
condicionada sobretudo pelas influências da profissão(...) e de
todo o modo de vida, pela condição geral de saúde e pelas
condições físicas geralmente muito diferenciadas.” (Meinel, 1984,
p.381)
29
O envelhecimento não é somente uma questão estética, mais sim um processo
progressivo de mudanças fisiológicas que atingem não somente a parte física do ser
humano, mais também a parte mental e emocional.
2.2 – Conseqüências afetivas:
Em relação à parte emocional, vários fatores externos propiciam a aceleração desse
processo de envelhecimento, como: a perda da auto-estima, sensação de inutilidade (medo
de tornar-se um peso para a família e para a sociedade), além de grande angústia e temor da
solidão e da morte. Tudo isso acompanhado de perda da audição, visão, flexibilidade,
capacidade de concentração e memória.
A atuação do tempo sobre nosso corpo é inevitável, ele está sempre em mutação.
Nos desenvolvemos a partir de uma única célula, no momento da concepção até
transformarmos, na idade adulta, em um organismo composto por milhões de células. A
puberdade transforma as crianças em adultos. Na idade adulta ocorre uma fase de
estabilidade, com poucas mudanças. Mesmo assim a todo instante os tecidos estão sendo
reparados e regenerados, os níveis de diversos hormônios se alteram, a partir de
determinada idade vão se reduzindo e conforme o indivíduo envelhece ocorrem alterações
físicas e mentais. ( ALVARENGA, ano)
2.3 - Conseqüências anatomos-fisiológicas na velhice:
O indivíduo fica cada vez mais frágil e vulnerável a doenças ósseas e articulares, os
ossos ficam menos sólidos (osteoporose), ligamentos e tendões mais fracos, cápsulas
articulares com menos líquido sinovial. Com isso ocorrem deformações na coluna
vertebral, ajudando na perda da elasticidade pulmonar. (diminuição da capacidade de
performance).
30
A circulação sanguínea fica prejudicada, devido à arteriosclerose, varizes,
diminuição do diâmetro dos vasos. Ocorrem várias modificações a níveis metabólicos e
neurais, deixando assim, o indivíduo com pouca resistência a doenças.
As conseqüências fisiológicas são:
a) Diminuição nas funções cardíacas (FC) e pulmonares (VO2 máx.)
b) Aumento da gordura corporal (composição corporal)
c) Diminuição da massa e da força muscular.
d) Alterações no Sistema nervoso.
e) Perda da densidade mineral óssea (massa óssea).
f) Alterações hormonais.
g) Alterações na flexibilidade.
a) Diminuição das funções cardíacas e pulmonares
Os efeitos do envelhecimento no sistema cardiorrespiratório podem ser avaliados
através da aptidão aeróbica (VO2máx.).
O VO2máx. é a capacidade máxima que o corpo tem de captar oxigênio, transportá-
lo e utilizá-lo para queimar combustível necessário para a utilização dos movimentos
corporais. ( McARDLE, KATCH & KATCH,1995)
Em pessoas sedentárias de 20 a 30 anos de idade, a queda do VO2máx. é duas vezes
mais rápida, à medida que envelhecem, do que em adultos fisicamente ativos, estes
apresentando um treinamento constante por dez anos, em que não há declínio da capacidade
aeróbica. Depois dessa idade, o ritmo de declínio é mais lento para ambos os grupos,
explicado pelas reduções nas funções fisiológicas centrais e periféricas associadas ao
transporte e à utilização do oxigênio, como a deterioração da função pulmonar, provocando
31
uma lentidão significativa da ventilação durante a transição do repouso para o exercício
submáximo. ( McARDLE, KATCH & KATCH,1995)
As condições cardíacas e pulmonares de um idoso podem melhorar com um
treinamento aeróbico, porém o VO2máx. diminui de 8 a 10 porcento por década após os 25
anos de idade, mesmo entre atletas que treinam vigorosamente por toda a vida. Então o
treinamento aeróbico regular ajudam as pessoas de todas as idades a atingirem níveis
semelhantes ao de pessoas não treinadas muito mais jovens. E esse declíneo do VO2máx.
também tem extrema ligação com a diminuição da capacidade de bombeamento sanguíneo
do coração a uma freqüência elevada e a capacidade de utilização do oxigênio pelos
músculos. ( McARDLE, KATCH & KATCH ) Então em qualquer idade é possível estar
mais bem treinados do que os indivíduos sedentários, mais em razão do envelhecimento,
eles apresentam uma menor aptidão física do que os atletas mais jovens.( NIEMAN,ano,p )
Ü Mesmo em pessoas idosas sedentárias é possível melhorar suas condições cárdio-
pulmonares, pois o envelhecimento não altera a capacidade de adaptação à prática dos
exercícios aeróbicos. Então nunca é tarde demais para melhorar sua aptidão física.
Ü Os programas de exercícios são os mesmos para pessoas jovens ou idosas. Mas para
evitar lesões é preciso que os exercícios sejam de progressão mais lenta e precavida.
Ü Estudos constataram que se a atividade física e a composição corporal se mantiverem
“estáveis” com o passar do tempo, o declíneo no VO2máx. é menor anualmente, em
caso negativo, ou seja, se os indivíduos se tornarem obesos e sedentários, há uma
aceleração no ritmo desse declíneo.
Ü Não há modificação significativa da F.C de repouso com o envelhecimento, mas há um
declínio progressivo da F.Cmáx. ( frequência cardíaca no exercício máximo ) com o
passar dos anos.
32
A treinabilidade aeróbica entre os idosos poderá aprimorar as propriedades
sistólicas e diastólicas do coração, aumentando a capacidade aeróbica no mesmo grau que
ocorre em adultos mais jovens. ( McARDLE, KATCH & KATCH ).
b) Aumento da gordura corporal (composição corporal)
Entre os 20 e 65 anos de idade a gordura corporal tende a aumentar
consideravelmente, e se concentra no tronco e no abdômen o que é muito prejudicial (a
longo prazo) à saúde. E também é exatamente nessa mesma época que se perde mais massa
muscular magra e massa óssea, tornando ainda mais perigoso essa combinação de ganho de
gordura e perda de massa muscular magra. Mas aqueles que participam de um ótimo
treinamento de resistência, tendem a aumentar o seu peso corporal magro, reduzindo a
gordura corporal.
Essa tendência ao ganho de gordura corporal é devido a perda de uma parte da sua
capacidade de “queimar” o excesso de calorias ingeridas numa alimentação excessiva.
Então com o passar dos anos é preciso uma maior atenção à alimentação para que a
combinação de dieta e exercício dê resultados ao indivíduo mais idoso. ( McARDLE,
KATCH & KATCH )
c) Diminuição da massa e da força muscular
A redução na massa muscular ( que pode chegar a cinquenta por cento entre os
vinte e cinco e os oitenta anos de idade ), ocorre devido a não remodelagem das unidades
motoras, pois no idoso esse processo sofre uma deterioração gradual resultando numa
atrofia muscular por desnervação. Essa redução da força contrátil do músculos, ocorre na
velhice até mesmo em homens e mulheres sadios e ativos. ( McARDLE, KATCH &
KATCH )
33
A redução na massa e na força dos músculos esqueléticos que ocorrem com o
envelhecimento é uma conseqüência de vários processos fisiológicos do sistema nervoso
(como a diminuição no número de axônios e na velocidade de condução nervosa,
havendo uma queda no desempenho neuro-muscular, com a idade, em relação aos tempos
de reação e de movimentos simples e complexos), associado a uma diminuição da
sobrecarga muscular diária do indivíduo com idade avançada. (McARDLE, KATCH &
KATCH)
A diminuição da massa muscular (sarcopenia) é a principal razão para a redução na
capacidade de produção de força com a idade. Parece que o declíneo na massa muscular é
causado pela redução no tamanho das fibras musculares individuais, pela perda de fibras
musculares individuais ou ambos (Frontera et al., 1988; Larsson, 1982; Lexell et al.,1983,
citado por FLECK, 1999). O declíneo é mais marcado nas fibras musculares do tipo II,
desse modo, muito da redução na força muscular com o envelhecimento está relacionado à
atrofia seletiva das fibras musculares do tipo II. Além disso, a qualidade da proteína pode
ser afetada, porque as cadeias pesadas de miosina transformam-se para o tipo mais lento, o
que poderia afetar a velocidade do ciclo das pontes transversas de actina e miosina durante
as ações musculares (Sugiura et al.,1992, citado por FLECK,1999). Portanto, a perda tanto
da quantidade como da qualidade das proteínas nas unidades contráteis dos músculos
proporciona uma base bioquímica estrutural para a perda da força e potência muscular com
o envelhecimento. (FLECK,1999)
Estudos recentes afirmam que o trabalho de força com os idosos dão ótimos
resultados e é um dos principais benefícios do exercício na velhice.
O treinamento de resistência em homens e mulheres mais velhos favorece a
produção e a retenção de proteínas e abranda a perda inevitável de massa e de força
musculares resultante do envelhecimento.
Então é necessário que no treinamento do idoso existam exercícios extenuantes
(com pesos) para que ocorra uma melhora na massa muscular e fortalecimento dos
34
músculos, mantendo assim, os músculos e o corpo em boa forma. Como nos indivíduos
mais jovens, a intensidade, a duração e a freqüência do treinamento são essenciais para
determinar as adaptações da força em indivíduos idosos. Foi constatado que através de um
treinamento vigoroso de exercícios regulares, podem haver aprimoramentos acentuados e
rápidos na força muscular e na aptidão global ( como aumentar a força na flexão e na
extensão do joelho ), além de reduzir a incidência de lesões ortopédicas, comuns entre os
idosos. ( McARDLE, KATCH & KATCH )
d) Alterações no Sistema Nervoso
A capacidade para ativar o tecido muscular é o determinante primário para o uso das
fibras musculares em uma atividade que recebem um estímulo do treinamento. Porém com
o envelhecimento os neurônios tornam-se menos excitáveis, e cai a velocidade de
transmissão do impulso nervoso. Essas modificações afetam as funções cognitivas e
afetivas do idoso. Causando também um déficit sensorial, que afeta o aspecto motor, a
visão e a sensibilidade proprioceptiva. O processo mais afetado pelo envelhecimento é o
tempo necessário para identificar um estímulo, a informação ser processada e produzir uma
resposta.
A perda das fibras musculares com o envelhecimento pode ser resultado da morte
das células do músculo ou de um processo degenerativo causado pela perda de contato com
o nervo (Hakkinen,Kallinen e Komi, 1994). “As fibras musculares são perdidas com a
idade, mas algumas passam por um processo de reinervação com o aumento da atividade.”
(FLECK, p.205, 1999)
“(...) o envelhecimento biológico de certas funções neuromusculares pode ser
retardado, até certo ponto, pela participação regular em uma atividade física.” (McARDLE,
K., KATCH, F. E KATCH, V., p.611, 1998, citado por Ericka TRANCOSO)
35
e) Perda da massa mineral óssea
Essa perda da massa óssea significa que o esqueleto em processo de envelhecimento
torna-se desmineralizado (pela perda de minerais ósseos, como o cálcio) e poroso. Quando
essa perda está em torno de 30 a 40%, é caracterizada a osteoporose.
As mulheres são mais prejudicadas em relação à perda de massa óssea do que os
homens, principalmente na fase da “pós-menopausa”, devido ao fim do efeito protetor do
estrogênio sobre o osso, tornando-as mais vulneráveis à perda de cálcio, com uma
conseqüente queda na massa óssea. (McARDLE, KATCH & KATCH)
Indivíduos que fazem exercícios físicos regularmente têm maior quantidade de
cálcio nos ossos do que aqueles sedentários.(CEPOR)
A baixa densidade óssea juntamente com o declíneo da força muscular aumenta os
riscos de doenças e fraturas provenientes de quedas. A osteoporose está associada a uma
baixa ingestão de cálcio e a falta de atividade física.
As cartilagens sofrem um desgaste progressivo, surgindo camadas profundas e mais
rugosas, reduzindo as superfícies articulares, comprometendo e limitando a mobilidade dos
segmentos. Os ligamentos perdem seus elementos elásticos em benefício de estruturas
fibrosas e pela menor lubrificação das superfícies articulares.
“Para pessoas com mais de 60 anos de idade, essas alterações
no osso envelhecido podem reduzir a massa óssea em 30 a 50%. O
exercício regular com sustentação de peso pode, além de retardar a
perda óssea, aumentar de fato a massa de homens e mulheres
idosos.” (McARDLE, K., KATCH, F. E KATCH, V., p.
611,1998).
36
f) Alterações Hormonais
Os hormônios que estão relacionados com o treinamento de força são os anabólicos,
como a testosterona, o hormônio do crescimento, a insulina e os fatores de crescimento, que
ajudam a estimular o desenvolvimento dos tecidos musculares e nervosos. As
concentrações séricas de hormônios do crescimento aumentam acima dos valores normais
do repouso durante e após a sessão de treinamento. (KRAEMER, 1992, citado por FLECK,
1999)
Com a idade, o sistema endócrino perde a sua habilidade de alterar as concentrações
hormonais causadas pelo exercício; reduções nas concentrações de repouso dos hormônios
anabólicos também são observadas com o envelhecimento.
g) Alterações na Flexibilidade
“A flexibilidade está relacionada com a idade e com a atividade física. Conforme a
pessoa envelhece, a flexibilidade diminui, embora acredite-se que isso ocorra mais devido à
inatividade do que ao processo de envelhecimento em si.” (Nieman, p.16).
Goldspink (1991), citado por Ericka TRANCOSO, demonstrou que com a idade a
solubilidade do colágeno diminui, tornando-se mais denso e aumentando o volume do
músculo, contribuindo para a diminuição do percurso do movimento.
Com a idade a amplitude de movimentos dos segmentos em torno das articulações
diminui. Alguns estudos dizem que a flexibilidade (movimentos de tronco e articulações
segmentarias próximas), entre os 20 e 60 anos sofreria uma redução de 30 a 50%. As
articulações distais como, joelhos, tornozelos e etc (que são fundamentais para reações de
equilíbrio), ainda não se documentaram de forma sistemática sua redução.(PÉRONNET, F.,
1985, citado por Ericka TRANCOSO).
37
Em qualquer idade é ideal ter uma boa flexibilidade, boa flexibilidade é igual a boa
mobilidade. Juntamente com a força, a flexibilidade permite uma pessoa realizar suas
tarefas cotidianas, reduzindo o risco de lesões.
“a atividade física regular de moderada a vigorosa produz aprimoramentos
fisiológicos, independente de idade.” (McArdle, Katch e Katch)
“nosso organismo tem uma impressionante plasticidade nas
características fisiológicas, estruturais e de desempenho entre os
idosos e que podem ser conseguidos aprimoramentos acentuados e
rápidos com um treinamento vigoroso até mesmo na nona década
da vida” (McArdle, Katch e Katch)
Todas essas informações só comprovam que a atividade física para o idoso é de
extrema importância, pois modifica seu estado físico e mental, trazendo benefícios e
motivação para a vida.
38
CAPÍTULO III
Psicomotricidade Aquática para a 3ª Idade
“Nadar é o abraçar a água e ser envolvido
por ela sem ressentimentos, mas com
prazer. É o sentir a água e entende-la
amiga.”
Araújo Jr., apud Bueno (1998)
39
CAPÍTULO III
PSICOMOTRICIDADE AQUÁTICA PARA 3ª IDADE
O trabalho enfatiza o adulto, que já tem uma grande bagagem de vida e de
experiências e que muitas vezes se mostra mais resistente a qualquer tipo de aprendizagem
exatamente devido a passagens vivenciadas de formas as vezes positivas e outras
negativas.
Então, o papel do professor como “encorajador” e observador de mudanças de
condutas e comportamento, provando que é possível, a todo o momento, ou a qualquer
idade aprender a aprender.
“Não tenho mais idade para aprender a nadar.” Esta indagação é muito freqüente
nos adultos. Pretendo mostrar aqui todos os nossos argumentos e instrumentos para que
consigamos mudar esse pensamento.
3.1. Adaptação ao meio líquido:
O meio líquido proporciona várias sensações diferentes, como a diminuição do peso
corporal devido à flutuabilidade, diminuindo as sobrecargas na coluna vertebral e nas
articulações, permitindo que pessoas que estejam acima do peso ou com problemas
articulares e musculares pratiquem uma atividade física sem dor ou sensações de cansaço
excessivo. E além do empuxo hidrostático, a água ainda possui o efeito massageador, que
também é um dos fatores que diminuem as sensações de dores musculares, o que ajuda
muito na prática de atividade física para um adulto ou idoso. Devido a todas essas
propriedades da água e aliado ao nosso melhor conhecimento das fases da vida de um ser
40
humano é que devemos entender a adaptação ao meio líquido como uma atividade física
para todas as idades, e que sempre irá proporcionar-lhes novas possibilidades.
As atividades aquáticas são muito ricas e tem o corpo como instrumento principal
de ação, englobando ainda, funções psicomotoras como: esquema corporal, tônus da
postura, dissociação de movimentos, coordenação espacial e temporal, ritmo, lateralidade,
equilíbrio e relaxamento. Pontos essenciais para que o indivíduo sinta-se seguro num meio
totalmente diferente do seu habitat, o meio aquático.
O trabalho no meio líquido pode ser todo voltado para jogos psicomotores,
trabalhando a consciência corporal, a percepção, postura e a sensibilidade, proporcionando
motivação e prevenindo situações estressantes que causem doenças futuras.
Esse trabalho deve começar pelo aprender corporal, envolvendo o conhecimento do
próprio corpo, com a sua realidade exterior, ou seja, são dados proprioceptivos e
exteroceptivos interagindo e provocando mudanças de comportamento corporal.
Ajurriaguerra (citado por Velasco, 1994) divide em três níveis o desenvolvimento
da consciência corporal: corpo agido, corpo atuante e corpo transformador.
A fase do corpo agido é de dependência, onde a criança interage intencionalmente
com o outro, mas tem um papel de receptor. Ao decorrer desta fase há uma maior
reciprocidade entre si, o outro e o meio, formando a base motora necessária a qualquer
aprendizado, segundo os aspectos tônicos emocionais e posturais, essenciais ao
conhecimento das partes do seu corpo e suas funções.
Quando a criança assume um papel de espectador, significa que já atingiu a fase
do corpo atuante, em que tem aumentada a liberdade relativa ao outro e ao meio exterior.
Nesse momento o plano motor da aprendizagem está mais organizado, tornando a criança
capaz de explorar espaço–temporalmente e o meio de forma mais lógica.
41
Atingindo a característica de criadora e autônoma, a criança pode ser considerada
inserida na fase do corpo transformador, cuja ação objetiva sobre o meio promove sua
própria transformação, pela qual domina o mesmo e os objetos, chegando ao ápice da
independência na aprendizagem.
Para qualquer tipo de aprendizagem o caminho a ser percorrido envolve
transformações inovadoras, que objetiva a evolução do ser como um todo, e a passagem do
corpo agido até o corpo transformador se torna essencial para se ter uma perspectiva de
grande êxito no meio líquido.
Como foi dito anteriormente, para Ajurriaguerra a consciência do próprio corpo
deve passar de corpo agido até transformador, porém o texto acima enfatiza a criança, só
que muitas vezes um adulto pode ainda não ter passado por essas fases, ou ter estagnado em
alguma delas.
Cada indivíduo tem objetivo variado e se encontram em situações diferentes, porém
o ponto comum entre eles, é a grande vontade de estarem no meio líquido e realizando uma
atividade que lhes proporcione o bem estar físico e mental.
3.1.1. Adaptação:
Adaptação é o primeiro passo. Para Velasco (1994), o primeiro passo é a
adaptação e total segurança dentro d’água, de forma a deixa-lo totalmente ambientado ao
meio líquido. Nesse momento o professor deve mediar as experiências sensoriais
(vestibular, tátil, cinestésica, proprioceptiva, visual, auditiva, etc.) de exploração do meio
aquático, construindo o processo de conscientização corporal e autonomia diante de novas
situações na água. Nessa fase devemos trabalhar a ambientação do meio, conhecimento de
todas as possibilidades de movimento na água, o controle respiratório, sempre aliado ao
lado emocional e psicológico, pois o medo é um dos grandes obstáculos para a
aprendizagem.
42
É neste momento que devemos estar conscientes de que o nosso papel é levar o
indivíduo a se adaptar a situações novas, provocando mudanças e gerando aprendizado.
Segundo Maturana (1998), ocorre aprendizagem quando a conduta e ou comportamento é
alterado. Essa mudança é uma mudança na configuração estrutural, ou seja, constitui na
incorporação da própria história de interações na estrutura do organismo (Maturana, pg.18).
Isso corresponde à condição de adaptação do indivíduo ao meio.
ADAPTAÇÃO AO MEIO = MUDANÇA = APRENDIZAGEM
Primeiro o indivíduo deve se reconhecer integralmente, conhecer seu corpo e suas
possibilidades, ainda mais se tratando de estar em um meio diferente do seu habitat (a
água). Desta forma saberá como se transformar (mudança), para que se adapte ao meio
(aprendizagem). Este processo de trocas de energia e matérias com o meio, gerando
mudanças na estrutura do indivíduo, Maturana denomina de AUTOPOIESE, produção de si
mesmo. O indivíduo se gerencia, se reconhece, se adapta, assim se transformando. Ajudar
a reconhecer-se e mostrar-lhes as mudanças é nosso papel como professor, ainda mais se
tratando de adultos, que são tão cheios de regras, tabus sócio-culturais e manias. Nosso
trabalho deve estar muito próximo do afetar o outro (mexendo com sua totalidade), esse
AFETAR é no sentido de atingir, tocar, influenciar, mudar a estrutura do outro através do
emocionar.
Depois dessas mudanças, ou seja, com a aprendizagem e maior adaptação ao meio
líquido, podemos trabalhar relacionando com a velhice e o adulto-maduro, os treinamentos
de flexibilidade, respiração e equilíbrio.
1. Treinamento de flexibilidade; Nieman diz, que este treinamento aumenta a
resistência a lesões e às dores musculares, diminui o risco de lombalgias e
outras dores de coluna e melhora a postura. Com tudo isso, os movimentos
corporais ficam mais plásticos, melhorando o desenvolvimento das
habilidades para a prática esportiva, a aparência pessoal e a auto-estima.
43
2. Treinamento de força e potência muscular (velocidade, ação/reação). Esse
treinamento é importantíssimo para a qualidade de vida do idoso, pois
envolve a manutenção de suas atividades diárias como caminhar, subir
escadas e levantar objetos, como também desenvolver força com rapidez
(velocidade, ação/reação).
3. Equilíbrio e respiração. A diminuição de água e sais minerais no organismo
provocado pelo aumento da viscosidade do líquido sinovial, da diminuição
da massa muscular e da diminuição da espessura dos discos intervertebrais,
além do déficit respiratório, tudo isso ocasiona uma rigidez da coluna
vertebral do idoso. A integridade da coluna vertebral é muito importante
para o equilíbrio e mobilidade corporal de todo indivíduo. O equilíbrio é a
manutenção da projeção do centro de gravidade do corpo humano no interior
do polígono de sustentação (pés), por meio do ajustamento postural e da
respiração, sem oscilações ou desvios nas condições estática ou dinâmica.
Nele interatuam o sistema límbico e o cerebelo – principais órgãos do
equilíbrio e do movimento. Suas funções relacionam-se com a manutenção
do equilíbrio corporal, com a coordenação, a respiração e a emoção.
(MATTOS Ferreira, p.155) Todos esses dados são muito importantes para
nosso trabalho, já que temos a nosso favor o empuxo, porém devemos
trabalhar um equilíbrio diferentes, por estarmos dentro d’água. Sem falar da
importância da respiração para a nossa atividade aquática. Tratando-se de
uma turma de 3ª idade, a importância do equilíbrio e da respiração tem uma
importância dupla, pois é importante para a qualidade de vida do aluno no
seu cotidiano e também são dois fatores de primordial importância para a
adaptação ao meio líquido e posterior aprendizado da natação.
4. Coordenação, aumentar mobilidade articular, oportunizando a descoberta de
novos movimentos e possibilidades do corpo dentro da água, além de ativar
áreas que podiam estar quase que “esquecidas”. Evitando assim, a atrofia
por desuso.
44
3.1.2. Enriquecimento adaptativo às provenientes da água:
Depois da adaptação, o segundo passo deve promover o enriquecimento
adaptativo às provenientes do meio aquático. Aprender a nadar não é sinônimo de aprender
uma só técnica, mas antes, harmonizar sinergias respiratórias com sinergias motoras,
equilibrativas e práxicas, para garantir uma propulsão contínua, econômica, melódica e
eficaz.
Neste nível devemos respeitar os limites de cada um, adequando com as idades do
adulto-maduro e idoso, porém não podemos esquecer que é sempre possível aprender e
desenvolver habilidades diversas.
1. Treinamento de flexibilidade;
2. Treinamento de força e potência muscular (velocidade, ação/reação);
3. Equilíbrio e respiração;
4. Coordenação motora;
5. Treinamento aeróbio.
Em síntese, em todos os níveis referidos, a primeira finalidade de qualquer
processo de aprendizagem como o da natação, é promover ao cérebro a capacidade de
aprender a aprender, levando-se em conta o desenvolvimento psicomotor.
Devemos lembrar que o ser humano é um ser único e completo e que devemos
respeitar cada qual com seus limites, apenas mostrando o caminho a ser seguido, para que a
cada dia mais ele possa se descobrir diferente e capaz de aprender coisas novas. Pois a vida
na sua totalidade é feita de ação e não de limitações e perdas. A conquista da
autoconfiança, e o resgate da auto-estima estimula o auto-cuidado e preserva a
independência e a autonomia do idoso, que são fatores primordiais para o bem-estar e
qualidade de vida do ser humano.
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Todo esse trabalho deve ter um apoio afetivo muito grande, pois muitos idosos
tomam a decisão ou são levados a praticar uma atividade física depois que percebem que
uma boa qualidade de vida é obtida por meio de vários fatores, mas que a socialização e
prazer de viver são primordiais para vencerem doença como a depressão.
Os quadros depressivos começam a surgir quando um indivíduo é depreciado
(esse velho não serve mais para nada), ou colocado de lado por pessoas que são importantes
em sua vida (solidão). A diminuição do prazer e a falta de interesse em atividades e
relacionamentos são importantes marcadores da doença (depressão). Porém geralmente é
comum o idoso ser chamado de ranzinza e resmungão, ou simplesmente as reclamações de
dores e alguns sintomas psíquicos como: irritabilidade e tristeza são relacionados à velhice
ou é coisa de “velho reclamão”.
O apoio e compreensão da família neste momento são fundamentais, pois se sentir
aceito no meio familiar é o começo de tudo. Se o idoso se sentir amado e respeitado no
seio familiar, terá auto-estima e confiança de enfrentar o mundo. O adulto idoso é
dependente afetivamente, acham que não servem mais para nada, e que atrapalham a vida
dos seus entes queridos. Porém precisam perceber que suas vidas não se limita a vida das
pessoas da família, que o mundo é muito grande e precisa ser “explorado”, que existem
pessoas novas para se conhecer e coisas novas para aprender.
Manter a mente ocupada e trabalhando é uma das receitas de longevidade mais
eficientes. A atividade não só motora mais também mental, tem uma estreita ligação com a
qualidade de vida. O idoso precisa se sentir ativo e integrado à sociedade, se amar antes de
tudo e se perceber útil no ambiente familiar e social. Fazer coisas que goste é o primeiro
passo, encontrar pessoas que partilhem dos mesmos gostos e anseios, para poder dividir e
trocar experiências. Ler livros, assistir filmes, fazer palavra-cruzada para treinar
vocabulário, são ótimas “pedidas” para o idoso. Além de tudo isso é fundamental ter metas
e objetivos a cumprir, sem achar que seu tempo acabou, ou que é velho demais para
aprender mais alguma coisa. Manter uma vida sexual prazerosa também tem sua
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importância, ajuda a fortalecer a auto-estima e também oferece outros benefícios como a
diminuição do estresse.
O saber envelhecer bem traz uma grande diferença para as mudanças anátomo-
fisiológicas. Pois cada etapa da vida deve ser respeitada e aproveitada respeitando os
limites de cada um e sabendo que aquele é o momento de realizar essa ou aquela coisa.
Sem deixar que o ócio ocupe lugar de destaque em nenhuma etapa da vida.
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CONCLUSÃO Vida, sinônimo de explosão de acontecimentos anatômicos, fisiológicos e
emocionais. Anatômicos e fisiológicos: ganhos e desenvolvimento na infância e
adolescência, maturidade e certa estagnação na vida adulta e declíneo e superações na
velhice. E emoções, a todo o momento e instante da vida elas estão explodindo e surgindo
pelos nossos poros, emoções que nos ensinam e que nos enchem de entusiasmo e
motivação para continuarmos a viver com toda força e vontade, durante todo o decorrer de
nossa vida. Emoções que não vêem idade, cor ou sexo, que apenas acontecem.
Afetar e ser afetado, provocar mudanças no outro e também se transformar através
de aprendizagens do nosso cotidiano. Viver, o homem nunca pode desistir de viver. E
viver é a cada momento aprender com o outro e consigo mesmo, é dar o melhor de si e
querer sempre mais da vida, pois a morte de um homem começa quando ele desiste de
aprender.
Então conclui-se que o resgate da auto-estima e da vontade e do prazer de viver, são
fundamentais para que o idoso sinta-se capaz e útil na sociedade. A manutenção da
funcionalidade do idoso torna-se o objetivo chave para novas e boas conquistas no meio
líquido. O prazer de estar aprendendo uma coisa nova (adaptação num meio diferente), e
ao mesmo tempo estar praticando um exercício físico, é um ponto muito importante para o
idoso, pois intervem em fatores físicos, psíquicos e sociais do indivíduo. Toda a atividade
dentro da água deve envolver a preocupação de tirar o idoso da ociosidade, da inatividade,
fazendo-o lutar contra hábitos posturais e físicos.
O grande papel desse exercício físico será então, desenvolver a consciência do
próprio limite de esforço e de movimento, fazendo com que o idoso se movimente
respeitando seu estado físico, porém mantendo sua autonomia e independência. Todo esse
“movimento”, essa aprendizagem, tornará a vida do idoso mais rica e mais feliz, pois
quando o indivíduo se dedica a aprender novas habilidades e competências, aumenta seu
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repertório de respostas possíveis e flexibiliza seus posicionamentos e reações. Isso dá uma
nova dimensão para a vida, fazendo-o buscar novas formas de enfrentar desafios e resolver
dilemas que o idoso possa se depara no seu dia-a-dia.
Tudo isso traz um aumento da auto-estima, trazendo de volta a confiança em si
próprio, fazendo com que o idoso se sinta capaz de realizar algo para si e para as demais
pessoas que o rodeiam, perdendo assim, o estigma de que “idoso não tem mais utilidade”.
Então a psicomotricidade aquática para terceira idade reúne a promoção da saúde
corporal e mental do indivíduo. Devolvendo para o idoso sua independência motora e
cotidiana, elevando sua auto-estima. Tornando assim, o idoso um ser produtivo, ciente das
suas possibilidades e impossibilidades e acima de tudo FELIZ.
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BIBLIOGRAFIA
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COSTE, J. C. (1992) A Psicomotricidade (Press Universitaires de France,
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Janeiro: Sprint.
VELASCO, C. G. (1996) Habilitações e Reabilitações Psicomotoras na água. Rio de Janeiro: Sprint