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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
PÂMELA INGRID SIMIONI COSTA
RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO
LOCAL DE TRABALHO
CUIABÁ-MT
2019
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PÂMELA INGRID SIMIONI COSTA
RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO
LOCAL DE TRABALHO
Dissertação apresentada à Coordenação do Programa
Pós-Graduação em Sociologia da Universidade
Federal de Mato Grosso/MT, como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Sociologia.
Linha de pesquisa: Sociedade, Cultura e Poder.
Eixo temático: Ensino, Socialização Profissional
Ciência e Tecnologia.
Orientador: Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro
CUIABÁ-MT
2019
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À minha maior inspiração acadêmica e da
vida: vó Nena.
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AGRADECIMENTOS
Para mim, a parte mais complexa dessa dissertação consistiu em elaborar os
agradecimentos. Ao oposto da ausência, eles são muitos e profundos. Em primeiro lugar,
agradeço a todos os professores, colegas e demais profissionais do Programa de Pós-Graduação
em Sociologia desta universidade.
Agradeço ao meu orientador, professor Hidelberto, que desde o início acreditou no meu
projeto e na minha capacidade. Ainda que não fosse sua área de pesquisa, tão pouco minha área
de formação, juntos construímos este trabalho. Em curtos encontro e largas discussões por e-
mail, ele me deu todo o suporte necessário para que a pesquisa fosse desenvolvida. Não posso
deixar de citar a professora Marilene, que em mais de uma oportunidade contribuiu com este
trabalho e se mostrou confiante em mim.
Agradeço à banca, composta pelos professores Francisco e Gislaine, que prontamente
aceitaram ao convite e tanto contribuíram para que o trabalho se aperfeiçoasse.
Agradeço ao Hospital Santa Rosa, na figura da sra. Mara, por autorizar a execução dessa
pesquisa. Alongo este agradecimento à Juliana, Karina e Rosangela, que se colocaram à
disposição para me ajudar, além de todos os sujeitos que participaram desta pesquisa.
Agradeço aos meus amigos e familiares que compreenderam minhas ausências e minhas
mudanças. Em especial, agradeço à minha mãe e aos meus irmãos, Soraya, Thômaz e Nathália,
que nunca pouparam amor e carinho, dando todo o suporte para que eu concluísse esta etapa.
Razões do meu ser, não existem palavras que expressem minha gratidão por existirem em minha
vida.
Estendo, ainda, um agradecimento específico à minha mãe de coração, Dorit, que desde
o início dessa caminhada me apoiou, me preparando para o processo seletivo e me
acompanhando ao longo desta jornada. Como mãe postiça e grande exemplo acadêmico, me
inspirou a chegar aqui.
Por fim e enfim, agradeço ao meu esposo, Thiago, por tanta coisa que este breve espaço
não é capaz de contemplar. Agradeço por divagar comigo em longas conversas filosóficas na
sacada, por me acalmar nos momentos de estresse, por cuidar do almoço enquanto eu escrevia,
por me incentivar a me desconstruir e ir além. Obrigada por ser o melhor parceiro que esta
mestranda poderia ter.
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“Nenhuma sociedade que esquece a arte de
questionar pode esperar encontrar respostas para
os problemas que a afligem”.
Zigmunt Bauman
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RESUMO
Resumo. Esta dissertação tem como tema o estudo “das relações entre diferentes gerações no
locus de trabalho”, sendo o objeto de estudo a Geração Z e as demais gerações. Em vista disso,
o problema que buscamos responder é: se no Hospital Santa Rosa ocorrem conflitos entre a
Geração Z e demais gerações e quais os motivos que levam ao desencadear destes conflitos.
Para isso, o objetivo geral é analisar os motivos dos conflitos entre a Geração Z e as demais no
ambiente de trabalho desenvolvido no Hospital Santa Rosa, localizado em Cuiabá. Já os
objetivos específicos são: identificar os principais pontos de convergências e divergências, no
ambiente de trabalho, entre a Geração Z e as demais gerações; analisar como os valores
comportamentais da Geração Z acabam sendo implicados nas relações sociais no trabalho;
trabalhar as características das relações sociais entre as gerações neste locus; discutir a trajetória
de formação pessoal e profissional das demais gerações que trabalham diretamente com a
Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou não de indivíduos que fazem parte dessa
Geração. A metodologia utilizada é a qualitativa e o procedimento de pesquisa é entrevista
semiestruturada em profundidade. No primeiro capítulo, trabalhamos com categorias que
permeiam as gerações, à luz de autores como Mannheim (1952), Foracchi (1982), Eisenstadt
(1976) e Oliveira (2016), bem como uma leitura histórica das gerações. Discutimos, ainda,
conceitos sobre identidade, habitus e inconsciente, trazendo Hall (2003, 2006), Woodward
(2014), Bourdieu (1983) e Lacan (1998). No segundo capítulo, são trabalhados os conceitos de
modernidade e pós-modernidade, a fim de mostrar nesses períodos históricos as implicações
socioculturarais nos locais de trabalho, em especial, para a Geração Z. Para isso, nos pautamos
em autores como Harvey (2008), Jamerson (1997), Lyotard (2000), Giddens (1991, 2011) e
Bauman (1998, 2001, 2004, 2007, 2011), nos clássicos Marx (s/d) e Durkheim (1999) para
embasar o estudo a respeito das relações de trabalho e Hamel (2009), entre outros, para elucidar
essas relações no tangente à Geração Z. No terceiro capítulo, discutimos os resultados das
entrevistas, mostrando as diferenças e igualdades no comportamento pessoal e profissional das
gerações entrevistadas. Em geral, quase que em sua totalidade e independente da geração, os
entrevistados reconhecem o elogio e o feedback como as mais importantes formas de se
reconhecer um bom profissional – o que vai ao encontro da característica mais citada como a
mais importante em um líder. Ao analisarmos os motivos que geram os conflitos entre esses
indivíduos, em termos rasos, a indisciplina do jovem frente às normas causa inquietação em
seus líderes. Pela visão do jovem, os mais velhos se incomodam quando um indivíduo mais
novo domina mais um assunto e ensina-o. Ainda que as relações se afirmem boas e fluídas, com
espaço para diálogo, feedbacks e perguntas, dois pontos se mostram como origem dos conflitos:
a inversão do processo de transmissão cultural e o questionamento, através do contato original,
dos antigos valores profissionais.
Palavras-chave: Geração Z. Relações sociais. Conflito geracional. Gerações.
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ABSTRACT
Abstract. This dissertation has as its theme the study "of the relations between different
generations in the working locus", being the object of study the Generation Z and the other
generations. In view of this, the problem that we seek to answer is: if in Santa Rosa Hospital
there are conflicts between Generation Z and other generations and what are the reasons that
lead to the unleashing of these conflicts. For this, the general objective is to analyze the reasons
of the conflicts between Generation Z and the others in the work environment developed in the
Santa Rosa Hospital, located in Cuiabá. The specific objectives are: to identify the main points
of convergence and divergence, in the work environment, between Generation Z and the other
generations; to analyze how the behavioral values of Generation Z end up being implicated in
social relations at work; to discuss the characteristics of the social relations between the
generations in this locus; to discuss the personal and professional formation trajectory of the
other generations that work directly with Generation Z and whether this is related to the
acceptance or not of individuals that are part of this Generation. The methodology used is
qualitative and the research procedure is a semi-structured interview in depth. In the first
chapter, we worked with categories that permeate the generations, in the light of authors such
as Mannheim (1952), Foracchi (1982), Eisenstadt (1976) and Oliveira (2016), as well as a
historical reading of the generations. We also discussed concepts about identity, habitus and
unconscious, with Hall (2003, 2006), Woodward (2014), Bourdieu (1983) and Lacan (1998).
In the second chapter, the concepts of modernity and postmodernity were debated in order to
show in these historical periods the socio-cultural implications in the workplaces, especially for
Generation Z. For this, we followed authors such as Harvey (2008), Jamerson (1997), Lyotard
(2000), Giddens (1991, 2011) and Bauman (1998, 2001, 2004, 2007, 2011), in the classics Marx
(s/d) and Durkheim (1999) to support the study of word’s relations and Hamel (2009), among
others, to elucidate these relations about Generation Z. In the third chapter, we discusses the
results of the interviews, showing the differences and equalities in the personal and professional
behavior of these generations. In general, almost in their entirety and independent of generation,
respondents recognize praise and feedback as the most important ways to recognize a good
professional - which meets the most cited characteristic as the most important in a leader.
Analyzing the motives of the conflicts between these individuals, in shallow terms, the youth's
indiscipline towards norms causes restlessness in their leaders. From the young's view, the older
ones are annoyed when a younger individual dominates some subject and teaches it. Although
the relations are good and fluid, with space for dialogue, feedback and questions, two points
appear as the source of the conflicts: the inversion of the process of cultural transmission and
the questioning, through the original contact, of the old professional values.
Key-words: Generation Z. Social relations. Generational conflicts. Generations.
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LISTA DE ABREVIATURAS
AEE - Atendimento Educacional Especializado
CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TA - Termo de Assentimento
ONU - Organização das Nações Unidas
UE - União Europeia
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1. CONCEPÇÕES DE GERAÇÕES .................................................................................... 17
1.1. Histórico do conceito de gerações segundo Mannheim ........................................ 20
1.2. Compreendendo o comportamento das gerações nos contextos sociais .............. 30
1.3. O processo histórico e suas implicações na formação das gerações ........................ 35
1.4. A Geração Z ................................................................................................................. 43
2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA .............................. 46
2.1. A formação do Ser na pós-modernidade ................................................................... 47
2.2. As relações sociais na pós-Modernidade ................................................................... 53
3. RELAÇÕES ENTRE AS GERAÇÕES MODERNAS E PÓS-MODERNA ............. 62
3.1. Análise das entrevistas aos olhos de Mannheim ................................................... 64
3.2. As características de Hamel nos entrevistados ...................................................... 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 84
ANEXOS ................................................................................................................................. 90
ANEXO A ............................................................................................................................ 90
ANEXO B ............................................................................................................................ 93
ANEXO C ............................................................................................................................ 96
ANEXO D ............................................................................................................................ 99
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INTRODUÇÃO
A escolha do objeto deste estudo (formação, características das gerações e conflito entre
elas no local de trabalho) se deu pelas situações vivenciadas por mim dentro do meu ambiente
de trabalho. Por mediar relações através do departamento de recursos humanos de uma empresa
na área da saúde, observei as dificuldades nas relações entre a Geração Z e as gerações mais
velhas. Sendo a problemática das gerações de grande relevância para as Ciências Sociais, optei
pelo mestrado nessa área.
Durante minha Graduação em Administração de Empresas, percebi que precisaria
também estudar conhecimentos que fazem parte do currículo das Ciências Sociais,
principalmente da Sociologia. Para mim, esses conhecimentos seriam fundamentais para
entender melhor o processo histórico que leva à formação das gerações, devido ao cenário atual.
Esse campo de conhecimento, ao meu ver, é o que mais contribui para o entendimento dos
valores, da educação e do processo de formação de regras que orientam os comportamentos das
gerações passadas e das atuais. Para os administradores empresariais e gestores que lidam
diariamente com todos os tipos de pessoas, é importante que entendam os indivíduos com os
quais interagem, sejam seus superiores ou subordinados, colegas, clientes, parceiros ou
fornecedores.
Como percebia divergências e conflitos entre as gerações, busquei leituras sobre o
assunto, a fim de compreender esses sujeitos. Nesse caminho, encontrei muitos estudos a
respeito das gerações X e Y1, principalmente em relação às suas características e aos
comportamentos profissionais. Os textos abordavam tanto os aspectos profissionais (como são
esses profissionais, suas motivações e ambições), quanto os valores desses sujeitos que se
expressam em termos de hábitos de consumo.
Contudo, no contexto atual, outra geração tem sido objeto de atenção: os jovens da
Geração Z2. São estes os novos consumidores e futuros profissionais que estarão no centro das
organizações e que merecem ser conhecidos e entendidos, visto que suas diferenças em relação
às gerações de seus pais exigirão adaptações por parte das empresas – seja no que oferecem aos
“consumidores da Geração Z”, seja no que esperam destes enquanto trabalhadores.
1 Geração X é aquela composta pelos nascidos entre o início dos anos 60 até o final dos anos 70 e a Geração Y é
integrada pelos nascidos entre 1980 até o final dos anos 90 (OLIVEIRA, 2016). 2 A Geração Z é considerada aquela formada pelos nascidos a partir dos anos 2000 até os dias atuais (OLIVEIRA,
2016). Para nós, conforme será exposto no capítulo 1, baseados nas teorias abordadas, entederemos Geração Z
como os nascidos a partir de 1997.
12
Sidnei Oliveira (2012), um estudioso dos conflitos de gerações no Brasil, traz em sua
obra “Gerações” duas características que considera fundamentais e que fazem parte do
comportamento da Geração Z: conectados e relacionais, isto é, os hábitos e comportamentos
desses jovens são relacionais e estão interligados via universo virtual. Para esse autor, isso
acontece porque esses jovens já nascem em um mundo cuja internet é acessível aos
consumidores, que estão amplamente conectados uns aos outros, fazendo pouca questão de se
desligarem desse universo virtual – isso os torna, mais do que seus antecessores, seres
relacionais.
A este respeito, Gary Hamel (2009), especialista em administração de negócios, define
esta população de jovens como sendo a Geração do Facebook, do online, do agora. São pessoas
que, desde muito novas, iniciam suas relações por meio das redes sociais virtuais (Twitter,
Facebook, Instagram, Snapchat, YouTube) e, por isso, são considerados os nativos digitais,
segundo o autor. Ele ainda defende que as empresas não estão preparadas para receber estes
jovens e futuros profissionais, que possuem características muito específicas (as quais
trataremos no referencial teórico) advindas desse contexto virtual de suas relações e, por isto,
Hamel está em pesquisa para descobrir como os gestores deverão lidar com essas peculiaridades
da nova geração profissional.
Nesse sentido, é importante avaliar o contexto social no qual esses indivíduos estão se
formando. Os jovens da Geração Z estão crescendo em um mundo que, na concepção do
sociólogo Zigmunt Bauman (2001), tornou-se um mundo líquido3, atual momento da sociedade.
Ele defende, em diversas obras, que estamos vivendo em uma época de incerteza e de
insegurança, na qual as tradições antigas e laços afetivos deram espaço a um mundo fluído.
Esse contexto de grande volatilidade, vinculado a pais protetores e a anos de estabilidade
econômica, está proporcionando um ambiente favorável para a terceirização do processo de
socialização4 das crianças.
Nessa conjuntura, é necessário que as organizações iniciem um processo visando
conhecer os profissionais que já estão chegando ao mercado de trabalho, em especial a Geração
Z, e, assim, evitar conflitos no local de trabalho com outras gerações. Com base nisso, nossa
pesquisa foi realizada em um hospital (particular) da cidade de Cuiabá-MT, por ter em seu
quadro de funcionários representantes da Geração Z atuando profissionalmente e em interação
3 Para Bauman (2001), o mundo líquido é definido pela sua flexibilidade, falta de instituições rígidas, laços frágeis
e sentimentos voláteis, isto é, uma sociedade mutável e adaptável conforme as pressões sob ela exercidas, assim
como faz um líquido. 4 Processo de transmissão da herança cultural, na definição de Eisenstadt (1976).
13
com as demais gerações, a fim de conhecermos as características desses novos atores sociais e
dos demais profissionais, bem como identificarmos os motivos que levam ao desencadear de
conflitos geracionais nesse ambiente de trabalho.
Por tudo isso, a Sociologia se torna uma importante área de conhecimento para as
organizações: por meio dela, é possível entender os grupos sociais que se interagem, evitando
conflitos desnecessários, provendo o que as pessoas precisam e querem, desenvolvendo talentos
e preparando melhores líderes. Consequentemente, uma pesquisa sobre a Geração Z de Cuiabá
proverá informações significativas para os gestores e proprietários de empresas locais, que,
muito em breve, se já não estão, deverão enfrentar o desafio de se adaptar para receberem esses
profissionais que possuem diferentes características daqueles de outras gerações.
Já no âmbito acadêmico, compreender a Geração Z e seus reflexos no mercado de
trabalho é importante para que registros sobre esses fatos sejam feitos, repensados e
posteriormente repassados, a fim de que os futuros sociólogos, administradores, psicólogos e
afins entendam as mudanças ocorridas ao longo das gerações e os porquês de suas
características. Ademais, pensamos que a interdisciplinaridade pode abrir espaço para pesquisas
de ambas as áreas, Administração e Sociologia, o que se mostra ainda mais interessante para o
universo acadêmico, visto que é isto o proposto neste estudo.
Isso nos levou à leitura Karl Mannheim (1893-1947), um dos primeiros sociólogos a
trabalhar com a categoria gerações, cujas pesquisas resultaram em conceitos como gerações e
unidade geracional, fundamentais para entender os processos comportamentais dos jovens.
Suas experiências de intelectual e judeu perseguido por nazistas o levaram a enveredar por
diversos ideais políticos e assuntos relativos à sociologia da cultura e do conhecimento. Por
isso, Mannheim acreditava ser fundamental a discussão dos assuntos que causassem angústia
às pessoas – para ele, não havia sentido para as Ciências Sociais buscarem respostas às
perguntas que não eram feitas pelos indivíduos (FREIXO, LECCARDI, 2010; SCOTT, 2017).
Dentre as perturbações que Mannheim pesquisou, a questão sociológica das gerações
foi trabalhada em sua obra “The sociological problem of generations” (1952). Abordando
conceitos como grupos concretos, unidade de geração e da própria geração em si (os quais
explicaremos ao longo do capítulo 1), o autor se tornou referência na sociologia clássica quando
o assunto é juventude e gerações (FREIXO, LECCARDI, 2010; SCOTT, 2017).
O senso comum traz a definição de geração baseada apenas no aspecto cronológico, ou
seja, para pertencer à determinada geração basta o indivíduo nascer nas datas pré-estabelecidas
14
por alguns autores contemporâneos5. Entretanto, para a sociologia clássica de Mannheim, essa
definição vai um pouco além do mero detalhe temporal.
A ausência dos pais em casa durante o período fundamental da socialização do indivíduo
(período em que a criança absorve os hábitos culturais e forma, aos poucos, sua identidade6) é
uma realidade contemporânea. Quer seja pela necessidade de trabalho exigida aos profissionais
do mundo moderno, quer seja pela impaciência em educar, ao estarem com suas crianças, esses
adultos atendem aos desejos dos mais novos e evitam as correções necessárias, como forma de
suprir essa falta de convivência efetiva, conforme nos fala Mário Sérgio Cortella (2009) em um
documentário sobre a Geração Z. Sendo assim, grande parte dos jovens dessa geração cresce
na desordem do mundo líquido sem seus principais orientadores por perto7, restando às
próximas formas de inserção social (escola e trabalho) o papel de reguladoras e transmissoras
dos valores sociais.
Em vista disso, Cortella (2016) ressalta que isso acontece devido ao fato desses jovens
já estarem em processo de iniciação da carreira profissional ou já estarem atuando. Nesse
sentido, o que se observa nos primeiros contatos com trabalhadores jovens no ambiente de
trabalho é que nem a família, nem a escola, foram eficientes na transmissão dos valores morais
necessários ao estabelecimento de uma consciência social e, assim, fazer valer a “solidariedade
orgânica” tão defendida por Durkheim. Portanto, os conflitos geracionais8, (ou choque de
gerações) que deveriam acontecer nos primeiros contatos sociais (FORACCHI, 1982), foram
postergados para o último estágio de inserção social – o trabalho.
Se a cooperação é gerada pela divisão do trabalho, como defendia Durkheim, é natural
que os indivíduos que não absorveram a herança cultural nas primeiras formas de inserção
social terão de fazê-la no momento em que permearem o mundo profissional. É nesse ponto
que, tal como o autor, entendemos que o trabalho é fundamental na relação indivíduo-sociedade
na sociedade moderna. Uma vez que os primeiros adultos responsáveis pela transmissão
cultural foram ineficazes nesse processo, as organizações deverão desempenhar tal papel por
meio dos adultos presentes no ambiente de trabalho.
5 Sidney Oliveira (2012, 2016), por exemplo, traz em seu livro “Gerações – Encontros, desencontros e novas
perspectivas” uma tabela estabelecendo as datas de nascimento para cada geração, desde a Belle Époque
(1920/1930) até a Geração Z (2000/2010), junto com algumas características de cada uma. 6 EISENSTADT, 1976. 7 Eisenstadt (1976) defendeu que “a criança deve, necessariamente, aprender seu comportamento segundo o
comportamento de um determinado adulto, mais velho que ela” (EISENSTADT, 1976, p. 06), e que os pais são os
pioneiros nessa transmissão cultural. 8 “O conflito de gerações nada mais seria senão a luta de uma geração com os valores básicos que não sabe ou não
quer preservar” (FORACCHI, 1982, p. 25). Para a autora, a raiz desse tipo de conflito se dá na cobrança de uma
geração mais velha sobre uma mais nova, em relação à “fidelidade” às questões que definiram aquela enquanto
geração.
15
Nesse cenário é que o professor da London Business School, Hamel, iniciou sua pesquisa
sobre as questões profissionais acerca dos indivíduos da Geração Z. Em um artigo publicado
em 2009 no Wall Street Journal, ele defendeu que esta geração exigirá consideráveis adaptações
por parte das organizações e seus gestores, visto que suas particularidades9 entram em conflito
direto com o atual modelo de trabalho. O autor listou doze características desses jovens, que
estão relacionadas à vida profissional.
Isto posto, entendemos que a questão sociológica fundamental, que aparece nesse
contexto, é compreender como se dão as relações de trabalho entre essas gerações, em um
momento de grandes transformações culturais, dentro do ambiente de trabalho.
A partir da minha formação acadêmica e de algumas situações vividas em alguns
ambientes de trabalho, surgiram questionamentos acerca das diferenças entre as gerações e
como elas causam conflitos. Seja em pontos mais paupáveis, como a forma de se vestir e o
linguajar, seja em aspectos intangíveis, como a maneira dinâmica em realizar mais de uma
atividade, o jovem da Geração Z leva para este ambiente características que causam
inquietações em seus colegas pertencentes a outras épocas. Baseando-nos nisso, o problema
desta pesquisa consiste em: se no Hospital Santa Rosa10 ocorrem conflitos entre a Geração Z e
demais gerações e quais os motivos que levam ao desencadear destes conflitos?
Como forma de responder a esse problema da pesquisa, o objetivo geral é analisar os
motivos dos conflitos entre a Geração Z e as demais no ambiente de trabalho desenvolvido no
Hospital Santa Rosa. Já os específicos são: a) Identificar os principais pontos de convergências
e divergências, no ambiente de trabalho, entre a Geração Z e as demais gerações; b) Analisar
como os valores comportamentais da Geração Z acabam sendo implicados nas relações sociais
no trabalho, c) Trabalhar as características das relações sociais entre as gerações neste locus e
d) Discutir a trajetória de formação pessoal e profissional das demais gerações que trabalham
diretamente com a Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou não de indivíduos que
fazem parte dessa Geração.
Para responder ao problema desta pesquisa, bem como atingir aos objetivos geral e
específicos, partimos de uma metodologia qualitativa, visto que se tratam de respostas acerca
dos significados e das percepções dos sujeitos dessas gerações. Como técnica para a coleta de
9 Foracchi (1982) defende que o questionamento incisivo em relação às normas e tradições antigas é a principal
característica da juventude moderna. 10 Segundo o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) de Cuiabá, são quatro os hospitais que têm jovens
dessa geração atuando profissionalmente. Contudo, somente o Hospital Santa Rosa atendeu ao nosso pedido de
autorização para executar a pesquisa.
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dados, utilizamos a entrevista semiestruturada e a executamos com dois grupos diferentes:
primeiro, os jovens da Geração Z e depois com os indivíduos das demais gerações.
Em vista disso, no primeiro capítulo, discutimos conceitos relacionados à problemática
das gerações, trazendo à luz as categorias geração, geração enquanto realidade, situação de
geração, unidade de geração, contato original, grupo concreto, grupo etário e tantas outras
necessárias para uma compreensão clara da pesquisa. Para isso, buscamos relacioná-las ao
processo histórico e como isso interferiu diretamente no comportamento e nos valores morais
das várias gerações que se formaram ao longo desse período.
Feito isso, no segundo capítulo discutimos os conceitos de modernidade e pós-
modernidade, importantes para uma melhor compreensão do objeto de estudo desta pesquisa, a
Geração Z. Para isso, centramos nossa atenção nos principais teóricos que trabalham esses
conceitos. Como já citado, entender o contexto no qual o indivíduo se torna sujeito social é
fundamental para que se compreenda suas motivações e seus comportamentos, de forma a nos
auxiliarem nas respostas de nossos objetivos.
No terceiro capítulo, fazemos a análise do material colhido nas entrevistas, momento
em que aplicamos a metodologia escolhida, bem como buscamos relacioná-la às motivações e
às justificativas para tal, e das técnicas de pesquisa utilizadas. Relacionamos, ainda, as teorias
de Mannheim, expostas no subitem 1.1 e de Hamel, no subitem 2.2, às respostas coletadas nos
questionários socioeconômico e sobre as relações. Em outros dizeres, nesse capítulo analisamos
os significados apreendidos nessas conversas, para que possamos responder ao problema de
nossa pesquisa.
17
1. CONCEPÇÕES DE GERAÇÕES
Este capítulo discute a problemática histórico-social que envolve a formação das
gerações. Para tal, centramos nossa análise nos principais teóricos que trabalham esse tema.
Dedicamos o subitem 1.1 à análise do sociólogo Mannheim, por ser considerado um clássico
deste tipo de estudo: um dos primeiros teóricos a trabalhar com tal temática, é um dos autores
mais citados no que se refere a tal assunto. Dele, partimos para as teorias mais recentes como
as de Hamel e Oliveira. Em vista disso, neste capítulo será apresentada uma análise histórico-
social dos conceitos acerca de gerações, permeando as teorias até chegar à Geração Z, objeto
desta pesquisa.
Assim, se a marca da modernidade era a permanência, ou seja, a temporalidade –
impactando diretamente na durabilidade dos valores morais e nas regras comportamentais –, ao
contrário, a pós-modernidade11, para autores como Harvey (2008), Jamerson (1997) e Lyotard
(2000), se caracteriza como uma época de visíveis e rápidas mudanças que ocorrem na
sociedade. Estas mudanças se dão em múltiplas instâncias como na política, arte, economia,
ciência, técnica, educação, relações humanas, entre outras. Nesse sentido, esses teóricos
caracterizam a pós-modernidade como um processo histórico em que os indivíduos agem mais
pautados pelo desejo, instinto, prazer. Isto é, agem pela “des-razão”, além disso são afeitos ao
individualismo, consumismo, à burla dos valores, são narcisistas ao extremo e não estão
preocupados com o outro.
Para esses autores, a pós-modernidade tem provocado grandes revoluções tecnológicas
que afetaram e continuam afetando diretamente o estilo de vida e as dinâmicas sociais. Exemplo
disso é a tecnologia de informação, que parece nos dar a impressão de que o mundo ficou menor.
Com essa tecnologia, criou-se o telefone móvel, o celular, embrião do pensamento online na
sociedade, dando a impressão que um mesmo indivíduo pode estar em vários lugares e em
movimento, embora distante de um telefone fixo. Assim, bastavam alguns números para que
ele fosse encontrado. A esse respeito, Stabile (1999) afirma que
[...] o pós-modernismo é imprecisamente identificado como uma época
histórica – a sociedade pós-industrial, pós-fordista ou mesmo pós-capitalista
– onde o consumo passou à frente da produção, tornando a luta de classe
(sociedade dividida entre trabalhadores e capitalistas) um conceito obsoleto,
fazendo com que “as pessoas não se identifiquem mais como classe, mas sim,
11 Não há um consenso da data exata que defina a pós-modernidade. Grande parte dos teóricos associa este período
à década de 1980, pelas revoluções sociais que nela ocorreram, em especial a queda do Muro de Berlim (1989),
por sua simbologia de liberdade.
18
através de identidades mais particulares, ou seja, de pequenos grupos”
(STABILE, 1999, p. 147).
É nesse contexto das revoluções tecnológicas que ocorreram grandes mudanças sociais,
que também modificaram valores e acabaram afetando diretamente algumas dinâmicas
comportamentais, os valores individuais e grupos sociais, influenciando diferentes grupos e
instituições, a exemplo, o casamento. A esse respeito, Bauman (2011, 2007, 2004, 2001) afirma
que a legalização jurídica e moral do divórcio trouxe uma extensa facilidade para os indivíduos.
A instituição família também foi alterada em sua essência, gerando discussões a respeito de
seus formatos e suas responsabilidades nesse novo contexto.
Entre os grupos sociais que foram afetados pelas revoluções sociais e tecnológicas,
temos as gerações, foco deste estudo. Esse termo traz divergências em relação ao seu conceito,
já que comumente são classificadas apenas pela idade, ou seja, os indivíduos são separados em
grupos de acordo com suas datas de nascimento. A esse respeito, Sidnei Oliveira (2016) expõe
a seguinte tabela:
TABELA 1 – DIVISÃO CRONOLÓGICA DAS GERAÇÕES
NOME PERÍODO
Nascidos nas décadas CENTRO DA GERAÇÃO
Belle Époque 1920 / 1930 75 anos
Baby Boomers 1940 / 1950 60 anos
Geração X 1960 / 1970 45 anos
Geração Y 1980 / 1990 22 anos
Geração Z 2000 / 2010 10 anos
Fonte: OLIVEIRA (2016, p. 30)
Segundo o autor, essa é a classificação mais disseminada e mais aceita. A problemática
das gerações é de grande relevância nas Ciências Sociais, segundo Mannheim (1952), um dos
primeiros sociológos a estudar essa questão, hoje visto como um clássico dessa problemática.
Mannheim afirma que o conceito mais prudente de geração vai além da data de nascimento.
Os conflitos entre esses grupos, isto é, entre as gerações, merecem a atenção da
academia, uma vez que interferem na dinâmica social. Foracchi12 (1982), ao compartilhar das
ideias de Mannheim (1952), afirma que os conflitos insurgidos entre as gerações decorrem da
12 Marialice Mencarini Foracchi (1929-1972) foi uma importante socióloga brasileira e grande disseminadora das
obras de Mannheim, especialmente no que tange o assunto juventude, gerações e movimentos juvenis (nota sobre
a autora no livro “Mannheim”, coleção “Grandes Cientistas Sociais”, 1982).
19
transmissão da herança cultural. Outro autor considerado clássico da Sociologia da Juventude
é Eisenstadt13 (1976), que também defende um olhar minucioso sobre o encontro desses
diferentes grupos etários, da estrutura social, bem como dos valores e das tradições – valores
que só podem ser transmitidos se a criança recebê-los de um adulto.
Um dos problemas que apare ao se estudar a problemática da gerações é a questão
social. Por isso, além dos estudos dos autores anteriormente apresentados, podemos citar, ainda,
os de Durkheim (1999). Considerado um dos fundadores da Sociologia, que levanta a questão
a respeito da inserção social no trabalho como um “último estágio” deste processo, este autor
entende que os primeiros contatos sociais dos indivíduos são realizados pela família nuclear,
tese também defendida por outros pesquisadores que discutem o tema.
Entretanto, autores contemporâneos que estudam os jovens, como Cortella (2009),
consideram que os primeiros conflitos geracionais, que deveriam ocorrer na família e na escola,
são postergados, a ponto de serem desencadeados no local de trabalho. Assim, resta a este
ambiente a função de transmissor cultural, ou seja, buscar adequar os jovens às perspectivas da
lógica capitalista.
Ao falarmos de geração, não podemos deixar de lado a perspectiva de Mannheim, para
quem é fundamental nos distanciarmos do pré-conceito cronológico (exclusivamente). Nesse
sentido, para pertencer a uma mesma geração, os indivíduos nascidos no mesmo período, devem
vivenciar a mesma realidade histórico-social, assim como processam o ritmo biológico da vida
humana (FORACCHI, 1982). Ainda pensando nesse universo, é importante que façamos uma
diferenciação entre situação de geração e geração enquanto realidade, pois, mesmo pertencendo
à mesma situação de geração, dois indivíduos podem não partilhar da mesma geração enquanto
realidade.
Ao trabalhar o fenômeno sociológico das gerações, Mannheim entende que isso é uma
questão inerente à cultura, visto que o curso da história humana se dá de forma contínua e as
tradições só puderam ser registradas e repassadas uma vez que existiam grupos mais novos que
as recebiam e as entregavam aos próximos “novos nascidos” (FORACCHI, 1982;
MANNHEIM, 1974). No entanto, é evidente que, ao entrar em contato com determinado
aspecto cultural, cada indivíduo, apesar de pertencer a mesma geração, processa mentalmente
esses dados com base em suas estruturas psíquicas. Logo, as mudanças de gerações são
fundamentais para que exista, de fato, um processo de transformação na herança sociocultural
13 Schmuel Eisenstadt (1923-2010).
20
a ser disseminada de geração em geração – caso contrário, “qualquer padrão social fundamental
(atitude ou tendência individual) provavelmente se perpetuaria” (FORACCHI, 1982, p. 75).
Eisenstadt esmiúça a questão sociológica das gerações enquanto grupos etários em sua
obra “De geração em geração” (1976), discutindo, ainda, a importância da transmissão da
herança cultural por meio das gerações. Ao longo de seu livro, o sociólogo mostra a importância
dos grupos etários na constituição da estrutura social e destaca que alguns papéis sociais são,
necessariamente, exercidos pelos atores que pertencem a determinado grupo etário. Em sua
concepção, defende, ainda, que a convivência de indivíduos de diferentes idades é essencial
para que os papéis desempenhados pelos mais velhos14 sejam ensinados aos mais jovens
enquanto processo formativo.
Baseada em Eisenstadt (1976), Foracchi (1972), outra estudiosa da problemática das
gerações no Brasil, também defende que os jovens devem aprender com os adultos e que os
pais são os primeiros responsáveis pela transmissão dos costumes e valores para o indivíduo
(FORACCHI, 1972). Ou seja, é na família nuclear15 que a criança absorve as primeiras
atividades que dela serão exigidas enquanto indivíduo social e aprende a lidar com frustrações
e gratificações da vida social (FORACCHI, 1972). Os agentes sociais encontram sua primeira
forma de identificação nos adultos (pais ou, na ausência, os responsáveis) com os quais
estabelecem os primeiros laços afetivos – Eisenstadt enfatiza a importância do amor
paterno/materno enquanto primeiro modo de gratificação pelas lições compreendidas pela
criança durante o processo de incorporação da cultura (EISENSTADT, 1976).
1.1. Histórico do conceito de gerações segundo Mannheim
Mannheim afirma que a compreensão do conceito de geração é fundamental para o
entendimento dos movimentos intelectuais e sociais. Para ele, uma geração é definida por um
grupo de indivíduos que é exposto aos mesmos processos histórico-sociais enquanto partilha
do mesmo ritmo biológico. Evidente que Mannheim (1952) não dispensava a validação das
idades, uma vez que estas estão diretamente ligadas ao ritmo biológico, mas não somente este
é capaz de resolver o conceito. Para o autor, era importante compreender os processos histórico-
sociais, visto que estes afetavam diretamente a vida dos indivíduos em camadas mais profundas
14 Para a concepção de mais velhos, Foracchi usa o termo adultos. 15 Por “família nuclear”, os autores Eisenstadt e Foracchi endentem como sendo a família formada pelos pais e
filhos.
21
do seu ethos16. Em sua principal obra sobre o assunto17, ele trabalhou outras categorias que são
indispensáveis para as discussões sobre gerações.
Os grupos concretos são aqueles formados por indivíduos que compartilham dos
mesmos objetivos específicos, de forma que há consciências destes. Esses grupos podem ser
constituídos por vínculos de proximidade, definidos como “grupos comunitários”
(Gemeinschaftsgebilde), como é o caso da família. Outra possiblidade são os grupos formados
por indivíduos que possuem laços racionais, chamados de “grupos associativos”
(Gesellschaftsgebilde), tendo como exemplo a seita (MANNHEIM, 1952). Olhando por esse
aspecto, as gerações não são grupos concretos por si só, mas podem vir a constituir como tais
em casos específicos, como será tratado mais adiante.
Mannheim (1952) comparava a categoria “geração” à “posição de classe”
(Klassenlage), ou seja, uma série de atos e valores transmitidos, quer pela educação, quer pela
convivência, e que vai desenhando na mente dos indivíduos pertencentes aos grupos suas
formas de se comportar e agir. Ao tomar como exemplo a posição de classe, Mannheim leva
em consideração a “situação” (Lagerung) que determinado grupo de indivíduos ocupa na
estrutura social (nos termos econômicos e de poder), carregando consigo a consciência das
possibilidades e das pressões advindas dessa posição, ainda que o indivíduo não queira ou aceite
ser parte daquele grupo. Da mesma forma, as gerações também são grupos que ocupam certas
“situações” na estrutura social, mas não nas tangentes econômicas e de poder, como ocorre com
a posição de classe.
A situação (social) da geração envolve a posição que certo grupo possuí frente aos
processos histórico-sociais, juntamente aos processos biológicos da vida humana (vida, morte,
envelhecimento):
A situação da geração está baseada na existência de um período limitado de
vida, e o envelhecimento. Os indivíduos que pertencem à mesma geração, que
nasceram no mesmo ano, são dotados, nessa medida, de uma situação comum
na dimensão histórica do processo social (MANNHEIM, 1952, p. 71, grifo
nosso).
Assim, para Mannheim, o fator cronológico por si só não é capaz de definir uma geração,
uma vez que não leva em consideração a interação social entre os indivíduos e a continuidade
histórica da estrutura social, fatores fundamentais para o entendimento de uma dinâmica social.
16 Para sociologia, ethos é o conjunto de comportamentos e hábitos atribuídos à traços em níveis mais profundos
dos costumes de uma sociedade. Aristóteles (citado por SPINELLI, 2009, p. 10) tomou o termo ethos acerca de
“uma sabedoria ancestral, edificada no tempo”. 17 The sociological problem of generations (1952).
22
Em vista disso, pertencer à mesma geração é proporcionar aos indivíduos o
compartilhamento da mesma situação (social) frente aos processos histórico-sociais, de tal
forma que os restringe a determinadas vivências e os pré-dispõe a um certo tipo de pensamento
e de ação (MANNHEIM, 1952). Exemplo disso é a geração dos nascidos no período do Regime
Militar no Brasil (1964-1985), que vivenciou crescer em um ambiente socialmente censurado,
sob risco de severas punições em caso de “descumprimento da ordem”. Por isso, é natural que,
certos grupos, sejam indivíduos que valorizem a disciplina, que pensem e ajam de forma
disciplinada. Essa é a “tendência inerente” que Mannheim (1952) entende como parte de uma
situação social – “qualquer situação dada, então, exclui um grande número de modos possíveis
de pensamento, experiência, sentimento e ação, e restringe o campo de auto-expressão aberto
ao indivíduo a certas possibilidades circunscritas” (MANNHEIM, 1952, p. 72).
Os acontecimentos histórico-sociais fazem parte da vida de qualquer indivíduo de
determinada sociedade, porém, a absorção dessas experiências será diferente para cada um, se
considerarmos as situações vividas. Tomando o Regime Militar como exemplo, é fato que as
experiências vividas pelos jovens nesse período eram diferentes dos mais velhos. Nesse sentido,
há de se levar em consideração que os valores da juventude em cada época são, inerentemente,
a rebeldia e o questionamento (FORACCHI, 1972), e, portanto, aqueles que passaram por tal
fase durante um período de grande repressão social, assimilaram o Regime Militar de forma
diferente de seus pais e avós, adultos à época.
Com base nas experiências dos jovens, Mannheim (1952) levanta cinco características
fundamentais de uma sociedade que convive, em sua dinâmica, com o fenômeno das gerações.
Para esse autor, o que se percebe nesse tipo de sociedade é que:
a) novos participantes do processo cultural estão surgindo enquanto;
b) antigos participantes daquele processo estão continuamente desaparecendo;
c) os membros de qualquer uma das gerações apenas podem participar de uma
seção temporalmente limitada do processo histórico,
d) é necessário, portanto, transmitir continuamente a herança cultural
acumulada e;
e) a transição de uma para outra geração é um processo contínuo
(MANNHEIM, 1952, p. 74).
O primeiro item refere-se ao nascimento de novos indivíduos como o ponto de partida
para o entendimento do processo. Isso esclarece que a cultura não é transmitida pelos mesmos
sujeitos sociais ao longo da história, há constantemente o surgimento de novos grupos etários
nesse processo.
23
Com o nascimento de novos indivíduos, a forma com a qual estes entram em contato
com a herança cultural varia, inclusive pelo conteúdo pertencente à cultura de cada época. Isso
implica dizer que o contato original18, quando ocorre, muda de acordo com o momento histórico
em que acontece, de maneira que os sujeitos elaborem tal conteúdo de maneiras distintas, bem
como o modifiquem de diferentes formas (MANNHEIM, 1952).
O contato original é fundamental no processo de mudança social quando um indivíduo
é forçado a sair do grupo social e a entrar em um novo. Um dos entrevistados, por exemplo,
mudou-se para Cuiabá por circunstâncias decorrentes de seu trabalho e teve que se adaptar à
cultura local, deixando algumas essências de sua origem paranaense para trás.
No caso das gerações, para Mannheim, diferentemente de contextos individuais,
trabalha-se o contato original não como acontecimento da vida individual, mas sim a entrada
de novos sujeitos no processo histórico-cultural em um novo contexto. Isso os obriga a repensar
seus antigos valores e modos de agir. Ou seja, os contatos originais, se pensarmos em termos
de fundamentação antropológica, são os próprios novos indivíduos em que o estranho tem que
se tornar familiar e o familiar que se tornar estranho. Assim, Mannheim expôs dois tipos de
contatos originais: o primeiro refere-se a uma mudança nas relações sociais, enquanto o
segundo – mais radical – ao estar implicado em fatores vitais leva a mudanças de uma geração
para outra.
Nesse sentido, a entrada de um novo participante no processo cultural dialeticamente
traz consigo uma nova ação em relação à herança cultural que está sendo transmitida para ele
(MANNHEIM, 1952). Voltando ao exemplo dos indivíduos que foram jovens durante a
Ditadura Militar no Brasil, parte deles recebeu de seus pais a herança da disciplina enquanto
comportamento necessário para o estabelecimento da ordem e, concordando ou não, executava-
a, haja vista as consequências que poderia sofrer. Porém, ao repassarem para seus filhos essa
ideia, e estes, por sua vez, ao vivenciarem uma juventude em uma época tão sui generis, reagiam
de forma diferente à tentativa de imposição de tal herança.
Historicamente, as mudanças comportamentais que ocorrem entre as gerações são partes
de processos sociais que visam garantir a existência do contato original por razões biológicas
(do nascimento). Ao mesmo tempo, permite que a diversidade cultural provoque nessas
gerações o desencadear de novos valores morais e formas de agir nesses indivíduos e, assim,
evita a perpetuação de padrões sociais. Isso para Mannheim, significa que:
18 Define-se contato original como “encontrar alguma coisa de modo novo” (MANNHEIM, 1952, p. 74). Em
outras palavras, é o primeiro contato de um indivíduo ou grupo de indivíduos com algum padrão de
comportamento. No caso da problemática das gerações, trata-se de novos indivíduos no contexto histórico.
24
Se o processo cultural sempre fosse conduzido e desenvolvido pelos mesmos
indivíduos, [...] qualquer padrão social fundamental (atitude ou tendência
individual) provavelmente se perpetuaria – o que, em si, é uma vantagem, mas
não se considerarmos os perigos resultantes da unilateralidade (MANNHEIM,
1952, p. 75).
É evidente que o contato de novos indivíduos com a herança cultural que lhes é
transmitida, vai aos poucos sendo modificada. Isto é um processo natural do ser humano, que
gera certa “perda” nos padrões comportamentais acumulados, sendo outros incorporados.
Contudo, esse mecanismo possibilita que as sociedades aprendam e desejem novos padrões,
bem como esqueçam aqueles que não são mais necessários nos novos contextos histórico-
sociais (MANNHEIM, 1952).
O segundo fator fundamental das gerações é oposto ao primeiro: enquanto este trata do
surgimento de novos indivíduos no processo de transmissão cultural, aquele trabalha o
constante desaparecimento dos participantes anteriores. Assim, se um é necessário para que os
sujeitos aprendam novos padrões, o outro é importante para que os antigos valores morais se
tornem recordações (MANNHEIM, 1952).
Mannheim (1952) mostra que há duas formas dessas recordações se tornarem parte do
comportamento presente. Ou seja, é quando “todos os dados psíquicos e culturais apenas
existem realmente na medida em que são produzidos e reproduzidos no presente: daí a
experiência somente ser relevante ao ser concretamente incorporada ao presente”
(MANNHEIM, 1952, p. 76).
O primeiro modo está estruturado na consciência tendo por base acontecimentos
reconhecidos pela memória humana e que permitem aos indivíduos organizarem suas novas
ações conforme os ensinamentos registrados e assimilados. Exemplo disso são os novos
profissionais contratados de uma organização, que costumam se moldar conforme o
comportamento daqueles que estão há mais tempo nesse ambiente.
A segunda forma consiste naquilo que Mannheim (1952) definiu como “padrões
inconscientemente ‘condensados’, meramente ‘implícitos’ ou ‘virtuais’”. Pierre Bourdieu19
(1983) definiu os comportamentos incorporados à vida dos indivíduos de habitus. Para esse
autor, habitus são aqueles padrões que se aprende e se executa sem tomar consciência das
motivações e das origens. A respeito do conceito de habitus, o autor define como
[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas
as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de
19 Pierre Bourdieu (1930-2002).
25
percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de
tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de
esquemas que permitem resolver os problemas da mesma forma, às correções
incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidas por esses
resultados (BOURDIEU, 1983, p. 65).
Por outro lado, Sigmund Freud20, pesquisador da Psicanálise e reconhecido
mundialmente por levantar questões a respeito do inconsciente humano, defendia que o
indivíduo é capaz de registrar conteúdos de acontecimentos reais diretamente na parte
inconsciente de sua memória e usá-lo como base para futuros comportamentos. Assim como
Freud, Mannheim (1952) mostrou ser possível que o indivíduo, de forma inconsciente,
selecione os dados memorizados nessa parte da memória e converta-os em ações.
No processo de transmissão cultural, os comportamentos “condensados” são repassados
de forma inconsciente e somente se tornarão conscientes no momento em que os contatos
originais demandarem uma reflexão por parte do indivíduo, ou seja
Estamos diretamente conscientes, em primeiro lugar, daqueles aspectos da
nossa cultura que se tornaram passíveis de reflexão; estes abrangem apenas
aqueles elementos que durante o desenvolvimento se tornaram, de algum
modo, problemáticos (MANNHEIM, 1952, p. 77).
No entanto, Mannheim vai além ao expor que mesmo aqueles padrões que emergiram à
consciência e foram problematizados podem retornar “a uma região intocada e não-
problemática de vida vegetativa”.
A medida que o indivíduo envelhece, novas experiências tomam conta de sua
consciência, submergindo as antigas à inconsciência. As memórias que ele adquiriu
pessoalmente, convertem-se em padrões de comportamentos cada vez mais condensados. Para
que esses padrões sejam questionados, sofram reflexão e sejam alterados por novas experiências
convertidas em novos padrões condensados, é fundamental para as gerações que este indivíduo
desapareça e um novo nasça – o constante devir da realidade.
O terceiro fato fundamental às gerações trata de um ponto que envolve os dois
supracitados: os sujeitos de qualquer geração só podem participar de uma parte
cronologicamente limitada do processo histórico-social. Isso implica dizer que justamente pelo
desaparecer de antigos indivíduos e aparecer de novos, nenhum deles poderá presenciar todos
os acontecimentos da sociedade – seja por motivos de situação geográfica ou pelos processos
biológicos. Como já citado, o jovem que vivenciou a ditadura de maneira diferente do velho
não só pelo ritmo biológico, mas também pelos níveis que se tinha de consciência, por exemplo,
20 Sigmund Freud (1856-1939).
26
quando ocorreu o golpe pela tomada do poder – alguns jovens não haviam nascido, logo não
presenciaram tal acontecimento. Da mesma forma, ao fim do Regime, alguns indivíduos não
estavam mais vivos e, portanto, não vivenciaram o encerramento daquele governo.
Nesse terceiro fato, para melhor ser compreendido, necessitamos dos conceitos de
“situação similar” e “estratificação da experiência” (Erlebnisschichtung). Estar “situado
similarmente” significa dizer que os indivíduos estão “numa posição para experienciar os
mesmos acontecimentos e dados, etc” (MANNHEIM, 1952, p. 79-80) e possam partilhar da
“mesma” consciência estratificada. Em outras palavras, os jovens brasileiros das décadas de
1970 e 1980 não compartilharam uma “situação similar” com os jovens do México, pois ser
cronologicamente contemporâneo não significa, necessariamente, processar os mesmos
acontecimentos histórico-sociais de forma parecida – é por isso que definir uma geração apenas
com base no ano de nascimento é demasiado vago para compreende-la.
É importante ressaltar que para que exista uma situação que seja determinante para a
constituição de uma geração, não se pode esquecer o fator biológico (juventude e velhice),
somado aos processos históricos. É evidente que as experiências dialeticamente acumuladas
pelos indivíduos mais velhos de uma sociedade os farão absorver os novos eventos históricos
diferentemente dos sujeitos que possuem pouca bagagem inconsciente, por exemplo.
O quarto fator diz respeito ao processo de transmissão cultural, fundamental às
gerações. É importante para este fator que indivíduos nasçam e morram, compondo diferentes
“situações similares”, resultando numa somatória de experiências importantes para que os
padrões não se perpetuem, que sejam questionados e modificados ao serem repassados pelas
gerações.
Uma vez que nenhuma geração é eterna, há a constante necessidade de se transmitir a
cultura para as novas gerações, para que ela não fique sem referência. Para Mannheim, os mais
velhos transmitem de forma automática aos novos indivíduos “modos tradicionais de vida,
sentimentos e atitudes” (MANNHEIM, 1952, p. 81) e isso faz parte da vida em sociedade. Há,
evidentemente, os conteúdos conscientemente transmitidos, mas assim como Freud, Mannheim
defendia que a memória inconsciente que se transmite é a mais importante na formação do ser.
Devido a isso as experiências que ocorrem na infância tendem-se a cristalizar-se como “a visão
natural de mundo” – e por isso Freud afirmava que as fases da primeira infância construiriam
as primeiras estruturas da personalidade do indivíduo (CARVALHO, 2018).
Essas experiências são assimiladas sem que o indivíduo as questione. Por estar em
formação, a consciência demora a trazer para si algumas questões e problematiza-las, o que,
27
segundo Mannheim (1952), costuma ocorrer por volta dos 17 anos – momento em que inicia a
“experimentação pessoal com a vida” (MANNHEIM, 1952 p. 82).
Para Foracchi (1972), a juventude tem por si a essência da rebeldia. É inerente a esse
grupo etário questionar atitudes cristalizadas na sociedade e trazer ideias que coloquem em
movimento a estrutura social. Assim, as gerações estão em uma constante troca: os mais velhos
ensinam os mais jovens e vice-versa.
O quinto e último fator fundamental às gerações diz respeito a transição que
continuamente ocorre entre elas. Entre os mais jovens e os mais velhos há uma geração
“intermediária”, responsável socialmente por mediar a transição (MANNHEIM, 1952). Logo,
quanto mais dinâmica for uma sociedade, maior será a interação entre os grupos etários e mais:
a recepção das influências dos novos indivíduos passa a ser mais flexível por parte das gerações
mais antigas. Exemplo das tecnologias que, em uma sociedade pós-moderna altamente
dinâmica como a atual, são intensamente utilizadas por indivíduos que, até a fase adulta, não
imaginavam trocar fotos em tempo real com pessoas situadas em qualquer lugar do globo.
Situados em relação aos fenômenos fundamentais às gerações, é necessário que alguns
conceitos sejam esclarecidos para que a leitura histórica das gerações (próximo subitem) se
desenhe de forma coerente. Isso porque uma geração não pode ser considerada geração
unicamente pelo fator cronológico, ou seja, pelo ano de nascimento comum dos indivíduos,
como já dito anteriormente. No entanto, dentro do universo geracional, existem níveis de
proximidade entre sujeitos pertencentes a um mesmo grupo geracional.
Por isso, de acordo com Mannheim (1952) e Foracchi (1972), o conceito de “situação
de geração” é extremamente importante por se tratar da problemática do compartilhamento de
um mesmo fato. Ou seja, é crucial que os indivíduos também estejam situados na mesma região
histórica e cultural. Isso implica dizer que os jovens nascidos na década de 1980 nos Estados
Unidos não partilharam da mesma situação de geração que os jovens nascidos na mesma época,
porém no México – historicamente, os anos e grandes acontecimentos mundiais são os mesmos,
contudo, a cultura é completamente diferente, trazendo consigo, por exemplo, habitus
diferentes.
Outro conceito de fundamental importância nessa análise diz a respeito à concepção de
gerações concebidas enquanto realidade. Nesse sentido, para que um grupo se constitua como
tal, é necessário a concretude da “participação no destino comum dessa unidade histórica e
social” (MANNHEIM, 1952, p. 85-86). Em outras palavras, para que os indivíduos constituam
tal grupo, é preciso que não só a unidade histórica e cultural seja partilhada, como também eles
28
estejam expostos ao que Mannheim (1952) chamou de “sintomas sociais e intelectuais de um
processo de desestabilização dinâmica”.
Voltando ao exemplo dos jovens da década de 1980 no México, todos eles partilhavam
a mesma situação enquanto geração, por estarem situados histórica e culturalmente na mesma
região. Entretanto, os jovens que residiam em grandes centros urbanos vivenciaram
acontecimentos políticos e sociais de forma diferente dos jovens que residiam no campo.
Continuando essa linha de raciocínio, é possível imaginar que, então, o último nível de
entrelaçamento geracional é a geração enquanto realidade, onde o vínculo concreto existe
graças à exposição aos sintomas sociais. Dessa forma, todos os jovens, hoje, são do mesmo
grupo geracional – de fato, sim. Contudo, Mannheim (1952) explorou mais um conceito, o de
unidade de geração, a fim de mostrar os vínculos entre os sujeitos sociais quando ainda mais
estreitos.
Mannheim (1952) entende por unidade de geração o grupo em que os indivíduos
compartilham não só da mesma situação histórica, cultural e social, mas também quando
elaboram suas experiências obtidas através dessas exposições de forma comum. Por isso o
vínculo entre esses grupos se torna mais forte: é através desses dados mentais comuns que os
sujeitos se socializam e se aproximam. Vale salientar neste ponto que a unidade de geração não
é um grupo que se situa geograficamente no mesmo local, mas sim que compartilham dos
mesmos significados – principalmente no momento atual, que a internet faz esse papel de
encurtar distâncias geográficas. Em outras palavras, é possível que um jovem mato-grossense
partilhe da mesma unidade de geração, por exemplo, se suas compreensões políticas
equivalerem às de um jovem paulistano – desde que a situação histórica, cultural e social sejam
as mesmas.
As unidades de geração não são um grupo concreto, elas apenas nascem de um. Ou
seja, é possível que os jovens exemplificados anteriormente sejam filiados ao mesmo partido
político (grupo concreto), de onde suas ideias políticas fomentaram e, tão logo, ambos
pertencem a mesma unidade de geração. Assim, ainda que o partido deixe de existir enquanto
grupo concreto, os dois jovens podem continuar a partilhar da mesma unidade de geração, se
seus ideais políticos ainda forem os mesmos.
Trazendo para a realidade objeto de nossa pesquisa, os jovens aprendizes que trabalham
no hospital estudado constituem um grupo concreto, do tipo associativo, já que partilham dos
mesmos objetivos, isto é, trabalhar por necessidade. Ao partilharem da mesma situação
histórica, cultural e social, também pertencem à mesma unidade de geração. Por outro lado, os
29
adultos que trabalham pelo mesmo motivo, ainda que convivam com esse grupo de jovens, não
se enquadram na mesma unidade de geração.
É evidente que diferentes grupos etários partilhem das mesmas ideias, como, no
exemplo usado, as políticas. Podem, inclusive, participarem do mesmo partido político.
Contudo, uma vez que suas situações históricas e sociais são diferentes, além do ritmo
biológico, não é possível categorizá-los como pertencentes a mesma unidade de geração.
Portanto, só podem constituir tal grupo aqueles indivíduos que já pertençam a mesma situação
de geração e, ainda assim, também constituam um grupo concreto – a exemplo, o partido
político.
No entanto, o ritmo acelerado de mudanças sociais e culturais trazidos pelo avanço da
tecnologia alterou atitudes básicas responsáveis por processar os impulsos coletivos de um
grupo, fazendo com que a maneira de integrar à consciência os dados históricos mudasse.
Mannheim (1952) afirmava que esse fato é considerado como “realização das potencialidades”,
isto é
Como resultado de uma aceleração no ritmo de transformação social e
cultural, as atitudes básicas precisam se modificar tão rapidamente que a
adaptação e modificação latente e contínua dos padrões tradicionais de
experiência, pensamento e expressão deixa de ser possível, fazendo então com
que as várias fases novas de experiência sejam consolidadas em alguma outra
situação [de geração], formando um novo impulso claramente distinto e um
novo centro de configuração (MANNHEIM, 1952, p. 92).
Para esse Mannheim, isso resulta um “novo estilo de geração ou de uma nova enteléquia
de geração” (MANNHEIM, 1952, p. 92). Explicando melhor, o contato original com as
tecnologias de informação como a internet, por exemplo, se deu em diversos momentos para
diferentes grupos etários, sendo alguns desde a primeira infância e outros ao fim da vida. Assim,
uma unidade de geração pode se perceber enquanto tal, de forma consciente, executando
atitudes similares – como é o caso do Movimento de Associações Estudantis, primeira metade
do século XIX, ou produzir suas ideias de forma inconsciente, ainda que iguais, porém sem se
perceberem como uma unidade de geração.
Isso tudo significa que quanto mais rapidamente uma sociedade se transforma, maiores
serão as diferenças de atitudes e de comportamentos entre as gerações, fazendo com que o
choque entre elas seja cada vez maior. No caso de comunidades que não são tão afetadas por
essas mudanças aceleradas, não há uma distinção de ações tão evidente, portanto, o choque é
menor. Não quer dizer que não sejam diferentes entre si, mas o ritmo lento faz com que as novas
gerações se modifiquem de forma mais contínua, sem uma ruptura brutal.
30
Uma vez que os grupos etários acabam por estarem muito próximos cronologicamente,
fazer uma distinção clara e objetiva é tão complexo quanto. Desta forma, ao não se perceberem
como um grupo com enteléquias originais, esses indivíduos se aproximam de outros grupos –
mais velhos ou mais novos – que já tenham desenvolvido uma forma satisfatória de agir em
determinadas situações. A medida em que isso ocorre, os impulsos e tendências de uma geração
tendem a se esconderem às sombras daquelas da geração mais velha ou mais nova cuja
associação foi feita.
Ainda de acordo com Mannheim (1952), experiências cruciais de grupo podem agir
como “agentes cristalizadores”, fato que é característico da vida cultural, uma vez que
elementos considerados desvinculados do contexto dos jovens são sempre atraídos por
configurações mais aperfeiçoadas, mesmo quando o impulso tateante e informe difere em
muitos aspectos da configuração que o atrai. Deste modo, os impulsos e tendências peculiares
a uma geração podem permanecer obscuros em razão da existência da forma definida de outra
geração à qual eles se vincularam.
Compreender que o ritmo de mudanças políticas, culturais e sociais das gerações não
precisa ser paralelo ao ritmo biológico é fundamental para que o pesquisador das gerações não
cometa o equívoco de determinar comportamentos brutalmente divergentes, pois não é decisivo
que cada geração possua todos os impulsos opostos aos da anterior.
1.2. Compreendendo o comportamento das gerações nos contextos sociais
Marialice Foracchi, assim como Mannheim, considerou de extrema importância o
estudo histórico dos fatores políticos, culturais e sociais para que se analisasse uma geração,
pois entendia que o fator biológico por si só não era determinante para as mudanças
comportamentais. Nesse sentido, Mannheim considerava um grande equívoco investigar o
comportamento dos jovens apenas sob o ponto de vista da abordagem naturalista do ritmo
biológico da vida, optando somente por uma análise cronológica dos nascimentos para
determinar o comportamento humano. Em vista disso, esses teóricos defendiam que o fator
biológico por si só proporciona a possibilidade de uma proximidade nos comportamentos (ou
enteléquias) das gerações, mas é a estrutura política, cultural e social a responsável por dar
respostas consistentes a respeito das gerações ao pesquisador.
Nesse sentido, compreender as identidades coletivas é essencial para se entender as
gerações. Para Kathryn Woodward (2014), a problemática da identidade se dá pela diferença:
o indivíduo, além de ser o que é, é também aquilo que não é, em outras palavras, para ser
31
brasileiro, o sujeito não é mexicano. Portanto, ao ser considerado da geração X21, por exemplo,
o indivíduo não é da geração Y – seja em função de seus padrões de comportamento, seja pela
adesão ao grupo etário ao qual pertence. Ao realizar afirmações acerca de identidade,
Woodward (2014) toma como ponto crucial em suas pesquisas a mesma análise de grupos que
Mannheim (1952) e Foracchi (1972) fizeram em suas averiguações, ou seja, a investigação
histórica.
Contudo, vale ressaltar que antes de entrar nesse debate, Woodward considera
fundamental esclarecer a concepção de identidade, e o faz dizendo a noção de identidades está
associada ao circuito da cultura, uma problemática que foi também objeto de pesquisas de
pesquisadores como: Paul du Gay, Stuart Hall, Linda Janes, Hugh Mackay e Keith Negus,
citados por Woodward (2014), conforme figura a seguir.
Figura 1 – O circuito da cultura, segundo du Gay et al (1997)
Fonte: SILVA; HALL; WOODWARD (2014)
Com base nessa concepção, Woodward (2014) afirma que a representação como
significação/sistemas simbólicos, é um processo cultural, o qual é responsável pela construção
de identidades individuais e coletivas. Woodward (2014) e Hall (1997) defendem a ideia de que
para compreender os sistemas de representação, “é necessário analisar a relação entre cultura e
significado” e que, para tal entendimento, é preciso ter “ideia sobre quais posições-de-sujeito
eles produzem e como nós, como sujeitos, podemos ser posicionados em seu interior”
(WOODWARD, 2014, p. 17).
Essas representações, sem nos darmos conta, muitas vezes se introjeta no imaginário
como ideologia, como é o caso da influência da cultura norte-americana na década de 1970, no
21 Seguiremos nesta dissertação as nomenclaturas de gerações conforme exposto na tabela de Sidney Oliveira
(2016), contudo, faremos uma classificação conforme os acontecimentos históricos ocorridos no Brasil – assunto
do próximo subitem.
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Brasil. A influência da cultura americana estava arraigada em diversos aspectos daquela
sociedade, mesmo assim, foi aceita e incorporada à brasileira sem as devidas críticas aos
impactos que ela provocaria na vida dos brasileiros. As propagandas de produtos que faziam
parte do consumo da sociedade Norte-Americana, como a Coca-Cola, eram amplamente
disseminadas nos televisores brasileiros, a tal ponto da Banda Musical Legião Urbana lançar a
música Geração Coca-Cola (1984)22, na qual descreve características de uma geração que teve
sua adolescência fortemente influenciada pela cultura dos Estados Unidos23. Assim, os
indivíduos foram marcados e tiveram, em parte, suas identidades “construídas” sob os
significados produzidos pela mídia24 da época.
Em outros dizeres, é com essa perspectiva histórico-social que a canção de Renato
Russo e Dado Villa-Lobos ganha sentido: os sujeitos daquela geração (Coca-Cola) se percebiam
através das propagandas enquanto um determinado grupo com aqueles comportamentos ditados
nos anúncios. Ou, como era o caso dos autores da letra, se sentiam diferentes justamente por
não se identificarem com aquele grupo (marcação da identidade coletiva pela diferença, como
já debatido por nós através da afirmação de Woodward).
A característica mais constante da juventude de acordo com Foracchi (1972) e Oliveira,
(2016), é a rebeldia e, quando não o é, busca aproximar-se de quem rompa com o tradicional.
Ser jovem implica em ser rebelde e questionar os padrões culturais que os mais velhos buscam
transmitir. No mundo contemporâneo, essas mudanças ocorrem com frequência e criam novos
comportamentos, de forma a gerar um novo grupo de indivíduos que compartilhem desses
mesmos novos comportamentos – as gerações.
No contexto da globalização, Woodward (2014), assim como Giddens (1991), afirma
que a “crise de identidade” é um debate em alta. Isso porque a globalização trouxe o passageiro,
isto é, aquilo que tem curta durabilidade, o que alguns sociólogos definem como pós-moderno.
Nesse sentido, a pós-modernidade trouxe uma série de mudanças culturais e sociais, situação
que, de acordo com Woodward (2014, citando ROBINS, 1997) e Bauman (1998, 2001), é
resultado dos questionamentos da sociedade moderna em relação às antigas estruturas do
estado, da sociedade, das tradições, e das instituições) que entraram em colapso. Essas
identidades, uma vez questionadas, sob o efeito da globalização, se tornam mais homogêneas e
22 Escrita por Dado Villa-Lobos (1965-) e Renato Russo (1960-1996). 23 Análise feita pelos alunos da Universidade de Brasília, Amanda Camylla e Thiago Dornelles (2010), disponível
no site http://historiadoraprendiz.blogspot.com. 24 Um tipo de sistema simbólico, segundo Bourdieu (1983).
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distantes das identidades locais (comunidade). Assim, a busca pelas certezas antigas,
constituídas no passado, é uma maneira de reafirmar tais identidades das gerações.
Em vista disso, Woodward defende a tese de que o passado é, de fato, fundamental na
construção e afirmação da identidade, seja coletiva ou individual, pois é nele que, ao questionar
os aspectos dela no presente, buscaremos as respostas. Novamente, a investigação histórica da
cultura e da sociedade é de grande importância para o fenômeno das gerações, pois uma vez
que não somos capazes de “conhecer todas aquelas pessoas que partilham de nossa identidade
nacional, devemos ter uma ideia partilhada sobre aquilo que a constitui” (WOODWARD, 2014,
p. 24). O mesmo ocorre com as gerações, daí a necessidade compreensão dos processos
históricos, tão fundamentais para a identificação do sujeito enquanto parte de uma situação de
geração, como Mannheim (1952) defendia. Bauman (2001) afirma que a modernidade líquida
é um tempo de incerteza e de fluidez, sendo assim, a busca pelo passado, real ou não, é capaz
de proporcionar alguma segurança em relação a identidade, seja ela individual ou coletiva.
Hall (2003) afirma que o sujeito sempre fala “a partir de uma posição histórica e cultural
específica”. Para ele, há duas formas diferentes de se pensar identidade cultural: a primeira é a
busca de um grupo social pela verdade de seu passado único e partilhado e a segunda, é a
constante transformação do passado, fazendo da identidade uma questão de “ser” e tornar-se”
– isto é, questionando a identidade, a reconstruímos.
Esse sociólogo defende que a segunda forma era mais coerente, visto que a realidade é
um constante devir e, portanto, a identidade não é fixa, é fluída (tornar-se, como dizia). Na
mesma linha de pensamento, Mannheim (1952) e Eisenstadt (1976) também defendiam que as
heranças culturais sofrem modificações e constituem novos significados para as novas gerações
(grupos etários).
Para Bourdieu (1983) e Goffman (2009), os diferentes campos sociais nos quais estamos
inseridos, exigem de nós representações de diferentes papéis sociais. Ainda que tenhamos a
(falsa) ideia de que somos os mesmos indivíduos em todos os momentos, Hall (1997) afirmava
que somos posicionados de diferentes formas, conforme a ocasião ou lugar. Já para Woodward
(2014) e Bourdieu (1983), como cada campo demanda diferentes recursos (capitais) simbólicos,
o indivíduo utiliza com maior ênfase aqueles que forem mais valiosos em determinado campo
A vida pós-moderna apresenta, constantemente, novas possibilidades, com base nas
mudanças econômicas (foco na produção de serviços, mulheres no mercado de trabalho),
sociais (elevadas taxas de divórcio, lares chefiados por mães ou pais solteiros) e culturais
(pluralidade de gênero e religiosa). Porém, ao assumir as diferentes identidades sociais que nos
são demandadas, Woodward (2014) afirma que elas podem entrar em conflito, por exemplo,
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como ser uma mãe presente o dia todo e ser um sujeito assalariado. Há, ainda, os conflitos entre
a identidade escolhida pelo sujeito e as normas sociais – espera-se, socialmente, que as mães
sejam heterossexuais e divergir desse padrão pode ser considerado como “desviante”.
Os novos movimentos sociais esbarraram nas questões de identidade uma vez que
buscaram a liberdade para determinados grupos. Para Woodward (2014), esses fatos emergiram
no ocidente nos anos 60 e questionaram fatores como as lealdades políticas baseadas nas classes
sociais e atravessaram para o contexto das identidades particulares. Esses movimentos
propiciaram aos indivíduos uma liberdade cada vez maior para construir sua própria identidade,
independente do que a construção social lhes impõe.
Ao pensar no particular, é inevitável trazer os psicanalistas Freud e Lacan. O sujeito
inicia a construção da sua identidade a partir da internalização das visões exteriores que ele tem
de si mesmo, principalmente no que Lacan (1998) nomeou de estádio do espelho. Ocorrendo
na primeira infância (até os 18 meses), o indivíduo tem a primeira compreensão de
subjetividade ao perceber-se como um ser distinto de sua mãe. Ao afirmar isso, Lacan
complementa que o sujeito constrói sua identidade a partir de um contínuo processo de
identificação com o exterior – ele procura constantemente se compreender por meio de sistemas
simbólicos e se identificar com as formas pela qual é visto pelos outros (externos ao “eu”
interior).
Para Oliveira (2016), os conflitos entre as gerações nascem no momento em que os
comportamentos se chocam. Evidente, os interesses e as prioridades mudam conforme o ritmo
biológico acontece e é por isso que a identidade do grupo vai se transformando à medida que o
tempo passa – os indivíduos passam por diferentes ciclos ao longo da vida, nos quais habitam
campos diferentes, compartilham de relacionamentos diferentes e buscam objetivos diferentes.
“Um ciclo é um acontecimento com duração mensurável e etapas definidas de início e,
principalmente, de fim” (OLIVEIRA, 2016, p. 64).
Para o autor acima citado, o ser humano passa por três ciclos, baseados nos seus
interesses. O primeiro deles ocorre desde o nascimento, quando o principal objetivo do sujeito
é adquirir habilidades novas, que sustentem sua sobrevivência, como reclamar por alimento
(choro), buscar pelo alimento (caminhar) e se comunicar (falar). Até final dos anos 70, era nos
primeiros vinte anos de vida que o indivíduo investia toda sua energia física e mental em
adquirir conhecimentos novos e, no caso do jovem, principalmente aqueles advindos das novas
experiências. Ele se desenvolvia enquanto sujeito individual e coletivo, usando a comunicação
aprendida (língua materna e outras, por exemplo) para se relacionar com outros indivíduos e,
naturalmente, se aproximar daqueles que buscam os mesmos objetivos. Esse ciclo tem seu auge
35
na metade da vida do indivíduo – cerca de trinta e cinco anos, quando a expectativa de vida era
de sessenta e cinco anos.
O segundo ciclo envolve as consequências das escolhas feitas na primeira fase do ciclo
anterior (OLIVEIRA, 2016). O sujeito passa a assumir as responsabilidades de suas escolhas e
começa a desenvolver a maturidade para se tornar um ser independente de seus tutores. Esse
ciclo, que tinha seu auge aos quarenta anos, em média, prepara o indivíduo para os riscos de
suas atitudes e cristaliza na consciência as consequências de suas escolhas, de forma que ele
passa a criar um arsenal de experiências conscientes e inconscientes que o ajudarão nas futuras
decisões.
O terceiro e último ciclo nasce no auge dos primeiros dois e alcança sua plenitude na
última década de vida, que era por volta dos cinquenta anos, quando as experiências
cristalizadas na psique orientarão o indivíduo a decidir formas de aproveitar os recursos
adquiridos e a medir suas escolhas. Após dimensionar tudo o que já aprendeu, o sujeito
direciona sua energia física para o aproveitamento do que conquistou até então. O declínio desse
ciclo vem, justamente, com o declínio da energia física – que, em termos cronológicos, ocorre
com a proximidade da morte.
Enfim, Oliveira (2016) afirma que com a melhoria na qualidade dos serviços de saúde
oferecidos, rede de saneamento básico expandida e as novas opções de tratamentos para
patologias crônicas, a expectativa de vida do ser humano aumentou cerca de trinta anos
(OLIVEIRA, 2016). As gerações Baby Boomers e X passaram a vislumbrar uma vida acima de
setenta anos, podendo permanecer no trabalho por mais tempo e, consequentemente, manter
sua juventude, em quesitos materiais, por mais tempo – a aquisição de novas e mais completas
tecnologias é o principal exemplo (OLIVEIRA, 2016). Isso levou a uma prolongação dos ciclos
descritos anteriormente, cujos, no passado, se encerravam aos sessenta e cinco anos, expectativa
máxima de vida. Contudo, a consequência desse processo acarretou em uma prorrogação do
segundo ciclo para os filhos daquelas gerações, os jovens da geração Y – e as mudanças na
forma de relação entre os grupos etários foram significativas (BAUMAN, 2011).
1.3. O processo histórico e suas implicações na formação das gerações
Como colocado anteriormente, as gerações são comumente divididas por suas décadas
de nascimento (tabela 1, página 18), contudo, para a sociologia do desenvolvimento, são os
processos históricos que separam umas das outras. Para fins metodológicos, a Geração Z, objeto
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de nosso estudo, é constituída por jovens que nasceram a partir de 1997, ano em que a internet
se tornou acessível para os consumidores finais25. De acordo com Sidnei Oliveira, “a internet é
um marco definitivo no comportamento global da sociedade e, certamente, a principal
ferramenta de transposição de comportamentos entre os diversos países e culturas”
(OLIVEIRA, 2016, p. 38). No entanto, antes de trabalharmos o contexto dessa tecnologia, é
fundamental que façamos uma análise da historicidade das gerações passadas e como essas
participaram do processo de transmissão cultural.
Começamos pela classificação proposta por Oliveira (2016), na qual este teórico
qualifica a primeira como Geração Belle Époque, aquela em que os jovens teriam nascidos entre
1920 e 1939. O grande acontecimento dessa época foi a Primeira Guerra Mundial, iniciada em
1914. Como neste estudo entendemos ser importante demarcar os períodos de formação das
gerações com base em acontecimentos históricos, indivíduos que nasceram entre o início da
Primeira e da Segunda Guerra serão considerados desta geração.
Nesse período, nasceram aqueles que seriam responsáveis por repovoar o país após os
grandes conflitos mundiais, os quais dizimaram grande parte da população. Em meio aos
acontecimentos globais, o Brasil também viveu uma série de embates internos: a Revolta do
Forte (1922), uma revolta militar causada pelo descontentamento destes com o monopólio
político pelas oligarquias (os grandes fazendeiros da política “café-com-leite”), a derrota do
Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914)26 e as fraudes eleitorais corridas na República Velha.
Eles objetivavam o fim desse sistema e, dois anos depois, inspiraram a Coluna Prestes (1924),
outra revolta militar – a cultura militar tinha grande influência nestes jovens.
Com a ida dos homens às Guerras, as mulheres tiveram que assumir suas posições de
trabalho, fosse para sustentar a família, fosse para manter os negócios (RIBEIRO, JESUS,
2016). O que era para ser temporário, tornou-se uma necessidade constante: os homens
voltaram mutilados e as mulheres passaram a se dividir entre as responsabilidades domésticas
e as fora de casa. Contudo, as condições de emprego feminino eram muito aquém do que se
conhece hoje e elas apenas exerciam profissões com a finalidade de suprir as necessidades
financeiras da família caso seus maridos não tivessem condições (RIBEIRO, JESUS, 2016).
Ao assumir a presidência27 em 1930, Getúlio Vargas (1930-1945) faz uma série de
mudanças nas leis, inclusive, na trabalhista. Nesse sentido, uma das primeiras medidas de seu
25 DIANA, Daniela Toda Matéria. História da Internet. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/historia-
da-internet. Acesso em 20/08/2017. 26 O Marechal Hermes da Fonseca Fonseca (1855-1923) perdeu a eleição, em 1914, para Venceslau Brás (1914-
1918), representante das oligarquias. 27 Período da história brasileira conhecido como Era Vargas, entre 1930 e 1945.
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governo foi à criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1943. No que diz
respeito à legislação dessas questões, Vargas cria o Ministério do Trabalho (1931), institui o
voto universal, secreto e também o feminino (1932), além de regulamentar o trabalho feminino,
ainda que com ressalvas, na promulgação a Segunda Constituição da República (1934). Nesse
mesmo ano, Vargas é reeleito indiretamente e, em 1937, em parceria com junto aos militares,
efetivaram o primeiro golpe militar, dissolvendo o congresso e os partidos políticos,
implantando a Ditadura Vargas.
É fundamental compreender que os indivíduos da Geração Belle Époque passaram por
acontecimentos importantes, em especial, as grandes guerras mundiais, períodos ditatoriais, que
impactaram diretamente de maneira psicológica na construção de suas personalidades.
Mannheim (1952) afirma que é justamente a forma como eles absorvem esses processos
históricos e os elaboram em suas consciências, de maneira comum, que os torna parte de uma
mesma geração. Portanto, comportamentos como o casamento precoce e a criação de famílias
com muitos filhos são intrínsecos desses indivíduos.
Após a Geração Belle Époque, surge a Geração Baby Boomers, cuja Oliveira (2016)
afirma ser constituída por indivíduos nascidos entre as décadas de 1940 e 1950. Após quinze
anos do fim da Primeira Guerra, inicia-se, na Alemanha, uma perseguição aos judeus, que
acarretou no que ficou conhecido por holocausto28, iniciando uma grande migração destes pelo
mundo. Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em praticamente sua metade
(1942), o Brasil entra no conflito, declarando guerra à Alemanha e Itália.
Quando se fala em guerra, é importante compreender que, por mais distante que o
indivíduo esteja daquela realidade, ela tem impactos decisivos na vida das populações, afetando
substancialmente o contexto do qual participa. Em períodos de guerras, as forças armadas
enviam tropas para as áreas de conflitos e nesse processo muitas mortes são inevitáveis. Com
isso, muitas famílias perdem seus parentes e, por vezes, essas mortes acarretam em déficits nas
populações de muitas cidades e/ou comunidades. Além disso, a economia de diversos países
envolvidos nos conflitos se voltam para produzir os recursos necessários para garantir que as
forças armadas executem suas funções. Isso também gera uma perda de parte ou da totalidade
das reservas financeiras e acúmulo de dívidas públicas dos envolvidos nesses conflitos, ainda
que os efeitos não sejam tão imediatos, logo eles estarão sendo sentidos no dia-a-dia dos
cidadãos.
28 Holocausto diz respeito ao extermínio de milhões de judeus (um genocídio), organizado de forma sistemática e
patrocinado pelo Estado Nazista, comandado por Adolf Hitler (1889-1945).
38
No Brasil, ao fim da Segunda Guerra, ocorreu a deposição de Getúlio Vargas, após um
Golpe Militar, chegando ao fim a Era Vargas. Com sua queda, sobe ao poder o General Eurico
Gaspar Dutra, eleito presidente do Brasil para o período 1946-1951, com a promulgação da
quarta Constituição do país. No exterior, iniciava-se a Guerra Fria, período marcado pelas
constantes disputas entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviética
(URSS) pela hegemonia mundial. Este período também ficou conhecido pela disputa entre o
bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos e o bloco socialista liderado pela URSS – essa
disputa influenciou no comportamento de várias gerações, inclusive pelas histórias em
quadrinho que circulavam na maior parte do mundo, na qual o herói era americano e o vilão,
era o socialista. Em decorrência dessa disputa internacional, no Brasil, Dutra decreta, em 1947,
a extinção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), elevando a tensão política no país.
Nas eleições presidenciais de 1950, Getúlio (1951-1954) foi eleito pelo povo e retorna
à presidência, fruto das atitudes adotadas por ele em seu primeiro mandato, como a instituição
da CLT. Contudo, a instabilidade política de Getúlio fora aumentando em decorrência das
corrupções reveladas, e apesar do apoio popular, os militares iniciaram uma manobra para a
deposição do mesmo. Em 1954, Vargas comete suicídio, após uma grande pressão de políticos
e militares para que ele renunciasse.
Em 1955, Juscelino Kubitchek (1956-1961) fora eleito presidente e, assim, inicia-se seu
plano de construção de Brasília, para a retirada da capital do país do Rio de Janeiro. Em 1961,
Jânio Quadros (1961) assume em janeiro e renuncia em agosto, fazendo com que seu vice, João
Goulart (1961-1964), assumisse, gerando um desconforto nas Forças Armadas e agravando
ainda mais a instabilidade política do país.
Esse cenário confuso e conflituoso levou à instituição do sistema parlamentarista como
uma moeda de negociação com os militares, para que Goulart pudesse assumir a presidência.
Ele tentou instituir reformas, porém, os militares faziam forte oposição às suas medidas. Essas
divergências políticas acarretaram em uma considerável instabilidade econômica do país. Em
1963, por exemplo, a inflação chegou a 73,5%. Indivíduos que, nesse período, realizavam
compras de suprimentos para suas famílias, por exemplo, passaram a estocar alimentos, com
medo dos futuros preços (OLIVEIRA, 2016). Aqueles que passavam por sua primeira infância,
guardavam em seus inconscientes a lembrança de seus pais organizando a dispensa com muitos
produtos.
Em decorrência de tudo isso é que Oliveira (2016) define a Geração X, considerando os
indivíduos nascidos nas décadas de 1960 e 1970. No entanto, há de se ressaltar que na década
de 1960, iniciavam-se os “anos rebeldes”, momento em que os então jovens da Geração Baby
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Boomers passaram a contestar a cultura militar, discutir a diversidade social e as famílias
iniciadas por eles quiseram ser diferentes. É nesse processo que vai ocorrer, em 1964, o Golpe
Militar no país. Desde então, os direitos políticos foram suspensos, dando início à Ditadura
Militar29 no Brasil. Disso, podemos afirmar que se os jovens da Geração Baby Boomers tinham
suas personalidades formadas tendo como referencias os conflitos internacionais, os sujeitos da
Geração X cresceriam em um cenário com muita censura e ordem militar, constituindo seres
com aspectos disciplinares muito enraizados em que o medo era evidente (OLIVEIRA, 2016).
Como parte das práticas disciplinares do Regime Militar, o General e Presidente
Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967), determinou a cassação de líderes políticos
como Jânio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubitchek e extinguiu todos os partidos,
decretando o bipartidarismo. Em vista disso, apenas dois partidos foram tidos como legais: a
Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao governo e Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), a oposição. Castelo Branco tomara medidas para conter a inflação e o
pagamento das dívidas exteriores do país, que afetaram apoiadores do golpe e causou
descontentamento.
Durante o do Regime Militar, o General Humberto de Alencar Castelo Branco foi
substituído pelo General Artur da Costa e Silva (1967-1969). Este encarregou-se de endurecer
ainda mais o controle militar sobre a sociedade ao promulgar uma nova constituição, que
permitia uma repressão ainda maior contra os opositores do Regime. É nesse contexto que é
decretado o Ato Institucional nº. 5, que concedia plenos poderes ao Presidente por tempo
indeterminado.
Com eleições suspensas, as revoltas se instituíam nas ruas e os civis clamavam por seus
direitos, principalmente de liberdade. O governo militar respondia agressivamente, com
prisões, torturas e ainda mais censuras. Os indivíduos que passavam pela infância nesse período,
cristalizavam comportamentos de disciplina e por vezes não obtinham explicações dos motivos
pelos quais eram reprimidos (OLIVEIRA, 2016).
Oliveira (2016) afirma que os sujeitos da Geração X tiveram que amadurecer cedo, pois
as falhas poderiam implicar em graves consequências. Na escola, precisavam de boas notas e
foram estimulados a trabalhar desde cedo – seja ajudando os pais no pequeno negócio, seja
buscando sustento para se manter próximo a uma universidade e conquistar o diploma de ensino
superior (OLIVEIRA, 2016).
29 O período da Ditadura Militar se entendeu entre 1964 a 1985.
40
Ainda segundo esse autor, quando estes indivíduos alcançaram a vida adulta, o regime
ditatorial havia terminado, contudo a instabilidade econômica persistia. Com a inflação diária
no governo de José Sarney (1985-1990) nos anos seguintes à queda da ditadura, os sujeitos da
geração X começavam a replicar o comportamento de seus pais: as compras de suprimentos
eram grandes, a disciplina econômica era fundamental e economizar era imprescindível.
Foram anos de reestabelecimento e a intensa influência da política e do capitalismo
americano no Brasil fazia com que o ritmo acelerado do desenvolvimento fosse indispensável.
Assim, esses indivíduos compreenderam a necessidade do trabalho. Evidentemente, eles
passaram a gozar dos frutos de suas profissões e buscaram se dedicar ao máximo para prover
condições melhores para suas famílias – escolas particulares para seus filhos, uma casa em um
bairro seguro para seus esposos (as).
A década de 1970 trouxe significativas alterações nas dinâmicas familiares (RIBEIRO,
JESUS, 2016). Com a necessidade de aumentar a renda familiar e garantir estabilidade
econômica, além de suprir as demandas de consumo (influência capitalista americana), as
mulheres entraram no mercado de trabalho formal. As mulheres da Geração X foram
estimuladas, desde novas, a exercerem uma profissão.
Visto que os esposos estavam em processo de trabalho também, a educação de seus
filhos fora terceirizada. Aquelas que tinham condição, passaram os cuidados maternos para uma
outra mulher, contratada, ou para a escola particular. Outras, passaram para o parente mais
próximo ou para a creche da rede pública.
Apesar das dificuldades, essa geração de mulheres decidiu se profissionalizar,
melhorando suas qualificações através dos estudos. Diferente das mulheres das épocas de
guerra, essa geração entrou para disputar com os homens e não para substituí-los. Assim,
comportamentos como a postergação do casamento e da maternidade são encontrados nesses
indivíduos, que passaram a priorizar as carreiras profissionais.
Para Oliveira (2016), esses jovens foram criados com muita disciplina e “replicavam”
(e ainda replicam) isso no ambiente de trabalho. Para eles, se dedicar a empresa e “vestir sua
camisa” é fundamental para uma carreira bem-sucedida, galgando posições cada vez mais altas
na hierarquia empresarial. Ser pontual, cumprir a carga horária e, por vezes, excedê-la, não
confrontar o chefe e executar suas ordens são características desse grupo etário. Uma vez que
queriam prover o melhor para seus filhos, ser um workaholic30 era necessário.
30 Do inglês: viciado em trabalho; trabalhador compulsivo.
41
Sobre a problemática temporal das gerações, Oliveira (2016) afirma que os indivíduos
da Geração Y são aqueles nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Se ainda nos anos de 1980
eram sentidos os impactos decorrentes da Ditadura, isso foi sendo amenizado a partir de 1985,
ao fim do Regime Militar, quando a inflação chegou a mais de 200% ao ano.
Consequentemente, aqueles indivíduos que nasceram a partir de 1986 não conviveram com um
regime cuja marca era a intensa censura. Apesar da instabilidade econômica, eles tinham mais
liberdade – a mulher já estava no mercado de trabalho, o sistema de eleições estava se
regularizando e os direitos civis começam a voltar. Em 1989, ocorreu a primeira eleição pós-
ditadura, elegendo Fernando Collor (1990-1992) como presidente.
Por terem sofrido com o Regime Militar, a desordem política e econômica, os pais dos
indivíduos da geração Y optaram por facilitar o mundo para estes (OLIVEIRA, 2016). Em
relação aos três ciclos já explicados anteriormente, a partir dos anos noventa do século passado,
ocorreu uma antecipação e um prolongamento do ciclo do aproveitamento para estes sujeitos,
que passaram a gozar dos recursos conquistados por seus pais antes mesmo de tê-los
(OLIVEIRA, 2016).
A televisão já era uma realidade desde da década de 1950, estando cada vez mais
presente nas casas de muitos, a partir dos anos noventa praticamente se estendeu a todas a
residências trazendo todos os tipos de informações. Essa tecnologia trouxe consigo um
comportamento social típico do capitalismo – o consumismo. Segundo o Instituto Nacional de
Geografia e Estatística (IBGE), num estudo publicado em 2010, 56,10% dos domicílios tinham
uma televisão em 1980.
De acordo com Oliveira (2016), com esse dispositivo tecnológico, as indústrias
passaram a instigar o consumismo através dos comerciais. As crianças da geração X que
cresceram com uma televisão à disposição, foram doutrinadas com anúncios que diziam que
bastava querer para conseguirem. Contudo, a economia da época não permitia que seus pais
não esquecessem suas bicicletas Caloi31. As propagandas durante a ditadura passaram uma
imagem equivocada do milagre econômico, pois, ainda que a taxa de crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) chegasse a 14%32, as diferenças microeconômicas se atenuavam.
Sendo assim, ao se tornarem pais, aqueles que sofreram durante os anos de Ditadura
Militar por não receberem dos seus próprios pais o que queriam, desejaram proporcionar isso a
seus filhos – e isso gerou uma série de comportamentos nos jovens da Geração Y.
31 Referência à campanha publicitária da marca de bicicletas Caloi, que marcou a época, por disseminar o slogan
“Não esqueça a minha Caloi”. 32 Fonte: Apêndice Estatístico em Giambiagi et. All (2005) citado por Veloso, Villela e Giambiagi (2008).
42
Para Oliveira (2016), grande parte dos jovens pertencentes a Geração Y cresceu com
seus pais trabalhando em período integral fora de casa, indo para escola desde cedo e sendo
criados por terceiros. Uma alternativa encontrada pelos pais para superar suas ausências, foi dar
presentes e, dessa forma, acabaram estimulando seus filhos ao consumismo. Ao recompensar
os filhos com presentes ou facilidades – quartos individuais, mais de uma televisão na casa,
vídeo game, outras coisas, esses pais geraram filhos que não conseguem enfrentar as
dificuldades do dia a dia.
Ainda de acordo com Oliveira, (2016), por estarem no mercado de trabalho e, ao mesmo
tempo, ausentes em grande parte do dia da presença dos filhos, os pais passaram a perceber um
aumento na competitividade e decidiram que seus filhos precisariam estar preparados em
diversas alternativas de conseguir possíveis empregos. Por isso, investiram nos estudos como a
graduação, a pós-graduação, o inglês como segundo idioma, entre outros.
Desde cedo, esses pais apostaram suas expectativas nos indivíduos da Geração Y, para
que estes trabalhassem mais e em melhores empregos, conquistassem mais recursos e tivessem
melhores condições de vida. Contudo, o conflito entre as expectativas dos pais e as facilidades
com que proviam as exigências de seus filhos acabaram causando nestes, atualmente já adultos,
a ansiedade. Com esta, a angústia e/ou a depressão também emergiram nesses indivíduos, já
que não conseguem enfrentar as dificuldades que lhes aparecem.
Em outros dizeres, Oliveira (2016), descreve a Geração Y como aquela constituída por
indivíduos altamente ansiosos e inconstantes. Para esse autor, os pais destes incentivavam os
filhos a estudar com a finalidade de adquirirem recursos financeiros para terem o que aqueles
não tiveram e ainda poderem prover condições ainda melhores para seus filhos. Entretanto, ao
proporcionarem facilidades como bens materiais em forma de recompensa por suas ausências,
os pais contribuíram para o desencadear de conflitos internos, isto é, a massiva ansiedade nesses
indivíduos.
A modernidade revolucionou muitas coisas, em especial, as tecnologias da informação
– o que nos trouxe à pós-modernidade. Neste período, a abundância de informações, que nem
sempre passam pelo crivo da pesquisa, faz-se verdade para os indivíduos. Isso nos evidencia
que a inserção da internet no dia-a-dia das pessoas foi decisiva para mudanças no
comportamento dos indivíduos de várias gerações, principalmente daqueles que nasceram em
um mundo já dominado por essa tecnologia.
43
A partir de 1997, com a internet acessível ao consumidor final33, foi possível o
rompimento das barreiras. O acesso às informações entre classes sociais, fez com que a classe
trabalhadora também tivesse acesso a uma série de informações que antes era privilégio das
classes dominantes – assim como a televisão à sua época, a internet passou a ser um sonho e
logo ficou acessível para a maioria dos brasileiros (OLIVEIRA, 2016). Como já citado, para
fins desse trabalho, consideramos a Geração Z os nascidos a partir desse marco histórico,
portanto:
TABELA 2 – GERAÇÕES POR ACONTECIMENTO
NOME ACONTECIMENTOS
Belle Époque Primeira Guerra a Segunda
Guerra
Baby Boomers Segunda Guerra a Golpe
Militar
Geração X Ditadura Militar
Geração Y Pós-ditadura à massificação
da internet
Geração Z Massificação da internet
Fonte: Desenvolvida pelos autores.
1.4. A Geração Z
Pode-se afirmar que os indivíduos da Geração Z nasceram em um mundo considerado
por muitos teóricos como pós-moderno34, um contexto em constantes e aceleradas mudanças.
Decorrentes do avanço das tecnologias, tem-se a impressão de que o mundo ficou menor e essas
mudanças acabam interferindo diretamente nos valores e comportamentos dos indivíduos.
Nesse processo, sendo as sociedades repletas de tecnologias acessíveis a grande maioria de suas
populações, seus gestores acharam por bem institucionalizar direitos relacionados ao uso de
33 Até então, era um recurso de grandes companhias e do governo. 34 O termo “pós-modernismo” é definido por David Harvey (2008) como uma “condição histórico-geográfica” que
não diretamente oposta ao modernismo, implica na volatilidade de conceitos e rompimento com o antigo, e que se
espanta por sua “total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico” (p. 49), partes da
modernidade.
44
certas tecnologias como computadores e celulares para consulta em salas de aulas. Em muitas
cidades e comunidades, foram instalados pontos de internet em lugares públicos.
Essa impressão de liberdade ao extremo resultou no que Bauman (1998, 2007, 2011)
define como modernidade líquida – momento em que as relações são voláteis, as inseguranças
crescentes e a fluidez do mundo cada vez mais incerta. Com mais de uma geração em cena,
devido ao aumento da expectativa de vida, as gerações passam a disputar, ainda, pelos mesmos
recursos e por espaços semelhantes no ambiente de trabalho. Compreender esse cenário é
fundamental para que se entenda a que circunstâncias se desenvolvem estes indivíduos, quais
suas influências e como seus pais (os primeiros adultos responsáveis por isso) transmitem a
cultura para eles.
Em relação a essa discussão Hall (2006) discute a questão da identidade na pós-
modernidade afirmando que esse período é questionador. Para Harvey e Bauman, os
fundamentos antigos que conceituavam a categoria identidade foram se esvaindo, caindo por
terra. Sabe-se atualmente que a identidade não é imutável, fixa, e não é dada como única –
Goffman (2009) debateu sobre as diferentes identidades que assumimos em diferentes campos.
Evidente, os indivíduos que nascem nesse contexto de fluidez, constituirão identidades distintas
para os campos – e culturas – com os quais interagem.
Nascidos e criados em um mundo volátil, os indivíduos da Geração Z absorveram os
valores da fluidez para si. Bauman (2001, 2011) afirmava que esses princípios estão tão
emaranhados no comportamento desses jovens que diversos aspectos da vida foram
modificados. O exemplo mais trabalhado pelo autor é o casamento, cuja instituição se desfez
da “eternidade” e se substituiu pela praticidade do “ir e vir”. Oliveira (2016) sustenta a
perspectiva de Bauman: o divórcio trouxe os benefícios de se romper o que não era bom,
contudo, o aumento da expectativa de vida fez com que o “até que a morte os separe” não
chegasse tão rápido quanto se pretendia.
Banhados pelas ideias pós-modernas, os indivíduos enquanto pais, transmissores da
cultura, criam seus filhos com uma flexibilidade nunca vista antes e Oliveira (2016), assim
como Bauman (2001, 2011), Cortella (2016) e tantos outros autores contemporâneos atribuem
esse fato à alta disponibilidade do mundo virtual. Era comum que a criança socializasse com
vizinhos e com os colegas de escola, pela proximidade e facilidade, entretanto, a internet
encurtou as distâncias permitindo que as amizades fossem construídas a longos quilômetros.
Oliveira (2016) expõe o lado ruim desse contexto mostrando que a capacidade de se relacionar
face-a-face deixou de ser desenvolvida e colocou os indivíduos em posições de seres mais
“virtualmente sociais”.
45
No passado, a mãe estava presente na maior parte da criação de seus filhos, os quais
absorviam a ideia de normalidade desse contexto, assim como observavam os pais saindo para
trabalhar e retornando ao final do dia – fato que era usado como justificativa para os privilégios
dados aos “homens da casa” (OLIVEIRA, 2016). Com as liberdades advindas das revoluções
modernas, as mães passaram a trabalhar e os filhos se depararam com uma realidade na qual
seu desenvolvimento era guiado por outros indivíduos que não seus pais.
Nascidos em um contexto em que a liberdade é cada vez maior e as minorias
privilegiadas economicamente alcançam mais direitos, os indivíduos da Geração Z têm cada
vez mais acesso a diversas informações também. Oliveira (2012) afirma que ao mesmo tempo
que isso é bom, pois têm conhecimento de assuntos diferentes, culturas distantes e
acontecimento em tempo real, é também perigoso no sentido em que a atenção pode ser dispersa
mais facilmente.
Embora existam pesquisas que discutem as características dessa geração e do tempo em
que ela vive, o ambiente de trabalho ainda é um campo a ser explorado. Oliveira (2016) mostra
que os gestores precisarão se adequar a esses novos profissionais, que chegam tão logo ao
mercado de trabalho e com características fluídas e diferentes de seus antepassados. Hamel
(2009) defende a mesma ideia e, com sua pesquisa, concluiu doze características desses jovens,
que ele classifica como nativos digitais, justamente pela familiaridade que esses têm com o
mundo virtual (as apresentaremos no próximo capítulo).
Em síntese, neste capítulo trabalhamos o processo de formação das gerações e as
principais categorias que envolvem a problemática das gerações, pautados por autores como
Mannheim, Foracchi, Oliveira, Eisenstadt e Hamel. Os conceitos foram expostos de forma a
clarear a visão do leitor para a análise dos processos histórico-sociais que também foram
abordados neste capítulo. Após a elucidação das principais categorias juntamente à
historicidade de cada geração, trabalharemos os conceitos relativos à modernidade e pós-
modernidade, que representam o momento histórico envolto ao nosso objeto de pesquisa e da
categoria relações sociais no trabalho, ambiente no qual executaremos nossa pesquisa. No
capítulo a seguir, vamos trabalhar os impactos provocados pela sociedade pós-moderna na
formação do Ser e nas relações sociais.
46
2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA
A fim de mostrar os impactos que a pós-modernidade tem na formação do jovem da
Geração Z, abordaremos essa categoria como fundamento central deste capítulo. Para tanto,
faremos um diálogo com a modernidade, de forma que possamos construir os impactos
políticos, econômicos e sociais sobre o comportamento dos indivíduos pós-modernos e objetos
deste estudo. Evidente, transcorreremos sobre as implicações decorrentes dos avanços
tecnológico que, ao aproximar gerações e países, faz com que os valores morais e os
comportamentos sejam renovados ou modificados a todo momento.
Partimos da premissa que nosso objeto de pesquisa nasce e cresce em um espaço de
tempo considerado pós-moderno, baseados nos recortes cronológicos como Bauman e Harvey
sobre essa categoria. Em outras palavras, nosso objeto de estudo desenvolve suas relações em
um contexto cuja tecnologia da informação surge e desaparece rapidamente, como jamais visto
antes. Por isso, estenderemos aqui discussões dos conceitos embasados em autores como
Bauman, Giddens e Harvey. Trabalharemos, ainda, a categoria das relações sociais, para que
possamos compreender como elas se dão no ambiente de trabalho pós-moderno.
A fim de entendermos melhor a formação profissional e pessoal da Geração Z, é
fundamental que analisemos a construção histórica do momento em que estes indivíduos
desenvolvem suas identidades. O advento da tecnologia, por exemplo, transformou a vida dos
indivíduos, facilitando postos-chaves da sociedade, como é o caso dos relacionamentos
(BAUMAN, 2001, 2004, 2007, 2011).
De acordo com Bauman, a flexibilidade a que estão submetidos os sujeitos da
modernidade líquida foi vantajosa: aqueles casamentos que se pautavam em agressões físicas e
abusos psicológicos ganharam a oportunidade de “se encerrar”. No entanto, por outro lado, a
facilidade de se obter o divórcio acarretou uma volatilidade das relações: o esforço que se
investia para que funcionasse não era mais necessário e bastava um querer para que tudo
acabasse (BAUMAN, 2001, 2004, 2007, 2011).
Como toda mudança temporal, a modernidade líquida provocou significativas mudanças
nos valores que, até então, eram considerados enraizados na cultura ocidental. Aspectos antes
considerados indiscutíveis, passaram a ser o centro de grandes debates políticos e sociais, como,
por exemplo, a definição de família. A liberdade de expressão e o espaço do mundo virtual
permitiram que pessoas silenciadas por suas posições (sociais ou econômicas) ganhassem voz
e arguissem com os até então dominantes dos espaços de discussões.
47
Para Giddens (1991), a modernidade abalou as estruturas sólidas das sociedades
ocidentais e levantou questionamentos sobre a concretude do passado – mas, como afirma
Bauman (2001, 2011), a liberdade tem seu preço e ela vem com a insegurança. O que antes era
alcançável, não pela disponibilidade, mas pela certeza de quais passos eram necessários para se
alcançar, tornou-se incerto para muitos (BAUMAN, 2001, 2011).
A modernidade foi um momento da História em que ocorreu uma série de mudanças em
relação ao passado. Tomando como referências os estudos de Bauman (2001) e Giddens (1991),
dialeticamente pode-se afirmar que a modernidade guerreou com as tradições antigas e gerou
rupturas bruscas e definitivas – especialmente no tangente às relações sociais, como defende
Bauman (2001).
Nessa perspectiva, a modernidade foi apenas um caminho para a pós-modernidade, onde
os sujeitos passam para uma nova mudança, a aproximação com o individualismo: “A pós-
modernidade, por outro lado, vive num estado de permanente pressão para se despojar de toda
interferência coletiva no destino individual” (BAUMAN, 1998, p. 26).
Ainda que não exista um consenso sobre a cronologia da modernidade e da pós-
modernidade – ou se, de fato, já estamos nesse tempo, uma coisa é fato: o embrião do
individualismo cultuado na era pós-moderna foi gerado na liquefação das relações modernas.
Separar esses tempos é descontinuar uma construção histórica necessária para a compreensão
dos comportamentos pós-modernos.
O paradoxo da modernidade acentua-se na pós-modernidade. A liberdade, a seu próprio
preço, busca estabelecer-se como um valor sólido para os recém-nascidos nesse mundo.
Contudo, a insegurança nada a braçadas ao lado da liberdade, gerando desconforto em
diferentes aspectos da sociedade – o mal-estar que Bauman (1998) defende existir na pós-
modernidade.
2.1. A formação do Ser na pós-modernidade
Existem diferentes datas para demarcar a pós-modernidade, diferindo de autor para
autor. Bauman, por exemplo, demarca esse período como tendo início com a queda do Muro de
Berlim em 1989, justamente pela representação desse evento – a solidez da intolerância vivida
no passado não teria mais espaço nesse novo contexto, a liberdade viria para ficar e a história
teria um recomeço. Para Harvey, é um processo histórico-geográfico, contínuo à modernidade,
que aceitou o “caos” instaurado pelo desabamento dos sólidos antigos, das tradições enraizadas
48
e dos valores até então disseminados, num “processo sem-fim de rupturas e fragmentações
internas no seu próprio interior” (HARVEY, 2008, p. 12).
De fato, datar um contexto torna-se complexo, pois não se trata de uma virada de chave,
mas de um processo que teve início há muito tempo e, por muito tempo ainda, esteve em
construção e disseminação até ser totalmente visível. A modernidade fora assim. Bauman
(2001) e Giddens (1991) trazem em suas obras que a modernidade foi questionadora – para
romper com o antigo isso fora necessário.
Por meio da análise histórica se faz um caminho essencial para a compreensão dos
períodos moderno e pós-moderno. O primeiro teve suas raízes na ruptura com o pensamento
medieval e a ascensão do Modo de Produção Capitalista, momento em a Ciência, isto é, o
conhecimento cientifico, se mostra por meio de muitas descobertas e teorias. Nesse contexto, a
Revolução Industrial ocorrida no Século XVIII trouxe significativas mudanças não só para o
pensamento moderno, como também para a rotina diária dos indivíduos. Mudando-se de uma
produção manufatureira para a industrial, aqueles que não se adaptaram à velocidade das
transformações tecnológica como consequência não conseguiam emprego, portanto, eram
excluídos do mercado de trabalho.
Bauman (2001) mostra que uma das grandes características da modernidade era a
solidez, a permanência das tradições, principalmente em termos de valores. Trouxe à luz o
homem como dono de si, dono de seu destino e não mais Deus. Com isso, estabeleceu-se uma
nova dinâmica entre o ser e o conhecimento. Por outro lado, como bem demonstra Lyotard
(1985), esse período tinha seu esgotamento em si mesmo, levando à formação de um novo
modelo de sociedade, a chamada Pós-Moderna. Contudo, com as revoluções das máquinas e da
informática, a produção do conhecimento foi se transformando em produção de informações –
ou bits (GIDDENS, 1991).
Os resultados disso tudo foram máquinas aperfeiçoadas, e, nesse caso, a concretude do
conhecimento adquirido e sua origem pouco importa, o fundamental é que haja quantidade para
ser disponibilizada na rede. São essas particularidades de um segundo momento da
modernidade, que Bauman (2007) sugere ser a responsável pela liquidez dos tempos modernos.
Liquidez em termos de defasagens das máquinas, uma vez que surgem outras mais eficientes,
com mais potência e capacidade de armazenamento ou produtividade, causando aquilo que
Harvey (2008) denominou de desemprego estrutural. Ou seja, o indivíduo que não acompanha
o avanço do conhecimento é um forte candidato ao desemprego.
Já Giddens (1991) enfatiza a ruptura, por ele denominada de “descontinuidade”, que a
modernidade possibilitou quando comparada aos modos de vida do passado. De forma muito
49
mais rápida que os processos do passado, a modernidade subsumiu as instituições que regiam
a vida até então e deu espaço para novas formas sociais – em que as mudanças são tanto extensas
(mundo global) quanto intensas (transformações no íntimo do ser):
Os modos de vida colocados em ação pela modernidade nos livraram, de uma
forma bastante inédita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto
em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na
modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças
características dos períodos anteriores. No plano da extensão, elas serviram
para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos
de intensidade, elas alteraram algumas das características mais íntimas e
pessoas de nossa existência cotidiana (GIDDENS, 1991, p.21).
Hall (2006), ao discutir sobre o caráter da mudança na modernidade tardia35, apresenta
uma citação de Marx e Engels (2006) que vai ao encontro dos pensamentos de Bauman e
Giddens sobre esse momento histórico: “O revolucionamento permanente da produção, o abalo
contínuo de todas as categorias sociais, a insegurança e a agitação sempiternas distinguem a
época da burguesia de todas as outras” (MARX; ENGELS, 2006, p. 28-29).
Vale ressaltar que embora alguns trabalhos de Marx e Engels (2006) tratem da
modernidade em si, em um período tão diferente do qual vivemos, não podemos negar o quão
atual são suas afirmações acerca da individualidade. As mudanças que se iniciaram nessa era
ganham ainda mais espaço na pós-modernidade. Além disso, é preciso lembrar das proporções:
a tecnologia da nova era encurta caminhos e derruba barreiras, fazendo com que as mudanças
ocorridas em um local do globo tão logo sejam sentidas a quilômetros, por outras sociedades.
Giddens pondera, ainda, a respeito das características envolvidas no processo de
descontinuidade entre passado e a modernidade. A primeira delas é “[...]o ritmo da mudança
nítido que a era da modernidade põe em movimento [...]” (GIDDENS, 1991, p. 12). Como já
discutido ao longo desse trabalho, esse período traz consigo a necessidade de mudanças em
ritmos extremos, exigindo dos indivíduos uma capacidade de adaptação maior que no passado.
A segunda é “o escopo da mudança” (GIDDENS, 1991, p.12). A globalização conectou
diversas áreas do mundo, fazendo com que mudanças sociais antes restritas, passassem a
contagiar outros indivíduos.
A terceira característica é a “[...] natureza intrínseca das instituições modernas”
(GIDDENS, 1991, p. 12). O passado era composto por formas sociais muito distintas do que se
encontra na modernidade, ainda mais na pós-modernidade. As relações virtuais, amplamente
35 De acordo com Hall (2006), a modernidade tardia consiste no período pós anos sessenta. Se pensarmos nos
recortes de Bauman e Harvey, pouco antes da pós-modernidade.
50
difundidas e aceitas nessa sociedade, constituem uma forma de se relacionar jamais vista na era
moderna (BAUMAN, 2001).
Assim, Giddens (1991) esboça seu pensamento acerca da era moderna, demonstrando a
sua capacidade de ser ao mesmo tempo positiva e negativa. Tal como ele, Bauman (2001)
defende que esse período foi de rupturas em seu princípio e que as facilidades advindas desse
processo volatilizaram as instituições modernas. Ao se buscar a principal característica da era
moderna e consequentemente, da Pós-Moderna, chegamos à conclusão que é a constante
necessidade de mudanças. O que se altera, contudo, é a velocidade e a proporção de tais
mudanças.
Portanto, a pós-modernidade não poderia ser considerada se não passássemos por um
processo de mudança – a transição entre moderno e pós-moderno. Baseados nisso, autores como
Bauman, Giddens e Lyotard trazem em suas obras a leitura da era moderna para a compreensão
do pós-moderno. As inseguranças, os riscos e o paradoxo de um período que tanto oferece, mas
que tanto priva, permanecem constantes nesse novo momento da sociedade e que têm se
mostrado mais complexo no que tange as relações.
A globalização tem sua parcela de responsabilidade nas mudanças mais íntimas do ser
humano. No passado, o conteúdo educacional oferecido aos indivíduos era restritamente
advindo dos familiares mais próximos e da escola – instrumentos fundamentais para a
transmissão da cultura, conforme discutido no capítulo 1. Com as conexões virtuais e os
dispositivos (cada vez mais) móveis, as ideias pertencentes a outras sociedades passaram a estar
disponíveis para todos, a qualquer momento. Desta forma, como nos trazem os autores, o fluxo
de informações está cada vez maior, possibilitando aos indivíduos bases mais extensas para a
argumentação.
Para Giddens, alguns fatores são considerados impulsionadores da globalização. A
“ascensão da tecnologia das comunicações e da informação” (GIDDENS, 2011, p. 104)
encabeça a lista, visto sua grande influência no processo. Após a Segunda Guerra Mundial, o
crescente aumento na expansão das telecomunicações permitiu que o fluxo de informações
galgasse extensões jamais imagináveis – o ao vivo passou a ser online, em qualquer lugar do
globo. Indo ao encontro do conceito de pós-modernidade de Harvey (2008), as distâncias
geográficas foram aproximadas pelas tecnologias.
Os fatores econômicos também promovem o crescimento da globalização (GIDDENS,
2011). As mudanças de uma produção agrícola e artesã para uma produção industrial já havia
transformado padrões sociais. Com as revoluções tecnológicas, a economia mundial tem
migrado para “atividades que não têm peso ou são intangíveis”, segundo Quaah (1999, citado
51
por GIDDENS, 2011). Com o crescimento do uso das tecnologias, a produção de produtos e
serviços baseados em informações tem se tornado o centro econômico – Giddens (2011)
exemplifica com os softwares e outros serviços online.
De acordo com esse autor, outro fator de grande impulso à globalização são as mudanças
políticas. Com a derrocada do comunismo soviético, os países até então pertencentes àquele
bloco passaram a interagir com outros e, tão logo, a aderir a modelos econômicos e políticos
mais difusos no ocidente. Outro aspecto importante “foi o crescimento de mecanismos
internacionais e regionais de governo” (GIDDENS, 2011, p.110). O surgimento da Organização
das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE), por exemplo, demonstra um avanço para
uma política mais global, na qual Estados-Nações arguem e criam diretrizes de forma conjunta.
Por fim, o crescimento de organizações não governamentais e governamentais internacionais
reafirma a tendência de ações que abranjam diferentes países em prol de um mesmo objetivo.
A globalização tende a acelerar as mudanças, ao mesmo tempo que aproxima os lugares
e os indivíduos. Dos paradoxos que a modernidade – e podemos afirmar, a pós-modernidade –
nos impõe, a questão da identidade merece destaque nessa dissertação. Com as distâncias
geográfica reduzidas, as influências culturais passaram a chegar a locais antes tão
incomunicáveis.
Para Bauman (1998), o jogo da vida de homens e mulheres na pós-modernidade se torna
ainda mais complexo, justamente pela volatilidade das regras desse jogo. O que antes era claro
e bem definido, assumiu obscuridade e flexibilidade. O grande jogo foi fragmentado em vários
pequenos jogos, os quais devem ser disputados vez a vez e com cautela, sempre atentos às novas
regras.
Já para Oliveira (2016), as fases pelas quais os indivíduos passam ao longa da vida
sofreram transformações incisivas nas gerações mais novas – a fase das consequências, por
exemplo, foi retardada. Na atualidade, os indivíduos postergam o momento de lidar com as
consequências, pois é o momento em que as escolhas do passado encontram o presente e, para
os indivíduos mais novos, essa tensão deve ser adiada, uma vez que outros jogos estão em
andamento (BAUMAN, 1998).
Nesse cenário de instabilidade dos valores e das regras sociais, os indivíduos que estão
em construção das suas identidades são diretamente afetados. Bauman (1998) discute sobre a
identidade fixa e volátil na pós-modernidade, visto ser um momento de recorte, se eximindo do
passado e do futuro. Logo, a identidade do sujeito passa a ser volátil, pois fixa-la seria
descumprir as regras contemporâneas.
52
De acordo com o autor, o indivíduo moderno adia o embate entre o passado e o presente:
“[...] a identidade durável e bem costurada já é uma vantagem; crescentemente, e de maneira
cada vez mais clara, ela se torna uma responsabilidade. O eixo da estratégia da vida pós-
moderna não é fazer a identidade deter-se – mas evitar que se fixe” (BAUMAN, 2001, p.
114, grifo nosso).
Ernest Laclau (1990, citado por HALL, 2006), com base neste contexto, discute o
conceito de “deslocamento” na modernidade tardia. Para ele, as sociedades tardiamente
modernas não possuem um centro único e bem definido, responsável por articular e organizar,
por meio de uma única “lei”, o sistema social. Ele defende que houve um deslocamento deste
centro não para outro, mas para outros – o que ele chama de “pluralidade de centros”. Neste
caso, Laclau enxerga nessas sociedades uma característica fundamental, que de acordo com ele
é da diferença, na qual os antagonismos geram diversas “posições de sujeito”.
Com todas as possibilidades ofertadas pela pós-modernidade, os indivíduos passaram a
buscar recursos para alcançarem o que antes não era, se quer, uma possibilidade (OLIVEIRA,
2016), recursos esses que serão empregados no consumo e, assim, se satisfazer da grande
quantidade de produtos ofertados. Na ânsia de possuírem objetos desejados e inovadores, os
indivíduos se obrigam a alavancar a produção para acumularem capital e poderem dispôs desses
desejos.
A esse respeito Oliveira (2016) afirma, ainda, que a pós-modernidade trouxe consigo
uma tendência tóxica para os jovens: os pais que ontem não tinham condições e hoje as têm,
buscam proporcionar a seus filhos tudo o que desejavam e não podiam ter. Não obstante, o mar
de possibilidades dessa era intoxica os mais velhos também, que longe de optarem pela
aposentadoria e aproveitarem o que construíram, permanecem no mercado de trabalho a fim de
manterem seus poderes de compra.
Nesse sentido, é inevitável citar a ascensão do capitalismo como um aspecto de grande
influência na construção da identidade do sujeito moderno e pós-moderno. Com a sucumbência
dos modelos de produção antigos e a Revolução Industrial, as sementes do consumismo tiveram
seus primeiros brotos logo mais. Para Bauman (2001, 2011), a revolução tecnológica (e, como
já explanado, as mudanças nos modelos econômicos) apresentou ao indivíduo um universo de
novos produtos e serviços, alguns estrategicamente elaborados para reafirmar a flexibilidade
pós-moderna.
A esse respeito, temos como exemplo o serviço de streaming Netflix. Um software
(produto intangível) criado para fornecer aos indivíduos o serviço de séries e filmes on demand,
ou seja, quando eles quiserem. No passado, quando a televisão tomou as casas da sociedade, as
53
famílias se organizavam e se reuniam, em horários específicos, alterando suas rotinas, para que
pudessem assistir a determinado filme ou programa. Com a vida fragmentada e o ritmo
acelerado da pós-modernidade, isso não é mais possível – com os pais o dia todo fora de casa e
os filhos em intensos fluxos de estudo, o programa antes familiar, passou a ser individual.
A fragmentação é um aspecto moderno que se acentua na pós-modernidade, de mãos
dadas à flexibilidade. Em terrenos incertos, tudo está em constante mudança e a volatilidade
permeia as ações humanas, em âmbitos econômicos, políticos e sociais. Não por menos, as
relações sociais receberam uma atenção especial de Bauman em diversas obras, que buscou
explanar de forma mais minuciosa as grandes mudanças que aquelas sofreram no mundo
moderno e, tão logo, pós-moderno.
2.2. As relações sociais na pós-Modernidade
A pós-modernidade sucumbiu os valores antigos e trouxe novos costumes às sociedades.
As novas regras do jogo se alteram a todo momento, demandando dos indivíduos uma grande
capacidade de adaptação. As identidades têm sofrido mudanças também e, consequentemente,
as formas de se olhar para o outro.
Diversos aspectos da vida humana foram afetados por essas mudanças, mas para esta
pesquisa daremos ênfase às relações sociais: “Todas as relações fixas e congeladas, com seu
cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém-
formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido de desmancha no ar
[...]” (MARX e ENGELS, 2006, p. 29). Novamente, o embrião da pós-modernidade já era
visível aos olhos de Marx e Engels: o individualismo estava por vir.
De acordo com Bauman (1998, 2001, 2004), ao mesmo passo que a modernidade
liquefez os valores, ela também volatilizou as relações entre os indivíduos. Com o advento da
liberdade trazida ao final da era moderna e enraizada na pós-moderna, a estratificação social
passou a se pautar no grau de liberdade (para escolher seu próprio itinerário) que cada indivíduo
tem (BAUMAN, 1998). Assim, para pertencer a uma alta posição na hierarquia dessa nova
sociedade, o ser social abre mão de suas seguranças para ser livre em suas escolhas – mas com
ressalvas.
Bauman (1998), tomando como referência Freud, afirma que a civilização36 somente
seria construída através da renúncia ao instinto, uma vez que ela é um acordo entre as partes,
36 Bauman substitui a categoria “civilização” por “modernidade”, com isso valorizando essa segunda categoria.
54
no qual existe uma troca tácita entre os valores da sociedade e as vontades do indivíduo.
Contudo, a pós-modernidade trouxe o valor da liberdade individual como soberano, fazendo
estremecer o alicerce das relações sociais: as normas coletivas sobressaem os instintos
individuais.
Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que
tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os
mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de
procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais
(BAUMAN, 1998, p. 10).
Isso mostra que as dúvidas em relação ao outro pairam no ar, fazendo com que os
indivíduos, antes munidos das regras sociais para se relacionarem, sofram com a interminável
dúvida de como construir uma relação sólida em meio ao mundo líquido. É preciso que ele entre
em questionamento frequentemente, mas não se estabeleça em uma constância, sendo essa um
valor veementemente negado na sociedade pós-moderna:
No mundo moderno, notoriamente instável e constante apenas em sua
hostilidade a qualquer coisa constante, a tentação de interromper o
movimento, de conduzir a perpétua mudança a uma pausa, de instalar uma
ordem segura contra todos os desafios futuros, torna-se esmagadora e
irresistível (BAUMAN, 1998, p. 21).
Os homens e mulheres pós-modernos querem liberdade, mas não ao preço de suas
próprias seguranças. Na incessante busca por algo sólido, de acordo com Silva, Hall e
Woodward (2014), esses indivíduos buscam na nostalgia do passado alguma certeza para
enfrentarem o presente (BAUMAN, 1998). Contudo, as possibilidades oferecidas pela era
moderna os seduzem a buscar novas aventuras “e, de um modo geral, a qualquer fixação de
compromisso, preferem ter opções abertas” (BAUMAN, 1998, p. 23). Eis o paradoxo dessa era:
a assídua busca por algo pelo qual não se dispõe a pagar.
Nesse sentido, Bauman, entende que as relações sociais passam a ter outro sentido na
pós-modernidade: elas se tornaram possibilidades, tal qual os produtos no mercado. Essa era
proporciona o direito à degustação de indivíduos e de experiências, permitindo que o descarte,
ao fim do processo de experimentação, seja uma opção tão autorizada socialmente quanto a
aceitação.
No mundo pós-moderno de estilos e padrões de vida livremente concorrentes,
há ainda um severo teste de pureza que se requer seja transposto por todo
aquele que solicite ser ali admitido: tem de mostrar-se capaz de ser seduzido
pela infinita possiblidade e constante renovação promovida pelo mercado
55
consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir e despir identidades, de
passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sensações e cada
vez mais inebriante experiência (BAUMAN, 1998, p. 23)
Isso pressupõe que para os indivíduos suportarem as mudanças que acontecem
diariamente, eles assumem suas identidades conforme a próxima experiência que buscarão –
seja um novo relacionamento, seja um novo trabalho.
De acordo Sell (2015), Durkheim37, em sua teoria sociológica, concebeu o trabalho
como uma atividade fundamental para se estabelecer uma relação estável entre indivíduo-
sociedade. Nesse sentido, Durkheim (1999) entende que o trabalho é um meio fundamental para
o estabelecimento de regras e de valores morais para a convivência social que não permearam
a consciência individual e naquelas que estão fora de instituições como a família e a escola,
responsáveis pela transmissão das primeiras formas de ver o mundo, dos valores e de regras
morais, questões que ele considerou necessárias à inserção social. Esse pensamento foi,
também, defendido por pelos autores Eisenstadt (1976) e Foracchi (1972).
No livro “Da divisão do trabalho social” (1999), Durkheim discorreu sobre o assunto e
seus impactos na sociedade moderna. Assim como esse sociólogo, Eisenstadt também discutiu
sobre a importância social da divisão geral do trabalho, porém enquanto distribuição de papéis
segundo o critério idade.
Para tratar da divisão social do trabalho, Durkheim explicou que as sociedades
primitivas eram regidas pela consciência coletiva38 presentes em cada uma delas – a exemplo,
as sociedades tribais, nas quais as regras morais e a religião eram impostas aos indivíduos de
acordo com o que o grupo decidiu como “correto” (DURKHEIM, 1999; SELL, 2015).
Durkheim (1999) e Sell (2015) compartilham da ideia de que nas sociedades em que a
consciência coletiva sobrepõe a individual, elas possuem aquilo que Durkheim definiu como
solidariedade mecânica39, natural nas sociedades. Em relação a isso, Durkheim ainda tratou do
direito repressivo como uma característica importante nessas sociedades: para ele, este formato
de direito é regido pela punição dos indivíduos que descumprem as normas sociais aceitas e
impostas pelo coletivo.
37 Considerado por muitos sociólogos o pai da Sociologia enquanto ciência acadêmica, Émile Durkheim (1858-
1971) compõe o tripé essencial da sociologia clássica, ao lado de Karl Marx e Max Weber (THOMPSON citado
por SCOTT, 2017; SELL, 2015). 38 Por “consciência coletiva”, Durkheim entende como “O conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média
dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado que tem vida própria; [...] ela é, por
definição, difusa em toda a extensão da sociedade” (DURKHEIM, 1999, p. 50). 39 São as organizações com diferenciação mínima nas funções sociais, indivíduos semelhantes entre si e há
segmentação dessa população com às exteriores – fatores geradores da solidariedade mecânica (DURKHEIM,
1999; SELL, 2015).
56
Já nas sociedades modernas, de acordo com Durkheim, há a predominância da
solidariedade orgânica40, em vista disso defende que tal fato se dá porque os indivíduos
reconhecem a interdependência uns dos outros (DURKHEIM, 1999 citado por SELL, 2015).
Ou seja, para que o organismo social funcione, o trabalho precisa ser dividido para que cada
um exerça sua colaboração com o meio da maneira mais eficaz possível e, assim, o sistema
opere em sua totalidade.
Eis aí o ponto no qual o sociólogo tratou que, neste modelo de solidariedade, é
fundamental a instituição do direito restitutivo, que nada mais é que a punição aqueles que
cometem algum tipo de infração. Assim, o direito restitutivo é uma lei e o “[...] objetivo da lei
é restabelecer a ordem das coisas [...]” (SELL, 2015, p. 88) se faz presente – o indivíduo não
mais é punido pela sua singularidade, apenas há um conjunto de normas para que as
consciências individuais não entrem em conflito entre si e prejudiquem a coesão social.
A fim de evitar a força do direito restitutivo, a família tem papel fundamental no
processo de formação moral dos indivíduos. Isso de acordo com Durkheim41, a família é a
primeira forma de inserção social do indivíduo. Em um segundo momento, a escola (em seus
diferentes níveis) desempenha esse papel por ser o momento em que a criança/adolescente irá
interagir com outros fora do contexto familiar. Por fim, o autor francês defendeu que o trabalho
é a terceira forma de integração do indivíduo com o corpo social.
Por outro lado, Marx (s/d) ressalta que o trabalho é um aspecto indispensável para a
economia, à medida que é a forma de prover aos indivíduos os instrumentos necessários para a
satisfação de suas necessidades. Além disso, ele afirma que “o trabalho é um processo de que
participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação
impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza” (MARX, s/d, p. 367).
Portanto, o ser “supera sua condição de ser apenas natural e cria uma nova realidade: a vida
social” (SELL, 2015, p. 51).
De acordo Marx (s/d), para que o processo de trabalho se desenvolva, o indivíduo deve,
necessariamente, se relacionar com outros. Assim, tal processo se torna um fenômeno social,
dado que as interações entre os indivíduos geram aquilo que chamou de relações de produção.
Era com os olhos voltados para tal afirmação que Marx defendia que a leitura das relações
sociais se dava através da análise da evolução das forças produtivas.
40Ao contrário da solidariedade mecânica, a orgânica acontece devido ao fortalecimento das consciências
individuais, pois é a divisão do trabalho que gera a coesão social (DURKHEIM, 1977). 41 Esse problemática foi discutida durante as aulas da Disciplina de Teoria Social Clássica do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia, na Universidade Federal de Mato Grosso, em 2017.
57
Após anos de tradição do pensamento escolástico, a herança cultural transitada de
geração em geração recebeu um grande impacto a partir da Revolução Francesa (1789-1799).
Nesse processo, tem destaque o uso da razão, enquanto pressuposto básico para a produção do
conhecimento, quebrando os princípios antigos, além de imprimir uma busca incessante pela
liberdade das minorias e sociedades mais democráticas.
Nesse sentido, Bauman (2001) e Giddens (1991) afirmam que a sociedade antiga foi
fundada em instituições e costumes sólidos que permaneceram por muito tempo rígidos e
inalterados. No entanto, a exigência de liberdade gerou uma luta árdua pela quebra de
paradigmas e desmoronou as “[...] lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as
obrigações que atavam pés e mãos [...]” (BAUMAN, 2001, p. 96). Assim, o mundo entrou em
desordem e a sociedade passou a se basear em sentimentos líquidos, fragilizando as relações
sociais como um todo.
Com as revoluções tecnológicas dos últimos 50 anos, as relações de trabalho se
alteraram significativamente. O que necessariamente deveria ser discutido dentro do ambiente
de trabalho, ocupou espaço na rede social Whatsapp – as falas dos entrevistados a serem
discutidas no capítulo três deste trabalho mostram que tal ambiente virtual se tornou uma rede
social de trabalho. Portanto, deixou-se de limitar os assuntos restritos ao trabalho dentro daquele
ambiente e mais, dentro do horário comercial.
Oliveira (2016) discute a incidência do uso dos celulares no local de trabalho,
especialmente pela Geração X, considerados Workaholic que é:
[...] uma gíria em inglês que significa alguém viciado em trabalho;
um trabalhador compulsivo e dependente do trabalho. As pessoas viciadas
em trabalho sempre existiram, porém esse número está crescendo muito e se
tornando um fenômeno em todo o mundo.
O mundo corporativo atual é feito, muitas vezes, de indivíduos motivados pela
alta competitividade, vaidade, ganância, necessidade de sobrevivência ou
ainda alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém ou a si mesmo, e
essas pessoas acabam se tornando viciados no trabalho para atingir seus
objetivos pessoais.
Um indivíduo workaholic geralmente não consegue se desligar do trabalho,
mesmo fora dele, e muitas vezes deixa de lado seu parceiro, filhos, pais,
amigos e família, e seus amigos acabam sendo apenas os que convivem no
ambiente de trabalho. Esse tipo de pessoa sofre e acaba tendo uma qualidade
de vida muito ruim, pois as pressões do dia-a-dia e a auto-estima exagerada
fazem com que este tipo de profissional tenha insônia, mau-humor, impotência
58
sexual, atitudes agressivas em situações de pressão e pode chegar a causar
depressão, entre outros efeitos nocivos42.
Para esses indivíduos, os horários comerciais podem ser ultrapassados quando
necessário, visto que seu envolvimento com o trabalho vai além do que rege o próprio contrato
– é o senso de responsabilidade com o todo, os entrevistados mais velhos reafirmaram isso.
Com a expansão do capitalismo e todas as possibilidades da era pós-moderna, as
gerações que deveriam se aposentar recusam-se a fazê-lo, pois precisam manter seu poder
aquisitivo (OLIVEIRA, 2016; BAUMAN, 2011). Somado a isso, encontramos um ambiente
competitivo, que incita o jovem da Geração Z a se dedicar cada vez mais em se preparar para o
mercado de trabalho. Isso nos leva a uma situação inusitada: poucas saídas do mercado, muitas
entradas para acontecer.
Outra mudança que a pós-modernidade trouxe, foi a necessidade de mudanças
constantes em praticamente todas as instituições sociais, e isso se aplica também às relações de
trabalho. Para Oliveira (2016), com as possibilidades de experimentação, os indivíduos pós-
moderno não mais estabelecem relações duradouras em seus empregos, especialmente os mais
jovens, que constroem suas (diversas) identidades baseadas nos valores da era pós-moderna.
Assim, o indivíduo se veste de uma identidade de acordo com a experiência empregatícia que
ele pretende experimentar. Os dados demonstram que os jovens do final da Geração Y e da
Geração Z permanecem em seus empregos por até quatro anos ou enquanto suas atividades
forem se renovando (fato que se confirma nas entrevistas dessa pesquisa).
Ao passo que os modelos de pureza de cada era se alteram, na modernidade e na pós-
modernidade se estabeleceu, tacitamente, que os impuros são aqueles que não flexibilizaram
suas identidades – a intolerância ao concreto se reafirma enquanto valor nessa sociedade).
Segundo Bauman (1998), os atores sociais pós-modernos devem se desafiar a se volatilizarem
em prol de não se concretizarem como o que ele chama de consumidores falhos.
Afastemo-nos do conceito de consumidor de produtos e serviços, apenas. Façamos uma
leitura mais profunda do seguinte parágrafo:
Uma vez que o critério da pureza é a aptidão de participar do jogo consumista,
os deixados de fora como um “problema”, como a “sujeita” que precisa ser
removida, são consumidores falhos – pessoas incapazes de responder aos
atrativos do mercado consumidor porque lhes faltam os recursos requeridos,
pessoas incapazes de ser “indivíduos livres” conforme o sendo de “liberdade”
42 A esse respeito ver O que é Workaholic, disponível em: <https://www.significados.com.br/workaholic/>.
Acesso em 29/10/2019.
59
definido em função do poder de escolha do consumidor (BAUMAN, 1998, p.
24).
A contemporaneidade, de acordo Bauman (1998), exige que atores sociais consumam
identidades, experiências e relações, de tal forma que aqueles que não o fazem, enquadram-se
na “sujeira da modernidade”. Assim, a individualidade se tornou um valor exaltado – o
indivíduo tem o direito de se aproximar e se afastar quando quiser, em prol das experiências
que ele desejar.
Em uma relação na qual os sujeitos envolvidos transitam entre suas identidades, a
solidez dos acordos implícitos (e, por vezes, explícitos) se dissipam. À vista disso, a opção do
descarte de uma relação se tornou difusa e comumente aceita na sociedade moderna. Por um
lado, como Bauman defende em diversas obras, há positividade nesse processo: relações tóxicas
e opressivas encontraram a possibilidade (e, em alguns casos, o apoio jurídico e moral) de se
esgotarem. Entretanto, a liberdade de escolha também vem dotada de uma embriagante
flexibilidade – os esforços não precisam mais consumir a liberdade individual, o sujeito pode
se permitir o descarte.
É com base nas perspectivas desse cenário volátil que o professor da London Business
School, Hamel, iniciou sua pesquisa sobre as questões profissionais acerca dos indivíduos da
Geração Z. Em um artigo publicado em 2009 no Wall Street Journal, ele defendeu que esta
geração exigirá consideráveis adaptações por parte das organizações e seus gestores, visto que
suas particularidades43 entram em conflito direto com o atual modelo de trabalho. O autor listou
doze características44 desses jovens, que estão relacionadas à vida profissional:
1) “Todas as ideias competem no mesmo patamar”: no mundo virtual, todas
as ideias publicadas disputam em igualdade por um espaço e todas têm a
oportunidade de ganhar seguidores.
2) “Contribuição conta mais do que credencial”: esses jovens não estão
preocupados com títulos e currículos. Para eles, o que importa é a sua
capacidade de contribuir com o meio, por meio dos conteúdos das
publicações.
3) “Hierarquias são naturais, não impostas”: a internet permite que o respeito
seja conquistado e não imposto. Em fóruns virtuais, aqueles que apresentam
respostas mais resolutivas ganham o respeito e admiração dos demais.
4) “Líderes servem, não presidem”: os seguidores são conquistados por
aqueles que são altruístas e possuem argumentos credíveis e experiência.
Tornam-se seguidos os que mais servirem ao meio.
43 Foracchi (1982) defende que o questionamento incisivo em relação às normas e tradições antigas é a principal
característica da juventude moderna. 44 Tradução própria, confome artigo do Wall Street Journal online, escrito por Gary Hamel em 24 de março de
2009, em sua coluna “manegement 2.0”. Disponível em: <http://blogs.wsj.com/management/2009/03/24/the-
facebook-generation-vs-the-fortune-500/?mg=id-wsj>. Acesso em: 18 out. 2016.
60
5) “As tarefas são escolhidas, não impostas”: os nativos virtuais optam por
colaborar com o meio, trabalhar em projetos, escrever para um blog ou
participar de fóruns. Eles escolhem o que desejam fazer.
6) “Grupos se auto definem e se auto organizam”: assim como as tarefas são
escolhidas, as pessoas de sua convivência também são. No mundo online, o
jovem não precisa lidar com quem não gosta pois ele escolhe quem irá seguir
e quem irá segui-lo.
7) “Recursos são atraídos, não alocados”: na web, os recursos não são
impostos – o jovem se atrai por projetos e ideias que sejam importantes para
ele. Nesse mundo, ele escolhe como e onde investe seu tempo.
8) “O poder vem por meio do compartilhamento de informação, não da
mentalidade de escassez”: nesse universo, ganha notoriedade e poder de
influência aquele que doar o que sabe.
9) “As opiniões se acumulam e as decisões são julgadas pelos seus colegas”:
as ideias publicadas ganham seguidores, que as discutem, compartilham e
podem causar rupturas com as opiniões das instituições off-line.
10) “Os usuários podem vetar muitas das políticas decididas”: não importa
quem é o criador da comunidade, para estes jovens, importa que eles são os
donos dela.
11) “As recompensas intrínsecas possuem mais valor”: o dinheiro continua
importante, mas não tanto quanto o prazer aplicado em algo e o
reconhecimento por isto.
12) “Hackers são heróis”: a comunidade online gosta daqueles que questionam
o autoritarismo e as regras, pois não gostam de imposições45.
Em relação a isso, Giddens (1991) defende que a pós-modernidade rompeu os laços com
as tradições e a proteção oferecidos às comunidades pequenas, dando espaço às inseguranças e
incertezas advindas de um mundo globalizado e protagonizado por grandes organizações. É
neste contexto em que os sistemas abstratos46 ganham a confiança antes gerada pelas relações
de parentesco, comunidade local, religiões e tradições. Portanto, é importante compreender que
o jovem da Geração Z não está sendo educado com embasamento nestes aspectos, mas sim em
um mundo mais abstrato, volátil e inseguro.
Pelas características expostas por Hamel (2009), é possível encontrar os traços dos
principais aspectos da pós-modernidade já se enraizando nas identidades do jovem enquanto
ser social. Pela possibilidade de igualdade ofertada pelas redes sociais, graças à expansão das
tecnologias e da globalização, os indivíduos contemporâneos demandam que suas vontades e
opiniões sejam escutadas, pela maior quantidade de pessoas possível. Isto posto, em seu
ambiente de trabalho não há de ser diferente: o jovem refuta a ideia de não ser escutado.
Ainda em relação às redes sociais, o compartilhamento de conhecimento se equivale ao
das opiniões, fazendo com que o jovem defenda a ideia de que é mais válido compartilhar e
45 Texto original disponível na coluna do autor no site do Wall Street Journal, tradução nossa. 46 Por sistemas abstratos entende-se aqueles sistemas com os quais interagimos diariamente, mas os quais não
precisamos conhecera fundo o modo como funcionam – exemplo: internet (GIDDENS, 1991).
61
contribuir com o meio do que guardar para si tudo o que sabe. Com essa base, o indivíduo pós-
moderno vai além: ele quer ser reconhecido pelo que faz e pelo que sabe.
É fato que as relações de trabalho se alteraram e, no ritmo desenfreado de mudanças que
a era moderna impõe, continuarão a mudar. Entender as causas que levam os indivíduos desse
tempo a serem consumidores de identidades e se estabelecerem em um contínuo processo de
questionamento é a forma mais segura que os líderes têm de se prepararem para desenvolver
seres sociais da melhor maneira possível (OLIVEIRA, 2016).
Ao elucidar sobre o assunto em sua obra “Mentoria”, Oliveira (2015) discute o papel
fundamental do professor, no primeiro momento, em desenvolver seres aptos a se tornarem
sociais. Contudo, no tangente ao trabalho, o autor debate a importância de um líder na vida
profissional do jovem – fato reconhecido pelos líderes da nossa pesquisa. Paralelo à defesa do
papel do professor, ele defende, ainda, que é preciso que os mais velhos assumam suas
responsabilidades enquanto agentes no processo de desenvolvimento dos mais novos para os
sistemas sociais.
Compreender a modernidade e a pós-modernidade é de fundamental importância para a
leitura histórica das gerações, assim como para o entendimento do processo de construção da
identidade do jovem Z. Dessa forma, buscamos apresentar nesse capítulo autores e teorias que
alicercem o leitor sobre os conceitos presentes na era pós-moderna, bem como as teorias acerca
das relações sociais, incluindo as relações de trabalho. Com as exposições feitas até aqui,
caminharemos para o próximo capítulo, em que discutiremos sobre os dados coletados junto
aos jovens da Geração Z e os indivíduos mais velhos pertencentes a outras gerações, a fim de
que possamos entender o processo relacional no local de trabalho entre estas gerações no
Hospital Santa Rosa, sediado em Cuiabá-MT.
62
3. RELAÇÕES ENTRE AS GERAÇÕES MODERNAS E PÓS-MODERNA
Neste capítulo, analisaremos os dados coletados das entrevistas de campo realizadas no
Hospital Santa Rosa, a fim de entendermos por que se dão os conflitos entre gerações dentro
do ambiente de trabalho pós-moderno. Retomando nossos objetivos específicos propostos,
nossa análise se centrou, inicialmente, na busca dos principais pontos de convergência e
divergência entre a Geração Z e as demais gerações no ambiente de trabalho. Outro ponto a ser
discutido é como os valores comportamentais da Geração Z implicam as relações sociais no
trabalho e as características das relações sociais entre as gerações neste locus. Visto que o quarto
objetivo se trata da investigação sobre a trajetória de formação pessoal e profissional das
gerações mais velhas, já fizemos tal análise no item 1.3.
Com a finalidade de facilitar a compreensão do leitor, separamos este capítulo em dois
subitens: o primeiro tratará das análises com base nos conceitos de Mannheim (1952). Portanto,
traremos os conceitos do item 1.1 e os aplicaremos nas respostas das entrevistas, seja no
questionário socioeconômico, seja no questionário sobre as relações. O segundo trabalhará
especificamente as respostas da segunda parte do questionário, analisando-as conforme as
características de Hamel (2009), apresentadas no item 2.2, páginas 59 e 60, em citação direta.
Para viabilizar o nosso recorte enquanto objeto de estudo, embora Mannheim refute o
recurso puramente cronológico para demarcar as gerações, achamos por bem definir um espaço
de tempo para a pesquisa. Portanto, para fins metodológicos, nos apoiamos no acontecimento
histórico que foi o surgimento da internet, fato que modificou as relações sociais (foco da nossa
pesquisa). Assim, a disseminação da internet para os consumidores finais, em 1997, será nosso
critério de definição para a Geração Z.
Dessa forma, o recorte do nosso objeto de estudo se pautou nas seguintes características:
a) indivíduos nascidos a partir do ano de 1997, que b) estejam em processo de trabalho na
instituição escolhida (Hospital Santa Rosa), que c) atuem como menor aprendiz, estagiário ou
efetivo e d) desenvolvam interações com as gerações mais velhas.
Por estudarmos relações entre gerações, foi importante, ainda, definirmos um recorte
para as demais gerações que interagem com nosso objeto de estudo, a Geração Z. Assim sendo,
com base no recorte citado no parágrafo imediatamente anterior, por “demais gerações”
entendemos todos os nascidos antes de 1997. Salientamos que as separações dessas gerações
estão baseadas nos dados expressos na tabela 2 (página 43).
63
Visto que buscamos compreender como se dão os conflitos geracionais dentro de um
contexto social (ambiente de trabalho) específico e local, de maneira a proporcionar o
embasamento para estudos futuros e possíveis tomadas de decisões por parte dos gestores, a
pesquisa proposta tem sua natureza na aplicação47.
Uma vez que nosso problema e nossos objetivos estão voltados à captação de uma
realidade social – as relações entre gerações no ambiente de trabalho –, deixamos claro não ser
cabível a mensuração (quantificação) desses significados, em função da subjetividade em jogo
e tão presentes nas relações sociais. Isto posto, nesta pesquisa cabe a metodologia qualitativa.
Como nos trazem Deslandes, Gomes e Minayo (2009, p.21), a pesquisa qualitativa
[...] se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode
ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das
atitudes (grifo nosso).
Ainda a este respeito, Lüdke e André (1986) entendem que a metodologia qualitativa
permite o levantamento de informações que outro tipo de metodologia não permite. Nesse
processo, muitas informações vêm à tona por meio da metodologia qualitativa, pois nesta estão
envolvidos procedimentos de pesquisa, como a etnografia e o estudo de caso, que “[...] vêm
ganhando crescente aceitação na área de educação, devido principalmente ao seu potencial para
estudar as questões relacionadas à escola” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 13).
Seguindo o raciocínio das autoras, nos reportamos a Durkheim, por este nos alertar para
a complexidade das relações sociais no ambiente de trabalho, similar às interações na escola.
Portanto, podemos concluir que ambos os tipos de pesquisa são interessantes para nossos
objetivos. Contudo, o prazo instaurado para a nossa pesquisa não nos permitiu uma etnografia
como as autoras defendem, pois exige um espaço de tempo maior para a coleta de dados.
Como nos mostra Oliveira (2008)48, algumas técnicas são mais utilizadas, contudo,
optamos pelo instrumento da entrevista semiestruturada. Lüdke e André (1986, p. 34) defendem
que a vantagem dessa técnica “[...] é que ela permite a captação imediata e corrente da
informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados
tópicos”. Deslandes, Gomes e Minayo (2009, p.65) aprofundam:
47 “Pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimento para a aplicação prática dirigidos à solução de problemas
específicos. Envolve verdades e interesses locais” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 51). 48 “[...] algumas técnicas para coleta de dados, dentre as quais, destacamos: a Observação participante, a Entrevista
e o Método da história de vida” (OLIVEIRA, 2008, p. 8).
64
A entrevista como fonte de informação pode nos fornecer dados secundários
e primários de duas naturezas: [...] b) os segundos – que são objetos principais
da pesquisa qualitativa – referem-se a informações diretamente construídas no
diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito
sobre a realidade que vivencia. Os cientistas sociais costumam denominar
esses últimos de dados “subjetivos”, pois só podem ser conseguidos com a
contribuição da pessoa. Constituem uma representação da realidade: ideiais,
crenças, maneiras de pensar; opiniões, sentimentos, maneiras de sentir;
maneiras de atuar; condutas; projeções para o futuro; razões conscientes ou
inconscientes de determinadas atitudes e comportamentos (grifo nosso).
Após a revisão bibliográfica apresentada nos capítulos anteriores e as escolhas do
procedimento metodológico, formulamos os questionários disponíveis no anexo D. Separamos
os questionários conforme os grupos já esboçados, a fim de utilizarmos uma linguagem mais
específica para cada um. Entretanto, buscamos manter perguntas similares para que pudéssemos
realizar uma análise comparativa e respondermos ao primeiro objetivo específico.
Por fim, seguimos todos os trâmites exigidos atualmente pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Científica (CEP), como o Termo de Consentimento para pesquisa com seres humanos,
conforme a Resolução CNS 466/12. Em vista disso, a cada entrevistado foi entregue um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), desde que tivesse idade acima da maioridade
legal. Quando menor de idade, entregamos tal documento a seu representante legal, assim como
o Termo de Assentimento (TA) para o menor, elaborado em linguagem específica e acessível
para a população em questão, tal como consta nos modelos disponíveis nos anexos que vão do
A ao C.
Respeitando as normas supracitadas e visando manter o sigilo das identidades dos
entrevistados, atribuímos a eles nomes de acordo com a geração às quais pertencem. Portanto,
os indivíduos entrevistados pertencentes à Geração Z serão identificados pela letra Z, seguido
de um número. Por exemplo: Z1, Z2, Z3, Z4, Z5, Z6 e Z7. O mesmo critério coube às outras
duas gerações em análise, ou seja, as gerações X e Y, de modo que os entrevistados aparecerão
identificados como X1, X2, X3, Y1 e Y2.
3.1. Análise das entrevistas aos olhos de Mannheim
Para nos alinharmos às categorias de análise do primeiro capítulo, traçamos um perfil
dos nossos entrevistados. Para isso, junto ao questionário sobre as relações, incluímos um
questionário de perfil socioeconômico. Assim, foi possível agrupá-los de acordo com as
categorias apresentadas por Mannheim (1952).
65
Com base nas respostas desse questionário, chegamos a uma das conclusões: o grupo
de jovens entrevistados partilha da mesma situação de geração, isto é, está condições de fazer
parte da Geração Z. Isto porque podem ser agrupados tanto em termos de ritmo biológico
(idades muito próximas), bem como vivem o mesmo processo histórico. Este feito os leva a
desenvolverem valores morais, comportamentos sociais e até formas de linguagem similares
entre si49.
De acordo com as falas dos líderes, quando confrontadas com as falas dos próprios
jovens, estes trabalham por necessidade. Sendo este um objetivo específico comum a estes
sujeitos, podemos afirmar que eles participam do mesmo grupo concreto do tipo associativo.
Retomando este conceito de Mannheim (1952), este é composto por indivíduos que,
conscientemente, partilham do mesmo objetivo. Somando isto ao fato de partilharem da mesma
situação de geração, podemos categorizá-los enquanto unidade de geração também.
Ainda sobre os jovens, é possível classificá-los em geração enquanto realidade. Isso
porque, além dos fatores supracitados, esses indivíduos compartilham de sintomas sociais e
intelectuais similares. Assumimos isso com base nas respostas do questionário socioeconômico,
que os situa de forma muito próxima – exceto por um único jovem que já possuí formação
superior, todos os demais concluíram o ensino médio. Portanto, além dos aspectos sociais,
podemos afirmar, de forma objetiva, que os jovens se aproximam intelectualmente50.
Em relação aos indivíduos mais velhos, encontramos representantes de duas gerações,
a X e a Y. Percebemos comportamentos próprios de cada geração, posto que os indivíduos de
cada uma partilham de aspectos cronológicos, históricos e comportamentais muito parecidos.
Podemos situar, por exemplo, que temos duas situações de geração: X e Y, uma vez que
possuem o mesmo ritmo biológico e dimensão histórica entre si.
Temos, ainda, a formação de um grupo concreto do tipo associativo, pois todos os
indivíduos adultos compartilham do mesmo objetivo específico: carreira. Em todas as falas, a
evidência de que trabalham por construção de carreira profissional foi a mais frequente –
associada a outros fatores. Aqueles que trabalham também por necessidade, podem se encontrar
no mesmo grupo concreto dos jovens.
Contudo, indo mais a fundo, apenas os entrevistados X2 e X3 pertencem à mesma
unidade de geração e geração enquanto realidade. Na primeira categoria, apenas esses
49 A questão da linguagem apareceu no decorrer das falas. O uso de gírias (menos formal) e as falas mais receosas
(tímidas) foram observadas quando o entrevistado era jovem. 50 É importante que os fatores individuais sejam postos de lado, como, por exemplo, quociente de inteligência e
notas escolares, jutamente por se tratar de um estudo sobre gerações (grupos).
66
indivíduos partilham do mesmo ritmo biológico, vivenciam a mesma dimensão histórica,
possuem o mesmo objetivo específico (logo, mesmo grupo concreto associativo). Na segunda,
além da dimensão histórica e ritmo biológico, compartilham dos mesmos sintomas sociais e
intelectuais.
Na página 22 desta dissertação, trazemos uma citação direta de Mannheim (1952, p. 74)
sobre as características fundamentais de uma sociedade que possui o fenômeno das gerações.
Assumindo o ambiente de trabalho enquanto uma dinâmica social, é possível encontrarmos
essas características neste locus.
A primeira delas, “novos participantes do processo cultural estão surgindo”
(MANNHEIM, 1952, p. 74), implica, neste ambiente, a entrada de novos profissionais na
organização. Isso significa que as rotinas, antes exercidas por determinado grupo de indivíduos,
logo serão praticadas por novos sujeitos. Estes, inclusive, podem não ter praticado nenhuma
delas antes – este fenômeno, como já definimos, trata-se do contato original. Portanto, o que
em contextos mais abrangentes significa transmitir a cultura, aqui é visto como transmissão de
conhecimento – mentoria profissional, como Oliveira (2015) define este processo. Em alguns
casos, pode implicar a transmissão da cultura organizacional.
Grande parte dos entrevistados da Geração Z apresenta, em suas falas, o processo de
aprendizagem com os mais velhos com os quais interage no trabalho. O entrevistado Z1, por
exemplo, traz o seguinte:
[...] eu aprendo muita coisa. Eu era cru de conhecimento, depois que eu entrei
aqui... Ih, aprendi muita coisa, cresci muito [...] eu entrei e assim, foi ela que
me acolheu, me mostrou tudo e tal [...] por isso que eu falo que gosto de
trabalhar aqui. Porque ela me ensina muita coisa, muita coisa mesmo. Assim,
as coisas que ela faz, ela sempre faz questão de me mostrar (informação
verbal)51.
Por outro lado, os indivíduos mais velhos saem do mercado de trabalho constantemente.
Isso nos leva à segunda característica – “antigos participantes daquele processo estão
continuamente desaparecendo” (MANNHEIM, 1952, p.74). No contexto de uma sociedade
ampla, isso significa o fim do ritmo biológico – a morte. No recorte do ambiente de trabalho,
associamos essa interrupção à aposentadoria.
A todo momento, indivíduos chegam à idade necessária para se aposentar. Com isso, a
entrada de novos profissionais se faz necessária, pois a mão-de-obra precisa ser substituída.
51 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).
67
Assim como na primeira característica, aqui tratamos da transmissão de conhecimento
profissional, mas com o olhar voltado para quem entrega esse conhecimento.
A respeito do papel do líder de jovem, por exemplo, os entrevistados X1 e Y2 trazem as
seguintes falas, respectivamente:
Eu acho que de orientação, de estar observando se eles estão seguindo um bom
caminho, se estão fazendo corretamente as coisas, orientá-los de forma
correta, tanto no sentido negativo, quanto no positivo [...] porque isso traz o
crescimento. Acho que é isso, a gente tem que buscar ensinar. Esse é o
principal papel (informação verbal)52.
[...] no início eu fui mais incisiva, porque eu precisava treiná-la e capacitar
[...] amanhã ou depois ela não vai me ter ali. Então eu preciso que ela
caminhe com as pernas dela sozinha. [...] Por ela ser uma menor, sempre tinha
aquele status de não dar a ela tanta responsabilidade, até da minha chefe eu
ouvi isso uma vez. Até eu chegar na minha chefe e fazer ela entender que a
menor precisa sim ter responsabilidade, porque é pra vida dela (informação
verbal)53.
Para todos, o papel do líder de um jovem é ensiná-lo. Este é o curso da transmissão
cultural: dos mais velhos para os mais novos. A segunda fala simbólica do entrevistado X1 traz,
ainda, que estes mesmos adultos já estiveram na posição de novo profissional: “tem uns que
falam “ah, vou perder meu tempo ensinando, eu já falei dez vezes”, então não têm a paciência
de ensinar. Eles não lembram quando eles começaram no primeiro emprego” (informação
verbal)54.
Pensando nisso, temos a terceira característica a qual traz um fator importante: a
limitação do tempo que se tem para fazer essa transmissão – “os membros de qualquer uma das
gerações apenas podem participar de uma seção temporalmente limitada do processo histórico”
(MANNHEIM, 1952, p.74). Trazendo para a realidade deste estudo, a transmissão de
conhecimento profissional, portanto, só poderá ser realizada entre essas gerações por um espaço
de tempo limitado (ou pelo ritmo biológico – morte – ou pela aposentadoria).
Na fala do entrevistado Y2 citada acima, isso fica evidente. Este reconhece que o jovem
profissional que trabalha com ela, para o qual ela lega o conhecimento, não a terá para sempre.
52 X1, Entrevistado em. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (27 minutos e 03 segundos). 53 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos). 54 X1, Entrevistado em. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (27 minutos e 03 segundos).
68
Isso se deve às duas primeiras características, pois, enquanto indivíduos adultos saem do
mercado, sujeitos jovens entram.
Por consequência, temos as últimas características. A quarta diz que “é necessário,
portanto, transmitir continuamente a herança cultural acumulada” (MANNHEIM, 1952, p.74).
Em termos de mercado de trabalho isso é bem evidente, pois, como já dito, enquanto mais
velhos aposentam, novos profissionais entram. Se olharmos pelo fenômeno das gerações, esse
é um processo constante. Desta forma, a transmissão não pode sessar.
A relação dos entrevistados Y2 e Z1 traz isso na fala de ambos. O jovem Z1 reconhece
que seu líder busca transmitir conhecimento constantemente para ele:
ela sempre senta comigo e fala “a gente tem tal demanda pra fazer, vem cá
que eu vou te ajudar”, aí ela me passa. Aí, às vezes, eu tô com alguma dúvida
e ela fala “oh, bebê, vem cá que eu vou te ajudar”. Aí ela me explica de novo.
[...] ela sempre pergunta “você tá com alguma dúvida?”, aí eu vou e falo. Ela
me ensina de novo (informação verbal)55.
O entrevistado Y2 confirma: “ [...] ela tem total liberdade pra tirar dúvidas, até porque
eu cobro muito isso dela. [...] Então eu deixo isso bem claro pra ela “me pergunta a mesma
coisa 10 vezes, mas não faça errado” [...] eu desenvolvo” (informação verbal)56.
O processo de transmissão cultural é contínuo porque indivíduos surgem e indivíduos
desaparecem. Contudo, não há uma interrupção bruta: não se substituem todos os indivíduos da
Geração X de uma vez. De acordo com Mannheim (1952), há uma geração intermediária,
responsável socialmente pelo intermédio. No caso deste estudo, temos a Geração Y.
Os entrevistados X3, Y2 e Z1, por exemplo, participam do mesmo setor. Retomando o
segundo parágrafo da página 27, é possível evidenciá-lo nas falas de ambos os entrevistados
citados. No que diz respeito à mediação de gerações, o entrevistado Y2 nos conta como causou
uma mudança no pensamento do entrevistado X3 sobre o entrevistado Z1:
Por ela ser uma menor, sempre tinha aquele status de não dar a ela tanta
responsabilidade, até da minha chefe eu ouvi isso uma vez. Até eu chegar na
minha chefe e fazer ela entender que a menor precisa sim ter responsabilidade,
porque é pra vida dela (informação verbal)57.
55 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos). 56 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos). 57 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos).
69
Conforme nos traz Mannheim (1952), quanto mais dinâmica uma sociedade é, mais
flexível os mais velhos são em relação à influência dos mais jovens. Percebemos isto na fala do
entrevistado X3:
Eu me sinto mais tranquila falando com quem é mais jovem do que com uma
pessoa mais madura, dentro da relação de trabalho. Porque eu sinto, assim,
que ele vai olhar pra mim e me criticar “ah, mas você não conhece?”, porque
tem algumas coisas da tecnologia que eu ainda sou só o básico. Então tem
algumas coisas que eu busco ajuda do setor de tecnologia que tem mais jovens
e eu me sinto muito tranquila com eles (informação verbal)58.
3.2. As características de Hamel nos entrevistados
Em 2009, Hamel publicou um artigo em sua coluna do Wall Street Journal no qual
expôs 12 características da nova geração de profissionais. Nos baseamos nelas para elaborar a
segunda parte do nosso questionário, a fim de captarmos significados acerca de alguns assuntos
do universo profissional, como hierarquia, conflitos, relações, liderança, entre outros.
A essência das características que Hamel aborda diz respeito à igualdade de direitos.
Para eles, as lideranças são conquistadas, as tarefas são escolhidas e aqueles que fecham o
conhecimento para si não têm espaço. Algumas das características são resultados do universo
virtual: em um mundo sem barreiras, feito por avatares59, os indivíduos não são separados por
idade ou nacionalidade, eles se agrupam pelas ideias.
Dito isso, utilizamos como um dos critérios de análise das ideias a reincidência dos
significados capturados nas respostas dadas pelos entrevistados. Visto que buscamos realizar
um comparativo do que se percebe entre os jovens da Geração Z e os adultos das demais
gerações, agrupamos as respostas dessa forma. Assim, podemos perceber a diferença entre os
grupos de gerações objetos deste estudo.
Em todas as respostas dos indivíduos das gerações mais velhas, encontramos a
reincidência da palavra “necessário” quando o assunto é hierarquia e normas no ambiente de
trabalho. Quando questionados sobre isso, todos defendem a necessidade de uma hierarquia
bem definida, que sirva de referência para os colaboradores buscarem ajuda e apresentarem
seus resultados.
58 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 59 “Avatar é a manifestação corporal de alguém no espaço cibernético”. A esse respeito ver O que é Avatar,
disponível em: <https://www.significados.com.br/avatar/>. Acesso em 25/01/2019.
70
Aparecem, ainda, a importância das normas para a delimitação das atividades de cada
um e a especificação das responsabilidades atribuídas a cada cargo. O entrevistado X1 diz que
“tem hora que é necessário, até porque pra você poder ensinar, pra você ter uma referência.
Assim como eu tenho minha gestora como referência, eles têm que ter eu, ou algum outro colega
que possa ensinar”60.
Apesar de encontrarmos nas falas a necessidade das hierarquias e normas como forma
de orientação para o colaborador, dois dos entrevistados falaram sobre elas não serem tão
engessadas. O entrevistado X3, por exemplo, disse que o “O ideal seria que não precisasse ter
isso, de ter que responder pra um chefe, pra outro chefe, mas é necessário dentro da
organização” (informação verbal)61. O entrevistado Y1 reafirma o pensamento:
[...] acho que a gente precisa ter uma referência de hierarquia e normas como
referência também. Mas não acho que é o tipo de coisa que precisa ser
engessado. Norma, no sentido de ter alguma coisa organizada e ter regras, mas
não significa que eu precise me sentir num exército. Hierarquia a mesma coisa
(informação verbal)62.
Não muito diferente foram as respostas dos entrevistados da Geração Z. Dos sete
entrevistados, todos defenderam a necessidade das hierarquias e das normas para a boa
organização do ambiente de trabalho. O entrevistado Z3 acredita que as regras servem para
mediar as relações entre as gerações (informação verbal)63, o que vai ao encontro das falas dos
entrevistados Z2 e Z7, respectivamente:
Eu acho que a partir da hierarquia sob as normas de trabalho, eu acho que faz
do ambiente de trabalho um lugar melhor (informação verbal)64.
Não só pra preservar o ambiente de trabalho, mas sim manter o ambiente bem
assim, com um certo respeito e uma melhor convivência (informação
verbal)65.
60 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo
.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 61 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 62 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos). 63 Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos). 64 Z2, Entrevistado. Entrevista VII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (21 minutos e 39 segundos). 65 Z7, Entrevistado . Entrevista XII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (13 minutos e 20 segundos).
71
Ao realizarmos uma leitura das respostas de todos os entrevistados, notamos uma
homogeneidade no que se espera das hierarquias e normas, independente da geração a qual
pertença: busca-se ordem através das regras que definem quem são os líderes e quais são os
trabalhos de cada um.
Ao recorrermos às características encontradas por Hamel (2009), descartamos a terceira
que versa sobre o mesmo assunto, visto que, na amostra entrevistada, nenhum dos jovens da
Geração Z trouxe significados que remetam às “hierarquias naturais” citadas por Hamel. Ainda
é possível refutar parcialmente a quinta característica, visto que todos falam da importância em
ter as atividades especificadas – contrário às “tarefas escolhidas”.
Quando questionados sobre as relações entre jovens e mais velhos no ambiente de
trabalho, em geral, todos consideram suas relações “boas” e “tranquilas”. Os indivíduos das
gerações X e Y trazem em seus discursos a importância de direcionar e guiar os jovens-
aprendizes em seus primeiros trabalhos. Todos afirmam, ainda, que dão liberdade para que os
jovens se sintam à vontade para perguntar ou fazer alguma crítica, acreditam que os jovens, de
fato, sentem isso, mas a posição hierárquica interfere causando certo receio (informação
verbal)66. Entretanto, algumas falas chamaram atenção: o entrevistado X2 afirma que
Trabalhar com o menor hoje em dia não é tão fácil quanto a gente acha. Porque
hoje em dia os jovens não se apegam, não é como antigamente, na nossa época,
que a gente trabalhava pra estudar, casar, constituir família. E hoje, não. Hoje
eles trabalham pensando no hoje. A responsabilidade se tornou pra eles algo
muito vulnerável, então tudo bem estar aqui hoje e estar em outro lugar
amanhã. Eu vejo o jovem hoje assim, ele não tem objetivo futuro, ele só tem
o hoje. É aquele “o amanhã a Deus pertence” (informação verbal)67.
É interessante perceber que nessa fala fica evidente aquilo que sempre foi uma das
preocupações nos estudos de Bauman: a fluidez das relações modernas. Os indivíduos das
gerações passadas buscavam eram empregos sólidos, que os proporcionassem longas carreiras
no mesmo local de trabalho e estabilidade financeira (OLIVEIRA, 2016). Entretanto, os jovens
que se constroem no mundo líquido buscam satisfação em exercer uma atividade que traga
prazer (OLIVEIRA, 2016) e, portanto, não há compromisso com determinada organização e,
sim, com seus objetivos pessoais. O entrevistado X3 segue o pensamento:
66 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 67 X2, Entrevistado. Entrevista II. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (47 minutos e 33 segundos).
72
Mas eu vejo, assim, que os jovens, quando a gente fala, essa geração Y e Z já
né, que já estamos contratando os Z né, a gente vê uma grande dificuldade.
São jovens, extremamente antenados, o tempo inteiro com o celular,
tecnologia, e aí essa questão de regras fica um pouco difícil de se cumprir. O
que você percebe, de alguns mesmo, você vê diferenças de um e outro, que
são da mesma idade, mas você percebe criação, educação, em casa, diferentes.
Então aí você também percebe isso, que hoje o jovem, assim, ele tá difícil de
ser educado dentro de casa, então ele quer já mandar, quer ter as próprias
atitudes e tomar as decisões dele bem mais cedo [...]. Então no trabalho,
principalmente a gente trabalhando com jovem aprendiz, eu falo sempre pro
gestor, quando ele contrata um menor aprendiz pro setor dele: “olha, ele é
como se fosse um filho nosso aqui dentro, a gente orienta, a gente cuida, a
gente ensina, então a gente tem que estar sempre de olho”. É meio que um pai
e uma mãe também (informação verbal)68.
Retomando a fala de Cortella (2016), evidencia-se a necessidade de os profissionais
mais velhos agirem, ainda, como educadores desses jovens. O entrevistado Y1, por exemplo,
traz em sua fala a responsabilidade dos líderes em educar esses indivíduos: “isso vem pro
ambiente de trabalho, porque a gente termina de criar essas meninas com o pai e com a mãe”
(informação verbal)69.
Os jovens da Geração Z confirmam o sentimento dos mais velhos em relação às dúvidas:
todos os entrevistados afirmam que se sentem à vontade para tirar dúvidas com seus líderes e
seus colegas mais velhos. O entrevistado Z3, inclusive, afirma que os mais velhos são
acolhedores com os jovens, dando apoio quando necessário. Todos confirmam, também, que se
tratam de relações “tranquilas”. O entrevistado Z4 diz:
[...] eu particularmente gosto mais de trabalhar com os mais velhos.
Totalmente tranquilos de falar. O jovem, qualquer coisinha, já tem alteração
hormonal (risos), aumenta o tom de voz. Agora, os mais velhos, não – têm
alguns que são meio alterados, né, mas a maioria é bem tranquila. É a geração,
né, dos jovens, mais agitados, mais “eu sei”, “eu quero fazer assim, “é assim
que faz”. Essa é uma característica dessa geração (informação verbal)70.
Contudo, três entrevistados disseram existir certa resistência por parte dos mais velhos
em relação a eles, especialmente nos primeiros contatos. O entrevistado Z1, por exemplo, disse
que existem situações em que os demais colaboradores preferem lidar com sua líder, pois se
68 X3, Entrevistado . Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 69 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos). 70 Z4, Entrevistado. Entrevista IX. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (13 minutos e 22 segundos).
73
trata de uma pessoa mais velha, ainda que o Z1 saiba como proceder. O Z2 e o Z3 também
afirmam a resistência, mais especificamente no começo da relação.
No que tange o acompanhamento das atividades, o cenário é bem difuso, fazendo-nos
pensar que depende da natureza da atividade exercida por cada um. Para os entrevistados da
Geração X, o que importa são os resultados finais e no prazo, sendo as atividades acompanhadas
de maneira mais distante, mas sempre se pondo à disposição do subordinado. Já para os
indivíduos da Geração Y, as atividades devem ser acompanhadas mais de perto – a palavra
“conferir” aparece com frequência na resposta da entrevistada Y2, mas a mesma justifica que
essa cobrança se deve ao fato de mexerem com documentos que vão, principalmente, para a
diretoria.
Dos sete jovens Z, apenas um se manifestou contrário ao acompanhamento mais
próximo, alegando preferir o formato mais distante pelo costume, visto que sua líder trabalha
em um setor distante e possui várias atividades. Os demais afirmam preferir um
acompanhamento próximo, de forma que possam tirar dúvidas e mostrar seus resultados. Nesse
ponto, as ideias se encontram com as da Geração X, que defende essa postura mais próxima.
Quando o assunto é reconhecimento, exceto por um entrevistado, todos os demais
afirmam que o elogio é a melhor forma de reconhecer um bom profissional. Retomando Hamel
(2009), confirmamos a característica 11, a qual versa que os jovens da Geração Z dão mais
valor para as recompensas intrínsecas – assim como os profissionais mais velhos. Os
entrevistados X1 e Z1 afirmam, respectivamente:
Eu acho que todos são importantes. No caso do menor, o financeiro a gente
acaba não podendo alterar o valor, porque é um valor fixo já determinado.
Mas eu acho que o elogio é um fator importante, porque incentiva, eles ficam
mais animados no trabalho, não só eles, pra todo mundo é importante
(informação verbal, grifo nosso)71.
Eu acho que é mais a pessoa te chamar e falar, te elogiar. Eu gosto de receber
elogio assim. Por isso que toda vez que alguém fala que eu tô fazendo um
trabalho bacana, eu fico bem feliz, porque eu vejo a minha evolução, de quem
não tinha nenhum conhecimento pra hoje, então eu acho que essa parte [de
reconhecimento], o reconhecimento do chefe, é bom, é muito bom
(informação verbal)72.
71 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo
.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 72 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).
74
O entrevistado X3 defende que o elogio e o feedback são necessários e que uma
promoção de cargo ou salário, por si só, não incentiva tanto o colaborador. Novamente, as ideias
em relação a um tópico (reconhecimento) se encontram: todos se sentem motivados por um
elogio, independente da geração. Isso nos faz pensar que os valores financeiros não são
princípios dessas gerações entrevistadas, que ultrapassam classificações econômicas, visto que
os entrevistados possuem diferentes rendas familiares. Dois dos jovens citam, ainda, que através
do feedback eles conseguem monitorar seu crescimento profissional.
Em relação ao perfil de liderança, a quarta característica de Hamel (2009) foi
evidenciada, novamente, em todas as falas: os profissionais reconhecem no líder a orientação
como característica fundamental, ou seja, o indivíduo que se faz participativo nas atividades e
guia sua equipe. Um aspecto citado por eles é a necessidade de feedbacks, pois isto torna as
equipes mais coesas e aproxima o líder de seus subordinados.
Nas respostas dos sujeitos mais velhos, a frequência de significados voltados para a
orientação é maior, pois todos colocam em suas falas a importância do líder ter uma boa
comunicação e servir de orientador, principalmente:
Eu acho que de orientação, de estar observando se eles estão seguindo um bom
caminho, se estão fazendo corretamente as coisas, orientá-los de forma
correta, tanto no sentido negativo quanto no positivo, tá chamando, tá falando
o que eles estão fazendo de bom e o que não estão fazendo de bom, porque
isso traz o crescimento. Acho que é isso, a gente tem que buscar ensinar. Esse
é o principal papel (informação verbal, grifo nosso)73.
Nas falas dos jovens, essa característica também aparece com frequência, reafirmando
a teoria de Hamel (2009). As falas dos entrevistados Z3 e Z1 realçam a importância do líder ser
parte da equipe tanto quanto seu subordinado:
O líder tem a função que está ali, acima de todos da equipe, mas ele não deve,
tipo, levantar o nariz, como se fosse um ser superior no setor. Não. Eu acho
que quanto mais parte da equipe ele fizer, com todos ali que estão sob o seu
comando, melhor a equipe trabalha (informação verbal)74.
Eu acho que a questão de ele se impor e falar assim “não, eu tô aqui, você
pode contar comigo” [...] Então, assim, toda vez que ela diz “eu preciso disso”,
eu acho que isso é característica de líder, né. É dizer “eu preciso de você aqui,
eu preciso que você faça isso pra mim” [...] Eu acho que liderança é isso. As
73 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo
.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 74 Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos).
75
pessoas sempre dizem que tem diferença entre líder e chefe, porque o chefe
manda, o líder tá ali, mas ele fala “eu sou líder, mas eu vou te ajudar, você tá
com alguma dúvida? Eu te ajudo”. Acho que é isso (informação verbal)75.
Ao relacionarmos os significados apresentados pelos entrevistados neste assunto,
encontramos sinergia de ideias com as respostas do que eles mais valorizam como
reconhecimento. Em suma maioria, os indivíduos esperam essa comunicação (feedback) por
parte dos líderes e enxergam tal feito como a principal forma de reconhecer um bom
profissional. Para os que já são líderes de equipe, é o que eles afirmam fazer, e os jovens
confirmam a aplicação dessa ideia – de fato, há a rotina de feedbacks em todas as equipes
envolvidas neste estudo.
Sobre as redes sociais, as opiniões se divergem entre as gerações mais velhas e a
Geração Z. Para aquelas, não há problema ter colegas de trabalho em suas redes sociais, e todos
afirmaram tê-los. Notam-se significados de cautela em todas as falas, como ser mais
observador, ter limites e a rede social ser algo pessoal. O entrevistado X3, entretanto, afirmou
que seu superior já o questionou sobre uma publicação, e, desde então, passou a ser mais
expectador. Essa fala vai ao encontro de uma importante colocação do entrevistado Y1:
Nenhuma menor nunca me adicionou em nenhuma rede social. Eu acho assim,
que eles não se sentem tão à vontade. Porque eu acho que, hoje, as pessoas
pregam muito [...] que as redes sociais são vitrines, não vou dizer pra você que
eu não me preocupo, o diretor do hospital me tem nas redes sociais, mas eu
não me preocupo só por ele. Eu não sei quem mais está vendo, eu acho que a
gente tem que ter o mínimo de postura, bom senso [...]. E eu acho que os
menores não têm muito filtro, elas colocam o que elas quiserem. E eu acho
que como existe essa cobrança de postura em rede social, eu ainda acho que
eles têm essa coisa de “não posso adicionar minha chefe, minha chefe não
pode ver”. Eu acho que o menor ainda pensa que tem problema, mas eu acho
que é porque a gente cobra, coloca muito isso na cabeça deles e a gente tem
isso, têm alguns gestores que fazem isso (informação verbal)76.
Fato esse que se confirma na fala dos mais jovens. Dos sete, apenas um (o que possui
mais tempo de serviço no hospital) afirmou ter seu líder nas redes sociais. Todos os demais
afirmaram não ter seus líderes e outros colegas, pois acreditam que as redes fazem parte do seu
lado pessoal e que não há motivo para interação fora do local de trabalho. Uma das falas que
75 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos). 76 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos).
76
nos chamaram a atenção foi do entrevistado Z6: “Eu acho que não dá muito certo, porque aí
acaba pegando muita intimidade, aí atrapalha, eu acho que atrapalha” (informação verbal)77.
Em alguns aspectos, as representações e significados se encontram, contudo, existem
motivos que levam essas gerações a entrarem em conflito dentro do ambiente de trabalho.
Todos os entrevistados relataram algum conflito, vivenciado por si ou por um colega, entre
jovens e mais velhos em relações profissionais.
Para a maior parte dos indivíduos das gerações mais velhas, os conflitos se dão pelo
descumprimento de normas por parte dos jovens. Há afirmações sobre a falta de
comprometimento deles, o que os leva a cometerem erros, contudo, um outro motivo apontado
foi a não receptividade com críticas e a recusa em ser cobrado.
É importante que observemos a divergência nas afirmações dos jovens e suas atitudes:
quando confrontados sobre a importância das hierarquias e normas, todos afirmaram serem
essencial para a ordem do ambiente de trabalho. Entretanto, os líderes em unanimidade
disseram que os jovens têm dificuldade de cumprir as normas, em sua maioria. Aqui se faz
necessária uma investigação mais a fundo, para compreender o que os jovens entendem por
ordem.
O entrevistado X2 relatou a resistência que os mais velhos têm com a inovação trazida
pelo jovem e que isso já foi motivo de conflito que aquele teve que mediar. Fato este que vai
ao encontro das falas dos jovens entrevistados. Em sua maioria, eles afirmaram que os conflitos
ocorrem pela divergência na forma de execução da tarefa, justamente pela conjuntura em que
o mais velho determina a forma de executar uma atividade e o jovem inova, seja para executar
de melhor maneira ou mais rapidamente, ainda que o resultado final se apresente o mesmo:
Tem uma recepcionista que tá aí já faz um tempão e eu acho que ela não vai
muito com a minha cara. Ela estava liberando visita e ela não sabia como que
ela achava o paciente, porque ela tinha que fazer uns negócios lá pra achar e
ela não estava conseguindo achar. Aí eu peguei e ensinei ela. Aí ela começou
a me tratar mal porque eu ensinei ela, ela ficou me tratando super mal a manhã
inteira. Aí muitas vezes eu sei fazer a coisa que a pessoa não sabe, mas eu fico
meio assim de ajudar, vai que a pessoa fica meio assim “ah, que que ela quer
me ensinar? Eu trabalho aqui há mais tempo”. Aí eu fico na minha. Os colegas
mais velhos ficam meio assim porque eu sou nova e eles trabalham ali há mais
tempo (informação verbal)78.
77 Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos). 78 Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos).
77
As diferenças de conhecimento, dá muito choque. Porque eu sempre fiz assim,
por que ele vem fazer de outro jeito? Muita resistência. A pessoa mais velha,
imagina ela pedir pra um jovem ensina-la? Complicado, bem difícil. Aqui isso
se tornou bem comum, porque a área de T.I. aqui é só jovens e a gente depende
deles. Eu mesma não sei, sei o básico do computador (informação verbal)79.
Os motivos dos conflitos têm sua natureza no fluxo que Eisenstadt (1976) apresenta
como normal na transmissão da cultura: o mais velho ensina o mais novo. Contudo, com a
fluidez dos tempos e o massivo acesso às informações por parte dos jovens, além do domínio
técnico das tecnologias, o fluxo pode se inverter. O entrevistado X2 traz em diferentes respostas
a versatilidade do jovem e seu empenho em buscar informações, diferentemente dos mais
velhos que acabam por se acomodarem, já que realizam a mesma função há tempos e esta
sempre dá certo.
Além da inversão do fluxo natural da transmissão cultural (do mais velho para o mais
jovem), temos, ainda, a divergência de valores. Como já exposto, os adultos das gerações mais
velhas buscavam empregos sólidos, ou seja, visavam uma carreira longa na mesma empresa,
subindo hierarquicamente. Já os jovens trazem toda a liquidez do mundo pós-moderno para as
relações do universo profissional: o real comprometimento é consigo mesmo. O individualismo
da era pós-moderna se faz presente no perfil do jovem trabalhador.
Como Bauman e Giddens defendem, a pós-modernidade sucumbiu os valores antigos e
mesmo em aspectos cotidianos, como o caso do fluxo de transmissão de conhecimento, é
possível encontrar a inversão do trânsito de informações. O cenário moderno fomentou tal fato,
e a disposição das tecnologias permitiu que aqueles que detêm a facilidade de lidar com elas
possam instruir aqueles que não possuem domínio sobre o manuseio dos novos dispositivos
tecnológicos.
Com evidência, nem todas as características apresentadas por Hamel (2009) se aplicam
aos jovens da Geração Z que desenvolvem processos de trabalho em Cuiabá. Das 12,
encontramos concretamente nas respostas a evidência de metade e, portanto, não podemos
afirmar a validade das demais nesta amostra entrevistada.
As segunda e oitava características (de Hamel) aparecem em diferentes falas dos
sujeitos, inclusive de gerações distintas. Eles reconhecem a importância de dividir conteúdos e
conhecimentos, contudo há uma divergência: para uma parte, os mais velhos tendem a segurar
79 X2, Entrevistado. Entrevista II. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1
arquivo .mp3 (47 minutos e 33 segundos).
78
para si o que sabem, mas o entrevistado Z4 afirma que os mais jovens são resistentes em
compartilhar conhecimento.
Neste capítulo, apresentamos os dados coletados na pesquisa de campo, com as
entrevistas realizadas com os profissionais do Hospital Santa Rosa que atendiam aos requisitos
esboçados no início deste capítulo. Portanto, foi possível compreender os motivos que levam
ao desencadear de conflitos entre a Geração Z e as demais gerações quando em processo de
trabalho, além de uma análise comparativa entre os valores de cada grupo geracional.
Realizamos as análises por meio de duas teorias, Mannheim (1952) e Hamel (2009), podendo
avaliar com olhares mais minuciosos as relações entre os objetos deste estudo.
Assim, a pesquisa apresentada trouxe respostas ao nosso problema. Embasados nas
teorias apresentadas ao longo desta dissertação, juntamente aos dados coletados, pudemos
construir o conhecimento acerca da amostra estudada, bem como atingir os objetivos geral e
específicos.
79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nossa dissertação surgiu de motivações advindas do meu processo de trabalho e das
relações que intermediava, assim como os conflitos que eu gerenciava. Pautados nessas
experiências e nas leituras de matérias, trabalhos acadêmicos e livros, percebemos a
importância que as Ciências Humanas e Sociais têm para a Administração, em especial para a
Gestão de Recursos Humanos.
Nos centramos em responder o nosso problema de pesquisa: se no Hospital Santa Rosa
ocorrem conflitos entre as gerações e os motivos pelos quais se dão. Para viabilizar tal processo,
optamos pela metodologia qualitativa, por meio de entrevistas semiestruturadas com dois
grupos de indivíduos – a Geração Z e as demais gerações. Assim, dois questionários com as
mesmas indagações foram elaborados, mas com linguagens adequadas para cada grupo.
O nosso objetivo geral, analisar os motivos que levam ao desencadear de conflitos,
demandou quatro objetivos específicos para que fosse possível tal análise, sendo eles: a)
identificar os principais pontos de convergências e divergências, no ambiente de trabalho, entre
a Geração Z e as demais gerações; b) analisar como os valores comportamentais da Geração Z
implicam as relações sociais no trabalho, c) trabalhar as características das relações sociais entre
as gerações neste locus e d) discutir a trajetória de formação pessoal e profissional das demais
gerações que trabalham diretamente com a Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou
não de indivíduos que fazem parte dessa Geração.
Visto que todo profissional é um Ser cuja formação da identidade vem de um processo
de construção histórica, influenciado pelos demais seres com os quais socializa e dos quais
recebe valores, conhecer essa trajetória é fundamental para a compreensão dele enquanto
profissional. Sendo um ambiente de trabalho composto por diferentes Seres, advindos de
diferentes origens, situações socioeconômicas e estrutura familiar, é preciso que os líderes,
especialmente os envolvidos na gestão direta dos Recursos Humanos, se disponham a olhar
para este profissional enquanto indivíduo social.
Portanto, a leitura histórica das gerações é um processo necessário para a compreensão
das características e significados que cada uma carrega. Como defendido por Mannheim (1952),
uma divisão puramente cronológica ignora os fatores que, de fato, influenciam na formação do
inconsciente do indivíduo e, consequentemente, sua personalidade. Ao pensarmos em geração
enquanto grupo social, distanciar-nos da divisão por idade nos permite avaliar o contexto
histórico no qual aquele grupo se formou.
80
Ao retomarmos os conceitos do primeiro capítulo, é observável a ênfase que os
acontecimentos históricos recebem dos autores Mannheim (1952), Foracchi (1972, 1982) e
Eisenstadt (1976). Hall (1997, 2003, 2014) e Woodward (2014) também se atêm a eles, quando
nos mostram que a identidade do sujeito se dá pela diferença e, logo, aquela se pauta nas
características do outro formadas a partir da internalização que os indivíduos fazem dos fatos
que vivenciou.
Em todas as categorias referentes à problemática das gerações, Mannheim (1952)
imputa a elas os acontecimentos históricos, somados a outros fatores, como a situação
econômica, por exemplo. Portanto, para uma compreensão mais próxima da realidade, olhar
para o passado é necessário para compreender o presente. Hall (2003) e Woodward (2014)
esboçam essa perspectiva quando nos falam sobre a posição histórica do sujeito e defendem
que uma das maneiras de se pensar em identidade cultural é a partir da busca de um grupo pelo
seu passado único e partilhado.
Adotando a historicidade como percurso fundamental para a compreensão dos novos
indivíduos (os jovens da Geração Z), olhar para as gerações passadas (Belle Époque, Baby
Boomers, X e Y) foi o trajeto que percorremos no subitem 1.3. Após caminharmos pelos
acontecimentos vivenciados pelos mais velhos, seja em nível mundial ou nacional,
identificamos pontos que os fizeram pensar e agir.
Ao entendermos os fatos que levaram os pais dos jovens da Geração Z a cristalizarem
determinados habitus, pudemos, então, analisar como estes atuaram na transmissão cultural
para os mais novos. Contudo, fez-se necessário olhar, ainda, para o cenário atual. Além das
atitudes intrínsecas dos pais, foi preciso compreender o ambiente pós-moderno, que demanda,
frequente e rapidamente, mudanças nos comportamentos dos indivíduos.
Mais do que nunca, no ambiente de trabalho, as tecnologias da informação se fazem
presente de forma recorrente e em grande parte das atividades. As documentações, antes feitas
via papel, hoje passam por sistemas e e-mails, possibilitando que vários profissionais tenham
acesso ao mesmo documento simultaneamente. Isso modificou a forma de trabalhar e, assim
como no universo pessoal, modificou as relações.
Sendo os indivíduos das gerações mais antigas influenciados pelo Regime Militar,
enfatizando que os pais dos jovens da Geração Z formaram suas personalidades nesse período,
é possível compreender porque “ordem” e “disciplina” aparecem em seus discursos. Contudo,
a liberdade advinda da era pós-moderna, fomentada pelas tecnologias, exige flexibilidade dos
sujeitos e, portanto, aquelas categorias passam por dificuldade de se instalarem enquanto valor
para os jovens contemporâneos.
81
Ao definir o mundo como “líquido”, Bauman (2001) nos demonstra que a ruptura com
os valores e tradições antigas trouxe a flexibilidade como principal valor na modernidade.
Entretanto, as mudanças tecnológicas e o advento da internet acarretaram em uma excessiva
demanda de mudanças e adaptações por parte dos indivíduos. Em meio a esse “caos”, como
define Harvey (2008), a pós-modernidade e as facilidades de todas as revoluções supracitadas
introjetaram o individualismo como principal valor nessa era.
Somado aos pais que buscam compensar suas ausências dentro de casa através de
presentes materiais – estimulando o consumismo, como nos diz Cortella (2016), temos o fato
de que aqueles procuram, ainda, proporcionar a seus filhos tudo aquilo que não tiveram em suas
juventudes. Nesse sentido, Oliveira (2016) enxerga um cenário inóspito para o amadurecimento
dos jovens da Geração Z, pois seus pais promovem um ambiente favorável à postergação da
fase das consequências.
Em um contexto tão propício ao consumismo e individualismo, as responsabilidades
necessárias nas interações sociais são deixadas de lado. Eximindo-se dessa função de
transmissores da cultura, os pais repassam essa função para a escola, que, por sua vez, acaba
deixando para o ambiente de trabalho.
Assim como defendem Marx (s/d) e Durkheim (1999), o trabalho tem uma função
social. Portanto, o que os indivíduos da Geração Z absorveram enquanto valores nas primeiras
interações sociais, é carregado para dentro do ambiente profissional. Dessa forma, os traços de
individualismo e, por vezes, egoísmo aparecem no desempenhar de suas funções.
Além das afirmações dos autores que estudam gerações e pós-modernidade,
encontramos essas características nas entrevistas realizadas. Os conflitos existentes entre os
jovens da Geração Z e das demais ocorrem no Hospital Santa Rosa devido à falta de
compromisso, em termos amplos. A dificuldade desses jovens em aceitar as regras e cumprir
os horários faz com que seus líderes, pertencentes às gerações mais velhas, os percebam como
egoístas em relação ao trabalho – realizam suas atividades a seu próprio tempo.
Entretanto, vale salientar, que outro motivo de conflito entre os grupos é a dificuldade
que os indivíduos mais velhos têm em receber orientações e ajudas dos mais novos. Retomando
Eisenstadt (1976), sendo o processo natural de transmissão aquele que parte do adulto, uma
alteração no fluxo gera incômodo – conforme os exemplos relatados pelos entrevistados – por
parte do adulto.
Portanto, podemos afirmar que os motivos dos conflitos entre as gerações mais velhas
(X e Y) e a geração mais nova (Z) têm origem em dois fatores: [1] a inversão do processo de
transmissão cultural, pois hoje os jovens também transmitem informações aos mais velhos e [2]
82
o choque de valores entre essas gerações. Isso porque o adulto profissional tenta transmitir ao
jovem valores como comprometimento com normas, por exemplo, e o jovem refuta tal valor.
Retomando a categoria “contato original”, podemos afirmar que ao realizar esse contato
com alguns valores do mundo profissional, os jovens os questionam, ainda que não seja de
forma verbal. Como Mannheim (1952) defendeu, é nesse contato que tradições antigas e
comportamentos são questionados e modificados, como os profissionais mais novos têm feito.
As revoluções tecnológicas trouxeram grandes mudanças para as sociedades pós-
modernas e as facilidades do mundo virtual volatilizaram as relações sociais. Posto que as
gerações são grupos que, ao mesmo passo do ritmo biológico, também vivenciam os mesmos
processos histórico-sociais, essas mudanças na forma de se relacionar afetaram diretamente a
formação social dos jovens da Geração Z.
Visto que o trabalho possui sua função social e, logo, demanda que relações ocorram
dentro deste ambiente, as mudanças incorporadas pelos novos atores sociais são
experimentadas pelos indivíduos mais velhos dentro do ambiente profissional também.
Portanto, conflitos que, no passado, eram vivenciados dentro de casa apenas, ganharam espaço
no mundo do trabalho.
Em relação às características abordadas por Hamel (2009), é preciso que o estudioso das
gerações não assuma essas características como verdade ao estudar um grupo de jovens da
Geração Z. Isso porque este estudo mostrou que algumas das características podem não ser
presentes em determinado grupo, como é o caso da amostra estudada.
Podemos sugerir que isso se dá pelo fato de Hamel (2009) ter aplicado sua pesquisa a
jovens americanos, expostos a fatores socioeconômicos diferentes dos estudados nesta
dissertação. Como já abordado, com base nas categorias de Mannheim (1952), nem todo
indivíduo que pertence a uma geração específica partilhará das mesmas características
necessárias para serem da mesma unidade de geração.
Após as entrevistas e a análise das categorias, podemos afirmar que os conflitos
existentes merecem a atenção da academia, pois envolvem inversão no fluxo de processos
sociais (transmissão cultural) e questionamento dos valores no processo de contato original.
Ainda se faz necessário investigar a representação para esses jovens de algumas categorias,
como “ordem” e “hierarquia”, conforme apresentamos no capítulo três.
A fim de tornar este conhecimento acessível para todos os envolvidos, nos preocupamos
em usar uma linguagem de fácil compreensão, além de explicar conceitos da forma mais clara
possível. Assim, buscamos torná-la acessível, principalmente, ao nosso objeto de estudo: os
jovens da Geração Z.
83
Esperamos que nossa pesquisa contribua com a academia, de forma a fomentar outras
pesquisas, e enriqueça o currículo das Ciências Humanas e Sociais, bem como da
Administração. Também esperamos que ela se faça um instrumento para a Gestão de Recursos
Humanos, abrindo os horizontes para a gestão dos conflitos geracionais. Por fim, ansiamos que
esta dissertação inspire jovens e adultos, de diferentes gerações, a se auto conhecerem e a
conhecerem seus pares, aprimorando a convivência em diversas esferas da vida humana.
84
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X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos).
Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos).
Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos).
Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).
Z2, Entrevistado. Entrevista VII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (21 minutos e 39 segundos).
89
Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos).
Z4, Entrevistado. Entrevista IX. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 22 segundos).
Z5, Entrevistado. Entrevista X. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 54 segundos).
Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos).
Z7, Entrevistado. Entrevista XII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.
Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 20 segundos).
90
ANEXOS
ANEXO A
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos você para participar da pesquisa RELAÇÕES DE TRABALHO ENTRE
GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES,
sob a responsabilidade da pesquisadora Pâmela Ingrid Simioni Costa, e orientação do prof.
Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.
O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de
conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em
processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,
pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais
antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho
e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a
geração z no ambiente de trabalho.
A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da
pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se
compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.
A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da pesquisa, você
poderá desistir e retirar seu assentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua relação
com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ou com a instituição
privada com a qual você trabalha.
Primeiro você responderá a algumas perguntas sobre idade, gênero, renda familiar e
escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da população,
nada que identifique você será realmente usado nessa pesquisa.
Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,
esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a
91
transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de
reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de
opinião. Haverá 10 (dez) questões abertas e você deverá dizer o que pensa sobre cada assunto
e responder conforme opinião própria. As suas respostas serão de uso exclusivo dessa pesquisa
e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da pesquisa. O
tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.
Os riscos decorrentes da sua participação na pesquisa são mínimos e se restringem a
responder à algumas perguntas, mas caso você não se sinta à vontade, poderá se negar a
responder a qualquer momento e a qualquer pergunta. Em contrapartida, o benefício indireto
para você será a sua colaboração para uma melhor compreensão das relações de trabalho entre
diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o assunto para a academia.
Além disso, diretamente, você se beneficiará também de uma melhor compreensão dos colegas
com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver melhor suas relações, pois
você terá acesso aos resultados da pesquisa, quando concluída.
Se depois de assentir em sua participação, você desistir de continuar participando, você
tem o direito e a liberdade de retirar seu assentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes
ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo à sua pessoa.
Você não terá nenhuma despesa e também nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa
serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.
Para qualquer outra informação, você poderá entrar em contato com o pesquisador no
endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I, pelo telefone (65) 99984-8762 ou
ainda pelo e-mail [email protected] ou com o orientador prof. Dr. Hidelberto de
Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon varjão, nº 6.390 – Barra do Garças, pelo telefone
(66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].
A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo Comitê de Ética em
Pesquisa.
O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado
interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do
cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela
profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no Instituto de Educação
da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail
92
Assentimento pós–informação
Eu, ________________________________________________________________, fui
informado (a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e
entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou
ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão
ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma
via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer momento posso solicitar e terei
acesso a este termo.
_______________________________ ________________________________
Assinatura do participante Assinatura do pesquisador
responsável
Data: ____/ _____/ ______
93
ANEXO B
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) seu (sua) filho (a) para participar da pesquisa RELAÇÕES DE
TRABALHO ENTRE GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: Geração Z e
demais gerações, sob a responsabilidade da pesquisadora Pâmela Ingrid Simioni Costa, e
orientação da Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.
O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de
conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em
processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,
pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais
antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho
e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a
geração z no ambiente de trabalho.
A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da
pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se
compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.
A participação do (a) seu (sua) filho (a) é voluntária e precisa da sua permissão para que
ele (a), colaborador do Hospital Santa Rosa, seja entrevistado (a) e responda às perguntas do
questionário conforme opinião própria. A participação dele (a) não é obrigatória sendo que, a
qualquer momento da pesquisa, o (a) senhor (a) ou seu (sua) filho (a) poderá desistir e o (a)
senhor (a) retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua relação ou
do (a) seu (sua) filho (a) com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) ou com a instituição privada com a qual ele (a) trabalha.
Primeiro ele (a) responderá algumas perguntas sobre idade, gênero, renda familiar e
escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da população,
nada que identifique seu (sua) filho (a) será realmente usado nessa pesquisa.
Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,
esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a
94
transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de
reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.
A participação dele (a) é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de
opinião. Haverá 10 (dez) questões abertas e ela (a) deverá dizer o que pensa sobre cada assunto
e responder conforme opinião própria. As respostas dele (a) serão de uso exclusivo dessa
pesquisa e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da
pesquisa. O tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.
Os riscos decorrentes da participação do (a) seu (sua) filho (a) na pesquisa são mínimos
e se restringem a responder à algumas perguntas, mas caso ele (a) não se sinta à vontade, ele
(a) poderá se negar a responder a qualquer momento e a qualquer pergunta. Em contrapartida,
o benefício indireto para ele (a) será a sua colaboração para uma melhor compreensão das
relações de trabalho entre diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o
assunto para a academia. Além disso, diretamente, ele (a) se beneficiará também de uma melhor
compreensão dos colegas com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver
melhor suas relações, pois ele (a) terá acesso aos resultados da pesquisa, quando concluída.
Se depois de consentir em sua participação, o senhor (a) e seu (sua) filho (a) desistirem
de consentir, têm o direito e a liberdade de retirarem seus consentimentos em qualquer fase da
pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum
prejuízo às suas pessoas. O (a) senhor (a) e seu (sua) filho (a) não terão nenhuma despesa e
também não receberão nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e
publicados, mas A identidade dele (a) não será divulgadas, sendo guardada em sigilo.
Para qualquer outra informação, o (a) senhor (a) e seu (sua) filho (a) poderão entrar em
contato com a pesquisadora no endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I,
pelo telefone (65) 99984-8762 ou ainda pelo e-mail [email protected] ou com o
orientador prof. Dr. Hidelberto De Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon Varjão, nº 6.390
– Barra do Garças, pelo telefone (66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].
A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo comitê de ética em
pesquisa.
O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado
interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do
cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela
profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no Instituto de Educação
95
da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail
Consentimento Pós–Informação
Eu, ___________________________________________________________, fui informado
(a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da colaboração do (a) meu (minha)
filho (a), e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em permitir que meu (minha) filho (a)
_______________________________________ participe, sabendo que ele (a) não vai ganhar
nada e que pode sair e retirar seu consentimento quando quiser. Este documento é emitido em
duas vias que serão ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo
pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer
momento posso solicitar e terei acesso a este termo.
__________________________________ ________________________________
Assinatura do Responsável Legal Assinatura do Pesquisador Responsável
Data: ____/ _____/ ______
96
ANEXO C
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) senhor (a) para participar da pesquisa RELAÇÕES DE
TRABALHO ENTRE GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: Geração Z e
demais gerações, sob a responsabilidade da pesquisadora Pamela Ingrid Simioni Costa, e
orientação da Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.
O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de
conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em
processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,
pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais
antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho
e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a
geração z no ambiente de trabalho.
A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da
pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se
compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.
A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da pesquisa, você
poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua
relação com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ou com
instituição privada com a qual o senhor (a) trabalha.
Primeiro o (a) senhor (a) responderá a algumas perguntas sobre idade, gênero, renda
familiar e escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da
população, nada que identifique o (a) senhor (a) será realmente usado nessa pesquisa.
Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,
esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a
transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de
reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.
97
Sua participação é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de
opinião. Haverá 11 (onze) questões abertas e você deverá dizer o que pensa sobre cada assunto
e responder conforme opinião própria. As suas respostas serão de uso exclusivo dessa pesquisa
e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da pesquisa. O
tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.
Os riscos decorrentes da sua participação na pesquisa são mínimos e se restringem a
responder à algumas perguntas, mas caso o (a) senhor (a) não se sinta à vontade, poderá se
negar a responder a qualquer momento e qualquer pergunta. Em contrapartida, o benefício
indireto para o (a) senhor (a) será sua colaboração para uma melhor compreensão das relações
de trabalho entre diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o assunto
para a academia. Além disso, diretamente, o (a) senhor (a) se beneficiará de uma melhor
compreensão dos colegas com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver
melhor suas relações, pois o (a) senhor (a) terá acesso aos resultados da pesquisa, quando
concluída.
Se depois de consentir em sua participação o senhor (a) desistir de continuar
participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da
pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum
prejuízo à sua pessoa. O (a) senhor (a) não terá nenhuma despesa e também nenhuma
remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não
será divulgada, sendo guardada em sigilo.
Para qualquer outra informação, o (a) senhor (a) poderá entrar em contato com o
pesquisador no endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I, pelo telefone (65)
99984-8762 ou ainda pelo e-mail [email protected] ou com o orientador prof. Dr.
Hidelberto de Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon Varjão, nº 6.390 – Barra do Garças,
pelo telefone (66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].
A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo Comitê de Ética em
Pesquisa.
O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado
interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do
cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela
profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no instituto de educação
da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail
98
Consentimento Pós–Informação
Eu, ________________________________________________________________, fui
Informado (a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e
entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou
ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão
ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma
via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer momento posso solicitar e terei
acesso a este termo.
_______________________________ ________________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador Responsável
Data: ____/ _____/ ______
99
ANEXO D
I- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1.Instituição de trabalho:
2. Nome (opcional):
II- DADOS PESSOAIS – PERFIL SÓCIO ECONOMICO
3. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Outros ( )
4. Idade:______anos
5. Estado Civil: Solteiro (a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) ( ) Divorciado(a) ( )
Viúvo(a) ( ) Vivo com companheira ( ) Vivo com companheiro ( )
6. Estado de origem: _____ e Município de origem:__________________________________
7. Em seu município de origem você morava na região: Urbana ( ) Rural ( )
8. Em que localidade da cidade você mora?
Bairro na periferia da cidade ( ) Bairro na região central da cidade ( ) Condomínio
residencial fechado ( ) Conjunto habitacional (CDHU, COHAB, Cingapura, BNH, etc.) ( )
Favela / Cortiço ( ) Região rural (chácara, sítio, fazenda, aldeia, etc.) ( ) Outro(
) Onde: ____________________________
9. Com quem você mora? (Múltipla escolha) Pais ( ) Cônjuge( ) Companheiro
(a) ( )
Filhos ( ) Sogros ( ) Parentes ( ) Amigos ( ) Empregados domésticos ( )
Outros ( ) _________________________________________
10. Qual o seu grau máximo de escolaridade? Ensino fundamental completo ( ) Ensino
médio completo ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ( )
Outro ( ) _______________________
11. Cargo: Menor aprendiz ( ) Estagiário ( ) Contrato temporário ( ) Efetivo ( )
12.Há quanto tempo trabalha? ________________ 13. Qual setor?______________________
14.Qual é a sua renda familiar mensal?
De 01 a 03 salários mínimo ( ) De 3 a 6 salários mínimos ( )
De 6 a 9 salários mínimos ( ) Mais de 10 salários mínimos ( )
15.Grau máximo de escolaridade da mãe?
Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( )
Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )
Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( )
Especialização ( ) Mestrado ( )
Doutorado ( ) Pós-Doutorado ( ) Desconheço ( )
16. Grau máximo de escolaridade do pai?
Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( )
100
Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )
Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( )
Especialização ( ) Mestrado ( )
Doutorado ( ) Pós-Doutorado ( ) Desconheço ( )
ROTEIRO PARA ENTREVISTA – GERAÇÃO Z
1) O que você acha de hierarquia e normas no trabalho? Você acha necessário ou acha
que daria certo se não tivesse?
2) Como é a sua relação com os seus colegas de trabalho mais velhos/mais novos?
3) E a sua relação com o seu chefe, como é?
4) Você se sente à vontade para tirar dúvidas ou fazer sugestões para seu chefe?
5) Quais as características você reconhece em um líder?
6) Você prefere que seu chefe acompanhe suas atividades de maneira mais próxima?
7) Você já entrou em conflito com o seu chefe ou com algum colega de trabalho mais
velho/novo? Se sim, como você reagiu? Se não, por que não?
8) Na sua opinião, qual a melhor forma de reconhecer um bom profissional?
Financeiro, benefícios, elogios, destaque, promoção de cargo?
9) Você se relaciona com seus colegas de trabalho e seu chefe nas suas redes sociais
ou prefere separar o pessoal do profissional?
10) Na sua concepção quais são as principais causas ou motivos de conflitos entre
jovens e mais velhos no local de trabalho?
ROTEIRO PARA ENTREVISTA – DEMAIS GERAÇÕES
1) O que você acha de hierarquia e normas no trabalho? Você acha necessário ou acha
que daria certo se não tivesse?
2) Como é a sua relação com os seus colegas mais novos?
3) E a sua relação com seu subordinado, como é? (somente para o chefe)
4) Você acha que seu colega/subordinado se sente à vontade para tirar dúvidas com
você ou fazer sugestões?
5) Quais as características você reconhece em um líder? E quais características você
reconhece em um bom profissional?
6) Você acha que seu subordinado/colega tem essas características?
7) Você prefere acompanhar as atividades do seu subordinado de maneira mais
próxima? (somente para o chefe)
101
8) Você já entrou em conflito com o seu subordinado ou com algum colega de trabalho
mais novo? Se sim, como você reagiu? Se não, por que não?
9) Na sua opinião, qual a melhor forma de reconhecer um bom profissional?
Financeiro, benefícios, elogios, destaque, promoção de cargo?
10) Você se relaciona com seus colegas de trabalho nas suas redes sociais ou prefere
separar o pessoal do profissional?
11) Na sua concepção quais são as principais causas ou motivos de conflitos entre
jovens e mais velhos no local de trabalho?