Condicionamento respondente e abuso de drogas: revendo
conceitos clássicos e debatendo avanços recentes
Marcelo Frota BenvenutiUniversidade de Brasília
Drogas e comportamento
• Questões complexas e amplas em análise do comportamento– Consumo, dependência, tolerância,
abstinência etc
Drogas e comportamento
• Questões complexas e amplas em análise do comportamento– Consumo, dependência, tolerância,
abstinência etc
– Análise dos processos psicológicos básicos
ANÁLISE e SÍNTESE
Comportamento
• Comportamento é relação organismo ambiente
nesse sentido, descrever comportamento significa descrever a história de constituição das relações organismo-ambiente.
Relações Operante e Respondente
• Relação Operante: organismo atua sobre o ambiente, produzindo conseqüências.
unidade de análise do behaviorista
• Relação Respondente: respostas são eliciadas por estímulos.
Relação Operante– Análise das contingências
resposta-mudança ambiental
Relação Operante– Análise das contingências
resposta-mudança ambiental
Perguntas:
Como a droga se torna um evento reforçador?
Quais respostas esse evento reforçador modela e fortalece?
Que tipo de reforçador é esse?
Quais são nossos instrumentos para alterar comportamento?
Relação Respondente
– Análise do comportamento eliciado e do papel das contingências S-S
– Relação um pouco “ofuscada” pelo impacto da noção de operante na análise do comportamento
Identificando Relações Respondentes
• Respostas são eliciadas por estímulos:
ESTÍMULOS RESPOSTAS
Identificando Relações Respondentes
• Necessidade da identificação da probabilidade da resposta na presença e na ausência do estímulo
probabilidade condicional da resposta P(R/S) próxima de 1,0 e
P(R/NS) próxima de 0.
Papel dos Respondentes no Comportamento dos Animais
• Relação S-R papel na sobrevivência dos membros de uma determinada espécie.
“se o animal não estiver em exata correspondência com o meio ambiente ele deixará, cedo ou tarde, de existir ... o animal deve responder a mudanças do meio ambiente de maneira que sua atividade respondente seja dirigida à preservação de sua existência” (Pavlov, 1927/1980).
Pavlov, I. (1980). O reflexo. Textos selecionados. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril (Trabalho original de 1927)
Relações Respondente
alimento na boca salivação
sopro de ar piscada
batida no joelho “chutar”
“susto” taquicardia, sudorese
Relações Respondente• Respostas são eliciadas por estímulos:
ESTÍMULOS RESPOSTAS
Repertório do organismo como membro de uma
espécie
Respondente Incondicional
• Eliciação da resposta por um estímulo a despeito da experiência individual:
Estímuloincondicional
Resposta incondicional
Respondente Incondicional
• Eliciação da resposta por um estímulo a despeito da experiência individual:
EstímuloIncondicional
US
Resposta Incondicional
UR
Respondentes Incondicionais
US UR
Sistema digestivo
Alimento salivação
Alimento estragado enjôo, náusea
Objeto no esôfago vômito
Respondentes Incondicionais US URSistema CirculatórioAlta temperatura suor, ruborBarulho repentino palidez, taquicardia
Sistema respiratórioIrritação no nariz “espirro”Garganta fechada “tosse”“Alergênicos” ataque de asma
Respondentes Incondicionais
US UR
Sistema reprodutivo
lubrificação vaginal
Estimulação genital ereção
orgasmo
Estimulação do mamilo liberação do leite
(em mulheres lactantes)
Respondentes Condicionais• Dependem da experiência, são construídos
“... por meio do condicionamento respondente (Pavloviano), respostas preparadas anteriormente pela seleção natural podiam ficar sob controle de novos estímulos.” (Skinner, 1981)
Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences.
Condicionamento Respondente
Estímulo Novo(Neutro)
EstímuloIncondicional
US
RespostaIncondicional
UR
Condicionamento Respondente
Estímulo
Novo
EstímuloIncondicional
US
RespostaIncondicional
UR
Resposta
Condicional
Condicionamento Respondente
Passos
Alimento
US
Salivação
UR
Condicionamento Respondente
Passos
CS
Alimento
US
Salivação
UR
Salivação
CR
Condicionamento Respondente• Um exemplo experimental: Anrep (1920)*
•Relação número de pareamentos / força do respondente condicional:
* Dados citados em Keller e Shoenfeld (1950)
Condicionamento Respondente
Cheiro ou visão do alimento
Pratos e talheres
Nome impresso de um prato no cardápio etc.
alimentoUS
salivaçãoUR
salivação
CR
Condicionamento Respondente
Mentir
Estimulação aversiva
sudorese
sudorese
Condicionamento Respondente
Gosto do alimento
Alimento estragado
Enjôo
Enjôo
Condicional
Condicionamento Respondente
Mentir
Estimulação aversiva
sudorese
sudorese
Tipos de Condicionamento
Aquisição e extinção de respondentes condicionais
• Aquisição– Estímulo neutro, depois US
– Resultado: estímulo neutro torna-se CS
• Extinção– CS, sem US
– Resultado: CS perde seu valor de estímulo eliciador
Condicionamento e Extinção Respondentes
Condições que Produzem Condicionamento Respondente• Tradicionalmente, fala-se de associação
ou pareamento:
ora como uma atividade do organismo
ora como uma relação entre os estímulos
Condições que Produzem Condicionamento Respondente• Associação é feita pelo ambiente, não
pelo organismo.
• A mera associação, ou pareamento, de um estímulo com outro não é condição suficiente nem necessária para haver condicionamento.
Associação ou Pareamento
Duas condições em que há o mesmo número de pareamentos
CS / US
Condições que Produzem Condicionamento Respondente• Para haver condicionamento é necessária
a relação condicional entre dois estímulos:
– Se estímulo A (CS)...então estímulo B (US)
– Se “não estímulo A”... então “não estímulo B”
“O equilíbrio garantido por esses reflexos [absolutos ou incondicionais] só poderia ser perfeito se o mundo exterior fosse constante, imutável. Entretanto, como o meio exterior, além de sua extrema diversidade, está em contínua transformação, os reflexos absolutos, como conexões permanentes, não bastam para assegurar esse equilíbrio e devem ser complementados por reflexos condicionais, isto é, por conexões temporárias.” (p. 54).
Condições que Produzem Condicionamento Respondente
Pavlov, I. (1980). O reflexo condicionado. Textos selecionados. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril (Trabalho original de 1934)
• Drogas opióides: por exemplo: morfina e heroína
Droga pode ser vista como um estímulo incondicional: US UR
substância efeitos no da organismo droga
Respondentes e Drogas
• Efeitos Incondicionais de drogas opióides:
– Diminuição da sensibilidade à dor;
– Aumento da temperatura corporal;
– Euforia;
– Relaxamento;
– Diminuição da freqüência cardíaca; etc.
Respondentes e Drogas
• Efeitos da droga passam a ser cada vez mais fracos ao longo de administrações sucessivas.
• Com o desenvolvimento de tolerância, é necessário cada vez uma quantidade maior da droga para que sejam obtidos os efeitos incondicionais iniciais.
Tolerância.
• Siegel (1975):
# Ratos
# Equipamento: hot plate (54,2o C).
# Medida: quanto tempo demorava para o rato lamber a pata quando colocado na superfície quente.
medida de sensibilidade à dor
Tolerância Envolve Aprendizagem?
• Sujeitos divididos em três grupos experimentais e um grupo controle:
A) quatro administrações da mesma quantidade de morfina – sujeitos testados no hot plate.
B) quatro administrações da mesma quantidade de morfina – sujeitos testados no hot plate desligado.
C) quatro administrações da mesma quantidade de morfina – sujeitos testados somente na quarta administração.
D) quatro administração de salina – sujeitos testados no hot plate
Siegel (1975)
• US: Morfina
• UR: Diminuição da Sensibilidade à dor, medida pelo tempo que demorava para o sujeito lamber a pata.
• CS: Hot Plate
• CR: ??
Siegel (1975)
controle morfina + (salina) hot plate frio
morfina + morfina Hot Plate sem hot plate
Siegel (1975)
Efeitos de Drogas e Condicionamento Respondente.
1) principais efeitos
da droga (UR)
Droga (US) 2) processos
regulatórios que se opõem ao distúrbio
fisiológico, restabelecendo o equilíbrio anterior (UR)
• Substância efeito efeito imediato compensatório
• morfina/ analgesia hiperalgesia
heroína
• álcool diminuição da aumento da
temperaturas temperatura
Efeitos compensatórios incondicionais.
DROGA(US)
Efeitos de Drogas e Condicionamento Respondente.
Processos regulatórios que se opõem ao
distúrbio fisiológico(UR)
CS Processos regulatórios
(CR)
Implicações do condicionamento de respostas compensatórias
US
+ efeito da droga “compensado”
CS - tolerância -
• Com morfina (US): desenvolvimento de tolerância
• Com salina (CS, sem US): hiperalgesia
Siegel (1975)
• Efeitos opostos aos incondicionais produzidos pela droga.
CS CR
sem apresentação do US, sem a eliciação de UR
Síndrome de Abstinência
• Com drogas opióides, os sintomas de abstinência incluem:
– Dor e irritabilidade,
– Insônia,
– Diminuição da temperatura do corpo,
– Amento da pressão arterial,
– Diarréia, etc.
Síndrome de Abstinência
Síndrome de Abstinência
O’Briem (1976) lista alguns exemplos de CSs que podem provocar a “síndrome de abstinência”:
– Visão de um colega utilizando droga;
– Falar sobre drogas em um grupo de terapia;
– Visão de alguém utilizando drogas em cartazes de campanhas anti-drogas.
Síndrome de Abstinência
• O’Briem (1976): um estudo de caso.# homem de 28 anos, com história de 10 anos de adição a narcóticos;# preso por seis meses - experimentou fortes sintomas de abstinência nos primeiros dias de prisão; # pouco antes de sair da prisão, arranjou emprego novo e relatava não querer mais procurar drogas.
O’Briem (1976): Um estudo de caso
“... voltando para casa, depois de deixar a prisão, ele começou a pensar em drogas e a sentir-se nauseado. Ao se aproximar do metrô, parou, começou a suar, a lacrimejar e a passar mal. Esse era o lugar no qual ele freqüentemente havia experimentado sintomas de abstinência enquanto tentava comprar drogas ... no dia seguinte ele continuou experienciando forte desejo pelas drogas e sintomas de abstinência em seu bairro ... logo ele retomou o consumo de drogas” (O’Brien, 1976, p. 533).
Condicionamento e “Overdose”• “Overdose”: sugere o efeito de uma grande
quantidade de uma droga.
• Papel do condicionamento:
depois do desenvolvimento de tolerância:
sem CS sem resposta compensatória
US efeito da grande quantidade da droga
Condicionamento e “Overdose”
US
Sem as “dicas” ambientais que
geram tolerância (CS).
“Overdose”
Condicionamento e “Overdose”• Siegel (1982): história de condicionamento
pode evitar morte por “overdose”?
# teste do efeito de uma droga letal de heroína (15 mg/kg.) em ratos com uma de três histórias.
A) tolerância em ambiente A - dose letal no ambiente A (CS-CS);
B) tolerância em ambiente A – dose letal no ambiente B (CS- sem CS);
C) controle: sem história de tolerância.
Siegel (1982)• Resultados:
Mortalidade dos ratos após injeção de heroína (15 mg/kg.) *
* Adaptado de Siegel (1982)
Grupo Número de ratos
Mortalidade (%)
CS-CS 37 32,4
CS-sem CS 42 64,3
Controle 28 96,4
Algumas implicações:
• Siegel (1984):entrevistas com 10 sobreviventes de “overdose” por heroína:# para 7 dos 10, as circunstâncias da administração da droga eram não-usuais:- 2 em ambiente não-usual;- 2 com procedimentos diferentes;- 2 costumavam utilizar heroína em combinação com outras drogas;- 1 usou pela primeira vez sem os amigos.
Tratamento de ex-usuários de drogas
• Na relação respondente respostas são eliciadas por estímulos:
ESTÍMULOS RESPOSTAS
Repertório do organismo como membro de uma
espécie
• História filogenética / condicionamento
Implicações Práticas
• Identificando estímulos eliciadores
• Lidando com estímulos eliciadores– Manter o ex-usuário longe do ambiente em
que costumava utilizar drogas;
– Tratamento de Exposição a Dicas.
Conklin e Tiffani (2002)
• meta-análise de resultados apresentados em publicações que avaliaram o tratamento baseado em exposição a dicas para reduzir a recaída.
• Apenas 5, em 18, mostraram resultados positivos.
Sobre os artigos que “deram certo”
• incluíram entre seus procedimentos apresentação de estímulos in vivo
• Rohsenow e cols (2001): expuseram os participantes do estudo, dependentes de álcool, a situações como tocar ou segurar copo de bebidas e cheirar a bebida alcoólica no copo. Os participantes também eram solicitados a imaginar situações em que o consumo de álcool era especialmente provável. Outros procedimentos do estudo: treino de habilidades
sociais, em especial habilidades de recusar bebida em encontros sociais e habilidades de assertividade mais gerais.
Procedimento de exposição a dicas
Rohsenow, D. J., & cols. (2001).Cue exposure with coping skills training and communication skills training for alcohol dependence: 6- and 12-month outcomes. Addiction, 96, 1161-1174.
Nos artigos em que não houve resultados satisfatórios?
• Siegel (1994):
– Papel do comportamento de busca e uso de drogas
– Papel dos efeitos iniciais da droga
Tratamento de ex-usuários de drogas
• Na relação respondente respostas são eliciadas por estímulos:
ESTÍMULOS RESPOSTAS
Repertório do organismo como membro de uma
espécie
• História filogenética / condicionamento
Boas intervenções...
• Análise de contingências
Boas intervenções...
• Análise de contingências
• Recursos dos conceitos básicos e dos procedimentos da análise do comportamento
Obrigado!