Combates na Terra da Luz: a luta da esquerda armada no Ceará
durante a Ditadura Civil-Militar (1968-72)
Aírton de Farias1
RESUMO
Diante uma historiografia que centrou sua atenção da luta armada
das esquerdas no sudeste, surgem estudos sobre o tema em outros locais do
País. No Ceará destacaram-se as ações da Ação Libertadora Nacional (ALN) e
o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Havia no estado uma
tradição de violência política, tradição em que estava inserida também a
esquerda local. No geral, os militantes da guerrilha atuantes no Ceará eram
jovens, de idade inferior a 25 anos, pertencentes à classe média
intelectualizada, estudantes, sobretudo, do sexo masculino. Trata-se de alguns
aspectos do cotidiano dos militantes, como seu pouco preparo para a luta
armada, o planejamento e realizações de suas ações e as “quedas” (prisões).
Também aborda algumas das ações da esquerda local, com destaque para o
ruidoso caso de São Benedito, no qual a ALN “justiciou” um comerciante
naquela cidade cearense. A partir daí, começaram as prisões dos guerrilheiros,
submetidos a torturas e condenados a longas penas.
PALAVRAS-CHAVES: Ditadura Civil-Militar, luta armada das
esquerdas, Ceará.
“Subversivos”: o Ceará tem disso, sim!
Fortaleza, segunda-feira, 16 de março de 1970. O carro pagador do
London Bank, uma camioneta rural cor verde oliva, deixa rapidamente o Porto
do Mucuripe. Em seu interior, dois bancários conduzem a fortuna de 200 mil
Cruzeiros Novos das companhias petrolíferas, para depósito na sede do banco,
no centro da capital cearense. Por volta das 17h40min, contudo, um corcel
1Aluno do Doutorado interinstitucional da Universidade Regional do Cariri-Universidade Federal
Fluminense. O termo Terra da Luz é uma referência a uma tradicional visão historiográfica de considerar o Ceará o
pioneiro na abolição da escravidão negra no Brasil, em 1884, quatro anos antes, pois, da Lei Aurea.
verde, sem placa, abruptamente “fecha” o carro pagador. De seu interior, saem
três rapazes, com revólveres em punho. Um assalto. Tudo é rápido. Sob a mira
das armas, os bancários são obrigados a descer da rural. Os rapazes tomam o
veículo e zarpam tresloucadamente, seguidos pelo corcel, agora dirigido por
outros três homens que aparentavam ser apenas transeuntes – na verdade,
davam cobertura à ação numa esquina próxima. Pouco depois, os carros
seriam abandonados, passando os rapazes para outro automóvel e sumindo
pelas ruas fortalezenses. Aquele não era um assalto comum, mas, sim, uma
ação de “expropriação” do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
(PCBR), grupo guerrilheiro que atuava no País objetivando derrubar o governo
comandado por militares desde 1964. Para fúria das autoridades constituídas,
era mais uma ação dos “subversivos” na Terra da Luz2...
A atenção dada pela historiografia brasileira à luta armada das
esquerdas acontecida durante a Ditadura Civil-Militar (1964-85) no Centro-sul
colocou em segundo plano o estudo maior das experiências e ações de
militantes ocorridas em outras áreas do País. Com a recente difusão de cursos
de pós-graduação pelo território nacional, a abertura de arquivos, a atuação de
comissões estaduais para apurar os arbítrios do regime de 64 e a elaboração
de livros. Fossem jornalísticos ou autobiográficos de antigos militantes, entre
outros fatores, ampliaram-se os conhecimentos sobre “o que aconteceu” no
resto do Brasil, a exemplo do Ceará3. Evidenciou-se que as ações armadas
das esquerdas nos anos 1960/70 foram maiores do que se imagina
comumente.
2 O Povo, 17/03/1970, p. 1 e 9; 18/03/1970, p.1 e 8; Correio do Ceará: 17/03/1970, p. 1, 9 e 11;
18/03/1970, p. 1 e 9. O termo Terra da Luz é uma referência a uma tradicional visão historiográfica de considerar o Ceará o pioneiro na abolição da escravidão negra no Brasil, em 1884, quatro anos antes, pois, da Lei Aurea. 3 Este artigo refere-se, sobretudo, à nossa Dissertação de Mestrado. Veja-se: FARIAS, José Airton de.
Além das armas: guerrilheiros de esquerda no Ceará durante a Ditadura Militar. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2007. Sobre o tema, veja-se igualmente: ALMEIDA, Nilton. Os ferroviários na cartografia de fortaleza: rebeldes pelos caminhos de ferro. 2009, 306 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009. COSTA, Henri. Eleição é tapeação – luta armada é solução: leituras, experiências e construção do consensus bellicu marxista cearense (1962-76). 2009, 197 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza 2009. GONÇALVES, Danyelly Nelin. O Preço do passado: anistia e reparações de perseguidos políticos no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2009. MARIANO, Andreyson Silva. Uma esquerda em silêncio: militantes trotskistas em Fortaleza no período 1963-70. 2011, 188 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011. PORTUGAL, Niedja. Estudantes em movimento. 2008, 132 f. Fortaleza: Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2008. RAMALHO, Braúlio. Foi assim: o movimento estudantil no Ceará (1928-1968). Fortaleza: ABC Editora, 2002.
No contexto político e cultural dos anos 1960, marcado por
enfrentamentos – destacando-se aí os casos impactantes para as esquerdas
da Revolução Cubana, de 1959, e da Guerra do Vietnã, 1965-75 – e no qual a
revolução estava na ordem do dia, diversos cearenses adentraram em
organizações armadas visando conquistar o poder institucional e derrubar o
governo militar. Havia por partes dos agrupamentos de esquerda uma postura
ofensiva, revolucionária, de discussão da luta armada para a implantação do
socialismo no Brasil ou de um governo popular, mesmo antes do Golpe de
1964, embora a implantação da Ditadura tenha aguçado a opção pelas armas4.
Apesar dessa pretensão de poder, a luta das esquerdas pode ser,
sim, igualmente enquadrada como parte da resistência à Ditadura, afinal os
agrupamentos realizavam o enfrentamento ao regime. “Resistência”, sim, mas
não exatamente “democrática”, para evitar equívocos, como afirma Marcelo
Ridenti5. As organizações de esquerdas não apresentavam grandes
preocupações democráticas (pelo menos não com a noção de democracia que
temos hoje), como, aliás, também não apresentavam apego à democracia
outros atores políticos do período, inclusive os de direita, que, concretamente,
deram o Golpe de 1964, derrubando um presidente constitucional. Vale lembrar
que o Golpe contou com apoio de amplos setores da imprensa, do
empresariado, de religiosos, da classe média e mesmo de segmentos
populares. Constitui-se num anacronismo valorizar, na conjuntura dos anos
1960, o debate sobre democracia, esquecendo um outro que mobilizava muito
mais a sociedade, o da “revolução brasileira”, ou seja, de como o País iria
superar suas contradições sócio-econômicas – tanto que os golpistas
apelidaram seu movimento de “Revolução de 64”. Seria basicamente a partir
do final dos anos 1970 que as esquerdas e outros atores sociais passaram a
valorizar a democracia como um valor fundamental6.
Não se pode esquecer também que a violência, particularmente a
política, fazia parte das tradições cearenses. O processo de conquista do
Ceará, efetivado a partir da segunda metade do século XVII com a expansão
4 AARÃO, Daniel. Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988. Rio de
Janeiro: Zahar, 2014. 5 RIDENTI, Marcelo. Esquerdas armadas urbanas: 1964-1974. In: ______. AARÃO, Daniel
(organizadores). História do marxismo no Brasil. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2007. 6 RIDENTI, Marcelo. Resistência e Mistificação da Resistência Armada Contra a Ditadura. In: AARÃO,
Daniel, e outros. O Golpe e a Ditadura Militar. São Paulo: EUSC, 2004.
pecuarista, fez-se com guerra e extermínio de povos indigenas7. Relatos dão
conta dos homicídios, assaltos e violências outras praticadas pela população
desde os primórdios da colonização, havendo uma quase devoação a facas,
bacamartes e outros instrumentos de morte8. No império, grupos políticos
pegaram em armas em rebeliões, como os Alencar, líderes das revoltas de
1817 e 18249. Na República, em 1912, uma frevolta popular derrubou 16 anos
de domínio da oligarquia acciolina10. Nas eleições de 1954, 18 pessoas
morreram, em virtude de embante entre correligionários de UDN (União
Democrática Nacional) e PDS (Partido Social Democrático)11. Assim, aqueles
militantes que adentraram a agrupamentos armados durante a Ditadura não
estavam tão longe do “jeito de fazer político cearense”.
De modo geral, os grupos de esquerda objetivavam instalar a
guerrilha no campo, uma influência direta da Revolução Cubana. Era a partir da
luta na zona rural que a vanguarda conduziria as massas para cercar as
cidades e derrotar o sistema. Os militantes realizavam uma “leitura seletiva”
das experiências internacionais. Liam-na as “orientações” externas com o
auxílio de “chaves” próprias, para atender suas necessidades específicas.
Poucos observavam que a Revolução Cubana fora vitoriosa não só devido a
“ação heroica” de duas dezenas de revolucionários (um mito das esquerdas),
mas, porque os guerrilheiros contaram desde o início com simpatia de amplos
setores da sociedade cubana, descontentes com a ditadura de Fugêncio
Batista, e com certa leniência dos EUA12. Se a intenção era a luta no campo, os
grupos armados realizaram ações nas cidades para atrair novos militantes para
a causa, fazer “propaganda revolucionária” e obter recursos na intenção de
montar a infraestrutura da guerrilha rural13.
7 Vide PINHEIRO, Francisco José. Notas sobre a formação social do Ceará (1680-1820). Fortaleza:
Fundação Ana Lima, 2008. 8 Vide VIEIRA JÚNIOR, Antônio Otaviano. Entre paredes e bacamartes: história da família no sertão
(1780-1850). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha; Hucitec, 2004. 9 Vide FELIX, Keile Socorro Leite. “Espíritos inflamados”: a construção do estado nacional brasileiro e os
projetos políticos no Ceará (1817-1840). Fortaleza: Dissertação de Mestrado em História (UFC), 2010. 10
Vide PORTO, Eymard. babaquara, chefetes e cabroeira. Fortaleza: Fundação Waldemar de Alcântara/ Secretaria da Cultura e Desporto, 1988. 11
Vide SARAIVA, J. Ciro. Antes dos Coronéis (1947-1962). Fortaleza: ABC Editora, 2012. 12
BARÃO, Carlos Alberto. A Influência da Revolução Cubana Sobre a Esquerda Brasileira nos Anos 60. In: MORAES, João Quartim de, e AARÃO, Daniel (organizadores). História do Marxismo no Brasil. Campinas-SP: Editora da Unicamp, volume I, 2003, p. 263. 12 Ib. Idem., p. 271-282. 13
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. São Paulo: Ática, 1999.
Foram dois os principais grupos nacionais armados que agiram nas
terras cearenses: a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Partido Comunista
Brasileiro Revolucionário (PCBR). A primeira apresentou no País como
fundador o baiano Carlos Marighela, destacado militante do PCB (Partido
Comunista Brasileiro), com o qual rompeu em 1967. Marighela Havia se
aproximado de Cuba e estruturou a ANL como uma “confederação de grupos
guerrilheiros”, autônomos e com liberdade de iniciativa e ação, isso para evitar
as verticalizações e burocratização dos tradicionais Partidos Comunistas.
Marighela seria morto em São Paulo no ano de 196914.
Os primeiros contatos de cearenses com a organização de
Marighela deram-se em 1967. Tais militantes, tendo à frente Sílvio Mota, José
Sales de Oliveira, José Ferreira de Alencar, Oséas Duarte de Oliveira e José
Valdir de Aquino, haviam deixado o Partido Comunista Brasileiro (PCB) em
1965, acusando-o de não ter se preparado para o Golpe Militar e por ter
recusado a luta armada como forma de enfrentar a Ditadura instaurada. Após
rápida passagem pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), aqueles militantes
cearenses passaram a travar maior contato com os primeiros documentos
escritos do Agrupamento Comunista de São Paulo (embrião da ALN), através
de um enviado de Marighela a Fortaleza. Assim, ainda em 1967, Silvio Mota
viajou a São Paulo no intento de acertar a fundação da secção cearense da
Ação Libertadora Nacional. Para tanto, foi fundamental a contribuição de
universitários cearenses estudantes na capital paulista, sobretudo Flávio
Torres, que depois seria professor universitário, suplente de senador e
fundador do PDT (Partido Democrático Trabalhista) no Ceará na década de
1980. Vale ressaltar que a propalada autonomia da ANL não se aplicava
completamente à secção local, visto várias vezes os militantes cearenses
terem sido impedidos de fazer ações pela direção nacional. Ao que parece, a
cúpula da ALN via o Ceará como uma “área estratégica” de reserva, para onde
poderia deslocar seus principais quadros caso necessitasse, ante a repressão
da Ditadura15.
14
NOVA, Cristiane, e NÓVOA, Jorge (organizadores). Carlos Marighela: o Homem por Trás do Mito. São Paulo: Editora UNESP, 1999. MAGALHÃES, Mário. Marighela, o guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 15
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações colhidas em entrevistas com os ex-militantes da ALN, Sílvio Mota e José Machado Bezerra, entrevistados em 30∕06∕2006 e 27∕06∕2006, respectivamente.
Quanto ao PCBR, sua fundação aconteceu em abril de 1968, no Rio
de Janeiro, a partir de outra dissidência do PCB, liderada por Mário Alves,
jornalista e intelectual dos mais respeitados entre os comunistas. Tal
dissidência divergia também de Marighela, pois visava à reconstrução de um
novo partido revolucionário, nos moldes marxista-leninistas clássicos e que
conduzisse à luta armada – o fundador da ALN, como vimos, era avesso a
“estruturas partidárias burocratizadas”. Ao contrário de organizações mais
militarizadas, como a ALN, e em divergência com a teoria do foco, o PCBR
afirmava que a luta armada não se dissociava do trabalho com as massas – o
grupo foi muito ativo nas agitações de 1968 – e tampouco excluía o potencial
das cidades, onde seria igualmente possível promover ações armadas, embora
o cenário principal e ideal estivesse no campo16.
No Ceará, o PCBR foi organizado em 1968 por militantes vindos de
Recife-PE, fugindo da repressão e com a perspectiva de difundir a guerrilha
pelo resto do Nordeste. O primeiro daqueles militantes foi o estudante
Francisco de Assis Barreto da Rocha Filho, conhecido como “Assis Magrinho”.
Este hospedou-se na casa de uma família amiga em Fortaleza, os
Albuquerque. Tal família apresentava uma tradição de esquerda, com vários de
seus integrantes exercendo ativa militância política em Fortaleza. Um dos filhos
mais novos, Mário Albuquerque, era destacado ativista estudantil secundarista
na época (diretor do Centro dos Estudantes Secundaristas Cearenses –
CESC). Após contatos com a cúpula nacional do PCBR, Francisco de Assis
acabou incumbido de estruturar a organização em Fortaleza. Buscou atrair
especialmente integrantes do meio estudantil.
O ano de 1968 foi bastante agitado também na capital cearense,
com várias passeatas de estudantes e confrontos com a polícia. Era forte no
imaginário de parte da juventude da época a necessidade da radicalização no
enfrentamento do governo. A “revolução não podia esperar”, era uma frase
bastante repetida. Contando com o apoio de dois líderes estudantis, o referido
Mário Albuquerque e sua namorada, Vera Rocha (a “Verinha”), Francisco de
Assis iniciou a “pregação revolucionária armada”. Para ajudá-los, o PCBR
deslocou de Recife, onde também já era perseguido pela Ditadura, o
16
GORENDER, Jacob. Op. Cit.
universitário Odijas Carvalho (o “Neguinho” ou o “Baiano”, que em 1971 seria
morto numa sessão de tortura na capital pernambucana). Em pouco, a
organização conseguiu estruturar seu núcleo em Fortaleza, pequeno, é
verdade, composto, majoritariamente, por estudantes17.
Também atuaram no Ceará, de forma muito embrionária, alvos que
foram logo da repressão, a Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-
Palmares) e a Frente de Libertação Nordestina (FLNE)18. Emblemática ainda
foi a atuação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização que
instalou vários campos de treinamento de guerrilheiros no estado visando
apoiar a futura guerrilha do Araguaia, no sul do Pará. Apesar de sua disposição
em não realizar ações em terras cearenses (entenda-se, assalto a bancos,
expropriação de armas e carros, etc.), o PCdoB fazia proselitismo da luta
armada (tanto que muitos cearenses foram para o Araguaia) e travou mesmo
alguns combates contra as forças da repressão19.
Igual outros locais do Brasil, de forma geral, os militantes da
guerrilha atuantes no Ceará eram jovens, de idade inferior a 25 anos,
pertencentes à classe média intelectualizada, estudantes, sobretudo, do sexo
masculino20. Apesar da violência política não exatamente uma novidade na
história do Ceará, a presença dos guerrilheiros e seus objetivos socialistas
irritaram os setores dominantes e conservadores locais, apoiadores da
Ditadura Militar. De maneira parecida com o sucedido em outros estados do
Brasil, os órgãos de repressão no Ceará foram, ao longo dos anos, melhor se
estruturando, endurecendo a repressão aos que chamava de “subversivos”21.
Grupos empresariais e políticos cearenses teriam contribuído financeiramente
com os órgãos de repressão. O Ceará, mesmo sendo um “estado secundário”
17
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações colhidas em entrevistas com os ex-militantes do PCBR Mário Miranda e Vera Maria Rocha, entrevistados em 10∕01∕2005 e 28∕12∕2005, respectivamente. 18
MOTA, Silvio. Rebeldes. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2009. 19
Em agosto de 1970, um comício relâmpago do PCdoB no colégio Castelo Branco, na Itaóca, criticando a Ditadura e defendendo o voto nulo nas eleições a ocorrerem no mês de novembro seguinte, terminou em tiroteio: um dos alunos do turno da noite, o sargento Francisco de Sousa sacou de sua arma, quando um grupo de seis militantes fazia pregações “subversivas”. Na troca de balas com estes, o sargento acabou ferido com um tiro à altura do estômago, o que foi noticiado pela imprensa como um “ataque terrorista”. Os militantes escaparam ilesos. “Terror invade colégio”. O Povo, 28/08/1970, p. 1 e 6. “Terroristas atacam colégio na Itaóca”. Correio do Ceará, 28/08/1970, p.1 e 7. Vide MOURÃO, Mônica. Memórias clandestinas: a imprensa e os cearenses desaparecidos na guerrilha do Araguaia. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005. 20
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Na dissertação, fazemos um levantamento estatístico sobre idade, sexo e
ocupações dos militantes da esquerda armada cearense. 21
FICO, Carlos. Como eles agiam. Rio de Janeiro: Record, 2001.
no contexto da luta armada nacional, apresentou sua seção do DOI-CODI
(Destacamento de Operações Internas – Centro de Operações e Defesa
Interna, órgão responsável pelo combate, tortura e assassinato de opositores
na Ditadura, criado em 1970 pelo Presidente Médici). Isso faz questionar o
senso comum, bastante propalado no estado ainda hoje, de que a Ditadura foi
“branda” no Ceará22.
A imprensa e os apoiadores do Regime Militar buscavam difundir
que o cearense, um povo “pacífico, ordeiro e pacato”, jamais poderia apoiar
atos de “subversão e terrorismo”. As ações da guerrilha no estado seriam de
responsabilidade de jovens, “ingênuos, imaturos, seduzidos por aliciadores
comunistas”, e de agentes marxistas vindos do Centro-sul brasileiro, de onde
estavam sendo expulsos ante a ação dura dos órgãos de repressão. Nessa
perspectiva, apoiar o “terror” seria dar provas de “mau cearensidade”, de trair a
natureza ordeira da “terra alencarina”. Ao mesmo tempo, os que não
combatiam a “subversão” – fosse pela reação à bala, como no caso de guardas
quando dos assaltos, ou apoiando o papel investigativo das autoridades,
passando pistas, nomes, etc. – estariam sendo “frouxos”, “covardes”,
igualmente indo contra a tradição de “valentia” dos cearenses23.
Verdade que militantes vieram de outros locais do Brasil para o
Ceará. Eram comuns, aliás, esses deslocamentos de ativistas, na intenção de
fugir da repressão, fazer ações revolucionárias ou difundir a guerrilha, numa
grande troca de experiências24. Não obstante, o levantamento estatístico junto
aos militantes e as análise dos documentos do período autoritário no estado
permitem concluir que a maioria absoluta de militantes armados era de
cearenses natos, os quais, portadores de imensa sensibilidade social, partiram
para a tomada do poder institucional, crendo na vitória “certa e inevitável”.
Acreditavam que representavam “o povo”, que eram a “vanguarda
revolucionária”, cujas ações seriam apoiadas e seguidas pelas massas,
conforme demonstrariam as manifestações de rua dos anos 60, sobretudo de
1968. Enganavam-se, pois estavam longe dos trabalhadores (desmobilizados
22
FARIAS, Airton de. Op. Cit. 23
Unitário, 5/12/1969, p. 12 24
Por exemplo, conforme depoimento de Silvio Mota, um dos primeiros dirigentes da ALN no Ceará, a
“introdução” do “coquetel químico” nas passeatas estudantis em Fortaleza foi inovação trazida pela organização de Marighela – atiravam o molotov com “bombas rasga-lata”, fazendo um barulho
ensurdecedor.
pela Ditadura) e o grosso da sociedade não concordou com o objetivo da
guerrilha (a revolução de tendência socialista) e a tática usada (a luta armada),
em especial quando a economia brasileira crescia de maneira acelerada no
começo da década de 1970, no chamado “milagre brasileiro”. O isolamento
social e a repressão da Ditadura fariam naufragar os sonhos da guerrilha25.
Dias de lutas
Dentro das organizações, a prioridade era a ação, inexistindo
grandes preocupações teóricas: a leitura de algum texto, o debate sobre um
manifesto ou documento do agrupamento, nada muito além disso. A crença da
inevitabilidade da revolução e da vitória tornavam maiores preocupações
teóricas dispensáveis. Muitos dos militantes só estudariam em profundidade o
pensamento socialista no exílio ou nas prisões, após a derrota da luta armada.
Por outro lado, era fundamental que os ativistas participassem dos
treinamentos com armas, os quais aconteciam em áreas ermas da capital
cearense. Essas atividades traziam já a sensação de poder e que realmente a
revolução “começara efetivamente”. Os guerrilheiros superdimensionavam seu
potencial e chegavam mesmo a menosprezar o aparato estatal repressor. Na
fase aguda da repressão, com a dificuldade cada vez maior de obter novos
guerrilheiros e de realizar treinamentos, aconteceu mesmo de ativistas, os
quais nunca antes haviam pegue numa arma, participarem de ações de
expropriação, um sinal de como os militantes de esquerda acreditavam em sua
causa, de como a vontade e a certeza do triunfo poderiam suprir qualquer falha
que tivessem26.
Esses “despreparos”, apesar de terem contribuído, não podem ser
vistos como o fator fundamental para o fracasso da guerrilha, afinal, em locais
outros do mundo, os guerrilheiros em revoluções vitoriosas não eram tão
preparados ou treinados como se imagina – basta lembrar, por exemplo, o
início desastroso da guerrilha de Fidel e Che em Cuba, quando por pouco os
25
RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993. 26
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados.
revolucionários não foram mortos quando do desembarque na Ilha Caribenha
ao virem do México em 195627.
Uma ação armada era cuidadosamente planejada, realizando-se
antes uma “pesquisa”, isto é, um levantamento minucioso de informações
sobre o alvo a ser atacado. Chegava-se mesmo a ensaiar (simular) as ações. A
“pesquisa” podia ser feito a partir de dados levantados por simpatizantes ou
integrantes da organização dentro das próprias empresas ou por mulheres. O
machismo predominante na sociedade não tendia a associar o sexo feminino
ao “terror”, ou a assaltos e armas, do que se aproveitaram as esquerdas,
reproduzindo, ironicamente, esse mesmo machismo. Quando veio a público a
participação feminina em ações armadas, os jornais noticiaram com grande
espanto, chamando a atenção para a presença de mulheres na “subvesão”28.
Na “pesquisa”, os guerrilheiros buscavam saber quantos vigias o
banco ou outro estabelecimento qualquer apresentavam. A hora de menor
movimentação de clientes (exatamente para que “civis” não saíssem feridos ou
não atrapalhassem) e do trânsito de veículos ao redor. Onde deveriam ficar as
pessoas que se encontrariam no recinto do assalto? Dever-se-ia escolher a
melhor rota de fuga. Existia um modo “diferente” de o revolucionário relacionar-
se com a cidade. Uma pessoa comum poderia atravessá-la sem atentar-se aos
detalhes; o militante armado, ao contrário, deveria conhecê-la bem, pois disso
poderia depender o sucesso de uma empreitada ou mesmo a vida dos
guerrilheiros, em caso de cerco da repressão29.
Quase sempre se fazia uma ação com três carros: um que levaria os
envolvidos diretamente na expropriação; um segundo, armado também, que
daria cobertura (por exemplo, para dificultar uma eventual perseguição policial);
e um terceiro veículo, o qual ficava num ponto distante, recolheria os militantes
e o fruto da ação quando o primeiro carro fosse abandonado. Normalmente os
carros usavam placas falsas (“frias”), ou sequer as tinham. Como as
organizações armadas do Ceará não possuíam carros suficientes, recorriam à
“tomada” de veículos, normalmente de taxistas – tomada porque os carros
27
BARÃO, Carlos Alberto. Op. Cit. 28
Moça cearense nos assaltos a bancos. Correio do Ceará, 20/08/1968, p.1. FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados. 29
ALMEIDA, Hermínia Tavares de, e WEIS, Luis. Carro-zero e Pau-de-arara: O Cotidiano da Oposição de Classe Média ao Regime Militar. In: NOVAIS, Fernando A. (coordenação). História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, volume IV, 1998, p. 382.
eram abandonados para o proprietário reencontrá-lo; taxistas por que estes
melhor conservavam seus carros para o exercício da profissão. Também havia
um levantamento sobre o carro (se era novo, potente, etc. – em alguns casos,
até melhorias e consertos mecânicos eram realizados no veículo) e os hábitos
do motorista (por onde transitava, estacionava, etc.). Os guerrilheiros, pelo
menos nas primeiras ações, deixavam claro ao proprietário de um veículo
expropriado que não eram criminosos, mas sim revolucionários os quais
estavam lutando para derrubar o governo e libertar o País; afirmavam ainda
que não sofreria nenhuma violência e que, ao sair dali, procurasse a polícia,
pois seu carro seria depois abandonado30. Houve episódio até curiosos, dos
guerrilheiros tomarem um táxi, abandonando o taxista em algum matagal,
deixando-lhe com o apurado do dia e até pagando a corrida31...
Dizer que os guerrilheiros apresentavam convicção em sua luta não
implicava descartar sentimentos como o medo. A concretização de uma ação
era sempre marcada pela tensão, ansiedade e nervosismo: preocupação com o
sucesso da empreitada, com uma possível reação de policiais, com o risco de
alguém, especialmente os ativistas ou os “civis”, sair ferido – daí se
compreende porque militantes chegassem a ter desregulações intestinais ou
urinárias, sobretudo quando de suas primeiras participações em ações, ou
desistissem das mesmas.
Apesar do medo e da ansiedade, o êxito de uma ação era
logicamente recebido com euforia pelos guerrilheiros. Em suas concepções, a
sonhada revolução estava cada vez mais próxima. Sorrisos, abraços e até
alguma bebida alcoólica – a qual, em geral, não era bem vista pelos grupos
armados, pois poderia atrapalhar o bom andamento da revolução: além de
prejudicar a concretização de uma ação, um militante, entre um gole e outra,
poderia “falar demais”32.
A esses sentimentos somavam-se outros, sobretudo o da
preocupação com a segurança. A lealdade à organização e o cumprimento
estrito das regras ditadas por estas assumiam um lugar chave dentro da
vivência dos militantes. A necessidade da sobrevivência do grupo, sobretudo
30
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados. 31
O Povo, 24/08/1970, p. 6. 32
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados.
quando a repressão se intensificou, tornou a ideologia cada vez mais rígida,
militarizada, também impedindo, no jargão das esquerdas, uma “autocrítica”.
Dessa maneira, se entende uma série de condutas, verdadeiros rituais, a
serem cumpridos rigorosamente, de como deveria se comportar o ativista.
Obviamente que a prática não se dava exatamente como o planejado, havendo
falhas, descuidos e negligências33.
Assim, por exemplo, em regra, os militantes deveriam usar e se
conhecer apenas por pseudônimos para dificultar qualquer identificação por
parte da polícia. Entretanto, muitos dos militantes acabavam se conhecendo
pelo nome verdadeiro, sobretudo aqueles vindos do meio estudantil, em virtude
de parentescos, namoros, do grande contato e convivência dos estudantes nas
faculdades, centros acadêmicos, passeatas, etc., e mesmo porque Fortaleza
não era uma cidade tão grande no final dos anos 1960/início dos 7034.
Havia igualmente todo um preparativo para a passagem de
informações de interesses dos agrupamentos em locais públicos
predeterminados, os chamados “pontos”. Não se deveria escrever nada para
fazer um “ponto”, pois caso a polícia capturasse um dos militantes – e sempre
havia esse risco –, poderia ter acesso a papéis que comprometeriam outros
companheiros. Fundamental decorar datas, locais, horas, isso não raras vezes
com antecedência de semanas. Pontualidade era outra coisa básica. O
militante não ficava muito tempo no local. Se o contato não aparecesse, era
sinal de algo sucedera-se errado, provavelmente o outro ativista “caíra”, fora
capturado pela repressão. Em caso de “queda”, a recomendação era desativar
os “aparelhos” que por ventura o “caído” conhecesse e dar fim a toda
documentação comprometedora para a organização. “Aparelhos” constituíam-
se casas onde se alojavam militantes clandestinos – nem todos eram, pois
vários levavam uma vida “normal”, até serem descobertos pela polícia –,
armas, dinheiro, material de propaganda, etc. O “estouro” de um aparelho
trazia prejuízo, não apenas do ponto de vista político (um “atraso” na luta), mas
financeiro, visto que, como os militantes não tinham avalistas para fazerem um
contrato de aluguel, pagavam vários meses de antecedência35.
33
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados. 34
Dados do IBGE de 1970, registam a população da cidade de Fortaleza em 857.980 habitantes. BRUNO, Artur. Fortaleza, uma breve História. Fortaleza: INESP, 2011. 35
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados.
O medo maior do ativista era o de “cair”. Primeiramente, a frustração
de não puder continuar na luta e ajudar os demais companheiros em fazer a
revolução. Depois, o pânico de ser morto ou sofrer torturas, e muitos o foram
no Ceará – houve mesmo uma “casa de horrores” isto é, um “aparelho” da
Ditadura, clandestino, no qual os presos políticos eram mantidos em cárceres
privados após serem sequestrados ou caírem nas mãos dos agentes da
repressão36. Existia, por fim, o trauma de o militante acabar falando algo
comprometedor do agrupamento armado, atrapalhando, pois, os planos da
organização, levando à queda (e tortura) de outros companheiros e liquidando
sua “imagem de revolucionário”, por haver “traído” a causa, visto que, de início,
pelos menos, os guerrilheiros concebiam como grande desdém aqueles que
confessassem algo, mesmo sob sevícias, ou deixassem a militância. As
organizações armadas chegavam a apresentar aos ativistas “fórmulas” sobre
como se portar em caso de “queda”, “fórmulas” que foram mudando à medida
que a repressão aumentava e fazia desmoronar o tipo idealizado do
guerrilheiro que “a tudo resistia e preferia a morte a entregar algo”37.
Apenas num momento posterior, já no estrebucho da luta armada,
que as organizações convenceram-se da impossibilidade da maioria das
pessoas resistirem às brutalidades dos agentes da Ditadura. Assim, de modo
geral, a “fórmula” para o revolucionário detido passou a ser resistir o máximo,
de modo a dar tempo ao agrupamento desmontar os aparelhos e acontecer a
fuga dos companheiros. Isso também mostrou-se inviável na prática. Não há
regra para suportar torturas. Vários militantes aguentaram ao máximo,
mentiram – nesse caso, os agentes da repressão ao descobrirem a inverdade,
aumentavam as sevícias –, foram mortos. Outros, suportaram menos, existindo
também quem nada falou. De qualquer forma, raro era o militante que preso,
não fosse submetido a torturas físicas ou psicológicas. Uma frase, uma
palavra, um endereço, um nome poderia bastar para avançar as investigações
dos agentes da Ditadura.
Muitos dos que confessavam algo sob tortura passavam a viver
dramas pessoais – houve até casos de suicídios –, sentindo-se intimamente
36 (...) As informações dadas [por] presos políticos torturados em local ignorado, fora de Fortaleza, a uma hora de viagem, de clima ameno, leva a crer que a casa fica em Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza. O Povo, 19/01/2004, p. 4. 37
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados.
arrasados, corroendo-se em culpas e responsabilidades. Lembremos do ideal
que movia aqueles militantes, a nobreza que acreditavam possuir sua luta. Tão
traumática essa questão que nas diversas entrevistas que realizamos para a
pesquisa do Mestrado, nenhum dos ex-guerrilheiros, mesmo os prestarram
depoimentos anonimamente, afirmaram ter dito algo de “comprometedor” da
luta armada enquanto sofriam nos porões do regime38.
Mais simbólico ainda é o caso da recusa em dar entrevista por parte
daqueles ex-ativistas que reconhecidamente delataram alguma coisa, ou dos
que passaram a colaborar com a Ditadura, os chamados “cachorros”. Estes, ao
lado dos que “desbundaram”, ou seja, renegaram ou abandonaram a luta
armada, não seriam, em regra, perdoados pelos antigos companheiros,
sofrendo mesmo grande preconceito quando nas prisões, quando não
ameaças de morte ou justiçamento (assassinatos)39.
Obviamente que não foram as delações de um ou outro ativista que
possibilitaram a derrota da esquerda. O isolamento social, a falta de simpatia
do grosso da sociedade com as propostas da guerrilha e mesmo a tática da
luta armada e fragilidade e divisão das organizações explicam melhor essa
derrota. Vários dos ativistas que caíam continuaram acreditando na luta
armada. Sonhavam com fuga, em serem libertos numa ação de resgate das
organizações ou numa troca por um dos diplomatas sequestrados pela
guerrilha. Apenas alguns poucos passaram a defender um “recuo tático” ou
mesmo o abandono das armas40.
Quem sabe faz a hora
Afirmar quais e quantas foram as ações armadas da esquerda no
Ceará durante a Ditadura Militar não é tarefa fácil. Nem todos os militantes
sabiam das ações feitas por suas organizações ou pelas demais. Outros, em
geral, quando de depoimentos para a presente pesquisa, não abordaram as
ações cometidas, por certo constrangimento, afinal, eram práticas de furtos,
agressões, etc., ainda que com fins políticos. Possivelmente mais ações serão
38
Ib. Idem. 39
Ib. Idem. 40
Ib. Idem.
conhecidas à medida que novos arquivos forem abertos. Muitas das ações da
esquerda armada no Ceará somente foram descobertas pelas forças de
repressão a partir da queda dos militantes da ALN no chamado “caso de São
Benedito”, de 1970, conforme veremos adiante, e isso, não raro, após tortura
dos guerrilheiros.
As ações da guerrilha de esquerda no Ceará concentraram no
período entre o final de 1969 e início de 1970, exatamente quando a repressão
aumentava no País. Na visão dos ativistas, era necessário prosseguir na luta,
obter mais infraestrutura, novos quadros, etc., intensificando e propagando
ações em áreas onde não tinham “acontecido” ainda, mostrando que o cerco à
Ditadura estava se “completando”, que se “estendia” por todo o Brasil, por mais
que os “milicos” reagissem. Quando das primeiras ações armadas no estado,
as ações eram relatadas na imprensa como crimes comuns. Dessa forma, as
páginas policiais dos periódicos O Povo e Correio do Ceará, usados como
fontes na pesquisa, mereceram uma atenção especial, levando-nos a atentar a
detalhes que poderiam revelar uma ação política. Em geral, as ações
aconteciam em Fortaleza nos finais de semana, nas noites de sábado para
domingo, quando os agentes das forças de repressão estavam em menor
número e menos mobilizados41.
Foi o caso, por exemplo, de uma bomba posta na sede do IBEU
(Instituto Brasil-Estados Unidos, famoso curso de línguas, no centro de
Fortaleza), em 14 de outubro de 1968. Era uma ação de “propaganda
revolucionária” da ALN, conforme nos revelou um de seus membros. A bomba,
deixada na entrada do prédio de madrugada (para que a explosão não fizesse
vítimas “civis”), não teve maiores consequências, pois seu pavio acabou
apagando em virtude da pressa da ação. Mesmo tachando o incidente de
“terrorismo”, as autoridades e os jornais consideraram o fato não como um
indício da existência de grupos armados agindo já no Ceará, mas sim um ato
isolado de algum antiamericano extremista, figura não rara entre aqueles que
iam às passeatas as quais agitavam a capital cearense em 196842.
41
Ib. Idem. 42
Entrevistados e O Povo, 14/10/1968, p. 1 e 9. O Povo, 15/10/1968, p. 1 e 8. Correio do Ceará, 14/10/1968, p. 1 e 9. Correio do Ceará, 15/10/1968, p. 1 e 9.
A primeira ação “terrorista” noticiada como tal no Ceará deu-se a 4
de dezembro de 1969 – não por acaso, exato um mês após o assassinato de
Carlos Marighela em São Paulo –, no caso, um assalto ao Banco Mercantil de
Fortaleza, ação que acabou frustrada pela reação à bala de um vigia da
agência. O fato teve imensa repercussão. As autoridades, líderes empresariais
e os jornais em editoriais se apresaram em condenar a “ação terrorista”, ao
mesmo tempo em que ressaltavam a frustração do assalto pelo guarda como
uma prova do preparo dos órgãos de segurança locais43.
A partir da tentativa de assalto ao Barco Mercantil, as ações
armadas da esquerda radical intensificaram-se no estado, atingido o apogeu
em 1970. A ALN expropriou quatro mil Cruzeiros Novos da empresa de ônibus
São Vicente de Paula44 e mais de vinte e dois mil Cruzeiros Novos da Fortaleza
Refrigerantes, representante local da Coca-Cola45. Repercussão maior, não
obstante, teve o assalto do carro pagador do London Bank, referida no início
deste artigo. A ação do London Bank foi a primeira de maior envergadura do
PCBR no Estado, em conjunto com o Movimento Comunista Internacional
(MCI), organização trotskista. A ação, cujo produto foi cerca de 98 mil cruzeiros
novos, foi realizada pelo Comando Político Militar, estrutura móvel do PCBR
que atuava em todo o Nordeste. A quantia foi enviada para o agrupamento do
PCBR em Recife, nos dias seguintes, levada por dois militantes da
organização, dentro do estepe e bancos de um fusca, que tranquilamente
cruzou as divisas cearenses, sem ser incomodado ou inspecionado pela
polícia46.
Ante as mudanças comportamentais que ocorriam à época, os jornais
não hesitavam em associar guerrilha e “sexo irresponsável”, como noticiou em
matéria de primeira página o Correio do Ceará de 30 de janeiro de 1970,
afirmando que o dinheiro do “terror” era usado para “orgias” e “doce vida de
vagabundagem”, havendo mesmo a “corrupção de mocinhas colegiais” e o
43 Unitário, 5/12/1960, p. 12. 44
. O Povo, 22/05/1971, p. 8. 45
Depoimentos e O Povo, 11/03/1970, p. 1; 12/03/1970, p. 1 e 2; 13/03/1970, p. 1 e 3; 14/03/1970, p. 1 e 9. Correio do Ceará, 11/03/1970, p. 1 e 9; 13/03/1970, p. 1 e 9.
46 Manteremos anônima a fonte da informação, já que sua participação na ação nunca foi descoberta pelos órgãos de segurança. FARIAS, Airton de. Op. Cit.
depósito dos valores em bancos estrangeiros” para financiar as “viagens dos
terroristas ao exterior” (possivelmente, uma referência aos exílios)47.
O assalto do carro pagador do London Bank teve enorme
repercussão. Para o PCBR, foi um estrondoso sucesso, não apenas pelos
recursos obtidos ou pelos efeitos propagandísticos contra a ditadura, mas
como uma forma igualmente de atrair novos simpatizantes. Apesar de se
ajudarem e manterem relações cordiais, as organizações armadas
“concorriam” entre si para verificar qual iniciaria logo a guerrilha rural e a
revolução (o ataque final ao regime), além de disputarem a simpatia e o
ingresso de militantes. Não surpreende que, nos meses seguintes, a ANL
intensificasse sua atuação, com ações cada vez mais ousadas, cujos êxitos
reforçavam a confiança dos militantes em seu potencial, fazendo, por outro
lado, aumentar o cerco da Ditadura. Os órgãos locais de repressão passaram a
se estruturar e agentes da repressão de outros Estados começam a visitar o
Ceará, trazendo suas “experiências” no combate aos “inimigos da Pátria”. Um
desses foi o delegado do DOPS paulista Sérgio Paranhos Fleury, que esteve
no estado no começo de 197148.
Ante o crescente cerco da Ditadura, a 29 de agosto de 1970, a ALN
promoveu uma desastrosa ação de “justiçamento” do comerciante José
Armando Rodrigues, no município cearense de São Benedito, episódio que
assinalou o “começo do fim” da luta armada no Ceará. Existem várias versões
dadas pelos antigos guerrilheiros para esse assassinato. O comerciante era
acusado por um apoiador da ANL em São Benedito, José Bento da Silva, de
possuir uma lista com nomes de “subversivos” a ser entregue ao governo
militar. Armando Rodrigues, pois, teria se tornado um perigo para a ALN e
acabou sequestrado e assassinado por guerrilheiros. Há grande controvérsia
se existia concretamente esse risco de delação ou se houve uma razão
passional para aquela execução. Vários dos entrevistados alardearam que
47 Correio do Ceará, 30/01/1970, p.1. 48 A chegada de Fleury foi noticiada com destaque pelos jornais: “Chega hoje o comandante do cerco de Marighela”. O Povo, 31/01/1970, p.1. “Esperado delegado famoso na guerra ao terror e subversão”. Correio do Ceará, 31/01/1970, p.1. O Delegado deu uma entrevista à imprensa, não permitindo a entrada de fotógrafos. Disse, com base em sua experiência, que o Ceará não seria escolhido para o desenvolvimento de atividades terroristas (...) pois não há aqui clima político nem condições geográficas propícias (...). Correio do Ceará, 5/02/1970, p.8. Na “visita”, Fleury manteve contato com autoridades
locais da segurança. Seu objetivo oficial era levar para São Paulo os “subversivos” condenados Luiz Anastácio Momesso e Valdir Araújo, que haviam fugido para o Crato-CE, onde acabaram capturados.
José Bento teria usado a organização para fins passionais, pois nutria ódio ao
comerciante, o qual teria se relacionado amorosamente e deflorado uma de
suas filhas. O denominado “Caso de São Benedito” se tornou um trauma entre
os militantes de esquerda49. Após matar o comerciante, os guerrilheiros da ALN
sofreram verdadeira caçada policial, sendo capturados dois deles, Valdemar
Menezes e William Montenegro50. Nos meses seguintes, outros implicados
“cairiam”, à exceção do policial civil Carlos Thmoskhenko, que atuava como
informante da ALN dentro dos órgãos de segurança e cuja prisão foi
manifestada como uma questão de honra pelo Secretario de Segurança do
Ceará51.
O episódio, ao mesmo tempo, ganhou enorme espaço na mídia local
e nacional, sendo explorado pela Ditadura para mostrar a “brutalidade,
covardia, frieza e o perigo dos terroristas” que com seus projetos comunistas,
“atentavam contra a Pátria e matavam inocentes, sem piedade”52.
Possivelmente, a população, há muito bombardeada pela imprensa e governo
com uma imagem negativa dos “terroristas”, recebeu com indignação o
acontecido, contribuindo ainda mais para isolar a guerrilha de esquerda do
resto da sociedade e para seu desmantelamento53. Para o Regime Militar, o
cadáver de São Benedito era um importante tento em sua luta contra a
oposição armada, uma evidência da brutalidade desta, especialmente naquele
momento, quando aumentavam as denúncias de torturas e mortes praticadas
pelo governo militar. O cadáver de José Armando Rodrigues e de todos os
outros mortos e feridos nas ações das esquerdas seriam usados para
desacreditar tais denúncias. A mensagem era clara: quem matava e torturava
eram as esquerdas, não o regime. Assim, o governo tinha que ser “duro com os
49
Em nosso trabalho de mestrado, fazemos uma análise das disputas de memórias em torno do Caso de São Benedito. FARIAS, Airton de. Op. Cit. p. 181 e seguintes. 50
Depoimentos e O Povo 31/08/1970, p. 1 e 6; 1º/09/1970, p. 1 e 6; 2/09/1970, p. 6; 3/09/1970, p. 1 e 6; 4/09/1970, p. 1 e 6; 5/09/1970, p. 8; 9/09/1970, p. 6. Correio do Ceará, 31/08/1970, p. 1, 7 e 8; 1º/09/1970, p. 1, 5, 7 e 8; 2/09/1970, p. 7; 3/09/1970, p. 1 e 7; 5/09/1970, p. 1 e 7; 8/09/1970, p. 1 e 5; 9/09/1970, p. 1, 7 e 8; 11/09/1970, p. 1 e 2; 12/09/1970, p. 1, 4 e 7. Foram indiciados pelo caso de São Benedito: Valdemar Rodrigues Meneses, Francisco William Montenegro, Carlos Thimonshenko, José Sales de Oliveira, GilbertoTelmo Sidnei Marques, Antônio Experidião Neto, João Xavier de Lacerda e José Bento da Silva. O Povo, 2/08/1971, p. 20. Correio do Ceará, 2/08/1971, p. 8. 51
Correio do Ceará, 28/09/1970, p. 8. Thmoskhenko conseguiu deslocar-se para Brasília e Rio de Janeiro
(contando, inclusive, com o apoio do PCBR) e a seguir para o Uruguai, Chile e França – voltaria ao Brasil apenas após a anistia, em 1980, constituindo-se o único partícipe de São Benedito a não ser capturado. Vide Thmoskhenko, Carlos. Timo-Thmoskhenko: O Subversivo que Cruzou a Fronteira. Fortaleza: FUNCET, 2003. 52
O Povo, 1º/09/1970, p. 1. 53 O Povo, 1º/09/1970, p. 1.
duros” – não por acaso, a Polícia Federal chegou a pedir pena de morte em
seu inquérito para os envolvidos em São Benedito54.
Após São Benedito, a ALN no Ceará desmanchou-se como um castelo
de areia. A 28 de setembro de 1970, os jornais trouxeram fotos e manchetes
em letras garrafais sobre o desbaratamento do “terror” no estado, sendo enfim
“apurada” a autoria dos vários crimes “subversivos” ocorridos55. Foram
capturados vários militantes, tornados públicos os nomes de outros foragidos (o
que levou as autoridades a pedir o apoio da população na captura dos
mesmos). Foram igualmente apreendidos equipamentos gráficos, panfletos,
armas e carros, fruto do estouro de vários “aparelhos” em Fortaleza56.
Mesmo em meio à crescente repressão, a 11 de setembro de 1970,
exatos treze dias após o incidente de São Benedito, o PCBR, realizou o assalto
de 200 mil Cruzeiros (um dos maiores da história do Ceará) ao Banco do Brasil
de Maranguape, aliás, a única ação exitosa de expropriação conhecida em
agencia bancária no interior cearense57. A organização faria intensa campanha
pelo voto nulo nas eleições a acontecer em novembro daquele ano. Tal
campanha dava-se pela distribuição de panfletos, realização de comícios
relâmpagos e pichações de frases provocadoras, como: “Vote nulo: eleição é
tapeação, luta armada é a solução”. Foi numas dessas pichações que começou
a cair o PCBR no Ceará, pois um dos militantes acabou presos pela polícia,
Paulo Fernando Magalhães dos Santos, de apenas 16 anos. Torturado, acabou
entregando o endereço de um dos “aparelhos” do PCBR. Ao chegar ao local, a
polícia travou um tiroteio com guerrilheiros, no qual foi ferido e capturado o
estudante universitário Pedro Paulo Pinheiro58. Outros ativistas conseguiram
fugir, mas foi apreendida vasta documentação do Partido. Esses documentos
apreendidos e as informações obtidas com as torturas dos “caídos” levaram a
polícia a invadir diversos “aparelhos” e efetuar a captura de outros militantes do
PCBR.
54 “Polícia Federal pede pena de morte para os terroristas cearenses”. Correio do Ceará, 29/10/1970, p. 1. 55 “Desbaratado o grupo do terror que assaltou e matou no Ceará”. Correio do Ceará, 28/09/1970, p. 1. “Desbaratado terror no Ceará”. O Povo, 28/09/1970, p.1. 56
O Povo, 28/09/1970, p. 8. 57 O Povo, 23/11/1970, p. 6. Correio do Ceará, 23/11/1970, p. 5. 58 “Estudante baleado ao reagir à prisão”. Correio do Ceará, 16/10/1970, p. 8. Foram indiciados nessa ação Paulo Fernando, Célio Miranda de Albuquerque, Pedro Paulo Pinheiro e Lilia da Silva Guedes. O Povo, 1/04/1971, p. 6.
Em 1972, cearenses ainda tentaram reorganizar o PCBR, mas
acabaram surpreendidos pela repressão quando planejavam a expropriação da
empresa de cigarros Souza Cruz no centro de Fortaleza. Após um tiroteio, os
guerrilheiros conseguiram escapar, embora tivessem sido identificados. Em
breve, todos foram detidos na operação “Barra Limpa”, levado a cabo pela
Polícia Federal e DOI-CODI59.
Vale ressaltar que muitas das ações nessa fase final da guerrilha
objetivavam muito mais a sobrevivência e escapatória dos militantes que o
desencadeamento da sonhada revolução. O sentido e o comportamento dos
guerrilheiros mudaram completamente da mesma forma. Vários exilaram-se,
outros “desbundaram” (abandonaram a luta) e alguns passaram a colaborar
com a Ditadura. Outras vezes, as ações assumiam características de crimes
comuns: nada mais de discursos revolucionários ou justificativas para as
expropriações. Agora era tomar tudo que pudesse virar dinheiro e garantir a
sobrevivência dos militantes remanescentes e ativos. Os ativistas estavam com
dificuldades financeiras para pagar os aluguéis dos “aparelhos” e até para
comprar mantimentos. No Ceará, conforme apuramos junto a alguns
entrevistados e pelos próprios informes da imprensa sobre crimes comuns –
mas que eram realizados por organizações armadas –, isso se deu sobretudo
nas últimas ações da guerrilha, no inicio do ano de 1972, envolvendo alguns
militantes do PCBR e da FLNE (Frente de Libertação do Nordeste)60.
A FLNE foi formada principalmente por dissidentes da ALN no Ceará
e Pernambuco, descontentes com o fato da cúpula nacional desta organização
estar levando os principais quadros do Nordeste para suprir as quedas
ocorridas no Sudeste61. A FLNE realizou algumas ações exitosas62, mas
quando alguns de seus integrantes preparavam-se para fazer uma ação de
expropriação do Banco do Brasil no Crato-CE, em janeiro de 1972, acabaram
“caindo”63. Entre os detidos, José Sales Oliveira, antigo líder da ANL e um dos
dois últimos foragidos do caso de São Benedito. Sales, condenado à prisão,
59
“Terror ataca a bala na Praça Coração de Jesus”. Correio do Ceará, 8/01/1972, p. 1 60
FARIAS, Airton de. Op. Cit. Informações passadas por vários dos entrevistados. 61
MOTA, Silvio. Rebeldes. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2009. 62
O Povo, 24/05/1972, p. 7; Correio do Ceará, 24/05/1972, p. 8. 63
“Frustrado assalto terrorista no Crato”. O Povo, 25/01/1972, p. 7. “Frustrado plano de assalto à agência do BB do Crato”. Correio do Ceará, 25/01/1972.
seria solto em 1980, constituindo-se o último preso político a ser libertado no
Brasil64.
Nas prisões naufragariam definitivamente os sonhos dos
revolucionários. Processados, receberiam penas altíssimas, cumprindo-as em
presídios, como no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), de Fortaleza.
Sairiam a partir de 1979, com a Anistia, esquecido pelo grosso da sociedade.
Nas prisões, refizeram suas vidas e projetos políticos, mas isso é outra
História.
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64
“Terroristas do Assalto ao Banco Condenados a 42 Anos”. Correio do Ceará, 11/01/1973, pág. 1. “Abertura – Celas Vazias – o último preso político deixa a cadeia”. Revista Veja, 15/10/1980.