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[R E V I S TA D O M D A - M I N I S T É R I O D O D E S E N V O LV I M E N T O A G R Á R I O | 2 0 0 9

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ApresentaçãoO Brasil é um dos maiores produtores

de alimentos no mundo. Mas, o papel do

meio rural brasileiro vai além da agricul­

tura, contribuindo de forma decisiva para o

desenvolvimento do país, em todas as suas

dimensões: econômica, social e ambiental.

Isto é resultado de muito trabalho dos agri­

cultores no cultivo da terra e de toda a po­

pulação que desenvolve as comunidades e

municípios rurais; e dos governos que criam

políticas públicas capazes de viabilizar o

acesso à atividade produtiva, infraestrutura

e serviços.

A Assistência Técnica e Extensão Rural

(Ater) é um serviço público de educação in­

formal permanente, que atua no Brasil há

mais de 60 anos, fazendo chegar inovações

tecnológicas e políticas públicas até as fa­

mílias rurais, promovendo a sua renda e o

bem estar. A Extensão Rural, junto com os

agricultores e suas organizações, fez a dife­

rença no desenvolvimento rural brasileiro

junto com outros serviços, como a pesquisa

agropecuária, o crédito subsidiado e o coo­

perativismo, entre outros.

Desde 2003, a Extensão Rural vive

uma nova fase. O Governo Federal, por

meio do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), assumiu a responsabilidade

da Política Nacional de Ater, fez voltar a

existir e crescer os recursos de Ater, e, em

parceria com os governos estaduais, rees­

truturou os serviços de Ater, para atender

à demanda dos agricultores familiares.

Nos últimos seis anos, a frota de veículos

das entidades estaduais de Ater foi reno­

vada, foram adquiridos computadores,

melhorada e ampliada a estrutura de escri­

tórios e contratado pessoal, o que permitiu

a Ater retomar seu papel fundamental no

desenvolvimento rural, especialmente na

implementação de políticas públicas.

No Brasil Rural Contemporâneo 2009

­ VI Feira Nacional da Agricultura Familiar e

Reforma Agrária, realizado pelo Ministério

do Desenvolvimento Agrário, trazemos a 2ª

edição da Revista Excelência em Ater para mos­

trar serviços de qualidade que a Extensão Rural

desenvolve junto com as famílias rurais, que

fazem chegar o alimento à mesa de todos os

brasileiros e promovem o desenvolvimento

rural sustentável. Os casos aqui apresenta­

dos são desenvolvidos nas diversas regiões do

país e foram identificados e relatados pelos

articuladores das Redes Temáticas de Ater,

em conjunto com o Departamento de

Assistência Técnica e Extensão Rural do

MDA (Dater/SAF/MDA).

[EXCELÊNCIAem ATER

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O novo paradigma daExtensão Rural brasileira

CASOS DE “EXCELÊNCIA EM ATER”

Diversificação da produção e renda:substituição da cultura do tabaco

Circuito de Tecnologiasno semiárido

Geração de Renda e Agregaçãode Valor em Comunidade dePescadores Artesanais

Transição agroecológicana Amazônia

A caminho da sustentabilidadena pecuária leiteira

Quintais Agroecológicos Produtivos: promovendo a autonomia das mulheres no semiárido nordestino

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Práticas Agroecológicas na Comunidade Pirangi: uma experiência que deu certo

Organização social e geração de renda no Nordeste: O Programa de Biodiesel

Inovando na Formação de Agentesde Ater: Projeto Cultivando Saberes

Preservando e recuperando mananciais: uma experiência inovadora

Boas Práticas no Manejo daCastanha do brasil

PEIXE XUKURU - Aquacultura sustentável, segurança alimentar e inclusão social

Organização para o acesso a mercados na Região Nordeste: Rede Estadual de Apoio à Comercialização

Construção do conhecimento agroecológico em redes de agricultores-experimentadores

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[EXCELÊNCIAem ATER

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O NOVO PARADIGMADA EXTENSãO

RURAL BRASILEIRA A Extensão Rural é um serviço público de educação informal e continuado previsto na Constituição brasileira. A Constituição Federal de 1988 e a Lei Agrícola de 1991 determinam à União manter serviços de Ater públicos e gratuitos para os pequenos agricultores. A des­peito disto, o Estado brasileiro afastou­se dos serviços de Ater durante toda a década de 1990 até o ano de 2002, comprometendo a oferta desses serviços, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde vivem mais de 50% dos agricul­tores familiares do país. Este fato agravou ainda mais a histórica falta de acesso ao conhecimento e às políticas públicas por estes agricultores, con­tribuindo para a exclusão no campo. A partir de 2003, o Governo Federal reas­sumiu a responsabilidade pelos serviços públicos de Ater num contexto de compromisso com po­líticas para o desenvolvimento rural sustentável, combate à fome e inclusão social. O Decreto Pre­sidencial nº 4.739, de 13 de junho, transferiu o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Secretaria de Agricultura Familiar , do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA). No mesmo ano, instituiu a Política Na­cional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), construída de forma participativa em articulação com os diversos segmentos que atuam na Extensão Rural. A Pnater é uma política moderna que considera a diversidade da agricultura familiar brasileira, os princípios e conceitos do desenvol­vimento rural sustentável e estabelece as bases para um serviço de Ater coerente com o regime democrático e a participação e autonomia dos povos. Inclui as organizações governamentais e não governamentais na prestação de serviços públicos de Ater, integrando vocações, conhe­

cimentos e papéis na promoção do desenvolvi­mento. Ainda orienta sobre a questão das rela­ções de gênero, geração, raça e etnia e a inclusão da população rural mais pobre. Com a Pnater, o governo passou a orientar uma ação de Ater voltada aos diversos públicos da agricultura familiar, que inclui agricultores familiares tradicionais, assen tados da reforma agrária, quilom bolas, indígenas, pescadores arte sanais e extrativistas, ribeirinhos, entre outros. Esta beleceu uma coordenação com gestão so­cial, apoiada por conselhos representativos do governo e sociedade, um sistema descentrali­zado de execução, ancorado em redes de enti­dades de Ater, levando em conta as dimensões econômica, social, ambiental e institucional do desenvolvimento. Assim, o objetivo da Ater vai além de aumentar a renda dos agricultores, que é uma questão fundamental, e inclui a promoção da autonomia e independência das famílias, a sus­ten tabilidade dos sistemas de produção e pro­cessamento, a produção de alimentos sadios por meio de uma nova matriz tecnológica com base nos princípios da ecologia e a preservação ambiental, o acesso a mercados com vantagens competitivas que agreguem valor à produção e a organização produtiva, econômica e política como forma de promover a cidadania e o aces so a recursos, entre outras inovações. Hoje, a Ater está diferente do que era no passado recente, tendo adequado­se às demandas atuais da agricultura familiar e do desenvolvimento rural sustentável. Os casos apresentados nesta segunda edição da revista “Excelência em Ater” dão uma idéia da Ex­tensão Rural que vem sendo desenvolvida nos quatro cantos do Brasil.

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CASO

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DIVERSIFICAçãODA PRODUçãO E RENDA:

SUBSTITUIçãO DA CULTURA DO TABACO

A Família Cognacco vive na comunida­de rural de Vargem dos Bugres, município de Leoberto Leal, em Santa Catarina, em uma área de 32 hectares, distribuída em lavoura temporária, fruticultura, pecuária leiteira e de corte, mata nativa e outras. Os Cognacco produziam tabaco há 20 anos, como ativida­de principal, totalizando 12 ha de área ocu­pada, com mais de 2 mil arrobas produzidas e preço bruto de R$2,50 por Quilo. Em 2004, a família tomou a decisão de incrementar a produção leiteira e agrícola em detrimento da área ocupada com tabaco, baixando mil arrobas no primeiro ano/2005 (6 ha), a 01 ha em 2009, com cultivo orgânico (Empresa Multinacional de Tabacos), que foi a alter­nativa encontrada para recuperar as terras e abandonar a cultura. A decisão foi motivada por problemas de saúde da família, pois as intoxicações eram frequentes, somadas ao grande esforço físico e penosidade exigida no cultivo do tabaco como um todo. O envolvimento em atividades desen­volvidas por projetos de Assistência Técnica e Extensão Rural aumentou, na família, a con­fiança para incrementar e melhor distribuir a

renda ao longo do ano. A partir daí, iniciou­se a diversificação da Unidade Produtiva, sendo a atividade leiteira a que respondeu mais ra­pidamente, na primeira etapa de transição. A adoção do manejo racional das pastagens foi o primeiro passo para a transição gradual do monocultivo do tabaco. A atividade leiteira in­crementada na oferta de pasto e aumento do rebanho, com baixo custo, possibilitou o cultivo de outras culturas em outras áreas, nos anos se­guintes, consolidando e ampliando a produção ecológica de 0,5 ha de cebola, 0,7 ha de batata­baroa e 02 ha de uva, para fabricação de suco, produtos estes já certificados dentro da Lei Fe­deral dos Orgânicos. Os Cognaccos diversificaram a proprie­dade com cultivos agrícolas e pecuária orgâ­nica e hoje abrem sua casa para o Turismo Rural . A produção é comercializada via circui­to de comercialização da Rede Ecovida, indo para feiras livres, mercado institucional e local. Na prática, o resultado foi a garantia de venda e valorização por meio do preço pago ao agri­cultor, trazendo incremento de renda, além da perspectiva da ecologização plena da Unida­de de Produção, contando com investimento e custeio via Pronaf.

Área de cultivo de fumo orgânico, transição para uva de suco.

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Adubação verde de verão e colheita de batatas

A participação da família na Rede Ecovi­da desperta o interesse de outras famílias em in­tegrar os grupos de base municipais, articulados através de projeto apoiado pela Secretaria da Agricultura Familiar/SAF/MDA via Programa Na­cional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco. Executado pelo Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), o projeto envolve outros municípios da região do Alto Vale do Itajaí (SC), sobretudo os muni­cípios de Leoberto Leal, Angelina, Imbuia, Vidal Ramos, Major Gercino, Alfredo Wagner e Nova Trento, onde mais de 1.800 famílias trabalham na atividade, tendo uma área estimada de 6.800 ha de tabaco cultivada anualmente. As ações, que envolvem mais de 100 famí­lias dependentes da cultura do fumo, promovem a transição para sistemas ecológicos de produção, sobretudo no incremento de pastagens, cultivos temporários e perenes. O fator organizativo se faz presente na estratégia de ação desenvolvida. O projeto realiza as ações juntamente com as instituições parceiras: SAF/MDA, GPVoisin/CCA/UFSC, Prefeitura de Angelina, Associação das Microbacias­Leoberto Leal, Associação dos Produ­tores Agropecuários da Barra Negra, Major Gerci­no, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alfredo Wagner, Fundação Interamericana e Misereor.

“o resultado foi a garantia de venda e valorização por meio do preço pago ao agricultor”

Pastagem naturalizada

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CIRCUITO DE TECNOLOGIASNO SEMIáRIDO

O Instituto de Assistência Técnica e Ex­tensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater­RN), em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte S/A (EM­PARN) e com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tem promovido e executado, nos últimos seis anos, o projeto Circuito de Tec­nologias Adaptadas para a Agricultura Familiar. O Projeto tem como tema central “Conservar os Recursos Naturais do Semiárido Gerando Renda e Mais Alimentos”. A iniciativa visa, sobretudo, sensibilizar produtores, técnicos, multiplicado­res, estudantes, extensionistas e pesquisadores para a importância de um trabalho conjunto, para que juntas as famílias tenham mais acesso a tecnologias para a exploração racional e pre­servação dos recursos naturais do semiárido. Os projetos desenvolvidos por meio dessa

parceria procuram incentivar a inovação tecno­lógica nas cadeias produtivas, ampliar a for­mação e a capacitação de recursos humanos, promover a expansão da pesquisa de CT&I, po­pularizar o conhecimento científico e tecnoló­gico, promover a inclusão social e a redução das desigualdades sociais e regionais, proporcionar a geração de emprego e renda e atuar de for­ma ambientalmente sustentável. O acesso à informação e à profissiona­lização de agricultores familiares, técnicos e multiplicadores é uma condição essencial à me­lhoria dos índices produtivos da agropecuária potiguar, particularmente na região semiárida. A EMPARN está ciente desta realidade. A Ema­ter­RN é responsável pelos processos de adapta­ção e apropriação das tecnologias geradas pela pesquisa para a agricultura familiar.

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Este projeto tem como objetivos:

• Disponibilizar tecnologias apropriadas à agricultura familiar nas áreas de caprinovinocultura, bovi­nocultura de leite, aves caipiras, reservas estratégicas de forragens, agroenergia, fruticultura, pisci­cultura e alimentos (milho, feijão e mandioca);

• Instalar Vitrines Tecnológicas para dar suporte aos eventos tecnológicos para capacitação de técni­cos, extensionistas e agricultores e agricultoras familiares;

• Capacitação de técnicos, produtores familiares, mulheres, jovens e lideranças nas diversas atividades do projeto;

• Elaboração e distribuição de cartilhas apropriadas à agricultura familiar; • Melhorar a articulação de pesquisa, extensão, agricultores e agricultoras familiares como forma de

garantir o fluxo de informações tecnológicas da pesquisa.

Alguns resultados obtidos

• O Circuito de Tecnologias Apropriadas à Agricultura Familiar tem contemplado anualmente aproximadamente 3.000 agricultores familiares de 162 municípios;

• Contempla seis mesorregiões do estado nos diferentes territórios da cidadania;• Conta com a participação anual de 10 instrutores (pesquisadores) e 60 extensionistas;• Já distribuiu 15.000 cartilhas técnicas contemplando as atividades do Projeto.

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GERAçãO DE RENDAE AGREGAçãO DE VALOR

EM COMUNIDADE DEPESCADORES ARTESANAIS

O Núcleo Trama do Sol é formado por mulheres do Distrito de Itaoca, Município de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, e desenvolve o trabalho de aproveitamento da fibra da estipe do coco anão e da bananeira na confecção de peças artesanais. Os objeti­vos do núcleo são vi­venciar a “Arte­Arte­sanato­Ecologia”, evitar o uso de fibras de áreas de preservação permanente (APP), como a taboa, e transformar a fibra do coco em produtos eco­logicamente corretos, chamados de ecoprodutos . Tem ainda como proposta o fortalecimento do associativismo, geração de emprego e renda, inserção social, agroecologia e desenvolvimento de um produto usado no dia a dia, como bolsas e outras peças artesanais, de forma ecológica e com percepção dos problemas sociais vividos no passa­do e no presente.

Os projetos e iniciativas são acompanhados de forma sistemática, discutidos e concebidos com base em metodologias participativas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e pela Secretaria Muni­cipal de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente da Prefeitura de Itapemirim.

O principal objetivo é intensificar o empre­endedorismo, associativismo, gestão, qualidade, design e a comercialização dos produtos, como forma de promover iniciativas ecológicas susten­táveis e de inclusão social. A experiência do grupo é voltada ao desen­volvimento de uma fibra resistente ao uso diário,

utilizando um processo natural de tratamento dessa fibra, o que torna viável a comercializa­ção dos produtos den­tro e fora do Brasil. São confeccionados bolsas, suplás , jogos americanos, porta­guardanapos, por­ta­garrafas, chaveiros , porta­lápis,entre outros. Foram criados 27 mode­los diferentes de bolsas, dirigidos a um público

de consumo diversificado. Para a fabricação das peças, a fibra recebe tratamento especial. Após ser recolhida nas feiras, passa por um processo de secagem, em seguida é tratada e retorna à secagem. Após esta etapa, é feita a seleção das fibras que vão imediatamente , para o corte e, posteriormente, para a montagem das peças. A peça montada passa por um novo processo de tratamento e depois é levada ao grupo responsável pelo bordado, esquadramento e inserção da trama de fibra de bananeira (acaba­mento final). O núcleo produz cinco peças de artesana­to ecológicas por dia. Os resultados promovem a geração de renda e oportunidade de trabalho através de um oficio artesanal de tratamento da fibra do coco, que é uma experiência única. O processo é uma descoberta exclusiva deste grupo, que o desenvolveu de forma ecológica pelo próprio trabalho (ensaio e erro) até encon­trar o resultado desejado, usando produtos não oriundos de extrativismo. O Trama do Sol faz parte da rota turística “Rota do Mar e do Café”, rota da costa e imigra­ção e do Território Sul Litorâneo do Espírito Santo .

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Nessa relação, o INCAPER assume um papel de mediador social que ajuda no fortalecimento ins­titucional da organização. Desta forma, o espa ço rura l deixa de ter como função exclusiva a pro­dução agrícola, passando a ser um espaço polis­sêmico em que convivem atividades de nature­zas diversas. A peça de artesanato produzida por uma cultura pode falar abundantemente sobre ela. Este artesanato representa um segmento im­portante da cultura do Espírito Santo, onde cada objeto é exclusivo, sendo fruto de um tratamento

“Fortalecimento do associativismo, geração de emprego e renda”

especial que culmina impregnado das mãos de quem o criou etapa por etapa, que por sua vez está impregnado de sua cultura e de sua arte. No Grupo, a noção de conjunto é muito maior e mais significativa. Hoje, o Grupo participa de feiras municipais, estaduais e nacionais, como a Feira Mãos de Minas, Salão Nacional do Turismo, Brasil Rural Contemporâneo, dentre outras. O tra­balho tende a se expandir, alcançando um maior número de famílias, já tendo propostas concretas de vendas à Alemanha, Chile e Canadá.

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Esquadrinhamento e colagemdas peças

Fabricação de alças e montagem das peças

Eco produto – Peça pronta

Extração da fibra Seleção da fibra

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TRANSIçãO AGROECOLóGICA

NA AMAzôNIA

O Escritório Local de Bragança, no Estado do Pará, vem desenvolvendo, desde 2004, ativi­dades agroecológicas e socioambien tais junto aos produtores familiares do município. Entre suas experiências, destaca­se o trabalho reali­zado com a família de José Martins Matos, mo­rador da comunidade do São Raimundo, loca­lizada na Rodovia PA­108, a 40 quilômetros da sede do Município.

Em sua propriedade de um hectare, que tem diferentes históricos de uso, a principal ati­vidade é a horticultura. Desde o ano de 1986 até 2003, utilizava produtos químicos (adubos e agrotóxicos) para produzir hortaliças. Nesse pe­ríodo, a produção obtida era pouca e seu lucro era baixo, devido ao custo elevado da produção. Tudo o que ganhava, investia em poucos cantei­ros, sem condições de adotar alguma tecnologia, tal como cobertura dos canteiros com sombrite ou plástico. A partir de janeiro de 2004, o agri­cultor passou a utilizar produtos orgânicos com

a orientação de Ater. Com essa mudança, melho­raram a renda e a qualidade de vida da família.

Dos resultados obtidos, destaca­se o baixo custo de produção, principalmente porque passou a produzir o próprio adubo (composto e húmus) e defensivos naturais, aumentando a receita e viabilizando outras atividades na propriedade, tais como produção e venda de mudas frutíferas e florestais, piscicultura e fruticultura.

O trabalho de Ater contribuiu para uma mudança no sistema de produção, incorporan­do técnicas agroecológicas, promovendo uma repercussão positiva da horticultura orgânica no município. Hoje, José Martins é um defen­sor da agroecologia e está sempre receptivo às orientações técnicas, procurando cada vez mais se atualizar.

A atividade já lhe proporcionou muitos benefícios, tais como aumento da renda, am­biente de trabalho mais saudável, comerciali­zação diferenciada dos produtos no mercado

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local devido à grande procura pelos consumi­dores adeptos da agroecologia.

Em função de sua experiência agroeco­lógica, o agricultor ficou conhecido tanto em Bragança como em Belém. Já expôs seu traba­lho em um seminário, cujo público era compos­to por técnicos e pesquisadores da Embrapa, Emater, Sagri e agricultores familiares.

Atualmente, a propriedade costuma ser visitada por técnicos, pesquisadores e estudan­tes. A Emater local já realizou Dia de Campo e Excur são, levando agricultores de outras comu­nidades do município.

Por meio da experiência do agricultor José Martins, a Emater em Bragança conse­guiu inserir novos produtores no sistema agro­ecológico e socioambiental, sendo que hoje já existem produtores em fase de transição agro­ecológica.

Nesta experiência, a ATER teve como parceira a família Martins, o Ministério do De­senvolvimento Agrário (MDA), por meio dos re­cursos financeiros, e a Prefeitura de Bragança, com o apoio logístico.

Produção de mudas frutíferas

Dia de Campo sobre produção de adubo e defensivos naturais ­ produção de húmus.

Dos resultadosobtidos,

destaca-seo baixo custode produção

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A CAMINhO DASUSTENTABILIDADE NA

PECUáRIA LEITEIRA

Dividir a área de pastagem em piquetes para multiplicar lucros, produtividade, fertilidade do solo, bem­estar animal e, ainda, diminuir os cus­tos de produção e a mão de obra do trabalhador rural. Esta é a fórmula do Pastoreio Voisin, um sis­tema intensivo de manejo do gado, da pastagem e do solo, que procura manter esses três elemen­tos em equilíbrio.

Há dois anos, o casal Salésio e Cilésia Cabrei­ra, da comunidade de Coqueiros, em Içara, no Sul

do Estado de Santa Catarina, decidiu aplicar o sistema na propriedade. Os produtores, que há 30 anos tiravam a maior parte do sustento da famí­lia das lavouras de tabaco, começaram a participar de cursos, seminários e dias de campo e foi desta forma que conheceram um modelo para criação de gado diferente do que vinham praticando. Com ajuda e assistência técnica dos profissionais da Epagri , as áreas de pastagem foram divididas em 18 piquetes de mil metros quadrados cada.

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O investimento inicial, segundo Salésio,

não foi pesado e já foi recuperado

com a melhora na produção.

O investimento inicial, segundo Salésio, não foi pesado e já foi recuperado com a melhora na produção. Antes, o leite “dava para o gasto”: eram quatro vacas que produziam cerca de 30 litros por dia. Hoje, o produto já responde pela

maior parte da renda da família. Do rebanho de 28 animais, oito vacas estão em produção e ren­dem 120 litros de leite por dia, que são vendidos para um pequeno laticínio da região. Embora o rebanho tenha aumentado, o trabalho diminuiu.

A produção de forragem também au­mentou e se estabilizou. Agora, Salésio e Cilésia têm na propriedade praticamente todo o ali­mento que os animais necessitam e não falta pasto no inverno. “A despesa com alimenta­ção do gado diminuiu em cerca de 80%”, con­ta com orgulho o agricultor, que usa ração apenas para complementar a alimentação das vacas que estão dando leite.

O casal também planeja ampliar o reba­nho e, no futuro, produzir leite orgânico. Na parte de sanidade animal, eles já caminham para isso, pois começaram a usar homeopatia para tra­tar o gado. Os resultados são visíveis. “A home­opatia mantém o equilíbrio do animal e o torna mais resistente a doenças. Estamos percebendo menos problemas como carrapato , berne, vermi­nose e mastite, e o comportamento do gado me­lhorou”, conta as orientações do extensionista da Epagri, o veterinário Marcelo Pedroso.

Outra mudança radical na propriedade aconteceu pelas mãos de Cilésia, que começou a produzir hortaliças orgânicas há um ano e meio. “Tive problema na garganta por causa dos agrotóxicos e cheguei a ter depressão”, lembra. A plantação de fumo, que vem redu­zindo a cada ano, está com os dias contados: em breve, as áreas serão transformadas em horta e piquetes.

Assim como Salésio e Cilésia, desde 2004 mais de 200 produtores de 11 municípios da região de Criciúma já implantaram o Pastoreio Voisin. Desses, 180 produzem leite e o restante cria gado de corte e ovinos. São mais de 30 técnicos atuando na região, num projeto coor­denado pela Epagri em parceria com o projeto Microbacias, o Grupo de Pastoreio Voisin da UFSC, prefeituras, cooperativas e laticínios. Para 2009, já há uma demanda de mais de 50 propriedades para implantar o sistema.

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QUINTAIS AGROECOLóGICOS

PRODUTIVOS: PROMOVENDO A AUTONOMIA DAS

MULhERES NO SEMIáRIDO NORDESTINO

A agricultura de base familiar tem sido fortemente marcada pela divisão do trabalho entre homens e mulheres, por meio da matriz patriarcal que reserva aos homens o trabalho produtivo e público e às mulheres o trabalho doméstico e de cuidados. Este processo tem contribuído para a invisibilidade do trabalho das mulheres e sua exclusão nas oportunidades de capacitação, acesso à terra, assistência técnica, tecnologias e sobretudo a participação na divi­são dos bens gerados pela produção. Isto preju­dica o desenvolvimento das mulheres, afetando sua autoestima e autonomia, agravando o grau de pobreza das mulheres rurais, em especial no semiárido.

Há cinco anos, a Casa da Mulher do Nor­deste (CMN) vem promovendo o Projeto Quin­tais Produtivos nos municípios de Afogados da Ingazeira, São José do Egito, Tabira e Flores, situados no Sertão do Pajeú, Região do Semi­árido Pernambucano.

Este projeto tem como objetivo desen­volver sistemas produtivos agroecológicos ge­ridos por mulheres, promovendo práticas de convivência com o semiárido, a construção do conhecimento, autonomia na produção e comer cialização dos produtos, como estratégia de empoderamento das mulheres.

A produção dos Quintais se dá ao redor das casas de forma diversificada, com a criação de pequenos animais, cultivo de hortaliças, fruteiras

e forragem com práticas agroeco lógicas e uso ra­cional da água. O que em princípio, tinha como finalidade apenas a segurança alimentar e nu­tricional da família, passou a incorporar a ques­tão de geração de renda através da comercia­lização do excedente em feiras agroecológicas, e a apropriação dos resultados. Esta estratégia promoveu a autonomia e, consequentemente, aumentou a autoestima das mulheres.

A renda mensal declarada por gran­de parte das mulheres, antes da atividade ser implan tada, era em média R$ 50,00, aumentou significativamente. Em alguns casos aumentou até 600%, por meio da comercialização de seus produtos nas feiras agroecológicas, na vizinhan­ça e no Programa de Aquisição de Alimentos , do Governo Federal.

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Num contexto histórico, no qual as mulhe­res eram impedidas e desacreditadas de trabalhar publicamente, não foi fácil mudar esta concepção e fazê­las acreditar que são capazes e fazem parte de todo o sistema de produção e, principalmente, que são sujeitos da própria história.

No início, as mulheres demonstraram medo porque não tinham acesso à terra, ou, quando tinham, era uma pequena área, ao re­dor da casa. O medo da repressão dos maridos contri buía para a baixa autoestima, já que alguns acreditavam que o que lhes competia era exclusi­vamente o trabalho doméstico e não permitiam sequer que elas saíssem de casa para participar de uma reunião. A falta de apoio da própria comu­nidade, que sempre duvidou do potencial delas,

Em um contexto culturalmente tão adverso, onde o desafio era incidir nas relações de gênero no

âmbito familiar, facilitar o empoderamento através do conhecimento, acesso à terra e recursos hídricos

destinados à produção, no interior de sua própria propriedade, e a distribuição equânime dos recursos

gerados para a produção, destaca­se um conjunto de aprendizagens, algumas previstas e outras criadas

no decorrer da implementação da proposta:

• Reorganização do trabalho doméstico e a redistribuição nas tarefas entre homens e mulheres;

• Mulheres tornam­se multiplicadoras dos saberes;

• Conquista da autonomia através da luta coletiva.

acentuava o medo de levar adiante a proposta. Esse conjunto de fatores contribuía para

a aproximação entre as agricultoras e as exten­sionistas, ajudando na multiplicidade de sujeitos (técnicas e agricultoras se constituem sujeito da ação e do processo), uma vez que as próprias exten sionistas são sujeitos da construção desse espaço historicamente masculino.

A construção coletiva do conhecimento possibilitou a ampliação da experiência para um número maior de mulheres, pois foi sendo multi­plicado entre elas; e o mais importante é que as mulheres que conseguiram se integrar nesses es­paços começaram a repensar a ideia de sua inca­pacidade, discutindo em casa com os maridos e filhos sobre a divisão sexual do trabalho.

O Aprendizado

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“Ser mulher agroecológica, atrizes de nós mesmas, é melhor que ser somente dona de casa. Sempre trabalhei muito, mas nunca fui reconhecida nem valorizada como dona de casa. Hoje sou

reconhecida como produtora do grupo de Mulheres Xique-xique”.(Vilzoneide Marques – Comunidade Monte Alegre – Afogados da Ingazeira/PE)

“Tenho certeza que nunca mais serei a mesma. Se tivesse que voltar a ser o que eu era antes, ter a vida só de cuidar da casa e da comida

como antes, ficaria com depressão”.(Joaninha – Comunidade de Monte Alegre – Afogados da Ingazeira/PE)

“Hoje tenho autonomia. Tenho meu próprio dinheiro, dou o quanto de ração quiser para minhas galinhas. Quero que todas as mulheres da minha comunidade tenham acesso e o conhecimento

que tenho hoje. Me sinto importante e valorizada”.(Terezinha – Comunidade São Miguel – São José do Egito/PE)

Percebemos a ênfase desse significado nas palavras ditas pelas mulheres.

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A Ematerce realizou capacitações na área de plan­tio, tratos culturais, substituição de copas, entre outras e instalou ali uma Unidade Técnico Demons­trativa (UTD). Esta passou a ser constantemente visitada por membros de diversas associações co­munitárias do município e de muni cípios circunvi­zinhos, servindo também de base para a capacita­ção de extensionistas e agricultores familiares.

Tecnologia de substituição de copas em cajueiros improdutivos realizada pelos próprios agricultores do Pirangi.

PRáTICAS AGROECOLóGICAS NA

COMUNIDADE PIRANGI:UMA EXPERIÊNCIA

QUE DEU CERTO

A Associação Comunitária Pro­desenvol­vimento dos Produtores do Pirangi, no distrito Calugi, do município de Itapipoca, no Estado do Ceará, trabalha com 19 famílias associadas e 70 famí lias não associadas da comunidade de Pirangi.

As atividades iniciaram em 1985, quando agricultores do local procuraram a Ematerce, buscando capacitação para atuar na cajucultura .

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Os treinamentos serviram para que alguns produtores se especializassem nas tecnologias de enxertia e substituição de copas em cajueiros comuns improdutivos, o que, naturalmente, au­mentou significativamente a qualidade dos po­mares, assim como a produtividade dos mesmos. Outros eventos de capacitação foram realizados por instituições como Senar e Sebrae e pôde­se verificar o diferencial do grupo pelo interesse em aprender e realmente aplicar as tecnologias no campo. Membros da Associação Pirangi são contratados por proprietários rurais do municí­pio para procederem a substituição de copas em cajueiros improdutivos, o que representa uma boa fonte de renda.

A Ematerce, por meio do programa Cami­nhos de Israel, também capacitou estes agricul­tores e elaborou com os mesmos um plano de negócios, o qual culminou na aquisição de casa de farinha modernizada, o que melhorou a qua­

Presidente da Associação do Pirangi, Sr. Cláudio Rosa, em área onde fora realizada substituição de copas em cajueiros improdutivos. Detalhe de utili-zação de cobertura morta no solo.

lidade da farinha produzida no local e agregan­do valor ao produto. A experiência coletiva da casa de farinha moderna vem sendo irradiada para os municípios vizinhos.

A qualidade diferenciada da farinha e da goma da Casa de Farinha vem obtendo preços diferenciados junto aos consumidores da região.

A comunidade é servida por serviços de Ater por meio de extensionistas e um as­sessor de Ater. As reuniões da comunidade são mensais e obedecem datas prédetermi­nadas, ou a qualquer data quando convocada extraordinariamente.

A organização dos produtores despertou interesse também de alguns órgãos de pesquisa como a Embrapa, Universidade Federal do Cea­rá – UFC e o Instituto Centec, que já instalaram experimentos no local, em parceria com a co­munidade, incluindo experimentos com no­vas cultivares, calagem e tratos culturais como poda, época de plantio, etc.

Outro aspecto interessante é a agroeco­logia, uma vez que, no local, foi eliminada a prática da queimada e todos os restos vegetais e animais são utilizados como adubo orgânico por meio de composto, incorporado ao solo e como cobertura morta.

A utilização destas tecnologias sim­ples aumentou a produtividade das cultu­ras, como a mandioca que aumentou de 10.000kg/ha para mais de 25.000kg/ha.

As atividades agrícolas são desen­volvidas em áreas individuais e coletivas e têm a participação de mulheres e jovens.

Hoje, a comunidade já se encontra no nível de participação que garante a sua independência.

“Os treinamentos serviram para que alguns produtores se especializassem nas tecnologias de enxertia e substituição de

copas em cajueiros comuns improdutivos, o que, naturalmente, aumentou

significativamente a qualidade dos pomares, assim como a produtividade.”

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ORGANIzAçãO SOCIALE GERAçãO DE RENDA

NO NORDESTE:O PROGRAMA DE BIODIESEL

No Território do Sertão Central, no Ceará , 12 municípios do semiárido estão sendo beneficiados pela ação conjunta da Ematerce, MDA, GTZ e Petrobras, no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.

São 25 extensionistas da Ematerce e 25 agentes de desenvolvimento de instituições parceiras atuando com mais de 2.000 famílias, com perspectiva de incluir até oito mil famílias.

O principal objetivo é apoiar a organi­zação social e fortalecer a base produtiva da agricultura familiar por meio do Programa de Biodiesel. A Ematerce promove a mudança do sistema tradicional de produção para o agro­ecológico e, para isso, incentiva o plantio de oleaginosas como mamona, girassol, amen­doim e algodão em sistemas de consórcio com culturas alimentícias.

A expectativa é que a mudança gradual na forma de cultivar, fazendo a transição para o sustentável, permita a geração de renda,

preservação ambiental e segurança alimen­tar. Trata­se, portanto, de um processo de construção metodológica com base na reali­dade de cada região, considerando a diversi­dade, o contexto cultural, ambiental, social, econômico e institucional em que estão inse­ridas as famílias.

Os resultados obtidos até o momento incluem o aumento no número de contra­tações para a safra de 2008/2009 de 2.500 para 4.600 agricultores familiares, melhoria no processo de comunicação entre empresa, enti dades de Ater e agricultores familiares. As instituições públicas e entidades da sociedade civil estão articuladas para a participação e apoio ao projeto.

Os municípios beneficiados são Ibare­tama, Banabuiu, Choro, Deputado Irapuã Pi­nheiro, Milha, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Quixadá, Quixeramobim, Senador Pompeu e Solonópole.

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INOVANDO NA FORMAçãODE AGENTES DE ATER:

PROjETO CULTIVANDO SABERES

O Projeto Cultivando Saberes do MDA tem abrangência nacional e atualmente está sendo executado em 19 estados e no Distrito Federal: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Ja­neiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe, Tocantins e São Paulo. As ações são desenvolvidas principalmente nos municípios que compõem os Territórios da Cidadania. Estão envolvidos no pro­jeto 53 extensionistas, que atuam como formado­res e 1.700 extensionistas de campo.

O Cultivando Saberes é uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), e é executado pela Coordenação de Formação de Agentes de Ater do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater), em parceria com as Instituições Estaduais de Assistência Técnica e Ex­tensão Rural. O projeto é uma união de esforços e experiências de formação de agentes de Ater em rede, que visa ampliar e qualificar os serviços de Ater para os agricultores familiares nos Territórios da Cidadania.

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A metodologia do Cultivando Saberes con­siste no seguinte: o MDA capacita extensionistas das Instituições Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural e esses formam outros extensionis­tas em seus estados. Os extensionistas­formadores identificam agentes de Ater de instituições não estatais, tais como prefeituras, sindicatos, ONG’s e outras, que tenham tido pouca ou nenhuma opor­tunidade de capacitação, e promovem com estes um processo de formação continuada, com o obje­tivo de aperfeiçoar sua ação e promover o acesso dos agricultores às políticas públicas voltadas para a agricultura familiar.

A formação continuada tem como ação central cursos de curta duração, envolvendo uma

Cultivando Saberes – PE Cultivando Saberes – BA

parte conceitual onde são abordados temas rela­cionados à Pnater e políticas públicas para a agri­cultura familiar, e uma parte prática. A construção das ementas é feita de forma participativa e leva em conta a realidade de cada estado ou território.

Nestes cursos, os extensionistas são incenti­vados a refletir sobre a realidade em que atuam e o trabalho que desempenham. A partir disto cons­troem um plano de ação para ser implementado com os agricultores, com o apoio dos extensionis­tas­formadores. A formação está concebida para ser continuada e coerente com a realidade de cada agente e consolide a Rede Cultivando Saberes em cada estado, que é composta por todos os partici­pantes do processo de formação.

• Inovação nas ações de formação de agentes de Ater e na ação extensionista;

• Capacitação de agentes de Ater que não têm acesso a processos de formação continuada, propiciando um maior conhecimento sobre a realidade na qual atua e aperfeiçoando a prá­tica extensionista;

• Integração, articulação e troca de experiên­cias das instituições estaduais de Ater com as instituições da sociedade civil e outras institui­ções externas;

• Aperfeiçoamento dos serviços de Ater para os agricultores familiares que ainda não têm acesso às políticas públicas, tais como indíge­nas, mulheres agricultoras e agricultores do semiárido, entre outros;

• Interação entre Redes Temáticas de Ater, prin­cipalmente de Formação de Agentes de Ater, Agroecologia, Metodologias Participativas, Ater para Mulheres, Produtos e Mercados Diferencia­dos, Turismo, Ater Indígena e Comercialização;

• Qualificação dos extensionistas da própria ins­tituição estadual de Ater;

• Inovação na ação extensionista por meio da cons­trução coletiva no planejamento e nas capacita­ções e atuação multidisciplinar entre o grupo de formadores e os agentes de Ater capacitados;

• Valorização dos extensionistas formadores nas instituições estaduais de Ater;

• Qualificação da ação extensionista nos Terri­tórios da Cidadania através da proposição de projetos inovadores, tais como o “Cultivando Agroecologia nas Escolas”, no RN;

• Participação dos extensionistas formadores, extensionistas de campo e dos agricultores familiares em feiras agroecológicas, em se­minários sobre crédito e comercialização, em inter câmbios, em ações concretas de acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos, ao crédito, a programas de fomento a arranjos produtivos locais, entre outros.

O Projeto Cultivando Saberes promove:

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PRESERVANDO E RECUPERANDO MANANCIAIS:

UMA EXPERIÊNCIA INOVADORA

A morte pré­anunciada do Rio Boa Vista, em Ouro Preto do Oeste, na região central de Rondônia, tem levado os organismos governa­mentais e sociedade civil a tomarem decisões importantes para a população local, visando desenvolver uma ação para garantir o abasteci­mento de água da população urbana, resgatar a floresta , a flora e a fauna local.

O Manancial Boa Vista, localizado na Linha 37, a 10 quilômetros de Ouro Preto do Oeste, é uti­lizado para abastecimento de água da população urbana. Com vazão de 7.600 m3 por dia, 5.000 m3 são utilizados para abastecer uma cidade com 36.040 habitantes por meio de 4.439 ligações ativas.

O Projeto de Revitalização do Rio Boa Vista iniciou em 2006, quando a Secretaria de Estado do Meio Ambiente fez a denúncia do descaso com o Rio Boa Vista, em relação ao abandono, falta de matas ciliares, assoreamento, redução drástica do volume de água e o risco da interrupção do forne­cimento de água para a cidade.

Houve grande participação no momento de discussão do projeto, com a participação de auto­ridades civis e religiosas, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente ­ Sedam, Ceplac, Caerd, Ministério Público , prefeitura municipal de Ouro Preto do Oeste , Polícia Ambiental de Candeias do Jamari, Sipan e a Emater­RO, entre outros.

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A proposta da necessidade de trabalhar na preservação ambiental chegou também aos alunos das escolas locais, por meio de palestras ministradas pelos extensionistas, buscando a conscientização de todos na importância de se preservar o meio ambiente.

Assim, num trabalho conjunto da Exten­são Rural e da Educação, os jovens são envolvi­dos nas atividades de plantio de mudas para a recomposição das matas ciliares.

A área reservada foi cercada e os resulta­dos obtidos são animadores e expressam o esfor­ço de todos para garantir o direito humano fun­damental de todas as pessoas a ter água potável de qualidade e em quantidade suficiente, com custo acessível e fisicamente disponível, para uso pessoal e doméstico, conforme previsto na legis­lação brasileira e na Agenda 21.

Cuidar da água é uma questão de sobre­vivência. Depende da decisão e da ação de cada pessoa, comunidade e sociedade em geral.

Somente com sensibilidade, criatividade, determinação e participação será possível cons­truir respostas técnicas, científicas, ecológicas, sociais, políticas e econômicas para a gestão da água na perspectiva do desenvolvimento susten­tável, com inclusão e justiça ambiental.

Como resultado desse trabalho, são des­critas algumas conquistas obtidas, fruto das mu­danças ocorridas num trabalho protagonizado pela extensão e que tem proporcionado mudan­ças significativas no meio rural, viabilizando o desenvolvimento social, econômico e ambiental:• Educação Ambiental com alunos das escolas

locais, envolvendo 15 escolas da rede pública e particular;

• 3.000 alunos envolvidos;• 32 agricultores familiares executaram a recom­

posição nas suas propriedades utilizando a mão de obra familiar e em mutirão com os vizinhos;

• 81.500 mudas plantadas;• 96 ha plantados;• 95% da área total recuperada;• 70 essências florestais escolhidas, utilização de

35 espécies, com destaque para as frutíferas nativas;

• Ressocialização de 12 apenados;• 30 km de área demarcada e isolada;• Melhor qualidade da água identificada pelos

agricultores.

Foi definida a meta de recuperar 30 metros das margens de cada lado do rio, ao longo de 34 quilômetros da nascente até a bomba de captação da Caerd e foram tomadas decisões impor tantes para o alcance desta meta.

A Emater­RO e a Ceplac foram encarre­gadas do levantamento de campo e os demais órgãos dariam apoio logístico. Então, as equipes de técnicos desceram as margens do rio, para mensurar, piquetear e promover as reuniões com os agricultores, para a primeira sensibilização, envolvendo 32 famílias residentes às margens do Rio Boa Vista. Durante o processo de sensibiliza­ção dos agricultores foi pactuado que todo tra­balho partiria de decisões tomadas em comum e que o respeito por estas e o envolvimento de todos seriam vitais para o sucesso do projeto.

O levantamento dos problemas foi rea li­zado através de oficinas com as famílias envol­vidas, utilizando as ferramentas do Diagnóstico Rural Participativo – DRP, levando dois meses para a sua conclusão. Fruto dessas oficinas, fo­ram detectados os seguintes problemas, que ne­cessitavam de intervenção imediata:

• Eliminação da mata ciliar (total ou parcial);• Assoreamento do leito do rio;• Comprometimento da vida aquática;• Empobrecimento gradativo do solo; • Morte gradativa do rio pelo aumento de

evaporação;• Falta de alimentos para os animais silvestres;• Descaso de muitos agricultores.

1ª reunião para agricultores e parceiros para discutir o projeto.

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BOAS PRáTICAS NOMANEjO DA

CASTANhA DO BRASIL

Essa é uma experiência desenvolvida pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) nos municípios de Amaturá, Beruri, Lábrea, Boca do Acre e Manicoré, com 2.148 famílias envolvidas direta e indiretamente na atividade de extração da castanha do brasil. O Idam adotou como principal estratégia de atuação o apoio à organização das associa­ções e cooperativas por meio de diversas técni­cas e instrumentos participativos, com vistas à adequação dos seus castanheiros aos padrões mínimos de Boas Práticas de Manejo da casta­nha do brasil. Desta forma, como passo número um, adotou­se a capacitação dos castanheiros para a boa coleta, transporte e armazenamento da cas­tanha, etapas relevantes para impedir a conta­minação por aflatoxina, substância sinte tizada na amêndoa a partir de um fungo (Aspergilus fla­vus) e que traz diversos males à saúde humana, principalmente doenças hepáticas. Todos os cin­co municípios envolvidos foram atendidos. Além desses, podemos citar outros como Anori e Coari, que, apesar de não possuí rem usina de beneficia­mento, têm grande potencial de produção. Em seguida, para a fase de beneficia­mento da castanha, secagem, quebra, seleção e embalagem, capacitou­se em “Boas Práticas de Fabricação de Alimentos”, atentando para as questões sanitárias exigidas pelo Minstério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O Idam desenhou um projeto voltado para o beneficiamento da castanha e foi em busca de parceiros para efetivar a sua implan­tação. Em Manicoré e Amaturá desenhou

projetos voltados para a extração do óleo da castanha para alimentação (culinária). A idéia central foi agregar valor ao pro­duto, que vinha sofrendo com a desvaloriza­ção no mercado. Atualmente, tanto a usina de Manicoré como a de Amaturá produzem, basica mente, a castanha seca (dry) com casca e a castanha desidratada (sem casca) embaladas a vácuo em sacos de alumínio. Munido das experiências em Manicoré e Amaturá, o Idam teve como desafio a constru­ção de mais duas usinas de beneficiamento em Lábrea e Beruri. A primeira está produzindo normalmente, e a segunda encontra­se em fase de conclusão da obra e aquisição de equi­pamentos. O Idam tem trabalhado acentuada­mente em quatro polos de atuação: Alto/Médio Purus, Calha do Madeira, Baixo Purus e Alto Solimões. Como os resultados foram experiências de sucesso, a intenção é ampliar a área para o Médio/Baixo Solimões e Baixo Amazonas e, também, atender municípios dos quatro primeiros polos que não foram contem plados no primeiro momento. A castanha­do­brasil é um dos produtos mais comercializados na floresta amazônica. A exploração e o escoamento da produção ge­ralmente são realizados através dos regatões in­termediários e do aviamento. A única agregação de valor ao produto se faz mediante a quebra do ouriço para a retirada e seleção das sementes. Com a intervenção do Idam no sistema de produ­ção, os principais polos produtores estão viven­do uma realidade diferente com a possibilidade de atuarem em conjunto, fortalecendo o setor

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Usina de beneficiamento de castanha do brasil de Amaturá.

Seleção das castanhas após desidratação.

“A idéia central foi agregar valor ao produto que vinha sofrendo com a

desvalorização no mercado.”

produtivo e de beneficiamento. Com isto, já foi possível levar a produção a mercados melhores, com preços mais justos, tendo­se o benefício do microcrédito e não do aviamento.

Como reflexão geral da experiência, enten demos que foi um período de aprendizado e que o mérito dos resultados diante das adversi­dades deve ser dividido entre as gerências envol­vidas nas atividades meio e principalmente as que estavam na coordenação executiva das ati­vidades em campo. No en tanto , fica pelo me­nos uma lição aprendida que devemos refletir: o desafio de melhorar o desempenho em ativi­dades florestais que envolvam PCTAF’s passa ne­cessariamente em criar um espaço contínuo para discussão e avaliação dos acertos e erros no pla­nejamento, implementação dos mesmos e seu registro, com vistas à melhoria contínua e exce­lência na execução de metas programadas.

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PEIXE XUKURU - AQUACULTURA SUSTENTáVEL,

SEGURANçA ALIMENTAR E INCLUSãO SOCIAL

A ação aqui citada descreve o trabalho do Povo Xukuru da Serra do Ororubá, da Associação Indígena Xukuru de Ororubá, no município de Pesqueia, região agreste de Pernambuco. A terra Indígena possui uma área de 27.555 ha, distri­buída em 24 aldeias, três regiões climáticas com 10 mil pessoas. O projeto envolve 19 aldeias, 96 famílias e 480 pessoas.

A atividade de aquacultura familiar junto ao povo Xukuru tornou­se um espaço rico de aprendizagens e também de muitas surpresas. Inicialmente, este projeto contem­plava 12 aldeias com quatro famílias por aldeia. Atualmente, conta com a participação de 96 famílias de 19 aldeias que, de uma forma ou outra, estão criando peixe, além de 20

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Oficina para a construção dos diagnósticos.O Mapa das águas da aldeia.Aldeia São josé – povo Xukuru, 2008.

famílias interessadas e de outras etnias que se mostraram interessadas em participar do processo. Os próximos passos são: o domínio da reprodução de peixes, o desenvolvimento de ração com produtos locais e iniciação de pequenos processamentos e práticas de con­servação do pescado.

Entende­se como um grande avanço a comu nidade ter se ambientado com o cultivo de peixes, descoberto as possibilidades que esta ati­vidade pode proporcionar, vindo num futuro pró­ximo a fazer parte do conjunto produtivo local, forne cendo peixe para a alimentação escolar e para o mercado local.

Outro avanço que merece destaque foi a in­trodução e participação dos jovens no processo de aprendizagem e de seu envolvimento com a cria­ção de peixes, abrindo­se, assim, mais uma possibi­lidade de trabalho e renda no futuro.

Aldeia Lagoa -oficina de Ração produzida com insumos locais.

“Entende-se como um grande avanço a comunidade ter

se ambientado com o cultivo de peixe.”

Por fim, muitas famílias já estão con­sumindo peixe dentro do preconizado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 12 Kg per capita/ano, o que significa um peixe com 250 gramas por pessoa por semana, pro­duzido por ela mesma. A média brasileira é de 8 quilos per capita/ano; em Pernambuco, apenas 5 quilos per capita/ano.

Os parceiros envolvidos nessa experi­ência são a Associação Indígena Xukuru de Ororubá, o Instituto Agronômico de Pernam­buco – IPA, a Universidade Federal Rural de Pernambuco – Departamento de Pesca, o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricio­nal de Pernambuco, a Secretaria de Agricul­tura e Reforma Agrária do governo de Per­nambuco, a APOINME – Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e Es­pírito Santo.

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ORGANIzAçãO PARA O ACESSO A MERCADOS NA

REGIãO NORDESTE: REDE ESTADUAL DE APOIO à

COMERCIALIzAçãO

A Rede Estadual de Apoio à Comercia­lização da Agricultura Familiar (REACAF) tem como proposta articular a agricultura familiar com o mercado institucional, bem como outros mercados ligados à iniciativa privada, através do envolvimento de organizações de produto­res, sindicatos rurais, conselhos municipais, pre­feituras e demais atores sociais e institucionais.

O Governo do Estado do Sergipe lançou a Rede no último mês de agosto, em evento que contou com a presença de 10 mil agricultores fa­miliares e autoridades. Coordenada pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário e apoiada pela Secretaria de Agricultura Familiar SAF/MDA, a

Rede de Comercialização traça estratégias de for­ma a garantir a contratação de serviços de benefi­ciamento e processamento com as agroindústrias locais por parte das organizações sociais de produ­tores rurais, buscando efetivar sua política de aces­so aos mercados institucionais e outros mercados.

Em consonância com a ferramenta ele­trônica do Portal Comunidades do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Rede vem fazendo o cadastro de organizações da agricultura familiar, sendo a Cooperativa de Produtores de Comércio e Prestação de Serviços da Agricultura Familiar de Indiaroba e Região Ltda (Cooperafi) a primeira a se cadastrar na Rede Estadual de Comercialização de Agricul­tura Familiar. Hoje, a Cooperafi é detentora de

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DAP Jurídica, à qual se articula em rede com várias outras associações, o que ampliou o nú­mero de associados para 1.200.

Com a sanção da Lei nº 11.947, de junho de 2009, que trata da alimentação escolar,

Experiências “Entre as estratégias adotadas pela Rede

está a relação da agricultura familiar com as agroindústrias e com o mercado, de forma a viabilizar a contratação de serviços de beneficia­

mento e processamento, garantir os serviços de inspeção estadual e federal, agregando valor ao produto”, afirma o articulador estadual da Rede de Comercialização, Geraldo Ferreira Sobrinho.

onde 30% dos produtos deverão ser adquiridos da agricultura familiar, a Emdagro ampliou as discussões nos quatro Territórios de Cidadania, promovendo seminários, reuniões, palestras e criando grupos de discussão sobre articulação da agricultura familiar com o mercado, tendo como parâmetros básicos o conhecimento do mercado institucional ­ Programa Nacional e Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Ali­mentos (PAA).

Quanto ao mercado livre, a rede de co­mercialização deu inicio às discussões com o gru­po Wal Mart de supermercados, com o Clube do Produtor, entre outros, buscando mapear a pro­dução, identificando organizações da agricul­tura familiar com potencial para atender às exi­gências do mercado, com qualidade.

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Ainda segundo ele, o maior exemplo das estratégias pode ser visto através das coopera­tivas Cooperafes e Coopergipe, localizadas nos municípios de Moita Bonita e Campo do Brito, respectivamente, que contrataram os serviços de abate de suínos com a agroindústria deten­tora do Serviço de Inspeção Federal (SIF), o que garante a qualidade e agrega valor aos produ­tos. “Para vender a carne suína com qualidade e agregação de valor, as cooperativas contrataram a Nutrial para prestar o serviço de abate. Quanto à produção de batata­doce, a Cooperafes já a co­mercializa com o grupo Wall Mart de supermer­cados, na Bahia”, diz o articulador.

“Assim como foi feito com a batata­ doce, negociações estão sendo iniciadas na re­gião citrícola para venda da laranja ao grupo Wall Mart, por meio do Clube do Produtor”, comemora Geraldo Sobrinho.

Outras experiências de sucesso estão loca­lizadas na região citrícola de Sergipe, onde asso­ciações de produtores dos municípios de Boquim e de Santa Luzia contrataram o serviço da Trop Fruit para transformar a laranja em suco. Com a

contratação, elas puderam agregar valor ao pro­duto de quase 100% em relação à tonelada da laranja. Ou seja, antes a laranja in natura era co­mercializada ao preço de R$ 250,00 a tonelada. Após a transformação em suco, esse valor saltou para R$ 500 reais.

Ainda na região citrícola, nos municí­pios de Arauá e Pedrinhas, a Emdagro tam­bém vem trabalhando com as organizações de mulheres rurais, no processamento de produtos agrícolas, a exemplo da transfor­mação da laranja em doces, bolos, sucos e geleias, visando à comercialização de forma a complementar a renda familiar.

Avanço também foi a contratação de 150 agricultores familiares pela prefeitura de Estância, para a venda de alimentos visando atender, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), pessoas em situação de inse­gurança alimentar e nutricional, beneficiadas por programas sociais locais, além de outras pessoas em situação de risco alimentar, como indígenas, quilombolas, acampados da refor­ma agrária e atingidos por barragens.

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nas próprias comunidades, conferindo consistên­cia e assegurando a irradiação dos mesmos.

A trajetória evolutiva do programa é rica em ensinamentos relacionados à assistên­cia técnica e extensão rural para a promoção da agroecologia. A experiência demonstra que a instituição de assessoria à agricultura familiar conseguiu escapar da lógica do difusionismo tecnológico proposta, em princípio, para mo­dernizar a agricultura. De acordo com a própria equipe, essa concepção, contraditoriamente, ainda influencia fortemente a atuação de orga­nizações que, como a ASPTA, são críticas às tec­nologias propugnadas com a Revolução Verde.

Partindo da ideia­chave de pensar as técnicas no universo histórico­cultural das comunidades, observou­se que elas revelam em si um caráter eminentemente instrumental, ou seja, são ape­nas meios para o alcance de fins predetermina­dos. Como produto da cultura, as técnicas de­vem ser concebidas como o resultado de um processo de invenção local destinado a resolver problemas específicos, e assim criar melhores condições de bem­estar em um determinado contexto histórico.

A equipe da ASPTA passou a perceber que as abordagens difusionistas esterilizam a criativi­dade local, levando as comunidades a uma situ­ação de passividade frente à inovação que lhes chega pelas mãos de profissionais (ou agricul­tores profissionalizados) para isso designados.

CONSTRUçãO DO CONhECIMENTO

AGROECOLóGICO EM REDES DE AGRICULTORES

EXPERIMENTADORESA organização não­governamental ASPTA

assessora o Programa de Desenvolvimento Local no Agreste da Paraíba, em 16 municípios que de­limitam a área de abrangência do Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Bor­borema (Polo). Há 16 anos, vem dando apoio a processos de transição agroecológica com forte protagonismo dos agricultores familiares que vivem em comunidades rurais dos municípios que delimitam a área de abrangência do Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Fami­liar da Borborema (Polo). Estão envolvidas na ex­periência cerca de cinco mil famílias organizadas em 16 sindicatos de trabalhadores rurais (STRs), uma associação regional de agricultores ecoló­gicos, 156 associações comunitárias e variados tipos de grupos informais.

O programa promove o aprimoramento das capacidades técnicas, metodológicas, admi­nistrativas e políticas das organizações vincula­das ao Pólo para que atuem de forma articulada na elaboração, defesa e execução de projetos próprios de desenvolvimento local. Assim ope­rando, a ASPTA vem assessorando o Pólo na ar­ticulação das ações de inovação, promovidas de forma descentralizada e em rede por famílias e grupos comunitários, em um processo sociopo­lítico de âmbito regional, que se consolida em defesa da agricultura familiar e da agroecologia. Esses processos se assentam e tiram partido das capacidades socioculturais e políticas existentes

Estão envolvidas na experiência cerca de cinco mil famílias de trabalhadores rurais.

Dessa forma, a tecnologia passa a ser encarada como um fim em si, deixando à sombra os obstácu­los que se antepõem à satisfação das necessida­des efetivas das comunidades e à realização dos seus projetos de futuro.

As evidências que foram se acumulando no decorrer dos anos de convivência com os gru­pos de agricultores­experimentadores permi­tiram à instituição adquirir essa compreensão crítica sobre o equívoco fundamental que orien­tava originalmente as suas metodologias de intervenção. Desde então, ficou claro que era preciso agir em benefício da canalização dos im­pulsos criativos presentes nas comunidades para que as mesmas pudessem se mobilizar para en­frentar seus próprios obstáculos e realizar suas potencialidades.

Além de conduzir as mudanças significa­tivas nas relações com os grupos de experimen­tadores, a incorporação dessa compreensão foi fundamental para que os técnicos pudessem melhor operacionalizar o próprio conceito de agroecologia nas suas estratégias. Por meio do enfoque sistêmico aplicado à descrição e aná­lise dos agroecossistemas regionais, a equipe técnica passou a compartilhar com os grupos de agricultores­experimentadores a elabora ção

de estratégias para a transição agroecológica, fundamentadas na valorização dos recursos lo­calmente disponíveis, entre eles a inteligência criativa para gerar novas técnicas e formas de organização.

A construção dos fundamentos de um novo método de atuação pela equipe da ASPTA signi­ficou um verdadeiro desbloqueio na forma da instituição de perceber a realidade em que atuava. Essa nova percepção foi fundamental para que pudessem desenvolver metodologias e instrumentos para a operacionalização des­ses fundamentos na prática. Entretanto, essa trajetória não teria sido possível se algumas condições não estivessem presentes. Entre elas, cabe destacar: a) Relativa estabilidade da equi­pe; b) Realização sistemática de diagnósticos e de análises críticas sobre as estratégicas de intervenção; c) Busca de referências externas através de uma intensa agenda de intercâm­bios com outras organizações que desenvol­viam ações em temas relativos; d) Valorização dos acúmulos das fases anteriores nas estraté­gias das fases subsequentes; e) O financiamen­to do programa que contou com parcerias im­portantes que viabilizaram financeiramente o programa.

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www.mda.gov.br

Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural

Secretaria da Agricultura Familiar

Ministério doDesenvolvimento Agrário