Mais madura em seu terceiro disco, “Caravana Sereia Bloom”, Céu leva a música do Brasil para o mundo.
R$4 R$3 do preço de capa vão para o vendedor. Por favor, compre somente de vendedores autorizados.
CÓDIGO OCASP2 ‡
CÓDIGO DE
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segu
ir:CONDUTA1. USAR LINGUAGEM RACISTA,
SEXISTA OU
OFENSIVA
COM O PÚBLICO, A EQUIPE DA OCAS
E/OU MEMBROS DE INSTITUIÇÕES
PARCEIRAS.
2.
AGIR COM QUALQUER COMPORTA-
MENTO AGRESSIVO/VIOLENTO OU
OFERECER OCAS BÊBADO E/OU SOBRE
A INFLUÊNCIA DE DROGAS ILÍCITAS.
3.PEDIR
QUALQUER TIPO DE DOAÇÃO
QUANDO USA O CRACHÁ DA OCAS OU
UTILIZAR O NOME DA ORGANIZAÇÃO
PARA PEDIR QUALQUER COISA AO
PÚBLICO.
4. VENDER EDIÇÕES ATRASADAS SEM
INFORMAR O LEITOR OU QUALQUER
EDIÇÃO COM PREÇO SUPERIOR AO
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5.ESTIVER ACOMPANHADO
DE CRIANÇA
DURANTE A VENDA DE QUALQUER
PUBLICAÇÃO.
Todos os vendedores são maiores de 18 anos, selecionados e treinados pela Organização Civil de Ação Social ou por instituições par-ceiras. São portadores de uma identifica-ção, que deverá ser usada em local visível. O vendedor que não conseguir vender todos os exemplares da revista poderá trocá-los gratuita-mente por quantidade igual de edições novas.
EDITORIAL P3√
ESTIVER ACOMPANHADO
DE CRIANÇA
DURANTE A VENDA DE QUALQUER
PUBLICAÇÃO.
Boa parte da essência da Ocas está na arte da revista, em cada ilustração, cada foto, cada for-
ma que se produz e seleciona para entrar aqui. O fato é que a revista tem uma aura diferenciada
que a distingue das demais. Encontra-se em uma posição marginal ao circuito comercial con-
vencional, de bancas e livrarias, em que todas as publicações disputam lado a lado a atenção de
seus possíveis compradores. O processo de apropriação da revista por seus leitores é diferente,
e assim, sua relação com a Ocas se constrói, também, de outra maneira. A Ocas não é percebida
como mais uma outra em meio a muitas. É única e sua identidade reforça essa sensação.
A revista é bastante imagética, apela para os sentidos. Diferencia-se pelo uso de somente duas
cores por edição além do preto e isso, de um modo ou de outro, reflete uma necessidade de
racionamento de seus próprios vendedores. Orbita a realidade da exclusão e se posiciona de uma
maneira positiva frente a ela, encarando as dificuldades não como uma barreira, mas como um
caminho e um estímulo para seu conteúdo e seu projeto gráfico.
O redesenho desse projeto por sinal, que se apresenta nesse exemplar, tem por objetivo não
somente dar uma nova cara àquilo que já se vinha sendo produzido, mas reposicionar a revista
frente a seus leitores e aos próprios vendedores. O intuito é valorizar os aspectos que a dis-
tinguem das demais revistas e utilizá-los para gerar pregnância na cabeça de quem a lê. A Ocas
busca agora inverter a relação que se construia entre o vendedor, a revista e o leitor. Não será
mais o vendedor que abordará seus compradores, apelando para a bondade de quem passa na
rua. A revista quer dar agora um novo passo. Será percebendo que realmente está adquirindo
uma publicação de qualidade e diferente daquilo o que é oferecido pelas demais revistas que os
passantes virarão leitores e colecionadores.
A Ocas é não somente um referencial como organização que realmente causa uma mudança na
realidade de seus colaboradores, mas uma referencia para a produção editorial independente no
Brasil.
ÍNDICEP4 ∞
06GAYS E GRISALHOS
o mundo
09GABY, TOQUINHO E
FARIBA MAJIB
palanque
10OLHAOCA
FOCO
16CÉU: EM MOVIMENTO
LADO A
22FELIPE TOMAZELLA
LADO B
22SOB A PENEIRA
EM QUESTÃO
27A ARTE DO LIXO
FORA E DENTRO
28VIAGENS PEDESTRES
CRÔNICA
29TIRINHAS DE
CADERNO
TIRINHAS
30LIVROS, FILMES E
DISCOS
“uns” 31EDIcÕES ANTERIORES
Painel
SOBRE A OCAS P5•
Ocas é publicada pela Organização Civil de Ação Social. A revista é uma chance de mudança efe-tiva na vida de pessoas sem trabalho, pois fun-ciona como um instrumento de geração de renda. Os vendedores compram a revista por 1 real e a vendem pelo preço de capa, R$ 4. A diferença, R$ 3, fica com o vendedor, sem intermédios.
O objetivo da organização é criar mecanismos para que o indivíduo se torne seu próprio agente de transformação, de forma que a Ocas seja um ponto de passagem, e não o destino definitivo.Todos os vendedores têm idade mínima de 18 anos, recebem treinamento, assinam um có-digo de conduta e portam crachá. Por favor, compre apenas de vendedores identificados.
Ocas promove a responsabilidade social e publica reportagens e ensaios nacionais e internacionais so-bre cultura, comportamento, política, esporte e meio ambiente. Além disso, a publicação reserva espaço para expressão dos vendedores e aborda questões relacionadas ao tema da exclusão social. A revista não depende de grupos de comunicação ou está vinculada a interesses comerciais e políticos.
ORGANIZAÇÃO CIVIL DE AÇÃO SOCIAL [email protected]
REDAÇÃO redaçã[email protected]
EdiçãoRosi Rico (Mtb 30224)
SubediçãoAna Ligia Scachetti (Mtb 28710)
A Organização Civil de Ação Social é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos, registrada sob o CNPJ n. 04.847.090/00001-01. Toda receita é re-investida na melhoria da qualidade dos serviços prestados pela organização. Não arrecadamos doações nas ruas. Se abordado para este fim, não contribua.
INVISTA EM UM SER HUMANO:
Os recursos doados à Ocas são investidos na geração de renda e na amplia-ção de suporte social a nossos vendedores. Se você quer coalborar com este projeto, envie uma carta nominal para a Rua Sampaio Moreira, 110, casa 9, Brás, São Paulo - SP, CEP 03008-010 ou faça um depósito no Banco Itaú, agência 0187, c/c 44.013-6, enviando o comprovante para o endereço acima.
EDIÇÃO DE ARTECaue NouerGuilherme KuchidaLucas TerraMarcus Brito
CONSELHO FISCALFlávio Fernandes Rodrigues, Antonio Brasiliano e Carolina Stella
SUPLENTESFabio Kato e Ana Ligia ScachettiATENDIMENTO AO VENDEDORMaria Isabel de Souza Lima (SP) e Gloria Mi-randa (RJ)
ACESSORIA DE IMPRENSA Lead Comunicação e Sustentabilidade(11) 3168-1412CONSELHO EXECUTIVO
PresidenteMárcio Seidenberg
Vice-PresidenteLuciano Ferreira Rocco
SecretárioAdm/FinanceiroGuilherme Araujo
ComunicaçãoRosi Rico
Programas, Projetos e VoluntáriosDiego Freire
Ano 10nº 85 Maio/Junho 2012
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segunda a sexta feira, das 9h às 11h.
GAYSNos Estados Unidos, homossexuais sofrem para
continuar juntos na terceira idade.
O MUNDO P7°Bruce Mesner e Bob Rupar compareceram a um
funeral por semana. Os dois septuagenários cheios de energia e companhei-ros por 40 anos lembram da Era Reagan, nos Estados Unidos, como um período ruim em que amigos homens estavam morrendo silenciosamente, sem fil-hos e sem esposas, por causa de uma epidemia que ninguém conhecia: AIDS.
Hoje, Meisner, Rupar e outros idosos gays da geração deles ainda vi-vem nas sombras. Há cerca de 10 mil pessoas com essas mesmas car-acterísticas em Portland, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, e cerca de três milhões em todo o país, de acordo com as estimativas mais con-servadoras. Muitos estão enfrentando uma alta dose de vulnerabilidades que causa problemas sérios a suas finanças, sua saúde e seus sentimentos.
O grupo de luta pelos direitos dos gays idosos de Portland, Gays & Grey PDX, está à frente na luta contra essas vulnerabilidades. Mantido pela co-munidade sem fins lucrativos Friendly House, no Noroeste da cidade, o time de cerca de 20 advogados e aliados organiza eventos beneficentes e conduz workshops educacionais em casas de repouso para gerar con-hecimento sobre a discriminação que muitos nem percebem que existe.
A iniciativa é uma raridade – clubes que promovem alianças en-tre homossexuais e heterossexuais estão se tornando comuns em esco-las, mas os grupos de apoio a idosos gays praticamente não existem.
Mas uma nova consciência está ganhando força e os líderes do Oregon estão se un-indo à causa. No ano passado, o governador John Kitzhaber proclamou o dia 21 de maio como o Dia Gay e Grisalho no Oregon.
É mais provável que os idosos LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trav-estis e Transsexuais) vivam sozinhos e é cinco vezes menos provável que tenham acesso a serviços para idosos do que os colegas heterossexuais, de acordo com a SAGE (Serviços & Advogados para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transsexuais Idosos, na tradução do inglês). Também segundo a instituição, os homossexuais na terceira idade estão mais expostos à falta de redes de suporte adequadas, especialmente porque muitos não possuem filhos que tomem conta deles à medida que envelhecem.
Mais de mil benefícios garantidos pelo casamento são negados aos ca-sais gays e muitos atingem os idosos com mais força, incluindo o poder de re-alizar decisões médicas e o direito a visitas hospitalares, benefícios de se-guro social aos sobreviventes, direito ao convênio médico do companheiro ou a sua herança, e poder de realizar decisões financeiras no lugar do esposo.
Durante algum tempo,Quando Rupar foi hospitalizado no Arizona, os enfermeiros não deixaram Meisner, seu companheiro de longa data, vê-lo porque ele não era um membro da famí-lia. Eles não falavam com Meisner sobre as condições de Rupar e nem mesmo se ele ainda estava recebendo tratamento. Em outros estados, os hospitais re-conhecem os certificados de convivência, mas um enfermeiro ou funcionário ainda pode “tornar a situação mais difícil em um momento já difícil”, segundo Sharon Messerschmidt, membro da Gay & Grey PDX. Ela teme o que acontece-ria se sua companheira há 26 anos, Jo Hamilton, fosse hospitalizada. “Se uma de nós fosse se tornar viúva”, especula Jo, “como iríamos ficar de luto? As pes-soas diriam ‘sinto muito por seu marido’, mas eu estaria enlutada por Sharon”.
Enquanto um casal heterossexual não pensaria duas vezes sobre mudar junto para uma casa de repouso, muitos casais do mesmo sexo hesitam em divulgar suas ori-entações sexuais para fornecedores de saúde ou moradia porque eles temem pre-conceito, e sofrem com a ideia de se assumir novamente durante a aposentadoria.
“Antes de começar a frequentar a Friendly House eu me referia a Jo como ‘minha parceira’ de propósito, como um disfarce”, revela Sharon. Rupar ri, dizendo que com frequência se refere a Meisner como seu parceiro ap-enas para ouvir a resposta “em que área de negócios vocês estão?”. Tan-to Sharon como Rupar admitem que nem sempre corrigem as pessoas.
Martha Wright, coordenadora de Marketing e Comu-nicação da Friendly House, levanta questões
preocupantes: “Nas casas de repouso em que funcionários possuem ema formação religiosa conservadora eles cuidam dos idosos gays por compaixão? Os casais gays têm liberdade para ficar no mesmo apartamentos? O ponto principal é que há políticas que não são nada amigáveis para os idosos homossexuais.”
Mudando para melhorEm resposta às preocupações dos idosos gays sobre discriminação, os centros de repouso voltados para esse público estão surgindo nacionalmente. Há centros na Flórida, na Califórnia e no Novo México, por exemplo.
“Eles oferecem um lugar para pessoas que podem querer assistir musicais, não fute-bol”, resume Meisner. Ele e Rupar se mudaram de Oakland para a região de Portland para morar na Rainbow Vista, uma casa de re-pouso LGBT ativa, na cidade de Gresham. No entanto, mesmo lá eles dizem ter testemun-hado abusos psicológicos que os fizeram mudar.Até mesmo o Departamento de Desenvolvi-
mento Habitacional e Urbano (HUD, na si-gla em inglês) está fazendo mudanças. O órgão
lançou uma nova campanha prevista para durar um ano inteiro chamada “Viva livre”, desenhada para gerar atenção nacional para a discrimina-ção contra minorias em casas de repouso, incluindo aí a cominudade LGBT.
Embora não exista uma avaliação nacional da discriminação contra o público LGBT em casas de repouso (o HUD está trabalhando atualmente com base no último censo), vários estudos locais e estatais têm indicado evidências de pre-conceito. Um relatório de 2007 dos Fair Housing Centers (Centros de Habilitações Justas) de Michigan mostrou que cerca de 30% dos casais de mesmo sexo foram tratados de forma diferente ao tentar comprar ou alugar uma casa, enfrentan-do problemas como aluguéis mais caros e taxas que indicam discriminação.O Oregon é um dos 17 estados que baniram a discriminação imobiliária basea-da na orientação sexual. Entretanto, a organização sem fins lucrativos Senior
O MUNDOP8 °
Housing and Retirement Enterprises (Share, o que significa algo como Empreen-dimentos de Habitações Senior e de Aposentadoria) foi instalada em Portland em 2001 para combater localmente a falta de residências para idosos gays. A missão da Share é oferecer “segurança contra o temor de maus tratos pe-los cuidadores e outros residentes... socialização inclusiva... educação para os funcionários e outros residentes sobre as sensibilidades e medos dos idosos LGBT” e combate à “relutância dos idosos LGBT em revelar sua identidade sex-ual aos provedores de serviços de cuidados e saúde. Apesar das casas de repou-so voltadas para homossexuais, o preconceito velado ainda aflige esse público.
Discriminação encobertaMas, afinal, Portland não é uma das cidades mais amigas dos homossexu-ais? “Especialmente em Portland, a discriminação é um desafio”, diz Mya Chamberlain, diretora da Friendly House. Ela explica que, por causa da repu-tação que a cidade possui de ser “amiga dos gays”, a discriminação é mais comumente escondida embaixo do tapete do que endereçada abertamente.As pesquisas dão suporte à teoria de Mya. Por exemplo, um estudo feito há qua-tro anos pelo Urban Institute descobriu que mesmo nos estados em que não há barreiras legais oficiais contra a adoção de crianças por gays, a discriminação encoberta contra casais homossexuais estava ocorrendo dentro das agên-cias de adoção. Outro estudo publicado há 12 anos no Jornal de Psicologia So-cial indicou que mesmo quando colegas da escola fazem abertamente aval-iações positivas dos homens gays, eles mantem atitudes negativas encobertas.
Depois de participar de um workshop educacional da Gay & Grey PDX com a Escola de Saúde Comunitária da Universidade Estadual de Portland, um estudante escreveu em sua avaliação: “Quando alguém me diz que é gay, minha reação é, honestamente, ‘E?’ Sua fala me fez perceber que isso está ligado a cultura e identidade. Ao ignorar o status de alguém que é gay, es desmereci ele ou uma grande parte do que ele é”.Para combater esse tipo de discriminação, os voluntários da Gay & Grey PDX dão workshops não apenas para estudantes de saúde comunitária da Universidade Estadual de Portland, mas também para estudantes de enfermagem no Colé-gio Linfield e na Universidade de Portland, e funcionários de várias instituições.
Não há dúvida de que o movimento pelos direitos homossexu-ais evoluiu muito. Os membros da Gay & Grey PDX lembram vivida-mente de um tempo, apenas 40 anos atrás, em que ser gay era defini-do como uma doença mental e bares abertos a esse público piscavam as
luzes para avisar os clientes que a polícia estava a caminho. “Os jovens de hoje têm sorte que nós viemos antes e preparamos o caminho para eles”, diz Sharon.Mesmo assim, os jovens gays que se assumem hoje continuam a enfrentar probabilidades assustadoras – adolescentes LGBT sofrem duas ou três vezes mais bullying do que os adolescentes heterossexuais e estão mais do que quatro vezes mais próximos de cometer suicídio, de acordo com o projeto It Gets Better, iniciado pelo jornalista Dan Savage.
“A questão é que isso não melhora na nossa idade”, diz John Behrens, membro da Gay & Grey PDX. “Quando nos tornamos mais velhos, nos tornamos mais vulneráveis... mas não queremos vol-tar para o armário”.“A Friendly House mudou nossas vidas” diz Jo. “Ela nos deu amigos e aliados”.
Texto: Stacy Brownhill, jornal Street Roots/ EUA- Street News Service
Rupar, Meisner, Hamilton e Messer-schmidt: Benefícios garantidos pelo casa-mento são negados aos casais gays, o que
atinge os idosos com mais força
PALANQUE P9≈
Texto: Carolina Stella
“Você já viu de perto a fome, a criminalidade, o precon-ceito, a falta de saneamento, de condições para ter uma
boa educação. Então, o que vier, pode jogar no peito que eu me garanto. Ser da periferia me preparou para o
showbusiness.”Cantora Gaby Amarantos, conhecida como “A
Diva do Tecnobrega” e “Beyoncé do Pará”, à revista “TPM” sobre morar na periferia de Belém
(PA) e sempre estar nos locais frequentados pela elite da cidade. Gaby ganhou visibilidade
depois de apresentar-se no Rec-Beat, um dos principais festivais do Recife (PE), improvisando
uma versão em português - “Hoje eu tô solteira” - de “Single Ladies”, hit da cantora norte-
americana Beyoncé.
“Eu era a terceira filha na minha família, e quando nasci, meus pais decidiram me vestir de
menino.”Fariba Majib, diretora do Departamento de Direitos da Mulher da província de Balkh, no Afeganistão, à BBC. Para
evitar preconceitos sociais, muitas famílias naquele país criam meninas como se fossem meninos. Nesses casos,
elas podem, por exemplo, trabalhar em locais públicos como mercados, o que é proibido para mulheres. Aos 17
ou 18 anos, no entanto, essas moças voltam a assumir a identidade feminina – mudança que, em geral, não é
nada simples.
"O Vinicius não era isso. Ele bebia sim, mas era muito malandro para beber. Todo mundo em volta
ficava de porre e ele não. O Vinicius não era alcoólatra."
Toquinho, cantor e compositor, à "Trip FM", sobre a imagem do seu parceiro musical
Vinicius de Moraes, poeta e compositor, estar, até hoje - 31 anos após sua morte -
vinculada ao álcool.
FOCO P11@
O Olhar da câmera Ocas sobre a cidade.
TÍTULO DA SEÇÃO P12≈
≠ TÍTULO 1FOCO@P12
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≠ TÍTULO 1
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≠ TÍTULO 1TÍTULO DA SEÇÃO P15≈ P15FOCO
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Com o olho na estrada, cantora lançao álbum “Caravana Sereia Bloom”,o terceiro de sua carreira.
CÉU
LADO A P17×
EM MOVIMENTOCÉU
Mundana. Nunca a palavra tomou tantas belas formas como na tentativa de explicar, em adjetivos, quem é Céu. Maria do Céu Poças, cantora, compositora e mãe da pequena Rosa Maria, de três anos e meio, é uma e são muitas. Múltipla, como a música que ela faz e que ganhou, desde a estreia de seu primeiro disco (“Céu”, 2005), o mundo. “Eu era uma menina que ninguém sabia quem era e de repente tinha uma foto minha, de página inteira no “The New York Times”. Falei ‘gente o que é isto?’”, lembra ela, agora com 32 anos, com o mesmo sorriso de menina de quando decidiu que cantar seria sua profissão.
Filha do Maestro Edgar Poças e criada numa família onde a música seria o caminho mais natural, Céu já resistiu à vocação. “Quando eu era pequena, meu pai colocava o gravador e falava para eu cantar. Eu cantava e cantava, mas quando via o vermelhinho do gravador e percebia que estava gravando, parava. Eu cantava e cantava, mas quando via o verme-lhinho do gravador e percebia que estava gra-vando, parava. Sempre soube que faria algo relacionado à arte. Primeiro foi o balé. Depois, desenho. Mas um dia bateu, virou a chave, e eu decidi que faria música. Eu tinha 14 anos.”
Ela conta que no colégio era vista com estranha-mento pelos colegas por não estar preocupada com o vestibular. “O jeito da minha família sempre foi muito diferente. Eles sempre nos incentivaram a não fazer faculdade”. Enquanto os amigos estavam concentrados no vestibular, Céu estudava música com o pai ou com o irmão Diogo Poças (anos depois, já conhecida, gravou participação na música “Nada Que Te Diz Respeito”, no disco de estreia de Diogo, “Tempo”, de 2009).
A cantora conta que percebe muito dela mesma em suas le-tras. “Na verdade, tem 100% de mim mas às vezes não são necessariamente histórias que eu vivo. Às vezes são histórias que imagino, que criei, que vi de alguém, de algum amigo. Mas basicamente é alguma coisa que vem de dentro de mim. E eu acho que o que mais me inspira é o quotidiano, é a vida mesmo, as coisas do dia-a-dia. E eu acho que essa simplicidade desse dia-a-dia é extremamente complexa.” Céu participa bastante da parte da produção de seus álbuns, embora afirme que “tenha um momento que entrego na mão mesmo. Minha maneira de ajudar os produtores a se aproximar do que quero é um pouco subjetiva, porem tem funcionado. Trago referencias de sons, mi-xes, imagens(!), sugestoes de instrumentos e timbres;as vezes sei mais claramente o que nao quero, e enfim chego no que que-ro de fato. Mas tem um momento que procuro nao palpitar muito tambem. Acho que ao ser interprete me coloco um pouquinho como personagem, cantando musica de outros compositores, enfim…mas gostei de como ficou, um pouco interprete, um pouco compositora tambem”
LADO AP18 ×
fez cursos, montou bandas, tocou na noite e foi estudar nos Estados Uni-dos, onde, sozinha, começou a procu-
rar melodias no violão e a compor. “Acho que o que mais me surpreendeu foi a coisa de compor, o que eu não esperava. Eu ficava com um gravadorzinho, fazendo melodias no violão e procurando acordes. Depois colocava uma letra. Quando via, eu não sabia se achava aquilo muito bom, até que mostrei para um amigo que me disse para continuar assim.” O amigo era o músico Antonio Pinto, hoje premiado compositor de trilhas sonoras para o cinema, que apre-sentou Céu a outros músicos e produtores de São Paulo. Tempos depois, Céu lançava seu primeiro dis-co, que teve mais de 180mil cópias vendidas ao redor do mundo.
Céu foi a primeira artista internacional a fazer parte do Starbucks Hear Music ™ Debut Series, o que abriu o caminho para posições nas paradas da Billboard – nº1 nas paradas de “World Music” e “He-atseekers”, e a 57ª posição na Billboard Hot 100. Ela também foi indicada para o Grammy de melhor disco de World Music, em 2007, e ao Grammy Latino como Artista Revelação de 2006. Na Europa, a publicação francesa “LesInrockptibles” a classificou como uma das cinco maiores revelações de 2005. Começava as-sim a carreira internacional e itinerante de Céu, que teve seus discos lançados e fez turnês por diversos países da Europa, além de Canadá e Estados Unidos.
Em 2009, Céu lançou o seu segundo disco, “Vaga-rosa”, também com repercussão internacional. Por aqui, o álbum foi escolhido como o melhor do ano pela revista “Rolling Stone Brasil”, teve música em trilha de novela e foi um dos mais festejados do ano.
Entre um trabalho e outro, ela lançou projetos pa-ralelos, fez um disco que não virou show, um show que ainda pode virar disco, gravou participações em álbuns de variados músicos-amigos, teve uma filha.
Há cerca de sete anos, Céu fechava o seu primeiro álbum com belos versos em tom de profecia: “Minha beleza não é efêmera como que eu vejo em bancas por aí. Minha natureza é mais que estampa, é um belo samba que ainda está por vir...”. E veio rápido, em tons de samba, rock, brega, e até lambada. Profetiza ou realista, ela chega em seu terceiro disco, “Carava-na Sereia Bloom” (produzido por Gui Amabis, pai de Rosa), mais madura, dona de si e de seu ofício. Mãe, mulher, cantora, compositora, brasileira, latino-ame-ricana e internacional, recém-chegada de uma turnê pela Europa e prestes a partir para uma maratona de dois meses de shows pelos Estados Unidos, Céu
recebeu a reportagem de Ocas” em sua casa em São Paulo, para falar sobre música, carreira, família, pú-blico, novos projetos e os caminhos que agora trilha com sua caravana.
Ocas” | Visivelmente o “Caravana Sereia Bloom” é um disco temático. Sobre o que ele fala?
Céu | Esta é a primeira vez que faço um disco conceitual. Um trabalho
que teve como ponto de partida a estrada. Foi muito diferente isto para mim, porque nun-
ca havia trabalhado desta maneira. Desde sempre soube
que queria as músicas vinculadas a esta ima-gem e a essas histórias. Quando fiz as composi-ções, ou pedi canções
aos outros músicos, todos já sabíamos que existia essa temática.
Ocas” | Por que a estrada?
Céu | Porque é um tema envolvente. Algo latente na minha vida há algum tempo e que traz uma série de questões em volta. Acho que a estrada é algo interessante, bonito e também difícil, bastante ambíguo. Parece uma realidade paralela dentro da sua realidade fixa. Duas realidades que se fazem – um tema sobre o qual queria falar.
Ocas” | Você estava na estrada quando surgiu a ideia?
Céu | Eu tenho estado na estrada desde 2005, quando lancei o primeiro disco e fui construin-do toda uma maneira de viver em cima disto. Quando viajo em turnê, por exemplo, levo a mi-nha filha. O pai dela já acompanhou, a avó. Tem também toda a equipe do “Caravana”, o que também não deixa de ser uma família. É como se fosse, de fato, uma caravana. Paralelamente a isto, na música, eu também estava num local estratégico, como se essa estrada tivesse uma geografia. Musicalmente eu estava muito ligada a referências latino-americanas e a música da fronteira Brasil/América Latina. Percebi que tudo estava culminando neste ponto.
Ocas” | Você viajou para algum lugar específico para o disco?
Céu | Não. Eu só usei minha vida normal de show em estrada. Acho que tudo é uma junção de coisas que se somam. Acho que é um disco bastante brasileiro. Tentei trazer um pouquinho
LADO A P19×
“O jEITO DA MI NHA FAMÍLIA
SEMPRE FOI MUI TO DIFERENTE. ELES SEMPRE
NOS INCENTIV ARAM A NÃO
FAZER FACULDA DE”.
LADO BP20 •
CARAVANASEREIA BLOOM
dessa música que não é tão exportada. Eu, que viajo muito para fora, vejo que o que aparece do Brasil no exterior ainda é muito o samba e a bossa nova. E daí você pensa ‘que engraçado, os caras gostam do Brasil, mas parece que eles só conhecem um pedacinho. Imagina se eles conhecessem tudo o que temos aqui, tão múltiplo.’ Então quis mexer um pouco neste outro lado. O que, na verdade, acabou em evidência atualmente, como o tecnobrega e esses novos ritmos que estão em voga.
Ocas” | Uma feliz coincidência...
Céu | Foi uma coincidência muito feliz. Eu lembro, por exemplo, de conversar em Londres, com um jornalista que é superenvolvido com a música brasileira. Ele comentava que como era louco que quase ninguém conhece a música de Belém, e dizia ser a coisa mais interessante que estava acontecendo no Brasil. Ficamos neste papo. Acho que todas essas experiências que tive, além da minha admiração por este gênero e pela música do norte e nordeste do Brasil, me fizeram levar o “Caravana” meio nessa pegada.
Ocas” | E como tem sido a aceitação do disco lá fora, já que houve esta pro-posta de levar para o mundo esse outro lado do Brasil?
Céu | Está sendo super legal e não tenho do que reclamar. É interessante, pois às vezes é um pouco difícil para mim o fato das pessoas não saberem sobre o que estou falando. No primeiro disco eu era até um pouco menos ligada na parte da letra. Não que eu não desse importância, eu dava. Mas a música era muito mais importante para mim. Comecei a compor muito mais pelo viés da música
LADO B P21•
BLOOM
do que da letra. A partir do “Vagarosa”, já come-cei a ficar muito ligada na letra. No “Caravana” também, então eu tenho essa dificuldade enorme. Às vezes fico lutando para explicar o que a letra significa, mas nunca é a mesma coisa. Mas o disco teve ótima aceitação. Um outro aspecto que o “Ca-ravana” trouxe, e que tem gente que não gosta, é uma característica mais festiva, pop. Já teve críti-ca falando que eu estava querendo ser pop [risos].
Ocas” | Você acabou de chegar de uma turnê. Para quais países o “Caravana” já foi?
Céu | Fiz Europa já: França, Alemanha, Suíça e Inglaterra. A Inglaterra fiz bastante, foi a primeira vez que viajei o país por dentro. Ah, e Praga, que foi demais, pois eu nunca tinha ido para a República Tcheca. E o Brasil, né? [risos] Estou fazendo e vou continuar. Vou agora para os Estados Unidos, junho e julho. Depois volto e viajo pelo Brasil.
Ocas” | A banda que viaja com você é a mesma que gravou o disco?
Céu | Neste disco eles tocaram bastante. O Duns-tan Gallas [tecladista do “Cidadão Instigado”] en-trou para a banda e eu achei que tinha mais a ver com guitarra. Ele fez muita guitarra no disco, como o Gui [Amabis]. O DJ Marcos gravou pouca coisa, diferente do “Vagarosa”, mas ele é peça-chave no show.
Ocas” Ao contrário dos discos anteriores, neste você assina poucas canções. Por quê?
Céu | Foram várias sementinhas que foram bro-tando e afunilando pela estrada. Acho que o “Ca-ravana” traz uma linguagem de cinema, porque estrada é cinema. Estrada é movimento, imagem. Tudo no disco é muito imagético. Várias músicas são imagens que eu vejo, e esse vínculo da música com a imagem ficou bem forte. Então fiquei com vontade de pedir para outros compositores músi-cas para eu cantar, ou seja, me fazer um pouco personagem deste filme. O Lucas [Santtana], por exemplo, sacou muito rápido qual era a minha via-gem. E faz tempo. A primeira vez que falei com ele estávamos no VMB [Video Music Brasil, premiação promovida pelo canal MTV]. Olha lá onde já estava a ideia [do pedido nasceu a faixa “Streets Bloom”]. Inclusive, na época, eu estava querendo muito ouvir essas coisas todas meio latino-americanas. Tenho e ouço muita coisa antiga, mas as novas eu não conheço tanto. E o Lucas conhece muito e me mandou várias.
Ocas” | Por falar em cinema, você lançou o cli-pe da música “Retrovisor” antes do disco. Ele tem muito esta cara de cinema...
Céu | Tem várias influências cinematográficas no
“Caravana”. De Antonioni a Fellini, Marcelo Gomes [“Cinema, Aspirina e Urubus”, 2004], Sérgio Ma-chado [“Cidade Baixa”, 2005], então eu tinha um sonho de fazer com essa cara e eles toparam. O Ivo [Lopes Araújo] é diretor de arte vinculado bem ao cinema. O Renan [Costa Lima] também tem esta linguagem [os dois assinam a direção do clipe]. É uma turma de amigos e eles se jogaram. E não é Instagram, tá? [risos] Muita gente fala: ‘Nossa, que legal o seu clipe, adorei aquele filtrinho do Instagram’. E eu respondo que ‘é cinema, eu juro’ [muitos risos].
Ocas” | Onde ele foi rodado?
Céu | Foi nos arredores de Recife [mais exatamen-te nos arredores de Vila Velha, na Ilha de Itama-racá, em Pernambuco]. Estávamos viajando para um show, em novembro de 2011, e descobrimos um caminho que tinha justamente a cara que procu-rávamos. E também um bar, com terra batida. A gente chegou, colocou um neon no bar [risos] e fez toda a cena. Mas tudo bem simples. Eu gostei que foi simples e bem de alma, de coração, todo mundo se jogou muito ali. Adoraria que o “Caravana” ti-vesse vários filminhos.
Ocas” | O seu pai toca com você em uma das mú-sicas – “Palhaço”, de Nelson Cavaquinho – e par-ticipou do show de estreia em São Paulo. Como foi tocar com ele?
Céu | Foi muito emocionante, pois foi a cerejinha do bolo. Eu não sabia que gravaria esta música até o último minuto. O “Caravana” é meio ofegante, o oposto do “Vagarosa”. De repente, eu percebi que precisava desse respiro, de uma música mais lenta, e acho que a figura do palhaço tem tudo a ver com a temática. Foi meu pai que me mostrou Nelson Cavaquinho, por quem ele é apaixonado e eu também. Daí, o convidei. Ele não está tocando há muitos anos porque teve um acidente na mão e ficou um pouco desquitado dos instrumentos. Então para ele tinha um certo tabu. Quando eu o chamei, ele disse ‘não, o que eu vou fazer?’. Mas fiquei mui-to feliz quando topou. A gente fez num take. É muita familiaridade [risos].
Ocas” | O processo todo do disco foi muito rá-pido...
Céu | Foi muito rápido. O Gui sabia tudo o que eu queria e ele trabalha de uma maneira muito rá-pida. E eu gostava de tudo que ele mostrava. Eu não tinha quase nenhuma reprovação. Na verdade, nenhuma [risos]. Ele ia fazendo e já chegava com a base pré-levantada para os meninos tocarem. E eu só chamei gente fera, não tinha muito como er-rar. Uma coisa que não entrou no “Caravana”, por exemplo, pois não conseguimos finalizar a tempo, foi uma lambada do Kiko Dinucci [autor do álbum
“MetáMetá”]. Adoro esta lambada e até hoje fico meio “ai”.
Ocas” | E quais são seus próximos trabalhos?
Céu | Quero mostrar o disco novo. Estou empol-gada, pois talvez role uma turnê no Nordeste para lugares que eu nunca fiz, como Aracaju e Maceió. Vou para os Estados Unidos primeiro. Mas estou animada para tocar aqui. Quero muito.
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“S a i a m d a s s u a s c a s i n h a s, j á q u e a s p o r t a s e s t ã o ab e r t a s . . .
Ocas” | Felipe, você é jovem e já produz muito. Como a arte entrou em sua vida? Como foi ou é a aceitação de seus pais e familiares em relação a isso? Sofre preconceito?
Felipe | Não sei se produzo tanto assim, (risos) mas a gente faz o que pode... Queria poder dedicar mais tempo a isso. A arte sempre es-teve em minha vida e na de todo mundo, digo isso por hoje eu en-xergá-la como relação, sempre ouso em dizer que tudo é arte (risos).
Bom, mas eu comecei a produzir quando criança acho que todo mundo começa aí... Foi com uns 11 anos que passei a me interessar mais por desenho e criação. Eu havia me mudado para Curitiba da época e no meu prédio fiz uma amiga que tinha um bom incentivo artístico e gostava de desenhar. Através dela comecei a freqüentar uma oficina de desenho e depois disso tenho desenhado sempre. É complicado escrever sobre isso, são histórias longas, cheias de vivências que me levaram a fazer o que faço agora. Dentro de casa foi sempre muito tranqüilo
em relação a isso, me incentivaram bastante e ainda incentivam. Meu pai sem-pre me disse que o mais importante era que eu fizesse o que eu gosto de fazer.
Ocas” | Você faz pintura em tela, desenhos em papel canson, graffiti etc... Como é trabalhar com estes diversos formatos? A arte do Felipe tem limites?
Felipe | Eu acredito que faça parte do processo criativo a experimentação, é uma forma de conhecer seu próprio trabalho e até você mesmo. Na arte contemporânea os
suportes e técnicas têm uma importância fodida, não só o conteúdo, mas a mestiça-gem dos elementos da obra. Nenhuma arte tem limites, a arte não tem limites, (risos)... Mas posso dizer que estou cada vez menos satisfeito com os suportes convencionais e
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ultimamente os muros têm me agradado demais, é ou-
tro tipo de relação, parece chegar mui-to mais perto da liberdade e do caráter da arte.
Ocas” | Muitos de seus trabalhos apresentam fortes traços da anatomia humana, alguns são como “centopéias humanas” como aqui nin-
guém vai para o céu, de onde vem a inspiração para trabalhos como esses?
Felipe | Olha, queria conseguir poder dizer, mas foi uma construção, a par-tir de uma desinternalização, de um momento que quis romper minhas próprias
barreiras em relação à arte e sentimentos, daí surgiram essas personagens esquisi-tas. Quando paro para pensar sobre eu chego à conclusão que é mais uma forma que te-
nho de ver o homem e suas angustias principalmente, seus medos, desejos, sentimentos...A inspiração vem da minha experiência, músicas, gosto mui-to de observar trabalhos de artistas que desconstroem o ser humano, po-rém tudo vem principalmente de sentimentos do momento, angústias minhas.
Ocas” | Está no segundo ano de Artes Visuais, todos vemos que você pos-sui um dom, acredita que a faculdade engrandece seus trabalhos em algum sentido? Conte-nos um pouco de como é um curso de artes visuais na UEM.
Felipe | Vish, essa pergunta já começou errada... Não acredito em dom, é ou-tra construção social que deveria ser rompida, esse e outros termos que afir-mam uma habilidade como algo inato nos distancia severamente da arte, quando na verdade somos todos produtores de arte, a qualquer momento, sem existir barreiras, melhor ou pior (deixando de lado a questão de conteúdo).
Dom remete a algo divino, que foi recebido desde o nascimento, sendo que a habilidade é desenvolvida pela experiência, na marra mesmo. Só estou afirmando isso por sentir que a palavra “dom” desvaloriza o trabalho da própria pessoa de chegar onde está talvez exista alguma maior sensibili-dade por alguns a certas coisas, mas que só se aprimora se for desenvol-vida, tudo está em um eterno processo. A faculdade me influenciou de uma maneira muito positiva nos trabalhos, agora sinto que exista mui-to mais conteúdo no que eu faço. Conhecimento nunca é demais, né!?
Um individuo que se dedique a produções artísticas deve estar sempre co-nhecendo, nunca estar confortável e acomodado, se quiser transformar. Falta muita coisa para o curso de Artes Visuais funcionar bem, princi-palmente no sentido estrutural, sou da primeira turma, então somos as ditas “cobaias”, entretanto em relação ao conteúdo teórico sinto que
estamos sendo muito bem preparados.- Muitos de seus trabalhos apresentam fortes traços da
anatomia humana, alguns são como “centopéias humanas” como aqui ninguém vai para o céu, de
onde vem a inspiração para trabalhos como esses? Olha, queria conseguir poder dizer, mas foi uma
construção, a partir de uma desinternalização, de um momento que quis romper minhas próprias
barreiras em relação à arte e sentimentos, daí sur-giram essas personagens esquisitas. Quando paro
para pensar sobre eu chego à conclusão que é mais uma forma que tenho de ver o homem e suas angus-
tias principalmente, seus medos, desejos, sentimentos...
A inspiração vem da minha experiência, músicas, gos-to muito de observar trabalhos de artistas que des-
constroem o ser humano, porém tudo vem principal-mente de sentimentos do momento, angústias minhas.
Ocas” | Outra obra que achei muito interessante foi a “TRANS-GRIDA PORRA”, existia uma interação com o público, nos primeiros dias ninguém havia assinado ou desenhado no painel, no ultimo dia
de exposição não havia um espaço se quer para uma assinatura. Obras como essas são diferencias, como nos diz Bourriaud, a arte
interagindo com o público e gerando outro mundo. O objetivo ai foi alcançado? Qual é o sentimento de ter um trabalho reconhecido?
Felipe | A proposta do trabalho era elaborar uma pintura con-versando o tapume e a cadeira, tendo que ser uma releitura de algum
artista ou período. No caso eu usei do período contemporâneo. Com meu trabalho eu quis por em foco a relação espectador e obra, relacio-
nando com a pichação, que considero arte, com fundamentos para isso.
A pichação tem um caráter transgressor, violento, é o papel que ela assume, portanto um individuo ao realizar tal ato está rompendo com construções sociais
de ordem, estéticas, etc; construções essas que são reflexo ou refletem na maneira de tratar a arte, como algo contemplativo, que deve ser admirado, colocando que a
única relação “permitida” existir entre espectador e obra seja a de contemplação, assim como na arte renascentista, que se tinha o artista como gênio, iluminado,
portador do tal “dom” e que sua obra deveria ser admirada, intocada, quase que ido-latrada... A intenção da minha obra foi exatamente essa de incitar a pessoa a romper
essa barreira da arte como meramente contemplativa e transgredir, se permitindo con-cretizar essa ruptura no ato de riscar sobre uma obra, com características de uma arte
idealizada. O individuo se deixa fazer parte da obra e a obra passa a fazer parte dele.
Eu confesso que fiquei bem surpreso com o resultado do trabalho, de uma hora pra ou-tra tomaram conta com os “pi-chos”, inclusive em lugares que eu não havia considerado que se-riam intervidos, como a cadeira e as folhas que forravam o chão e as paredes. O objetivo não foi totalmente alcançado porque soube que algumas pessoas foram instruídas a ra-biscar, principalmente as crianças, sendo que a in-tenção era a própria pessoa se questionar e tomar a iniciativa; mas achei que cumpriu o papel, não sei se compreensível para todos. Achei engraçado que alguém riscou o “porra!” e também outra pessoa que escreveu “obedeça”, contradizendo seu conte-údo no próprio ato, entretanto obedecendo a obra.se for desenvolvida, tudo está em um eter-no processo. A faculdade me influen-ciou de uma maneira muito positiva
Ocas” | Como é trabalhar em conjunto com ou-tros artistas, recentemente fez um trabalho com Folk You na UEM. Planejam o que irão fazer antes ou vão produzindo e unem os desenhos depois?
Felipe | Pra mim deve existir uma relação de ajuda entre artistas, um sempre dando força pro outro, porque não ta fácil pra nin-guém! Principalmente os artistas locais e se tratando de Maringá, que é ridícula em rela-ção ao incentivo às artes, visuais nem se fala.Não sei, hahahaha. Agora estou pensan-do muito em investir mais pesado no grafite, fa-zer algumas experimentações pra ver o que rola e descobrir se vale a pena desenvolver isso.
Ocas” | Você faz pintura em tela, desenhos em pa-pel canson, graffiti etc... Como é trabalhar com estes diversos formatos? A arte do Felipe tem limites?
Felipe | Eu acredito que faça parte do processo
criativo a experimentação, é uma forma de conhecer seu próprio trabalho e até você mesmo. Na arte contem-
porânea os suportes e técnicas têm uma importância fodi-da, não só o conteúdo, mas a mestiçagem dos elementos da obra. ria conseguir poder dizer, mas foi uma construção, a partir de uma desinternalização, de um momento que quis romper minhas próprias barreiras em relação à arte e sentimentos, daí surgiram essas personagens esquisitas. Quando paro para pensar sobre eu chego à conclusão que é mais uma forma que tenho de ver o homem e suas an-gustias principalmente, seus medos, desejos, sentimentos...Nenhuma arte tem limites, a arte não tem limites, (risos)... Mas posso dizer que estou cada vez menos satisfeito com os suportes convencionais e ultimamente os muros têm me agradado demais, é outro tipo de relação, parece che-gar muito mais perto da liberdade e do caráter da arte.
Ocas” | Seu trabalho já é reconhe-cido por professores e colegas na Universidade. Você se sente próximo ao ní-
vel dos demais colegas de turma? Como você lida com a popularidade do seu trabalho?
Felipe | Hahaha, não julgo meu trabalho mais ou menos popular que de qualquer outro estu-dante da Universidade. Posso ter escolhido esse ambiente como o local ideal e foco do meu tra-
balho, e isso não torna meu trabalho mais ou menos importante que o de qualquer um. Isso é como comparar dois médicos de especialidades diferentes: não tem como definir o que é melhor.
Aliás, também não acredito que haja um conceito de arte melhor ou pior. Estamos todos produzin-do para realidades diferentes, sob diferentes perspectivas e é isso que faz de cada um especial.
“Não acredito em dom. é outra constru-ção social que deve-ria ser rompida, esse e outros termos que afirmam uma habili-dade como algo ina-to nos distancia se-veramente da arte.”
TÍTULO DA SEÇÃO≈
≠ TÍTULO 1
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“A intenção da minha obra foi exatamente in-
citar a pessoa a romper essa barreira da arte
como meramente contemplativa e transgredir,
se permitindo concretizar essa ruptura no ato
de riscar sobre uma obra.”