REVIS TA DE ARQUITETURA E URBANISMO
SOFTWARES: UMA
RETROSPECTIVAENTENDA QUANDO E EM QUE
REVOLUCIOU CADA PROGRAMA QUE USAMOS HOJE DIARIAMENTE NO TRABALHO
BOSCO VERTICALES EBAIRRO SOLAR SCHLIERBERG
EXEMPLOS DE SUSTENTABILIDADE
UM PATRIMÔNIODA ARQUITE TURA
ENTRE VISTARIC ARDO
MUR ATORI
MEIO AMBIENTEPREMISSAS PARA UMA
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
Unifor - ArquiteturaEdição 01 - Ano 01 - Número 0115 de Maio de 2013
Uso da tecnologia Solar
no bairro Schlierberg
Pro
jeto
s
9
O bairro solar Schlierberg, localizado em Friburgo, na Alemanha, é capaz de produzir quatro vezes mais energia do que consome, provando que uma construção ecológica pode ser muito lucrativa.
O bairro é auto-sufficiente em energia e atinge isso por meio de seu projeto de energia solar, que utiliza painéis fotovoltaicos dispostos na direção correta. Parece uma estratégia simples, mas, geralmente, os projetistas pensam nas instalações solares tardiamente e, dessa forma, os painéis perdem parte de sua eficiência.
A vila, projetada pelo arquiteto alemão Rolf Disch, enfatiza a construção de casas e vilas que planejam as instalações solares desde o início do projeto, incorporando uma série de grandes painéis solares sobre os telhados.
Os edifícios também foram construídos dentro das normas de arquitetura passiva, o que permite produzir quatro vezes a quantidade de energia que consome.
O condomínio, que conta com cerca de 11 mil m², possui densidade média, tamanho balanceado, acessibilidade, espaços verdes, além de exposição solar.
Ao todo, são 59 residências e um grande edifício comercial, chamado Solar Ship. Essas estruturas criam uma região habitável com o menor impacto ambiental possível. Nove das residências estão na cobertura do edifício comercial.
Todas as casas são de madeira e construídas, unicamente, com materiais de construção ecológicos. O conceito de cores foi desenvolvido por um artista de Berlim, Erich Wiesner.
Condomínio Solar - Friburgo (Foto: Internet)
Condomínio Solar - Friburgo (Foto: Internet)
Existem dois tipos. O primeiro utiliza a luz do Sol apenas para aquecimento, geralmente de água. "Essa placa consiste em uma superfície escura, que absorve a energia do Sol e a transforma em calor", diz o engenheiro José Kleber da Cunha Lima, da Escola Politécnica da USP. O outro tipo de placa solar é aquele que converte a energia do Sol diretamente em eletricidade. Ela é composta de células solares, feitas de materiais semicondutores como o silício. São as chamadas células fotovoltaicas. Quando as partículas da luz solar (fótons) colidem com os átomos desses materiais, provocam o deslocamento dos elétrons, gerando uma corrente elétrica, usada para carregar uma bateria.
Geradores elétricos como esses são cada vez mais usados em aparelhos eletrônicos e em satélites.
Fora da atmosfera terrestre, um sistema de placas solares é capaz de absorver 14% da energia solar que incide sobre elas. Cada metro quadrado de coletor fornece 170 watts (pouco menos que três lâmpadas comuns de 60 watts).
As casas possuem grande acesso ao aquecimento solar passivo e utilizam a luminosidade natural.
Cada uma delas conta com uma cobertura simples, com beirais largos que permitem a presença do sol durante o inverno e protegem as casas durante o verão.
Tecnologias avançadas, como o isolamento a vácuo, aumentam o desempenho térmico do sistema da construção.
As coberturas possuem sistemas de captação de água da chuva. A água é utilizada na irrigação de jardins e nas descargas de vasos sanitários. Os edifícios também utilizam lascas de madeiras para o aquecimento no inverno, diminuindo ainda mais o impacto no ambiente.
As instalações permanecem livres de carros, graças à garagem abaixo do edifício comercial, onde é organizado um sistema de compartilhamento de automóveis.
Casas Solares (Foto: Internet)
Como funciona a placa solar?
Ana Cecília EchebarraJohanna Braide
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Bosco Verticales de Boeri Studio é um edifício de alta
densidade que experimenta com a integração da
paisagem com a fachada arquitetônica. As duas torres se
encontram atualmente em construção em Milão, lidando
com o conceito de recuperar a paisagem perdida pela
cidade junto com melhorar a habitabilidade dos edifícios
atuais.
Ambas as torres, de 80 e 112 metros de altura terão uma
capacidade de 480 árvores médias e grandes, 250
pequenas, 16.000 plantas e arbustos; o equivalente a um
hectare de bosque.
As plantas crescem na fachada, assim como o fazem em
um ambiente natural. Elas atuam de maneira similar como
ocorreria em uma 'fachada inteligente', filtram a poeira do
ar, absorvem o dióxido de carbono e liberam oxigênio ao
exterior, enquanto dão sombra e um microclima que
refresca os meses de verão.
Esta 'recolonização' urbana com espécies biológicas, além
de gerar maior biodiversidade, cria um ambiente seguro
para animais que encontram nestas espécies refugio e
alimento. Isto leva vida à cidade, vida tipicamente
exclusiva de parques e jardins. Além disso, Bosco
Verticales contribuiria à mitigação de gases tóxicos,
purificando o ar atmosférico.
Um exemplo de sustentabilidadesustentabilidade
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foto: internet
foto: internet
Duas torres residenciais, sustentáveis e inovadoras estão em
construção em Milão, Itália. O Bosco Verticale será a primeira
floresta vertical do mundo, pois cada apartamento possuirá uma
varanda com árvores de médio porte plantadas. No verão, as
árvores irão sombrear as janelas e filtrar a poeira da cidade, no
inverno, o sol irá brilhar através dos ramos nus.
A seleção de plantas e a distribuição das
mesmas se realizaram com extrema
minuciosidade, de maneira a aproveitar
ao máximo o sistema de irrigação.
A forma dos edifícios foi escolhida para
ajudar a prevenir a expansão urbana,
proporcionando aos residentes uma
paisagem privada dentro de seus
apartamentos e oferecendo as mesmas
vantagens de viver em uma cidade. A
proposta é o equivalente de 50.000
metros quadrados de bosque e casas
de família em um entorno de
expansão.
esquema 1
Ficha técnica
Arquitetos: Boeri Studio
Ano: 2008
Tipo de projeto: Habitacional
Operação projetual: Construção
Status: Em Construção
Características Especiais: Sustentável
Materialidade: Tijolo e Vidro
Estrutura: Concreto
Localização: Milão, Itália esquema 2
foto: internet
foto: internet
Emily BarrosAnyelly de Mendonça
Arquitetura e tecnologia:
Cada vez mais, a arquitetura, o design e a
decoração se entrelaçam à questão da
sustentabilidade. Usando a tecnologia a seu
favor, as construções "verdes" vêm ganhando
bastante visibilidade, já que a preocupação com
a preservação do planeta não pode mais ser
ignorada. Sendo assim, várias edificações
sustentáveis vem ganhando reconhecimento e
destaque no Brasil e no mundo. Entre estes, está
o edifício "COR", nos Estados Unidos, e o
“projeto Casa 100km ?”, na Itália.
Chamado de "COR", o edifício sustentável tem
25 andares e localiza-se em Miami. Ergueu-se a
partir da parceria entre o escritório de
arquitetura e design Chad Oppenheim, a
empresa de consultoria de energia Buro
Happold e o escritório de engenharia estrutural
Ysreal Seinuk.
Além de incorporar usos mistos de funções, com
espaços comerciais, residenciais e de serviços, o
prédio produzirá sua própria energia, utilizando
tecnologias alternativas, como turbinas eólicas,
painéis fotovoltaicos e aquecedores de água
solares. Possui, ainda, variedade de estratégias
no design com grande custo benefício.
Sua estrutura é supereficiente, pois protege o edifício do clima quente, proporcionando sombra para os moradores. Na fachada, há terraços e estruturas que suportam as turbinas eólicas; na parte térrea, galerias, restaurantes e lojas fazem ligação com a rua, criando, assim, relação edifício-pedestre; no interior, cada apartamento res idenc ia l é ef i c iente energeticamente e possui equipamentos que consomem menos energia. O piso é feito de tijolo de vidro reciclado e os corredores de acesso aos apartamentos são feitos de tábuas de bambu.
O "COR" possui 113 apartamentos
residenciais, quase 2 mil m² destinados para
escritórios e 500 m² para uso de serviços. É
versátil, bem iluminado e possui tecnologia de
ponta; um verdadeiro exemplo de equilíbrio
entre espaços comerciais e residenciais.
A fachada do edifício provê proteção do sol, além de servir de suporte
para turbinas eólicas
TEC
NO
LOG
IA
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Outro projeto em destaque é o “projeto Casa
100k ?”. Baixo custo, área de habitação
personalizável e baixo impacto ambiental;
essas são as principais características do
condomínio residencial que apresenta um
novo conceito de habitação, atendendo três
importantes questões visadas atualmente:
ambiental, financeira e social.
O responsável pelo projeto é o arquiteto
italiano Mario Culcinella, em parceria com a
multinacional italiana de cimentos Italcementi
e com a Politecnica, uma consultoria de
estruturas e sistemas.
As 50 casas do complexo residencial possuem,
cada uma, 100 m², e são capazes de produzir
sua própria energia consumida pela união de
estratégias ativas e passivas sem nenhuma
emissão de CO2. Para que isso ocorra com
sucesso, as casas integram um sistema
fotovoltaico, bomba geotérmica, turbinas
eólicas, reaproveitamento das águas pluviais e
estratégias passivas do próprio projeto - o que
transforma o complexo em uma máquina
bioclimática.
A cobertura de uma casa tem 35 m²
compostas de placas solares, capazes de
prosuzir energia elétrica de 42,4 kWh/m² por
ano, abrangendo, assim, todas as necessidades
energéticas das edificações mais o calor
geotérmico da bomba. As varandas possuem
um telhado verde, cuja contribuição para a
estabilização do microclima externo junto com
as estufas de plantas incentivam o
arrefecimento passivo.
As unidades têm fachadas gêmeas para
facilitar a ventilação natural. A lateral da casa
voltada para o sul apresenta maior proporção
de vidros e mais espaço externo, assim como
os das varandas suspensas, justamente para
aproveitar a luz natural.
A fachada recebe painel de revestimento com
sistema intercambiável de oito cores, podendo
variar a vista externa e assegurar sua
consistência com o design dos interiores. Pode
ser feita com três tipos de materiais: um à
base de fibroconcreto; outro, à base de
celulose reciclada; e um terceiro, de um
material chamado "txactive", uma espécie de
concreto que absorve ácidos nitríticos e outros
gases poluentes do ar, desenvolvido pela
Italcementi.
Como se estima que nem toda energia
produzida por cada casa é consumida pelos
moradores, o condomínio cria, ainda, uma
“poupança energética”, onde parte da
produção será comercializada. Com essa
venda, o investimento na compra da casa é
compensado com o lucro energético produzido
a cada mês.
O agrupamento residencial traz grandes
vantagens de instalações de caráter coletivo.
Por exemplo, em vez de cada casa usar sua
própria lavanderia, há um único local para
todos os condôminos fazerem uso das
máquinas. Essa estratégia, além de eliminar a
compra repetida de e a dispersão de
equipamentos que consomem energia, produz
poupanças significativas em termos de
aquisição, funcionamento e custos de
manutenção.
O projeto Casa 100k ? foi exposto na 11ª
Exibição Internacional de arquitetura
organizada pela Bienal de Veneza e ganhou o
prêmio da Architectural Review, o Awards
Futures Projects 2009, na categoria
sustentabilidade.
união em prol da sustentabilidade
Residências do projeto Casa 100k
Lise Lenz e Ingrid Teixeira
1982 1988
É um software do tipo
CAD (desenho
auxiliado por
computador) criado e
comercializado pela
Autodesk desde 1982.
É utilizado
principalmente para
elaboração de peças
de desenho técnico
em duas dimensões
(2D) e para criação de
modelos
tridimensionais (3D).
Atualmente está
disponível em versões
para o sistema
operacional Microsoft
Windows e Mac OS.
O CorelDRAW surgiu em 1988, tendo atualmente 16 versões que foram produzidas e liberadasao longo dos últimos 25 anos e é um programa de desenho vetorial bidimensional para designgráfico desenvolvido pela Corel Corporation, Canadá. É um aplicativo de ilustração vetorial elayout de página que possibilita a criação e a manipulação de vários produtos, como porexemplo: desenhos artísticos, publicitários, logotipos, capas de revistas, livros, CDs, imagensde objetos para aplicação nas páginas de Internet,confecção de cartazes e, na arquitetura, geralmente utilizado no trabalho com vistas, plantascomerciais e humanizadas.
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2000 2000
Lançado em agosto de 2000, o sketchUp é um software próprio para a criação de modelos em 3D. Foi desenvolvido pela At Last Software, uma empresa estadunidense a qual foi adquirida pela Google, em 2006. A versão atual em português é a 8.0. O SketchUp está disponível em duas versões: PRO e free.Use o SketchUp Pro para:• Concepções formais tridimensionais• Criação de modelos em 3D altamente detalhados• Design conceitual e esquemático• Planejamento e visualização de espaços internos• Criação de desenhos dimensionados e em escala• Criação de animações de passeio em 3D• Visualização em 2D de planta feita em CAD• Estudos de sombra e análises de campo visual em tempo real• Produzir desenhos de seu modelo que pareçam ter sido desenhados à mão.
É um software
lançado em 5 de abril
de 2000 para a
arquitetura criado
dentro do conceito de
modelagem das
informações de
construção (BIM).
Atualmente
desenvolvido pela
Autodesk, permite ao
usuário criar
utilizando modelagem
paramétrica de
elementos. É o único
arquivo de dados que
pode ser partilhado
entre vários usuários.
Planos, seções,
elevações e legendas,
são todos interligados,
e se um usuário faz
uma mudança de um
ponto de vista, os
outros pontos de vista
são utilizados
automaticamente.
Loren Pardim e Mateus Medeiros
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Entrevista
Ricardo Henrique Mura tori de Menez es, é ar quiteto e urbanista f ormado pela
Universidade F ederal de Ceará em 1984. Trabalha atualment e em seu escritório
localizado na cidade de Fortaleza, desenvolvendo projetos de arquitetura em diversas
escalas e programas, conquistando prêmios e dis�nções nacionais.
Em 1999, é primeiro lugar no Concurso Nacional de Projetos para a Pr aça José de
Alencar, com o prje to o Parque da Cidade. Em 2001, primeiro lugar no Concurso
Nacional de Projetos para a nova sede do CREA -Ce. Em 2001, primeiro lugar no
Concurso Nacional para o Mercado de Sobral. Pelo IAB-Ce recebe ainda os prêmios pelos projetos do Edi�cio sede na
Nextel em 2009 e vence o concurso para a reordenamento da Beira Mar de Fortaleza.
O arquiteto cearense Ricardo Muratori fala sobre seus projetos, sua relação com a arquitetura e explica um pouco
mais o projeto de reubanização da Beira Mar de Fortaleza, e dos desafios da profissão.
Como e quando surgiu o seu interesse pela arquitetura?
O interesse por arquitetura surgiu ainda no colegial, por volta da oitava série, nessa época já gostava muito desenhar e
adorava �sica e eu achava que �nha que saber muito dessa matéria e que arquitetura era a junção dessas duas coisas,
�sica e arte. Na verdade meu entendimento sobre arquitetura era completamente equivocado, pois, assim como a
maioria das pessoas �ve que escolher minha profissão muito cedo e não �nha muito ideia do que seria, mas eu
pressen� que arquitetura era uma profissão que reunia aspectos subje�vos e aspectos obje�vos. Com o passar do
tempo percebi que arquitetura é uma profissão que aposta muito na generalidade, e que o arquiteto deve entender de
muitas coisas, porém com pouca profundidade. Acredito que é melhor saber de várias coisas do que poucas coisas
com muita profundidade, porque o tr abalho do arquiteto é um tr abalho de sínt ese, em que temos que reunir
demandas das mais diversas naturezas, (econômicas, tecnológicas, psicológicas, industriais) e transformar tudo isso
num projeto. Enfim, foi tudo muito intui�vo, e que realmente desde o início a arquitetura foi para mim, o que ela
realmente é, a junção da arte e da técnica, subje�vidade e obje�vidade.
Ao longo da sua carreira houve algum arquiteto que lhe inspirou ou que conquistou a sua admiração?Acredito que todo estudante quando está na faculdade acaba tendo um arquiteto de ''cabeceira'', e o meu era um arquiteto russo, naturalizado americano, chamado Louis Kahn, que considero um arquiteto extraordinário até hoje. Ele surgiu justamente naquela fase de transição, entre os clássicos do modernismo e os pós-modernistas. Ele foi o responsável pelo resgate histórico que as más línguas dizem que acabou por desembocar no historicismo da década de sessenta e setenta, que foi o pós-moderno, um período muito cri�cado por todos, quer dizer, por ter �do um uso muito equivocado da história. Kahn reintroduziu o uso da cultura e da história no pensamento arquitetônico, porque até então, a ideia era zerar a história, pois, a modernidade par�a do pressuposto que tudo deveria ser reinventado e o conceito de historicismo dele era muito sofis�cado, ele não aceitava anular a história, no seu ponto de vista isso tudo era muito absurdo, pois ele defendia que, quando se vai projetar, deve-se pesquisar a origem do objeto, não somente a origem �sica, mas a origem conceitual, simbólica do que é transmi�r o conhecimento de alguém para o outro. Embora suas obras fossem extraordinárias, o que me tocava profundamente era a forma de como ele falava de arquitetura, a apropriação do seu discurso sobre arquitetura, pois eu acho que nós arquitetos temos que falar como arquitetos. Nós estamos numa situação muito di�cil profissionalmente, perdemos muito pres�gio ao longo das décadas, nós éramos profissionais muito mais pres�giados do que somos hoje, por milhões de razões e acredito que uma delas é por temos recuado no nosso papel de arquiteto e por absorvermos discursos de outras áreas para se inserir no mercado. Tentar falar como corretor, como economista, como engenheiro, para mim é um grande equívoco, pois eles sempre vão falar melhor do que nós arquitetos. Então, nós temos sempre que falar como arquitetos, da nossa visão sensível, sensorial daquele problema obje�vo e Louis Kahn fazia isso muito bem e foi justamente por isso que ele se tornou meu arquiteto preferido no período da minha formação.
Ricardo Muratori
Ricardo Muratori
Sede do CREA-Ce NEXTEL PÓRTICO ALTO SANTO
Entrevista
Dentre os seus principais projetos há dois hospitais, quais
foram as maiores dificuldades enfrentadas no planejamento
desse �po de projeto?Os projetos de hospitais são um dado à parte dentro da prá�ca da arquitetura. Todo projeto possui uma tônica qualquer, uma essência em torno da qual ele se determina e no caso de hospitais a tônica são implicações de forma funcional. Eu considero este �po projeto muito interessante, porque você tem que se despir das suas vaidades formais e plás�cas e fazer com que ele funcione, porque o não funcionar de um hospital pode custar à vida de muitas pessoas. O centro da questão nesse �po de projeto é a funcionalidade, a plás�ca não tem tanta importância. Outro aspecto de fundamental importância é que o m² de um hospital é caríssimo, pois é recheado de instalações de toda espécie, tanto piso, quanto parede, principalmente as paredes, pois m² de uma parede de um hospital é muito maior que a de um piso, porque nelas circulam uma infinidade de produtos, como, ar-condicionado, gases, oxigênio, dentre outros, e requer muito cuidado e parcimônia no dimensionamento, porque tudo que você gasta a mais representa um custo brutal no final. Então, todos esses condicionantes que um projeto de hospital requer, eu os considero como um exercício de humildade para o arquiteto, que é sempre muito afeito a dar shows plás�cos e nessa situação nem sempre é possível. Costumo sempre citar um arquiteto brasileiro, o Lelé, considerado um gênio da nossa arquitetura, e que projetou a rede Sara de hospitais, onde ele conseguiu reunir plás�ca e funcionalidade de forma excepcional.
Sobre o projeto de Reordenamento da Av. Beira Mar, onde o senhor venceu o concurso de melhor projeto.
Como se deu o processo de criação e planejamento?A princípio era um projeto desenvolvido a dois, somente eu e o Fausto Nilo. Devido a algumas exigências do projeto, iden�ficamos naquele tema alguns pontos que não �nhamos todas as especialidades necessárias para desenvolvê-lo e decidimos assim, nos juntar. Concluímos que o conhecimento de um complementaria o trabalho do outro, pois até então nunca �nhamos trabalhado juntos, e nem sequer nos conhecíamos. Na verdade conhecia o Fausto apenas de nome e de alguns encontros em reuniões de arquitetura. Posteriormente convidei o arquiteto Esdras Santos, que já �nha trabalhado no meu escritório, para compor a equipe. Começamos sem riscar nada, apenas conversávamos durante horas, nos finais de tarde sempre nos reuníamos para falarmos sobre a Beira Mar ou sobre correlatos de water from no mundo, como Barcelona, Londres e cidades do Canadá. Todos os lugares que �nham fronteira com água no mundo nós passeamos virtualmente e então fizemos uma resenha de todas essas experiências de contato entre o tecido urbano e um recurso hídrico e tentamos adaptar essa realidade para as caracterís�cas do projeto.Nesse projeto contamos com um diferencial que eu considero determinante, que foi o seguinte, nós conhecíamos a Beira Mar em épocas diferentes. O Fausto, por exemplo, conhecia a Beira Mar do princípio, antes até da existência da própria avenida e a minha relação com ela é mais no final da década de setenta e década de oitenta. E após juntarmos nossas experiências das Beiras Mares de todos os tempos, o nosso primeiro passo foi entender o seu funcionamento e o que ela representa para a cidade, quem são os autores que influenciam o desenho do que ela é hoje. A Beira Mar é um lugar de diversos públicos, em relação à população residente, temos de um lado, os moradores de alta renda que residem nos prédios de luxo ao longo da orla e do seu entorno, e do outro, os moradores de baixa renda, concentrados no Castelo Encantado, Morro Santa Terezinha e Serviluz. Porém o uso desses dois grupos é completamente diferente, onde o primeiro grupo faz o uso do local fundamentalmente como paisagem ou para a prá�ca de exercício �sico, mas, não interagem com o local, do ponto de vista de quem interage com um bairro, ou seja, não há interação dessa população fora dos horários da prá�ca de exercícios �sicos. Há um intenso interesse turís�co, onde podemos classificar o turista em dois �pos, o turista considerado de caráter saudável, desejável e o turista deletério, também há os comerciantes, os ''permissionários'', que são o pessoal das barracas, das feiras, vendedores ambulantes e etc.
Reforma e Ampliação Hospital de Maracanaú
Reordenamento da Av. Beira Mar
19
Entrevista
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Entrevista
E tem a população em geral da cidade, que também
frequenta o local em determinados momentos, onde o
público do domingo não é o mesmo da semana.
Demorou bastante até nós conseguirmos entender
tudo isso, de como tudo se desarmonizava e que
desenho deveria patrocinar uma reconciliação desses
grupos e que todos ao seu modo, �vessem um grau de
protagonismo. Um exemplo disso seria os meninos
que descem do Morro Santa Terezinha e do Castelo
Encantado, que possuem uma relação muito
antagônica com a Beira Mar. Eles se u�lizam do local
para trabalhar, (em hotéis, restaurantes) às vezes
promovem depredação, insegurança com a prá�ca de assaltos, mas, eles nunca exerceram o papel de protagonista de
nada naquele local. Então resolvemos u�lizar uma pesquisa feita na época por uma socióloga, que nos apontou uma
série de caracterís�ca desse grupo que estava lá em cima, e que eles, por exemplo, tem prá�cas de street dance, de
skate, capoeira e que eles tem uma cultura em torno disso, então baseado nesses dados, criamos espaços para que
eles possam vir para Beira Mar e serem eles os protagonistas do lugar, lembrando que isso não depende só da
arquitetura, tem que ter também um gerenciamento. Entender todos esses aspectos e gerar um desenho que
atendesse a todos eles foi a nossa principal metodologia.
Qual a sua opinião sobre a infraestrutura da cidade para receber a Copa?
Na verdade eu acho que nós iremos receber a copa com o estádio pronto, mas as obras de mobilidade não vão ficar
prontas, então medidas palia�vas terão que serem tomadas, �po, nos dias de jogos será feriado. A Beira Mar, por
exemplo, com certeza não ficará pronta e é uma pena, porque é um elemento importante no ponto de vista da
inserção da cidade no mercado turís�co internacional, poderia ser o lugar das chamadas da imprensa do mundo todo,
que não acontece somente no estádio, lá acontece o jogo, mas de vários pontos da cidade essas chamadas serão feitas
e na minha opinião, deveriam acontecer na Beira Mar, porque reúne natureza e área edificada, é como está na Baía de
Guanabara com o Cristo Redentor ao fundo e no nosso caso teríamos, o mar, a praia e a massa edificada, que diz muito
da cidade, do seu tamanho, mas infelizmente não teremos isso e iremos perder essa oportunidade de inserção
internacional, por não termos cuidado a tempo da nossa infraestrutura. Os jogos vão acontecer, mas o legado não
exis�rá. Os propósitos da Fifa e da mídia nacional e internacional serão atendidos, porque irão vender o espetáculo
para o mundo todo, mas para a cidade em si, não restará quase nada do ponto de vista de qualidade e de
infraestrutura.
Como está o andamento desse projeto?
A obra a rigor já começou, a prefeitura está cuidando da
transferência do mercado de peixes, que ficará próximo à
estátua de Iracema, quando essa população for re�rada,
começa as obras do novo mercado de peixes. Ao mesmo tempo,
segundo o cronograma que me foi passado, eles iram atacar o
espigão, pois vai haver um novo espigão na altura do Náu�co,
então esse novo espigão junto com o que já existe na praia do
Ideal, iram juntos possibilitar o aterro de 80m em direção ao
mar, entre o Ideal e o Náu�co. A urbanização irá acontecer do
leste para o oeste, a ideia é de que quando ela alcançar o novo
espigão, as obras do aterro já estejam prontas e assim se possa
prosseguir. Se correr tudo bem, se �ver um fluxo de dinheiro regular, será obra de dois anos.
Dentre os seus projetos quais foram os mais di�ceis de planejar?
Com certeza a Reurbanização da Beira Mar. Considero um projeto
di�cil principalmente por haver muitos condicionantes, é diferente,
por exemplo, de um hospital, que apesar de ser um projeto di�cil
também, mas só se tem um público a atender, que é pra�camente o
próprio hospital e a legislação. No caso da Beira Mar são muitos
públicos e muitos interesses e muita pressão de todos os lados,
porque ninguém quer abrir mão de privilégios conquistados, na
verdade todos querem manter os privilégios que tem e conquistar
mais alguns e administrar tudo isso foi muito di�cil.
Reordenamento da Av. Beira Mar
Reordenamento da Av. Beira Mar
Reordenamento da Av. Beira Mar
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Entrevista
Entrevista
Qual a sua opinião sobre a urbanização de Fortaleza
atualmente? Você concorda que estamos vivenciando
um caos no nosso urbanismo?
Concordo plenamente e acredito que a principal causa
para o caos na urbanização de Fortaleza foi certamente
à ex�nção dos órgãos de planejamento da cidade, que
aconteceram na gestão do prefeito Juraci Magalhães,
que costumava dizer que, ''planejava fazendo e fazia
planejando''. A cidade passou a ser administrada por
demanda, do que podemos chamar de apagar
incêndios, e tais prá�cas foram se desconectando de
um planejamento global e nós fortalezenses não temos a cultura do planejamento. O caso de Curi�ba, por exemplo, que
é considerado um paradigma na questão do planejamento urbano, o órgão de planejamento é o mesmo há décadas,
entra prefeito, sai prefeito, muda governador, mas todos quando entram se submetem a um planejamento que já
estava feito para as próximas décadas e não pode ser mudado, como nós não temos essa prá�ca, isso dá lugar a
inicia�vas individuais e desconectadas. A única solução que eu vejo para Fortaleza, primeiro, é a volta dos órgãos de
planejamento e segundo, bem mais di�cil, é tentar �rar o planejamento da cidade da esfera da polí�ca, mas, Curi�ba
conseguiu e nos serve como exemplo.
Qual a dica que você daria aos jovens arquitetos para que eles obtenham sucesso na profissão?
Para essa pergunta, darei uma resposta que costumo dar sempre, jamais aceite um conselho, pois a construção do
arquiteto deve ser pessoal, quanto mais próximo do seu dna for a sua prá�ca profissional, melhor arquiteto você
será. Iden�fique primeiro quem você é e que �po de exercício profissional a natureza lhe preparou para ter, pode
parecer estranho, mas há vários �pos de arquitetos, vários �pos de possibilidades de exercício profissional na
arquitetura e escolha um lugar que você possa ser você. Acredito também que quanto mais você misturar, mais
rica será a sua produção, e tudo que nos rodeia pode virar material para projeto, o cinema, a musica, a literatura, o
humor, o bate-papo, a vagabundagem, a história em quadrinhos, então não é só a informação erudita que lhe
formata como arquiteto, é qualquer informação, são as suas vivências, tudo depende de como você traduz aquilo
para o seu co�diano de trabalho, eu pessoalmente aprendi que não preciso abrir mão de certos hábitos ligados a
''subculturas'', como televisão, revistas em quadrinho para me dedicar somente a grandes obras e grandes
pensadores, pois as minhas manias
também poderiam ser incorporadas ao
meu trabalho, não é necessário anular
uma coisa nem outra, elas podem muito
bem permanecerem juntas na sua
cabeça, e servirem de substrato para a
profissão. Esse é o barato de ser
arquiteto, porque podemos exercer
nossa função o tempo todo, desde o
momento que acordamos até a hora de
dormir.
Adelina
Ayrton Bruno
Yago
Suellen
Principais obras:Câmara Municipal de Fortaleza
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Reforma e Ampliação Hospital de MaracanaúReordenamento Avenida Beira Mar
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De 10 outubro à 19 de novembroEndereço: Av. Rui Barbosa, nº 869
Chargista: Gilmar Facebook: Arquitêta
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