Semeando as sementes dos valores, coletando educação
Se nós focássemos e seguíssemos as nossas lições somente de acordo com a sequência dos
livros dos estudantes, na forma tradicional de ensino, nossos estudantes estariam somente
preparados para responder à uma prova, e nada mais. Refletindo sobre a situação, é justo
dizer que esse tipo de tática de ensino ainda deve ocorrer, porque caso contrário nenhum
deles teria no mínimo ouvido falar ou aprendido algo sobre os assuntos e seus respectivos
conceitos em da forma tradicional. Mas essa não deveria ser a única tática de ensino tomada
por um educador, já que o alunado também pode e deve aprender de outras maneiras.
Não há uma sombra de dúvida de que os verdadeiros professores não dão sempre aulas
perfeitas; na verdade, eles de fato ensinam, mas há muito mais a ser lidado do que somente o
assunto da aula. Vários outros aspectos devem ser levados em consideração, já que, lidar com
pessoas diferentes, ou estudantes, não é sempre fácil. É sabido que os alunos não são
simplesmente “folhas em branco”, e que todo o conhecimento pessoal deles é trazido para as
salas de aula, bem como seus valores familiares, virtudes, morais, raízes de suas vizinhanças,
experiências de vida boas e ruins, que talvez podem até terem feito cicatrizes em suas almas.
Um verdadeiro processo de ensino-aprendizado não é somente teoria, já que também
necessita ter seu próprio corpo (presentação, produção e prática), senão seríamos levados a
acreditar que os estudantes são meros robôs. A pergunta é: o que fazer? Como agir?
Primeiramente, devemos admitir que na maior parte do tempo, exemplos são muito mais
facilmente internalizados por nós do que, como foi dito anteriormente, a teoria. Durante o
estágio na Finlândia, o professor Yuha Lahtinen costumava dizer: “o modo como você ensina é
quem você é”. É comumente dito que os olhos são as janelas da alma, porque eles refletem o
nosso estado de mente.
É um fato que é difícil dar aulas para mais de 40 estudantes em uma única sala de aula, em um
tempo no qual a intolerância, disrespeito, bullying, violência (ou até mesmo crimes) são vistos
em escolas brasileiras no dia-a-dia, até tornando-se eventos comuns para alguns deles. O bom
comportamento dos professores é o primeiro passo a ser tomado: nós temos que fazer o que
nós pregamos. Isso nos leva ao segundo passo que seria a oportunidade de olhar nos olhos dos
estudantes e “ler as suas almas”. Conversando por apenas alguns minutos com cada um deles,
tornando-os cientes de que eles sempre podem contar com você, dando mais confiança a cada
um deles, criando um ambiente de aprendizado apaziguante e leve para todos.
As ações foram tomadas no fim de 2018, mas apenas algumas coisas puderam ser feitas, já
que aconteceram durante os exames finais deles, e portanto já estavam ocupados. Os
estuantes começaram a trabalhar em grupos na maior parte do tempo, e houve uma crescente
e clara evidência de que eles gostavam muito mais de fazer suas atividades em grupos do que
separadamente. Isso ajuda e facilita as interações entre eles, enquanto que ao mesmo tempo
os dá mais determinação, porque como sabemos, da mesma forma que existem várias
metodologias, também existem muitas formas de aprender. Juntar diferentes estilos de
aprendizado acelera o processo de aprendizado de cada indivíduo de um grupo, e também
ajuda os estudantes a não somente depender dos seus professores, que passsam a agir como
facilitadores, mentores e treinadores.
Foi evidente que os estudantes aguardavam por essas aulas com muito mais animação e
entusiasmo do que antes, talvez pelo simples fato de trabalhar em grupos, mesmo quando
eles não estavam guiando os outros, mas simplesmente cooperando, cada um com suas
habilidades. Haviam alguns que eram mais dotados com matemática, e outros que tinham
maior afinidade com linguística. Misturar todos eles juntos fez com que todos os tipos de
crianças, cada um com sua inteligência, espalhassem de boa vontade conhecimentos aos
outros.
Em 2019, aos estudantes foram dadas mais oportunidades de trabalho, não somente em
grupos dentro de sala. No começo, eles trabalharam juntos, escrevendo e planejando um
pequeno vídeo no qual eles puderam não somente reproduzir e atuar dentro da sala de aula,
mas também o presentar aos outros grupos. Mesmo sem um acesso à internet na escola, eles
foram capazes de traduzir em suas casas, produzir e gravar uma pequena apresentação na
qual eles puderam mostrar exemplos de valores. Os vídeos foram enviados, e é claro que
alguns deles não foram precisamente o que era esperado, já que houveram alguns erros de
inglês, nos quais trabalharemos mais nas próximas aulas, mas eles também tiveram a chance
de corrigir os roteiros deles, os respectivos erros de português, assim como atuar, agir e gravar
todos juntos, fazendo-os trabalhar usando as duas línguas ao mesmo tempo, portanto unindo
artes e linguística de uma maneira transversal e interdisciplinar.
Ademais, foi notado que até mesmo aqueles estudantes que produziram o vídeo somente para
obterem uma boa nota, começaram a participar das aulas com mais prazer, e não podiam
esperar para o sino tocar para que nossas aulas começassem. Coisas como essas não possuem
preço, porque vão contra (ou, pelo menos são diferentes) da tática conhecida por “Spray &
Pray”. Uma tática mais humanizada é o que devemos continuar a espalhar como professores.
Nós, professores, devemos escolher um bom solo para plantar valores aos nossos estudantes,
para que a resposta de uma colheita promissora não seja somente sonhada, mas alcançada.