SERVIÇO SOCIAL
AutoresProfessora Especialista Edilene Maria de Oliveira Araújo
Professora Ma. Amirtes Menezes de Carvalho de SilvaProfessora Ma. Angela Cristina Dias do Rego Catonio
Professora Ma. Maria Clotilde Pires Bastos
Educaçãosem fronteiras
4
Anhanguera PublicaçõesValinhos/SP, 2009
www.interativa.uniderp.brwww.unianhanguera.edu.br
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© 2009 Anhanguera PublicaçõesProibida a reprodução fi nal ou parcial por qualquer meio deimpressão, em forma idêntica, resumida ou modifi cada em línguaportuguesa ou qualquer outro idioma.Impresso no Brasil 2009
ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS
PresidenteProf. Antonio Carbonari Netto
Diretor AcadêmicoProf. José Luis Poli
Diretor AdministrativoAdm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior
CAMPUS I
ChancelerProfa. Dra. Ana Maria Costa de SousaReitorProf. Dr. Guilherme Marback NetoVice-ReitorProfa. Heloísa Helena Gianotti PereiraPró-ReitoresPró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães JúniorPró-Reitora de Graduação: Profa. Heloisa Helena Gianotti Pereira Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato
ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.UNIDERP INTERATIVA
DiretorProf. Dr. Ednilson Aparecido Guioti
CoodernaçãoProf. Wilson Buzinaro
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICAProfa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Aparecida Lucinei Lopes Taveira Rizzo / Profa. Maria Massae Sakate /Profa. Adriana Amaral Flores Salles / Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora)
PROJETO DOS CURSOSAdministração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira SatolaniCiências Contábeis: Prof. Ruberlei BulgarelliEnfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado PereiraLetras: Profa. Márcia Cristina Rocha FiglioliniPedagogia: Profa. Vivina Dias Sol QueirozServiço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Profa. Ana Lúcia Américo AntonioTecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira BiazettoTecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma MarcarioTecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espindola DiasTecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espindola DiasTecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias
ANHANGUERA PUBLICAÇÕES
DiretorProf. Diógenes da Silva Júnior
Gerente AcadêmicoProf. Adauto Damásio
Gerente AdministrativoProf. Cássio Alvarenga Netto
Ficha Catalográfi ca realizada pela BibliotecáriaAlessandra Karyne C. de Souza Neves – CRB 8/6640
S514 Serviço social / Edilene Maria de Oliveira Araújo ...[et al.]. - Valinhos : Anhanguera Publicações, 2009. 256 p. - (Educação sem fronteiras ; 4).
ISBN: 978-85-62280-44-3
1. Comunicação – Metodologia da pesquisa. 2. Direito – Legislação social. 3. Movimento social. I. Araújo, Edilene Maria de Oliveira. II. Título. III. Série.
CDD: 360
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Nossa Missão, Nossos Valores_______________________________
A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino-
vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de
Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação
dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho.
A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre
preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis-
tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor
relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições
de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores
da Anhanguera.
Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es-
tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos
espalhados por todo o Brasil.
Boa aprendizagem e bons estudos!
Prof. Antonio Carbonari Netto
Presidente — Anhanguera Educacional
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AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico
Apresentação____________________
A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no
desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos,
arrojados, pluralistas, democráticos.
Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par-
ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou
para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a
qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi-
tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social.
Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um
desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida-
des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a
Distância.
Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei-
ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o
acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída.
O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp
Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci-
dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados
em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação
continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias
dinâmicas e inovadoras.
Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da
Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re-
flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro-
Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza
a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado
e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua
aprendizagem.
É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de
formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos,
preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade.
Prof. Guilherme Marback Neto
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Autores____________________
AMIRTES MENEZES DE CARVALHO E SILVA
Graduação: Pedagogia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1998
Pós-graduação: Fundamentos da Educação – Área de Concentração: Psicologia da Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2001
Mestrado: Em Educação – Área de Concentração: Psicologia – Universidade de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2003
EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO
Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidades Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1986
Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores em Educação de Jovens e Adultos – Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003
Pós-graduação Lato Sensu: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002
Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing e Comércio Exterior – UCDB – 1998
ANgELA CRISTINA DIAS DO REgO CATONIO
Graduação: Letras – Língua Portuguesa e Língua Inglesa/Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande/MS – 1996
Especialização: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, São Paulo/SP, 1999
Mestrado: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – IMESP, São Bernardo do Campo/SP, 2000
MARIA CLOTILDE PIRES BASTOS
Graduação: Pedagogia com Habilitação em Administração e Supervisão Escolar de 1º e 2º Graus – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 1981
Pós-graduação Lato Sensu: Metodologia do Ensino Superior – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP – 1988
Pós-graduação Strictu Sensu: Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1997
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Sumário____________________
MÓDULO – COMUNICAÇÃO E METODOLOgIA DA PESQUISA
UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁgIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIALAULA 1
Estágio supervisionado e a prática do saber ...................................................................................... 3
AULA 2
Legislação e a profissão do assistente social ....................................................................................... 13
UNIDADE DIDÁTICA – COMUNICAÇÃO SOCIAL AULA 1
Linguagem e sua função social ........................................................................................................... 23
AULA 2
Modalidades verbais e não verbais na comunicação ......................................................................... 29
AULA 3
Comunicação: conceitos e modelos ................................................................................................... 33
AULA 4
Funções da linguagem e tipos de comunicação ................................................................................. 38
AULA 5
Habilidades em comunicação ............................................................................................................. 42
AULA 6
Comunicação e novas tecnologias da comunicação ......................................................................... 46
AULA 7
Relações humanas ............................................................................................................................... 49
AULA 8
Comportamento e moda .................................................................................................................... 51
UNIDADE DIDÁTICA – METODOLOgIA DA PESQUISA CIENTÍFICAAULA 1
O conhecimento e a ciência ................................................................................................................ 59
AULA 2
O método científico ............................................................................................................................ 63
AULA 3
O processo de pesquisa ....................................................................................................................... 67
AULA 4
A pesquisa qualitativa ......................................................................................................................... 72
AULA 5
Leitura e registro ................................................................................................................................. 76
AULA 6
Apresentação de trabalhos acadêmicos – Normas da ABNT ............................................................ 79
SEMINÁRIO INTEGRADO ..................................................................................................................... 94
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MÓDULO – DIREITO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS
UNIDADE DIDÁTICA – DIREITO E LEgISLAÇÃO SOCIALAULA 1
A aplicabilidade do direito no serviço social ..................................................................................... 97
AULA 2
A pessoa e seu inter-relacionamento social ....................................................................................... 106
AULA 3
A institucionalização da sociedade ..................................................................................................... 118
AULA 4
O direito familiar ................................................................................................................................ 132
AULA 5
A estruturação dos direitos constitucionais e as garantias fundamentais: direitos humanos
e cidadania ........................................................................................................................................... 143
AULA 6
O direito infraconstitucional e suas aplicações no serviço social – a legislação social e a proteção
da sociedade ........................................................................................................................................ 160
AULA 7
O direito trabalhista e as relações políticas de trabalho .................................................................... 169
AULA 8
O direito previdenciário – sistema brasileiro de seguridade social .................................................. 193
UNIDADE DIDÁTICA – MOVIMENTOS SOCIAISAULA 1
Movimentos sociais ............................................................................................................................. 209
AULA 2
Aspectos teóricos – histórico dos movimentos sociais no Brasil ...................................................... 212
AULA 3
Movimentos sociais e cidadania ......................................................................................................... 215
AULA 4
Políticas sociais – a contribuição dos movimentos sociais ............................................................... 218
AULA 5
A sociedade civil e a construção de espaços públicos ........................................................................ 221
AULA 6
O caráter educativo do movimento social popular ........................................................................... 223
AULA 7
Os movimentos sociais e a articulação entre educação não formal e sistema formal de ensino .... 226
AULA 8
Movimentos sociais em suas diferentes expressões ........................................................................... 229
AULA 9
Tendências dos movimentos sociais na realidade brasileira contemporânea .................................. 232
AULA 10
Redes de ações coletivas ...................................................................................................................... 239
SEMINÁRIO INTEGRADO ..................................................................................................................... 243
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DIREITO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS
Módulo
Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
208
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a),
Conhecer a mobilidade das classes sociais no Brasil é muito importante. Diante dessa proposta, esta uni
dade didática tem como objetivo estudar e compreender as temáticas classes sociais e as influências dos mo
vimentos sociais no Brasil.
Correlacionar os fenômenos sociais que ocorrem na sociedade brasileira ao longo dos tempos com a
atuação do serviço social se faz necessário para se entender como esse fenômeno interfere na ação diária do
profissional da área social.
Se olharmos para o passado, observamos que as lutas que aconteceram não foram em vão, tornando neces
sário conhecer as teorias e a trajetória dos movimentos sociais no Brasil, bem como a dimensão educativa dos
movimentos sociais na formação da cidadania, a contribuição dos movimentos na elaboração e implemen
tação de políticas sociais e o seu papel na articulação educação não formal com o sistema formal de ensino e
as tendências contemporâneas.
Grata e até mais!
Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos
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AULA 1 — Movimentos Sociais
209
Conteúdo• A luta de classes
• Movimentos sociais
Competências e habilidades• Identificar os aspectos históricos e sociais que interferem diretamente nas questões sociais
na atualidade
Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no PortalVerificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.
Duração2 h/a – via satélite com professor interativo
2 h/a – presenciais com professor local
6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo
AULA
1____________________
MOVIMENTOS SOCIAIS
Un
idad
e D
idát
ica
– M
ovi
men
tos
Soci
ais
As questões acerca das lutas e movimentos na so
cie dade têm ganhado campo desde o século XIX.
Nes ta perspectiva buscaremos resgatar os movimen
tos e lutas empreendidas pela sociedade civil, mais
especificamente pelas camadas populares em decor
rência das demandas e reivindicações ocorridas no
espaço urbano.
Ao longo do processo iremos abordar os pontos
básicos dos fatos históricos ocorridos no Brasil, mas
que também têm relação e sofrem influência norte
americana e europeia. No bojo da discussão será
enfatizada a questão da cidadania, para demonstrar
as alterações que foram acontecendo em sua pró
pria concepção, resgatando, assim, seus princípios
articulatórios e as conquistas concebidas a respeito,
particularmente pelas camadas populares.
Vale ressaltar que a defesa dos direitos sociais e
humanos, da democracia e da justiça social faz parte
da luta dos assistentes sociais, o que requer muita
atenção para fatos e acontecimentos que marcam a
história da sociedade.
A luTA De ClAsses
De modo geral, o debate central para os estudos
de lutas e movimentos está presente na história,
uma vez que ela se desenvolve a partir da população
civil, ou seja, parte principalmente das camadas so
ciais mais pobres. As lutas têm o caráter de rebelião
contra a ordem estabelecida. Diante desse fato, far
seá um recorte a partir do século XVIII, no qual
as lutas tinham em comum o desejo de libertação
da metrópole. As mudanças ocorrem não porque os
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
210
grupos (liberais radicais) que lideravam as lutas se
impuseram, mas devido ao apoio da elite conserva
dora ao príncipe herdeiro de uma monarquia deca
dente para não perder seus privilégios.
Por outro lado, o século XIX traz para a histó
ria os conflitos que abrangiam as “zonas rurais e
urbanas, pois dado o sistema produtivo existente,
baseado na hegemonia da monocultura do café, a
produção ocorria no campo mas a comercialização,
do produto e da mãodeobra, ocorria na cidade”
(GOHN, 2005, p. 18). Nesse período surgem as se
guintes categorias problemáticas de lutas: as que lu
tam em torno da questão da escravidão, em torno
das cobranças do Fisco, de pequenos camponeses,
contra Legislações e Atos do Poder Público, pela
mudança do regime político e as lutas entre catego
rias socioeconômicas.
O século XX imprimiu um novo caráter às lutas
sociais no Brasil. As questões urbanas ganham ca
racterísticas próprias, advindas das novas funções
que passam a se concentrar nas cidades. À medida
que o desenvolvimento vai se instalando na socie
dade por meio da indústria e, em consequência
disso, as novas configurações sociais que surgem na
sociedade darão o tom para as ações e conflitos no
meio urbano. Consequentemente, novas categorias
de lutas emergem, como as de lutas sociais da classe
operária por melhores salários e condições de vida;
lutas populares e médias por moradia; lutas sociais
no campo; lutas da categoria dos militares; lutas e
movimentos de raça, etnia, cor, gênero; lutas cívicas,
entre outros.
MoviMenTos soCiAis
As concepções e conceitos referentes a movimen
to social, como observa SchererWarren (1996, p.
18), variam desde a afirmação de que “toda ação
coletiva com caráter reivindicativo ou de protesto
é um movimento social, independente do alcance
ou significado político ou cultural da luta”, ao ex
tremo de considerar movimento social como “ape
nas um número muito limitado de ações coletivas
de conflito, aquelas que atuam na produção da so
ciedade ou seguem orientações globais, tendo em
vista a pas sagem de um tipo de sociedade a outro”.
Na produção textual em curso, tomamos como re
ferência a explicitação do conceito formulado por
Calado (1999, p. 136) concernente a esses sujeitos
coletivos.
Organizações coletivas empenhadas na luta em
de fesa de seus interesses econômicos e socioculturais,
buscando construir sua identidade, de forma pro
cessual, tendo como referência oposta a conduta dos
que eles situam como seus adversários ou inimi gos.
A sociedade civil historicamente tem desempe
nhado um papel importante no debate sobre direi
tos humanos. Terreno fértil onde nascem os con
flitos, as ações coletivas organizadas e encabeçadas
pela sociedade civil engendram a dinâmica de re
lações sociopolíticas e humanas que dão sentido à
sociedade. Composta por uma gama de atores que
atuam para dar forma a esse conjunto da vida espi
ritual e intelectual, permeada de relações ideológi
coculturais (GRAMSCI, 1984), a sociedade civil é
fiadora de ações coletivas que afetam a dinâmica e
(re)configuram as relações sociais. Locus dos movi
mentos sociais, essa mesma sociedade civil é espaço
para construção de hegemonia e atua como media
dora da infraestrutura econômica e o Estado em seu
sentido restrito. O Estado em seu sentido mais am
plo é constituído, portanto, pela esfera da sociedade
civil e pela esfera da sociedade política (conjunto
de mecanismos em que a classe dominante detém o
monopólio legal da repressão e da violência (RA
MOS, 2005). Em uma relação dialógica, a socieda
de civil exerce a hegemonia pela direção política, e
o consenso e a sociedade política pela coerção. Na
dialética entre coerção e consenso, ditadura e hege
monia, são expressos o poder de uma classe.
Desde que a concepção marxista sobre o papel
da luta de classes para o entendimento da sociedade
começa a ser alterado em meados da década de 1970
(GOSS; PRuDêNCIO, 2004), novas questões pas
sam a ser introduzidas para análise e compreen são
da realidade social, dentre elas a ênfase em outras
relações que não apenas econômicas como caminho
para pensar as relações, o deslocamento de atenção
da sociedade política para a sociedade civil e da luta
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AULA 1 — Movimentos Sociais
211
de classes para os movimentos sociais. Os sujeitos
po líticos deixam de ser analisados pela relação clas
separtidoEstado. Em outras palavras, a categoria
clas ses sociais tornase insuficiente para entender os
mo vimentos arquitetados no âmbito da sociedade
ci vil.
Surge, assim, o que alguns autores da área cha
mam de novos movimentos sociais, com atuação
pautada em questões identitárias e com foco na
politização de espaços alternativos de luta, que não
apenas os partidos políticos e sindicatos. Entre as al
terações mais significativas está a ideia de que o po
lítico passa a ser um componente presente em toda
prática social e não apenas em espaços específicos,
o que configura os movimentos sociais como “ações
sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural
que viabilizam distintas formas da população se or
ganizar e expressar suas demandas” (GOHN, 2004,
p. 13). Essas mesmas ações coletivas criam identida
des em espaços não institucionalizados que geram
transformações no espaço social.
A essência de atuação dos movimentos sociais é
chamar o sujeito como forma de resistir à domina
ção social. Resistir ao poder é defender o sujeito.
As novas contestações não visam criar um novo
tipo de sociedade, mas “mudar a vida”, defender
os direitos do homem, assim como o direito à vida
para os que estão ameaçados pela fome e pelo ex
termínio, e também o direito à livre expressão ou à
livre escolha de um estilo e de uma história de vida
pessoais (TOuRAINE apud GOSS; PRuDêNCIO,
2004, p. 80).
Na ausência de adversários, os movimentos so
ciais discutem e pautam questões que antes esta
vam na esfera privada, como as questões de gênero,
sexual e étnicas e ao mesmo tempo compartilham
de lutas mais abrangentes. Alguns movimentos da
sociedade civil de cunho identitário na busca pela
afirmação de suas diferenças acabam tocando em
questões estruturais.
E é na sociedade construída, sustentada e media
da pelas relações de poder, como apontamos ante
riormente, que estão criadas as bases férteis para os
movimentos sociais se fecundarem. É o que aponta
Dias (2004), em uma análise sobre a semelhança en
tre os movimentos populares tradicionais e os con
temporâneos, a partir da arqueologia foucaltiana:
[...] compreendese que o húmus discursivo de
onde nascem as reflexões sobre os movimentos
so ciais não seria o liberalismo, esse fenômeno do
mun do ocidental, nem o Estado Liberal, nem a so
ciedade civil em si mesmos, mas as práticas políti
cas e de poder, os modos de atualização da liberda
de e igualdade na sociedade civil e as conquistas da
rea lização da cidadania e dos direitos individuais
(GOHN, 2004, p. 98).
Em se tratando de estratégias, os movimentos so
ciais contemporâneos em plena era da globalização
e da informação atuam em redes, formas de arti
culação que potencializam a ação dos sujeitos que,
interligados por meio de uma teia de relações, am
pliam sua esfera de atuação.
* ANOTAÇÕES
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
212
As TeoriAs ClássiCAs sobre As Ações ColeTivAs
As questões assinaladas conduziram, no nível teórico, a uma reflexão sobre alguns elementos históricos que estruturam a criação dos movimentos sociais. Essa reflexão possibilitará retomar os paradigmas clássicos e contemporâneos. Cabe observar que não se trata de evidenciar a perpetuação de mecanismos de dominação e de determinadas mazelas da cultura
social e da política brasileira, mas de apreender esses
mecanismos e como eles se atualizam.
Esse paradigma clássico foi apropriado por uma nova geração de pesquisadores, tendo como ponto de partida e referencial histórico para essa análise dois motivos: por um lado, a memória histórica das primeiras teorias dos movimentos sociais e ações coletivas e, por outro, as referências e matrizes teóricas de vários conceitos que estão sendo retomados nos anos 1990 pelo próprio paradigma norteamericano (GOHN, 2007).
O período clássico durou até os anos 1960. No
entanto, não há um consenso nas abordagens, o
Conteúdo• Asteoriasclássicassobreasaçõescoletivas
• Teoriascontemporâneasnorte-americanasdaaçãocoletivaedosmovimentossociais
• Teoriasnaeradaglobalização:amobilidadepolítica
• Osparadigmaseuropeus
• Asquestõesbrasileiras
Competências e habilidades• Capacidadedeintroduziroacadêmiconouniversohistóricoesocialdasquestõessociais,apartirda
realidade do Brasil e do mundo
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AULA
2____________________
ASPECTOS TEÓRICOS – HISTÓRICO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL
Un
idad
e D
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Soci
ais
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AULA 2 — Aspectos Teóricos – Histórico dos Movimentos Sociais no Brasil
213
que nos leva a considerar cinco grandes linhas com
diferentes ênfases com características comuns, que
são:
[...] o núcleo articulador das análises é a teoria da
ação social, e a busca de compreensão dos compor
tamentos coletivos é nela a meta principal. [...] A
ênfase na ação institucional, contraposta à não ins
titucional, também era uma preocupação prioritária
e um denominador que dividia os dois tipos básicos
de ação: a do comportamento coletivo institucional
e a do não institucional (GOHN, 2007, p. 23).
Segundo Gohn (2007), podese dividir em cinco grandes correntes teóricas a abordagem clássica sobre ação coletiva, sendo que em três delas os movimentos sociais especificados como teorias e nas outras duas como ações coletivas. A seguir apresentamos as correntes:
1. A Escola de Chicago e alguns interacionistas sim bólicos do início do século. Tida como a pri
meira corrente de teoria sobre os movimen tos sociais, no trabalho de Heebert Blumer (1939).
2. A segunda, desenvolvida ao longo dos anos 1940 e 1950, teve como teóricos Eric Fromm (1941), Hoffer (1951) e Kornhruser (1959).
3. A terceira predominou nos anos 1950 com um viés político forte que articulava as classes e relações sociais de produção na busca do entendimento tanto dos movimentos revolucionários como da mobilização partidária, presente nos trabalhos de Lipset (1950) e Heberle (1951).
4. Combinação das teorias da Escola de Chicago com a teoria da ação social de Parsons.
5. A quinta corrente denominada organizacionalinstitucional, não gerou nenhuma teoria sobre os movimentos sociais.
Elementos comparativos entre as teorias contemporâneas norteamericanas da ação coletiva e as teorias sobre movimentos sociais na era da globali za ção:
Mobilização de recursos Mobilização política
Analisa os movimentos dos direitos civis Impera a política do “politicamente correto”
A psicologia é rejeitada como explicativoA teoria da mobilização política reintroduz a psicologia
social como instrumento para a compreensão do comportamento coletivo
Explica os movimentos sociais no âmbito organizacional formalCom o desenvolvimento do processo político,
o campo da cultura foi reativado
A variável mais importante é a dos recursosO recurso deixa de ser o eixo central condutor das análises e passa a ser o processo político
Dá ênfase à visão economicista, baseada na lógica racional da interação entre os indivíduos
Ênfase na estrutura das oportunidades políticas
Concebiam os movimentos sociais em termos de um setor de mercado, livre e aberto a grupos e ideias
Busca entender a identidade coletiva dos grupos e a interação com sua cultura
A mobilização das bases do movimento é analisada pela ótica econômica
O interacionismo ressurge na forma de interacionismo simbólico
O consenso objetiva a obtenção de recursos financeiros e o conflito, as mudanças sociais
A ênfase está na problemática da consciência política, a qual é aplicada para entender os movimentos
de conflitos e os de consenso
os paradigmas
Os movimentos sociais devem ser entendidos em termos de uma teoria de conflito da ação coletiva
Constrói-se uma nova teoria, que passa a ser denominada “mobilização política”
Refutam a ideia de incluir como movimentos sociais as diferentes formas de ação coletiva
Os atores são competidores em um mesmo cenário, sem que haja contradição de interesses, porque não aborda a problemática das classes sociais
A sociedade é vista como um arranjo estático das elites e não elites, relativamente homogêneo
Resgate da premissa tradicional da ação coletiva
Destaca o caráter estrutural Reforça a análise estrutural
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
214
os PArADigMAs euroPeus
Segundo Gohn (2007), na Europa podese dis
tinguir duas grandes linhas de abordagem sobre as
teorias que determinam o paradigma a partir dos
anos 1960: a neomarxista e a culturalistaacionalis
ta, que se consagrou como a teoria dos Novos Mo
vimentos Sociais.
As características gerais desse novo movimento
seriam:
• omodeloteóricoébaseadonacultura,masne-
ga os valores e normas herdadas do passado. A
ideo logia é deixada de lado e sofre influência
pósestruturalista e pósmodernista de cultura,
cen trando suas atenções nos discursos como
expressões de práticas culturais;
• nega o marxismo como campo teórico, por
tra tar a ação coletiva apenas no nível das estru
turas, da ação das classes;
• eliminaosujeitohistóricoredutordahumani
dade, configurado pelas contradições do capi
talismo e formado pela “consciência autêntica”
de uma vanguarda partidária;
• apolíticaganhacentralidadenaanálise,sendo
utilizada principalmente no âmbito das rela
ções microssociais e culturais;
• osatoressociaissãoanalisadosporsuasações
co letivas e pela identidade coletiva criada no
pro cesso. Ressaltase que essa identidade é
cria da por grupo e não por identidade social.
Segundo Mouffe (apud GOHN, 2007), a novida
de dos novos movimentos deriva das novas manei
ras de subordinação ao capitalismo tardio, no qual
se insurge a banalização da vida social, a burocrati
zação da sociedade e a massificação da vida social
pela poderosa invasão dos meios de comunicação
de massa.
As quesTões brAsileirAs
Na América Latina, mais especificamente no Bra
sil, as questões teóricas voltadas para os movimentos
ganham corpo a partir do final da década de 1970,
quando se fala dos novos movimentos sociais em
encontros, seminários e colóquios acadêmicos.
Os paradigmas desse período são divididos, e isso
se dá no âmbito das interpretações das ações. Se gun do
Gohn (2007, p. 283284), no Brasil o que predominou
nos anos 1970 foram as análises de cunho marxista, in
fluenciadas pela corrente francoespanhola de Castells,
Borja, Lojkine e Preteceille e as análises acionalistas de
Touraine. Na década de 1980, as análises são influen
ciadas por Foucault, Guattari, Melucci, entre outros.
Ainda nos anos 1980, o cenário das lutas no Bra
sil apresenta um conjunto de ações que passam pelo
plano da atuação concreta, da análise, do otimismo
para a perplexidade e, depois, para descrença. Vários
fatores colaboram para isso, inclusive as alterações
nas políticas públicas e na composição dos agentes
e atores que participam de sua implementação, ges
tão e avaliação (GOHN, 2007).
Nos anos 1990, é preciso entender o contexto a
partir da era da globalização, pois o País passa por
transformações econômicas e nova ênfase é dada às
políticas sociais. Nesse cenário destacamse elemen
tos que exercerão grande influência sobre a dinâmica
dos movimentos sociais, principalmente os popula
res. Nesse sentido, podese apontar a crise econômica
que levou à diminuição dos empregos no mercado
formal; as políticas econômicas dão suporte às ati
vidades na economia informal; a economia semicomunitária encontra nas organizações não governamentais uma forma para servir de suporte como estruturas organizativas do processo de produção; e o número de pessoas semteto, morando permanentemente nas ruas, cresce de modo assustador.
Por outro lado, na década de 1990, novas práticas civis surgem no cenário nacional de movimentos que já existiam, mas com uma nova roupagem. Estamos falando do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra, a união Ruralista Brasileira, co mo também os movimentos centrados nas questões éti cas ou de revalorização da vida humana. Mas essas questões serão aprofundadas no decorrer das aulas.
! IMPORTANTE
Por meio dos movimentos sociais, as pessoas se en
volvem em lutas simbólicas sobre os significados e
interpretações dos fatos e coisas.
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AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania
215
o ConCeiTo De CiDADAniA
Na medida em que observamos a constituição de direitos referentes à questão social no Brasil, fazse necessário explicar a maneira como esse processo é pensado em relação à forma como utilizamos, aqui, o conceito de cidadania.
Como ponto de partida, gostaríamos de retomar algumas reflexões e questões clássicas explicitadas pelo sociólogo Thomas H. Marshall, a respeito da cidadania na sociedade inglesa, no período pósguerra; pois ele estava preocupado com a relação democracia e capitalismo. Ressaltando, em seu texto, o que vem a ser a hipótese sociológica latente do ensaio do economista Alfred Marshall:
[Alfred Marshall] Postula que há uma espécie de
igualdade humana básica associada com o conceito
de participação integral na comunidade – ou, como
eu diria, de cidadania – o qual não é inconsistente
com as desigualdades que diferenciam os vários ní
veis econômicos na sociedade. Em outras palavras,
a desigualdade do sistema de classes sociais pode
ser aceitável desde que a igualdade de cidadania
seja reconhecida (MARSHALL, 1967, p. 62).
Então, podemos dizer que a mais recente fase da
evolução da cidadania seria caminhar rumo à igual
dade social. Se este é o caso, para que as argumenta
ções sigam uma lógica realizarseá uma divisão do
conceito de cidadania, distinguindose três dimen
sões: a civil, a política e a social, cada uma relaciona
da a um período formativo.
A cidadania civil teria se desenvolvido no século
XVII, como resposta ao absolutismo, caracterizan
Conteúdo• Oconceitodecidadania
• ArelaçãoentremovimentossociaisecidadanianoBrasil
Competências e habilidades• Capacidadedecompreendereexercitarosignificadodapalavracidadanianocontextosocialque
permeia as relações sociais na sociedade brasileira atual
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2 h/a – presenciais com professor local
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MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
216
dose pelos direitos necessários à liberdade indivi
dual, pela liberdade de ir e vir, de palavra, pensa
mento, entre outros.
Na cidadania política, associada ao século XIX,
desenvolvemse os direitos referentes à participação
no exercício do poder político, com extensão do di
reito ao voto em escala cada vez maior.
Quanto à cidadania social, desenvolvida princi
palmente no século XX, inclui os direitos a um mí
nimo de bemestar econômicosocial, sendo o siste
ma educacional e os serviços sociais as instituições
a ele relacionadas.
A relAção enTre MoviMenTos soCiAis
e CiDADAniA no brAsil
Os direitos do cidadão e do homem e a cidadania
são históricos, resultam das relações e dos conflitos
sociais em determinados momentos da história de
um povo. Ou seja, a formulação e o desenvolvimento
dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e cul
turais seguiram no Brasil e no resto do mundo um
processo marcado por avanços e retrocessos, ao passo
que certos direitos estavam sendo discuti dos e garan
tidos em algum lugar do planeta, em outro continen
te ou país estavam sendo violados ou nem estavam
em discussão. Os direitos que estavam garantidos por
muito tempo passaram a ser negligenciados por con
ta de interesses ideológicos, políticos e/ou econômi
cos. Além do mais, dentro de uma mes ma sociedade,
os direitos do homem e do cidadão não são garanti
dos do mesmo modo a todas as pessoas.
No Brasil, a construção da cidadania e a afirma
ção dos direitos têm percorrido caminhos difíceis e
bastante tortuosos, pois, apesar das influências que
recebemos, construímos um processo diferencia
do nas discussões e na implementação dos direitos
civis, políticos e sociais. Diante dessa constatação,
dividiremos o processo histórico por períodos, a co
meçar pela Independência.
A independência
A proclamação da independência em 1822 inau
gura a era dos direitos políticos na sociedade brasi
leira, mas se caracteriza pelo caráter conciliatório e
de negociação entre a elite nacional, a coroa portu
guesa e a inglesa. A solução monárquica e conserva
do ra estava garantida, e a Constituição de 1824 re
gulou os direitos políticos dos cidadãos e definiu
quem teria direito de votar e ser votado.
Apesar de certo grau de democracia – grande par
te da população adulta masculina podia exercer seus
direitos políticos –, os brasileiros alçados à categoria
de cidadãos pela Constituição de 1824 eram predo
minantemente analfabetos e viviam em áreas rurais
sob o comando dos grandes proprietários, e na ci
dade os eleitores eram em sua maioria funcionários
públicos influenciados e controlados pelo governo.
A escravidão foi o grande entrave para o desen
volvimento dos direitos civis no Brasil, pois negava
a condição de humanidade para as pessoas consi
deradas escravas. Em 1888, quando a elite descobre
que a escravidão impedia a integração do País nos
mercados internacionais, além de bloquear o de
senvolvimento das classes sociais e do mercado de
trabalho, ela finalmente abole a escravidão, mas não
revê o formato de divisão de bens (a terra), pois o
movimento pela independência preservou as elites
nacionais no poder, manteve a nação dividida entre
senhores e não criou um sistema educacional públi
co de qualidade.
Com a urbanização, a industrialização e o surgi
mento de uma pequena classe operária no Rio de Ja
neiro e São Paulo, alguns direitos básicos como a or
ganização sindical, as manifestações e reivindicações
públicas e as greves, aparecem no cenário nacional.
Em 1930, verificase um avanço dos direitos so
ciais com a criação do Ministério do Trabalho e com
uma ampla legislação trabalhista e previdenciária,
culminando com a Consolidação das Leis do Traba
lho (CLT), em 1943.
Em relação ao desenvolvimento dos direitos políti
cos, a instabilidade democrática do País entre 1930 e
1964 alterna ditadura e regimes mais democráticos,
não permitindo uma plena evolução das discussões
sobre os direitos civis e políticos. A liberdade de ex
pressão e de organização chega a ser suspensa no
período ditatorial de 1937. A derrubada de Vargas,
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AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania
217
as eleições presidenciais e legislativas e a Constitui
ção de 1946 garantiram certa estabilidade para os
direitos civis e políticos até 1964. A partir daí, por
conta da ditadura militar, a maioria dos direitos ci
vis e políticos foi restringida pela violência.
os desafios contemporâneos
A década de 1980 inaugura no Brasil novos tem
pos para a questão da cidadania, pois os movimen
tos e organizações do passado se articulam com o
novo, com a Igreja, entre outros, criando uma nova
identidade para os movimentos nesse período, no
qual novas bandeiras foram levantadas. Esses gru
pos eram fortalecidos pela conjuntura internacio
nal, que também destacava as questões dos direitos
humanos como sendo básicos.
Esse processo representa para os brasileiros as
mu danças no cenário político, como também trans
formações mais profundas no seio da sociedade,
mas permanece no País uma enorme concentração
de renda e seus subprodutos, como a miséria e a
exclusão social. Ao lado disso, a atuação omissa e
vacilante por parte do Estado que não promove po
líticas públicas adequadas e suficientes para corrigir
essas desigualdades sociais e regionais.
A garantia dos direitos civis e políticos não resol
veu os problemas históricos da cidadania no País.
Contudo, esses direitos formam um quadro no
qual os movimentos sociais podem aparecer publi
camente trazendo suas reivindicações e propostas,
ocorrendo alternância de grupos políticos no poder.
Ao mesmo tempo, os problemas estruturais e secu
lares da sociedade brasileira podem ser discutidos e
estudados.
o paradigma
Segundo Gohn (2003), as demandas da ação so
cial contrastaram com o sistema vigente. Mas, na
rea li dade, essas demandas não são novas, posto que
“a carência de bens e serviços para os setores po
pu lares, a discriminação social contra os negros,
os índios, as mulheres, o desrespeito à natureza, ou
ain da o problema das crianças pobres nas ruas não
são questões novas no cenário nacional” (p. 203).
Ou seja, nesse período o novo é a forma e o modo
co mo equacionar e encaminhar as demandas e as
pos síveis soluções.
Outro ponto é a nova concepção da ideia de co
munidade, por se tratar não apenas de um locus
geográfico espacial, mas por ser uma categoria da
realidade social, de intervenção, assim como de re
definição dos valores seculares, como os dos direi
tos humanos e a articulação entre os valores morais,
econômicos e o desejo de mudanças políticas.
Para concluir
Podese observar que a questão da cidadania foi
a grande conquista dos movimentos sociais, pois as
pessoas estão se posicionando como protagonistas
da história, na qual a cidadania tutelada dá lugar à
cidadania moderna, fundada na noção de direito à
diferença, mas não somente a vida, mas a autode
terminação como questão de gênero, raça, idade,
manifestação sexual, entre outras. E reivindicase a
participação da sociedade nas questões civis e polí
ticas, no mercado de bens e consumo, como tam
bém a manutenção dos valores culturais.
Conforme Gohn (2003, p. 209), a “concepção de
cidadania que resulta deste cenário busca corrigir
diferenças instituídas, destacando o valor da igual
dade”. A solidariedade volta a ser a mola propulsora
dos grupos sociais e a participação políticas se dá na
esfera da igualdade entre os cidadãos.
* ANOTAÇÕES
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
218
MoviMenTo soCiAl: A luTA Por DireiTos
Quando nos referimos a políticas sociais, enten
demos aquelas ações desenvolvidas pelos governos
e poderes políticos constituídos, uma forma de
ação prática, que se traduz em leis, organizações e
programas de intervenção, orientadas pelo Poder
Público, abrangendo os poderes Executivo, Legisla
tivo e Judiciário. Mas a essa definição de políticas
incorporamos também a observação da maneira
como certos direitos foram estabelecidos e as for
ças sociais que atuaram para isso. Dessa forma, ob
servamos a ação das organizações dos movimentos
sociais, assim como as ações discursivas e as estra
tégias práticas de intelectuais, militantes e políticos
preocupados com as desigualdades sociais.
No contexto deste estudo, configurase como
movimento social a diversidade de grupos e orga
nizações, em seus diferentes graus de envolvimento
com a questão social, que tiveram como um de seus
objetivos melhorar as condições de vida da socieda
de. Abrangeria o conjunto de iniciativas de natureza
política, educacional e cultural incorporando, dessa
Conteúdo• Movimentosocial:alutapordireitos
• OEstadoeaspolíticassociais
• Avançosdaparticipaçãocidadã
Competências e habilidades
• Identificaroselementosquecontribuemeinterferemnadinâmicadosmovimentossociais,apartirdas políticas sociais
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AULA
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POLÍTICAS SOCIAIS – A CONTRIBUIÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
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AULA 4 — Políticas Sociais – A Contribuição dos Movimentos Sociais
219
forma, tanto as reivindicações culturais quantos as referentes às condições socioeconômicas da sociedade, entendendo ambas como estratégias políticas que buscam a garantia de direitos.
Sendo assim, a Constituição de 1988 garante ao cidadão brasileiro total e irrestrito direito no que tange aos direitos sociais, assegurados por meio da assistência social, saúde e previdência, ou seja, o tripé constitutivo da seguridade social que pressupõe a universalidade dos direitos, de forma uniforme e equivalente para as populações rurais e urbanas.
Nesse contexto fazse necessário que entendamos que a “seguridade social enquanto conjunto de políticas e ações de reprodução social dos indivíduos humanos se introduz na agenda de compromissos da humanidade com o advento do capitalismo” (FALCÃO, 2006, p. 111). É nesse cenário da era capitalista que é introduzido um novo modo político de condução da vida societária.
Por meio das investidas dos movimentos sociais, as questões da pobreza ganham visibilidade, não podendo mais ser tratada como fenômeno conjuntural, passando a fenômeno estrutural que decorre de um modo de produção que engendra a exclusão, as desigualdades sociais e a injustiça social (FALCÃO, 2006).
Por outro lado, a seguridade social em seu sentido amplo se apresenta como peça fundamental e estratégica nos pactos estabelecidos pela classe dominante com os diversos segmentos da sociedade, em especial com a classe trabalhadora, garantindo, assim, uma revolução passiva, a qual desenhou uma nova paisagem capitalista, com alguns elementos em destaque:
a) a evolução de um capitalismo individualista e selvagem, para um capitalismo planificado, trans nacional e monopolista;
b) a generalização e mundialização do assalariado;
c) a forte expansão das funções do Estadonação;
d) a introdução de um pacto social com os vários segmentos da sociedade civil, principalmente com a classe trabalhadora;
e) as relações sociais de dominação e poder tomam forma corporativista, funcional, tendo o
Estado como mediador principal.
o esTADo e As PolíTiCAs soCiAis
No Brasil, persiste a modalidade assistencial de
fazer política no campo do social, nos espaços de re
lação entre o Estado e os setores excluídos, o que, se
gundo Yazbek (2006), pode ser traduzido nas ques
tões relacionadas às políticas estatais de corte social
e ao enfrentamento da crescente pauperização das
classes subalternas que têm se constituído em temá
ticas presentes nas análises e estudos das políticas
sociais públicas no Brasil. Por outro lado, o caráter
regulador da intervenção estatal no âmbito das rela
ções sociais tem dado o formato das políticas sociais
no País, que são traduzidas como políticas casuís
ticas, inoperantes, fragmentadas, superpostas, sem
regras estáveis ou reconhecimento de direitos.
Agora, é importante ressaltar que a expansão ca
pitalista no Brasil em sua forma monopolista se dá
pela apreensão de suas ambiguidades, contradições
e desigualdades que se evidenciam de um lado pelo
tratamento impune e selvagem à força de trabalho
e, por outro, na presença de um capitalismo moder
no, marcado pelo avanço tecnológico na industriali
zação e pelas altas taxas de concentração e acumu
la ção, uma vez que, as intervenções do Estado per
meiam o quadro das interlocuções e mediações
que constituem o campo da política social pública,
inscrevendose no bojo das relações sociais.
Assim, o contraste entre miséria e abundância nos
mostra que a evolução econômica capitalista bra si
leira fortaleceu mais a desigualdade do que a di mi
nuiu, pois, para Yazbek (2006, p. 40), embora as po
líticas governamentais no campo social expres sem o
“caráter contraditório das lutas sociais, acabam por
reiterar o perfil da desigualdade no país e mantêm
essa área de ação submersa e paliativa”.
Podese evidenciar que a questão social no Brasil
começa a partir da Primeira República, com o pro
cesso da industrialização e da implantação do ca
pitalismo no País, no qual surgem o operariado e a
burguesia nacional, o acirramento das contradições
entre capital e trabalho como explicação maior da
desigualdade social.
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
220
AvAnços DA PArTiCiPAção CiDADã
A preocupação com a participação cidadã tem sido uma constante ao longo do tempo. Existe intersubjetividade a respeito de que os ganhos para um sistema político são sempre elevados em sociedades que estimulam e possibilitam a ingerência dos cida dãos na determinação do seu destino. A utilização da participação cívica sempre foi considerada fundamental no processo de construção de uma nação.
Desse modo, apontamos alguns avanços que foram construídos na sociedade brasileira a partir da ar ticulação dos movimentos sociais ao longo da história:
• odireitodeamulhervotar;
• odireitoagreveparareivindicarmelhoressa
lários e condições de trabalho;
• aeconomiabaseadanamão-de-obralivre;
• acriaçãodesindicatos;
• agarantiadosdireitoscivisesociais,entreoutros.
* ANOTAÇÕES
DICA
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AULA 5 — A Sociedade Civil e a Construção de Espaços Públicos
221
A PArTiCiPAção PoPulAr no ProCesso
De ConsTrução DAs PolíTiCAs PúbliCAs
Para abordarmos essa discussão, vamos primeiro
entender o que é democracia, a partir da definição
de Bobbio (2000, p. 56), que define a democracia
representativa por meio da participação indireta da
população nos processos decisórios. Nessa forma
de governo, a população elege seus representantes e
lhes confere poder de decisão. Em geral, a expressão
“democracia representativa” significa que as delibe
rações coletivas, isto é, as deliberações que dizem
res peito à coletividade inteira, são tomadas não
diretamente por aqueles que dela fazem parte, mas
por pessoas eleitas para essa finalidade.
Ou seja, um dos elementos fundamentais da de
mocracia representativa é o voto, alcançado me
diante sufrágio universal, que atribui poder aos
eleitos para a tarefa da representação. Esse tem sido,
durante muito tempo, o principal indicador usado
para medir o desenvolvimento democrático. No
entanto, o que deve ser considerado nos dias atuais
são os espaços políticos e não o número de votantes,
pois, “para dar um juízo sobre o estado da democra
tização num dado país, o critério não deve mais ser
o de ‘quem’ vota, mas o de ‘onde’ se vota” (BOBBIO,
2000, p. 68).
A representação é, sem dúvida, um assunto que
tem suscitado muita discussão no universo político.
Diante desse fato, os movimentos sociais, nas déca
das de 1970 e 1980, tinham como objetivo a mu
dança social, configuradas em inúmeras lutas popu
lares para inserir suas reivindicações no texto final
Conteúdo• A participação popular no processo de construção das políticas públicas
Competências e habilidades• Capacidade de conhecer e participar dos mecanismos reguladores das políticas públicas
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AULA
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A SOCIEDADE CIVIL E A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
222
da Constituição Federal de 1988, a qual agregou as
reivindicações sociais no tocante aos princípios da
participação da população nos processos decisórios
e à mudança das práticas de elaboração e execução
de políticas públicas. A Constituição de 1988 repre
sentou um marco no processo de descentralização
políticoadministrativa do País.
O conjunto de inovações trazidas pela nova
Cons ti tuição não significou a efetivação imediata
dos espaços de participação na gestão pública. Por
outro lado, ainda se têm resquícios da cultura pa
trimonialista, mas Gohn (2003, p. 211) ressalta que
“os conflitos sociais contemporâneos têm encon
trado novas formas de se expressar, diferentes das
tradicionais, baseadas na conciliação, na negociação
pessoal. Tratase do surgimento da forma Conselho
como órgão de mediação povopoder”.
A inserção na sociedade civil dos mecanismo de
controle do governo, por meio dos conselhos, viabi
lizou a participação irrestrita das pessoas, pois a par
ticipação popular é entendida como o envolvimen
to da sociedade mediante conselhos, assumindo o
compromisso de trabalhar pela defesa do bemestar
coletivo. Podemos usar como exemplo, a participa
ção no campo da saúde pública, na qual a proposta
de participação popular surgiu como consequência
da redução da confiança da população nas insti
tuições governamentais e se configurou como uma
tendência identificada em várias reformas no setor,
implementadas em diferentes países, ainda que nem
sempre com a mesma denominação. Vários estudos
sustentam a participação popular na elaboração de
políticas públicas de saúde como instrumento de
aperfeiçoamento dos serviços oferecidos (JACOBI,
2002; SERAPIONI, 2003).
Outro exemplo evidente desse compasso entre go
ver no e sociedade civil e a experiência do orçamento
participativo, o qual tem uma visão otimista do ser hu
mano, na qual a participação dos cidadãos na toma
da das decisões públicas somente não ocorre por não
existirem mecanismos institucionais apropriados.
Para concluir
É por isso que discutir o papel da sociedade civil,
enquanto espaço de construção de hegemonia para
* ANOTAÇÕES
incidência dos direitos humanos e, mais, refletir so
bre como a sociedade civil está e/ou pode se organi
zar e responder às demandas das pessoas em geral é
entender como a cartilha do capitalismo neo liberal
articula os direitos humanos nessa mesma socieda
de civil, espaço dos movimentos sociais, que histo
ricamente se consolidaram e se relacionam. A com
preensão e a relação entre essas categorias – neo
liberalismo, sociedade civil e direitos humanos – são
pressupostos para analisar as implicações da desi
gualdade social nas relações cotidianas e as res pos
tas que muitas organizações sociais podem oferecer
a essa problemática. Esse é um caminho que, pen
sado pela ótica das políticas públicas, torna pos sível
(re)pensar as estratégias em execução e as ações que
estruturalmente possam ser arquitetadas no âmbito
da sociedade civil para uma intervenção qua lificada
na garantia dos direitos humanos.
DICA
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AULA 6 — O Caráter Educativo do Movimento Social Popular
223
o CAráTer eDuCATivo Dos MoviMenTos
PoPulAres
Inicialmente, os movimentos populares eram vis
tos apenas como grupos que reivindicavam questões
básicas relativas ao problema da habitação, uso do
solo, serviços etc. Na contramão dessa informação,
essa outra vertente que apresenta um movimento
sociocultural com potencial para uma cultura de
ruptura com a alienação, com a cultura dominante,
no sentido de construir sua própria história.
Conforme Gohn (2003, p. 163), é atribuído aos
“mo vimentos populares urbanos um papel de desta
que no processo de transformação social, como no
vos agentes que buscam construir uma identidade
co letiva, fundada nos interesses dos subordinados”.
No entanto, é importante ressaltar que essa forma
renovada da educação não ocorre por meio de um pro
grama previamente estabelecido, mas, sim, por meio
de princípios que são formulados por agentes ins
titucionais oriundos da articulação da Igreja, de par
tidos políticos, universidades, sindicatos, entre outros.
E sua aplicação e difusão se dão a partir do tra balho
das lideranças da parcela da população orga nizada.
Os trabalhos científicos que tratam dessa questão
se baseiam em artigos, teses e resenhas que foram
realizados sobre a literatura da educação popular.
Conteúdo• Ocarátereducativodosmovimentospopulares
• Aproduçãodasciênciassociaissobreaeducaçãopopular
• Ocarátereducativodefato
Competências e habilidades• Capacidadedeinteragircomadiversidadenosdiversoscamposdasrelaçõessociais
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6____________________
O CARÁTER EDUCATIVO DO MOVIMENTO SOCIAL POPULAR
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
224
A ProDução DAs CiênCiAs soCiAis sobre
A eDuCAção PoPulAr
Na primeira fase da educação popular no Brasil,
pen savase, nos textos elaborados pela ciência so
cial, acerca da identidade nacional e das fases do de
senvolvimento brasileiro, ganhando destaque temas
como: raça, cultura, idiomas, costumes, entre outros.
A década de 1960 sofre influência da sociolo
gia fran cesa, promovendo uma safra de estudos
brilhan tes sobre a realidade brasileira.
Outro aspecto importante desse período, para
Gohn (2005, p. 46), é a fase da teoria da moderniza
ção, que “ocorreu paralelamente aos programas de
educação popular. Isto porque a educação era um
dos pilares fundamentais daquela teoria, na transi
ção da sociedade arcaica para a moderna”. Ou seja,
no processo de apresentação, a educação era um ins
trumento técnico, que continha na realidade carac
terísticas políticas. Ocorrendo, então, na década de
1970, as críticas dos programas e métodos de educa
ção popular, por parte de vários estudiosos.
Por outro lado, a conjuntura política daquele pe
ríodo se voltava para a busca de alternativas para saí
da do regime militar. E tudo que estimulasse o saber
dos oprimidos, as energias da sociedade civil, a fala
do povo era incorporada como alternativa política
possível (GOHN, 2005), tornando a educação popu
lar o centro das discussões. Para ser mais consistente
esse saber, o grupo de assessoria deixa de levar mate
rial pronto e passa a produzir com o grupo o mate
rial a partir da realidade deles, construindo saberes e
estimulando a produção desse conhecimento.
Para Gohn (2005, p. 47), a partir desse momento
tanto a prática social quanto a produção teórica se
reestruturam. Haja vista que, na área da educação,
“os programas ‘alternativos’ da educação popular
se transformam em trabalhos coletivos de equi
pes junto a populações pobres de áreas específicas:
os SemTerra da Zona Leste, os Filhos da Terra da
Zona Norte, os Favelados do Ipiranga etc.”. Nesse
contexto, a educação assume um caráter político
dos trabalhos e desassume seu caráter educacional
para escolarização entrecortado pela politização.
Pressupõese que foram os princípios do sistema
Paulo Freire que embasaram os programas tidos
como progressistas na área da educação popular.
Cabe ressaltar, que se adotou como princípio bási
co da educação popular o desenvolvimento de uma
ação pedagógica conscientizadora, que atuaria sobre
o nível de cultura das camadas populares em termos
explícitos de interesse dela.
o CAráTer eDuCATivo De fATo
Segundo Gohn (2005, p. 51), com o caráter edu
cativo dos movimentos populares, a educação é au
toconstruída no processo, surgindo diferentes fon
tes do caráter educativo, a saber:
a) da aprendizagem gerada com a experiência de
contato com fontes de exercício do poder;
b) da aprendizagem gerada pelo exercício repeti
do de ações rotineiras que a burocracia estatal
impõe;
c) da aprendizagem das diferenças existentes
na realidade social a partir da percepção das
dis tinções nos tratamentos que os diferentes
grupos sociais recebem de suas demandas;
d) da aprendizagem gerada pelo contato com
as assessorias contratadas ou que apóiam o
movimento;
e) da aprendizagem da desmistificação da au
toridade como sinônimo de competência, a
qual seria sinônimo de conhecimento.
À medida que essas fontes e formas de saber vão
se constituindo em instrumento das classes popula
res, os movimentos detêm determinado poder para
atin gir seus objetivos, gerando mobilizações e in
quietações que podem pôr em risco o poder consti
tuído, ainda que seja um poder nos ditos populares.
Mas o saber popular politizado se torna uma
amea ça para as classes dominantes, quando reivindi
ca espaço nos aparelhos estatais, por estar invadin
do o campo de construção da teia de dominação das
redes de relações sociais e da vida social (cf. GOHN,
2005).
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AULA 6 — O Caráter Educativo do Movimento Social Popular
225
* ANOTAÇÕES
! IMPORTANTE
Para delinear de fato o caráter educativo dos mo
vimentos sociais, é preciso conhecer a realidade
que permeia a vida em comunidade, por meio de
experiências de cunho cultural e social. Podemse
citar como experiências que deram certo ao longo
da história ações coletivas do Movimento Negro,
Movimento Indígena, da Ação da Cidadania, entre
outros.
DICA
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
226
uMA AborDAgeM reflexivA sobre
eDuCAção forMAl e não forMAl
Considerase que a “educação é um direito de to
das as pessoas resguardado pela Política Nacional de
Educação independente de gênero, etnia, religião ou
classe social” (BRASIL, 1988), o acesso à escola ex
trapola o ato da matrícula e implica apropriação do
saber e das oportunidades educacionais oferecidas à
totalidade dos alunos com vistas a atingir as finali
dades da educação, a despeito da população escolar.
Conteúdo• Umaabordagemreflexivasobreeducaçãoformalenãoformal
Competências e habilidades
• Compreenderonovosignificadodaeducaçãoinclusivaearepercussãonasociedadeglobalizada
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AULA
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OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A ARTICULAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E SISTEMA
FORMAL DE ENSINO
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Soci
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No entanto, a educação formal, segundo Bour
dieu (1998, p. 53), serve para que sejam favorecidos
os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfa
vorecidos, posto que é “necessário e suficiente que a
escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino
que transmite, dos métodos e técnicas de transmis
são e dos critérios de avaliação, as desigualdades
culturais entre as crianças das diferentes classes so
ciais” em que a igualdade formal que pauta a prática
pedagógica serve como máscara e justificação para
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AULA 7 — Os Movimentos Sociais e a Articulação entre Educação Não Formal e Sistema Formal de Ensino
227
a indiferença no que diz respeito às desigualdades reais diante do ensino e da cultura transmitida.
Devese considerar que a tradição pedagógica só se dirige, subjacente às ideias inquestionáveis de igualdade e da universalidade. Observese, no entanto, que ela não somente exclui as interrogações sobre os meios mais eficazes de transmitir a todos os conhecimentos e as habilidades que a escola exige de todos e que as diferentes classes sociais só transmitem de forma desigual (BOuRDIEu, 1998).
Para cumprir o previsto por lei como direito de todo cidadão, necessitase de uma nova escola que aprenda a refletir criticamente sua função social, bem como seu papel enquanto formadora de pessoas, ou seja, uma escola que não tenha medo de se arriscar, mas coragem de criar e questionar o que está estabelecido, em busca de rumos inovadores. Segundo Gohn (2005, p. 108),
A nova escola deve reconhecer a existência de de
mandas individuais e coletivas, orientarse para a
liberdade do sujeito pessoal, para a comunicação
intercultural e para gestão democrática da socieda
de e suas mudanças. Deve aumentar a capacidade
dos indivíduos de ser sujeitos, de compreender o
outro em sua cultura.
E é nesse campo que a preocupação com o saber, com o conhecimento transmitido pela escola, com o acesso aos bens culturais e com um currículo capaz de ajudar na construção de uma sociedade mais humana e menos excludente faz que os educadores avaliem suas práticas individuais e coletivas.
Se pretendemos oferecer aos alunos um conhecimento significativo, o papel é desconstruir o conhecimento produzido pela cultura dominante e ajudar a construir um outro saber com a participação dos segmentos menos privilegiados de nossa sociedade, ou seja, é preciso que esses segmentos possam participar como sujeitos e com sua real identidade.
Paulo Freire nos auxilia muito nisso. Sua luta contra a educação bancária e, sobretudo, sua construção de uma pedagogia da resistência aos processos de opressão no Brasil e na América Latina são, sem dúvida, uma preocupação ética.
A ética de Freire está justamente na construção
de uma teoriaprática para a libertação dos oprimi
dos, dos excluídos. Ele acredita na possibilidade de
se construir a lógica de uma ética universal do ser
humano, que condena a exploração da força de tra
balho e as atitudes racistas, fundamentalistas e se
xistas. “Nenhuma pedagogia realmente libertadora
pode ficar distante dos oprimidos” (FREIRE, 2004,
p. 41). Pois Freire acredita em uma práxis autêntica,
uma práxis que crie tensão em relação aos valores
estabelecidos, que seja dotado de reflexão e ação e
que se empenhe na transformação.
Diante dessas demandas por uma educação in
clusiva, destacamos as práxis de origem popular, ou
seja, a Educação Popular traz uma pluralidade de
perspectivas, concepções teóricas e conceitos acerca
dessa modalidade educativa, há concordância nas
abordagens de diferentes autores (CALADO, 1999,
1998; GOHN, 2001, 1994; MELO NETO, 1999; SA
LES, 1999; WANDERLEY, 1994), no sentido de que
a Educação Popular se manifesta em um imenso
leque de espaços formais e não formais e em uma
multiplicidade de dimensões sociais nas quais são
tecidas as relações cotidianas em diferentes esferas
do mundo concreto e da subjetividade humana.
Nessa perspectiva, compreendo a Educação Po
pular como uma prática que, independentemente
dos espaços – formais, governamentais, não gover
namentais, alternativos – nos quais se concretiza, se
afirma como uma metodologia orgânica, coletiva e
cooperativa que potencializa as condições de cap
tação, apreensão e leitura crítica da realidade e de
intervenção dos protagonistas dessa ação educativa
na esfera social (econômica, política, cultural), ob
jetivando transformála.
É nesse sentido que Sales (1999, p. 115) expressa
sua concepção de Educação Popular, ponto de vis
ta que serve de referência e fundamentação para as
análises explicitadas neste texto:
A Educação Popular é um modo de atuar e tem
uma perspectiva: a apuração, organização, apro
fundamento do sentir/pensar/agir dos excluídos
do modo de produção capitalista, dos que estão vi
vendo ou viverão do trabalho, bem como dos seus
parceiros e aliados em todas as práticas e instâncias
da sociedade.
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
228
Estabeleceuse, nos últimos anos, uma polêmica
entre teóricos que estudam os movimentos sociais
no campo, uns defendendo, como Navarro (1997,
2002), ser o MST um movimento reformista, com
improváveis potencialidades revolucionárias, e ou
tros, a exemplo de Petras (1997) e Carvalho (2002,
2004), abordando o Movimento dos SemTerra
como um movimento cujas táticas são reformistas,
como a luta por terra e reforma agrária, mas subor
dinadas a uma estratégia revolucionária, um projeto
de construção de uma sociedade socialista.
Em sua abordagem do conceito de Educação Po
pular, Sales (1999, p. 111122) enfatiza a produção do
saber, diferenciando saber e conhecimento ao susten
tar que o conhecimento é apenas uma das dimensões,
a dimensão intelectual, do saber, este enten dido como
entrelaçamento dialético entre o sentir, o pensar, o
querer e o agir das pessoas, grupos, categorias e clas
ses sociais. O saber inclui intelecto, afeti vi dade, von
tade, prática, dimensões humanas que mutuamente
se influenciam e se reforçam. O saber é, portanto,
cultura: envolve a realidade objetiva e subjetiva das
pessoas. No confronto de saberes, nas nossas ações e
omissões, assumimos a condição de educadores, sen
do nossas relações interindividuais e intersubjetivas,
necessariamente, relações pedagógicas.
É por essa razão que, nos movimentos sociais – em
especial no MST, objeto das reflexões apresen tadas –,
a educação não se restringe aos muros da escola, mas
estendese a todos os processos de aprendizagem ge
rados pela experiência cotidiana de luta organizada,
situandose, preferencialmente, no universo da edu
cação informal ou da educação não formal.
A prática educativa que no MST poderíamos de
signar como Educação Popular não desconsidera a
escola como lugar de formação das pessoas, sendo
esse um espaço importante dentro da intencionali
dade pedagógica do Movimento. Para os SemTerra,
no entanto, é nas ações de luta pela terra e em outras
lutas sociais (CALDART, 2000) que são forjados ci
dadãos com maior aprofundamento do seu saber,
mais capacitados, então, para a transformação do
atual modo de organização da sociedade.
Em suma, no MST, a Educação Popular pretendi
da é aquela que deve configurarse como “produção
de uma cultura ou de um modo de sentir/pensar/
agir mais coerente. É a formação de bons lutadores”
(SALES, 1999, p. 119), de sujeitos que experienciam
uma práxis de resistência à exploração e à expro
priação do modo capitalista de produção e que lu
tam por justiça social, soberania popular e dignida
de humana.
Os movimentos sociais são ambiências onde
ocor rem a construção e a reinvenção de saberes
(ANDRADE, 1997; CALDART, 1997, 2000; GRZY
BOWSKI, 1987; NASCIMENTO, 1996; SCHERER
WARREN, 1996). Nesta perspectiva, a inserção de
um sujeito nas lutas pela conquista de direitos civis
e políticos, individuais e coletivos (práxis política)
contribui para o desenvolvimento de competências
discursivas, reflexivas, morais e políticas; para a am
pliação de competências e habilidades no domínio
cognitivo e afetivo; para a compreensão crítica do
mundo e consequente expansão da consciência;
para o empreendimento de ações transformadoras,
individuais e coletivas.
* ANOTAÇÕES
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AULA 8 — Movimentos Sociais em suas Diferentes Expressões
229
esPAços De uM novo AssoCiATivisMo
O associativismo cinge necessidade, interesse e vontade e é o lugar dos debates, das iniciativas, dos acordos.
A organização associativa instrumentaliza os mecanismos que dão concretude às demandas sociais e que fazem dos homens sujeitos de seu próprio destino, tornandoos mais próximos da autonomia na promoção do desenvolvimento local. O Asso
Conteúdo• Espaçosdeumnovoassociativismo
• Asinteraçõessociaisnodecorrerdosséculos
Competências e habilidades• Capacidadede identificar asdiferentes expressõesdosmovimentos sociais apartirdadécadade
1990 no Brasil
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AULA
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MOVIMENTOS SOCIAIS EM SUAS DIFERENTES ExPRESSÕES
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Soci
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ciativismo é a expressão organizada da sociedade, apelando à responsabilização e intervenção dos cidadãos em várias esferas da vida social, e constituiu um importante meio de exercer a cidadania.
A importância e o valor do associativismo decorre do fato de se constituir em uma criação viva e independente; uma expressão da ação social das populações nas mais variadas áreas. Ou seja, o Movimento Associativo é um produto social. Transformase com
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
230
a evolução social, acompanha e participa ativamente dessa transformação e realizase quando tem bem claros os objetivos da sua intervenção e o seu projeto próprio como conteúdo fundamental da sua ação.
As inTerAções soCiAis no DeCorrer
Dos séCulos
Para caracterizar os movimentos em suas mais diferentes e expressivas conotações, começaremos pelas heranças do século XVIII, as quais tinham como características o desejo de liberdade da metrópole. Destacamos os principais acontecimentos:
A Inconfidência Mineira – foi o primeiro movimento a definir com clareza a vontade de independência do Brasil, da colônia portuguesa.
A Conspiração dos Alfaiates – considerada a primeira Revolução Social Brasileira, em razão de seu caráter de movimento social, que uniu a elite e o proletariado da Bahia.
A primeira metade do século XIX é caracterizada pelas lutas, movimentos e rebeliões nativistas, que constituem eventos importantes para a construção da cidadania sociopolítica do País. Mas esses levantes não tinham projetos bemdelineados ou estavam fora do lugar. O mais importante é que as reivindicações giravam em torno da construção de espaços nacionais no mercado de trabalho, nas legislações, no poder político, entre outros, porém, não fomentavam que a escravidão era uma questão a ser tratada e eliminada por não tratar a estrutura de produção, mas sim o modo como ela estava organizada. Nesse período podemse destacar os seguintes movimentos: a Conspiração dos Suassunas, a Revolução Pernambucana, os Atos de Adesões à Revolução no Porto, a Proclamação da Independência do Brasil, a Guerra Cisplatina, a Balaiada, o Movimento Cabanada, o Movimento Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Sabinada, a Revolução Praieira, entre outros.
A segunda metade do século XIX é marcada por lutas em torno da questão agrária, de resistência às oligarquias rurais, que não tinham projetos políticos e/ou ideológicos claros. Sem contar os movimen tos das Associações de Auxílio Mútuo. Como também houve os movimentos que se aproximam das carac
terísticas de movimentos sociais urbanos do século
XX. Nesse sentido, destacamos os seguintes movimentos: as Guerras na Bacia do Prata, a Primeira Greve de EscravosOperários do Brasil, a Luta pela Eleição Direta, a Guerra do Paraguai, a Lei do Ventre Livre, a Revolta de Canudos, a Fundação da Associação Tipográfica Paulista de Socorros Mútuos, o Movimento Abolicionista, o Movimento Republicano, os Movimentos grevistas, o Movimento Estudantil, entre outros.
Os movimentos e lutas sociais no Brasil do século XX seguem uma linha própria e independente dos períodos anteriores. Segundo Gohn (2003, p. 5960), esse século tem “tonalidade própria, criada a partir das novas funções que passam a se concentrar nas cidades. Progressivamente a indústria, e as classes sociais que lhes são caudatárias, orientará as ações e os conflitos que ocorrem no meio urbano”. O que fica evidenciado quando o Estado brasileiro trata a questão social como caso de polícia, por meio do qual as greves serão uma constante e o controle social darseá por meio de leis e políticas restritivas à entrada de trabalhadores imigrantes, com criação de programas sociais integrativos pela Igreja Católica, pelos empresários ou pelo próprio Estado.
Ainda nesse período, da segunda fase, as classes populares começam a emergir como atores históricos sob novos prismas, deixando de ser apenas casos de polícia e se transformando em cidadãos com alguns direitos. Coroando esse momento simbolicamente de lutas dos trabalhadores, embora tenham sido promulgadas como dádivas governamentais, foram conquistas das classes subordinadas em geral (GOHN, 2003).
A terceira fase ficou conhecida como populista, pois foi um tempo fértil para a participação social, trazendo de volta a disputa políticopartidária. Por outro lado,
o Estado passa também a intervir na sociedade por
meio de políticas sociais de cunho clientelístico, ob
jetivando integrar na cidade as massas recémdeslo
cadas do campo, e ganhar sua simpatia por meio de
sistemas de barganhas: o voto pelo melhoria urbana,
de qualquer natureza (GOHN, 2003, p. 91).
A quarta fase é marcada pelo período de resistên
cia ao regime militar, em que ocorreram várias lu
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AULA 8 — Movimentos Sociais em suas Diferentes Expressões
231
tas de resistência e movimentos de protesto no País.
Momento de grande efervescência da esquerda bra
sileira. Em virtude do regime que imperava na so
ciedade naquele momento as articulações ocorrem
na clandestinidade, levando a confrontos armados
como a única via de instalar uma nova sociedade
no País. Os movimentos que mais se destacam nesse
período são: o Movimento Estudantil, a Guerrilha
do Araguaia, a Promulgação do AI5, a implantação
do Movimento das Comunidades Eclesiais de Base
da Igreja Católica no Brasil, a promulgação do Es
tatuto do Índio.
A quinta fase é considerada a mais rica, por ser
uma fase de resistência e de enfrentamento ao regi
me militar, como também de rearticulação da socie
dade civil, uma vez existia um clima de esperança,
de crença na necessidade da retomada da democra
cia, e se acreditava na crença da força do povo, das
camadas populares, que quando organizadas po
dem mudar a história. Nesse período são lançados
vários movimentos feministas, e criada a Comissão
Pastoral da Terra, o Movimento pela Anistia, o Mo
vimento Sindical, o Movimento dos SemTerra, o
Partido dos Trabalhadores, ocorrem grandes greves,
entre outros.
A sexta e última fase caracterizase por ser um
período de intensa movimentação social, em razão
da facilidade de divulgação e reprodução das ações
coletivas pelos meios de comunicação de massa.
Vale ressaltar que as mobilizações coletivas nesse
período partem de um chamamento à consciência
individual das pessoas e elas, usualmente, têm se
apresentado mais como “campanhas” do que como
movimentos sociais (GOHN, 2003). Esse período
apresenta as seguintes mobilizações: a criação da
Central Única dos Trabalhadores (CuT), o Movi
mento DiretasJá, o Movimento pela Constituinte,
o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua, os Movimentos Ecológicos, entre outros.
Podese dizer que ao longo da história o País teve
lutas e movimentos empenhados em mudar sua rea
lidade social, mas ao mesmo tempo em que havia
avanços o retrocesso também existia. Porém, pode
se afirmar que, no final do século XX, pobreza dei
* ANOTAÇÕES
xa de ser sinônimo de exclusão. Então, diante desse
quadro, como ficamos?
Como superar as desigualdades na sociedade
atual, quando não se reconhece a fragilidade do in
divíduo na sociedade? Como enfrentar hoje, pelo
menos no Brasil, um problema que é genericamente
desqualificado como exagero ou manipulação po
lítica, e que muitas vezes aparece realmente assim
envolto? Que pontos mínimos uma agenda social
deve contemplar hoje em dia?
DICA
www.scielo.br
!
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
232
A ConjunTurA Dos MoviMenTos
PoPulAres nos Anos 1990
Nos mais diversos ambientes sociais, é senso co
mum ouvirse falar que os movimentos sociais es
tão em crise e que a descrença e a desmobilização
predominam, gerando uma onda de individualismo
e de relações mais privadas (GOHN, 2005).
Vejamos. Os anos 1980 foram frutíferos para ins
taurar uma nova racionalidade no social, ou seja, o
direito de participar das questões que lhe diz respei
to, interferindo diretamente na cultura política do
País nesse século.
Vale ressaltar, que essa mobilização e organização
dos grupos foram consideradas virtudes com pode
res transformadores e que a crise é parcial, pois, como
diz Gohn (2005, p. 100), os “movimentos são fontes
de ideias e práticas. As práticas fluem e refluem. As
ideias persistem, e se transformam agregando ele
mentos novos, ou negando velhos, segundo a con
juntura dos tempos históricos”.
Conteúdo• Aconjunturadosmovimentospopularesnosanos1990
• Oneoliberalismoinfluenciandoasaçõessociais
Competências e habilidades• Compreenderoneoliberalismonastendênciascontemporâneasdosmovimentossociaisnasocieda
de brasileira a partir do processo histórico globalizado
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AULA
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TENDÊNCIAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA REALIDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
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Soci
ais
! IMPORTANTE
• O grande saldo deste período é a demarcação
de espaços para a voz dos não governantes, como
também a eclosão de novos movimentos que não
são do meio popular.
• Osindicalismodeempresasfoiareferênciapara
o sindicalismo público estatal.
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AULA 9 — Tendências dos Movimentos Sociais na Realidade Brasileira Contemporânea
233
o neoliberalismo influenciando as ações sociais
O debate sobre os direitos humanos na contem
poraneidade requer uma reflexão sobre a consti
tuição das relações sociais e institucionais em um
cenário global marcado pelo capitalismo neoliberal,
pautado pela desconstrução do Estadonação e pela
incorporação da esfera política pela econômica, re
velando uma verdadeira inaptidão para a socializa
ção do poder político e econômico, concomitante a
um novo arranjo dos espaços e das modalidades de
participação social.
Nessa direção, as organizações da sociedade civil,
especialmente as envolvidas na garantia dos direitos
humanos, não devem ser analisadas de forma sepa
rada do contexto sociohistórico em que se inserem.
Para tal, fazse necessário contextualizar brevemen
te o surgimento do projeto neoliberal e algumas de
suas implicações em nossa época, oferecendo subsí
dios para fomentar a discussão relacionada à socie
dade civil organizada.
Conforme Perry Anderson (1996), o neoliberalis
mo nasce em regiões da Europa e da América do Nor
te, em um momento histórico marcado pelo apogeu
da socialdemocracia, visando à reestruturação da
sociedade europeia no período pósSegunda Guer
ra Mundial. A proposta neoliberal surge como uma
crítica teórica e política a essa atuação e tem como
base a obra O caminho da servidão, 1944, do econo
mista austríaco Friedrich Hayeck, que exalta a não
limitação das barreiras comerciais entre os países.
No arco teórico idealizado por Hayeck encontra
se o arsenal com que se ergueu a política neoliberal.
uma proposta que propunha a limitação das regu
lações do mercado conduzidas pelo Estado. Para
Hayeck, essa intervenção representava uma ameaça
às “liberdades” econômicas e políticas, compreendi
da pelo economista, como uma espécie de servidão
moderna1 (ANDERSON, 1996; NETTO, 1994).
O pensamento de Hayeck rapidamente foi ga
nhando adeptos e, em 1947, ocorreu a primeira reu
nião, em Mont Pèlerin, na Suíça, com os partidários
dessa nova ideologia, no intuito de combater a polí
tica de bemestar keynesiana e desenvolver a base de
um capitalismo livre de regras para cerceálo (AN
DERSON, 1996). Como argumento, uma retórica
requintada que apelava para um discurso que tinha
como centro a ideia de liberdade dos cidadãos e da
livre concorrência do mercado, considerados im
prescindíveis para o desenvolvimento da sociedade.
Hayeck concebia o mercado como uma criação
da natureza e não da cultura, por isso a economia
e os direitos sociais deveriam submeterse às suas
leis (VIEIRA, 2001). Sendo assim, o Estado de bem
estar era entendido como destrutivo à liberdade e
à vitalidade da concorrência, cuja desigualdade re
presentava um fator positivo para impulsionar as
sociedades ocidentais (ANDERSON, 1996). A ideia
básica gira em torno da igualdade improdutiva, ao
passo que a desigualdade impelia a competição, de
senvolvia a qualidade, aquecia o mercado e aumen
tava a riqueza; desse modo, o mercado se incumbi
ria de resolver os problemas sociais.
Na década de 1970, a crise do modelo econômi
co pósguerra descerra um campo profícuo para o
for talecimento e propagação das ideias neoliberais.
Para Hayeck e seus colaboradores, o problema da
crise era decorrente da atuação dos sindicatos e do
movimento operário, um calo no sapato que corroía
as bases da acumulação do capital com as reivindica
ções por melhores salários e condições de trabalho,
destruindo os lucros das empresas e desen cadeando a
inflação. A pressão das organizações sindicais perante
1 Para Netto, o liberalismo clássico teve seus pilares destroçados quan do a ordenação do capital entrou na fase do monopólio, pois tornou retrógrado os alicerces do pensamento liberal, favorecendo a re dução do papel do Estado na esfera econômica e social. Ele acredi ta que o neoliberalismo não deixa de ser uma nova concepção do li beralismo, pois está ligado a muitas particularidades deste. O liberalismo que, mediante mistificações ideológicas, acabou por ser res ponsável por confundir e reduzir “liberdade(s) a liberalismo” e a identificálo com democracia, revela aí muito da sua resistência ideo cultural, e é nesta resistência que se ergueu o que nos tempos ho diernos denota a ofensiva neoliberal. Assim, é especialmente no arco ideoteórico polarizado por Hayek e Friedman que a ofensiva neoliberal se apóia. Nesta premissa encontrase o princípio substancial do neoliberalismo: “uma argumentação teórica que restaura o mercado como instância mediadora societal elementar e insuperável e uma proposição política que repõe o Estado mínimo como única alternativa e forma para a democracia” (ver NETTO, J. P. A crise do socialismo e a ofensiva neolibe-ral. São Paulo: Cortez, 1994, p. 77).
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
234
o Estado significava o aumento dos gastos direcio
nados às políticas sociais (ANDERSON, 1996).
Como saída para a crise, os neoliberais prediziam
ser necessário romper com o poder dos sindicatos,
cortar os gastos sociais, a focalização das políticas
públicas e redução da intervenção do Estado na
economia, onde a busca pela estabilidade econômi
ca deveria compor a meta principal a ser alcançada
pelos governos. Isso implicava uma disciplina orça
mentária com severa restrição das políticas sociais,
concomitante à restauração do “natural” índice de
desemprego, uma forma de drenar o poder dos sin
dicatos com o aumento da massa de mãodeobra
disponível (ANDERSON, 1996).
A crise econômica inaugura os anos 1980, conheci
do como a década perdida. As sociedades latino
americanas, que nunca estiveram completamente
alheias às repercussões do capitalismo internacio
nal, viveram um período de baixo crescimento eco
nômico. O acirramento da concentração de riquezas e
o alastramento desenfreado da pobreza se tornaram
cada vez mais extremados, atingindo con tingentes
consideráveis da população e fazendo emer gir inú
meras categorias de pobreza e riqueza. Criamse os
diversos níveis de pobres: os mais ou menos pobres,
os subpobres, os miseráveis2 etc. Ao mesmo tem
po, surgem, o rico extravagante, o rico co medido,
o milionário, o novo rico, o quaserico, o rico com
dinheiro ou investimentos no exterior etc. É dessa
época também o uso indiscriminado do vocábulo
exclusão, característica de um crescimento insu
portável entre os mundos da riqueza e da pobreza
(VIEIRA, 2001).
A nova forma de acumulação do capital inter
nacional, em voga desde a década de 1970, impôs
novos desafios aos países pobres. Assistese ao de
senvolvimento do capital internacional atrelado às
Bolsas de Valores, à especulação financeira e à desregulamentação da economia, fazendo que muitos Estados fossem incorporados nessa dinâmica de forma assimétrica (VIEIRA, 2001).
A pouca capacidade de controle das operações mundiais contribuiu para o solapamento e até desaparecimento de alguns setores econômicos na grande maioria dos Estadosnação. Contudo, alguns elementos mantiveramse intocados, como a facilidade da cobrança de impostos e a desmobilização da oposição (VIEIRA, 2001).
Como consequência desse quadro, pôdese visualizar no Brasil, e na maioria dos países da América Latina, a existência de diversos mundos que se imbricam em distintas realidades políticoeconômicas, sociais, culturais e ambientais. Esses países vivem internamente contradições lancinantes, características que os hierarquizam e os identificam como primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto mundo, paralelo ao crescente alargamento da distância entre um e outro.
O primeiro mundo não está lá fora, está aqui den
tro mesmo, só que devido à desigualdade social
presente no país e à incapacidade de superar a po
lítica oligárquica extremamente fechada e depen
dente, incompetente para a maioria da população,
sobrevém a necessidade de modernizarse pela via
ideológica. A globalização é mais uma dessas mo
dernizações (VIEIRA, 2001).
No Brasil, apesar da dilapidação econômica ocor
ri da durante a década perdida, a sociedade civil or
ga nizada manteve uma atuação expressiva, uma he
rança da luta contra o estado ditatorial que culmi nou
no fortalecimento dos movimentos sociais e organi
zações não governamentais na defesa dos direi tos hu
manos em todo o País. Por isso, ao contrário do que
supunham diversas teorias econômicas – que faziam
uma conexão direta entre a queda dos índices de
crescimento econômico e a apatia política e a anomia
social, a sociedade brasileira respondeu de maneira
positiva mostrando uma grande capacidade de se
organizar perante a ofensiva neoliberal (OLIVEIRA,
1996), cuja conquista da Constituição de 1988 cons
tituiu um marco importante dessa trajetória.
2 Nesse contexto, as políticas sociais se revestem de inúmeras condicionalidades, voltandose cada vez mais para o atendimento dos indigentes, isto é, das pessoas sem condições de gerar renda mínima (ver VIEIRA, E. Estado e política social na década de 90. In: NOGuEIRA, F. M. G. (Org.). Estado e políticas sociais no Brasil. Cascavel: Edunioste, 2001).
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AULA 9 — Tendências dos Movimentos Sociais na Realidade Brasileira Contemporânea
235
No final dos anos 1980, a queda do Muro de Ber
lim contribuiu para a progressão do ataque neolibe
ral, pois simbolizou globalmente – a derrocada do
projeto socialista e a desqualificação da teoria so
cial de Marx – o fim da ideia de revolução (NETTO,
2005). Nesta ótica, a mensagem deixada às socieda
des é clara: os caminhos rumo a uma ordem social
diferente são um engodo. Para “endireitar” essa situ
ação, fezse necessário, mais do que nunca, coroar a
“sociedade livre fundada no mercado”. E novamente
os candidatos considerados mais sensatos foram os
ditos neoliberais, proclamando a invencível “dinâ-
mica do mercado” e o capitalismo do “Estado míni-
mo” como arauto de bons tempos3 (NETTO, 2005).
A desregulamentação dos mercados e de bens e
serviços, a especulação financeira, a abertura econô
mica, a flexibilização das leis trabalhistas e a priva
tização das empresas estatais são marcos da globali
zação neoliberal que irrompem nos anos 1990 com
extraordinária vitalidade. Este modelo tem influen
ciado a economia de inúmeros países até hoje. En
quanto uns se submetem às características de espo
liação econômica, poucos grupos operam as regras
do jogo.
Com a aceleração do processo de globalização,
essa característica tornouse marcante, uma vez que
algumas empresas e grupos econômicos decidem o
destino da humanidade, orientados mais pela es
peculação financeira alienada, do que pela produ
tividade competitiva, acirrando a separação entre a
produção voltada para a satisfação das necessidades
genuinamente humanas e a autorreprodução avas
saladora – pois tudo se torna material, inclusive o
homem –, do capital (DEMO, 2005).
A Terra vive assim uma nova era de conquista, co
mo na época da colonização. Mas, enquanto os
atores principais da procedente expansão conquis
ta dora eram Estados, desta vez são empresas e
conglomerados, grupos industriais e financeiros
privados que pretendem dominar o mundo. Nunca
os Senhores da Terra foram tão poucos e tão pode
rosos. Esses grupos estão situados principalmente
na tríade Estados unidos/união Europeia/Japão. A
metade deles está baseada nos Estados unidos (RA
MONET apud DEMO, 2005).
A corrida pela conquista de praças financeiras
e mercados tornase prioritária ante os países. É a
lógica do capital sem pátria, acirrando as desigual
dades sociais. Os conglomerados internacionais e as
instituições financeiras multilaterais – FMI, Banco
Mundial, BID, Bolsas de Valores etc. – extrapolam
as fronteiras nacionais. A pressão dessas institui
ções orienta as ações de ajuste estrutural nos países
“subdesenvolvidos”, priorizando o desenvolvimento
econômico e o corte orçamentário das políticas so
ciais (ROCHA; FERREIRA, 2006).
Porém, como ressalta Evaldo Vieira (2001), a glo
balização não ocorre de maneira semelhante para
todos os países, já que possui graus e diferenças nas
exigências para participação nas relações mundiais.
Os países pobres não possuem os mesmos trunfos
perante os acordos econômicos, políticos e sociais
travados com os grupos hegemônicos. Por isso, ela
se caracteriza por uma competição desigual na cor
rida pela dominação de mercados e inserção dos
países na economia e cultura mundial. Ao passo que
a suspensão das barreiras nacionais destinadas ao li
vre comércio nem sempre são uma via de mão du
pla, pois os países de capitalismo muito desenvolvido
pregam o livre comércio para os outros, mas não para
eles (VIEIRA, 2001, p. 26).
Assim, a economia global permite que os países
mais ricos invadam mercados internacionais, quase
sempre livres de responsabilidades, fragilizando o
mercado interno e arrastando as regiões mais remotas
do globo para a mesma infernal dinâmica financeira.
Não é à toa que cada uma das cem principais em presas
globais vende mais do que cada um dos 120 paí ses mais
pobres exporta (RAMONET, 2003, p. 11 apud DEMO,
2005, p. 17). Isso representa em torno de 70% do co
3 De acordo com José Paulo Netto, um dos efeitos mais lamentáveis desembocados com a queda do comunismo da exunião Soviética referese à ausência de medo por parte dos ricos, já que não há no mundo hoje – pelo menos por enquanto – um sistema que afronte com credibilidade a ordem atual. Ocorre, com isso, a impressão do poder incontido do capital, já que não existe nenhuma corrente alternativa que faça realmente frente ao sistema políticoeconômico vigente (ver NETTO, J. P. A crise do socialismo e a ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez, 1994).
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
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mércio mundial, complicando ainda mais a desigual
dade social nos países em desenvolvi men to.
No Brasil, por exemplo, um país que apresenta
grandes contradições hierárquicas e de distribuição
de riquezas, a produção de grãos é suficiente para
alimentar a população inteira de alguns países eu
ropeus, contudo mantém internamente taxas para
segurança alimentar. Conforme Galbraith (1987),
essa contradição é um elemento da globalização,
pois o mercado não foi estabelecido para diagnos
ticar e atenuar os problemas sociais e promover os
direitos humanos, tornandose comum a condução
da economia desvinculada de considerações éticas
entre meios e fins.
Ao lado da aparente liberdade, as injustiças so
ciais são exorbitantes. A abundância da produção
de alimentos e o vertiginoso desenvolvimento da
tecnociência e informação convivem com a miséria
crescente da maior parte dos humanos do globo.
Entre os seis bilhões de habitantes do planeta, apenas
500 milhões vivem confortavelmente, ao passo que 5,5
milhões passam necessidades. É o mundo às avessas,
observa Ramonet (RAMONET, 2003, p. 11, apud
DEMO, 2005, p. 15).
Segue o mesmo ritmo das desigualdades a con
centração de capital: a riqueza das 225 fortunas do
mundo, cerca de mais de um trilhão de euros, equi
parase à renda anual de 47% da população mais
pobre do planeta. Desse modo, alguns poucos indi
víduos são mais ricos que países inteiros. O patri
mônio das 15 pessoas mais afortunadas do mundo
é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de
todos os países da África Subsaariana (RAMONET,
2003 apud DEMO, 2005).
Conforme Netto (1994), os prosélitos do capita
lismo parecem ignorar que esse sistema funciona
para cerca de 15% da humanidade apenas, despre
zando, por conseguinte, a generalização da pobre
za que essa ordem vem produzindo. Nas últimas
décadas do século XX, ele se manifesta pela “curva
decrescente” de eficiência econômicosocial, ofere
cendo projeções de progressiva instabilidade e in
segurança, concomitante à incompatibilidade para
com a socialização do poder político e econômico.
No cerne desse processo, reside a violência es
trutural da sociedade capitalista que patrocina o
acirramento das desigualdades e tensões sociais
utilizandose como convém da classe trabalhado
ra, concomitantemente ao aumento da insegurança
no mundo do trabalho e do desemprego. Por outro
lado, os avanços do desenvolvimento tecnológico,
especialmente a automação, não têm significado
pa ra contribuir a melhoria da qualidade de vida do
trabalhador e reduzir os postos de serviços, aumen
tan do os índices de desemprego e miséria.
Até mesmo a crise da falta de emprego cumpre um
papel específico, qual seja, a formação do exército de
reserva. Paralelo a isso, assistese à flexibilização e
precarização do mundo do trabalho, em um esque
ma de terceirização, cuja demissão massi va dos traba
lhadores é efetuada com vistas a uma re con tratação
com salários decrescentes e carga horá ria extensiva
(DEMO, 2005). Assim, cai por terra a cren dice de que
o emprego geraria sociedades mais igualitárias.
Nessa conjuntura, a pobreza, mais do que um in
dicador de uma condição social de classe, tornase
um produto das relações em que se produzem e re
produzem as desigualdades no sistema capitalista.
E, mais do que um não acesso aos bens de consumo,
o capitalismo neoliberal versus inclusão à margem
patrocina a violência e globaliza a pobreza, confi
gurando um quadro definido pela formação econô
mica e social que nos alcança diariamente: trabalho
escravo, remuneração escassa, jornadas exaustivas
e condições de trabalho insalubres, ausência de
educação de qualidade, precariedade dos serviços
públicos, exploração sexual comercial, trabalho in
formal, tráfico de seres humanos, migração forçada,
xenofobia etc.
A devastação do meio ambiente, o consumismo
exacerbado, a mídia de massa e a manipulação in
sidiosa das tecnologias da informação também são
fatores preocupantes da sociedade contemporânea.
O apelo comercial para o consumo, como forma
de bemestar, deixa a sociedade à deriva do mar da
próxima novidade, recriando necessidades huma
nas artificiais e arregimentando o lucro do capital
empresarial.
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AULA 9 — Tendências dos Movimentos Sociais na Realidade Brasileira Contemporânea
237
Até mesmo a escola reproduz os conceitos des
sa mesma sociedade, em um modelo de educação
tecnicista mais voltado para o mercado do que para
a transformação social. O trabalhador é levado a
se apropriar das tecnologias alheias ao questiona
mento da realidade. Com isso, encobre-se que a glo-
balização liberal destrói o coletivo e apropria-se, via
mercado e setor privado, das esferas pública e social
(DEMO, 2005, p. 16). Ou seja, no capitalismo do Es
tado mínimo, os países são levados, seja por motivos
de crise orçamentária, seja pela patrulha ideológica
dos defensores do livre comércio, ao desmonte das
políticas sociais, com a subsequente mercantilização
dos direitos sociais – saúde, educação, previdência
etc. – transformandoos em reles produtos para se
rem vendidos no mercado4 (VIEIRA, 2001).
Nesse contexto de violação dos direitos humanos,
ampliamse as disparidades sociais, tensões, confli
tos, miséria, violência e criminalidade, em paralelo
ao surgimento de novos movimentos sociais é para
a economia a explosão do terceiro setor. So mase a
isso um novo arranjo dos espaços e das modalida
des de participação, o que inclui novas estratégias
de ser/estar nas sociedades pelos sujeitos.
As lutas populares movidas por interesses de
classes foram substituídas, na contemporaneidade,
por outros movimentos: liberação sexual, femi
nismo, visibilidade gay, etc. Enquanto para alguns,
esses movimentos sociais se caracterizam por uma
massa nebulosa de indivíduos atomizados, que nem
sempre se articulam com os demais, para outros, os
novos movimentos oferecem a possibilidade de dis
cussão das diversidades e singularidades escamotea
das pelos movimentos de classe de outrora.
De acordo com Netto (2005), isso revela que a
burguesia aliada às grandes corporações capitalistas
e as instâncias estatais acentuam uma autonomia do
sistema em face das aspirações dos movimentos de
mocráticos, configurando seu caráter contraditório:
a compatibilidade para com a socialização da políti
ca e ao mesmo tempo a incompatibilidade para com
a socialização do poder político.
Diante desse quadro, o debate sobre a sociedade
civil organizada não é neutro e apresenta posições
das mais variadas. Para Mazzeo (1995), o conceito
genérico de sociedade civil organizada que pulula
nos tempos hodiernos não é novo, posto que a socie
dade civil é produto da revolução burguesa, deriva
da da Revolução Francesa. Isso significa que, desde
o período pósrevolução, é na sociedade civil que se
encontram organizadas as classes sociais: burguesia
e proletariado. Por essa lógica, é na própria socieda
de civil que a burguesia exerce sua hegemonia, seja
por intermédio dos aparelhos ideológicos – os veí
culos de comunicação de massa, a Família, a Escola,
a Igreja – ou pelo controle dos meios de produção.
Logo, a sociedade civil é palco das lutas de classe e
contradições, mas também é preciso observar que
os problemas que acometem a sociedade civil são
originários de contextos de classe.
Dessa maneira, Mazzeo (1995) acredita que as
ONG’s representam frações importantes de parcelas
par ti culares da sociedade civil, mas, de outro lado,
re ve lam também, como subproduto, a fragmentação
dessa mesma sociedade.
Podemos dizer que as ONG’s, em seu aspecto ge
nérico, acabam apresentando frações singulares, no
contexto da sociabilidade universal capitalista, o
que significa dizer que, na maioria das vezes, essas
reivindicações, ainda que justas, ficam limitadas a
ações meramente pontuais, de caráter lobbista e re
formista, de curto alcance social (MAZZEO, 1995).
Demo (2005) cita Montaño (2002), que reflete o
posicionamento ambíguo que vem sendo adotado
pelas organizações não governamentais, já que não
querem ser Estado nem mercado, mas usufruem dos
dois, com um certo espírito privatizante neoliberal.
Ao ressaltar que Estado e mercado são elemen
tos históricos vigentes nas sociedades, enfatizando
que é praticamente impossível viver sem eles, Demo
(2005) destaca ser necessário o prevalecimento do
4 Segundo Evaldo Vieira, não existe política social no Brasil hoje. De acordo com ele, política social é uma estratégia governamental de intervenção e não um serviço de distribuição de alimentos, pura e simplesmente (ver VIEIRA, E. Estado e política social na década de 90. In: NOGuEIRA, F. M. G. (Org.). Estado e políticas sociais no Brasil. Cascavel: Edunioste, 2001).
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
238
bem comum, para o qual a garantia do bom fun
cionamento do Estado e dos mercados é condição
decisiva. Por isso, “há que se combater o Estado e
mercado capitalistas” (p. 8), diz ele. E as organiza
ções não governamentais parecem caminhar na
sombra desse quadro, ora transitando em um, ora
em outro.
Todavia, alguns autores apontam uma série de va
lores que caracterizam e diferenciam as organizações
não governamentais do Estado, como a transparên
cia, os métodos participativos de atuação e gestão, a
disponibilidade de aprendizagem, a busca para o de
senvolvimento da sociedade e a justiça social, entre
outros (HAYLEY, 2000 apud PEDLOWSKI, in SILVA,
2002).
Já para Robinson (1997 apud PEDLOWSKI, in
SILVA, 2002), o que caracteriza o real pertencimen
to das ONGs à sociedade civil é a capacidade de
implementar e afetar a formulação das políticas
pú blicas. No outro extremo, Korten (1991 apud
PEDLOWSKI, in SILVA, 2002) afirma ser cada vez
mais frequente a adoção dos valores de mercado
pelas organizações não governamentais, ao mesmo
tempo em que elas acreditam continuar mantendo
seus objetivos estratégicos e de autonomia no forta
lecimento da sociedade civil. Segundo ele, esse hi
bridismo comporá o perfil das ONGs prestadoras
de serviço no futuro.
Outro ponto que merece ser analisado no cenário
que envolve as organizações não governamentais
na atualidade são as reflexões apontadas pelo an
tropólogo Bernard Haurs. Ele chama atenção para
a importância da autonomia das organizações não
governamentais nos países em desenvolvimento, es
pecialmente no que se refere aos recursos financei
ros e a sustentabilidade de suas ações, para que não
dependam dos financiamentos estrangeiros. Para
Haurs, muitas organizações sediadas nos países ri
cos com atuação de campo nos países pobres apre
sentam uma estratégia de recolonização comercial,
composta por métodos de dominação complexos e
revestidas por um viés humanitário. Desse modo,
por trás dos elementos aparentemente inocentes da
“ajuda humanitária” se escondem os interesses de
instâncias da globalização internacional, como es
tratégia para controlar crises e instaurar uma “mo
ral controladora” nos países periféricos.5
Na opinião de Boaventura de Sousa Santos (2005),
a proliferação de discursos, por vezes ambíguos,
sobre o Estado e a sociedade civil revela em parte
a utilização indiscriminada dos esquemas concei
tuais de análise provindos do século XIX, logo in
capazes de se adequar com inteireza aos processos
sociais da atualidade. Por outro lado, a categoria de
Estadonação predomina enquanto suporte de in
vestigação suprema, o que dificulta a compreensão
científica dos processos locais infraestatais e dos
movimentos globais do sistema mundial. Assim,
mesmo com os esforços teóricos inovadores das
últimas décadas, a teoria sociológica ainda se man
tém arraigada às experiências sociais das sociedades
centrais – centrocentrismo –, caindose no risco de
excessiva generalização. Sendo assim, a distinção
Estado/sociedade civil evidencia uma “ortodoxia
conceptual”, cuja predominância no discurso polí
tico também revela uma falência teórica. Portanto,
a discussão nem de longe está encerrada, e precisa,
cada vez mais, lançar luz sobre os processos históri
cos de sua constituição.
5 Ver entrevista: “Bernard Hours: crítica à ideologia humanitária”, por Izabela Moi. Disponível no endereço eletrônico <http://arruda.rits.org.br>. Consultado em: 10 dez. 2007.
* ANOTAÇÕES
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AULA 10 — Redes de Ações Coletivas
239
As Ações ColeTivAs
Neste último ponto, trataremos da nova perspectiva para os movimentos sociais a partir da década de 1990, em que ele assume novas formas de ações coletivas para entendermos o significado político, econômico e cultural. Vinculada a essa discussão, a forma como a sociedade civil se organiza diante desse contexto de crise, no qual impera o individualismo. Por outro lado, existe por parte de alguns movimentos e/ou organizações a preocupação de trabalhar com essas demandas por meio da organização de uma rede que consolide os anseios do grupo em todos os aspectos.
Sendo assim, a atuação em rede é uma resposta à
individualização que desintegra a cidadania. As re
des enquanto forma de relação social que atua segun do objetivos estratégicos, produzindo resultados estratégicos para os movimentos e para a socieda de em geral, se colocam como espaços para uma ação coletiva disposta a defender a esfera pública e de responder à crise da noção de cidadania.
É importante destacar que, no âmbito da presente pesquisa, consideramos que as redes não se constroem exclusivamente de organizações da sociedade civil, mas incluem uma multiplicidade de atores de organizações governamentais e outras de natureza pública, como são as Defensorias e Promotorias de Justiça, as Comissões de Direitos Humanos das Assembleias e Câmaras Legislativas.
Conteúdo• Asaçõescoletivas
• Principaiscaracterísticasdasredesdemovimentos
Competências e habilidades• Capacidadedearticularosmaisdiversosespaçosdeinteraçõesediscussõesdapolíticapúblicana
sociedade
Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no PortalVerificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.
Duração2 h/a – via satélite com professor interativo
2 h/a – presenciais com professor local
6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo
AULA
10____________________
REDES DE AÇÕES COLETIVAS
Un
idad
e D
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Soci
ais
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
240
A organização em redes também contribui para
uma nova leitura da realidade e coloca novos sig nifi
cados às transformações sociais, conforme aponta
SchererWarren (apud GOSS; PRuDêNCIO, 2004). O
destaque é para o fim da crença em uma única orien
tação para a transformação social (desfundamen
talização), a existência de atores diversos reivindican
do projetos distintos (descentramento), o combate
aos essencialismos em direção ao interculturalismo e
o engajamento dialógico na rede, para a superação da
distinção teórica e prática, ou seja, entre a produção
intelectual, a mediação e a militância.
Nesse sentido, a sociedade civil e os movimentos
sociais ligados à defesa dos direitos humanos assu
mem um papel importante, no sentido de fazerem
frente ao discurso hegemônico que pretende legi
timar as relações de poder pelas práticas estigma
tizantes. Considerando que a luta dos movimentos
sociais se dá em um campo discursivo para a con
quista de cidadania, de direitos e, sobretudo, da
li berdade diante das práticas de poder, e que essa
mesma luta está pautada pela democratização das
re la ções sociais a partir da defesa do sujeito, os ato
res sociais que estão assumidamente inseridos na
luta pelos direitos têm pela frente o desafio de de
senvolver identidades de resistências e de projetos
capazes de redefinir a posição dos atores sociais na
sociedade, fazendo que busquem a mudança na es
trutura das relações sociais estigmatizantes.
O advocacy, a mobilização e a ação política e as
intervenções operadas nesse contexto, quando arti
culadas e desenhadas estrategicamente com a parti
cipação dos atores, potencializam esse sujeito que se
descapitaliza socialmente diante da deterioração de
sua identidade enquanto cidadão. Ou seja, a inter
subjetividade remete ao reconhecimento das teias e
das redes sociais, criando um sentido singular de ser
existente, de ser capaz (FALEIROS, 1997).
As redes, portanto, surgem como matrizes pela
qual é possível pensar os direitos humanos e como
respostas da sociedade globalizada e da informação
a demandas apresentadas por essa mesma socieda
de. Pensada não só do ponto de vista técnico opera
cional, mas éticopolítico, as redes sociais pavimen
tam o caminho para ressignificação do ator social
diante de si e do mundo.
O desafio é compreender as organizações em re
des, os movimentos sociais e as organizações da so
ciedade civil, resultado de uma série de composições
históricas, paradoxais, não lineares e, por vezes, an
tagônicas, diante da hegemonia das sociedades de
mer cado globalizadas.
Principais características das redes
de movimentos
Segundo SchererWarren (1996, p. 119122), po
dese fomentar que as redes de movimentos que se
têm formado no Brasil apresentam algumas carac
terísticas em comum, quais sejam:
a) Articulação de atores e movimentos sociais
e culturais. Essas articulações podem ocorrer
de forma diversificada e por razões múltiplas.
b) Transnacionalidade. Este aspecto apresentase
com diferente intensidade nas diversas redes.
Nas ONGs, frequentemente, as suas possibi
lidades de sustentação material encontramse
nas redes de financiamento internacionais.
c) Pluralismo organizacional e ideológico. Ma
nifestase pelo fato de os mesmos atores so
ciais participarem de várias organizações ou
redes, ou pelo fato de a mesma organização
incorporar atores com concepções ideológi
cas ou simpatias partidárias variadas.
d) Atuação nos campos cultural e político. Se os
movimentos sociais da década de 1970 e início
dos anos 1980 tiveram sua relevância na cons
tituição de novos atores sociais e na redefinição
dos espaços de cidadania, as redes de movi
mentos tendem a atuar no sentido da forma
ção de novos sistemas de valores, sobretudo em
relação ao binômio liberdade e sobrevivência.
DICA
www.promenino.org.br
www.interredes.org.br
!
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Referências
241
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Unidade Didática — Movimentos Sociais
243
SEMINÁRIO INTEgRADO
Caro(a) Acadêmico(a),
A unidade didática Seminário Integrado visa a
articulação das unidades existentes no módulo, e a
percepção da aplicação prática dos conteúdos mi
nistrados.
Por meio da interdependência adquirida com as
unidades didáticas deste Seminário, o futuro pro
fissional será capaz de articular a teoria, adquirida
no ensino superior, com a prática exigida no coti
diano da profissão. Para tanto, é necessário o enten
dimento de que os conteúdos, de cada unidade Di
dática, permitirão um estudo integrado, formando
um profissional completo e compromissado com o
mercado de trabalho.
Ao desenvolver esta unidade, você deverá aplicar
todos os conhecimentos adquiridos no decorrer do
módulo, elaborando uma atividade.
A atividade referente ao Seminário Integrado está
disponibilizada no Portal da Interativa.
Bom trabalho!
Professores Interativos do Módulo
Direito Social e Movimentos Sociais
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244
* ANOTAÇÕES
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245
* ANOTAÇÕES
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AULA 1 — Movimentos Sociais
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