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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSITITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO
CURSO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
Terminologia de Conservação de Papel: Uma ferramenta necessária
Silvana Salazar Aranibar
Pelotas, 2011
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SILVANA SALAZAR ARANIBAR
TERMINOLOGIA DE CONSERVAÇÃO DE PAPEL: Uma ferramenta necessária
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis.
Orientador: Ma. SILVANA DE FÁTIMA BOJANOSKI
Pelotas, 2011
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Banca Examinadora:
______________________________________________
Profa. Ma. Andréa Lacerda Bachettini (UFPel)
______________________________________________
Profa. Ma. Silvana de Fátima Bojanoski (UFPel/Orientador)
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Dedico este trabalho à memória de meu abuelito Antonio Aranibar, um homem que sempre valorizou o conhecimento e demonstrou um entusiasmo contagiante pela vida.
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Agradecimentos
Meus agradecimentos aos criadores do Curso por oportunizarem meu encontro com a Conservação.
Agradeço aos professores Caroline, Jeferson, Rodrigo, Maria Leticia, Roberto, Andréa, Jaime, Daniele, Pedro, Keli, Luiza e Francisca pelas lições e pelo empenho em materializar nossos anseios acadêmicos.
Especialmente agradeço à professora Silvana Bojanoski, por personificar as qualidades que eu admiro em um mestre, pela constante assistência durante o estágio, por conduzir pacienciosamente o presente trabalho, pelo entusiasmo e dedicação que confere às disciplinas que leciona, por escutar de verdade aos alunos e principalmente por ter sido comigo uma pessoa meiga, tornando as conversas agradáveis e produtivas
Meus agradecimentos aos funcionários do curso por nos atenderem e acompanharem nestes três anos e meio.
Aos meus colegas mis muchas gracias muchachos! Obrigada por terem sido um grupo comprometido, ambicioso e dedicado, sem deixar de rir e se divertir.
Agradeço ao meu companheiro Roberto, por incentivar meu crescimento, se interessar por meu aprendizado e tornar o cotidiano leve com seu bom humor e aos meus familiares e amigos que mesmo à distância me transmitem seu carinho.
E claro, ―Gracias a la vida que me ha dado tanto...‖
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Let my house not be walled on four sides, let all the windows be open, let all the cultures blow in, but let no culture blow me off my feet.
(Mahatma Gandhi)
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Resumo
SALAZAR, Silvana Aranibar. Terminologia de Conservação de Papel: Uma ferramenta necessária. 2011. 80f. Monografia, Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS.
O presente trabalho objetiva destacar o papel da terminologia da Conservação de Papel como uma ferramenta útil e necessária ao desempenho acadêmico e profissional. Inicialmente, realizou-se um levantamento e exame da literatura em português disponível on-line. Optou-se por priorizar as fontes institucionais, mas também foi incluída em uma amostragem de material coletado aleatoriamente em site de busca. Após analisar os resultados quanto à fonte, tipo de publicação e relação com a Conservação de Papel, efetuou-se a análise de casos de inconsistências terminológicas em português, por meio da identificação das distintas acepções atribuídas ao termo, suas fontes e aplicações, como também das correlações extraídas de referenciais internacionalmente reconhecidos em inglês e espanhol. A partir da análise comparativa e da discussão de cada caso, foram elaboradas sugestões de uniformização. Apesar da disponibilidade de referências reconhecidas em outros idiomas, o aprimoramento da produção científica incentivada pela formação superior na especialidade demanda estudos mais profundos sobre a terminologia da Conservação de Papel e a construção de referencia l terminológico em português.
Palavras-chave: Conservação de Papel, Terminologia, Revisão de literatura, Referencias terminológicos, Formação superior em Conservação, Publicações on-line.
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Abstract
SALAZAR, Silvana Aranibar. Terminologia de Conservação de Papel: Uma ferramenta necessária. 2011. 80f. Monografia, Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS.
This paper aims to highlight the role of Paper Conservation terminology as useful and necessary for academic and professional performance. Initially, a research and a review of the literature in Portuguese available online was carried out. Institutional sources were prioritized, but a sample of material randomly collected was also included. After analyzing the results regarding source, type of publication and relationship with the Conservation of Paper, cases of inconsistencies in terminology in Portuguese were analyzed by identifying different meanings attributed to the term, its sources and applications, and also by the correlations drawn from internationally accepted references in English and Spanish. Given the comparative analysis and discussion of each case, standardization forms for the terms were suggested. Despite the availability of acknowledged references in other languages, improving the scientific production encouraged by higher education in the specialty demands further studies about Paper Conservation terminology and the construction of a reference in Portuguese.
Keywords: Paper Conservation, Terminology, Literature review, Terminological References, Degree in Conservation, Online publications.
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Lista de Figuras
Figura 1 Procedimento realizado em agosto de 2011 sobre selo em papel de pergaminho
pertencente ao acervo do Laboratório Leivas Leite………………………….…..…16
Figura 2 Print Screen de entrada no Dicionário brasileiro de terminologia
arquivística…………………………………………………………...…………….……48
Figura 3 Print Screen de trecho do sumário do fascículo ―16. Washing‖ do
PCC…………………………………………………………………...……………….…55
Figura 4 Print Screen de definição conferida pelo BPG ao termo washing em seu
catálogo………………………………………………………………………………….55
Figura 5 Diploma em papel do acervo Leivas Leite datado de 1933…………………..……62
Figura 6 Remoção de sujeira superficial com trincha de cerdas macias em pergaminho de
1890…………………………………………………………………………………..….65
Figura 7 Remoção de acúmulo de sujeira com o uso de bisturi em diploma em papel de
1933 do acervo Leivas Leite……………………....…………………......…………...65
Figura 8 Pedaço de papel japonês aplicado com adesivo à base de metilcelulose para
evitar perdas no selo em papel enquanto se realizava a remoção de cera com
bisturi no verso……………………………………………………………………….…68
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Lista de Tabelas
Tabela 1 Publicações on-line disponibilizadas em sites de instituições contendo
referenciais terminológicos em português............................................................43
Tabela 2 Publicações on-line identificadas aleatoriamente contendo referenciais
terminológicos em português................................................................................51
Tabela 3 Referenciais terminológicos em inglês..................................................................57
Tabela 4 Referenciais Terminológicos em espanhol...........................................................60
Tabela 5 Opções de termos para o Caso n°1......................................................................63
Tabela 6 Opções de termos para o Caso n° 2.....................................................................66
Tabela 7 Opções de termos para o Caso n° 3.....................................................................69
Tabela 8 Sugestões para uma uniformização terminológica...............................................72
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Lista de Abreviaturas e Siglas
ABER Associação Brasileira de Encadernação e Restauro
ABRACOR Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores de Bens
Culturais
AIC American Institute for Conservation of Historic and Artistic Works
APCR Associação Paulista de Conservadores e Restauradores de Bens
Culturais
BPG Book and Paper Group do American Institute for Conservation
CNCR Centro Nacional de Conservación y Restauración de Chile
CONSERVAPLAN Catálogo de Conservación de Papel del American Institute for
Conservation/ Book and Paper Group
CoOL Conservation OnLine
EBA Escola de Belas Artes
FAC The Fine Arts Conservancy / Stoneledge Inc.
FBN Fundação Biblioteca Nacional
ICOM-CC International Council of Museums-Committee for Conservation
ICOMOS International Council on Monuments and Sites
IFLA International Federation of Library Associations
IMC Instituto dos Museus e da Conservação de Portugal
IPCE Instituto del Patrimonio Cultural de España
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SENAI/SP Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo
UFPEL Universidade Federal de Pelotas
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UNB Universidade de Brasília
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Sumário
Introdução 12
1 Relação entre Conservação de Papel e Terminologia. 20
1.1 Definição de Conservação. 20
1.2 Definição de Conservação de Papel. 24
1.3 Aspectos da implementação da Conservação de Papel no Brasil 25
1.4 Noções sobre Terminologia 29
1.5 A Terminologia e sua aplicação em áreas de conhecimento específico. 31
1.6 Terminologia como ferramenta de auxilio ao estudo da disciplina Conservação de Papel 34
2 Referenciais terminológicos de Conservação de Papel em português 37
2.1 Procedimentos de pesquisa por publicações on-line com referenciais terminológicos de Conservação de Papel 38
2.2 Publicações disponíveis em sites institucionais nacionais. 39
2.3 Publicações identificadas aleatoriamente no Google 44
2.3 Publicações identificadas aleatoriamente no Google 44
3 Inconsistências na terminologia de Conservação de Papel em português: Correlações com a terminologia em inglês e espanhol. 52
3.1 Referenciais terminológicos em idiomas estrangeiros 52
3.1.1 Referenciais terminológicos em inglês 53
3.1.2 Referenciais terminológicos em espanhol 57
3.2 Análises de casos de Inconsistências terminológicas em português 60
3.2.1 Caso n° 1: Qual a designação de conteúdo e/ou elementos sobre o suporte em papel? 62
3.2.2 Caso n° 2: Higienização e/ou Limpeza? 64
3.2.3 Caso n° 3: Consolidação, faceamento, laminação, reforço ou velatura? 68
3.3 Sugestões de possíveis uniformizações 71
Considerações Finais 73
Referências 75
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INTRODUCÃO
Um recado, um poema de Neruda, uma composição musical de Villa Lobos, uma lei
que aumenta o número de vereadores no município de Pelotas, as primeiras letras de quem
está sendo alfabetizado, uma declaração de amor, um desenho à lápis, a planta de uma
casa, uma receita médica, um projeto de ensino, uma pintura pastel de Degas, uma ata de
constituição de um clube, um acordo de paz, o registro de nascimento de uma criança, a
certidão de seu óbito, a vida e obra de Da Vinci escrita por Vasari e um origami tsuru fazem
parte da infinidade de manifestações produzidas pela humanidade que encontram no papel
um suporte para seu registro.
Torna-se uma tarefa difícil a de encontrar alguns outros elementos que se
assemelhem em versatilidade ao papel e à eficiência deste material em satisfazer a
criatividade humana, a qual nele encontra uma forma de ser concretizada.
Isto, aliado às características de ser um material globalmente difundido e
geralmente de baixo custo, portanto amplamente acessível sem encontrar barreiras ou
restrições de cunho regional ou culturalmente impostas, faz do papel um suporte ímpar para
registros documentais, artísticos, históricos e culturais, enfim para registro de informações.
A História da Humanidade nos narra que desde os tempos ordinariamente
denominados ―das cavernas‖, os homens já expressavam sua necessidade de manifestar
suas impressões, necessidades, sensações. Imagens desenhadas nas paredes de pedras,
como as pinturas rupestres encontradas há 70 anos na gruta de Lascaux (FRANÇA, 2011),
que datam de mais de 17.000 anos, elucidam e conservam vestígios do quê o homem
pensava ou fazia na pré-história.
Assim, desde os primórdios, uma variedade de materiais, tais como a pedra, os
papiros, o couro de animais, folhas de plantas e etc. foi sendo empregada e usada pela
humanidade como suporte para aquele mesmo propósito que fez com que animais e rituais
fossem reproduzidos pelos antepassados nas paredes das cavernas.
Aqui cabe questionar como, mesmo, após milhares de anos e transformações que
ocorreram no mundo, às sociedades contemporâneas lhes é possível desfrutar, admirar,
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estudar, indagar, estudar, interpretar, absorver ou mesmo contrariar as informações contidas
nessas imagens?
Pois é precisamente no seio da resposta para essa indagação que recai a essência
da ciência da Conservação a qual, acima de meras preocupações estéticas (embora estas
não sejam excluídas), possui como objetivo geral a missão de possibilitar que os bens
culturais constituídos dos mais distintos materiais não sucumbam à passagem do tempo,
para que assim, como registros, possam alcançar as próximas gerações.
A ciência da Conservação, assim como as demais, é bastante complexa e se
desenvolve ao longo do tempo através de pesquisas, experiências frente a acontecimentos,
observações e estudos. Entre suas características, considera-se que uma das mais
marcantes seja a de se tratar de uma ciência altamente interdisciplinar e de aplicação muito
abrangente, uma vez que em sua composição curricular reúne conhecimentos advindos das
áreas humanas, exatas e biológicas, não sendo possível dominar seu conteúdo para a
prática profissional a partir do estudo de apenas uma dessas vertentes de conhecimentos.
Para a concretização de sua finalidade, o trabalho em prol da preservação dos bens
culturais por meio da Conservação prescinde de profissionais que estejam capacitados
técnica e teoricamente para tomar as medidas conforme os ditames práticos estabelecidos e
atuar obedecendo às especificidades éticas dessa ciência.
Antigamente, nos conta o pioneiro na conservação de obras de arte nos Estados
Unidos - Sheldon Keck (1984), que durante os séculos XV, XVI e XVII ocorreram frequentes
registros de reclamações sobre trabalhos de restauro executados em pinturas, sob o
argumento de terem destruído obras de arte, isto porque, as tarefas de limpeza e restauro
eram realizadas em ateliês artísticos e atribuídas a outros pintores, os chamados ―artistas-
restauradores‖, então, relata o autor que foi a partir desses acontecimentos que a figura do
especialista dedicado exclusivamente aos cuidados das obras de arte começa a aparecer no
século XVIII.
Narra Keck (1984) que durante o preparo do acervo para a inauguração do Museu
do Louvre entre 1792 e 1793, aproximadamente 200 pinturas, algumas obras-primas de
artistas como Rubens, Poussin e Corregio, teriam sido arruinadas pela limpeza e restauro
executados por um grupo de ―artistas-restauradores‖, causando indignação em outros
artistas, como em Jean Jacques Louis David, quem reconhecia na pátina do tempo um
elemento constitutivo da obra de arte dos grandes mestres da pintura.
Este caso e sua reverberação na época representam o mais emblemático
questionamento instaurado a respeito da necessidade de um tipo de qualificação específica
que uma pessoa deveria possuir para ser considerada apta a intervir em obras de arte.
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Assim, ao longo do tempo, por uma demanda, a ciência da Conservação foi se
configurando, adquirindo critérios próprios, se estabelecendo nas áreas de conhecimento e
ganhando reconhecimento ao redor do mundo.
Restando claro que, embora a Conservação seja uma ciência que possa ser
praticada por profissionais oriundos das mais variadas carreiras devido à
interdisciplinaridade de conhecimentos que demanda, tais como química, biologia,
arquitetura, arqueologia, história, física, pintura, e etc.; atualmente, no meio onde a ciência
da Conservação é discutida com propriedade por especialistas, prepondera o entendimento
de que uma formação especializada em conservação e restauro é o desejável para quem
almeja se dedicar aos cuidados em prol da longevidade dos bens culturais.
No Brasil, a preocupação com a preservação pode ser considerada recente em sua
história, considerando também que a história do país é recente em relação ao velho mundo.
Somente no início do século passado, mais precisamente em 1936, o tema foi abordado
oficialmente.
Nessa época Gustavo Capanema, titular do Ministério da Educação e Saúde do
Governo Getúlio Vargas, manifestou-se interessado na preservação do patrimônio nacional
e teve a iniciativa de encarregar ao artista modernista paulistano, Mário de Andrade, a
elaboração de um anteprojeto de Lei versando sobre a salvaguarda dos bens patrimoniais,
além disso, atribuiu ao intelectual Rodrigo Melo Franco de Andrade a tarefa de implementar
o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Assim, como resultado desses esforços, ações voltadas à salvaguarda do
patrimônio nacional foram institucionalizadas pela Lei n° 378 de 13 de janeiro de 1937, pela
qual se criou o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão com a
missão de ―promover e coordenar o processo de preservação do Patrimônio Cultural
Brasileiro para fortalecer identidades, garantir o direito à memória e contribuir para o
desenvolvimento socioeconômico do país.‖ (IPHAN, 2011)
A demanda por uma mão-de-obra qualificada em conservação e restauração foi
sendo suprida por profissionais com formação em escolas voltadas para a área, no entanto,
em sua maioria, localizadas na Europa.
No Brasil, como já mencionado anteriormente, a preocupação com a salvaguarda
dos bens patrimoniais somente foi alavancada no fim dos anos 30 do século passado e a
maioria dos aspirantes, em tornar-se um conservador-restaurador de profissão, geralmente
recorriam aos centros de estudos europeus.
Dentro do país, a conservação era principalmente exercida por artistas com
formação no exterior e a formação acadêmica do conservador-restaurador foi inicialmente
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ofertada em cursos técnicos, especializações e pós-graduações, tais como o curso técnico
de Conservação e Restauro de documentação gráfica do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial - SENAI/SP, em parceria com a Associação Brasileira de
Encadernação e Restauro – ABER, e a especialização em conservação e restauro de bens
culturais1 do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (CECOR) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é uma das instituições pioneiras ao
ofertar a Conservação e o Restauro de Bens Culturais Móveis como um curso de ensino
superior2 no sul do país.
O curso, inicialmente de caráter tecnólogo e atualmente bacharelado, versa sobre o
estudo de teorias e técnicas voltadas para a conservação e o restauro de bens culturais
móveis que se enquadram em três grupos segundo o suporte: papel, madeira e pintura,
embora outros tipos de suportes, como cerâmica e vidros, já sejam objeto de estudo em
disciplinas optativas.
A disciplina de Conservação de Papel3 é uma área muito dinâmica devido à
complexidade das questões que o trabalho com a conservação e restauro de papel pode
suscitar, de tal forma que a formação dos alunos exige não somente adequada estrutura
física para as práticas como também específica bibliografia, mais especificamente de
referenciais terminológicos da área.
De forma que, a presente pesquisa surge a partir das experiências obtidas durante
as atividades desenvolvidas nessa disciplina, pois o trabalho com objetos de suporte em
papel (documentos gráficos, bibliográficos e obras de arte) emergiu a necessidade de
comunicar as informações de forma científica e clara.
Durante as atividades práticas, os acadêmicos são requisitados a preencher fichas
cadastrais dos objetos, a descrever os objetos e registrar as propostas de tratamento, além
de inserir todas as medidas tomadas ao longo de todo o processo de conservação. Para
tanto, e diante de questionamentos como “Qual termo designa o procedimento da Figura
01?”, a terminologia científica se mostrou essencial.
1 Atualmente o curso é oferecido na modalidade de curso de graduação dentro da UFMG.
2 Segundo Roberto Heiden (2011), atualmente em funcionamento no país há cerca de oito cursos de
graduação em Conservação e Restauro, os quais são ofertados tanto por instituições públicas como privadas e todos foram criados a partir de 2005. 3 Neste ponto, torna-se pertinente esclarecer que a nomenclatura Conservação de Papel é a adotada
ao longo do presente trabalho em virtude da definição de Conservação proposta pelo ICOM-CC, embora esta especialidade da Conservação receba outras denominações, como por exemplo, Conservação e Restauro de Papéis (UFPel, 2011)
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Figura 1. Procedimento realizado em agosto de 2011 sobre selo em papel de pergaminho pertencente ao acervo do Laboratório Leivas Leite.
Fonte: Silvana Salazar.
Uma pesquisa sobre a produção científica e acadêmica publicada no Brasil sobre a
Conservação de Papel resulta em uma maioria de trabalhos versando sobre relatórios de
atividades de conservação e restauração que foram executadas em acervos bibliográficos,
sendo tais medidas relatadas de forma técnica e concisa.
Evidente que a disponibilidade de informações representa uma ferramenta
essencial de referência que auxilia o profissional da área da Conservação de Papel no
planejamento de ações e discussão de resultados. Entretanto, mesmo se tratando de uma
ciência, a Conservação é recorrentemente abordada a partir de um ponto de vista
meramente prático, de forma que as informações em grande parte das publicações, por
vezes, assumem um caráter artesanal.
Isto, talvez, possa ser reflexo do fato de a Conservação de Papel encontrar amplo
campo de aplicação em instituições detentoras de acervos bibliográficos para consulta, ou
seja, bibliotecas e arquivos, onde os cuidados do acervo estão predominantemente sob a
responsabilidade de profissionais com carreiras em subáreas da ciência da informação, tais
como a biblioteconomia e arquivologia, que não são necessariamente portadores de uma
formação específica e aprofundada na ciência da Conservação e do Restauro.
Assim, esperado o fato se deparar com uma escassez de obras e trabalhos
publicados que desenvolvem e tratam de pesquisas científicas e dos aspectos humanistas
que compreendem e caracterizam a Conservação de Papel, destacando que, assim como
nas demais especialidades da Conservação, o profissional qualificado nesta área prescinde
de um senso crítico embasado nas questões culturais, éticas e sociais que circundam a
prática de seus conhecimentos técnicos.
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Inesperadamente, quando uma terminologia específica de uma área é estabelecida,
não se está restringindo seu objeto e nem as suas fontes de consulta restam reduzidas, na
realidade, entende-se que a terminologia serve como uma ferramenta disponível ao
estudioso que lhe facilita a identificação de referências e a descrição de suas atividades
práticas e que, ao mesmo tempo, promove uma maior disseminação de experiências na
mesma área de conhecimento e consequente amplo acesso.
Segundo Maria da Graça Krieger (2006, p.45), coordenadora do Termisul – Projeto
Terminológico ConeSul da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os termos técnicos-
científicos transmitem conceitos próprios do conhecimento científico, além de designarem
componentes e produtos resultantes de técnicas e tecnologias.
Considerando essa função, em 2006, diante do crescente número de profissionais
atuantes na área da conservação oriundos das mais variadas culturas, assim como da
proliferação de termos utilizados para definir a conservação e suas atividades basilares, o
Comitê para Conservação do Conselho Internacional de Museus4 (ICOM-CC, 2006)
implantou uma força tarefa com o objetivo de adotar uma terminologia para superar as
confusões causadas pelo pluralismo de termos empregados, possibilitando, dessa forma,
uma ampla comunicação mais clara e confiável entre os profissionais e destes com a
comunidade.
Então, sob o comando do renomado conservador Gaël de Guichen 5, uma equipe
formada por oito profissionais membros do ICOM-CC congregou esforços para cumprir a
tarefa de alcançar as definições mais adequadas de ciência da conservação e de suas três
linhas de ação, num trabalho que duraria pouco mais de dois anos. (GUICHEN, 2007, p.8-9)
Inicialmente a equipe, denominada Força Tarefa, trabalhou via e-mail para produzir
o primeiro rascunho que seria apresentado em 2007. A partir disso, o conteúdo passou por
uma série de revisões e discussões entre os membros da Força Tarefa (representando
diferentes disciplinas e culturas) e os coordenadores dos grupos de trabalho (vidro e
cerâmica, vidro, metal, etc) do ICOM-CC. O texto foi originalmente elaborado em inglês,
embora a maioria dos membros da Força Tarefa não fosse falante nativo, o que não foi
considerado como uma fraqueza, já que o alvo da resolução era a comunidade
internacional. (GUICHEN, 2008, p.01)
4International Council of Museums – Committe for Conservation, criado em 1946, ICOM é uma
organização não governamental que mantém relações formais com a UNESCO e que atua como consultora do Conselho Social e Econômico das Nações Unidas (tradução livre). 5 Gaël de Guichen é engenheiro químico de formação. Quando responsável pela conservação da
Gruta de Lascaux, ele entrou no centro de formação de conservadores-restaurdores do ICCROM em Roma em 1969, onde fez sua carreira. Entre outros cargos, foi responsável por museus e liderou programas de promoção à preservação na África subsariana. (SUD PLANÈTE, 2011)
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Assim, no ano de 2008, durante a décima quinta Conferência Trianual ocorrida na
cidade de Nova Délhi, capital da Índia, entre os dias 22 e 26 de setembro, o ICOM-CC
anunciou o resultado desse trabalho na forma de uma resolução sob o título ―Terminologia
para Definir a Conservação do Patrimônio Cultural Tangível‖, a qual apresentou as
definições dos termos Conservação, Conservação Preventiva, Conservação Curativa e
Restauração elaboradas no idioma inglês com suas correlações em francês e espanhol (os
outros dois idiomas oficiais da organização) para o caso de publicações internacionais.
(ICOM-CC, 2008)
Essa iniciativa do ICOM-CC não deixa dúvidas sobre a importância do uso de uma
terminologia adequada e específica para uma comunicação efetiva, que deve ser adotada
pela classe de profissionais que trabalham na área da Conservação e do Restauro. Desta
forma também ocorre em outras áreas de conhecimento, a terminologia científica torna-se
uma ferramenta de estudo, pesquisa e disseminação ao aproximar trabalhos realizados por
profissionais ao redor do mundo que compartem o mesmo tema e interesse.
Nesse contexto, o presente trabalho se relaciona com a formação acadêmica na
disciplina da Conservação de Papel e a disponibilidade de referenciais terminológicos em
português, propondo uma reflexão sobre questões relativas à sua terminologia, uma vez que
se considera esta um importante elemento do substrato teórico-técnico que caracteriza e a
diferencia das demais disciplinas, facilitando sua compreensão.
Para situar o tema, no primeiro capítulo traça-se um panorama histórico da
disciplina de Conservação de Papel, a forma como é ministrada em curso superior e como
vem se desenvolvendo no campo científico. A terminologia científica é abordada como uma
ferramenta essencial o desenvolvimento de áreas específicas de conhecimento, útil tanto na
vida acadêmica quanto para a formação profissional, destacando-se as características que
auxiliaram o desenvolvimento científico da Conservação de Papel.
Objetivando conhecer o que já foi produzido sobre o tema, no segundo capítulo
apresenta-se uma pesquisa focada nos trabalhos publicados e disponíveis em português
para consulta on-line que tratam especificamente ou se relacionam com a terminologia da
Conservação de Papel, atentando inicialmente para material chancelado por instituições
reconhecidamente comprometidas com a preservação de bens culturais.
No terceiro capítulo estudam-se casos de inconsistências terminológicas em
português, apresentando, inicialmente, referenciais terminológicos selecionados em idiomas
estrangeiros que serviram de apoio para analisar e correlacionar os termos questionados
nas singelas sugestões de uniformização terminológica.
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Impressões sobre as publicações levantadas em português, a participação das
instituições no estudo do tema, a importância que ganha a terminologia de Conservação de
Papel para o enriquecimento da formação e do trabalho profissional na área e a proposta de
estudos mais extensos e aprofundados são apresentadas nas considerações finais.
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1. RELAÇÃO ENTRE CONSERVAÇÃO DE PAPEL E TERMINOLOGIA
Uma das primeiras indagações que surge diante da proposta do presente trabalho -
a qual, em linhas gerais, consiste em abordar alguns aspectos sobre uma terminologia
específica para a área da Conservação de Papel; destacar alguns de seus termos; discutir
definições desses e correlacioná-los com suas versões em espanhol e inglês - incide sobre
se é realmente necessário aos acadêmicos de um curso superior de Conservação e
Restauro consultar publicações com conteúdo desse caráter. Seriam pertinentes estudos
sobre este aspecto epistemológico da disciplina de Conservação de Papel? Seriam
auxiliares aos conservadores-restauradores de Papel no desempenho de suas ações sobre
os bens culturais?
Para a melhor compreensão acerca desta necessidade, uma contextualização
sobre as disciplinas de Conservação de Papel e de Terminologia, as quais convergem no
tema em questão, torna-se pertinente. A seguir discorre-se sobre essas duas disciplinas,
destacando-se os principais aspectos que nos levam a respostas afirmativas para as
indagações acima colocadas.
1.1. Definição de Conservação
Uma definição de Conservação de Papel pode ser delineada a partir do
entendimento do que é a Conservação de Bens Culturais. O termo conservação na língua
portuguesa é definido tanto como ―preservação contra dano, perda ou desperdício‖, como
também um ―conjunto de medidas permanentes para impedir que se deteriorem com o
tempo objetos de valor, como monumentos, livros, obras de arte etc.‖, (HOUAISS; VILLAR
2009).
A segunda acepção acima que define a conservação como um conjunto de
medidas condiz conceitualmente com as definições estabelecidas no âmbito dos cuidados
dos bens culturais. Nesta linha, Ana Maria Calvo Manuel nos apresenta a seguinte definição
na forma de verbete:
Conservación. – Se entiende como tal el conjunto de operaciones y técnicas que tienen como objetivo prolongar la vida de los bienes culturales. Para conservar los objetos hay dos caminos: la prevención del deterioro (conservación preventiva o preservación) y la reparación del daño (restauración). Ambas se complementan, pero la restauración es
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consecuencia de la indeficacia o ausencia de médios preventivos. La conservación se plantea como finalidad mantener las propriedades, tanto físicas como culturales, de los objetos para que pervivan em el tiempo com todos sus valores. Tan importante es el soporte o elementos materiales, como el mensaje o elementos sustentados en el objeto. Se pretende conservar la integridad física y la funcional (capacidade de transmitir la información que encierra). (2003, p.63)
Salvador Muñoz Viñas (2010 a, p. 18-19), em sua obra Teoría Contemporánea de
la Restauración, ao perguntar o que é a conservação, inicialmente articula que ―La
conservación es la actividade que consiste em evitar futuras alteraciones de un bien.‖. No
entanto, o mesmo analisa que essa definição elaborada em função de um fato resulta na
sujeição da conservação ao sucesso de suas atividades e observa que nem sempre as
futuras alterações de um bem conseguem ser evitadas.
Por conseguinte, considera mais adequado que a conservação seja descrita em
função de sua finalidade e não de seus resultados, e sugere as seguintes definições:
La conservación es la actividad que aspira a evitar futuras alteraciones de un bien. O mejor: La conservación es la actividade que consiste em adoptar medidas para que un bien determinado experimente el menor número de alteraciones durante el mayor tiempo posible. (2010, p.19)
Nesse mesmo sentido, mencionando o propósito da Conservação, cita-se a
seguinte definição elaborada por Norma Cassares (2000, p.12), autora de diversas
publicações na área:
Conservação: é um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de degradação de documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de tratamentos específicos (higienização, reparos e acondicionamento).
No âmbito institucional, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios –
ICOMOS (1993, p. 1), em sua publicação Guidelines for Education and Training in the
Conservation of Monuments, Ensembles and Sites6, de forma menos operacional define a
Conservação, atribuindo-lhe adjetivos, como uma ―atividade cultural, artística, técnica e de
habilidade baseada em estudos científicos e humanísticos e em pesquisa sistemática.‖; e
aponta que seu objeto ―é prolongar a vida de patrimônio cultural e, se possível, esclarecer
as mensagens artísticas e históricas ali contidas sem a perda de autenticidade e
significado‖7. (tradução livre).
Uma noção mais ampla de Conservação é apresentada em artigo desenvolvido
pelo Programa de Gerenciamento de Arquivos e Documentos da UNESCO - RAMP:
6 Diretrizes para Ensino e Treinamento na Conservação de Monumentos, Conjuntos e Sítios.
(tradução livre) 7 ―Conservation is a cultural, artistic, technical and craft activity based on humanistic and scientific
studies and systematic research. The object of conservation is to prolong the life of cultural heritage and, if possible, to clarify the artistic and historical messages therein without the loss of authenticity and meaning.‖
22
Por conservación entendemos el mantenimiento de algo en buenas condiciones físicas, a fin de que pueda cumplir la función para que fue creado. Dicha conservación se consigue evitando el deterioro o destrucción de ese objeto o reparándolo si ha sufrido daños que le impidan o pongan en riesgo él cumplimiento de dicha función. Se trata, en el primer caso, de una conservación conseguida por métodos preventivos. En el segundo ella se obtiene con el tratamiento directo del objeto, a fin de devolverle su salud perdida por métodos curativos (restauración). (CASTRO; VIÑAS, 1984, p.27)
Os exemplos de definições acima se assemelham em alguns aspectos, mas as
particularidades contidas em cada um podem ocasionar diferentes entendimentos sobre o
que é Conservação8 como se analisa a seguir.
Considera-se que a definição extraída das diretrizes do ICOMOS consegue
apresentar uma das principais características da Conservação: a de ser uma área
multifacetada; entretanto, julga-se que, na definição do objeto, ultrapassa a finalidade da
Conservação ao atribuir-lhe a função de esclarecer mensagens artísticas e históricas
contidas num bem cultural, julga-se que isto caberia e seria melhor desenvolvido pelas
ciências habilitadas para a interpretação das informações encontradas, tais como a História,
Antropologia, Arqueologia e etc.
A definição proposta por Muñoz Vinãs menciona apenas a adoção de medidas que
resultem num mínimo de alterações num maior tempo, esta ideia basicamente remete à
noção do que é a Conservação Preventiva9. O mesmo ocorre com a descrição apresentada
por Cassares, a qual apresenta em seu enunciado conteúdo semelhante às definições de
Conservação Preventiva e Conservação Curativa10. De forma oposta e mais condizente com
a proposta do ICOM – CC, Calvo insere em seu dicionário uma definição contendo um
significado ampliado de Conservação, com atribuição de diferentes linhas de ação.
Entretanto, ao empregar o termo preservação como sinônimo de conservação preventiva,
8 Sobre a variedade de definições, em artigo publicado em 1995 sobre a Conservação Preventiva,
Guichen escreve: ―Conservation, restauration, préservation – mots utilisés indifféremment par les un et au cantraire avec des significations bien spécifiques par les autres. En fait, Il est curieux de voir que la profession n‟a jamais defini ces termes des mêmes que d‟ailleurs la plupart des grands organismes nationaux ou internationaux.”(ICOM-CC, 1995, p.4) 9 Conservação preventiva – todas aquelas medidas e ações que tenham como objetivo evitar ou
minimizar futuras deteriorações ou perdas. Elas são realizadas no contexto ou na área circundante ao bem, ou mais frequentemente em um grupo de bens, seja qual for sua época ou condições. Estas medidas e ações são indiretas – não interferem nos materiais e nas estruturas dos bens. Não modificam sua aparência. (ICCOM-CC, 2008) 10
Conservação curativa – todas aquelas ações aplicadas de maneira direta sobre um bem ou um grupo de bens culturais que tenham como objetivo deter os processos danosos presentes ou reforçar a sua estrutura. Estas ações somente se realizam quando os bens se encontram em um estado de fragilidade adiantada ou estão se deteriorando a um ritmo elevado, de tal forma que poderiam perder-se em um tempo relativamente curto. Estas ações às vezes modificam o aspecto dos bens. Alguns exemplos de conservação curativa incluem a desinfestação de têxteis, a dessalinização de cerâmicas, a desacidificação do papel, a desidratação de materiais arqueológicos úmidos, a estabilização de metais corroídos, a consolidação de pinturas murais, a remoção de vegetação invasora nos mosaicos. (ICOM-CC, 2008)
23
gera uma limitação do primeiro ao afastar as operações jurídicas, sociais, culturais,
educacionais e políticas que a Preservação de Bens Culturais congrega.
A definição proposta no texto do RAMP se diferencia das demais ao incluir em seu
enunciado como finalidade da Conservação, não só a conservação da materialidade do
objeto, mas também a manutenção da função do objeto, o que em muitos casos não se é
possível de conseguir devido a um estado de extrema fragilidade em que o suporte pode se
encontrar, esse é o caso de têxteis que não podem ser mais vestidos ou obras literárias
raras que não podem mais ser manuseadas.
Às definições citadas acima, soma-se uma numerosa lista de outras, que também
possuem suas peculiaridades advindas de contextos culturais, formação e viés de aplicação
prática por parte do profissional que a elabora. Por conseguinte, perante a pluralidade de
definições e suas possíveis interpretações, além de entender ser essencial uma
uniformização terminológica, o ICCOM-CC definiu Conservação da seguinte forma:
Conservação – todas aquelas medidas ou ações que tenham como objetivo a salvaguarda do patrimônio cultural tangível, assegurando sua acessibilidade às gerações atuais e futuras. A conservação compreende a conservação preventiva, a conservação curativa e a restauração. Todas estas medidas e ações deverão respeitar o significado e as propriedades físicas do bem cultural em questão. (ICOM-CC, 2008)
Deste modo, com uma definição clara e coerente que diferencia os tipos de ações
da área, passou-se a dispor de uma terminologia11 que facilita a comunicação entre a
comunidade de profissionais do patrimônio a nível mundial e destes com o público em geral.
Contudo, talvez em razão de sua recente a adoção dessa terminologia ainda não é plena,
pois ainda são numerosos os usos de outros tipos de denominações para a noção de
Conservação, pelo que se detecta uma resistência da subdivisão da área em Conservação e
Restauração.
Esta observação propicia uma maior reflexão com a participação do maior número
de entidades e instituições da área sobre a adoção dessa resolução do ICOM – CC pela
comunidade de profissionais de conservação e restauração no Brasil, considerando que isto
seria gerador de grandes modificações que inclusive afetariam a forma como são
denominados os cursos voltados para a Conservação lato sensu, os quais geralmente
empregam a subdivisão Conservação e Restauração ou ainda a variação Conservação e
Restauro, ainda ocorrendo o mesmo no cenário internacional.
Veja-se que o curso de graduação ofertado pela Universidade Federal de Minas
Gerais é denominado Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, o da UFPel é
11
Além dos termos Conservação e Conservação Preventiva, na mesma resolução também foram estabelecidas definições para os termos Conservação Curativa e Restauração (ICOM-CC, 2008).
24
semelhante, somente se diferenciando por adotar Restauro ao invés de Restauração. No
plano internacional, o curso de pós-graduação em Conservação ofertado pela Université
Paris 1 Panthéon – Sorbonne segue a mesma linha, sendo denominado ―Master
Conservation - restauration des biens culturels (UNIVERSITÉ PARIS 1, 2011)‖
Compreende-se que termos requerem um longo tempo dentro de uma comunidade
para assumirem suas configurações de uso e desuso, mas ao redor do mundo já é possível
encontrar designações em consonância com a resolução, especialmente em inglês, idioma
em que o termo ‗guarda-chuva‘ já se mostra estabelecido. Isso é observado no ensino
superior em Conservação, como por exemplo, na Universidade de Delaware nos Estados
Unidos, onde é ofertado o curso de pós-graduação denominado ―Master of Science in Art
Conservation‖, o qual inclui em seu currículo disciplinas de todas as subáreas da
Conservação, abordando técnicas de intervenção como também medidas de conservação
curativa e preventiva. (UNIVERSITY OF DELAWARE, 2010)
1.2. Definição de Conservação de Papel
Definir Conservação de Papel é um exercício que depende do termo Conservação,
considerando-se que o primeiro é uma especialidade do segundo. Assim, a definição da
especialidade é calcada na caracterização de seu objeto de ação, no caso os suportes em
papel.
É seguindo este caminho que a maioria das definições de Conservação de Papel se
apresenta nos textos sobre essa especialidade. Para exemplificar, cita-se uma das
bibliografias usadas como referência no ensino da disciplina, no livro La Restauración del
Papel seu autor Muñoz Viñas (2010 b, p.13) observa que ―la conservación y restauración de
obra gráfica, libros y documentos es una de las especialidades más extendidas.‖ e a
caracteriza por meio de uma listagem detalhada de seus objetos de ação: ―textos impresos,
manuscritos, planos y copias de planos, tipos de pinturas realizados habitualmente sobre
papel, grabados artísticos, sellos filatélicos, carteles, dibujos en grafito, tinta, carbón, tizas,
ceras, lápiz de color, punta metálica, etc.
Além desses, Muñoz Vinãs (2010 b, p.16-17) também lista outros materiais que não
são confeccionados em papel, mas que também são usados para fins semelhantes de
suporte, como os manuscritos em pergaminho e documentos sobre papiro; outros que
servem de guarda ou acompanham objetos, como as encadernações, os selos, lacres,
envelopes, estojos, arquivos, pastas e etc.; e outros materiais cujos cuidados são atribuídos
à Conservação de Papel, devido ao seu caráter gráfico e/ou documental, tais como as
fotografias (em todas suas modalidades) e os registros filmográficos, fonográficos e
informáticos.
25
Ainda, Muñoz Viñas lembra que o conservador-restaurador de papel pode vir a
deparar-se com objetos como caixas de presentes, globos terrestres, bonecos de cartão,
brinquedos de papel machê, entre muitos outros que não seriam à primeira vista
relacionados ao universo do papel, o que dá uma idéia da dimensão e da variedade de
problemas e danos a serem enfrentados nesta especialidade. (2010 b, p.18)
A pesquisa por definições de Conservação de Papel não obteve resultados de
conteúdos elaborados na língua portuguesa, geralmente o que é apresentado pelos autores
nacionais desse tipo de publicações são as definições de Conservação e suas subdivisões
tiradas de obras de referência em espanhol e inglês, apenas como uma forma de introdução
às técnicas que descrevem. Isto talvez possa ser explicado pela ausência de realização de
estudos epistemológicos sobre essa especialidade no Brasil, visto que a grande maioria das
publicações se divide entre relatos de experiências e/ou orientações de técnicas.
Apesar de ter sido realizado um levantamento exaustivo sobre o tema, não foram
encontradas outras definições para Conservação de Papel nas referências bibliográficas
utilizadas no presente trabalho.
1.3. Aspectos da implementação da Conservação de Papel no Brasil
Segundo Castro, no Brasil a preservação de acervos em papel12 somente começa a
se consolidar a partir da década de 1980, quando dentro das instituições que abrigam
acervos em papel fica mais clara a necessidade de cuidados específicos por pessoas com
conhecimento técnico-científico sobre o assunto. Em suas palavras:
Embora a proteção de acervos de papel – como acervos bibliográficos, manuscritos e livros raros – tenha sido juridicamente instaurada a partir do Decreto-Lei nº. 25 de 30 de novembro de 1937, é somente a partir da década de 1980 que a conservação-restauração de papel ganha visibilidade no cenário preservacionista brasileiro. Se, entretanto, já se podia afirmar sobre a atuação política da ―pedra e cal‖ desde 1937, não se verifica a definição de uma linha política em relação aos acervos em papel. Assim, a década de 1980 é um marco referencial, ou seja, um divisor de águas, tendo em vista a conscientização e a consolidação de ações efetivas nesse período. (CASTRO, 2008, p.09)
Parte da mudança na visão sobre a importância dos conhecimentos específicos da
Conservação de Papel pode ser atribuída ao Professor Edson Motta13, quem, após passar
um período de estudo sobre Conservação nos Estados Unidos, começou a atuar dentro da
especialidade prestando serviços à Biblioteca Nacional, situada na capital do Rio de Janeiro,
a partir de 1948. Nessa instituição trabalhou com gravuras, desenhos e realizou pesquisas
de laboratório referente a métodos de eliminação de fungos.
12
O autor define acervos em papel, como aqueles compreendidos pelas coleções bibliográficas, documentais e de obras de arte em suporte de papel (op. cit., p.2) 13
Além de professor, Edson Motta também era pintor e restaurador (ITAÚ CULTURAL, 2011).
26
Durante sua época junto à Biblioteca Nacional, Edson Motta articulou a
implementação de um laboratório de Conservação de Papel com caráter científico, o
primeiro com essa configuração no Brasil (CASTRO, 2008, p.93-94). Esse trabalho inicial
sobre o acervo da Biblioteca Nacional pode ser apreciado na seguinte narração do próprio
Professor Edson Motta (apud CASTRO, 2008, p. 94):
Devo antes de mais nada, salientar que, na primeira fase de nossos trabalhos, cuidamos da instalação do laboratório pois, até então, cousa (sic) alguma havia sido realizada ou adquirida no sentido de dotar a Biblioteca Nacional de departamentos capaz (sic) de oferecer tratamento, conservação e restauração de gravura, livros e papéis em geral. Havia, é verdade, empreitadas esporádicas ou contratos feitoz (sic) com curiosos e aventureiros. Algumas dessas aventuras, especialmente no campo do tratamento de gravuras, trouxeram os mais graves riscos e perdas ao rico acervo da Biblioteca Nacional. Este serviço, agora, em pleno funcionamento tem despendido grande parte de seu tempo, removendo restaurações erradamente aplicadas. Há casos sem possibilidades de completa salvação, como, por exemplo, as inúmeras gravuras cujas margens foram cortadas, sistematicamente cortadas, reduzindo seu valor. Temos notícias também de perdas totais. A própria coleção de Alberto Dürer, por muitos anos atirada nos porões da Biblioteca Nacional, só recentemente foi classificada e ninguém pode com segurança afirmar quantos originais existiam por ocasião de seu legado.
A publicação em 1970 do livro O papel - problemas de conservação e restauração,
em co-autoria com a restauradora Maria Luiza Guimarães Salgado, representa uma das
mais significativas contribuições de Edson Motta à consolidação da especialidade
Conservação de Papel no Brasil, sobre seu lançamento, os autores ponderaram o seguinte:
Hesitávamos, até agora, sôbre (sic) a conveniência de publicar as informações aqui contidas, pois considerávamos ainda insuficientes os vinte anos de prática, diária e contínua, com problemas de conservação e restauração de valiosos documentos, arquivos, e bibliotecas pertencentes ao nosso patrimônio cultural. Entretanto, o número cada vez maior de pedidos de organização de cursos sôbre (sic) a matéria, vindos de todos os quadrantes do país e a impossibilidade de atendimento aos mesmos, a um tempo só, nos levam à divulgação dêste (sic) trabalho, na esperança de que as noções apresentadas possam ser úteis no sentido de preservar acervos e orientar suas manutenções, nas adversas condições climáticas de nosso país. (MOTTA; SALGADO, 1970, p.13)
O trecho acima, retirado da introdução do livro, permite que sejam constatados
alguns aspectos da configuração do campo da Conservação de Papel no país. Primeiro,
percebe-se que esta especialidade não se encontrava disseminada pelo país, restando
como opção aos interessados buscar as orientações necessárias junto a centros, como a
Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), que dispunham de profissionais com formação no exterior.
Outro aspecto importante, que se arrisca apontar, é a construção dessa obra de
referência em Conservação de Papel sobre uma base que poderia ser caracterizada como
experimental, destaca-se que próprios autores exprimem sua hesitação em publicar um
27
conteúdo resultante de vinte anos de prática, deixando clara a ausência de substancial
substrato teórico e científico.
Constata-se também a ausência de outras fontes de formação e/ou orientação
sobre esta especialidade da Conservação, tendo permanecido, por muitos anos ainda, um
tema desenvolvido a partir de necessidades imediatas e de forma empírica dentro de um de
seus campos mais concretos de atuação: em acervos de bibliotecas e arquivos. Isto foi um
fator muito influente no rumo que a disciplina Conservação de Papel tomou no país, já que
seu ensino assumiu caráter geralmente técnico e voltado para funcionários desse tipo de
instituição. O próprio livro de Motta se mostra reflexo dessa funcionalidade ao registrar em
suas primeiras linhas o que segue:
Êste (sic) trabalho é homenagem aos responsáveis por pequenas bibliotecas, coleções particulares e outras instituições culturais, que lutam com dificuldade pela própria manutenção, num esforço anônimo e desinteressado. (MOTTA; SALGADO 1970 p.13)
Nessa época, esse era o perfil dos interessados em uma formação na
especialidade e somente na década de 1980 esse público teve a possibilidade de ingressar
em cursos com um caráter mais profissional com o surgimento de cursos de especialização
e técnicos, tais como o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da
UFMG (CECOR) e cursos ofertados pela Associação Brasileira de Encadernação e
Restauro (ABER) respectivamente.
O CECOR foi oficialmente constituído em 1980, mas, segundo Bethania Veloso
começou a ser pensado em 1976, quando telas do artista plástico Parreiras foram enviadas
para a Escola de Belas Artes (EBA) para restauração. Dentro do projeto, fez-se necessário
solicitar ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) um técnico para
coordenar a restauração dessas telas. Para a coordenação da EBA da UFMG, este fato
tornou evidente a necessidade da criação de um curso da área, e assim surgiu o CECOR,
centro de referência na formação de conservadores-restauradores em distintas
especialidades, inclusive na Conservação de Papel (UNIVERSIA, 2004)
A ABER foi fundada em 14 de junho de 1988 por um grupo de encadernadores e
restauradores, com objetivo de ―congregar os profissionais e entidades ligados à
conservação e restauração de livros, documentos impressos e manuscritos e à
encadernação artesanal, com o propósito de estimular o interesse pela documentação
gráfica e a conservação da memória nacional.‖ (ABER, 2011). Ao mesmo tempo,
oportunizaram a formação específica em Conservação de Papel por meio de seus cursos
técnicos, os quais continuam a ser uma referência na área e atualmente são ofertados em
parceria com a Escola Theobaldo De Nigris do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI), sendo apresentados como:
28
(...) cursos na área de preservação, conservação e restauro de documentos gráficos. Os cursos são direcionados aos profissionais que já atuam nas áreas de conservação, encadernação, biblioteconomia, arquivologia e museologia; estudantes e interessados em geral. O objetivo é ensinar conceitos de conservação e preservação de acervos em papel, além de critérios internacionais para intervenção e procedimentos que podem ser adotados com os recursos disponíveis no Brasil. (SENAI/SP, 2011)
Após quarentas anos do lançamento da primeira obra sobre a Conservação de
Papel do professor Edson Motta; trinta anos da criação do primeiro curso de especialização
na área (CECOR) e mais de vinte anos após o surgimento de um curso totalmente voltado
para a especialidade de Conservação em Papel (ABER), pondera-se que a ciência da
Conservação ainda não alcançou uma produção expressiva de destaque no campo
científico do Brasil, pois como bem exprime Bojanoski (2011, p.3):
No Brasil o campo da conservação e restauração ainda é incipiente, o que pode ser comprovado quando se observa a realidade de muitos ateliers particulares prestadores de serviço e até mesmo a atuação de laboratórios de instituições, nos quais ainda prevalecem intervenções nos objeto culturais caracterizadas como meras repetições de técnicas práticas, sem maiores embasamentos teóricos, conceituais e metodológicos.
Contudo, significativas mudanças começaram a ocorrer nos últimos quatro anos, a
começar pelo Projeto de Lei 4.042 de 2008 que dispõe sobre a regulamentação do exercício
da profissão de Conservador-Restaurador de Bens Culturais Móveis e Integrados e autoriza
o Poder Executivo a criar o Conselho Federal de Conservação-Restauração de Bens Móveis
e Integrados e seus Conselhos Regionais, entre outras providências. Atualmente o projeto
ainda permanece em tramitação no Congresso Nacional.14
Paralelamente, preenchendo lacunas na formação profissional e demanda por mão-
de-obra qualificada no país, nesse período, foram criados os primeiros cursos de ensino
superior na área da Conservação. Segundo informação obtida junto ao portal do Ministério
da Educação (e-MEC), atualmente constam registrados dois cursos tecnológicos na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e no Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de Minas Gerais, além de três cursos de bacharelado nas universidades federais
de Minas Gerais, Rio de Janeiro e de Pelotas15. (BRASIL b, 2011) Assim estas novas
configurações de formação em Conservação simbolizam uma nova etapa da ciência da
Conservação no país, pois como bem analisa Bojanoski (2011, p.1054),
Espera-se que nos próximos anos se desenvolva um corpus científico consistente dentro desses novos cursos, possibilitando um desenvolvimento técnico-científico mais concreto em termos de pesquisa, desenvolvimento teórico e aplicação de técnicas e de tratamentos de preservação, conservação e restauração dos bens culturais. Nesse contexto de
14
Informação obtida no sistema de consulta do site da Câmara de Deputados: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=410920 15
O primeiro bacharelado foi implementado em 25/02/2008 pela UFMG, seguido pelo curso da UFPel em 01/08/2008 e pelo da UFRJ em 22/03/2010.
29
crescimento e amadurecimento do campo da conservação e restauração é que as questões relacionadas com a elaboração de uma terminologia científica ganham importância.
De fato, além de formar profissionais, as Universidades representam um espaço
para que questões de conhecimento sejam objeto de reflexão, análise e discussão por seus
acadêmicos e docentes, contribuindo para o desenvolvimento científico do país e nesse
contexto uma terminologia específica ganha importância, conforme expressa Bojanoski
(2011, p.1054-1055):
Para o desenvolvimento do campo científico da conservação e restauração, que como foi visto, é inerentemente marcado pela interdisciplinaridade, faz-se necessária a elaboração de instrumentos e ferramentas que padronizem e facilitem tanto a comunicação entre os especialistas e profissionais da área específica e das inúmeras áreas afins, assim como a sua divulgação para um público mais amplo, também envolvido ou interessado na preservação do patrimônio cultural. A elaboração de terminologias em português também é importante para facilitar o acesso e tradução dos textos teóricos e técnico-científicos produzidos em outros centros estrangeiros onde as pesquisas e estudos se encontrem mais avançados.
1.4. Noções sobre Terminologia
A Terminologia representa o conjunto de termos específicos ou sistema de palavras
usadas numa disciplina particular é sinônimo de nomenclatura. Designa, também, a
disciplina de estudo que tem por objeto a identificação e delimitação de conceitos próprios
de uma arte, ciência, profissão etc., e a designação de cada um deles por um determinado
vocábulo (HOUAISS; VILLAR 2009), além disso, a terminologia é ―uma disciplina aplicada
que se relaciona com a coleta, descrição, processamento e apresentação de termos, isto é,
palavras que pertencem a áreas de especialização de uma ou mais línguas‖ (SAGER apud
FELIPE, 2002, p.42).
Conforme Maria da Graça Krieger, autora de diversas obras sobre Terminologia e
professora de Linguagem e Tecnologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos:
A Terminologia é uma área de conhecimentos e de práticas, cujo principal objeto de estudos teóricos e aplicados são os termos técnico-científicos. Em sua face teórica, a Terminologia ocupa-se da descrição da gênese e dos modos de constituição e funcionamento das unidades lexicais especializadas. Estas são assim denominadas porque se constituem e são utilizadas no âmbito de atividades profissionais especializadas, cumprindo a missão de veicularem conceitos próprios de cada área do conhecimento. (2005, p. 01)
Maria Teresa Cabré (1995, p.02), professora de Linguística e Terminologia da
Faculdade de Tradução na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, nos apresenta a
Terminologia destacando sua multiplicidade de sentidos:
30
Es de sobras conocida la polisemia del término terminología, que nos remite por lo menos a tres nociones: a) a la disciplina; b) a la práctica; c) al producto generado por esa práctica. Como disciplina, es la materia que se ocupa de los términos especializados; como práctica, es el conjunto de principios encaminados a la recopilación de términos; como producto, es el conjunto de términos de una determinada especialidad. Vemos, pues, ya desde el inicio la huella de la diversidad.
Dos três sentidos descritos acima, para fins do presente trabalho, destaca-se a
Terminologia como produto, como resultado da disciplina e da prática, aquela se apresenta
como um conjunto de termos que auxilia as disciplinas técnico-científicas a expressar,
comunicar e transferir conhecimento.
A importância da Terminologia como disciplina auxiliar à produção de textos
científicos, bem como à compreensão destes não é uma questão recente, visto que
acompanha o desenvolvimento das ciências há alguns séculos:
O reconhecimento da importância da Terminologia está relacionado à preocupação dos cientistas dos séculos XVIII e XIX com a proliferação de termos que dificultavam a comunicação entre os especialistas. O grande desenvolvimento científico e tecnológico ocorrido, principalmente a partir do final do século XIX, provocou o surgimento de novos conceitos e novas áreas de especialização e, consequentemente, de novos termos. (CABRÉ apud LAAN, 2002, p.57)
Elaborar um trabalho sobre terminologia requer um extenso estudo e processo de
identificação dos conceitos que se busca designar em uma especialidade dentro de uma
área de conhecimento. Neste ponto identifica-se a principal diferença entre Terminologia e
Lexicografia:
En efecto, si bien la lexicología trabaja a partir de hipótesis teóricas, que refuta o valida a través del análisis de muestras (no necesariamente representativas) de producciones de los hablantes, la terminología busca denominaciones para unas casillas conceptuales previamente establecidas. Y, en lo que se refiere a la orientación del proceso de trabajo, si en lexicografía la confección de diccionarios parte de una lista de palabras para proceder a continuación a describirlas semánticamente a través de la definición, en terminología el proceso se produce en sentido completamente inverso: el terminólogo establece en primer ligar la lista de conceptos que forma parte de una estructura nocional, más o menos fomalizada según las materias, para, a continuación, atribuir a cada concepto una determinada denominación, que corresponde a la forma que utilizan efectivamente los especialistas cuando se refieren a un concepto de la estructura nocional.
(CABRÉ, 1995, p.09)
A identificação de termos deve ser realizada a partir de referenciais advindos de
fontes seguras e confiáveis, para que assim seja possível extrair uma descrição sucinta e
correta, permitindo, ao mesmo tempo, que sejam identificados os usos incorretos e que as
ambiguidades sejam esclarecidas. Sobre a composição de uma terminologia, Maria Gorete
Felipe (2002, p.43) explica que,
A partir dos corpora terminológicos (conjuntos de textos e de observações referentes a um determinado conceito, que servem como dados para a
31
análise terminológica), a informação organiza-se segundo o que se denomina provas textuais. São exemplos de provas textuais:
A definição: descreve os traços semânticos que distinguem um conceito de todos os outros.
O contexto: geralmente, é uma citação que ilustra a definição.
Os exemplos de uso e as unidades fraseológicas: enunciados que ilustram, em uma ficha terminológica, o uso de um termo em uma área temática, sem fazer referência aos traços semânticos do conceito designado.
A referências: indicam as fontes das provas textuais.
As notas ou observações: enunciados que esclarecem sobre o uso dos termos no discurso.
Considera-se que o importante é entender que a disciplina Terminologia é o
caminho a ser percorrido para se alcançar um resultado que, na forma de glossário,
possibilite a utilização precisa e clara de termos na construção científica de relatórios,
artigos e obras de referência, superando-se obstáculos de entendimento. Sobre a relação
entre a Terminologia e as ciências, Cabré conclui que ―por un lado, les sirve como pieza
operativa; por otro lado, se sirve de ellas para constituir su propio objeto de trabajo, para
cerciorarse de sus aplicaciones o bien para organizar más adecuadamente el proceso
terminográfico.‖
1.5. A Terminologia e sua aplicação em áreas de conhecimento específico
Ao contrário da língua comum ou geral utilizada no cotidiano, a língua de
especialidade viabiliza uma comunicação sem ambigüidade dentro de determinada área do
conhecimento, caracterizada por um vocabulário e usos específicos, ela também é
conhecida como tecnoletos – subsistemas característicos de discursos técnicos, científicos e
especializados da língua geral. (FELIPE, 2002)
No contexto atual de compartilhamento de informações propiciado pela tecnologia
do acesso à Internet, a aplicabilidade da terminologia ganha papel de destaque quando
empregada como descritores,
Com a atual explosão da informação, a diversidade de termos técnicos e científicos advindos das novas tecnologias, a necessidade de comunicação internacional mais eficiente e a crescente demanda por maior rapidez e facilidade na recuperação de informações dispersas em inúmeros bancos de dados, arquivos e outros meios eletrônicos, faz-se necessário o desenvolvimento de sistemas mais avançados e efetivos de organização e gestão de informações, baseados em uma metodologia de processamento de dados terminológicos. (DIAS, 2000)
Resulta indispensável o desenvolvimento de terminologias às especialidades das
áreas de conhecimento como reflexo das especificidades de seu conteúdo. Cabré (apud
KRIEGER, 2000) compreende que ―Para los especialistas, la terminología es el reflejo
formal de la organización conceptual de una especialidad, y un medio inevitable de
exprésion y de comunicación professional.” Nesse mesmo sentido, Bojanoski (2011, p.1055)
32
afirma que ―As terminologias científicas, além da sua função em relação à fixação e
divulgação de um saber científico específico, ao facilitar a comunicação entre profissionais,
também fortalece uma identidade entre aqueles que atuam no mesmo campo.‖
A terminologia científica tem sido objeto de estudo e elaboração dentro de inúmeras
áreas de conhecimento, uma simples pesquisa usando o descritor ‗terminologia‘ no título na
base SCIELO - Scientific Eletronic Library Online (2011) acusa 239 artigos científicos sobre
o tema. A terminologia permeia por uma diversidade de especialidades dentro de grandes
áreas como Medicina, Engenharia, Linguistica, Geografia, Ciências da Informação e etc.; a
seguir são elencados alguns exemplos que podem ser apontados como paradigmas para
elaboração de uma Terminologia de Conservação de Papel.
Além de artigos, este tema tem sido objeto de estudo na forma de dissertações e
teses. Por exemplo, a médica Heliane Campanatti Ostiz (2010) defendeu, na Universidade
de São Paulo, tese de doutoramento em Medicina propondo a elaboração de tesauro
específico sobre Fonoaudiologia, em inglês, espanhol e português, a partir dos Descritores
em Ciências da Saúde visando uma organização e uniformização dos termos.
Também na área médica, mas com outro escopo, o artigo intitulado ―A terminologia
nos textos científicos sobre a cardiologia: um estudo comparativo sobre as composições
acronímicas em português e español (sic)‖ aborda o uso de siglas e acrônimos16 nessa área
de especialidade, comparando essas duas línguas dentro do projeto ―A terminologia nas
ciências da saúde: análise comparativa da evolução neológica na área da cardiologia‖, cujo
objetivo central foi realizar uma análise comparativa entre o espanhol peninsular e o
português do Brasil nessa área.
Sua metodologia consistiu no levantamento dos aspectos teóricos, estabelecendo
assim a terminologia utilizada na denominação de diferentes processos, e na análise
comparativa dos termos de uma seleção de revistas científicas, especializadas em
cardiologia da Espanha e do Brasil, publicadas nas respectivas línguas vernáculas.
(ARAÚJO; GÓMEZ, 2008, p.01)
A disponibilidade de correlação de termos em diferentes idiomas é preocupação
constante para quem consulta bibliografia estrangeira ou realiza traduções, na dissertação
―Reflexões sobre Terminologia Jurídica Bilíngüe de Contratos: subsídios para o tradutor de
contratos em inglês‖ foi realizado estudo analítico-descritivo em parte da terminologia
utilizada em contratos jurídicos internacionais bilíngües, inglês-português e português-inglês,
16
Diz-se de ou palavra formada pela inicial ou por mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de
uma locução, ou pela maioria dessas partes (Sudam = Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia)
(HOUAISS, 2009)
33
analisando o valor terminológico de termos em contexto de contratos, explicando suas
relações com outros termos pertencentes ao mesmo sistema e propondo soluções a alguns
problemas de adequação lingüística enfrentados por um tradutor de contratos internacionais.
(VENTURA, 2007, p.06)
Ainda no âmbito acadêmico, destaca-se a construção de um dicionário de
terminologia de vestuário na forma de tese de doutoramento em Educação defendida por
Maria Gorete Felipe (2007, p.19-20), quem a partir de suas experiências como docente da
Faculdade de Engenharia Têxtil na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da
necessidade de uma obra de referência, realizou uma pesquisa com a colaboração de
alunos e demais professores sobre o vocabulário técnico têxtil, resultando no lançamento do
livro impresso ―Dicionário de terminologia do vestuário‖ no presente ano.
No âmbito institucional, esforços desse tipo também resultaram em obras de
consulta terminológica, como o ―Glossário temático: alimentação e nutrição‖, parte integrante
da ―Série A. Normas e Manuais Técnicos‖, lançado pelo Ministério da Saúde com o objetivo
de normalizar, representar e divulgar a terminologia especializada e utilizada no saber
técnico, no saber tecnológico e no saber científico dessa área sob a justificativa de que:
Identif icar, relacionar, padronizar, gerir e oferecer acesso a esse conhecimento são alguns dos desafios atuais da Ciência da Informação, em que se discutem aspectos da democratização do acesso à informação, da criação de repositórios públicos de conhecimento e do desenvolvimento de tecnologias que permitam a recuperação da informação, suplantando a lógica da sintaxe e atingindo a lógica da semântica. Para esse último tópico, é preciso desenvolver metodologias que garantam o tratamento terminológico das áreas de conhecimento. (BRASIL, 2008, p.05)
Todas as produções acima foram realizadas dentro do contexto de especialidades
diversas que, entretanto, confluem na mesma finalidade de poder dispor de referências
terminológicas precisas, consensuais e que possibilitem aos profissionais, acadêmicos e
cidadãos um entendimento mais seguro e uma comunicação eficaz livre de ambiguidades,
propiciando o desempenho profissional, a troca de experiências e a produção científica.
1.6. Terminologia como ferramenta de auxilio ao estudo da disciplina Conservação de
Papel
A Conservação de Papel pode ser considerada como uma das áreas mais amplas
da ciência da Conservação. Em princípio, está relacionada ao trabalho em livros e
documentos, no entanto a abrangência de seu objeto de trabalho se desdobra em uma
34
pluralidade que não só reune os mais variados tipos de papel utilizados como suporte, como
também engloba outros tipos de materiais como o couro (na forma de pergaminhos p.ex.),
fotografias e pinturas sobre papel. Até fins do século passado, a bibliografia na forma
impressa continuava a ser a principal fonte de consultas para o aprendizado em quaisquer
áreas de conhecimento.
Embora livros, revistas, jornais, enciclopédias, dicionários e etc. ainda sejam
fundamentais para uma adequada formação acadêmica, desde que a Internet se
popularizou17, ela se tornou uma frequente plataforma de disseminação de informações,
permitindo consulta literatura produzida ao redor do mundo. É uma realidade dos tempos
atuais e que tende a se acentuar com o lançamento de dispositivos eletrônicos e versões
on-line.
Particularmente no curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
da UFPel, o acesso a informações facilitado pela Internet tornou-se essencial para a
formação dos acadêmicos, de forma que, ousa-se constatar que grande parte do material
utilizado em pesquisas para a realização de trabalhos é obtido na Internet. A vasta produção
científica na área da Conservação de Papel em outros idiomas em comparação à tímida
publicação de obras desse recorte temático em português, a escassa disponibilidade de
livros sobre o tema em biblioteca, a alta disponibilidade de material para consulta na
Internet, podem ser apontados como alguns dos fatores quem contribuem ao percentual
citado.
Entende-se que o dinamismo do compartilhamento de informações nesse formato,
se utilizado com critério e senso crítico, pode auxiliar no aperfeiçoamento da formação
acadêmica dos conservadores-restauradores.
Por exemplo, os anais dos Congressos da ABRACOR onde são registrados
trabalhos científicos apresentados ao longo dos anos por especialistas nacionais e
internacionais foram digitalizados e disponibilizados em seu site, este tipo de ação é útil
tanto no campo pedagógico como no campo profissional pela troca de experiências que
propicia e pela segurança em relação à fonte do material.
Junto à vasta bibliografia recomendada e às aulas teóricas que compõem o
substrato teórico para a formação, a disciplina de Conservação de Papel ministrada no
17
Em 1998, em artigo elaborado pelos Laboratórios de Pesquisa da AT&T, operadora de telefonia celular dos EUA, ao analisar as taxas de crescimento da Internet, estimava-se que ela dominaria o tráfego de dados no ano de 2002, considerando que entre os anos de 1997 e 1998 ela crescera à uma taxa de 1.000%. (COFFMANN; ODLYZKO, 1998, p. 1-2)
35
curso da UFPel oportuniza grande aplicabilidade prática de suas técnicas por meio dos
trabalhos práticos desenvolvidos em aula e projetos, apresentando aos alunos desafios que
a princípio pareceriam simples.
Considera-se assim, por exemplo, o preenchimento de uma ficha diagnóstico de um
documento, pois se trata de uma etapa muito importante onde informações, como descrição
do objeto e estado de conservação, devem ser inseridas de forma precisa e com clareza
para que o tratamento possa ser delineado considerando as filigranas do caso. Desde esta
etapa inicial, a consulta à terminologia específica de Conservação de Papel se mostra uma
ferramenta necessária até a conclusão do tratamento.
Outrossim, na disciplina de Conservação de Papel, assim como nas demais,
publicações on-line também são incluídas na bibliografia recomendada e em muitos casos
em idioma estrangeiro (UFPel a, 2011). Considerando que no país não são numerosas as
pós-graduações essencialmente nessa especialidade, este tipo de interação com a
produção internacional torna-se favorável aos acadêmicos que por ventura queiram se
candidatar a pós-graduações no exterior.
Por exemplo, veja-se que na bibliografia recomendada para a disciplina de
Metodologia de Conservação e Restauração do ―Master de Conservation - restauration des
biens culturels” ofertado pela Université Paris I Panthéon-Sorbonne na França, consta
expressamente que:
La terminologie est aussi d‟une grande importance pour toute discipline. La consultation de dictionnaires et de glossaires spécialisés en conservation-restauration est d‟une aide précieuse dans l‟utilisation ou la mise au point de méthodes de description, de mesures ou d‟évaluation.
18 (BERTHOLON,
2008, p.02)
Além de auxiliar no processo de formação acadêmica e durante a vida profissional
do conservador-restaurador, entende-se que os estudos terminológicos representam uma
oportunidade para se revisar em que se aspectos se avançou e quais medidas caíram em
desuso. Assim, como se fosse um termômetro de uso e desuso, a terminologia também
consiste na verificação do conteúdo da área:
18
―A terminologia também é de grande importância para toda a disciplina. A consulta a dicionários e glossários especializados em conservação e restauração é de um auxílio precioso na utilização ou esclarecimento de métodos de descrição de medidas ou de avaliação. (tradução livre)
36
In the globalisation and evolution of conservation education and training, it is important to occasionallystand back and look at its terminology, its relations to fundamental concepts and the manner in which this terminology is used and transferred from one language to another.(REIFSNYDER, 2002, p.6)
Nesse contexto, estabelecida a relação entre terminologia e Conservação de Papel,
entende-se ser importante possuir uma base de referência dos termos empregados na
Conservação de Papel em português e outros idiomas estrangeiros, de forma a enriquecer e
a ampliar as fontes de consulta para os alunos sem o perigo de interpretações e usos
incorretos. A seguir, serão analisadas as produções nacionais que de alguma maneira
contribuem para o desenvolvimento da terminologia na especialidade.
37
2. REFERENCIAIS TERMINOLÓGICOS DE CONSERVAÇÃO DE PAPEL EM PORTUGUÊS
As especializações científicas exigem dos estudiosos um conhecimento cada vez
mais amplo sobre um tema cada vez mais específico, isto se aplica para o trabalho de
elaboração de terminologias aplicadas às ramificações das ciências. No caso da
Conservação de Papel, a especificidade do assunto demanda a combinação de amplos
conhecimentos tanto teóricos quanto práticos para a construção de um referencial
terminológico, sendo conveniente que esse seja produto de trabalho em equipe formada por
profissionais e/ou instituições das duas áreas para a obtenção de resultados fidedignos.
Para situar os estudos e/ou trabalhos já realizados que objetivam a organização,
padronização, circulação, esclarecimento, uniformização, apresentação e discussão de
termos aplicados no campo da Conservação, realizou-se uma pesquisa exploratória por
publicações tratando do assunto com enfoque na Conservação de Papel. No entanto,
limitou-se a investigação por somente publicações disponibilizadas on-line19.
Esta limitação foi estabelecida, primeiramente, em razão da agilidade que esse tipo
de publicação confere a consultas realizadas em conteúdos terminológicos, a digitação do
termo requerido nas ferramentas de busca ou localização, rapidamente apresenta
resultados. Em segundo lugar, versões on-line de publicações se mostram mais acessíveis
do que bibliografias impressas, na medida em que, salvo exceções, permitem que seu
conteúdo seja salvo ou acessado a qualquer instante, desde que haja uma conexão com a
Internet disponível. Esta acessibilidade torna-se crucial quando não se encontra bibliografia
impressa em bibliotecas e/ou livrarias à disposição da comunidade acadêmica e de
profissionais da área da Conservação de Papel20.
19
O termo on-line, proveniente da língua inglesa, é definido como disponível para acesso imediato por um computador. (HOUAISS, 2009) 20
No percurso da formação da presente autora no Curso de Conservação e Restauro da UFPel, consultas a publicações on-line foram essenciais no estudo e elaboração de trabalhos acadêmicos devido à ausência de bibliografia impressa disponível dentro da Universidade. A indicação e uso de bibliografia produzida fora do país é outro fator que contribuiu para a busca por fontes on-line, uma vez que são títulos não disponíveis nas livrarias locais.
38
As publicações em versão on-line também formam parte do corpo de referências
utilizadas por profissionais e experts das mais diversas áreas de conhecimento em suas
produções científicas, sendo a Internet uma imensa base de dados disponíveis a todos e
que facilita a vasta transferência de informações e o amplo intercâmbio de conhecimentos e
experiências. Além disto, destaca-se a pluralidade de tipos de publicações disponibilizados
on-line, Castro (2006, p. 58) destaca essa pluralidade ao lembrar que,
A publicação eletrônica, uma das principais manifestações do impacto da Internet e das novas tecnologias na comunicação científica, está freqüentemente relacionada às revistas científicas, mas se estende também a outras formas de comunicação formal, como livros, publicações governamentais, teses, e de comunicação científica informal, como apresentações em congressos. (grifo meu)
Pondera-se que a Internet dinamizou a comunicação técnico-científica,
aumentou seu fluxo, criando uma maior integração entre os profissionais e instituições com
interesses comuns. Favorecendo, assim, a colaboração entre essas partes no
desenvolvimento das áreas de conhecimento e sua consequente difusão.
2.1. Procedimentos de pesquisa por publicações on-line com referenciais
terminológicos de Conservação de Papel
Considerando a integração da tecnologia com o conhecimento e a vasta
disponibilização de material na Internet, onde por vezes torna-se difícil identificar a fonte e,
por isso, corre-se o risco de usar ou repassar conhecimento não verificado, foram
estabelecidos alguns critérios para o proceder da pesquisa por publicações on-line contendo
referenciais terminológicos.
Primeiramente, para a pesquisa em português, realizou-se a identificação de
instituições envolvidas com a Conservação de bens culturais no Brasil que mantivessem
página virtual onde são disponibilizadas e/ou compartilhadas publicações. Foram
selecionadas quatro instituições com esse perfil: ABER, ABRACOR, FNB e IPHAN, servindo
de fontes pré-determinadas.
Num segundo momento, partiu-se para a pesquisa aleatória, a qual foi realizada por
meio de site de busca21 utilizando-se os mesmos descritores. Dos resultados, somente
foram selecionados alguns que compuseram uma pequena amostra diversificada de tipos de
publicações abordando terminologias (artigo, manual, guias, orientações, etc.).
O levantamento também considerou as fontes que, mesmo não pertencentes
especificamente ao campo da Conservação, abordaram e expuseram noções da
21
No caso foi utilizado site de busca Google.
39
especialidade Conservação de Papel. Pois, como já exposto em capítulo anterior, grande
parte do desenvolvimento dessa especialidade ocorreu no âmbito de bibliotecas e arquivos.
Para esta primeira etapa da pesquisa, foram utilizados os descritores ‗conservação
de papel + terminologia‘, ‗conservação de papel + glossário‘, ‗conservação de papel +
dicionário‘ e, considerando a não uniformização da designação à área, os mesmo
descritores foram usados novamente com a substituição da palavra ‗papel‘ por
‗documentos‘, ‗livros‘ e ‗obras de arte em papel‘, de maneira que não fossem excluídas
publicações simplesmente pelo fato de não preencherem a nomenclatura adotada no
presente trabalho.
2.2. Publicações disponíveis em sites institucionais nacionais
Conforme já exposto, as seguintes publicações foram levantadas por meio de uma
pesquisa conduzida na Internet usando a combinação dos seguintes descritores:
conservação de papel (ou documentos ou livros ou obras de arte em papel) e terminologia,
dicionário e glossário.
Inicialmente, foram pesquisadas as páginas virtuais das principais instituições
envolvidas no campo da Conservação no país: ABER, ABRACOR, FBN e IPHAN, as quais
disponibilizam em seus sites publicações para serem acessadas on-line.
A tabela 1 apresenta os referenciais terminológicos identificados conforme os
seguintes aspectos: fonte (instituição), autor, tipo de publicação, ano, número de termos,
área de conhecimento, se a publicação é específica sobre a especialidade Conservação de
Papel e observações.
A ABER (2011), segundo informação de seu site, é uma instituição fundada em 14
de junho de 1988 na cidade de São Paulo, com a visão de ―ser referência na busca do
conhecimento em conservação e preservação de livros e documentos através de ações de
pesquisas, ensino, coordenação e execução de projetos‖, apresenta em sua página virtual
um link denominado ―Leitura‖, o qual disponibiliza sob o tópico ‗Artigos‘ alguns títulos
acessíveis on-line, como por exemplo, o artigo ―Química direcionada à área de conservação
e restauro‖ da autora Norma Cianflone Cassares.
No tópico ‗Pesquisas e projetos‘ são apresentados textos em formato de relatórios e
no ‗Dicas‘ constam breves orientações formuladas por profissionais especializados da
ABER. O tópico ‗Bibliografia‘ oferece uma listagem de referências sem acesso on-line,
disponíveis em seu acervo físico. Outra listagem oferecida é a de endereços eletrônicos
divididos em categorias que pode ser visualizadas sob o tópico ‗Links interessantes‘.
40
Todas as informações inseridas advêm do universo do trabalho com documentação
gráfica, o que inclui a Conservação. Após a pesquisa nesses tópicos, o título “BINDING
therms: a thesaurus for use in era bool and special collections cataloguing. Chicago,
Associaion (sic) of College and Research Libraries, 1988. 37p.” é a única referência que se
aproxima ao estudo de terminologias relacionadas à Conservação de Papel, entretanto não
está disponibilizada on-line.
Conforme dados em seu site, a sociedade ABRACOR (2011), fundada em 30 de
maio de 1980, foi ―criada para dignificar e proteger, como orgão (sic) de classe, os
profissionais conservadores/restauradores de bens culturais‖, objetivando, entre outras
coisas, ―criar, incentivar e promover meios adequados ao desenvolvimento das técnicas de
Conservação e Restauração de Bens Culturais, através de entrosamento com entidades
públicas ou privadas, nacionais ou internacionais‖.
Em sua página virtual, por meio do link ‗Referências‘ o leitor acessa uma lista com
indicações bibliográficas (algumas com endereço eletrônico) e outra lista com endereços
eletrônicos de instituições relacionadas à Conservação.
Além disso, artigos científicos, textos técnicos e boletins informativos podem ser
acessados on-line por meio do link ‗Boletim‘. É neste que, embora não especificamente da
área de Conservação de Papel, encontra-se disponibilizada a versão em português da
Resolução do ICOM-CC sobre a Terminologia para definir Conservação do Patrimônio
Cultural Tangível, a qual já foi abordada no capítulo anterior.
No que tange à FBN, segundo Castro (2010, p.36), é nessa instituição que ―o
primeiro laboratório de conservação e restauração especializado somente em papel, numa
estruturação científica, em contraposição, portanto, aos métodos empíricos anteriormente
empregados‖ foi implementado, entre os anos 1948 e 1950, por iniciativa de Edson Motta,
seu conservador à época.
Esta instituição ainda possui uma participação atuante no desenvolvimento da
Conservação de Papel no país, consta em sua página virtual que:
Para garantir a manutenção de seu acervo, a FBN possui laboratórios de restauração e conservação de papel, estando apta a restaurar, dentro das mais modernas técnicas, qualquer peça do acervo que precisar desse serviço. (FBN, 2011)
Por meio do link ‗Serviço a Profissionais‘, sob o tópico ‗Preservação‘, encontra-se
material relativo à Conservação de Papel que está subdivido em itens (Palestras,
Publicações, Diretrizes, Pôster, Curso, Apresentação e Encadernação Flexível) e que pode
41
ser acessado on-line. Para fins da presente pesquisa, foram identificados dois textos com
conteúdo terminológico.
No link ‗Diretrizes‘ acessa-se o texto ―Diretrizes de Preservação na Fundação
Biblioteca Nacional‖, o qual, em linhas gerais, apresenta as ações referentes aos cuidados
dos acervos da biblioteca por meio da definição dos termos preservação, conservação e
restauração, e elenca como essas ações são executadas.
Como exemplo, veja-se o trecho extraído a seguir:
I I - CONSERVAÇÃO - Conceituação:
Na Biblioteca Nacional entendemos a conservação como um conjunto de procedimentos que tem por objetivo melhorar o estado f ísico do suporte, aumentar sua permanência e prolongar-lhe a vida útil possibil itando, desta forma, o seu acesso por parte das futuras gerações.
Para se atingir esse objetivo são executadas as seguintes etapas:
· fumigação – ação de extermínio de microorganismos e insetos em câmaras herméticas ou por processo alternativo de eliminação, com produtos específ icos.
· higienização - tratamento de livros e documentos individualmente em equipamentos chamados ―mesas de sucção de poeiras‖, pelo processo de varredura folha a folha, a seco com tr incha e/ou escovas de pelos macios.(SPINELLI, 2011, p.03)
Nesta publicação não há indicação de ano, referências ou método utilizados na
construção da definição dos termos, seu autor, Jayme Spinelli, os apresenta de forma
introdutória a uma série de ações executadas na instituição. Embora o conteúdo
terminológico aborde somente os termos preservação, conservação e restauração, acredita-
se que suas definições são pensadas no contexto da Conservação de Papel.
Material com conteúdo mais específico sobre terminologia de Conservação de
Papel pode ser acessado em ‗Publicações‘, mais precisamente no documento técnico
intitulado ―A Conservação de Acervos Bibliográficos & Documentais‖ de 1997, no qual seu
autor inclui um glossário com termos técnicos empregados na especialidade. Nas palavras
de Celia Zaher, a então diretora da FBN, o texto consiste em um manual que,
(...) procura dar orientações básicas àqueles que se preocupam com a preservação dos acervos bibliográf icos e documentais, def inindo princípios básicos de manuseio simples e de comportamento, para aqueles que trabalham na obra de preservar a nossa cultura expressa em suporte papel, proveniente do passado, para as gerações presentes e futuras. (SPINELLI, 1997, p. 05).
O glossário encontra-se ao final do manual, antes das referências, nele são
apresentados vinte e um termos relativos à Conservação de Papel e não consta explicação
42
quanto à sua seleção, tampouco quanto à sua elaboração. A seguir veja-se exemplo de
terminologia extraída dessa relação elaborada por Spinelli (1997, p.77):
MIGRAÇÃO ÁCIDA - transferência da acidez de um material ácido para outro não ácido (ou com grau menor de acidez), quando os dois materiais estão juntos.
Finalizando a primeira etapa da pesquisa, realizou-se a busca por referenciais
terminológicos no IPHAN (2011), que em seu site se define como um ente
(...) responsável por preservar a diversidade das contribuições dos diferentes elementos que compõem a sociedade brasileira e seus ecossistemas. Esta responsabilidade implica em preservar, divulgar e fiscalizar os bens culturais brasileiros, bem como assegurar a permanência e usufruto desses bens para a atual e as futuras gerações.
No ano de 1937, por meio do decreto-lei n°25, o papel foi incluído como tipologia de
bem cultural no rol de patrimônio a ser preservado (CASTRO, 2008, p. 66), fim para o qual a
Conservação de Papel é aplicada. Segundo informação do site, ―além de mais de um milhão
de objetos, incluindo acervo museológico, cerca de 250 mil volumes bibliográficos,
documentação arquivística e registros fotográficos, cinematográficos em vídeo‖ estão
cadastrados junto à instituição.
Em sua página virtual o IPHAN disponibiliza uma coletânea virtual formada por
Cartas Patrimoniais, edições Iphan, Dossiês do Patrimônio Imaterial, Legislação, Revista
Eletrônica do Iphan, Nos Arquivos do Iphan - Revista eletrônica, Revista do Patrimônio,
Textos Especializados, Vídeos do patrimônio. No link ‗textos especializados‘ são
encontrados, entre outros, ―textos integrantes de publicações, autorizadas pelos autores
para veiculação na rede mundial de computadores‖.
Ao acessar a relação desses textos, somente foi encontrado um título contendo
referencial terminológico: ‗Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira‘22, o qual não
corresponde ao objeto da pesquisa. Para fins do presente trabalho, não foram identificadas
publicações relacionadas à especialidade Conservação de Papel.
22
Em 2004, com patrocínio da Unesco, a Instituição lançou o Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira. Contendo 2.092 termos, selecionados a partir dos acervos documentais e museológicos do Centro, esse tesauro está estruturado em duas partes: Parte Sistemática — os termos apresentam-se em ordem de classificação hierárquica; e, Parte Alfabética — os termos apresentam-se com notas explicativas e de relacionamentos, estando ordenados alfabeticamente, independente de sua classificação. São apresentadas também, as referências bibliográficas das 172 obras utilizadas como fontes de consultas. E, nessa primeira versão, as categorias tratadas são: Alimento, Artefato, Associação, Atividade Produtiva, Atividade Ritual, Indivíduo e Matéria-prima. (IPHAN, s/d)
43
Tabela 1. Publicações on-line disponibilizadas em sites de instituições contendo referenciais
terminológicos em português.
Fonte Título
Tipo N° de termos
Área de Conhecimento Observações
ABER - - - - -
ABRACOR
Terminologia para definir Conservação
do Patrimônio Cultural Tangível
(2010)
Informativo
04 Conservação
Versão em português da resolução de
2008 do ICOM-CC
FBN
Diretrizes de Preservação na
Fundação Biblioteca Nacional
Guia 03
-Biblioteconomia/
Conservação
Conteúdo voltado para contexto da
especialidade
FBN
A Conservação de Acervos
Bibliográficos & Documentais (1997)
Manual técnico
21 Conservação
Restrito a livros e
documentos
IPHAN - - - - -
Em suma, entre os resultados buscados nos sites institucionais, identificou-se
apenas uma (01) publicação correspondente ao objeto de estudo no presente trabalho: o
glossário que integra o manual técnico ―A Conservação de Acervos Bibliográficos &
Documentais‖, disponibilizado on-line no site da FNB.
Constata-se, entretanto, que tal referencial terminológico de Conservação de Papel
cumpre função complementar ao conteúdo ali abordado, não tendo a pretensão de esgotar
as possibilidades terminológicas da especialidade.
Objetivando alcançar outros resultados também em português, decidiu-se por
realizar busca em site de Portugal onde tanto a formação em Conservação e sua
institucionalização se mostram em estágio mais avançado23. Considerando isso, selecionou-
se para contribuir à pesquisa o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), um organismo
do Ministério da Cultura de Portugal que integra 28 museus e 05 Palácios Nacionais e
coordena a conservações desses acervos, conforme descrição abaixo:
23
Segundo informações obtidas junto ao ―Portal de Conservação e Restauro do Património Cultural – Prorestauro.com‖, para a formação em Conservação nesse país, atualmente existem 06 cursos de graduação, 04 de mestrado, 03 de doutorado e 07 cursos técnico-profissionais. Além de outros 10 cursos relacionados com Conservação e Restauro, como por exemplo, o mestrado em Patrimônio Artístico e Conservação da Universidade Portucalense. (PRORESTAURO, 2011)
44
Constituindo-se como um serviço de referência na definição e desdobramento de políticas e actividades de preservação e conservação, o IMC conta com dois serviços especialmente vocacionados para assumir as responsabilidades do Estado nesta área: o Departamentos de Conservação e Restauro e o Laboratório José de Figueiredo. Neste campo, outra das importantes missões do IMC é o apoio à formação graduada e pós-graduada de técnicos e investigadores que, nas suas oficinas e laboratórios, em contacto directo com as obras de arte, podem percepcionar a multiplicidade de problemas levantados pelo estudo dos materiais e técnicas de produção artística e pela conservação dos bens patrimoniais. (IMC, 2011).
Em sua página virtual são disponibilizadas edições on-line de publicações
produzidas pelo IMC. Entre essas, um Vade Mecum sobre conservação em igrejas, quatro
artigos sobre intervenções realizadas nos laboratórios da instituição e dois cadernos
técnicos, o primeiro versando sobre Conservação Preventiva e o segundo sobre
documentos normativos abordando os aspectos metodológicos e éticos que traçam a
evolução dos objetivos e princípios da profissão do conservador-restaurador.
Tanto no link ‗Publicações‘ quanto na busca realizada por meio da barra de
pesquisa na página inicial do site, utilizando os descritores acima citados, não foram obtidos
resultados correspondentes ao objeto do presente trabalho.
2.3. Publicações identificadas aleatoriamente no Google24
Em vista do resultado muito reduzido obtido na pesquisa realizada junto aos sites
das instituições, realizou-se a pesquisa sem fonte pré-determinada, de forma aleatória,
utilizando como ferramenta de busca o site Google. Foram usados os mesmo descritores da
primeira etapa. Os resultados são apresentados na Tabela 2 seguindo os mesmos moldes
da tabela previamente apresentada e passam a ser analisados seguindo a ordem
cronológica de publicação.
Nesta segunda etapa, vários tipos de publicações, com referenciais contendo
termos relacionados à Conservação de Papel, foram identificados. No ano 2000, o Arquivo
do Estado de São Paulo, em parceria com a Imprensa Oficial do Estado e a Associação de
Arquivistas de São Paulo, lançou uma série de publicações – denominada Como Fazer –
com o objetivo de orientar os profissionais da área em relação a aspectos práticos do dia-a-
dia de trabalho com acervos.
Entre as publicações está o volume “Como Fazer 5 – Como fazer Conservação
Preventiva em Arquivos e Bibliotecas”, elaborado por Norma Cassares com a colaboração
24
Escolheu-se este site de busca em razão de sua popularidade e do tempo limitado para a pesquisa.
Entretanto tem-se consciência do viés deste método em razão da apresentação de resultados pelo Google, o qual varia conforme o acesso aos conteúdos dos sites.
45
de Cláudia Moi (ambas conservadoras-restauradoras especialistas em papel). Segundo o
próprio manual, seu objetivo é:
(...) oferecer informações básicas e práticas a profissionais que atuam direta ou indiretamente em acervos de bibliotecas e arquivos, aborda um conjunto de princípios fundamentais para a implementação e execução de Planos de Conservação, permitindo aos profissionais que não têm treino nem experiência na área cooperar de forma eficiente com a equipe de conservação das instituições. (CASSARES, 2000, p. 11)
E explica que,
(...) Geralmente, é inviável para uma instituição a contratação de profissionais especializados na área, para desenvolver programas de conservação e restauração do acervo. Assim, o cuidado preventivo dos documentos – incluindo armazenamento adequado, higienização do ambiente e princípios básicos de intervenção – não constitui um alvo tão impossível de se alcançar. (idem)
O trecho acima esclarece que o público-alvo do manual consiste de profissionais
não especialistas em Conservação e que trabalham em bibliotecas e arquivos. Sendo assim,
as orientações do manual são iniciadas com o tópico ―Conceitos‖, o qual contém definições
para os termos preservação, conservação e restauração. Tais conceituações se mostram
adaptadas à área de Conservação de Papel, veja-se como exemplo a definição a seguir:
Restauração: é um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou a reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter histórico. (CASSARES, 2000, p. 12) (grifo meu)
Após abordar fatores de deterioração em acervos de arquivos e bibliotecas e
noções de Conservação de Papel, o manual apresenta um glossário contendo oito termos
extraídos da versão 1996 do Dicionário de Terminologia Arquivística que correspondem à
Conservação de Papel.
Com configuração semelhante à série Como Fazer, em 2001 o Projeto
Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos (CPBA)25 publicou uma série de 23
volumes com o objetivo de ―atender às necessidades dos diferentes tipos de bibliotecas no
que diz respeito à informação e aos serviços de conservação‖. Como integrante da série, foi
lançado o volume 13 – ―Manual de Pequenos Reparos em Livros‖ – uma tradução do Book
repair manual escrito em inglês e originalmente publicado pelo lllinois Coperative
Conservation Program. Conforme as palavras da oordenadora do Projeto CPBA, Ingrid
Beck, o manual:
25
Todos os volumes desta coleção estão disponibilizados em arquivo formato PDF no site da
ABRACOR.
46
(...) apresenta a estrutura do livro, objetivando a indicação de soluções dos danos mais comuns em coleções de bibliotecas. Descreve os processos de reparos em livros, relacionando os materiais necessários, as técnicas e os procedimentos inerentes. As instruções são didaticamente ilustradas com desenhos e apresentadas passo a passo, de maneira seqüencial e numerada. Orienta técnicas simples para a substituição de lombadas ou inserção de folhas em volumes encadernados. (Milevski, 2001, p. 05)
Principalmente, ―apresenta uma proposta de glossário para padronização de termos
utilizados em publicações sobre encadernação, pequenos reparos e conservação de livros‖
(idem). Mencionado glossário possui 63 entradas versando sobre termos relacionados à
Conservação de Papel, mais especificamente para trabalho em livros, pois ―é finalidade
desse manual que os principais termos descritivos empregados sejam aqueles considerados
os mais familiares/genéricos para os funcionários de bibliotecas ou colecionadores de livros‖
(idem). Considerando se tratar de uma tradução do original em inglês, não são mencionadas
referências nem método de seleção ou construção dos termos.
À diferença de todos os materiais citados até momento, o Arquivo Nacional lançou
em 2005 uma publicação especificamente sobre termos técnicos: o Dicionário brasileiro de
terminologia arquivística (DBTA). Esta organização terminológica em português remonta à
fundação da Associação dos Arquivistas Brasileiros em 1971, ocasião que propiciou a
formação de ―um grupo de estudos dedicado ao tema da terminologia arquivística‖
(ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.10).
Desde então, foram realizados sucessivos estudos terminológicos e diversas
versões foram sendo trabalhadas, discutidas e lançadas ao longo dos anos. Desses
trabalhos, destaca-se o resultado do trabalho em conjunto da Fundação Alemã para o
Desenvolvimento Internacional e da Escola de Biblioteconomia e Documentação da
Universidade Federal da Bahia, pois a elaboração do referencial terminológico, conhecido
como o ―Dicionário da Bahia‖ (537 termos), contou com a assessoria de uma professora
universitária e de 34 alunos do Curso de Especialização em Arquivologia. (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p.10)
Paralelamente, nessa época, um grupo de profissionais da área de São Paulo
também realizou trabalhos sobre o tema e lançou em 1990 o ―Dicionário brasileiro de
terminologia arquivística: contribuição para o estabelecimento de uma terminologia
arquivística em língua portuguesa‖. E no mesmo ano, o Arquivo Nacional institui um grupo
de trabalho para interligar os estudos em curso. (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 11)
Um dos aspectos interessantes deste processo de construção foi a preocupação
das instituições em conjugar os trabalhos, aproximar as discussões regionais e receber
contribuições técnicas de várias partes do país. Tais esforços conjuntos resultaram na
versão 1992 do dicionário, com 550 termos, mas que ainda não seria publicado.
47
Em 1994, essa versão teve seu número de termos reduzidos com o fim de facilitar
os trabalhos da versão em espanhol, e serviu de contribuição para a elaboração de um
referencial terminológico ―que se propunha a promover uma convergência de termos e
conceitos tal como utilizados na Espanha, Colômbia, Cuba, México, Brasil e Portugal‖
denominado “Hacia un diccionario de terminología archivística” de 1997. (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 09-11)
Após todos esses trabalhos publicados (em 1972, 1983, 1986, 1989, 1990, 1994 e
1996), em 1997, começou-se no Arquivo Nacional uma revisão dos 381 termos levantados
até então, sendo interrompida em 1999 na etapa de elaboração das correlações em outros
idiomas. O projeto foi somente retomado em 2003, adotando as seguintes referências:
Para delimitação inicial do universo de termos, tomaram-se como principais referenciais os três DAT
26 (1984, 1988, 2002), o Dicionário de terminologia
arquivística de Portugal, em sua versão provisória (1989) e na definitiva (1993), as versões dos estudos do Arquivo Nacional de 1999 e de 2004 (Subsídios para um dicionário brasileiro de terminologia arquivística) (...) (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.12)
Em 2004, lançou-se a publicação ―Subsídios para um Dicionário brasileiro de
terminologia arquivística‖, uma espécie de rascunho do que viria a ser o Dicionário, ou seja,
uma ―tentativa de se observar a evolução dos conceitos, recorrendo-se à comparação entre
os três DAT, procurando uma aproximação de idéias, nem sempre coincidentes nem de fácil
percepção, e não uma mera tradução de termos ou versão de conceitos.‖ (idem)
Este processo é exemplificado no seguinte trecho exposto por Silvia Ninita de
Moura Estevão, coordenadora do projeto (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.14):
(...) é interessante notar como expressões em diferentes idiomas, consideradas correspondentes nos DAT, foram traduzidas e usadas no Brasil de maneira distinta. São exemplos disso os termos archival heritage (inglês) e patrimoine archivistique (francês) que, no Brasil, geraram,
respectivamente, herança de fundos e patrimônio arquivístico (...)
Assim, após extensos trabalhos, análises de contexto dos termos, usos e desusos,
em 2005 lançou-se o Dicionário brasileiro de terminologia arquivística com 462 termos e
correlações em: alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português de Portugal. Veja-se
exemplo de entrada do Dicionário (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 66):
26
DAT: Dictionary of archival terminology elaborado pelo Conselho Internacional de Arquivos. DAT 1 lançado
em 1984, DAT 2 em 1988 e DAT 3 em 2002, este último apenas divulgado na internet. (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 08-09)
48
Figura 2. Print Screen de entrada no Dicionário brasileiro de terminologia arquivística.
Fonte: http://www.arquivonacional.gov.br/Media/Dicion%20Term%20Arquiv.pdf
Pelo exemplo acima, observa-se que apesar de ser um dicionário de terminologia
utilizada no campo da Arquivologia, também inclui entradas referentes à Conservação de
Papel, uma vez que esta especialidade é empregada na conservação de acervos
arquivísticos, no entanto, não conta informação sobre a participação efetiva de um
profissional do campo da Conservação no processo de elaboração ou revisão.
Outro tipo de publicação on-line selecionada para análise foi o volume 14 da
Coleção Cadernos de Pesquisa, lançado pelo Centro Cultural São Paulo em 2008.
Denominado ―Preservação e Conservação‖, o caderno apresenta imagens, um glossário e
texto sobre as atividades desenvolvidas dentro da Divisão de Pesquisas do centro, a qual ―é
formada por nove equipes técnicas de pesquisa que se dedicam à documentação das
seguintes artes: arquitetura, artes cênicas, artes gráficas, artes plásticas, cinema,
comunicação de massa, fotografia, literatura e música.‖ (MORELATTO et al.., 2008, p.08)
De fato, trata-se de material específico sobre trabalho realizado pelo Setor de
Conservação dessa Divisão, o qual é responsável pela higienização, conservação,
preservação e acondicionamento da documentação do acervo e de sua reserva técnica. O
caderno está subdividido nos seguintes tópicos: Descrição dos Suportes e suas
Especificações, Reserva Técnica, Agentes de Deterioração, Tabela de Durabilidade dos
Documentos, Código de Ética do Conservador-Restaurador, Leis de Defesa do Patrimônio
Histórico, Referência Bibliográfica e Glossário.
De conteúdo concernente à área da Conservação de Papel, o glossário possui 34
entradas, entre termos que designam materiais, equipamentos e técnicas, como por
exemplo: ―Obturação - Enchimento da superfície do papel perdida pela deterioração feito
com papel similar ou japonês e metilcelulose.‖ (MORELATTO et al., 2008, p.74).
Embora os métodos de seleção de termos ou de construção das acepções não
sejam expostos, há menção ao ―Glossário técnico de conservação e restauração em pintura‖
49
de Leonora Rosenfield27 e ao Dicionário brasileiro de terminologia arquivística no tópico
Referência Bibliográfica, além de também constarem todas as publicações analisadas no
presente trabalho até o momento.
Outra publicação on-line em português identificada foi a comunicação intitulada
―Conservação e Restauração de Papel‖ apresentada no XXXIII Encontro Nacional de
Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão, e Ciência da Informação - Os
desafios do profissional da informação frente às tecnologias e suportes informacionais do
século XXI: lugares de memória para a biblioteconomia.
A comunicação foi elaborada por alunos da Universidade Federal de Alagoas e
além de se propor a realizar uma revisão de literatura sobre Conservação de Papel,
conforme seu resumo, também
Apresenta as definições dos conceitos de preservação, conservação, conservação preventiva e restauração. Aborda também as principais práticas de preservação de acervos, que são: Diagnóstico, Monitorização (sic) das Condições Ambientais, Vistoria, Higienização, Reparos, Acondicionamento, Encadernação e Reencadernação, Armazenamento e Plano de Emergência. Cita alguns procedimentos básicos para conservação de acervos, incluindo o de higienização. Por fim, descreve alguns dos principais tipos de papel. (CAVALCANTE et al., 2010)
No total, são apresentados 16 termos ao longo do texto, sem menção ao método de
seleção, construção ou referências de seus conteúdos, salvo no caso do termo
‗conservação corretiva‘:
12 CONSERVAÇÃO CORRETIVA De acordo com José Tavares da Silva Filho - Bibliotecário da Biblioteca Pedro Calmon/UFRJ, Conservação Corretiva serve para remediar a deterioração física ou química. É o processo de utilização da mão-de-obra especializada por profissionais altamente qualificados, contudo, tem como conseqüência o fato de levar a custos elevados e a aplicação limitar-se a partes selecionadas do acervo. (CAVALCANTE et al, 2010, p.05)
As definições contidas na publicação em questão são apresentadas de modo
introdutório e possuem conteúdos adaptadas para o trabalho em bibliotecas, o que
representa outros resultados obtidos na pesquisa, mas que não foram incluídos no
levantamento aqui analisado.
Um aspecto interessante que se extrai desta publicação não diz respeito ao seu
conteúdo em si, mas ao motivo de sua elaboração, pois se observa o interesse em entender
e esclarecer termos pertencentes à Conservação de Papel por parte de acadêmicos de
Biblioteconomia, indicando a inserção da especialidade como disciplina nesse tipo de
formação.
27
ROSENFIELD, L. L. Glossário técnico de conservação e restauração em pintura. Porto Alegre: UFRGS, 1997.
Disponível somente como exemplar impresso.
50
O ‗Pequeno Glossário Dinâmico da Disciplina de Conservação e Restauração de
Documentos‘ é um referencial disponível na página virtual da disciplina de Conservação e
Restauração de Documentos do Curso de Arquivologia da Universidade de Brasília (UNB,
2011). Este referencial contém mais de cem entradas, sem menção à fonte ou me´todo de
seleção, entretanto, durante o estudo do material verificou-se que alguns dos termos foram
extraídos do DBTA, tais como ‗laminação‘ e ‗manuscrito‘.
Finalizando esta etapa do levantamento, também se realizou pesquisa aleatória
em busca de material em português lusitano. Dentre os resultados, destaca-se o Portal de
Conservação e Restauro do Património Cultural (PRORESTAURO, 2011), site que direciona
por meio do link ‗Artigos técnicos‘ a vários glossários categorizados conforme especialidade.
Entretanto, todo o material ali encontrado se encontra em inglês, a exceção do
―Glossário de Restauro‖ na categoria geral, que possui oito páginas com termos em italiano
e suas correlações em português acrescidas de definição, veja-se um exemplo:
Inchiostri metallo-gallici – Tintas metálico-gálicas. Tipo de tintas utilizado a partir do século XII. Existem numerosas receitas, habitualmente baseadas em ácido gálico, sulfato de ferro ou de cobre, e goma arábica. Frescas são de cor castanho escuro, tendente ao roxo; envelhecendo passam do castanho escuro ao laranja claro. Degeneram rapidamente e, por causa da sua acidez, destruem as fibras do papel, corroendo-o. (ARAÚJO, 2003, p.06)
O termo acima corresponde à Conservação de Papel entre outros que se referem a
outras especialidades como ―fresco‖, ―bolo armênio‖, ―laca‖ e etc. Não foram obtidos outros
resultados de referenciais terminológicos em português lusitano.
Nesta segunda etapa da pesquisa obteve-se um número maior de resultados,
embora não todos tenham sido incluídos no levantamento, acredita-se que as publicações
analisadas representam em conteúdo e forma as demais excluídas. O notável dessas
publicações é a importância que a terminologia de Conservação de Papel adquire para a
execução das medidas desenvolvidas pelas suas fontes institucionais.
Entretanto, a não uniformização abre espaço para o uso inadequado de termos
tanto no âmbito acadêmico quanto profissional, o que pode ser agravado pela aplicação da
especialidade em outras áreas de conhecimento, como na biblioteconomia e na
arquivologia.
51
Tabela 2. Publicações on-line identificadas aleatoriamente contendo referenciais terminológicos em
português.
Fonte Título
Tipo N° de termos
Área de Conhecimento Observações
ARQ de SP
Como Fazer Conservação Preventiva em
Arquivos e Bibliotecas
(2000)
Manual 11 Conservação
Para livros e documentos.
CPBA
Manual de pequenos
reparos em livros (2001)
Manual 63 Conservação,
Biblioteconomia e Arquivologia
Para livros. Tradução de original em
inglês.
ARQUIVO NACIONAL
Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística
(2005)
Dicionário 462 Arquivologia Com correlação dos termos em
05 idiomas.
CCSP
Preservação e conservação Cadernos de
pesquisa, v. 14 (2008)
Caderno 34 Conservação
Para arquivos audiovisuais,
visuais e documentos
escritos.
UFPB
Conservação e Preservação do
Papel (2010)
Comunicação 16 Biblioteconomia Para livros e documentos.
UNB
Pequeno Glossário
Dinâmico da Disciplina de
Conservação e Restauração de
Documentos
Glossário 118 Arquivologia
Acepção de alguns termos extraídos do
DBTA.
PRORESTAURO
Glossário de Restauro (2003)
Glossário - Conservação Não específico. Com tradução para italiano.
No próximo capítulo, passa-se a analisar e discutir algumas inconsistências em
português ao abordar as diferentes acepções atribuídas ao termo. A fim de esclarecê-las,
conta-se com o auxilio de obras de referência no estudo da disciplina de Conservação de
Papel no curso da UFPel e de referenciais terminológicos on-line em inglês e espanhol,
tomando as correlações em idioma estrangeiro como parâmetro, pois a terminologia
científica também é construída a partir de vocabulário em idiomas, particularmente,
daqueles que exprimem novos desenvolvimentos técnicos ou possuem maior visibilidade na
área em causa.
52
3. INCONSISTÊNCIAS NA TERMINOLOGIA DE CONSERVAÇÃO DE PAPEL EM
PORTUGUÊS: CORRELAÇÕES COM A TERMINOLOGIA EM INGLÊS E ESPANHOL
No capítulo anterior pôde-se constatar que estudos sobre a terminologia de
Conservação de Papel ainda se mostram bastante incipiente. A ausência de uma
organização conceitual da especialidade abre espaço para usos irregulares de seus termos,
os quais são essenciais para transmitir conceitos e conhecimentos de técnicas, materiais e
resultados.
No presente capítulo, busca-se demonstrar a necessidade por um referencial em
português por meio de exemplos de inconsistências terminológicas. Assim como
exemplificado na introdução, os termos foram selecionados em razão de dificuldade em
responder claramente o questionamento geral: ―Qual termo designa ‗isto‘ na área da
Conservação de Papel?‖, seja ‗isto‘ referente à técnica, material, componente do objeto ou
estado de conservação.
Os variados conceitos e usos atribuídos aos termos são analisados de forma
comparativa e, diante de imprecisão, uma proposta de elucidação do conteúdo é traçada a
partir de livros de ensino e de referenciais terminológicos da área consolidados em outros
idiomas.
Ressalta-se que os questionamentos aqui apresentados na forma de casos se
tratam de um exercício que reforça a idéia central da necessidade por um referencial
terminológico em português, sem a pretensão de solucionar de forma definitiva as
inconsistências. Mas, com o intuito de demonstrar que as dificuldades que surgem desde a
formação acadêmica podem servir de substrato para futuros trabalhos sobre o tema.
3.1. Referenciais terminológicos em idiomas estrangeiros
Tomando como parâmetro a já mencionada definição terminológica proposta pelo
ICOM-CC e suas sugestões de tradução nos outros dois idiomas oficiais da instituição,
optou-se por se proceder da mesma forma e pesquisar publicações em inglês e
53
espanhol que possam auxiliar a esclarecer eventuais dúvidas terminológicas em
português.
No caso do inglês, por ser o idioma de referência científica em nível mundial
e segunda opção à língua materna do autor para a publicação de trabalhos
científicos na Internet, e no caso do espanhol, pela proximidade com o português,
não somente pela confluência na origem de algumas palavras desses dois idiomas,
tidos comumente como irmãos, mas também pela questão geográfica do Brasil, país
inserido na América Latina.
Enfim, além de serem adotados como idiomas oficiais pelo ICOM-CC28, o
inglês e o espanhol também são idiomas de obras utilizadas como referência de
ensino no curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da UFPel
(2011 a; b).
3.1.1. Referenciais terminológicos em inglês
Para a etapa da pesquisa em inglês, foi utilizada a combinação do descr itor
‗paper conservation‟ com os descritores ‗terminology‘, ‗glossary‘ e ‗dicciotnary‘; e,
assim como em português, foram realizadas sucessivas buscas substituindo a
palavra ‗paper‘ por ‗documents‘, ‗books‘ e ‗works of art on paper ‘.
Nesta etapa, somente foram selecionados os resultados especificamente
voltados para a Conservação de Papel, a fim de que sirvam de auxílio nos
questionamentos da terminologia em português. Na tabela 3, os resultados são
apresentados conforme, título, fonte, idioma e observações.
Dos resultados em inglês, selecionou-se o Paper Conservation Catalogue29
(PCC), referencial terminológico especificamente voltado para a Conservação de
Papel contendo definições de técnicas e materiais. Encontra-se disponibilizado pelo
Book and Paper Group - BPG, o maior grupo de especialidade dentro do American
Institute for Conservation (AIC, 2011) com mais de 900 membros que representam
uma variedade de formações e especialidades e compartilham o mesmo interesse: a
conservação de artefatos e coleções com suporte em papel.
28
Esses dois idiomas juntamente com o francês são os 03 idiomas oficias do ICOM-CC, entretanto, esse último não é objeto de estudo no presente trabalho. 29
Catálogo de Conservação de Papel (tradução livre).
54
Segundo o BPG (2011), o PCC surgiu devido à ausência de literatura publicada,
como um trabalho voluntário e colaborativo de troca de informações entre conservadores de
papel, versando especialmente sobre técnicas e conhecimentos adquiridos na prática e que
foram sendo acrescentados aos já consolidados.
Essa expressiva interação entre profissionais talvez seja o principal fator para
alcançar a elaboração do mais completo referencial conceitual na área da Conservação de
Papel.
Devido à extensão de seu conteúdo, o catálogo foi publicado de 1984 a 1994 em 23
fascículos organizados sistematicamente por tópicos com detalhes descritivos, tendo títulos
como ―4. Support Problems (128p.)‖ e ―18. Parchment Treatments‖30, por exemplo. Sobre a
atualização de seu conteúdo, o BPG (2011) informa que:
Readers will notice that, over the years, most chapters grew in length and incorporated more bibliographic references, as the availability of other literature increased. The AIC Book and Paper Group Publications Committee is currently working with a special task force to determine the future of the project.”
31
Paralelamente e propiciando uma forma mais efetiva de atualização, o PCC possui
uma versão na Wikipédia32, seguindo assim a ideia geral dessa enciclopédia aberta de
permitir que os artigos sejam construídos com a colaboração de pessoas que tenham
interesse em participar, expandido o grupo de elaboração do catálogo para além dos
membros do BPG.
O PCC pode ser descrito como um referencial conceitual, pois seu conteúdo não se
propõe apenas a fornecer a definição de um termo técnico, mas também a explorar suas
funções, aplicabilidades, procedimentos, materiais e cuidados entre outras observações.
Sua construção seguiu uma organização sistemática, pela qual o conteúdo vai
sendo aprofundado em desmembramentos do tema tratado. Vejam-se as seguintes
ilustrações:
30
4. Problemas no suporte e 18. Tratamentos para pergaminhos. (tradução livre) 31
Os leitores notarão que, ao longo dos anos, a maioria dos capítulos cresceu em tamanho e incorporou mais referências bibliográficas conforme aumentou a disponibilidade outras literaturas. (...) O Comitê de Publicações do AIC Book and Paper Group está atualmente trabalhando com uma força tarefa especial para determinar o futuro do projeto. (tradução livre) 32
O endereço eletrônico desta versão é http://www.conservation-
wiki.com/index.php?title=Paper_Conservation_Catalog
55
Figura 3. Print Screen de trecho do sumário do fascículo “16. Washing‖ do PCC.
Fonte: http://cool.conservation-us.org/coolaic/sg/bpg/pcc/16_washing.pdf.
Figura 4. Print Screen de definição conferida pelo BPG ao termo washing
33 em seu catálogo.
Fonte: http://cool.conservation-us.org/coolaic/sg/bpg/pcc/16_washing.pdf.
Outro referencial terminológico selecionado foi o ―Bookbinding and the Conservation
of books - A Dictionary of Descriptive Terminology‖34,(ETHERINGTON; ROBERTS, 2011)
um dicionário direcionado aos profissionais que trabalham com a conservação de acervos
bibliográficos, disponibilizado on-line na base de dados de publicações sobre Conservação
denominada Conservation Online (CoOL). O acesso ao seu conteúdo se faz mediante o uso
da barra de busca por termos ou buscando pelo índice alfabético.
À diferença das duas publicações citadas acima, o ―Glossary for works on paper”
foca em termos empregados na Conservação de obras de arte com suporte em papel, tais
como aquarelas, desenhos à carvão, pastel, pinturas à óleo e etc. A maioria de seus termos
33
Dentre as traduções possíveis em português para a palavra em inglês Washing, a mais adequada ao contexto de
Conservação de Papel seria „banho‟. 34
Encadernações e a Conservação de Livros – Um Dicionário de Terminologia Descritiva (tradução livre)
56
designa danos identificados durante o diagnóstico do estado de conservação. Além da
definição, algumas entradas possuem links para acessar fotografias que ilustram o dano.
Este glossário é disponibilizado na página virtual da empresa “The Fine Arts
Conservancy / Stoneledge Inc.‖ (FAC), a qual oferece serviços de Conservação e Seguros
para obras de arte. Além do glossário para obras de arte em papel, também podem ser
acessados glossários para pinturas, mobiliário e elementos decorativos de mobiliários.
(FAC, 2006)
Outros tipos de publicações, que não especificamente dicionários ou glossários,
também foram incluídos como material de consulta para a análise dos termos em razão do
comprometimento de suas fontes com a preservação de bens culturais e especificidade do
assunto.
Na página virtual da International Federation of Library Associations (IFLA, 1998),
obteve-se o manual ―Principles for the Preservation and Conservation of Library Materials‖
contendo um glossário com termos relativos à Conservação de Papel, o qual foi elaborado
com a participação das Institutions Core Programme on Preservation and Conservation e do
Council on Library and Information Resources.
O manual foi elaborado pela IFLA para fomentar a aceitação e difusão dos
princípios profissionais de administração da preservação e conservação de acervos
bibliográficos.
Além desses, optou-se por incluir o “Conservation book repair: a training manual”
publicado pela Alaska Library Association. Esta publicação de 200 páginas apresenta
orientações voltadas para a Conservação de livros, incluindo ilustrações de técnicas e um
glossário (BonaDea, 1995).
Por último, se selecionou o ―Care and Handling of Manuscripts‖ elaborado pelo
consultor da UNESCO, Antonio Mirabile (2006). Este manual faz parte da série ―Cultural
Heritage Protection Handbook‖ e contém explicações e ilustrações sobre cuidados com
material bibliográfico, servindo de referencial.
57
Tabela 3. Referenciais terminológicos em inglês.
Fonte País Título Tipo Observações
AIC Estados Unidos
Paper Conservation
Catalogue Glossário
24 fascículos do catálogo estão
disponíveis on-line em arquivo PDF.
CoOL Estados Unidos
Bookbinding and the Conservation
of books - A Dictionary of Descriptive
Terminology
Dicionário
Na versão on-line, o conteúdo
somente pode ser acessado por
termo buscado individualmente.
IFLA França
Principles for the Preservation and Conservation of Library Materials
Orientações Contém glossário com 34 termos.
Alaska Library Association
Estados Unidos
Conservation book repair: a
training manual Manual
Material com 200 páginas sobre
procedimentos de Conservação de
livros.
UNESCO França Care and
Handling of Manuscripts
Manual Conteúdo
explicativo com ilustrações.
FAC Estados Unidos
Glossary for works on paper
Glossário Possui 74 termos,
alguns com imagens.
3.1.2. Referenciais terminológicos em espanhol
Procedeu-se da mesma forma em relação à pesquisa por referencias
terminológicos on-line disponibilizados em espanhol. Foram utilizados os seguintes
descritores: ‗conservación de papel‘, ‗terminologia‘, ‗glosario‘ e ‗diccionario‘.
A palavra ‗papel‘ também foi substituída em sucessivas buscas pelas palavras
‗documentos‘, ‗libros‘ e ‗obras de arte en papel‘. Os resultados conforme fonte, título, tipo de
publicação e observações são apresentados na Tabela 4.
Primeiramente, buscou-se material na página virtual da principal instituição
responsável pela preservação de bens culturais da Espanha que faz parte do Ministério da
Cultura do país e cuja origem é o extinto Instituto de Conservación y Restauración de Bienes
Culturales:
58
El Instituto del Patrimonio Cultural de España (IPCE) es una Subdirección General de la Dirección General de Bellas Artes y Bienes Culturales del Ministerio de Cultura, con funciones de restauración, investigación, documentación, formación y asesoría en la conservación del Patrimonio Histórico. (IPCE, 2011)
O IPCE disponibiliza publicações on-line contendo relatórios de trabalhos
desenvolvidos pela instituição, assim como boletins digitais com informações sobre suas
atividades e alguns artigos. No entanto não foram encontrados materiais contendo
referenciais terminológicos.
Resultados pertinentes ao presente trabalho foram obtidos durante a pesquisa
realizada de forma aleatória35 sem fonte pré-determinada. Primeiramente, selecionou-se a
versão em espanhol do ―Principles for the Preservation and Conservation of Library
Materials”, publicação da IFLA originalmente em inglês citada no tópico anterior.
Esta versão em espanhol foi lançada pelo Centro Nacional de Conservación y
Restauración do Chile (CNCR, 2000) - unidade integrante da Dirección de Bibliotecas,
Archivos y Museos (Dibam) desde 1982, sob o título ―IFLA - Principios para el cuidado y
manejo de material de bibliotecas”. O interessante é a possibilidade de comparação entre os
conteúdos das duas versões.
“La Preservación y restauración de documentos y libros en papel: un estudio del
RAMP con directrices” é um manual lançado em 1984 e publicado em 1985 pela UNESCO
dentro do projeto Records and Archives Management Programme36 (RAMP) para
bibliotecários e arquivistas especialmente de países em desenvolvimento.
Conforme seu prefácio, “hace una revista detallada de los sistemas y principios
relativos a la planificación e implementación de un programa para la conservación y
restauración de documentos y libros en papel.” (CRESPO; VIÑAS 1984) Portanto com
conteúdo para referência.
Um dos mais importantes resultados encontrados foi o “Catálogo de conservación
de papel del American Institute for Conservation”, versão em espanhol do PCC lançada em
1998 pela Biblioteca Nacional de Venezuela com a co-participação da Comissão de
Preservação e Acesso, programa internacional do Conselho de Recursos de Bibliotecas e
Informação - Washington D.C.
35
Por meio do site de busca Google. 36
Programa de Gestão de Documentos e Arquivos (tradução livre).
59
O projeto ―CONSERVAPLAN – Documentos para Conservar” foi descrito da
seguinte forma:
Este programa recoge y d isemina em traducc ión a l españ ol documentos s ignif icat ivos de la l i teratura de conservac ión aparec ida en otros id iomas y cuya lectura es recomendada en los programas de formación. La ausenc ia de publ icaciones actual izadas en español, sobre conceptos, h istor ia y técnicas, há frus trado e l n ivel y cal idad de la conservac ión en países h ispanopar lantes. Conservaplan ha s ido creado para proporc ionar apoyo b ib l iográf ico en temas fundamentales. (CONSERVAPLAN a, 1998, p.02)
Em razão de limitações orçamentárias, o projeto não realizou a tradução
de todos os fascículos do PCC, selecionou 06 temas que representam as
preocupações mais comuns de Conservação de Papel em bibliotecas e arquivos
da região (Caracas, Venezuela): 1. Examen visual; 2. Hongos; 3. Limpieza de la
superfície; 4. Remoción de bisagras, cinta adhesiva y otros adhesivos; 5. Lavado e
6. Apresto/reapresto.
Interessante ressaltar que o projeto CONSERVAPLAN (a, 1998, p.03)
realizou a tradução do conteúdo do PCC de forma crítica, o grupo de especialistas
envolvidos na tarefa levou em consideração os usos e desusos dos termos em sua
região e se por ventura encontraram disparidades, estas foram registradas no
conteúdo.
Todos os referencias em idioma estrangeiro citados até aqui possuem
acesso on-line, entretanto, considerando que o presente capítulo se propõe a
discutir inconsistências terminológicas em português e sugerir soluções, decidiu -
se incluir no rol de obras de referência, além das disponíveis on-line, livros
impressos.
São três as obras impressas utilizadas como referência bibl iográfica no
ensino da disciplina Conservação de Papel no curso de Conservação e Restauro
da UFPel: Conservación y Restauración Materiales, Técnicas y Procedimientos de
la A a la Z (CALVO, 2003); La restauración em libros y documentos – Técnicas de
intervención (CLAVAÍN, 2009) e La restauración del papel (MUÑOZ VIÑAS b,
2010).
60
Tabela 4. Referenciais Terminológicos em espanhol.
Fonte País Título Tipo Observações
CNCR Chile
IFLA - Principios para el cuidado y
manejo de material de bibliotecas
Orientações
Contém glossário com 34 termos.
Tradução de original em inglês.
UNESCO França
La Preservación y restauración de documentos y libros en papel: un estudio del
RAMP con directrices
Orientações
Não possui glossário, mas
contém definições de procedimentos.
BNV Venezuela
Catálogo de conservación de
papel del American Institute for Conservation
Glossário Tradução de 06
fascículos do PCC.
CALVO Espanha
Conservación y Restauración Materiales, Técnicas y
Procedimientos de la A a la Z
Dicionário
Material impresso.
Conteúdo geral sobre
Conservação.
CLAVAÍN Espanha
La restauración em libros y
documentos – Técnicas de intervención
Livro Material impresso.
VIÑAS Espanha La restauración
del papel Livro Material impresso.
3.2. Análise de casos de inconsistências terminológicas em português
Não são poucas as ocasiões que geram a necessidade de se dispor de referenciais
terminológicos de Conservação de Papel. Pode-se dizer que uma terminologia clara e bem
definida se faz necessária desde o primeiro contato com a especialidade durante a formação
acadêmica.
A própria designação da disciplina pode tornar-se alvo de reflexão. Qual seria a
mais adequada? Conservação de Papel? Conservação de Acervos Bibliográficos e
Documentais? (SPINELLI, 1997) Conservação de Documentos Gráficos? Conservação e
61
Restauro de Bens Culturais em Papel (UFPel b, 2011) ou Conservação e Restauro de
Papéis (UFPel, 2011a)?
Para o presente trabalho, optou-se por Conservação de Papel, uma designação
que segue a ideia contida na conceituação adotada pelo ICOM-CC, conferindo ao termo
Conservação a característica de termo ―guarda-chuva‖, ou seja, aquele que compreende
todas as medidas e ações sobre bens culturais. Cabendo ao termo Papel definir a
especialidade, assim como o fazem Pintura e Cerâmica, entendendo que esse abrange
todos os tipos de bens com suporte em papel, sejam livros, documentos, pinturas, desenhos
e etc.
Embora dúvidas terminológicas já surgissem durante as lições teóricas da
disciplina, as inconsistências terminológicas se tornaram mais evidentes nas atividades
práticas.
Sendo assim, os termos selecionados para ilustrar os casos de inconsistências
foram extraídos das experiências da autora do presente trabalho durante seu estágio
voltado para a especialidade de Conservação de Papel e realizado sobre acervo
pertencente ao Laboratório Químico Leivas Leite S.A. do município de Pelotas,
RS.Bibliotecas, arquivos ou ateliês particulares com laboratórios de Conservação de Papel
ainda são inexistentes no município, no entanto o estágio se fez possível a partir da parceria
estabelecida entre dito Laboratório e o Curso de Conservação e Restauro da UFPel.
Assim surgiu o projeto de extensão denominado ―Preservação de acervo do
Laboratório Leivas Leite‖, coordenado pela docente Silvana Bojanoski com a colaboração
dos professores Paula Lima, Jaime Mujica, Ma. Letícia Mazzucchi e Roberto Heiden. Sua
proposta foi diretamente derivada da vontade dos dirigentes do laboratório em realizar o
Centro de Memória Leivas Leite para expor objetos que contassem parte de sua trajetória.
Além de peças científicas, considerável volume de objetos em papel também
integrava o acervo, tais como: livros impressos, cadernos manuscritos, documentos
datilografados, diplomas em pergaminho, diplomas em papel e fotografias. Paralelamente ao
projeto, o estágio foi realizado no período de abril a setembro do corrente ano, período em
que inconsistências terminológicas se traduziram em algumas das dificuldades enfrentadas
no trabalho sobre esse tipo de acervo.
62
3.2.1. Caso n° 1: Qual a designação de conteúdo e/ou elementos sobre o suporte em
papel?
A documentação do bem cultural integra a primeira etapa de trabalho de
Conservação, cabe ao responsável (ou equipe) realizar tanto o registro fotográfico quanto os
registros escritos, assim determina o artigo 14 da Seção 2 (Pesquisa e Documentação) do
Código de ética do conservador-restaurador:
Antes de iniciar qualquer ação ou intervenção em uma obra o conservador-restaurador deve colher todas as informações capazes de gerar e salvaguardar o conhecimento a seu respeito, além de levar a cabo um acurado exame de sua composição e estado de conservação, recorrendo para isto, se necessário, a instituições e técnicos de outras áreas, nacionais ou internacionais. Os resultados desse exame devem ser extensamente anotados e documentados, fotograficamente, por meio de gráficos, mapas, tabelas e análises estatísticas. Baseado nestes dados, o restaurador elaborará um relatório sobre a peça e estabelecerá o procedimento a ser seguido, o qual deverá ser apresentado ao proprietário ou guardião legal do bem. (APCR, 2005)
Constatada a importância da descrição do bem cultural como parte do processo de
seu conhecimento, assim como para o posterior planejamento de Conservação, observe-se
a seguinte imagem e a dúvida terminológica surgida na etapa de registro:
Figura 5. Diploma em papel do acervo Leivas Leite datado de 1933.
Fonte: Silvana Salazar.
Considerando que somente iria se trabalhar sobre suporte em papel do diploma, a
seguinte questão surgiu durante o preenchimento de sua ficha: Qual termo designa o
63
conjunto de elementos na imagem sobre o suporte em papel? Seria uma litogravura,
xilogravura ou um desenho colorido à lápis de cor? Ou uma impressão de texto com
figuras?
Por se tratar de uma imagem composta de diferentes elementos (técnica de
gravura, impressão de textos e conteúdo manuscrito), no preciso momento buscava-se um
termo que designara de forma uniformizada aquilo que se visualizava sobre o suporte em
papel, sobre todo o conjunto. Veja-se na tabela abaixo as opções terminológicas
encontradas:
Tabela 5. Opções de termos para o Caso n°1.
Idioma Termo Referencial Acepção
Português Informação DBTA, (2004, p. 107
e 159)
Elemento referencial, noção, idéia ou mensagem contidos num documento. (Suporte: Material no qual são registradas as informações.) (grifo nosso)
Espanhol Medio
CONSERVAPLAN, Fascículo 3 Limpieza
de la superfície (b 1998, p.12)
“B. Médios - (...) Muchos
tipos de medios no pueden resistir la
limpieza al seco. Los daños potenciales
pueden incluir: (...); pérdida o rotura de material friable (por ejemplo, tiza, carboncillo, pastel, grafito suave, algunas tintas de dibujo e imprenta).” (grifo nosso)
Espanhol Materiales
sustentados MUÑOZ VINÃS (b,
2010, p.81)
“Los objetos com lo que trabaja el restaurador del papel se componen esencialmente de papel, pero también e tintas, pinturas y otros materiales similares. Estos materiales, que denominados „sustentados‟, pueden ser muy distintos, e inclusos excepcionales.”
Inglês Media PCC, Chapter 03 –
Media Problems (1985, p. 01)
“Media Problems
Characteristics inherent in graphic media which create problems: in the media or in the relationship between media and support;(...)” (grifo nosso)
Inglês Media FAC, Glossary for works on paper
(2006)
“Cleavage: Separation and lifting of media (gouache, paint, etc.) from the support layer (paper, board, etc.).” (grifo nosso)
64
Conforme a tabela acima, se observa que o termo ‗Informação‘ é o que mais se
aproxima, em português, ao que se desejava descrever na Figura 04. Entretanto, por
pertencer à terminologia arquivística, não proporciona segurança quanto à sua abrangência
e inserção na área da Conservação de Papel.
Poderiam ser a litogravura, a impressão e o conteúdo manuscrito, sobre o suporte
em papel da Figura 04, descritos como ―elemento referencial, noção, idéia ou mensagem
contidos num documento‖? Se não foram mencionadas técnicas de produção artística na
acepção fornecida pelo DBTA?
Observe-se que, assim como o termo do DBTA, os termos utilizados nos textos do
CONSERVAPLAN, PCC e FAC também se relacionam ao contexto da comunicação de
conteúdo, mas com acepções voltadas para a Conservação de Papel. O termo do
CONSERVAPLAN e do PCC abrangem tanto técnicas de produção artística quanto gráficas
(ver grifo), à diferença da acepção do FAC que somente se refere a técnicas de pintura.
Por sua vez, Viñas propõe um termo descritivo mais geral e que não remete à ideia
de comunicação, concentrando-se na materialidade e posição dos componentes em relação
ao suporte, o que simplifica sua designação.
Neste primeiro caso, a ausência terminológica poderia tanto levar a adotar a
tradução de qualquer dos termos estrangeiros como incorporar o léxico adotado pelo DBTA.
De forma que, a questão ―Qual termo designa o conjunto de elementos na imagem sobre o
suporte em papel?‖ teria as seguintes opções como resposta: Mídia (do inglês e espanhol37)
ou Informação. Considerando-se, entretanto, que a primeira opção encontraria melhor
correlação com textos em idiomas estrangeiros, pela proximidade de acepção, grafia das
palavras e pronúncia.
3.2.2. Caso n° 2: Higienização e/ou Limpeza?
Após registros, diagnóstico e delineamento do tratamento, a primeira etapa das
ações sobre o bem cultural em si consiste na remoção de sujidades. Durante o estágio
curricular realizado junto ao acervo do Laboratório Leivas Leite, essa etapa era executada
por meio de três procedimentos realizados individualmente ou em conjunto a depender do
estado de conservação do objeto.
37
Traduções livres realizadas para os termos: “Medio” (espnahol) e “Media” (inglês).
65
Figura 6. Remoção de sujeira superficial com trincha de cerdas macias em pergaminho de 1890 do
acervo Leivas Leite. Fonte: Claudia Lacerda.
Inicialmente, as sujidades sobre a superfície dos objetos foram removidas fazendo-
se uso de uma trincha de cerdas macias (Figura 05); utilizou-se o bisturi com o auxílio da
lupa de mesa para a remoção de acúmulos de sujeira (Figura 06) e borracha em pedaço ou
em pó para remover a sujeira depositada em capas de livros e documentos de compostos
por uma folha de papel só (sem figura).
Figura 7. Remoção de acúmulo de sujeira com o uso de bisturi em diploma em papel de 1933 do
acervo Leivas Leite. Fonte: Silvana Salazar.
Qual termo designa esses procedimentos de remoção de sujidades? Sendo
medidas de Conservação, a depender do caso podem corresponder à Conservação
Preventiva ou à Conservação Curativa, no entanto, de forma mais específica e no contexto
da Conservação de Papel, poderiam ser designados como procedimentos de
―Higienização‖? Ou ―Limpeza‖? É possível a descrição dos três em conjunto ou, no caso em
66
tela, devem ser designados de forma individual? Os dois termos podem ser considerados
sinônimos? Na Tabela 6 são apresentadas as acepções encontradas para esses dois
termos.
Tabela 6. Opções de termos para o Caso n° 2.
Idioma Termo Referencial Acepção
Português Higienização DBTA, (2004, p. 103) Retirada, por meio de técnicas apropriadas, de poeira e outros resíduos, com vistas à preservação dos documentos.
Português Higienização DBTA, (2004, p. 103) Retirada, por meio de técnicas apropriadas, de poeira e outros resíduos, com vistas à preservação dos documentos.
Português Higienização
Como Fazer Conservação Preventiva em
Arquivos e Bibliotecas (2000,
p.27)
8.1 Processos de higienização
8.1.1 Limpeza de superfície
O processo de limpeza de acervos de bibliotecas e arquivos se restringe à limpeza de superfície e, portanto, é mecânica, feita a seco. A técnica é aplicada com o objetivo de reduzir poeira, partículas sólidas, incrustações, resíduos de excrementos de insetos ou outros depósitos de superfície. Nesse processo, não se usam solventes. (grifo nosso)
Português Higienização
A conservação de acervos bibliográficos
& documentais (1997, p.41)
Em conservação empregamos este termo para descrever a ação de eliminação de sujidades generalizadas sobre as obras, como poeira, partículas sólidas e elementos espúrios à estrutura física do papel, objetivando, entre outros fatores, a permanência estética e estrutural do mesmo.
(...)• Limpeza de documentos, sobre superfície plana, a seco, com a utilização de pó de borracha (p. ex. borracha plástica TK Plast, Faber Castel); este procedimento é geralmente utilizado em documentos planos (gravuras, impressos, partituras, etc.). (grifo nosso)
Português Higienização
Conservação e Preservação do
Papel – UFPA (2010, p.04)
Higienizar é retirar as sujidades depositadas sobre os documentos, como poeira e partículas sólidas evitando a destruição de todos os suportes num acervo.
Português Higienização Preservação e
conservação – ARQ de SP (2007, p.74)
No glossário: Processo de limpeza mecânica de superfície dos materiais bibliográficos. É a retirada da poeira, partículas sólidas, incrustações, resíduos de excrementos de insetos e quaisquer outras sujidades da superfície dos documentos por meio de técnicas apropriadas. (grifo nosso)
67
Continuação da tabela 6.
Idioma Termo Referencial Acepção
Espanhol
Limpieza de la superfície /
Limpieza a seco
CONSERVAPLAN, Fascículo 3 Limpieza
de la superfície (b 1998, p.11)
“La limpieza de la superficie, también conocida como limpieza al seco, es una técnica de limpieza mecánica utilizada para reducir el sucio superficial, polvo, tiznes, secreciones de insectos, adherencias, u otros depósitos en la superficie, (en la limpieza al seco, como se utiliza el término en conservación de papel, no se emplean solventes orgánicos).”
Espanhol Limpieza CLAVAÍN (2010,
p.43)
“El inicio de la intervención (...) consiste generalmente de uma limpieza inicial de la suciedad libre depositada em el objeto y de la que penetro hacia el interior de sus hojas – en el caso de libros. Para ello pueden utilizarse brochas, combinadas com uma mesa com aspiración...”
Espanhol Limpieza
Principios para la Preservación y
Conservación de Materiales de
Bibliotecas - IFLA (2000, p.80)
“Limpieza
Evite utilizar solventes en la limpieza. El polvo fino y la suciedad pueden sacarse sin problemas con un papel tisú no abrasivo, aunque es preferible usar una pistola de aire.”
Espanhol Limpieza RAMP (1985, p.48)
“Limpieza, según tratamiento: mecánico, con disolventes no acuosos o limpieza en seco", con elementos acuosos o lavado, con agentes de blanqueo o blanqueadores.”
Inglês
Surface Cleaning /
Dry Cleaning
PCC, Chapter 14 – Media Problems
(1992, p. 01)
“Surface Cleaning
Surface cleaning, synonymously referred to as dry cleaning, is a mechanical cleaning technique used to reduce superficial soil, dust, grime, insect droppings, accretions, or other surface deposits. (Dry cleaning, as the term is used in paper conservation, does not employ the use of organic solvents.)”
Inglês Dry Cleaning
Conservation book repair : a training manual – Alaska
Library Association (1995, p. 39)
“1. Dry Cleaning
Dry cleaning is any kind of cleaning that does not use water or liquid cleaners. Done correctly, dry cleaning will not damage library materials.”
Analisando o conteúdo da tabela 6, o número de inserções em referenciais denota
a importância da compreensão desses procedimentos e sua alta aplicabilidade. Encontram-
se uniformizações terminológicas em espanhol e inglês, ambos os idiomas adotaram suas
68
versões do termo ‗Limpeza38‘ para designar, em linhas gerais, a remoção à seco de
sujidades depositadas sobre o objeto em papel como se mostra nas figuras, à exceção da
acepção em espanhol extraída do projeto RAMP da UNESCO, pela qual também designa
procedimentos com o uso de material aquoso.
A inconsistência persiste somente em relação à terminologia em português, embora
todas adotem ‗Higienização‘ para definir o conjunto de procedimentos em questão, 3 das 5
conceituações utilizam o termo ‗limpeza‘ em seu texto (ver trechos grifados). Afinal,
higienização e limpeza designam os mesmos procedimentos?
Ao optar-se por seguir as correlações em espanhol e inglês, o termo ‗Limpeza‘ seria
a correlação mais direta, bastando diferenciar o método entre ‗à seco‘ e ‗com uso de
materiais aquosos‘. Isto eliminaria ‗Higienização‘, no entanto, seu uso recorrente demonstra
a já consolidação desse termo em português para designar os procedimentos de ‗limpeza à
seco‘ na literatura nacional.
3.2.3. Caso n° 3: Consolidação, faceamento, laminação, reforço ou velatura?
A fragilidade o suporte em papel constitui um fator impeditivo de intervenção, pois
por vezes o próprio manuseio pode danificar e provocar perdas do objeto. A Conservação
de Papel, assim como demais especialidades, busca garantir primeiro a estabilidade do
suporte.
Dessa forma se procedeu no caso de selo de papel, acessório a pergaminho de
1890, pertencente ao acervo Leivas Leite (Figura 07), o qual, devido à sua antiguidade e
anexação inadequada com cera, possuía aspecto ressecado e suas impressões em relevo
estavam em desprendimento, mostrando a instabilidade física do suporte.
Figura 8. Pedaço de papel japonês aplicado com adesivo à base de metilcelulose para evitar perdas no selo em papel enquanto se realizava a remoção de cera com bisturi no verso.
Fonte: Silvana Salazar.
38
Tradução livre ao português dos termos “Limpieza” e “Cleaning”.
69
Ao realizar o registro da medida tomada para evitar perda do suporte, a seguinte
questão foi levantada: qual termo designa esse procedimento? Consolidação,
faceamento, laminação, reforço, e velatura foram alguns dos termos encontrados, veja-se o
levantamento na tabela a seguir.
Tabela 7. Opções de termos para o Caso n° 3.
Idioma Termo Referencial Acepção
Português Laminação DBTA, (2004, p. 111)
Processo de restauração que consiste no reforço de documentos deteriorados ou frágeis, colocando-os entre folhas de papel de baixa gramatura, fixadas por adesivo natural, semi-sintético ou sintético, por meio de diferentes técnicas, manuais ou mecânicas. Ver também velatura.
Português Velatura DBTA, (2004, p. 172)
Processo de restauração que consiste na aplicação de reforço de papel ou tecido em qualquer face de uma folha. Ver também laminação.
Português Velatura
A conservação de acervos bibliográficos
& documentais (1997, p.78)
No glossário: Ato de colar sobre o verso de documentos executados sobre suporte de papel uma folha de papel japonês com o uso de cola metilcelulose, tendo o objetivo de conferir-lhe maior resistência física.
Espanhol Laminación RAMP (1985, p.89)
“La laminación tiene como objetivo corregir la friabilidad de cualquier documento. Para ello, se aplica a las superficies del papel una hoja de refuerzo que propicia la consistencia y la funcionalidad perdida. La operación de laminar puede ser sencilla o doble. Es decir, aplicada en uma sola cara o en las dos.”
Espanhol Laminación
Conservación y Restauración
Materiales, Técnicas y Procedimientos de la A a la Z (2003, p.
130)
“Técnica de restauración de papel que consiste en adherir a uma o amabas caras de um documento um refuerzo que proporciona la consistencia necesaria para su mejor manejo y conservación.
Espanhol Refuerzo / Laminación
VINÃS (2010, p.115 e 211)
“La laminación consiste em adherir al papel uma láminade material de refuerzo que permita su manipulación (p 115). (...) se puede optar por adherir al papel uma lámina de um material suficientemente resistente que impida sucesivos deterioros.”
70
Continuação da tabela 7.
Idioma Termo Referencial Acepção
Espanhol Consolidación / Laminación
CLAVAÍN (2010, p.173)
“La laminación es um proceso de consolidación que supone la adhesión, em toda la superfície de la hoja, de um refuerzo fino que permite contemplar la grafia a través de él, aunque em documentos com grafia por uma cara es posiblehacer uso de refuerzos más gruesos y opacos por el reverso.”
Inglês Facing
PCC, Chapter 23 – Consolidation/
Fixing/Facing
(1988, p. 14)
“23.3.3 Facing materials
Various materials have been used in combination with Japanese paper or lightweight tissue to support crumbling or fractured media during treatment. The most important factor to considerbefore applying a facing is whether it can be successfully removed.”
No conteúdo da tabela, observa-se que a designação ‗Velatura‘ aparece mais vezes
em referencias terminológicos em português e que as acepções citadas descrevem
satisfatoriamente o procedimento mostrado na Figura 07. Por outro lado, observe-se o termo
‗Velatura‘ quando relacionado à pintura:
Uma velatura geralmente significa uma fina camada transparente de cor a óleo de um valor mais escuro aplicada quer sobre uma camada opaca ou transparente de óleo, quer sobre um fundo de têmpera de um valor mais claro. (MAYER, 2006, p.267)
Definição semelhante corresponde ao termo ‗Veladura‘ do espanhol, que se parece
em grafia e pronúncia ao termo em português:
Película translúcida aplicada a uma pintura ya seca, para matizarlas em zonas o, en general, para darle um velo ligeramente coloreado, durante la ejecución de la misma, pero seca ya la pintura. (CALVO, 2003, p.229)
Confusões podem surgir em função de outra acepção para ‗Velatura‘,
especialmente considerando o conteúdo interdisciplinar da formação em Conservação na
UFPel, a qual inclui o estudo de técnicas da produção artística nos primeiros semestres,
antes da disciplina Conservação de Papel.
Em relação ao termo ‗Laminação, observa-se uma uniformização no uso da
correlação desse termo em espanhol, mesmo havendo disparidade quanto à técnica lato
sensu - para Muñoz Vinãs corresponde ao Reforço e para Clavaín à Consolidação - as
denominações do procedimento convergem em designação e acepção nos quatro
referenciais analisados.
71
―Facing‖ é a correlação em inglês que designa o procedimento ilustrado na Figura
07, embora não haja definição expressa do termo no PCC, ao tratar do tópico ―facing
materials”, a finalidade é descrita: “to support crumbling or fractured media during
treatment.”39
Esse termo em inglês também foi mantido em espanhol e empregado na
terminologia de Conservação de Pinturas, como pode ser constatado no Manual de
Restauración de Cuadros (NICOLAUS, 2003). No português, usa-se a correlação
‗Faceamento‘, termo não encontrado em material de Conservação de Papel, mas presente
em textos técnicos das demais espacialidades, como por exemplo, no artigo ―Restauração
do retábulo-mor da igreja abacial do mosteiro de São Bento de Olinda, Pernambuco, Brasil,
para a exposição no Museu Solomon R. Guggenheim de Nova Iorque, EUA‖:
Faceamento localizado
Para a preparação do desmonte, nas áreas da talha onde o suporte estava fragilizado pela ação do cupim e nos contornos dos cravos e pregos, foram realizados faceamentos parciais, com papel restauro aderido com metilcelulose, após prévia aplicação de verniz provisório de damar, diluído a 8% em aguarrás mineral. (RIBEIRO, 2002, p. 111)
Considerando as distintas possibilidades, pondera-se que o termo ‗Laminação‘ se
mostra mais consistente em seu uso e acepção, não dando margens a confusões,
designando o procedimento da Figura 07 de forma satisfatória.
Entretanto o uso termo ‗Velatura‘ já se encontra inserido no contexto de
Conservação de Papel por meio de referenciais terminológicos em português, motivo pelo
qual deveria ser objeto de discussão por equipe de especialistas na área. Da mesma forma
deveria se proceder em relação ao termo ‗Faceamento‘ (versão em português do inglês
facing), já que a inserção de traduções também faz parte de uma construção terminológica
científica.
3.3. Sugestões de possíveis uniformizações
No presente capítulo discutiram-se alguns exemplos de inconsistências
terminológicas na área da Conservação de Papel. Embora em número reduzido, considera-
se que os três casos acima apresentados conseguem expor as dificuldades que podem
surgir em razão da ausência de referenciais terminológicos em português que tenham sido
construídos especificamente para o contexto da Conservação de Papel como disciplina
principal e não apenas como integrante de outras áreas de conhecimento.
39
―dar sustentação a suporte quebradiço ou fraturado durante tratamento‖ (tradução livre)
72
Mesmo não estando esgotada a discussão terminológica apresentada no presente
capítulo, as acepções e informações levantadas podem conduzir ao esclarecimento sobre
as inconsistências apontadas. Veja-se na tabela abaixo uma tentativa de uniformização
terminológica com sugestões resultantes da análise das informações levantadas em cada
um dos casos discutidos anteriormente.
Tabela 8. Sugestões para uma uniformização terminológica.
MÍDIA. Elementos gráficos e artísticos sobre o suporte em papel que compõem o objeto.
Inglês: Media
Espanhol: Medio
HIGIENIZAÇÃO. Procedimentos da técnica de limpeza de suportes em papel realizados à
seco.
Inglês: Cleaning; Dry Cleaning
Espanhol: Limpieza; Limpieza a seco
LAMINAÇÃO. Adesão de material de reforço com adesivo ao suporte em papel para conferir-lhe resistência física, permitindo seu manuseio e tratamento.
Inglês: Facing
Espanhol: Laminación
Ressalta-se que o conteúdo da tabela acima, representa mera tentativa, sem ter a
pretensão de determinar os rumos da terminologia de Conservação de Papel e muito menos
de fixar conteúdos terminológicos da especialidade.
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aspectos da Conservação de Papel e características da terminologia apresentados
no primeiro capítulo revelaram como esta pode ser útil para a evolução e consolidação
dessa especialidade no campo científico do país que tem se desenvolvido amplamente em
especial dentro de instituições responsáveis bibliotecas e arquivos. No segundo capítulo,
buscou-se apresentar um panorama atual dessa relação e situar sua difusão ao realizar um
levantamento de publicações on-line contendo referenciais terminológicos em português.
Ao examinar os conteúdos terminológicos identificados, a obtenção de apenas um
resultado constatou ser esse um tema incipiente na área da Conservação de Papel e ainda
não explorado dentro das instituições voltadas para a preservação de bens culturais em
papel. Mas ao mesmo tempo, as reduzidas inserções terminológicas identificadas em
publicações coletadas aleatoriamente demonstram a preocupação de alguns autores em
comunicar de forma clara os conteúdos técnicos e científicos de seus trabalhos e/ou
orientações, especialmente quando o público-alvo consiste de profissionais de outras áreas.
Mediante a análise de casos de inconsistências terminológicas na área tornou-se
clara a necessidade de dispor de referenciais terminológicos para consultar desde as
primeiras atividades no período de formação.
Esta questão que merece a devida atenção tanto das instituições de ensino com
curso de formação em Conservação como das instituições civis comprometidas com o
progresso dessa área no país. Tomando como exemplo os esforços já realizados em outros
países como a Venezuela e os Estados Unidos que conseguiram criar e executar projetos
para que a uniformização terminológica seja uma ferramenta útil aos profissionais da área,
como também uma ponte de comunicação científica e intercâmbio de conhecimentos.
Por outro lado, o exercício de discussão terminológica também deixou claro que
referenciais terminológicos não podem ser utilizados isoladamente, pois apesar de
esclarecerem conceitos, servem como um complemento ou uma introdução aos temas de
Conservação de Papel que devem ser abordados e estudados de forma mais completa com
74
uma variada bibliografia que possa atender as especificidades das medidas que cada bem
com suporte em papel exigiria.
Entende-se o presente trabalho como a expressão de uma inquietação acadêmica,
representado apenas um ponto de partida de discussões, já que a complexidade do assunto
não se esgota em algumas páginas nem na perspectiva de uma pessoa isoladamente.
Acredita-se que o tema possui conteúdo apto para ser objeto de extensos projetos
de pesquisa na graduação ou pós-graduação, onde haja espaço para a realização de
pesquisas mais direcionadas à identificação de inconsistências. Isto poderia ser realizado
por meio de questionário aplicado aos acadêmicos dos cursos de formação em
Conservação (de ensino superior ou técnico) e profissionais da área inseridos em
bibliotecas, arquivos e ateliês particulares, para que as distintas perspectivas abrangidas
contribuam na compreensão das dificuldades.
A participação interdisciplinar também seria essencial, posto que, um trabalho com
o objetivo de construir ou consolidar uma terminologia específica, não só exige a realização
de extensas pesquisas que transcendem os conhecimentos adquiridos numa graduação,
como também a colaboração de profissionais experientes da área de Terminologia,
Tradução e de Conservação de Papel, além da chancela por instituições voltadas para
ambas áreas que possam conferir credibilidade aos resultados.
Pondera-se que, diante da consolidação da Conservação como formação
profissional, as limitações impostas por uma terminologia não uniformizada poderão ser
superadas em prol da produção científica de qualidade que pode emergir do estudo e
trabalho em uma área tão rica em conteúdo e de ampla aplicabilidade como a Conservação
de Papel.
75
Referências
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ABRACOR. Site da Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais. Disponível em: http://www.abracor.com.br/novosite/. Acesso em: 12 ago. 2011.
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76
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