7/17/2019 SOCIEDADE DE INFORMAO, TERRITRIO E CIDADE NA AMAZNIA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARINSTITUTO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO
SOCIEDADE DE INFORMAO, TERRITRIO E CIDADE NA AMAZNIA
FABRCIO GEAN LOPES GUEDES
Belm-PAJulho de 2013
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Fabrcio Gean Lopes Guedes
SOCIEDADE DE INFORMAO, TERRITRIO E CIDADE NA AMAZNIA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura eUrbanismo da Universidade Federal do Par, como parte dos requisitospara obteno do ttulo de mestre em Arquitetura e Urbanismo, rea deconcentrao: anlise e concepo do ambiente construdo na Amaznia,linha de pesquisa: tecnologia, espao e desenho da cidade.
Orientadora: Ana Cludia Duarte Cardoso, PhD.
Belm-PAJulho de 2013
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TERMO DE APROVAO
FABRCIO GEAN LOPES GUEDES
SOCIEDADE DE INFORMAO, TERRITRIO E CIDADE NA AMAZNIA
Dissertao aprovada como parte dos requisitos para obteno do ttulo demestre em Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Ps-Graduao emArquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Par, pela seguintebanca examinadora.
______________________________________Prof. Ana Cludia Duarte Cardoso
(Presidente da Banca/Orientadora UFPA)PhD, Oxford Brookes University/UK
________________________________Prof. Jos Jlio Ferreira Lima(Examinador Interno UFPA)PhD, Oxford Brookes University/UK
_________________________________Prof. Roberto Lus de Melo Monte-Mr
(Examinador Externo UFMG)PhD, California University- UCLA/USA
Belm-PAJulho de 2013
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Para Bina, minha me: por sua incansvel e incontrolvelnecessidade de fazer o bem.
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Quando comeares a tua viagem para taca,
reza para que o caminho seja longo,cheio de aventura e de conhecimento.
[...]Ser melhor que ela dure muitos anos
para que sejas velho quando chegares ilha,rico com tudo o que encontraste no caminho,
sem esperares que taca te traga riquezas.taca deu-te a tua bela viagem.
Sem ela no terias sequer partido.No tem mais nada a dar-te.
(Konstantnos Kavfis, Viagem a taca)
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AGRADECIMENTOS
Ana Cludia Cardoso, minha querida orientadora, por ter me aceitado como orientando, epor ter compartilhado sua experincia de pesquisadora de maneira objetiva, crtica e amistosa
em todas as etapas do trabalho.
Aos professores Jos Jlio Lima, Juliano Pamplona Ximenes Ponte e Ana Paula Vidal Bastos,pelas sugestes oferecidas na Banca do Exame de Qualificao.
Ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFPA), pela oportunidade decursar o mestrado.
Ao Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Sustentvel do Trpico mido (PPGDSTU-UFPA) por ter me permitido cursar disciplinas como aluno especial.
Ao coletivo URBISAMAZNIA, projeto de pesquisa do qual fao parte, pela bolsa concedida e pelascontribuies provenientes das discusses realizadas nas reunies, principalmente nos encontros
com o grupo de Belm.
Empresa de Processamento de Dados do Par (PRODEPA), por permitir o acesso ao sistema demonitoramento do programa NAVEGAPAR, especialmente a Fbio Pantoja, pela gentileza em
orientar a obteno dos dados.
Ao Instituto Tecnolgico Vale (ITV), onde parte dessa dissertao foi escrita.
Ao Laboratrio Cidades da Amaznia (LABCAM-UFPA), pela disponibilidade de bases de dados epela generosa contribuio dos bolsistas Wallace Avelar e Taynara Gomes, colaboradores na
elaborao de cartografia.
Ao Ricardo Sampaio Dagnino (NEPO-UNICAMP), pelas informaes sobre como trabalhar comdados censitrios e tambm pela inestimvel contribuio com a tabulao dos microdados do Censo
2010.
Ao Leonardo Brasil (Campus II-UFPA/Marab), pelas sugestes sobre o processo de construo dapesquisa.
Ao tcnico do IBGE Victor Reis, pela gentileza em informar procedimentos de coleta e processamentode dados do Censo 2010.
A todos os entrevistados citados no texto, pela disponibilidade e disposio em contribuir com asinformaes solicitadas nas entrevistas realizadas nas cidades de Belm e Marab.
Aos estudantes de computao Diego Gomes e Wesley Arajo, pelas contribuies em assuntosrelacionados informtica e internet.
Casa do Estudante Universitrio do Par (CEUP), pelo abrigo durante a graduao e ps-graduao.
Ao meu generosssimo amigo e ex-patro Raimundo Moura pelos conselhos, e por acreditar que aeducao o nico patrimnio pelo qual realmente importa lutar.
minha complexa, divertida e batalhadora famlia, pela ajuda incondicional, especialmente ao meuirmo Fagner e a minha me Bina.
Ana Portela, pelo carinho, compreenso e amor dedicados ao longo do ano de elaborao destadissertao.
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RESUMO
A presente pesquisa dedica-se investigao sobre a penetrao das Tecnologias deInformao e Comunicao (TIC) na Amaznia Brasileira como manifestao da Sociedadede Informao. Inicialmente explicita-se o quadro de transformaes que propiciaram o
surgimento da Sociedade de Informao no mundo contemporneo, destacando aimportncia das TIC e das cidades nesta sociedade. Em seguida discorre-se sobre o papeldas cidades no processo histrico de ocupao e explorao da Amaznia, e sobre as novasperspectivas para a regio mediante o paradigma tecnoeconmico vigente. A partir de ento,assume-se como variveis de anlise os componentes informatizao e acesso internetsob dois recortes investigativos: a) o primeiro com nfase no espao regional, destacandodesigualdades espaciais de penetrao das TIC no territrio; b) e o segundo tomando acidade de Marab-PA como estudo de caso, a fim de identificar em diferentes contextos davida urbana desta cidade, dinmicas associadas ao uso das TIC. Os resultados da pesquisaem ambos os recortes demonstram que existe baixa penetrao das TIC na Amaznia emdiferentes escalas espaciais. Essa condio atribuda a uma srie de fatores, com destaquepara a infraestrutura de telecomunicaes inexistente ou precria no espao amaznico, o
que impacta na proviso de servios digitais, e consequentemente, reduz consideravelmenteo potencial de insero da regio e de suas cidades em redes virtuais de conhecimento einformao.
Palavras chave:Amaznia, TIC, informatizao, internet, espao regional, cidade.
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ABSTRACT
The present research investigates the penetration of Information and CommunicationTechnologies in Brazilian Amazon as manifestation of an Information Society. Initially thecontext of transformations that caused the emergence of the Information Society on
contemporary world is presented, highlighting the importance of the Information andCommunication Technologies, and of cities for this society. Then, the role of cities in thehistorical process of occupation and exploitation of the Amazon is discussed, followed by thepresentation of new perspectives for the region under the prevailing techno-economicparadigm. From this context, two variables from the Brazilian Census - the components"computerization" and "internet access" were chosen to be analyzed according to, two distinctframes: a) the first, with emphasizing regional spatial scale, highlighting spatial inequalities ofICT penetration in the territory, b) and the second, taking the city of Maraba-PA as a casestudy, in order to identify - dynamics associated with the use of ICT in different contexts ofMarabs urban life. Research results show that there is low penetration of ICT in the Amazonat different spatial scales. This condition is attributed a set of factors, with prominence ofprecariousness or nonexistence of telecommunications in the Amazon, which impacts the
provision of digital services, and consequently reduce considerably the potential of the regionand of its cit ies of being inserted in virtual networks of knowledge and information.
Keywords: Amazon, ICT, information technology, internet, regional space, intra-urban space.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa com a populao total dos municpios brasileiros de 1872. 39
Figura 2: Mapa com populao urbana total dos municpios brasileiros de 1940. 43
Figura 3:Mapa com populao urbana total dos municpios brasileiros de 1960. 47
Figura 4: Mapa com a localizao das reas de colonizao dirigida selecionadas pelo INCRA. 50
Figura 5: Distribuio espacial dos ncleos de colonizao dirigida. 50
Figura 6: Mapa com as cidades que se destacam em cincia e inovao. 59
Figura 7:Mapa sntese de bairros por ncleo urbano e parcelamento de quadra de Marab-PA. 62
Figuras 8 e 9:Maquete eletrnica dos Shoppings Ptio Marab e Unique Shopping Marab. 67
Figura 10:Planta de urbanizao do condomnio Ipiranga Ecoville Premium. 68
Figura 11: Mapa com a distribuio dos computadores com acesso internet nos municpios do
Estado do Par.85
Figura 12: Principais aes previstas pelo Governo do Estado do Par em infraestrutura de
apoio ao desenvolvimento socioeconmico no perodo 2007-2010. 91
Figura 13: Distribuio regional das estaes da rede de transporte interligadas por cabos da
ELETRONORTE.93
Figura 14: Competio na telefonia fixa. Operadoras por municpios. 103
Figura 15:Penetrao de Banda Larga Fixa. 104
Figura 16: Evoluo urbana 1984-2001-2009. 106
Figura 17: Marab-PA. Domiclios com existncia de alguns bens, por rea de Ponderao:
computador.109
Figura 18: Marab-PA. Domiclios com existncia de alguns bens, por rea de Ponderao:
computador com acesso internet.
110
Figura 19: Aglomerados subnormais segundo IBGE no municpio de Marab-PA. 112
Figura 20: Nucleaes principais de comrcio e servios e pavimentao asfltica, 2010. 113
Figura 21: Densidade habitacional da cidade Marab-PA. 113
Figura 22: Valor do rendimento mdio mensal dos responsveis por domiclios particulares
permanentes da cidade de Marab-PA.114
Figura 23: Mapa com a distribuio espacial dos pontos de acesso livre e Infocentros
implantados pelo programa NAVEGAPAR em Marab-Pa.117
Figura 24: Velocidade de Download e Upload identificadas na conexo disponibilizada pelo
programa NAVEGAPAR.118
Figura 25:Mapa das cheias. Nvel mdio das enchentes. Cota 84,0m (nvel 12,12 m acima do
rio).121
Figura 26:Backboneda ELETRONORTE. 122
Figura 27: Esquema da rede de infraestrutura de transmisso dados do programa
NAVEGAPAR do provedor at as unidades conectadas.123
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1:Crescimento demogrfico de 1950 a 2000. 53
Tabela 2: Pobreza e renda em municpios com sedes de porte mdio no Par e So Paulo. 65
Tabela 3:PIB por regio. Participao percentual no Produto Interno Bruto. 73
Tabela 4:Indicadores agregados de participao das macrorregies brasileiras. 75
Tabela 5:Domiclios com acesso a internet. Proporo de domiclios com acesso a internet.
rea Urbana.75
Tabela 6:Nmero de provedores por habitante. 79
Tabela 7: Nmero de acessos nos Estados da Amaznia Legal, de 05 de abril de 2012.
Percentual sobre a populao total de cada Estado.81
Tabela 8:Nmero de domiclios com computador, por capitais da Amaznia Legal. Percentual
sobre o total de domiclios.81
Tabela 9: Nmero de domiclios com computador com acesso internet, por capitais da
Amaznia legal. Percentual sobre o total de domiclios. 82
Tabela 10: Ranking dos dez municpios do Estado do Par, com maior proporo de
computador com acesso internet. Percentual sobre o numero total de domiclios.86
Tabela 11: Ranking dos dez municpios do Estado do Par, com maior proporo de acessos
por municpio, em 05 de abril de2012. Percentual sobre populao urbana.87
Tabela 12: Presena das TIC na gesto dos municpios paraenses. 100
Tabela 13: Dados sobre a proviso do servio de internet nas unidades educacionais
selecionadas como objeto de estudo.130
Tabela 14: Velocidade de conexo internet utilizada nas escolas pblicas de ensino
fundamental e mdio (2011). Percentual sobre o total de escolas pblicas que possuem conexo internet.
131
Tabela 15: Estabelecimentos escolares e laboratrios de informtica por dependncia
administrativa e nveis de ensino, em Marab. Percentual sobre o nmero total de
estabelecimentos em cada nvel educacional.
133
Tabela 16: Nmero de estabelecimentos educacionais pblicos. 133
Tabela 17: Estabelecimentos atendidos pelo programa NAVEGAPAR e pelo projeto Banda
Larga nas escolas, em Marab. Percentual sobre o nmero total de escolas estaduais e
municipais.
135
Tabela 18: Dados sobre a proviso do servio de internet nas unidades referentes aos setores
de sade e gesto municipal, selecionadas como objeto de estudo. 142
Tabela 19:Planos e preos dos servios de internet oferecidos por provedores locais: Empresa
Junto Telecom.142
Tabela 20:Planos e preos dos servios de internet oferecidos por provedores locais: Empresa
SKORPIONNET.143
Tabela 21: Planos e preos dos servios de internet oferecidos por provedores locais para
usurios coorporativos: Empresa Junto Telecom.143
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1:Principais fontes secundrias, tipos de dados e aplicao. 23
Quadro 2:Unidades conectadas ao programa NAVEGAPAR selecionadas para a pesquisa. 26
Quadro 3:Caractersticas dos modos de produo fordista e ps-fordista. 30
Quadro 4:Relao entre processos econmicos e a urbanizao na Amaznia entre os sculos
XVII e a primeira metade do sculo XX.44
Quadro 5:Relao entre processos econmicos e a urbanizao na Amaznia, ao longo do
sculo XX.
54
Quadro 6: Ncleos urbanos de Marab, principais usos e problemas. 63
Quadro 7: Acordos de cooperao tcnica entre instituies pblicas e privadas para a
implantao do programa NAVEGAPAR.91
Quadro 8:Aes previstas no mbito do programa NAVEGAPAR. 92
Quadro 9:O papel das cidades na economia ps-industrial. 99
Quadro 10:Relao dos cursos nos estabelecimentos pblicos de nvel tcnico e superior, em
Marab-PA. Cursos Regulares.125
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LISTA DE FOTOS
Foto 1: Edificao com traos do estilo Cape Cod na cobertura e nas aberturas, comum em
cidades do Meio Oeste americano, construda em Belterra com a funo de abrigar
trabalhadores solteiros da Ford Motor Company.
42
Foto 2: Cidade de Marab e seus respectivos ncleos. Vista area geral. 61
Foto 3: Cheia do rio Tocantins, Marab-PA, 2013. 64
Fotos 4 e 5: Esquerda: Construo de moradias financiadas pelo PAC para famlias de baixa
renda do bairro Cabelo Seco, ncleo Marab Pioneira, 2008. Direita: Empreendimento do
programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), Vale Tocantins, prximo ao ncleo So Felix, 2012.
68
Fotos 6 e 7: Assentamentos parcialmente desprovidos de infraestrutura urbana.
Respectivamente: bairros Liberdade e Novo Horizonte, ncleo Cidade Nova.69
Foto 8:Orla do ncleo Marab Pioneira com sinal do NAVEGAPAR. 117
Fotos 9 e 10: Esquerda:Prdio onde funciona o InfocentroLIPAKI no ncleo So Felix. Direita:
Interior do Infocentro. 118
Fotos 11 e 12: Esquerda:Identificao do prdio onde funciona o Infocentroda Associao de
Moradores do ncleo Nova Marab. Direita: Interior do Infocentro.119
Fotos 13 e 14: Comunidade com infraestrutura precria e populao de baixa renda prxima ao
Infocentro LIPAKI, Ncleo So Felix.119
Fotos 15 e 16:Esquerda: Fachada de uma LANHOUSE localizada no ncleo Cidade Nova.
Direita: Interior da LANHOUSE.
123
Fotos 17 e 18: Esquerda: Laboratrio de informtica da Faculdade de Computao. Direita:
Espao na biblioteca com computadores disponveis para acesso internet. Campus 1- UFPA,
Marab.
127
Fotos 19 e 20: Laboratrios de informtica das escolas que apresentaram as maiores
quantidades de trfego de rede entre 20/10/2010 e 20/10/2012. Esquerda: Escola Incio de
Sousa Mota, localizada no ncleo Nova Marab. Direita: Escola Geraldo Veloso, localizada no
ncleo Cidade Nova.
128
Fotos 21 e 22: Esquerda: Departamento de emprstimos de livros da biblioteca do Campus 1.
Direita: Equipamento danificado, semelhante aos computadores usados para a consulta do
acervo, digitao de trabalhos e acesso internet.
132
Fotos 23 e 24: Instituies de sade e administrao pblica.Esquerda: Hospital Regional do
Sudeste do Par. Direita: Cmara Municipal de Marab.138
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Quantidade total de dados trafegados por todas as unidades beneficiadas pelo
programa NAVEGAPAR em 2011.25
Grfico 2: Proporo de municpios com servio de saneamento bsico, por tipo de servio,
segundo as Grandes Regies 2008. 73
Grfico 3: Evoluo dos IDH regionais. 74
Grfico 4: Proporo de domiclios com computador, por regio rea urbana (%). Percentual
sobre o total de domiclios.75
Grfico 5: Velocidade da conexo nos domiclios com acesso internet, por rea e regio
Total Brasil 2010 (%). Percentual sobre o total de domiclios com acesso internet. 77
Grfico 6: Proporo de provedores que atendem cada regio (%). Percentual sobre o total de
provedores de acesso Internet.
78
Grfico 7: Nmero total de acessos de 5 de abril de 2012, no Brasil, nos municpios de So
Paulo e Rio de Janeiro, e nos Estados da Amaznia Legal.
80
Grfico 8: Nmero total de acessos de 5 de abril de 2012, no municpio de Belm e nos demais
municpios do Estado do Par.85
Grfico 9:Projeo resumida de Marab-PA. Ncleos urbanos, distritos rurais, municpio (2007-
2030).104
Grfico 10: Marab-PA. Percentual de domiclios com existncia de alguns bens, por rea de
Ponderao e situao do domiclio.106
Grfico 11: Marab-PA. Percentual de domiclios com existncia de alguns bens, por rea de
Ponderao e situao do domiclio.110
Grfico 12: Marab-PA.Percentual de Pessoas em Domiclios com existncia de alguns bens,por rea de Ponderao e situao do domiclio.
110
Grfico 13: Registro de trfego de 24-10-2010 a 24-10-2012 dos estabelecimentos de educao
pblica beneficiados pelo Programa NAVEGAPAR, em Marab-PA.125
Grfico 14: Registro de trfego do programa NAVEGAPAR, de 24-10-2010 a 24-10-2012.
Unidades de Sade.137
Grfico 15: Registro de trfego do Programa NAVEGAPAR, de 24-10-2010 a 24-10-2012.
rgos administrativos.137
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SIGLAS E ABREVIATURAS
ALBRAS- Alumnio Brasileiro S/A
ALPA- Aos Laminados do Par
ALUMAR- Alumnio do MaranhoALUNORTE- Alumnio do Norte do Brasil S/A
AP- rea de Ponderao
BANPAR- Banco do Estado do Par
BASA- Banco da Amaznia
CELPA- Companhia Eltrica do Par
CEPAL- Comisso Econmica para a Amrica Latina e Caribe
CETIC- Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e da Comunicao
CGEE- Centro de Gesto e Estudos Estratgicos
CGI.BR- Comit Gestor de Internet no Brasil
CGU- Controladoria-Geral da Unio
CNM- Confederao Nacional de Municpios
CNPq- Conselho Nacional de Pesquisa
COSANPA- Companhia de Saneamento do Par
CT&I- Cincia Tecnologia e Inovao
DATASUS- Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade
DPPO- Domiclios Particulares Permanentes Ocupados
E. E. E. M.- Escola Estadual de Ensino Mdio
E. M. E. F.- Escola Municipal de Ensino Fundamental
EFC- Estrada de Ferro Carajs
ELETRONORTE- Centrais Eltricas do Norte
FAPESPA- Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Par
FIRJAN- Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro
GB- GIGABYTES
Gbps- Gigabits por segundo
GPHS - Grupo de Pesquisa Hidrulica e Saneamento
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDEHM- ndice de Desenvolvimento Humano Municipal
IDESP- Instituto de Desenvolvimento Econmico, Social e Ambiental do ParIFDM- ndice FIRJAN de Desenvolvimento Humano Municipal
IFPA- Instituto Federal do Par
INCRA- Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
INPA- Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia
IPEA- Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
Kbps- Kilobits por segundo
LABCAM- Laboratrio de Cidades da Amaznia
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LIPAKI- Liga Paraense de Karat Interestilos
Mbps- Megabits por segundo
MCT- Ministrio da Cincia e Tecnologia
MEC- Ministrio da Educao
NTE- Ncleo Tecnolgico EducacionalONU- Organizaes das Naes Unidas
PAC- Plano de Acelerao do Crescimento
PDA- Plano de Desenvolvimento da Amaznia
PDN- Programa Nacional de Desenvolvimento
PFC- Projeto Ferro Carajs
PGC- Programa Grande Carajs
PIB- Produto Interno Bruto
PIN- Programa de Integrao Nacional
PMM- Prefeitura Municipal de Marab
PNUD- Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
POLAMAZNIA- Programa Plos Agropecurios e Agrominerais da Amaznia
PRODEPA- Empresa de Processamento de Dados do Par
PRONATEC- Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego
PROTERRA- Programa de Redistribuio de Terras e Estmulo a Agroindstria do Norte e Nordeste
RNP- Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
SAAP- Sistema de Apoio Atividade Parlamentar
SAPL- Sistema de Apoio ao Processo Legislativo
SEATI-MA- Secretaria Adjunta de Tecnologia de Informao e Integrao do Estado do Maranho
SECTI-PA- Secretaria de Estado, Cincia, Tecnologia e InovaoSEDECT-PA- Secretaria Estadual de Desenvolvimento, Cincia e Tecnologia
SEPOF-PA- Secretaria de Estado de Planejamento, Oramento e Finanas
SERFHAU- Servio Federal de Habitao e Urbanismo
SINOBRAS - Siderrgica Norte Brasil
SISREG- Sistema de Regulao Ambulatorial e Hospitalar
SPVEA- Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia
SUDAM- Superintendncia de Desenvolvimento da Amaznia
SUDENE- Superintendncia do Desenvolvimento Econmico do Nordeste
SUFRAMA- Superintendncia da Zona Franca de Manaus
SUS- Sistema nico de Sade
TB- TERABYTE
TIC- Tecnologia de Informao e Comunicao
UEPA- Universidade Federal do Par
UFPA- Universidade Estadual do Par
UHE Tucuru- Usina Hidreltrica de Tucuru
VOIP- Voice over Internet Protocol.
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SUMRIO
INTRODUO.......................................................................................................... 17
PROBLEMA ........................................................................................................... 17
OBJETIVOS ........................................................................................................... 20
METODOLOGIA .................................................................................................... 21
ESTRUTURA DO TRABALHO............................................................................... 27
1 A ERA DA GLOBALIZAO E AS CIDADES NO MUNDO MEDIADO
PELAS TIC................................................................................................................ 29
1.1 CONCLUSO DO CAPTULO ......................................................................... 36
2 AS CIDADES NO PROCESSO DE OCUPAO E EXPLORAO DA
AMAZNIA............................................................................................................... 38
2.1 APRESENTAO DO ESTUDO DE CASO: URBANIZAO E
PADRES DE OCUPAO SOCIOESPACIAL NA CIDADE DE
MARAB-PA .......................................................................................................... 61
2.2 CONCLUSO DO CAPTULO ......................................................................... 69
3 INVESTIGAO SOBRE A PENETRAO DAS TIC NO TERRITRIO
AMAZNICO............................................................................................................ 72
3.1 CONCLUSO DO CAPTULO ......................................................................... 95
4 INVESTIGAO SOBRE A PENETRAO DAS TIC NO ESPAOURBANO AMAZNICO............................................................................................ 98
4.1 O MEIO URBANO E AS TIC .......................................................................... 103
4.2 O MEIO URBANO E OS ESPAOS DE ACESSO PBLICO ........................ 114
4.3 TIC E EDUCAO PBLICA ........................................................................ 124
4.4 TIC, SADE E GESTO PBLICA ............................................................... 136
4.1 CONCLUSO DO CAPTULO ....................................................................... 145
CONCLUSO......................................................................................................... 148
REFERNCIAS....................................................................................................... 154
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INTRODUO
PROBLEMA
Este trabalho investiga a penetrao das Tecnologias de Informao eComunicao (TIC) na Amaznia, luz das transformaes tecnoeconmicas
decorrentes da reestruturao do modo de produo capitalista, a partir da segunda
metade do sculo XX. O efeito dessas transformaes, principalmente nos pases
desenvolvidos onde o fim do modelo industrial fordista imps novas estratgias de
desenvolvimento, tem sido medido pelo grau de insero dos lugares na economia
global e pela hegemonia de um modo de vida essencialmente urbano, permeado
pelas TIC. H quem fale em cidades globais, inteligentes, criativas, mediadas por
computadores (SASSEN, 1998; MITCHELL, 2002; GLAESER, 2011). E h tambmquem argumente sobre a impossibilidade de escapar dos efeitos irradiados pelas
mudanas tecnoeconmicas que gradativamente transformam os lugares,
adequando-os s exigncias do que se designou a partir da dcada de 1970 de
Sociedade de Informao e/ou Sociedade do Conhecimento1 (BELL, 1977;
LYOTARD, 2009).
Nessa sociedade, que no mais se ajusta aos moldes da era industrial
clssica, questes como saber, aprendizagem, cincia, tecnologia, inovao,
criatividade, entre outros adjetivos do gnero, tendem a ser tomadas como novos
componentes de desenvolvimento econmico e social. O papel das TIC nesse
contexto tem sido mostrado como suporte, capaz de criar as condies de
operacionalidade necessrias estruturao de uma sociedade que funciona em
rede (CASTELS, 1999).
A descentralizao das atividades produtivas possibilitou as condies
para que o sistema capitalista pudesse operar em diferentes geografias, escalas e
intensidades, atingindo lugares at ento remotos, fora do eixo dos pases centrais.
1 Para BURCH (2005) embora ainda no haja clareza terica suficiente que permita diferenciarconceitualmente Sociedade de Informao de Sociedade do Conhecimento possvel apontar algunselementos que os caracterizam com semnticas distintas. O primeiro termo mais antigo e associa-se inovao tecnolgica e a dimenso econmica, tendo sido includo nas ltimas dcadas naagenda de instituies importantes como OCDE, ONU e Banco Mundial, com conotao voltada aodesenvolvimento das TIC. O segundo termo mais recente e plural, pois, alm da dimensotecnolgica, focaliza questes sociais, culturais, econmicas e polticas. Remonta ao fim da dcadade 1990 e surgiu como uma alternativa pelo meio acadmico e pela UNESCO utilizao deSociedade de Informao. Neste trabalho ambos os termos so usados para desinar fenmenosassociados s TIC.
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o que faz Bangalore, na ndia, se aproximar do Vale do Silcio, nos Estados
Unidos, mesmo com grandes discrepncias em relao ao poder econmico e
desenvolvimento social existentes entre esses pases. A aproximao, neste caso,
ocorre por uma srie de fatores, entre os quais, o tipo de atividade que se
desenvolve em ambos os lugares: economia ligada capacidade de inovar, investir
em cincia e tecnologia (GLAESER, 2011).
Decerto, o caso de Bangalore tem sido mostrado como um modelo
promissor de cidade que tem tirado proveito do potencial engendrado pela
Sociedade de Informao. Vista como cidade de ideias, de pessoas e empresas
criativas, sua fora econmica no consiste mais na antiga produo industrial txtil,
todavia, como veremos ao longo deste trabalho, na capacidade de investimento em
cadeias produtivas de base tecnolgica, que tem lanado a regio diretamente daagricultura produo baseada em conhecimento e informao (GLAESER, 2011).
Numa poca em que se fala em sociedade ps-industrial e especializao flexvel,
no de todo impossvel acreditar que regies historicamente subjugadas como
periferias do capitalismo saltem de modos de produo de bens primrios e se
insiram diretamente na economia gerada pela Sociedade de Informao.
Situando a Amaznia Brasileira no centro das transformaes descritas
acima, nota-se que tem havido certo consenso no meio acadmico e institucional de
que o atual contexto tecnoeconmico favorece mudanas nos padres deexplorao historicamente consolidados na regio. Estudos de COSTA (1998, 2009),
BECKER (2010, 2009), CARVALHO (2008), entre outros autores e instituies de
pesquisa, apontam para o beneficio de um modelo de desenvolvimento capaz de
gerar novas sinergias entre investimentos econmicos e patrimnio natural, alinhado
s formas produtivas prprias da Sociedade de Informao.
Dentro do conjunto de ideias que vislumbram estratgias de
desenvolvimento baseadas na explorao sustentvel dos recursos naturais
amaznicos, h quem argumente sobre a importncia das cidades no bojo daspolticas de desenvolvimento implantadas na regio pelo governo brasileiro. Parte-se
do pressuposto de que mesmo na condio de periferia da economia
nacional/mundial, com urbanizao ainda em processo, alto nvel de desigualdade
social e baixo nvel de industrializao, existem na Amaznia, oportunidades
econmicas associadas ao seu patrimnio natural que entre outras medidas
requerem transformaes no espao urbano e melhoria das condies de vida nas
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cidades, simultneas proviso da infraestrutura demandada pela Sociedade de
Informao.
Advoga-se a favor da Amaznia, por um modelo de desenvolvimento
baseado em cincia, tecnologia e inovao, orientado para investimento em cadeias
produtivas de baixo impacto ambiental. Logo, as cidades representariam um dos
elementos indutores desse processo, no sentido de contribuir para promover
desenvolvimento econmico e social para uma populao que nas ltimas dcadas
tem se mostrado eminentemente urbana. Assim, investimento na qualidade dos
espaos urbanos implicaria, em todo caso: a) na melhoria dos padres de vida dos
habitantes das cidades amaznicas, e ao mesmo tempo, b) na ampliao das
possibilidades de tornar estas cidades atraentes a experincias sociais e processos
produtivos oriundos do sistema tecnoeconmico vigente.Ambos os contextos remetem a questes de estruturao espacial e
sinalizam para a necessidade de incorporao de demandas urbanas em modelos,
projetos e aes de desenvolvimento, principalmente no mbito das polticas de
planejamento regional. Isto implica, em linhas gerais, combater a precariedade
urbana das cidades resolvendo problemas tradicionalmente cotidianos que afetam a
populao (carncia de infraestrutura e servios: saneamento bsico, segurana,
educao, sade, etc.), e na mesma medida, criar condies para que as cidades
sejam inseridas na Sociedade de Informao (proviso de infraestrutura e servios:telecomunicaes, banda larga, etc.), e dela tirem partido em dinmicas
econmicas, polticas, sociais e urbanas.
Logo, mediante este ltimo cenrio, e considerando a investigao sobre
a penetrao das TIC na Amaznia como um parmetro para avaliar a insero
desta regio na Sociedade de Informao, so apresentadas as perguntas
referentes ao objeto da pesquisa: 1) o que define a Sociedade de Informao e qual
a importncia das TIC e das cidades nessa sociedade? Qual a importncia das
cidades nas estratgias de desenvolvimento da Amaznia, mediante as polticas dedesenvolvimento da regio? Qual o nvel de penetrao das TIC no territrio
amaznico em diferentes escalas do espao regional? Quais as condies de
penetrao das TIC na cidade amaznica, em diferentes contextos da vida urbana?
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OBJETIVOS
Frente ao exposto, esta dissertao tem como objetivo geral:
Investigar a penetrao das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC)
na Amaznia considerando as variveis "informatizao" e "acesso internet"
como manifestaes da Sociedade de Informao, a partir de evidncias e
anlises realizadas nas escalas regional e local.
Objetivos especficos
1. Explicitar o quadro de transformaes que propiciaram o surgimento da
Sociedade de Informao no mundo contemporneo, destacando a
importncia das TIC e das cidades nesta sociedade.
2. Discorrer sobre as cidades no processo histrico de ocupao e explorao
da Amaznia, e nas novas perspectivas de desenvolvimento para a regio no
sculo XXI.
3. Identificar diferentes nveis de penetrao das TIC no territrio amaznico,
tomando as variveis "informatizao" e "acesso internet", a partir das
escalas: inter-regional, intrarregional, e intermunicipal.
4. Investigar a penetrao das TIC na cidade de Marab-PA, segundo as
variveis "informatizao" e "acesso internet", em diferentes contextos da
vida urbana, tendo em vista avaliar o grau de insero desta cidade em
dinmicas associadas ao uso das TIC.
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METODOLOGIA
Os procedimentos metodolgicos adotados neste trabalho consideram
que a Sociedade de Informao tem seu mecanismo de funcionamento associado aum conjunto amplo de inovaes tecnolgicas no qual as TIC so parte integrante e
tambm base operacional. Esta constatao determinou a escolha das variveis de
anlise informatizao e acesso internet, investigadas nas escalas regional e
local. A abordagem em dois recortes investigativos justifica-se pela necessidade de
identificar diferentes nveis de penetrao das TIC no territrio amaznico.
A escala regional subdivide-se em escalas menores e foca em
dinmicas: inter-regional [grandes regies brasileiras], intrarregional [capitais da
Amaznia Legal], e intermunicipal [municpios do Estado Par]. Dada acomplexidade e extenso do territrio amaznico, nesta ltima abordagem, houve a
necessidade de selecionar os municpios de um Estado da Amaznia Legal. Assim,
optou-se pelos municpios do Estado do Par, principalmente pelo fato da presente
pesquisa fazer parte de um programa de ps-graduao de uma universidade
pertencente a este Estado.
A escala local foca na cidade de Marab-PA, selecionada como estudo de
caso. Nesta abordagem investigativa interessou observar dinmicas urbanas que
expressam o nvel de insero desta cidade, em contextos que demandam uso dasTIC (domiclios, espaos de acesso pblico e instituies). O estudo de Caso ser
devidamente apresentado ao final do Captulo 2, em seo parte.
Para alcanar os objetivos propostos, a pesquisa foi orientada por uma
abordagem metodolgica composta pelas seguintes etapas:
1) Construo de um argumento terico-conceitual baseado em
leituras pertinentes estruturao da Sociedade de Informao e sobre o processo
de ocupao e explorao da Amaznia [respectivamente, Captulos 1 e 2]. Com o
propsito de entender o surgimento da Sociedade de Informao foram estudados
autores que discorrem sobre temticas ligadas ao declnio do modelo clssico de
produo fordista, e consequentemente, sobre o aparecimento de novas estruturas
tecnoeconmicas provenientes de uma sociedade dita ps-industrial. Ainda que no
haja unanimidade conceitual sobre o tipo de sociedade gerada aps o declnio da
era industrial, e exista uma diversidade de termos criados para design-la, optou-se
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pelo uso do termo Sociedade de Informao com intuito de caracterizar a estrutura
socioeconmica cuja base operacional tem estrita relao com as TIC. Buscou-se
com isso salientar que a revoluo tecnolgica ocorrida na dcada de 1970 imps
mudanas significativas em muitas dimenses da vida econmica e social, o que
tem atribudo novas funes s cidades contemporneas, demandando
infraestrutura e servios urbanos que permitam o desenvolvimento de atividades
prprias da Sociedade de Informao.
Compreendido este argumento, prosseguiu-se com o estudo de autores
que explicam o processo histrico de ocupao e explorao da Amaznia, como
foco na estruturao urbana das cidades, mediante prticas de colonizao e
polticas de desenvolvimento regional. Tomou-se emprestado do meio acadmico e
de instituies de pesquisa, as ideias sobre as novas perspectivas dedesenvolvimento apontadas para esta regio no sculo XXI, baseadas na
explorao sustentvel de recursos naturais e em cadeias produtivas intensivas em
CT&I. H nessa viso, a constatao da necessidade de reorientar processos de
explorao, valendo-se do capital natural que a Amaznia dispe, a favor de
modelos de desenvolvimento que rompam com padres de explorao
historicamente destrutivos da floresta, e que valorizem a vida nas cidades.
2) Apropriao de dados secundrios de instituies de pesquisa e
agncias oficiais para subsidiar a discusso sobre a penetrao das TIC nosespaos regional e local. Como se pode observar no Quadro 1 foram coletadas
informaes referentes s variveis de anlise "informatizao" e "acesso internet"
junto a quatro principais fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),
Comit Gestor de Internet no Brasil (CGI.BR), Agncia Nacional de
Telecomunicaes (ANATEL) e Empresa de Processamento de Dados do Par
(PRODEPA).
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Quadro 1:Principais Fontes Secundrias, tipos de dados e aplicao.
Fonte Tipo de dados/ Variveis Aplicao
EscalaRegional
IBGE(Censo2010)
Planilhas contendo:Domiclios particulares
permanentes com
Microcomputador.Domiclios particulares
permanentes comMicrocomputador comacesso internet.
Identificar em quais Estados da Amaznia Legal eda regio Norte ocorre maior penetrao dasvariveis citadas, tendo em vista estabelecer
paralelos com cenrios de outras regies e entreas capitais amaznicas.
Identificar em quais municpios pertencentes aoEstado do Par ocorre maior penetrao dasvariveis citadas, tendo em vista traar paraleloscom dinmicas socioeconmicas, com o propsitode identificar fatores que contribuem para quecertos lugares estejam mais e/ou menosconectados pelas TIC.
CGI.BR
Publicaes TIC-Domiclios,2011; TIC-Educao, 2010; eTIC Provedores, 2010.
Mostrar a evoluo na primeira dcada do sculoXXI, do acesso e uso das TIC, por grandesregies, com enfoque voltado a questo dasdesigualdades regionais.
ANATEL
Planilhas contendo:
A quantidade de acessostotal por Estados daAmaznia Legal e da regioNorte, e por municpios doEstado do Par, de 05-04-2012.
Classificar os Estados [Amaznia Legal e regio
Norte] e municpios do Estado do Par segundo aquantidade acessos referentes data de 05-04-2012, para identificar cenrios distintos de acessos TIC.
EscalaLocal
IBGE(Censo2010)
Microdados contendo:Domiclios particulares
permanentes commicrocomputador.
Domiclios particularespermanentes commicrocomputador comacesso internet.
Identificar na cidade de Marab diferentes nveisde penetrao das variveis citadas nos ncleosque compem o permetro urbano desta cidade,estabelecendo paralelos com temas relacionadosa processos de estruturao urbana.
PRODEPA
Grficos com informaessobre trfego de rede dasunidades conectadas aoprograma NAVEGAPAR,em Marab.
Identificar e selecionar as unidades conectadas aoprograma NAVEGAPAR com os maiores fluxosde informaes trafegadas. Usando esse critriocom forma de seleo foi possvel escolheraquelas unidades a serem visitadas, com opropsito de observar como as TIC esto sendoincorporadas em diversos domnios da vidaurbana de Marab.
Fonte:Quadro elaborado pelo autor.
Os dados provenientes do CGI.BR e da ANATEL possibilitaram a
investigao da penetrao das TIC predominantemente na escala regional. No
caso do CGI.BR, embora exista informaes relacionadas a diferentes temas, como
a presena das TIC na educao, nos domiclios, e sobre a quantidade de
provedores por grandes regies, no foi possvel desagregar estas informaes em
escalas menores que a inter-regional, de modo a permitir comparaes com os
cenrios intrarregional, intermunicipal e intraurbano. Os dados obtidos da ANATEL
permitiram a investigao em escalas menores, porm sem incluso do espao
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intraurbano, j que a disponibilidade de informaes de acessos restringiu-se aos
Estados e municpios brasileiros.
Os dados do IBGE referentes s variveis do Censo 2010 domiclios com
a existncia de microcomputador e domiclios com a existncia de
microcomputador com acesso internet possibilitaram investigaes nas escalas
regional e local, todavia com limitaes sobre o espao intraurbano. Nos municpios
do Estado do Par ocorreu a coleta de informaes sobre a quantidade de
domiclios com os referidos bens, porm, no estudo de caso [cidade de Marab-PA]
esses bens foram disponibilizados somente em microdados, em reas de
Ponderao2. Como o permetro urbano de Marab composto por apenas trs
dessas unidades geogrficas (AP1: ncleos Marab Pioneira e Nova Marab; AP2:
ncleo Cidade Nova; AP3: ncleo So Felix), no foi possvel observar diferentesnveis de penetrao das TIC no interior de cada ncleo urbano.
A limitao de dados para o desenvolvimento da pesquisa no espao
intraurbano implicou na necessidade de recorrer a outras fontes. Ao se constatar
que a PRODEPA o rgo responsvel pela proviso da conectividade das cidades
amaznicas beneficiadas pelo programa de incluso digital NAVEGAPAR buscou-
se neste rgo as informaes sobre as unidades beneficiadas por este programa
na cidade de Marab. As informaes obtidas atravs de um sistema de
monitoramento de rede, possibilitaram identificar as unidades com maior quantidadede dados trafegados, segundo o registro de Inbound (Download) e Outbound
(Upload), a partir de informaes do tipo mostradas no Grfico 1.
2Define-se rea de ponderao como sendo uma unidade geogrfica, formada por um agrupamentode setores censitrios, para a aplicao dos procedimentos de calibrao das estimativas com asinformaes conhecidas para a populao como um todo. , tambm, a menor unidade geogrficapara identificao dos microdados da amostra, de maneira a preservar o sigilo em relao aosinformantes da pesquisa (Descrio das variveis da amostra do Censo Demogrfico 2010, p.17).
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Grfico 1:Quantidade total de dados trafegados por todas as unidades beneficiadas pelo programaNAVEGAPAR em 2011.
Fonte:PRODEPA, 2012.
Cabe destacar que os dados de trfego coletados no sistema de
monitoramento da PRODEPA serviram apenas como um parmetro para selecionaras unidades a serem visitadas na pesquisa de campo, j que as informaes
disponveis nos grficos limitaram-se ao registro de dados trafegados, isto , a
mostrar a quantidade de dados trafegados em Gigabytes e Terabytes para um
determinado perodo de tempo em cada unidade conectada. No foi possvel obter
outros tipos de informaes junto a PRODEPA, embora o programa NAVEGAPAR,
atravs do site http://www.infocentros.pa.gov.br, disponibilize um recurso
[desativado] onde supostamente se poderia ter acesso aos grficos de utilizao dos
locais de acesso pblico (Infocentros) implantados por este programa.3) Pesquisa de camporealizada na cidade de Marab no perodo de 12
a 17 de novembro de 2012 para subsidiar a discusso sobre a penetrao das TIC
no espao intraurbano. A anlise dos grficos da PRODEPA constituiu o passo
inicial para o desenho da pesquisa de campo. Nas unidades atendidas pelo
programa NAVEGAPAR optou-se por gerar informaes de trfego referentes ao
perodo de 2010 a 2012, tempo mximo registrado pelo sistema de monitoramento
da PRODEPA. No Quadro 2 so apresentadas as unidades selecionadas para
objeto de estudo por terem se destacado com as maiores quantidades de dados
trafegados, entre as 89 unidades existentes em Marab conectadas ao programa
NAVEGAPAR. Alm dos rgos pblicos foram includos na investigao os
espaos pblicos de incluso digital criados pelo referido programa (infocentros e
pontos de acesso livre).
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Quadro 2:Unidades conectadas ao programa NAVEGAPAR selecionadas para a pesquisa.
Setores Unidades Conectadas Localizao
EducaoUniversidade Federal do Par (UFPA) Campus I Nova MarabEscola Estadual de Ensino Mdio Geraldo Veloso Cidade NovaEscola Municipal de Ensino Fundamental Incio S. Mota Nova Marab
Administrao Cmara Municipal de Marab Cidade NovaSade Hospital Regional Pblico do Sudeste do Par Nova Marab
InfocentrosInfocentro da Associao dos Moradores da Nova Marab Nova MarabInfocentro LIPAKI So Felix
Pontos de acesso livrePraa So Francisco Cidade NovaPraa da Folha 16 Nova MarabOrla Marab Pioneira Velha Marab
Fonte:Quadro elaborado pelo autor.
Todas as unidades citadas no Quadro 2 foram visitadas e as informaes
obtidas atravs de entrevistas subsidiaram discusses que destacam: a) o tipo de
infraestrutura de telecomunicaes existente na cidade de Marab para a proviso
de servios de internet; b) a qualidade dos servios de banda larga que atendem
rgos pblicos (setores da educao, administrao e sade) e espaos de acesso
pblico (infocentros e pontos de acesso livre); c) e a incluso digital da populao
local atravs da conectividade disponibilizada pelos espaos de acesso pblico,
instituies de ensino, e outros rgos prestadores de servios.
Por fim, fora do mbito das unidades beneficiadas pelo programa
NAVEGAPAR, foram coletadas informaes nos provedores de internet e
empresas de telefonia mvel que atuam em Marab, para avaliar a qualidade e os
custos dos servios de banda larga que atendem usurios domsticos e
corporativos. A estratgia de coleta de informaes tambm consistiu em entrevistas
realizadas com proprietrios de espaos de acesso pblico pago (LANHOUSE), a
fim de avaliar o potencial desses lugares para a proviso do acesso digital na cidade
em questo. Os dados empricos so devidamente analisados no captulo 4.
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ESTRUTURA DO TRABALHO
A pesquisa realizada por esta dissertao est organizada a partir da
seguinte estruturao do trabalho:
O Captulo 1 constitui-se na apresentao do quadro terico-conceitual a
respeito das transformaes ocorridas na estrutura do sistema capitalista
contemporneo das ltimas quatro dcadas, a partir do declnio da era industrial
fordista, e da ascenso do que se tem comumente denominado de Sociedade de
Informao. Em meio a essa discusso, direcionada ao contexto dos pases
desenvolvidos, busca-se destacar que no cerne das novas formas de reproduo do
capital engendradas pela globalizao, as cidades so peas importantes no
tratamento dado s polticas de desenvolvimento econmico e social.
O Captulo 2 concentra-se em reconstituir a trajetria histrica de
ocupao e explorao da Amaznia confrontando modelos de desenvolvimento
com processos de formao das cidades. Argumenta-se, tambm, acerca do
potencial e dos desafios da regio, ante o novo contexto de produo de bens e
capital, de romper com formas destrutivas de explorao consolidadas, a partir do
uso ambientalmente sustentvel do seu capital natural. Nessa perspectiva, busca-se
enfatizar a importncia das cidades nas estratgias de desenvolvimento da regio,
salientando para o fato de que, polticas voltadas ao aproveitamento dos recursos
naturais da floresta no podem prescindir de investimentos na estruturao dos
espaos urbanos. Ao final deste captulo, numa seo parte, apresenta-se o
estudo de caso destacando informaes gerais a propsito da estruturao espacial
da cidade de Marab, enfatizando processos econmicos, sociais e urbanos.
O Captulo 3 diz respeito ao enfoque da pesquisa voltado penetrao
das TIC no territrio amaznico, tomando os espaos: inter-regional, intrarregional e
intermunicipal como escalas de anlise. Na primeira escala discutem-se as
desigualdades espaciais de penetrao das TIC entre as grandes regies do pas,destacando a Amaznia Legal e a regio Norte nesse contexto. A segunda escala
foca na investigao entre os Estados da Amaznia Legal e da regio Norte, com
nfase na penetrao das TIC nas capitais amaznicas. A ltima escala assume os
municpios que fazem parte do Estado do Par, onde so mostrados os melhores e
piores cenrios de penetrao das TIC. Ao final deste captulo so desenvolvidas
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algumas observaes sobre o programa NAVEGAPAR enquanto poltica pblica
de incluso digital.
O Captulo 4, referente ao estudo de caso, constitui-se na pesquisa de
campo onde o espao intraurbano de Marab investigado a partir de um percurso
analtico, que envolve: a) a discusso sobre a penetrao das TIC no meio urbano;
b) a investigao sobre os espaos de acesso pblico gratuito (infocentros e pontos
de acesso livre) e pago (LANHOUSES); c) e finalmente, a anlise sobre do papel
das TIC em instituies pblicas (setores da educao, administrao e sade).
Neste ponto so avaliadas questes gerais sobre infraestrutura de
telecomunicaes, acessos e usos das TIC nos espaos institucionais, destacando a
proviso de servios de acesso digital, por programas governamentais e pelo setor
privado.O referido captulo seguido da concluso do trabalho, onde so
apresentados os principais resultados encontrados na pesquisa.
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1 A ERA DA GLOBALIZAO E AS CIDADES NO MUNDO MEDIADO PELAS TIC
Este captulo remete diretamente ao primeiro objetivo especfico, onde se
prope explicitar o quadro de transformaes que propiciaram o surgimento da
Sociedade de Informao no mundo contemporneo, destacando a importncia das
TIC e das cidades nesta sociedade. Assume-se que as transformaes ocorridas
nas sociedades industriais ao longo do sculo XX engendraram diferentes
interpretaes para explicar as novas formas de produzir riqueza e de organizao
social, emergentes da reestruturao do capitalismo contemporneo. Expresses
como Ps-Modernidade, Ps-Fordismo e Sociedade de Informao resultaram
dessas interpretaes aliceradas a partir dos anos 1960 na constatao de que o
mundo capitalista regulado pelo modelo de produo industrial de massa, segundoprincpios fordistas, perdera a posio dominante nas economias dos pases
desenvolvidos (KUMAR, 2006; MATTELART,2002).
O declnio do modelo clssico de produo industrial (com formas
especficas de organizao do trabalho, regime de acumulao e modos de
regulao), e as sucessivas crises consequentes da baixa lucratividade e do
aumento do desemprego criaram condies para o aparecimento de formas mais
flexveis de produo, rompendo com a especializao, a estandardizao e a
reproduo rgida, prprias da indstria da era fordista (LIPIETZ e LEBORGNE,1988; LOJKINE, 2002).
Essas transformaes, sumarizadas no Quadro 3, abriram caminho para
que muitos autores, entre os quais BELL (1977), LYOTARD (2009) e TOFFLER
(1980) conjeturassem sobre o fim da era industrial e identificassem o aparecimento
de novas estruturas socioeconmicas associadas a uma sociedade dita ps-
industrial. Este termo surgiu, pois, para evidenciar a mxima de que no cerne da
estrutura do capitalismo contemporneo houve a transio de uma economia de
produo para uma economia de servios. Gradativamente, as variveis clssicasdo Fordismo Trabalho e Capital foram substitudas pela Informao e pelo
Conhecimento, que assumiram a posio de destaque na estruturao do poder,
na repartio do emprego e na definio do modo de crescimento da economia dos
Estados Unidos, e de grande parte dos pases europeus (KUMAR, 2006; MALIN,
1994).
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Quadro 3:Caractersticas dos modos de produo fordista e ps-fordista.
Mododeproduoford
ista
O Fordismo atribudo ao perodo de produo em massa dominado pela indstria
automobilstica e de bens durveis, situado entre os anos 1920 e 1960 do sculo
XX. Trata-se de um estgio de produo industrial antecedido respectivamente
pela era txtil do incio do sculo XIX e pela indstria pesada de ao e carvo datransio entre os sculos XIX e XX. caracterizado por concentrar, centralizar e
controlar os processos produtivos, atribuindo ao operrio uma dinmica de trabalho
que resultava na produo estandardizada de peas e produtos. Esse modelo
baseado nas ideais de Frederick W. Taylor, segundo as quais, a produo dos
trabalhadores estaria condicionada a um determinado tempo necessrio para
executar uma tarefa especfica (STORPER e SCOTT, 1988; LOJIKNE, 2002).
Mododeproduops-fo
rdista
O Ps-Fordismo atribudo ao perodo subsequente ao declnio do Fordismo nos
anos 1960, e diz respeito ao processo de desconcentrao industrial e espacial das
atividades produtivas, e a consequente disperso dessas atividades para lugares
fora dos centros industrializados dos pases desenvolvidos. Deve-se, em muitos
aspectos, ao papel das novas tecnologias surgidas nas ltimas dcadas do sculo
XX, principalmente aquelas ligadas informao e a comunicao, e a
possibilidade dada por elas de reorganizar os processos de produo industrial.
Diz-se que com a crise do Fordismo baseado no sistema de produo em massa, o
capitalismo se reestruturou assumindo formas de reproduo mais flexveis
(KUMAR, 2006).
Fonte: Quadro elaborado pelo autor.
O contexto de sociedade ps-industrial serviu de base para as
construes tericas coexistentes com a reestruturao do capitalismo das ltimas
dcadas, preocupadas em entender as mudanas socioeconmicas a partir do que
JAMENSON (1985) designou de ruptura com o sistema social contemporneo.
Parte-se do princpio de que o fim da era industrial assinalou mais do que mudanas
nas esferas do trabalho e da produo (Ps-Fordismo versus Fordismo), assumindo
dimenses mais amplas, como caso das transformaes no mbito da cultura
analisadas sob o rtulo de Ps-Modernidade (LYOTARD, 2009; BAUMAN, 1999;
HARVEY, 2006), ou o impacto nos domnios da vida econmica e social,
prefigurando o que amplamente se difundiu a partir dos anos 1970 como Sociedade
de Informao, tambm entendida como Sociedade do Conhecimento (BELL, 1977;
NEHMY, 2002).
As transformaes que propiciaram o surgimento da sociedade ps-
industrial e consequentemente subsidiaram as teorias preocupadas em explicar as
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mudanas sociais (Ps-Fordismo, Ps-Modernidade e Sociedade de Informao)
tm sua base no carter operativo que a revoluo tecnolgica ocorrida a partir dos
anos 1970 imps em todas as dimenses da vida econmica e social. O desenho de
uma sociedade verdadeiramente global, como assim designa CASTELLS (1999), s
fora possvel graas infraestrutura disponibilizada pelas Tecnologias de
Informao e Comunicao (TIC), responsveis por criar as condies necessrias
ao funcionamento de uma economia capaz de operar em escala planetria.
Se por um lado as mudanas politicoeconmicas ocorridas nos anos 1970
puseram fim ao Estado intervencionista Keynesiano e implantaram o neoliberalismo,
pautado na desregulamentao dos mercados, na liberalizao do comrcio e na
privatizao de empresas pblicas, criando assim, as bases da globalizao
econmica; por outro lado, a estruturao dessa economia s fora possvel, graasao aparato tecnolgico, indispensvel naquele momento, para lhe dar suporte e
garantir sua expanso (CASTELLS, 1999).
Ao mencionar a referida dcada atribuindo-lhe o aparecimento do meio-
tcnico-cientfico-informacional SANTOS (2009) destaca que as ideias de cincia,
tecnologia e mercado global devem ser encaradas conjuntamente, uma vez que a
partir do advento da tecnocincia que se constri a base material e ideolgica da
globalizao. Sua opinio de que o contexto tecnolgico subsequente aos anos
1970 se diferencia dos estgios anteriores em muitos aspectos, mas resultado deum processo evolutivo, onde no primeiro momento ps-revoluo industrial,
prevaleceram mtodos fabris de manufatura, no segundo momento, consolidou-se
um sistema de produo em massa, e finalmente, no terceiro momento,
desenvolveu-se o sistema baseado em computadores e automao. Obviamente, a
evoluo do desenvolvimento tecnolgico se deu de forma crescente, isto ,
objetivando sempre aperfeioar os processos tcnicos de modo a tornar cada vez
mais eficientes suas ferramentas.
O ltimo momento evolutivo a que se refere o autor citado representou oincio de um novo estgio no desenvolvimento tecnolgico, de tal maneira, que
redefiniu radicalmente as formas de produzir bens e capital fora dos moldes
clssicos da indstria fordista. Entre as principais ferramentas criadas naquele
perodo, a inveno do computador implicou definitivamente naquilo que HARDT e
NEGRI (2004) denominam de revoluo da produo, da comunicao e da
informtica. O computador surgiu como o divisor de guas entre o perodo
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tecnolgico anterior e o perodo subsequente, assinalando o aparecimento de novas
prticas laborais baseadas nas TIC.
Desde ento a imagem tradicional da indstria comeou a ser
desconstruda. As relaes de trabalho, os procedimentos organizativos da
produo e a prpria hierarquia dos elementos que compunham o processo
produtivo sofreram modificaes. Na indstria tradicional, a sucesso de fases que
envolvia pesquisa, fabricao e posteriormente a venda dos produtos se dava em
etapas diferentes, de modo que o desenvolvimento tecnolgico ocorria separado da
produo. Nos sistemas produtivos atuais tudo ocorre ao mesmo tempo e em
processos interligados. As pesquisas cientficas e a inovao so partes integrantes
e no independentes da produo (LOJKINE, 2002).
Esse contexto reflete a ascenso de um novo paradigma tecnoeconmicoonde a insero na economia global passa por investimentos em CT&I, e onde as
TIC funcionam como instrumentos imprescindveis na dinmica da produo cuja
atuao cada vez mais tende a se concentrar no setor de servios. Isto implica na
grande capacidade de codificao de conhecimentos (transmitidos, armazenados e
processados em tempo real e em grande velocidade), e na reestruturao dos
processos produtivos, uma vez que as empresas adquirem maior flexibilidade,
integrando diferentes funes como pesquisa, produo, administrao, marketing,
etc. (LASTRES e FERRAZ, 1999).Tal conjuntura tem impulsionado pases, regies, cidades e empresas a
intensificarem mudanas em suas bases tecnolgicas e organizacionais e passarem
a tratar informao e conhecimento como mercadorias (LYOTARD, 2009). Isto
porque podem investir mais intensamente em atividades ligadas ao saber, em
detrimento das atividades prprias da indstria clssica, concentradas no fazer.
Nessa lgica, tal qual a trade Capital, Trabalho e Recursos naturais,
Informao e Conhecimento so transformados em fatores geradores de
desenvolvimento econmico (MALIN, 1994; DINIZ e GONLVES, 2005).Essa nova forma de produzir trabalho e capital surgiu nos Estados Unidos
a partir da segunda metade do sculo XX como consequncia do crescimento das
atividades de servios representada por uma classe de trabalhadores com empregos
ligados ao conhecimento (cientistas, engenheiros, etc.) em detrimento do declnio
das atividades industriais (NEHMY, 2002). J em 1967, as atividades ligadas
informao representavam 46% do PIB e 53% da massa salarial daquele pas. Em
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outras palavras, a indstria no se sustentava mais como o primeiro setor da
economia. Assim, na tentativa de compreenso da nova realidade ento emergente
cunhou-se a expresso Sociedade de Informao, justificada por uma economia que
envolvia desde as indstrias vendedoras de bens e servios de informao,
passando pela burocracia de setores pblico-privados, at as atividades domsticas
(MATTELART, 2002).
As mudanas nas esferas do trabalho e produo de capital, observadas
nos Estados Unidos, tambm acometeram aos pases europeus, como constataram
os estudos encomendados por instituies como OCDE e Banco Mundial, para
avaliar a economia de pases como Inglaterra e Frana (NEHMY, 2002). Entre os
fatores que impulsionaram tais mudanas cita-se a emergncia do que LOJKINE
(2002) identifica como revoluo informacional, onde as TIC sob a gide docomputador como mquina universal atriburam s atividades humanas novas
formas de se relacionar com a informao e conhecimento.
As inovaes tecnolgicas sentidas a partir dos anos 1970 devem muito
aos esforos empreendidos durante e aps a segunda guerra mundial em pesquisas
financiadas pelo governo dos Estados Unidos para o aprimoramento de sistemas de
armamentos e da construo da bomba atmica. Dessa poca notrio, por
exemplo, a inveno da ciberntica, termo usado pela primeira vez pelo matemtico
do MIT Norbert Wiener, como mecanismo de comunicao e de controle emmquinas e seres vivos (NEHMY, 2002).
O aperfeioamento do computador e sua difuso do domnio militar para o
domnio pblico e o surgimento da internet como uma grande rede de fluxos de
informaes planetrias possibilitaram nas dcadas posteriores a 1970, o uso de
ferramentas para constituir o que WERTHEIN (2000) designou de paradigma da
Sociedade de Informao. H aqui a compreenso de que nesta sociedade: a) a
informao torna-se matria-prima; b) as TIC esto presentes em todas as
atividades humanas; c) h predomnio da lgica de redes; e) e ocorre aconvergncia de tecnologias para diversas reas do saber que se tornam
interligadas.
O entendimento de que as TIC impactam diretamente na vida social e a
transforma sem precedentes na histria das revolues tecnolgicas fez com que
CASTELLS (1999) propusesse a ideia de uma nova economia, caracterizada por ser
informacional, global, e funcionar em rede. Primeiro, por que depende da
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capacidade de gerar, processar e aplicar informao baseada em conhecimento;
segundo, por conectar agentes econmicos em escala global; e terceiro, pela
possibilidade de interao da produtividade entre redes empresariais planetrias.
O autor citado demonstra que as novas tecnologias associadas
globalizao definem a sociedade atual, o que implica em transformaes no s na
esfera econmica, mas em atividades humanas suscetveis aos novos mtodos de
acesso, processamento e distribuio de informao, portanto, s presses e
oportunidades das novas foras tcnicas (KUMAR, 2006). Assim, educao
distncia, bibliotecas digitais, videoconferncia, correio eletrnico, redes sociais,
voto eletrnico, banco online, comrcio eletrnico, trabalho distncia, so hoje
realidade da vida cotidiana nas cidades contemporneas (WERTHEIN, 2000).
A euforia e a velocidade com que as TIC se disseminam e passaram ainterferir na vida social, principalmente a partir dos anos 1990 com a difuso da
internet, tem inspirado autores como MITCHELL (2002) a conjecturar sobre uma
suposta humanidade do sculo XXI habitando cidades integradas a sistemas
computacionais, interagindo com objetos e lugares inteligentes, conscientes e
receptivos. Partindo-se dessa lgica, as formas tradicionais de desenvolver polticas
urbanas integrariam aes e estratgias voltadas a estruturar os lugares com as
tecnologias necessrias insero dos espaos nos fluxos globais (CNDIDO,
2004; FIRMINO, 2003).Nessa direo FLORIDA (2010) ressalta que este contexto no constitui
exclusividade dos pases industrializados, uma vez que as mudanas estruturais na
economia global (Ps-Fordismo) tm feito sucumbir os centros industriais
tradicionais e dispersado a produo por todo o mundo. Para este autor, esse
movimento pode gerar potencialidades a lugares que historicamente estiveram na
condio de periferia do capitalismo, de promover desenvolvimento econmico e
social a partir das oportunidades ligadas Sociedade de Informao, embora os
grandes fluxos de capital permaneam concentrados nos pases desenvolvidosindustrializados, principalmente nas megalpoles que renem as metrpoles
mundiais, responsveis por dois teros das atividades econmicas globais. Na
verdade, so esses pases que detm o cacife tecnolgico e concentram as mais
bem sucedidas experincias em inovao, como caso dos Estados Unidos com o
Vale do Silcio na Califrnia. Entretanto, a existncia de uma economia global que
possibilita formas mais flexveis de produo, comercializao e distribuio de bens
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e capital pode no s inserir novos territrios em dinmicas econmicas globais,
como permitir que novas configuraes espaciais sejam criadas em conformidade
com o novo paradigma tecnoeconmico.
Isto tem contribudo para que autores como GLAESER (2011), ao
discorrer sobre os centros urbanos contemporneos, ressaltem o contraste existente
entre as cidades industriais (assumidas como pobres e decadentes), e as cidades
que conseguiram encontrar o caminho do desenvolvimento a partir de investimento
em CT&I. o que diferencia Chicago, modelo de cidade industrial americana do
sculo XX, da cidade indiana de Bangalore, cujo desenvolvimento tem sido
fortemente atribudo a sua insero na economia gerada pela Sociedade de
Informao. Para o autor citado, o sucesso de Bangalore se justifica no pela fora
econmica de sua indstria txtil, mas pela condio que lhe dada de cidade deideias, lcus de empresas e trabalhadores inteligentes, inseridos em dinmicas
produtivas intensivas em inovao.
O exemplo de Bangalore sustenta a opinio de FERNANDES e GAMA
(2006) de que o urbano adquire um novo status na sociedade ps-industrial. Nessa
perspectiva: 1) a cidade industrial substituda pela cidade da informao e do
conhecimento; 2) os espaos urbanos adquirem vantagens competitivas valorizando
recursos imateriais, capital humano, transferncia de tecnologia; 3) dinmicas
econmicas, sociais e organizacionais so desenvolvidas mediante a influncia denovas tecnologias em processos de produo, uso e difuso da informao e do
conhecimento; 4) e as cidades tm propenso a tornarem-se inteligentes,
valorizando lugares e pessoas criativas, espaos propcios ao desenvolvimento da
inovao e da aprendizagem.
Ao discorrer sobre as cidades contemporneas MITCHELL (2002, 2005,
2008) afirma que, independentemente de ser bom ou no, o impacto das TIC na vida
urbana um processo inevitvel, pois imprime nos lugares novas estratgias
orientadas para atrair e manter atividades econmicas que, em princpio, poderiamestar localizadas em qualquer lugar do planeta. Isso se aplica aos pases
desenvolvidos que abrigam as cidades onde se localizam os centros da indstria
financeira global, a exemplo de Nova York e Londres, como tambm, a pases de
outras regies do planeta, no necessariamente desenvolvidas. Em todo caso, a
conectividade digital pode contribuir para valorizar os espaos urbanos
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potencializando oportunidades de insero na economia global como centros de
inovao e criatividade (capacidade de atrair talentos, de se reinventar e inovar).
Esse argumento compartilhado por FLORIDA (2008, 2010) que idenfica
na mudana dos padres de consumo e na reestruturao dos empregos nas
economias avanadas, principalmente nos Estados Unidos, a ascenso de uma
classe de trabalhadores criativos, composta por cientistas, engenheiros, professores
universitrios, artistas, profissionais do entretenimento, designers, arquitetos, alm
de profissionais de setores de alta tecnologia, servios financeiros, entre outros.
Para atender as demandas econmicas e sociais da classe criativa altamente
especializada, o autor citado ressalta que as cidades precisam transformar-se em
lugares atraentes e abertos a prticas flexveis de trabalho e vivncia, onde se possa
ter qualidade de vida urbana, sobretudo.
1.1 CONCLUSO DO CAPTULO
A Sociedade de Informao acima de tudo um produto da
reestruturao do modo de produo capitalista que resultou na globalizao
econmica. Note-se que o termo Sociedade de Informao poderia ser substitudo
por outra designao (Sociedade Ps-Moderna? Sociedade do Conhecimento?
Sociedade em Rede?) e ainda assim refletiria a hegemonia do atual estgio de
reproduo do capital, em processo de expanso no sentido centro-periferia do
planeta. Naturalmente, tal processo, tomado como descentralizao produtiva ou
especializao flexvel, tem natureza essencialmente econmica e carrega consigo
oportunidades e perversidades prprias da globalizao.
Diante desse quadro, as TIC e as cidades destacam-se como peas
importantes, contribuindo para inserir determinados lugares em dinmicas
econmicas que se ajustam s novas formas de produzir bens e capital, baseadas
em informao e conhecimento. As TIC apresentam-se como ferramentas queampliam as possibilidades de interao com o mundo. Funcionam como a base
operacional e meio pelo qual se estabelecem fluxos de informaes que tornam
possveis processos interativos e comunicativos de toda ordem, em escala
planetria. As cidades materializam uma gama de relaes que se manifestam
essencialmente no espao urbano. Acumulam a funo de prover infraestrutura e
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servios, ligados s TIC ou no, necessrios qualidade de vida urbana, como
demanda da Sociedade de Informao.
Em suma, as TIC e as cidades contribuem para ampliar as oportunidades
que determinados lugares tm de tirar proveito do quadro de adversidades prprio
da globalizao, uma vez que ajudam a criar as condies para o desenvolvimento
econmico baseado em atividades intensivas em conhecimento e informao. A
literatura apresentada ao longo deste captulo demonstra certo otimismo nessa
direo, acusando inclusive a supremacia da cidade mediada pelas TIC sobre a
cidade industrial, paralelo transio de uma economia de produo nos moldes da
indstria clssica, para uma economia de servios intensiva em CT&I.
O significado dessas transformaes para as reas perifricas do planeta,
ilustrado no exemplo de Bangalore, tem gerado expectativa de mudana dacondio de atraso e isolamento, para a condio de prosperidade econmica e
social, a partir de investimentos em cadeias produtivas ajustadas ao novo paradigma
tecnoeconmico. Como afirmado anteriormente, esta viso tem sido apresentada
como um modelo de desenvolvimento vivel para a Amaznia, haja vista a
possibilidade de usar o seu patrimnio natural a favor do prprio desenvolvimento
(COSTA, 1998, 2009; BECKER, 2010, 2009; CARVALHO, 2008). Considerando que
as cidades assumem importncia significativa no cerne dessas discusses, o
captulo seguinte, discute a formao das cidades e a urbanizao ao longo doprocesso de ocupao e explorao desta regio, e ao mesmo tempo, destaca as
oportunidades mediante o contexto apresentado como Sociedade de Informao.
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2 AS CIDADES NO PROCESSO DE OCUPAO E EXPLORAO DA
AMAZNIA
Este captulo remete diretamente ao segundo objetivo especfico, onde seprope discorrer sobre as cidades no processo histrico de ocupao e explorao
da Amaznia, e nas novas perspectivas de desenvolvimento para a regio mediante
o novo paradigma tecnoeconmico. Note-se que o perodo de ocupao e
explorao da Amaznia correspondente aos sculos XVII e XVIII caracteriza-se
pela coexistncia de formas extrativistas e agrcolas de produo, operando de
acordo com demandas especficas do sistema capitalista, e subordinadas a
interesses externos de colonizao. A necessidade de estabelecer articulaes
diversas entre determinados lugares com propsito de escoamento da produoextrativista, e tambm, o interesse estratgico de demarcar domnio territorial
contriburam para estruturar a rede urbana amaznica em funo dos rios, cujos
pontos nodais formaram o que THRY (2004) designa de reas de confluncias. Ao
longo do processo de colonizao, pelo menos at a primeira metade do sculo XX,
os rios eram os principais meios de acesso ao interior da floresta. Atravs deles
podiam-se estabelecer fluxos diversos entre os lugares mais remotos e as capitais
de provncias Belm e Manaus, historicamente consideradas pontos estratgicos
pela importncia poltica e econmica que sempre exerceram.Guardadas as devidas propores NUNES (2008) destaca o fato de que a
estruturao da rede urbana amaznica apresenta semelhanas com as demais
regies brasileiras, na medida em que foi formada por alguns centros urbanos com
grande concentrao de populao, a exemplo das cidades citadas, e ao mesmo
tempo pela disperso de pequenos ncleos urbanos e povoados no territrio. Por
outro lado, a existncia de um modal hidrovirio como estruturador da rede urbana e
as caractersticas naturais da regio condicionaram este territrio a um processo de
ocupao com especificidades muito prprias, fora dos padres estabelecidos no
restante do pas:
ao longo dos sculos os ncleos de povoamento sempre obedeceram scaractersticas impostas pela natureza. Os rios serviam de vias deinteriorizao e as terras mais afastadas das margens ficavamdespovoadas. [...] Assim, pode-se associar o circuito da produotradicional como caracterstica da Amaznia dos rios, pela relao estreitaentre a economia local e a rede fluvial de comunicaes (SAYAGO, et al,2004, p.18).
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Na verdade, como bem observa VICENTINI (2004), durante os trs
primeiros sculos de colonizao portuguesa na Amaznia, mediante a
complexidade e vastido do territrio, poucas cidades possuam infraestrutura,
densidade demogrfica e servios prprios do modo de vida urbano. Os requintes de
modernidade europeia restringiam-se s capitais de provncias Belm e Manaus.
Para alm dessas capitais as aglomeraes humanas consistiam em pequenos
povoados habitados por populaes empobrecidas, cujos modos de vida estavam
estritamente vinculados s formas tradicionais de subsistncia.
At o final do sculo XIX a Amaznia apresentava-se como um territrio
com baixa densidade populacional e pouco urbanizada. Conforme pode ser
observado no mapa da Figura 1, em 1872 somente as capitais de provncias de
acordo com a diviso territorial daquele perodo possuam populao acima de 20mil habitantes. Belm, neste caso, desponta como a nica capital com populao
acima de 50 mil habitantes. Ademais significativa a quantidade de municpios com
menos de 5 mil, e entre 5 mil e 10 mil habitantes.
Figura 1: Mapa com a populao total dos municpios brasileiros de 1872.Fonte: Evoluo da diviso territorial do Brasil: 1872-2010. IBGE, Rio de Janeiro, 2011.
As transformaes ocorridas no mbito econmico que remontam as
ltimas dcadas do sculo XIX e o incio do sculo XX intensificaram o processo de
expanso territorial na Amaznia. A partir desse momento, a condio de
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fornecedora de drogas do serto atravs de formas extrativistas de produo
baseada em trabalho indgena servil comeou a ser substituda pelo que PAULA
(2008) designa de ciclo sistmico de acumulao britnico, centrado na produo de
algodo no Maranho e de borracha vegetal no Par e no Amazonas.
O crescimento econmico resultante da comercializao desses produtos
influenciou de maneira significativa o surgimento de novas cidades e vilas, e tambm
financiou importantes operaes urbanas nas cidades Belm e Manaus. Embora
essas operaes tenham se concentrado exclusivamente nas capitais de provncias
inegvel o fato de que com a interiorizao da produo floresta adentro, cidades
e vilas tornaram-se menos isoladas geograficamente e mais conectadas ao sistema
de produo vigente, ainda que isso tenha ocorrido de forma gradativa:
S com o incio da explorao da borracha para o mercado internacionalcomeou a expanso territorial. At 1850, a explorao ficou circunscrita svizinhanas de Belm e s regies das ilhas para, s ento, se estender atos Rios Xingu e Tapajs. De outras cidades como Camet, Gurup,Santarm, Monte Alegre, os paraenses passaram a se dirigir para oAmazonas (VICENTINI, 2004, p.124).
A expanso territorial, entretanto, no alavancou padres de urbanizao
e estilos de vida urbanos para alm das capitais de provncias. Belm e Manaus,
vistas como cidades urbanizadas e modernas, eram excees e contrastavam com o
grande nmero de vilas e povoados que se estruturavam ao longo dos rios com
modos de vida predominantemente rural. Esta condio contribuiu para apermanncia de padres extrativistas de produo e do sistema de troca, inibindo a
introduo da monetarizao e de relaes de trabalho assalariadas na regio
(VICENTINI, 2004). Isto repercutiu sob muitos aspectos na dificuldade de
implantao na Amaznia do modelo de produo urbano-industrial orientado para a
produo de bens industrializados, apesar dos esforos empreendidos pelo governo
do Estado do Par na dcada de 1920 em atrair indstrias estrangeiras. Entre os
subsdios oferecidos destacavam-se a permisso para uso de terras estatais
devolutas, a disposio em firmar convnios para explorao de recursos naturais, eo interesse em implantar manufaturas de artefatos da borracha (COSTA, 1998).
Embora o governo paraense tenha elaborado uma espcie de marketing
territorial no exterior, oferecendo concesses de terras e incentivos fiscais a
indstrias internacionais, interessou apenas Companhia Ford aceitar o desafio de
implantar na Bacia do Rio Tapajs no final da dcada de 1920 uma fbrica de
borracha. Objetivava-se com isso reproduzir em terras tropicais o modelo fordista de
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produo em massa descrito no Captulo 2. Em 1928 a Companhia Ford recebeu do
governo do Estado do Par a extenso de terra de 1 milho de hectares destinada
ao plantio de seringueiras e a construo do ncleo urbano de Fordlndia para
abrigar funcionrios. Aps 1934, parte dessa concesso foi trocada por outra rea
com melhores condies naturais de cultivo, denominada Belterra:
O objetivo de Ford com a instalao das cidades era construir as basespara que os gerentes e trabalhadores na plantao de seringueiraspudessem produzir borracha para abastecer suas linhas de produo nosEUA, uma forma de se livrar dos preos praticados pelos asiticos. Para aeconomia combalida do estado do Par a iniciativa de Ford foi cercada deimensa expectativa de retorno para a Amaznia, pelo menos de parte dofausto da poca de ouro da borracha para a regio (LIMA, 2011).
O declnio da produo do ltex consequente do surgimento de
tecnologias que permitiram fabricar borracha sinttica a partir de derivados
do petrleo na Malsia, somado a problemas como falta de mo de obra para
trabalhar nos seringais e a destruio das plantaes por pragas fadaram o projeto
Ford a uma vida curta. Entretanto, mesmo no tendo sido levado a diante, este
empreendimento foi responsvel pela construo das primeiras cidades planejadas
na Amaznia com o objetivo de servir de base para grandes projetos econmicos.
Diferentemente da maioria dos ncleos urbanos e vilarejos localizadas s margens
dos rios, Fordlndia e Belterra foram estruturadas segundo padres modernos de
cidades americanas (Foto 1):
As cidades possuam toda a infraestrutura urbana incluindo sistemasmodernos de captao, tratamento e distribuio no caso da rede de gua e duas casas de foras para a rede de energia. Construram-se osconjuntos de lazer, rede de telefonia, estao de rdio e mais de 70 Km deestradas foram abertos entre as concesses, alm de dois portos, um delesflutuante (VICENTINI, 2006, p.138).
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Foto1:Edificao com traos do estilo Cape Cod na cobertura e nas aberturas, comum em cidadesdo Meio Oeste americano, construda em Belterra com a funo de abrigar trabalhadores solteiros daFord Motor Company.Fonte: LIMA, 2011.
A implantao das referidas cidades no interior da Amaznia apresenta-
se como um caso singular no processo de estruturao das cidades nesta regio.
Isto , as poucas experincias com a efetivao de aes voltadas ao
desenvolvimento urbano, tanto pela iniciativa privada quanto pelo Governo Federal
foram tomadas a reboque de grandes projetos econmicos. Logo, a importncia de
Fordlndia e Belterra, do ponto de vista urbanstico, dada mais pela condio de
exceo do que de regra, uma vez que como j se afirmou anteriormente, apenas as
capitais de provncias tiveram seus espaos urbanos substancialmente remodelados
com recursos da riqueza oriunda da explorao da borracha.
Existiam poucas cidades amaznicas na poca da implantao de
Fordlndia e Belterra com expressiva populao urbana. A diviso territorial de 1940
j havia incorporado o territrio do Acre regio Norte, tendo como capital a cidade
de Rio Branco. O mapa da Figura 2 permite constatar que Belm desponta como o
nico municpio dessa regio com populao urbana acima de 150 mil habitantes,
seguida de Manaus com porte populacional menor. A prpria cidade de Rio Branco,
que mais tarde viria a se transformar na capital do Estado do Acre se assemelha aos
demais municpios amaznicos cujas populaes urbanas no ultrapassavam 10 mil
habitantes.
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Figura 2: Mapa com populao urbana total dos municpios brasileiros de 1940.Fonte: IBGE. Evoluo da diviso territorial do Brasil: 1872-2010, 2011.
A relevncia de Belm extrapola os limites regionais e se equipara s
principais cidades brasileiras. Em 1940, com exceo do Rio de Janeiro (capital da
repblica) e So Paulo, que possuam populaes urbanas acima de um milho de
habitantes, apenas Recife, Salvador, Belo Horizonte, Santos e Porto Alegre
encontravam-se na mesma faixa populacional urbana de Belm. Vale lembrar, que o
crescimento econmico do perodo da borracha esteve restrito s reas centrais,
refletindo-se diretamente em seus espaos urbanos. A modernidade de Belm se
explica pela lgica de concentrao desse capital, que num dado momento foi
direcionado para projetos de infraestrutura e remodelamento urbano e paisagstico.
Cidade da exceo, Belm atravessou o perodo ureo e o declnio da
economia da borracha contrastando com a maioria das cidades amaznicas, tanto
pela expressividade de sua populao urbana quanto pela implementao depolticas pblicas ligadas ao seu desenvolvimento urbano. Neste aspecto, vale
destacar algumas aes importantes como a implantao de modernas linhas de
transportes, pavimentao de vias, aterramento de reas alagadias e a construo
de equipamentos e mobilirio urbanos.
O exemplo de Belm, que tambm se aplica a Manaus e s cidades
planejadas pela Companhia Ford na dcada de 1920 serve apenas para ilustrar
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alguns pontos importantes sobre as circunstncias em que as cidades amaznicas
sofreram intervenes em seus espaos urbanos ou foram integralmente planejadas
para atender interesses econmicos. Em suma, so exemplos que refletem,
conforme sintetizado no Quadro 4, o quanto a estruturao do espao urbano da
regio manteve-se subordinada historicamente lgica de reproduo capitalista.
Quadro 4:Relao entre processos econmicos e a urbanizao na Amaznia entre os sculos XVIIe a primeira metade do sculo XX
Caractersticas socioeconmicas Estrutu rao da rede urbana
Coexistncia de formas extrativistas eagrcolas de produo, operando deacordo com demandas especficas dosistema capitalista, e subordinadas ainteresses externos de colonizao.
Interesse estratgico de demarcardomnio territorial.As transformaes ocorridas no mbito
econmico entre as ltimas dcadas dosculo XIX e o incio do sculo XXintensificaram o processo de expansoterritorial.
Tem incio o ciclo sistmico deacumulao britnico, centrado naproduo de algodo no Maranho ede borracha vegetal no Par e noAmazonas.
Na dcada de 1920, o governo doEstado do Par dedicou esforos para