Stinson 108, o desbravador de continentes! Um clássico da aviação
americana que ainda ganha os céus com muito estilo
Esta matéria está publicada na edição 2 da Aviação & Mercado, outubro
2https://www.yumpu.com/pt/document/view/56003089/aviacao-e-
mercado-revista-2-outubro016
Texto Cláudia Terra #cmdterra
O modelo 108 foi último projeto de aeronaves da Stinson Aircraft Company, um
projeto pós-segunda guerra mundial que competiu com as empresas Piper e Cessna.
Ele foi desenvolvido a partir do modelo pré-guerra, o Stinson Voyager 10A . Todos os
Stinson modelos 108, 108-1, 108-2, 108-3 e 108-4 foram construídos pela Stinson, em
Wayne, Michigan. Quando a Stinson vendeu o certificado para Piper, em 1949, cerca
de 325 aviões, dos 5.260, eram modelos 108s e estavam completos, mas não vendidos.
Estes 325, modelos 108 foram para a Piper como parte da venda. A Piper, em seguida
passou a vendê-los como o Piper-Stinson, desde então. Em 1949 a Piper anunciou o
lançamento do PA-17 "Vagabond", do Piper-Stinson "Voyager" e do Piper-Stinson
"Station Wagon". Originalmente criada em 1927, a Piper, se chamava Aircraft
Company Taylor, mas em 1937 a empresa foi reorganizada e rebatizada para Piper
Aircraft. A empresa esta sediada no Aeroporto Municipal de Vero Beach, em Vero
Beach, Flórida. É representada no Brasil pela JP Martins Aviação, sediada em São
Paulo. Empresa fundada em 1965. Trabalha com venda de aeronaves novas e usadas,
além de realizar manutenção e venda de peças. De acordo com Rogério Faria,
assessoria de vendas da JP Martins Aviação, no Brasil são vendidos 4 modelos da
Pipper, desses o mais vendido é o consagrado Seneca, projeto dos anos 70, com
versões atualizadas, sendo a última, o Seneca V. O segundo modelo mais vendido é o
Matrix, projeto novo, com designer moderno e tecnologicamente mais avançado, que
esta conquistando o mercado no Brasil na sua categoria.
O Modelo 108-3 do Stinson tinha estabilizador vertical com um leme e um bordo de
fuga em linha reta, com capacidade para até 3 passageiros, peso vazio 590 kg, peso
bruto 1,089 kg, capacidade de combustível de 190 litros, motor Franklin 6A4 de 6
cilindros, 4 tempos 165 hps. Velocidade máxima 230 km/124kn, velocidade de cruzeiro
195 km/h, velocidade stol 105km/h teto de serviço 16.500pés, taxa de subida 850pés.
O 108-4 era um modelo de maior potência 108, sn 108-4693, NX149C, não certificadas,
voava experimentalmente por Stinson, mais tarde, construído pela Piper. A versão
Station Wagon era uma opção disponível com modelos 1, 2 e 3, tinha painéis de
madeira incorporada e um piso reforçado, permitindo 600 lb (272 kg) de bagagem do
passageiro. A aeronave pode ser equipada com rodas, flutuadores ou trem de pouso
de esqui.
O 108-5 foi construído por Univair, semelhante ao 108-3, com 180 HP (134 kW), motor
de Franklin. Univair comprou o certificado do tipo Stinson 108 da Piper, construído em
1975. Este modelo teve a produção de 5.261 aeronaves, dos quais 5.260 foram
construídos por Stinson, 1 por Univair.
O Voyager 125 era alimentado por 125hp (93 kW) Lycoming e um motor a pistão de
235. O Voyager 150 era alimentado por um 150 hp (112 kW) Franklin 6A4-150 motor a
pistão. Voyager 165 era alimentado por um 165 hp (123 kW) Franklin 6A4-165-B3
motor a pistão.
A Aircraft Company Stinson, fundada em Dayton, Ohio, em 1920, pelo aviador Edward
"Eddie" Stinson e o irmão de Katherine Stinson. Após cinco anos de empreendimentos
comerciais, Stinson fez de Detroit, Michigan, o foco de seus futuros empreendimentos
de voo. Ele encontrou apoio empresarial Detroit para os seus projetos. Um grupo de
empresários locais - o Conselho de Detroit do Comité de Aviação da Commerce -
apoiou os planos de Stinson para estabelecer a Aircraft Syndicate Stinson, em 1925 em
um local ao sudoeste de Detroit e forneceu US $ 25.000 para desenvolver um novo
monoplano o SM-1 Detroiter, que fez seu primeiro voo em 25 de Janeiro de 1926 e
tornou-se um sucesso imediato, que permitiu a Stinson acumular rapidamente US $
150.000 em capital público para incorporar a Stinson Aircraft Corporation, em 4 de
Maio de 1926. Sempre um aviador no coração, Eddie Stinson, era um piloto que voava
por paixão, ainda estava voando como um piloto acrobático e ganhando US $ 100.000
por ano, por seus esforços - uma soma enorme naqueles dias. A Stinson Aircraft
Corporation vendeu 10 SM-1 Detroiters, em 1926. O negócio estava em constante
crescimento empresa vendeu 121 aeronaves em 1929 .
No auge da Depressão, em 1930, Stinson ofereceu seis modelos de aeronaves, que
foram desde o Júnior, de quatro lugares, ao Stinson 6000, avião trimotor. Eddie
Stinson não viveu para desfrutar o sucesso de sua empresa. Ele morreu em um
acidente aéreo em Chicago, Illinois, em 26 de Janeiro de 1932, durante uma viagem de
vendas. No momento da sua morte, aos 38 anos, ele já havia adquirido mais de 16.000
horas de voo, mais do que qualquer outro piloto naqueles tempos.
Atualmente ainda há exemplares originais em boas condições de voos, mas também
há muitas réplicas de qualidade voando pelo planeta. No Brasil há alguns exemplares,
tanto de originais Stinson, quanto de réplicas, com o 108 3 do Cmte Garcia.
“Existem no Brasil em torno de 4 aeronaves, já incluído esta e uma no Museu da TAM.
O nosso PT-ZCC Stinson 108-3 fica hangarado no aeroporto da Santa Lidya ( SDUL),
em Ribeirão Preto-SP. Este modelo tem o estabilizador vertical mais alto, com um leme
e bordo de fuga em linha reta, tanques de combustível 40 galões norte-americanos
(150 L; 33 imp gal) também foram incorporados às asas. O 108-3 tem um peso bruto
mais elevado do que seus antecessores de 2.400 libras (1.089 kg). Uma característica
distintiva foi a ranhura de bordo de ataque parcial instalado nas asas e alinhados com
os ailerons sobre o bordo de fuga, assegurando que a parte da asa, contendo os
ailerons, permaneça unstalled, em ângulos elevados de ataque, contribuindo assim,
para comportamento dócil em curvas de baixa velocidade.
O 108 RPL ( Réplica) Experimental, de Prefixo PT-ZCC, foi restaurado por Carlos Cesar
V. Marques, inspecionado pelo Engenheiro Aeronáutico Walter de Castro Barros, em
setembro de 2004, quando recebeu a certificação de voo. Essa aeronave tem as
seguintes características técnicas: Velocidade: nunca exceder (Vne) 254 Km/h;
Velocidade de cruzeiro: (75% pot.) 195 Km/h; Velocidade de stol: 90 Km/h; Peso vazio:
729 Kg; Peso máximo de decolagem: 1090 Kg; Fator de carga máximos +3,8 g e -1,7 g e
carga 75,7 Kg/m2.
Eu não faço viagens longas com ele. Pode ser feito, com planejamento ele contém os
rádios necessários para a navegação, sua autonomia é de três horas e meia. É uma
aeronave estável, o que a torna fácil de pilotar. Seu sistema de pouso é convencional,
exigindo do piloto um pouco mais de atenção na hora do pouso do que as aeronaves
que possuem um sistema tricículo. As aeronaves fabricadas na década de 40 são mais
lentas, não têm um apelo na aerodinâmica, elas são mais robustos, o que não combina
com o século 21, onde tudo tem de ser rápido e atender às necessidades de uma vida
bem diferente da década de 40. Pilotar essa aeronave te remete a outra época, há
outros tempos... É para quem gosta! Eu sou piloto, gosto dos dois tempos. As
aeronaves mais novas eu uso no trabalho. Aeronaves mais antigas, como o Stinson,
piloto por lazer e entretenimento”, explica Cmte Garcia.
José Paulo Rodrigues Garcia é brevetado desde 1974, possui mais de 20 mil horas de
voo, iniciou como piloto, dando instrução em aeroclube, após, começou a voar na
aviação comercial, na qual ficou por 2 anos. Em 1978 formou se em piloto agrícola, em
1995 fundou a própria empresa de aviação agrícola, a Garcia Aviação Agrícola Ltda,
baseada no aeródromo SDUL, na Usina Santa Lydia, em Ribeirão Preto que continua
com sucesso até hoje.
Voar em uma aeronave tão antiga e cheia de história é algo muito raro e especial,
como mostram Tiago Longuini (Patrimon Seguros) e Vilso Ceroni (presidente da
Aviação & Mercado), que tiveram a oportunidade de fazer um voo com Cmte Garcia
no seu Stinson 108.
Impressões do voo por Tiago Longuini
Quem disse que não poderíamos voar em nossas próprias máquinas do tempo? Eis aí
a prova de ela existe, uma máquina em que tive a honra de voar, em um momento
muito oportuno. Conheci o seu simpático proprietário o Sr. Garcia, que gentilmente
me convidou para um voo na história. Tive a impressão de realmente ter viajado no
tempo. É de impressionar qualquer amante da aviação quando se está a bordo dessa
máquina. Um filme passa na sua cabeça, relembrando as histórias já contadas e vividas
na época em que este avião contribuiu muito para o desenvolvimento de nosso país.
Um verdadeiro salto na história da tecnologia, da época que permitia aos seus pilotos
voarem quase as cegas, se comparado aos tempos modernos, em longas viagens. Um
desafio constante em voar nivelado por um instrumento composto por um
“inclinômetro,” a “bola”, associado a um indicador de volta. O “pau” era o "horizonte
artificial" disponível. Apesar do tempo, esse avião demonstra ainda sua boa forma,
inclusive na aterrissagem, quando se percebe o quanto ele gosta de voar. Fica aqui o
nosso agradecimento ao amigo Sr. Garcia”.
Impressões do voo por Vilso Ceroni
No evento do Aeroclube Bonanza, realizado no dia 03/09/16, tive o privilégio de voar
em um dos únicos exemplares do Stision 108 no Brasil. Depois de ter voado um Grand
Caravan 2016, posso dizer que a comparação foi muito interessante. Em épocas
diferentes, essas duas aeronaves tiveram funções semelhantes quanto a usabilidade.
O proprietário da Aeronave, o Sr Garcia, uma pessoa impar, bom de papo, inteligente e
conhecedor da aviação, apresentava-se angustiado para demonstrar seu brinquedo,
um Stision 108, para alguém presente naquele evento. Na fila de um dos food truck,
onde esperávamos por nossa alimentação, ele lançou a pergunta: Veio com qual
máquina? Eu respondi apenas o que podia responder, vim de Caravan, a convite da
TAM Executiva. E de réplica ele emendou: sabe que eu tenho um que foi o Caravan de
muitas décadas atrás?! Como não sabia exatamente do que ele estava falando,
respondi apenas: legal! Então o convidei para compormos a mesa para o almoço.
Terminado o almoço e a sobremesa, o Sr. Garcia convidou a mim e ao Tiago Longuini
para conhecermos o tal “Caravan” de muitas décadas atrás.
Andamos alguns metros por uma das pistas e chegamos ao imponente Stision 108.
Muito bonito e bem cuidado. Ali, percebi o brilho nos olhos do Sr. Garcia, que
demonstrava o amor pela sua máquina e o orgulho em que contava sobre ela e sua
história. E lá vem o Sr. Garcia de novo com uma pergunta: O que achou da máquina?
Muito bonita! É a primeira vez que vejo um exemplar desse modelo. Foi aí que soube
que temos apenas dois no Brasil e eu estava diante de uma raridade, uma “espécie”
em extinção.
O Sr. Garcia olhou para mim e para o Tiago e perguntou se gostamos e então disse:
vamos voar! O Tiago vira e me diz: você conhece alguma oração que podemos fazer
muito rápido? Eu respondi: a vida é composta por desafios, e a morte é composta por
um momento, vamos descobrir de qual estamos falando.
Subimos na máquina! Eu ao lado do Sr Garcia e o Tiago no banco de traz. O Sr. Garcia
deu uma aula rápida sobre o painel, também não tinha, ali, muita tecnologia a
demonstrar. Partida do motor dada e o ronco do motor já demonstrava como seria a
experiência. Começamos a rodar pela pista de acesso á pista de decolagem e fomos
até o final dela.
Cmte Garcia acelerou o motor... e seja o que Deus quiser, pensei eu! Rodamos por uns
600 metros de pista e a máquina do Sr. Garcia começou a deixar o solo. Esse foi
momento em que fiquei muito tenso. Eu, ali, apertado em um pequeno espaço, que
minhas pernas atrapalhavam a pilotagem, mas com pensamento positivo. Foi quando
falei para Sr. Garcia: isso será matéria para próxima edição da AM, mas o Sr tem que
nos devolver vivos. Ele replicou: Então teremos matéria! Voamos por uns 15 minutos
muito interessantes, com uma vista muito bacana do local do evento e das dezenas de
aeronaves expostas. Tivemos ainda o direito a um voo rasante para dar vontade de
voar em quem assistia. Demos mais uma volta e o Sr Garcia se preparou para o pouso,
que foi tranquilo e terminou com um cavalinho de pau na pista.
Para mim, ficou muito claro o que é paixão por aviação. Ela supera riscos e desafios
para te colocar contra o vento e desafiar a física. Obrigado Cmte Garcia pela
experiência proporcionada.
Flight on 1946 Stinson 108-1 Voyager,
https://www.youtube.com/watch?v=wXrj9u4bDvU
Stinson Voyager 108-2 (Part #1) - Fly/In Cruise
https://www.youtube.com/watch?v=BkNaibA1WFg
Stinson Voyager 108-3 (Part #2) - Fly/In Cruise/In
https://www.youtube.com/watch?v=ghYFSr3CGME
Stinson 108 Flight on Floats
https://www.youtube.com/watch?v=-m_QWCcMYzI