FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM EECCOONNOOMMIIAA
“Uma avaliação da eficácia do Plano de Retenção de Café de 2000”
SSÉÉRRGGIIOO MMAASSTTRRAANNGGEELLOO FFEERRRREEIIRRAA
ORIENTADOR: PROF. DR. EMANUEL AUGUSTO RODRIGUES ORNELAS
Rio de Janeiro, 26 de abril de 2007.
“UMA AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DO PLANO DE RETENÇÃO DE CAFÉ DE 2000”
SÉRGIO MASTRANGELO FERREIRA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial
ORIENTADOR: PROF. DR. EMANUEL AUGUSTO RODRIGUES ORNELAS
Rio de Janeiro, 26 de abril de 2007.
“UMA AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DO PLANO DE RETENÇÃO DE CAFÉ DE 2000”
SÉRGIO MASTRANGELO FERREIRA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor PROF. DR. EMANUEL AUGUSTO RODRIGUES ORNELAS (Orientador) Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________
Professor PROF. DR. ALEXANDRE BARROS DA CUNHA Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________
Professor PROF. DR. LUIS FERNANDO OLIVEIRA DE ARAUJO Instituição: FUCAPE - ES
Rio de Janeiro, 26 de abril de 2007.
FICHA CATALOGRÁFICA
Entrar em contato com a biblioteca no 14º andar, ou através do e-mail: [email protected]
v
DEDICATÓRIA
Àqueles que por anos me incentivaram e cobraram
minha dedicação aos estudos: meus pais e irmão.
Em especial, dedico a minha Filha, Ana Helena, a
minha maior motivação.
Dedico este trabalho também à Ana Paula, meu amor,
companheira e incentivadora.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente ao meu orientador, Dr. Emanuel Ornelas,
por toda sua dedicação.
Obrigado especial aos amigos Sérgio Wanderley e Cesar Calmon
que viabilizaram o patrocínio deste curso pela empresa Marcellino
Martins & E. Johnston Exportadores Ltda.
Agradeço também ao Dr. Guilherme Braga, presidente do Cecafé
e a Eduardo Heron pelo esclarecimentos de dúvidas e por
disponibilizarem material referente ao plano, e aos amigos que
pacientemente ouviram as minhas inúmeras explicações sob o
tema deste trabalho.
vii
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar o plano de retenção de café de 2000. Para isso,
utilizamos os dados de exportação, produção, preço internacional e câmbio de 51 países
produtores, para o período de 1976 a 2005. Com base na teoria do cartel, comparamos o
comportamento dos países que participaram do plano de retenção de café com os que não
participaram. Observou-se que no plano de retenção de café alguns produtores tiveram um
incentivo de curto prazo que os levaram a não cumprí-lo. As estimações indicam os seguintes
resultados: i) os não participantes do plano não alteraram o seu comportamento durante o
plano; ii) os participantes do plano aumentaram as suas exportações, contrariando os objetivos
do plano; iii) o Brasil se destacou por ter reduzido as suas exportação durante o plano.
Palavras Chave: Cartel, Café, Conduta, Divisão do Mercado.
viii
ABSTRACT
The goal of this paper is to analyze the effectiveness of the coffee retention plan, through
exports, local production, international prices and exchange rates of 51 producing countries,
in the period between 1976 and 2005. We use the cartel theory to compare the behavior of
Plan countries with Non-Plan countries. We find that during the Retention Plan some Plan
countries did not follow the Plan’s recommendation. The estimations indicate the following
results: i) the Non-Plan countries didn’t change their behavior during the Plan; ii) the Plan
Countries increased their exports during the plan, acting against the Plan’s goals; iii) Brazil
decreased its exports during the Plan.
Key Words: Cartel, Coffee, Conduct, and Market Division.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Produtividade no Brasil………………………………………………………......26. Figura 2 – Cotação de Café na Bolsa de Nova York (pré – Plano)………….......………......34. Figura 3 – Países participantes e não participantes do plano ………………………………..37. Figura 4 – Participação nas exportações mundiais ………….......………..............................39.
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Consumo anual de café………………………………………………………......28. Tabela 2 – Produção de café por país entre 1976 e 1999………….......……...............….......36. Tabela 3 – Países Produtores de Café entre 1976 e 2005 …………………………….....…..38. Tabela 4 – Exportações de café por país, 1976-2005 ………….......………...........................44.
xi
LISTA DE ABREVIATURAS AIC Acordo Internacional de Café
APPC Associação dos Países Produtores de Café
CECAFE Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NYBOT New York Board of Trade
IBC Instituto Brasileiro do Café
OIC Organização Internacional do Café
USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América
xii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………………..13
2 REVISÃO DA LITERATURA………………………………………………………..16
2.1 Teoria do Cartel……………………………………….……………………………………..................16
2.2 O Cartel e a Divisão do Mercado...........................................................................................................19
2.3 Determinantes do Sucesso do Cartel……………….…………………………….…………………...21
3 O MERCADO........................………………………………………………………..24
3.1 O Mercado Cafeeiro………………………………….……………………………………...................24
3.2 Histórico das Intervenções......................................................................................................................28
4 O PLANO DE RETENÇÃO DE CAFÉ....…………………………………………..32
4.1 Descrição do Plano…………………..……………….…………………………….………..................32
4.2 Os Participantes do Plano.......................................................................................................................37
4.3 Participação nas exportações mundiais.................................................................................................38
5 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS......…………………………………………..40
5.1 As Exportações…………………..……………….…………………………….………........................40
5.2 Especificação das equações a serem estimadas.....................................................................................42
5.3 Análise dos resultados.............................................................................................................................45
6 CONCLUSÃO.........................................…………………………………………..50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............…………………………………………..52
SÉRIES UTILIZADAS....................................…………………………………………..53
13
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende analisar o comportamento dos países produtores de café no
intuito de avaliar os efeitos do plano de retenção de café, adotado por esses no ano 2000,
como meio de controle da oferta do produto para sustentar os preços. Com esse objetivo,
utilizamos dados para exportação, produção, preço e taxa de câmbio real, com
observações anuais, para o período de 1976 até 20051.
Nossa seleção compreendeu os 51 países produtores e exportadores. Dos 51 países,
23 assinaram o acordo para reter café. De uma forma geral, nosso intuito é gerar uma
comparação entre o período pós-adoção contra o período pré-adoção do plano de retenção
de café e comparar esses resultados entre o grupo de países que assinaram e os que não
assinaram o acordo.
1Todos os dados, com exceção da taxa de câmbio real, aqui utilizados foram obtidos na ICO – International
Coffee Organization. Uma explicação mais detalhada das séries utilizadas está no final deste trabalho em um apêndice.
14
Dois trabalhos se destacam na literatura sob acordos no mercado de café: Bacha
(1992) e Delfim Netto (1959). Em nosso estudo discutiremos o trabalho de Levenstein
and Suslow (2006) que analisa a eficácia dos cartéis.
Bacha (1992) analisa o mercado de café ao longo de sua história com ênfase nos
aspectos institucionais das políticas de intervenção, traçando um panorama das
motivações que levaram o Brasil e os demais produtores a se organizarem em torno de
uma atuação coordenada no mercado internacional de café. Delfim Netto (1959) também
analisa as políticas de intervenção, mas com maior abrangência. Tendo sido pioneiro na
análise do impacto econômico dessas políticas, criou modelos para o funcionamento do
mercado de café e tentou também expurgar os efeitos dessas intervenções. Ele faz em seu
trabalho uma análise detalhada dos diferentes formatos de acordos utilizados no mercado
de café.
Levenstein and Suslow (2006) não foca a sua análise em um mercado específico.
Os autores fazem uma revisão da literatura sob o tema da eficiência dos cartéis e
finalizam destacando as principais características dos cartéis que foram bem sucedidos.
Esse trabalho balizou a nossa escolha do formato utilizado para o tratamento dos dados,
bem como para as hipóteses utilizadas na análise dos resultados.
Os nossos resultados indicam que a maioria dos países que assinaram o plano não o
cumpriu. A exceção foi o Brasil, que reteve o café como previsto. Os outros participantes
do acordo agiram de forma oposta, aumentando a exportação durante o plano. Entre os
resultados encontrados ao se comparar o comportamento dos grupos, os países que não
15
assinaram o acordo não alteraram o seu comportamento, exportando volume de café
compatível com a produção e preço daquele ano. Considerando que esses países não
tinham obrigação de reter café, eles estavam aptos a se beneficiarem da redução das
exportações dos demais países. O Vietnã se destaca no grupo dos não participantes por
ter aumentado as exportações, porém esse aumento foi reflexo de uma tendência já
manifestada.
Este trabalho foi estruturado em seis seções, contando com esta introdução. A
segunda seção apresenta um resumo da literatura sob os cartéis, criando uma estrutura
teórica para tratar o tema proposto. A terceira apresenta as características do mercado. A
quarta e quinta seções apresentam a metodologia aplicada, descrevendo a origem dos
dados, como iremos utilizá-los, os resultados e as análises obtidas para cada equação. A
sexta seção apresenta a conclusão.
16
2 REVISÃO DA LITERATURA 2
2.1 TEORIA DO CARTEL
Nesta seção, faremos uma revisão da literatura com o objetivo de analisar a teoria do
cartel, demonstrando como os participantes conseguem criar arranjos institucionais para
restringir a produção/oferta e aumentar os preços. Infelizmente, a teoria não apresenta
conclusões claras que possam ser aplicadas a todos os casos. Assim, a eficácia de um
cartel é uma questão empírica.
Um cartel é um acordo feito entre competidores de um mercado quanto ao preço
que será cobrado ou a produção ou ambos. Produtores formam um cartel com o objetivo
de limitar a competição e aumentar os lucros, restringindo a produção e aumentando os
preços. A intenção é colocar o preço ao nível do monopolista para maximizar os lucros.
O cartel enfrenta três problemas: coordenação, oportunismo e entrada. Os participantes
devem estar preparados para coordenar o equilíbrio, porém em algumas situações haverá
mais de um equilíbrio que aumenta preços e reduz a produção.
2 Esta seção foi baseada no estudo de Levenstein and Suslow (2006) sob a eficiência dos cartéis.
17
O cartel deve aumentar os lucros de todos os membros e deve conter mecanismos
que distribuam esses lucros entre os seus membros, desenvolvendo uma estrutura de
incentivos através de uma combinação entre monitoramento, recompensas e punição para
prevenir o comportamento oportunista, bem como prevenir a entrada de novos
participantes no mercado. De acordo com Stigler (1964), em um mercado dinâmico as
soluções para esses problemas poderão mudar ao longo do tempo. Para um cartel ser bem
sucedido, ele precisa criar uma estrutura organizacional capaz de solucionar esses
problemas.
O ponto principal é como prevenir o comportamento oportunista. O cartel cria um
“Dilema do Prisioneiro” quando aumenta os preços acima do custo marginal,
incentivando os produtores a romper o acordo. Cada produtor irá querer baixar os seus
preços para aumentar a produção e ganhar uma parcela maior do mercado consumidor e
aumentar no curto prazo os seus lucros. Se cada participante agir dessa mesma forma, o
cartel será desmontado. A interação repetida entre os participantes pode criar incentivos
para esse tipo de acordo. Em repetidas interações, os participantes irão comparar o ganho
do rompimento do acordo no curto prazo (ganho do rompimento) em relação à
expectativa de redução futura do lucro descontado, após o rompimento (custo do
rompimento). Um cartel pode se sustentar se os custos do rompimento forem maiores que
o ganho do rompimento. A decisão de continuar ou romper o acordo irá depender do
lucro esperado do acordo e isso inclui o ganho do acordo e o tempo de interação entre os
participantes.
18
A teoria argumenta que um aumento da concentração do mercado facilita a
formação de um cartel. A concentração aumentaria o ganho individual de todos os
participantes sem aumentar o incentivo para o comportamento oportunista. Se os países
não têm a capacidade de criar um comprometimento de todos os participantes, o país
oportunista irá capturar todo o lucro do monopólio menos epsilon de um período. Um
aumento do número de produtores no mercado significa uma parcela menor do lucro de
monopólio que será dado a cada um. Sendo assim, a taxa de desconto teria de aumentar
na medida em que aumentam o número de participantes para manter o cartel em
equilíbrio. A taxa de desconto afeta diretamente a relação entre os benefícios do cartel e
os custos do comportamento oportunista. A diferenciação em relação a esse modelo
dependerá das especificações do mercado. Custos e tamanho dos participantes podem ter
um efeito ambíguo em relação a estabilidade do cartel.
Os cartéis são instáveis por natureza e o seu surgimento está relacionado a
momentos onde ocorre uma queda acentuada dos preços e dos lucros. Os países decidem
restringir a produção/exportação, mas acordos paralelos optam por “furar” o acordo
principal, levando o mercado a uma guerra de preços. A tentativa de refazer o acordo
permanece, porém sempre haverá a tentação de aumentar a produção quando os preços
estiverem acima do custo marginal. Green and Porter (1984) argumentam que a guerra de
preços é uma das soluções para deter o comportamento oportunista. Deter o
comportamento oportunista seria melhor que entrar em uma guerra de preços com altos
custos para todos os participantes. A guerra de preços ocorre quando os participantes não
são capazes de monitorar perfeitamente o nível de produção dos outros participantes e
não identificam quando esses estão furando o acordo.
19
Um outro aspecto é o custo de organização. Se o cartel é formado repetidas vezes,
provavelmente haverá uma associação de interesse privado já montada com esse intuito.
O custo fixo desta organização será diluído entre os vários participantes e entre os
diversos acordos. Dessa forma, a expectativa é que o cartel seja sempre lucrativo após
comportar todos esses custos. Esses custos fixos dependem do histórico de cooperação e
o número de participantes envolvidos. Qualquer tipo de incerteza em relação ao ambiente
institucional e às mudanças econômicas tornará o acordo mais difícil, aumentando a
complexidade na formulação dos contratos e dos mecanismos de monitoramento. A
capacidade de renegociação é fundamental para reformar o acordo. Quando os
participantes não têm essa capacidade, ocorre a guerra de preços.
Uma última questão a respeito da teoria do cartel é a possibilidade de novos
entrantes. Talvez seja esse o maior desafio do cartel. Quando as firmas decidem
coordenar as suas ações através de um acordo, elas necessariamente criam um incentivo
para a entrada de novos participantes. Isso se torna um problema mais sério quando se
trata de mercados com poucas barreiras à entrada.
2.2 O Cartel e a Divisão do Mercado
O mercado de café tem uma longa história de comportamento anticompetitivo
através de acordos e tentativas de acordos, orquestrados via associações e organismos
internacionais. Dando continuidade ao objetivo principal desta seção, iremos descrever
um arranjo simples entre países que pode configurar um equilíbrio.
20
Dois países que atuam no mesmo mercado (exemplo: mercado americano sendo
abastecido por Brasil e Colômbia)
Mercado
País 1 – Brasil
País 2 – Colômbia
Consideramos 2 países, 1 e 2, com custos marginais simétricos c, enfrentando a
competição de outros países com custos marginais cI desde que c < cI < pM, onde pM é o
preço de monopólio. Se os participantes do acordo seguirem à risca o acordo, eles
maximizam os lucros agregados do setor com p = cI, o lucro agregado do setor (por
período) é Π = ( cI – c) p-1(cI) e p-1(.) denota a função de demanda. De acordo com a
literatura de jogos repetidos3, o preço pM = cI pode ser mantido em equilíbrio se cada um
dos países adotarem essa estratégia. Porém, se um dos participantes tiver utilizado um
preço diferente do acordo no período anterior, será adotado o preço competitivo p = c.
Podemos assumir que, dada a simetria, os dois países dividem o mercado igualmente
(país f obtém sf = ½, f = 1,2). O cartel irá se sustentar se o benefício de cada país em
manter o acordo for maior que o benefício de rompê-lo, vendendo para todo o mercado
em um único período. A sustentabilidade do cartel é dada por:
3 Ver Tirole (1988) e Pindyck & Rubinfeld (1994).
21
1 Π 1 ≥ Π, (1) 2 1 – δ
onde δ é o fator de desconto por período. Essa condição pode ser reordenada como δ ≥ ½.
Pela teoria, com uma taxa de desconto suficientemente alta será obtido o preço de cartel
com pM = cI, que seria suportado em equilíbrio.
2.3 Determinantes do sucesso de um cartel
A primeira questão a ser analisada refere-se às condições do mercado e os efeitos
da capacidade de coordenação dos participantes sobre a viabilidade do acordo4. O
número de participantes pode representar um ponto a favor do acordo. A teoria sugere
que quanto menor o número de participantes, mais fácil será a coordenação, porém essa
relação entre a eficácia do cartel e a concentração não é empiricamente observada de
forma clara. O ponto principal é que talvez vários cartéis com poucos participantes não
sejam formados de maneira explícita, considerando a concentração exógena, pois o cartel
possibilitou que várias firmas sobrevivessem e se mantivessem no mercado. A evidência
é de que a duração do cartel está relacionada à parcela do mercado que os membros do
cartel detêm. Quanto maior a concentração de mercado, menor seria o incentivo para um
acordo explícito, pois ele se tornaria supérfluo. A explicação mais provável para a
prevalência de cartéis em mercado com baixa concentração é a atuação das associações
de interesse privado.
4 Ver Olson (1982).
22
A demanda é um outro aspecto a ser analisado. A expectativa é que o cartel seja
mais comum em mercados onde a demanda é inelástica, dado que o lucro potencial é
maior quando se fixa o preço do produto. Os estudos empíricos citados pelos autores,
embora limitados, confirmam esta expectativa. A questão é como a demanda afeta a
duração do cartel. As flutuações cíclicas afetam, porém se forem previsíveis devem estar
contidas no plano do acordo. O impacto da elasticidade está restrito à capacidade que o
cartel tem de aumentar os preços dado que a demanda é inelástica e existem poucos
substitutos.
O crescimento da demanda, por sua vez, aumenta o “peso” que o participante
coloca no futuro, porém um crescimento muito rápido possibilita o surgimento de novos
participantes. A guerra de preços ocorre normalmente durante um ciclo antecipando de
baixa, de acordo com estudos citados, principalmente na demanda por exportações.
Demanda e preços em baixa aumentariam a pressão para que os participantes adotassem
uma postura competitiva, rompendo o acordo. Geralmente os cartéis são formados
durante esse período de demanda e preços baixos, e os mais frágeis terminam durante
esse período.
Os cartéis bem sucedidos são aqueles que conseguem criar uma organização que
seja flexível e sofisticada para lidar com essas limitações. Essa organização deve
identificar o preço do cartel, coordenar a interação e atualizar as mudanças na demanda e
nos custos. Os cartéis desenvolvem as suas organizações ao longo do tempo através do
aprendizado. Esse aprendizado inclue como monitorar a produção e preços praticados
pelos membros com o objetivo de detectar o comportamento oportunista e principalmente
23
como gerar incentivos para que o cartel seja mais lucrativo que o comportamento
oportunista.
Esses cartéis também criam penalidades para os que não cumprirem o acordo com
práticas excludentes e elaboram uma hierarquia interna para facilitar a comunicação entre
os diversos níveis. Tanto a hierarquia quanto a comunicação são importantes para o
sucesso do cartel, pois em mercados dinâmicos os contratos serão sempre incompletos. A
expectativa dos participantes quanto ao comportamento de cooperação dos outros
participantes tem um impacto significativo para o sucesso do cartel. Essa expectativa é
influenciada pelas interações anteriores e pelo conhecimento de sua conduta e dos
aspectos culturais. Sendo assim, a confiança tem um papel fundamental no equilíbrio de
longo prazo de um cartel.
Monitorar produção e preços através de agências é a forma mais eficiente,
encontrada em cartéis de sucesso. A função principal dessas agências é remover de cada
participante o poder de definir preço, eliminando assim a possibilidade de
comportamento oportunista. Uma forma mais branda seriam auditorias que forneceriam
informação sob o comportamento dos participantes, porém não centralizariam as vendas.
Essas auditorias são feitas pelas associações que coletam e disseminam informações.
Essas associações podem optar por auditorias externas e independentes.
24
3 O MERCADO5 3.1 O Mercado Cafeeiro
O intuito desta seção é caracterizar o mercado de café, destacando as suas
especificidades. O café é um produto agrícola produzido em larga escala no Brasil e em
outros países com clima tropical e subtropical. A sua descrição é relativamente simples.
Existem duas qualidades de café: arábica e robusta. Ambos são produzidos no Brasil,
sendo que o café arábica em maior quantidade. A diferença entre essas duas qualidades
está na “bebida” e no “corpo”. Enquanto o café arábica tem muito sabor e pouco corpo, o
café robusta tem características opostas. Essas características fazem com que a indústria
de torrefação utilize nos seus blends as duas qualidades.
No café arábica há uma diferenciação básica quanto ao processo de preparo do
café após a colheita, dos quais podemos destacar dois: lavado e natural. Os cafés lavados
são aqueles que logo após a colheita passam por um processo de lavagem com água
corrente até o despolpamento. O café natural é aquele que passa por um processo de
5 Esta seção é baseada em relatórios da OIC e em informações contidas em páginas na internet especializadas e nos trabalhos de Bacha (1992) e Delfim Netto (1959).
25
secagem em terreiro de cimento até o despolpamento. O primeiro processo é muito
utilizado na Colômbia e América Central enquanto o segundo é muito comum no Brasil e
em alguns países africanos.
O processo de produção do café é relativamente simples. Sua produção é intensiva
em mão de obra e é caracterizada por uma substancial economia de escala. A utilização
do trabalho tanto durante a colheita como no trato da lavoura é bastante intenso no Brasil
e em outros países produtores principalmente quando comparado a outras culturas
agrícolas. O outro grande insumo são as terras para o plantio do café e recentemente a
utilização de fertilizantes e pesticidas.
O processo de produção tem como fator fixo, no curto prazo, a terra para plantio,
enquanto os outros fatores são variáveis. Os custos marginais em relação aos fatores de
produção variam de acordo com a tecnologia de produção, a capacidade de produção, o
tempo de produção da terra e a capacidade da mão de obra empregada. Um outro fator
importante é o custo da energia, dado que a utilização de novas tecnologias gerou um
aumento significativo da produtividade. A energia representa hoje um fator relevante com
o emprego de máquinas para o trato do café, para colheita e para a secagem. Esse
processo vem diminuindo a utilização do trabalho na produção, mas não configura uma
mudança significativa uma vez que a produção no Brasil e nos demais países ainda é
artesanal.
Esse investimento em tecnologias de produção de café fez com que a produção
total crescesse em um ritmo maior do que aumento da área plantada. Podemos notar no
26
gráfico 1 que a lavoura de café no Brasil é caracterizada por ciclos bianuais, alternando
safras grandes e pequenas de um ano para outro. A produtividade no Brasil mantinha uma
média de dez sacas por hectare de 1992 até 1998. A partir de 1999, a produtividade
passou a ter uma média aproximada de quinze sacas por hectare.
Produtividade
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Sacas por hectare
Fonte: MAPA - SPC - CONAB
Gráfico 1: Produtividade no Brasil
O café é uma mercadoria de alto valor em relação ao seu peso. Por isso, podemos
assumir que os custos de transporte não representam uma porção significativa dos custos
totais e que o mercado de café não é geograficamente segmentado. Os diferenciais de
preços podem ser corrigidos através da arbitragem do produto.
27
A demanda pelo café é essencialmente dirigida pela indústria de torrefação. Nos
países consumidores, os embarques são feitos basicamente em containeres, enquanto em
países produtores os embarques são feitos basicamente por meio rodoviário. O café não
tem substitutos perfeitos. Concorre diretamente com o refrigerante e o chá, porém o
consumo da bebida segue aspectos culturais. A elasticidade preço da demanda pelo café é
baixa, isto é, uma alteração de preço no produto final afeta pouco a demanda dos
consumidores.
A demanda mundial, estimada em 108 milhões de sacas de 60 kg em 2000, tem
crescido a uma taxa aproximada de 1% ao ano entre 1990 e 2005 (OIC). O crescimento
da demanda sempre esteve concentrado nos mercados desenvolvidos, como América do
Norte, Europa e Japão, porém essas regiões tiveram uma redução no ritmo de
crescimento enquanto os mercados emergentes, incluindo os produtores, começaram a
apresentar um crescimento considerável entre 1991 e 2005 (Tabela 1).
Desde o início da década dos noventa, um significativo processo de consolidação
foi sendo colocado em curso no mercado mundial de café. A produção era dirigida pelos
Estados Nacionais, que tinham uma atuação direta sobre o mercado, regulamentando e
controlando a oferta. Com a desregulamentação do setor e o fim do sistema de quotas,
novos participantes surgiram no mercado e mudaram a composição das parcelas de
mercado, enquanto firmas multinacionais começaram a operar em mercados onde nunca
estiveram.
28
Essas mudanças foram rápidas e redesenharam um mercado que já foi monopólio
do Brasil. A combinação de novos produtores e novos mercados vem dificultando o
surgimento de acordos para controlar a oferta do produto. O mercado de café é
constantemente atingido por choques na oferta, devidos a questões climáticas (secas e
geadas).
Tabela 1: Consumo anual de café
CONSUMO
Ano Países Produtores Países Consumidores Consumo Total
1991/92 22.266 80.596 102.862
1992/93 21.579 77.156 98.735
1993/94 22.928 75.699 98.627
1994/95 22.526 67.602 90.128
1995/96 24.049 73.024 97.073
1996/97 24.361 83.418 107.779
1997/98 25.180 76.719 101.899
1998/99 25.738 79.984 109.436
1999/00 25.608 78.871 117.026
2000/01 26.315 81.865 108.180
2001/02 27.746 80.927 108.673
2002/03 27.346 85.317 112.663
2003/04 27.995 85.837 113.832
2004/05 28.970 86.395 115.365
2005/06 29.574 87.008 116.582 Fonte: OIC
3.2 Histórico das intervenções
Até o fim do século XIX, as exportações do Brasil eram quase que totalmente
representadas pelo café. No final do século passado, o Brasil não mais dependia somente
das exportações de café e o mundo não comprava somente o café brasileiro. Com isso, o
Brasil não só fechou o IBC como também suspendeu o AIC. As políticas de valorização
29
marcaram o século passado com intervenções recorrentes que tentavam suavizar os ciclos
de preços do café.
O objetivo das intervenções era suavizar os ciclos de escassez e excesso de
produção que geram preços altos e baixos. Porém, desde o início das intervenções no
mercado de café os ciclos se tornaram mais amplos, pois a intervenção nos preços
prolongou os ciclos de alta e consequentemente requereu cortes maiores de produção no
futuro. A dominância brasileira no mercado de café sofreu significativamente com esse
padrão de intervenção, pois enquanto o Brasil mantinha aberto o “guarda-chuva” dos
preços altos, novos produtores entravam no mercado.
As críticas feitas contra as políticas de valorização sempre foram focadas na
trajetória declinante da participação brasileira nas exportações mundiais de café. De fato,
o verdadeiro propósito da política de defesa do café, na primeira metade do século
passado, não era maximizar a nossa capacidade de exportar o produto, mas sustentar a
estabilidade macroeconômica através da defesa da taxa de câmbio.
Em 1962 foi criada a OIC, juntamente com um sistema de quotas para dividir o
mercado mundial de café entre os países produtores. Nesse tipo de acordo são
estabelecidas quotas de exportação. Não se faz qualquer tipo de fixação quanto ao nível
dos preços. A característica fundamental desse tipo de acordo é o estabelecimento de
restrições físicas ao comércio. No longo prazo, a instabilidade desse tipo de acordo
advém do fato de que os consumidores, para se livrarem da pressão exercida pelos
principais produtores (reunidos no acordo), procuram diversificar as suas importações,
30
estimulando o desenvolvimento dos pequenos produtores que permaneceram fora do
acordo. Os países que não fazem parte desse acordo estarão sempre se beneficiando do
crescimento do consumo enquanto os países participantes estarão entregando esses
acréscimos de consumo aos que estiverem fora do acordo.
O governo brasileiro tomou a liderança desse processo e paralelamente promoveu
a erradicação de praticamente metade do parque cafeeiro do país, para poder viabilizar o
acordo internacional. Uma vez alcançado novamente a estabilidade do mercado, o Brasil
abandonou no final da década de 1960 o “guarda-chuva” dos preços altos e elaborou uma
política agressiva de preços, a qual tornou o preço do seu café dependente dos preços dos
cafés de seus sócios no acordo internacional.
Em 1975, ocorreu uma geada que destruiu os cafezais do Paraná, mudando
definitivamente a natureza do mercado internacional de café. A Colômbia ganhou espaço
no mercado, enquanto o Brasil, nesse ponto novamente envolvido numa estratégia de
substituição de importações, executava uma repetição das políticas de valorização do
passado. Em 1980, os executores da política brasileira elaboraram uma “estratégia de
reconquista”, com o propósito de recuperar a parcela do mercado perdida desde o início
da década de 1970. Isso marcou o início do fim do AIC, porque a “reconquista”
essencialmente significava que o Brasil não estava mais disposto em cumprir o papel de
“acomodador” no mercado internacional de café.
Desde 2000, o café responde por uma parcela pequena das exportações e dos
impostos do governo federal, de modo que a possibilidade de usar a política externa do
31
produto, seja para manter a taxa de câmbio constante ou aumentar a receita do governo,
simplesmente não é mais viável. Com isso, a desregulamentação levou o país a atuar no
cenário externo sob uma perspectiva setorial onde deve ser determinado o grau de
competitividade externa do Brasil em um mercado livre. Com a redemocratização em
1985, o processo de desregulamentação do setor de café ganhou força, convergindo, em
1989, para a suspensão das cláusulas econômicas do AIC e, em 1990, para o fechamento
do IBC.
32
4 O PLANO DE RETENÇÃO DE CAFÉ
4.1 Descrição do Plano
Em 19 de maio de 2000, o Brasil, juntamente com outros países produtores e
exportadores de café, celebrou em Londres um tratado, denominado Coffee Retention
Plan. Concluíram os representantes dos países participantes daquele tratado que seria
necessário alcançar-se, em uma fase inicial, a retenção de pelo menos 20% do volume de
café exportado por cada país participante, volume esse a ser estocado preferencialmente
em armazéns governamentais.
O café assim retido deveria ser liberado para a comercialização apenas quando a
sua cotação ultrapassasse US$ 105 por cents por libra-peso. O Plano visava interromper
os movimentos de baixas nos preços internacionais que vinham se registrando desde
fevereiro de 1998 (gráfico 2). A recuperação dos preços seria obtida através da contração
da oferta pelos países produtores, via retenções compulsórias de estoques, na proporção
de 20% dos embarques, e pelo encarecimento dos custos da exportação, onerada pela
33
imobilização e carrego dos volumes em retenção. Brasil, Colômbia, países da América
Central e alguns países africanos lideraram esse processo.
No Brasil, a instituição do plano deu-se através da Portaria Interministerial nº.
197, criada em 15 de junho de 2000 pelo Governo Federal, através dos Ministérios de
Estado da Agricultura e do Abastecimento e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior. A referida Portaria condicionou a emissão dos Registros de Venda (“RV”), a
partir de junho de 2000, ao depósito em armazéns oficiais do equivalente a 20% da
quantia constante do RV. Condicionou ainda a autorização para embarque dos Registros
de Exportação (“RE”) à existência de cláusula que declarasse estar à quantidade
constante do RE amparada em Certificado de Retenção emitido pelo Governo federal.
Com fundamento em tal Portaria, o MAPA editou a Instrução Normativa nº. 4 em
15 de junho de 2000, que determinou algumas regras que deveriam ser respeitadas no
Programa de Retenção de café, dentre as quais merecem destaque as seguintes:
• A CONAB seria a detentora da atribuição exclusiva de estocagem dos cafés
retidos ao Programa;
• Seria instituído um certificado de retenção de café para comprovar a efetiva
estocagem do produto nos termos do Plano de Retenção;
34
• As despesas com movimentação, armazenagem e seguro obrigatório dos cafés
vinculados ao Plano seriam arcadas exclusivamente pelos proprietários
(exportadores);
• A liberação dos cafés estocados seria de competência exclusiva do MAPA, de
acordo com os prazos e condições que viessem a ser determinados pelo Comitê
Coordenador do Plano de Retenção do acordo de criação da APPC.
20.00
60.00
100.00
140.00
180.00
220.00
Feb-98
Apr-98
Jun-98
Aug-98
Oct-98
Dec-98
Feb-99
Apr-99
Jun-99
Aug-99
Oct-99
Dec-99
Feb-00
Apr-00
NY - c/lb
Fonte: NYBOT Gráfico 2: Cotação de Café na Bolsa de Nova York (pré – Plano)
35
Esse tipo de acordo é chamado de estoque regulador. O acordo fixa o limite em
que o mercado pode operar. Se, por excesso de oferta, os preços caem até o limite
estabelecido, o mecanismo de estabilização atua comprando e forma estoque do
excedente; se os preços superam esse limite, o mecanismo atua vendendo o estoque que
foi formado anteriormente. Enquanto os preços se mantêm acima do limite fixado, o
mecanismo regulador permanece inativo. O ponto fundamental para o êxito desse acordo
é a fixação adequada desse limite.
Se o preço de retenção for suficiente para cobrir todos os custos de produção e
permitir um lucro aos produtores, o volume das safras futuras aumentará e os reguladores
terão que dispor de cada vez mais recursos para continuarem retendo o café excedente e
carregando estoques. Em princípio, o limite certo poderia ser encontrado na curva de
demanda ajustada pela freqüência de safra de uma determinada magnitude. Com isso,
seria possível manter os preços acima de um determinado limite.
Analisando a Tabela 2, com os dados da produção dos diversos países entre 1976
e 1999, é possível compreender que apesar da multiplicidade de países produtores de
café, o Brasil tem uma posição de destaque, com aproximadamente 28% da produção
mundial. Uma flutuação da safra brasileira de 30% (sobre a média de longa duração) é
relativamente comum. O Brasil, juntamente com os quatro principais produtores,
compõem mais da metade da produção mundial. A produção brasileira é capaz de criar
instabilidade no mercado, trazendo volatilidade às cotações. Os outros dois países que
apresentaram um desvio padrão alto em relação à média são Costa do Marfim e Vietnã. O
Vietnã começou a produzir café em 1980 e teve uma safra recorde em 1999.
36
Tabela 2: Produção de café por país entre 1976 e 1999
Média Desvio Padrão Máxima Mínima Part . %
Brasil 25.382.083 8.086.990 43.014.000 6.664.000 28
Colômbia 12.298.833 1.843.161 18.222.000 9.399.000 13
Indonésia 6.084.833 1.331.177 8.463.000 3.157.000 7
México 4.614.083 777.911 6.219.000 3.134.000 5
Costa do Marfim 3.963.000 1.234.965 6.321.000 1.951.000 4
Guatemala 3.322.542 816.059 5.120.000 2.361.000 4
Etiópia 3.016.458 440.511 3.888.000 1.794.000 3
Índia 2.828.708 996.993 5.292.000 1.453.000 3
Uganda 2.651.042 575.925 3.439.000 1.829.000 3
Vietnã 2.135.625 2.980.028 11.631.000 0 2
El Salvador 2.575.915 475.625 3.428.000 1.512.000 3
Costa Rica 2.218.042 473.061 2.998.000 1.325.000 2
Equador 1.755.042 371.671 2.376.000 1.186.000 2
Honduras 1.677.375 543.105 2.985.000 651.000 2
Quênia 1.540.292 291.056 2.113.000 882.000 2
Peru 1.358.542 451.872 2.663.000 665.000 1
Camarões 1.412.458 532.216 2.200.000 260.000 2
Congo 1.311.917 385.031 2.093.000 477.000 1
Venezuela 1.017.083 163.481 1.364.000 734.000 1
Papua Nova Guiné 947.000 200.414 1.387.000 633.000 1
Madagascar 954.833 254.294 1.340.000 427.000 1
Filipinas 931.625 176.185 1.395.000 685.000 1
Nicarágua 875.167 258.992 1.554.000 461.000 1
Tanzânia 824.625 103.228 1.062.000 624.000 1
Tailândia 763.375 498.107 1.469.000 102.000 1
Republica Dominicana 796.424 232.913 1.203.000 321.000 1
Haiti 496.583 81.366 697.000 393.000 1
Burundi 482.750 128.808 732.000 285.000 1
Outros 2.700.500 177.397 716.000 22.000 3 Fonte: OIC
37
4.2 Os Participantes do Plano
O plano não contou com a participação de todos os produtores de café. Alguns
produtores assinaram o acordo enquanto outros não se manifestaram. Os participantes do
plano foram aqueles que já formaram uma relação de cooperação em outras situações no
passado. Esse tipo de cooperação foi construído no decorrer dos anos através do reforço
da confiança em cada uma dessas interações. Ficaram de fora do acordo os produtores
que tinham uma participação relativamente pequena no comércio internacional do
produto. Esses pequenos produtores afetavam pouco o preço do produto e seriam
dificilmente coordenados em um plano de retenção.
Quadro 1: Países participantes e não participantes do plano
Países fora do acordo
(28)
Benin, Burundi, Camarões, Republica Central Africana, República Democrática do Congo, República do Congo, Cuba, República Dominicana, Guiné Equatorial, Guiné, Haiti, Índia, Indonésia, Jamaica, Libéria, Malásia, México, Panamá, Papua Nova Guiné, Paraguai, Peru, Filipinas, Serra Leoa, Sri Lanka, Tailândia, Trinidad e Tobago, Vietnã e Zimbábue.
Países do acordo
(23)
Angola, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Costa do Marfim, Equador, El Salvador, Etiópia, Gabão, Gana, Guatemala, Honduras, Quênia, Madagascar, Nicarágua, Nigéria, Ruanda, Tanzânia, Togo, Uganda, Venezuela e Zâmbia.
Analisando a Tabela 3, vemos que a participação média dos países de dentro do
acordo e dos países de fora do acordo são respectivamente 71 % e 29% tanto na produção
quanto na exportação. Na produção, a menor parcela que os países de dentro do acordo
38
tiveram foi 62% que ocorreu em 2003. Na exportação, a menor parcela dos países de fora
do acordo ocorreu no início da série, em 1976, com 21%. Já a maior parcela ocorreu em
2000, com 38 % das exportações mundiais.
Tabela 3: Países Produtores de Café entre 1976 e 2005
Média Desvio Padrão Máxima Mínima
Em sacas de 60 kg
Produção Dentro do Acordo 66.843.835 9.139.896 85.987.000 42.948.000
Produção Fora do Acordo 28.158.042 7.061.979 41.378.000 16.379.000
Exportação Dentro do Acordo 51.899.813 5.266.837 60.358.134 36.900.502
Exportação Fora do Acordo 21.498.810 6.642.539 33.987.182 11.268.452
Participação %
Produção Dentro do Acordo 71% 4% 77% 62%
Produção Fora do Acordo 29% 4% 38% 23%
Exportação Dentro do Acordo 71% 5% 79% 62%
Exportação Fora do Acordo 29% 5% 38% 21% Fonte: OIC
4.3 Participação nas exportações mundias
Para analisarmos a participação nas exportações mundiais dos países produtores,
iremos utilizar as séries anuais com o volume de exportação. No gráfico 3, vemos a
participação percentual de alguns países e blocos de 1976 a 2005. O Vietnã se destaca
pelo crescimento na sua participação de mercado. Em 1990, ele detinha 1,5% do
mercado, cinco anos depois alcançou 4,5%, e em 2000 respondeu por 13%. A Colômbia
respondeu por 14% das exportações mundiais em 1998 e caiu para 10% em 2000. O
Brasil respondeu por 27% das exportações mundiais em 1999 e reduziu para 21% em
39
2000. Os países da América Central detinham 18% em 1998 das exportações e subiram
para 22% em 2000.
Após o Plano de 2000, o Vietnã manteve a sua participação entre 13% e 16%. A
Colômbia subiu para aproximadamente 12%. O Brasil colheu uma safra recorde em 2002
e aumentou a sua participação para 32%, ficando próximo de 30% nos anos seguintes. Os
países da América Central reduziram a sua participação para 15% em 2002.
Participação Exportações Mundiais - %
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05
Ano
%
A.Central Brasil Colômbia Vietnã
Fonte: OIC
Gráfico 3: Participação nas exportações mundiais
40
5 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS
Nesta seção estimamos a exportação dos países utilizando dados em painel. O
objetivo é identificar a conduta dos participantes durante o plano de retenção de 2000, o
resultado efetivo e as suas conseqüências sobre o mercado. O foco da análise são as
exportações, dado que o plano previa exclusivamente a retenção do produto nos países
produtores.
5.1 As Exportações
Segundo dados da OIC, existem 51 países produtores de café. Iremos representá-
los por l = 1, 2,..., 51. Cada um desses países exporta uma quantidade de café que será
representada por q. Cada país, em um período t, exporta a quantidade qlt, que denota a
quantidade de café embarcado pelo país l para ser consumido em países consumidores
neste período. Teremos as exportações totais representadas então por Qlt = ΣLi= qlt.
41
Podemos concluir que a decisão de quanto o país irá vender no mercado
internacional no período t está relacionada com a produção de café no mesmo período.
Uma parte da produção pode ser consumida no mercado interno de acordo com o
tamanho do seu mercado consumidor e uma outra parte pode se tornar estoque em mãos
de operadores locais. O saldo seria então exportado. Podemos considerar que o volume
máximo exportável no período t será: a produção mais os estoques locais menos o
consumo interno.
O preço no mercado internacional no período t também afetará a decisão de
quanto será exportado. Quanto maior o preço, maior será a disposição dos operadores de
venderem o café produzido e os estoques. O câmbio também afeta a decisão dos
operadores, pois quanto maior a desvalorização da moeda, maior será a receita em moeda
local. O preço do café no mercado internacional6 é cotado em dólares americanos e o
câmbio de cada país determinará a receita do produtor em moeda local.
Ao estimar a exportação dos países, utilizando as variáveis que foram descritas,
poderemos isolar a conduta dos participantes. A expectativa quanto à conduta é de que os
participantes do plano tenham diminuído as suas exportações no ano 2000, agindo em
linha com o acordo, enquanto os não participantes aumentassem suas exportações ou as
mantivessem constantes.
6 A produção de café é alterada de acordo com os ciclos de preço. Conforme estudos econométricos feitos por Delfim Netto (1959), a produção responde ao preço com uma defasagem de quatro períodos, ou seja: St = α + α2 Pt-4. Esse processo pode ser descrito como a gradual diminuição da produção em momentos de baixo preço que terão seus efeitos em um momento posterior. O câmbio também terá efeito semelhante.
42
Dois grandes produtores merecem ser analisados separadamente: o Brasil e o
Vietnã. O Brasil produziu aproximadamente 33 milhões sacas de café em 1999, sendo o
principal produtor de café que assinou o Plano de Retenção. O Vietnã produziu
aproximadamente 12 milhões sacas em 1999, sendo o principal produtor a não participar
do Plano de 2000.
Para analisarmos os efeitos do plano utilizaremos dummies para a implementação
do plano de retenção no ano 2000, para participantes do plano e não participantes do
plano. Um outro ponto para identificarmos a conduta dos participantes é extrair as
tendências dos países participantes e não participantes, bem como do Brasil e do Vietnã.
Alguns países ou grupos podem ter aumentado sua exportação em função de uma
tendência que se manifestava e do contrário, alguns países podem ter diminuído as suas
exportações em função de uma tendência de queda.
5.2 Especificação das equações a serem estimadas
A função de exportação em cada país l pode ser escrita onde pt representa o preço
pago pelo café no mercado internacional, Slt é a produção de café no país l no período t,
elt é a taxa de câmbio real do país l no período t, αl é o coeficiente específico do mercado
que será estimado e εlt é o termo do erro econométrico. Começaremos especificando a
função de exportação básica ao nível de mercado na forma logarítmica:
log qlt = α + α2 log Slt + α3 log plt + α4 log elt + εlt (2)
43
Para cada país há 30 observações anuais, de 1976 a 2005. Os dados de produção
são por sacas de 60 kg, os preços são em dólares americanos e o câmbio é em relação à
moeda americana. Todas as variáveis estão em log para capturarmos a elasticidade. A
estimação será feita com efeitos fixos e dados em painel de 51 países produtores.
Na equação I, incluímos as interações da dummy plano de 2000 com a dummy
participantes do plano e a dummy não participantes do plano7. Na equação II, nós
incluímos o Brasil e o Vietnã isoladamente nas interações com a dummy plano 2000 e
excluímo-los do grupo de participantes e não participantes, respectivamente. Na equação
III, nós incluímos a tendência dos grupos de participantes e não participantes e retiramos
as interações da dummy plano 2000 com o Brasil e o Vietnã.
Na equação IV, foram incluídas as tendências do Brasil e do Vietnã. Na equação
V, voltamos a incluir as interações da dummy plano 2000 com Brasil e Vietnã. A equação
VI é a mais completa, pois foram incluídas todas as interações, as tendências por grupo e
pelos dois países em destaque.
7 A dummy plano de 2000 = 1 para o ano 2000. A dummy participantes do plano = 1 para todos os países produtores que assinaram o acordo, e a dummy não participantes dos plano = 1 para todos os países que não assinaram o acordo
44
Tabela 4: Exportações de café por país, 1976-2005 Estimação efeitos fixos
Variável dependente: Log (exportação)
(I) (II) (III) (IV) (V) (VI)
Intercepto -1.212 -1.187 1.541* 2.324** 1.551* 2.326**
(-1.500) (-1.464) (1.719) (2.469) (1.727) (2.468)
Plano de 2000 * Participantes 0.286*** 0.306*** 0.239*** 0.244*** 0.255*** 0.264***
(3.422) (3.591) (3.674) (3.636) (3.835) (3.773)
Plano de 2000 * Não Participantes -0.143 -0.187 0.106 0.115 0.071 0.130
(-1.185) (-1.456) (1.023) (1.085) (0.637) (1.224)
Plano de 2000 * Brasil -0.129* -0.117** -0.215***
(-1.883) (-1.964) (-4.385)
Plano de 2000 * Vietnã 1.064*** 1.043*** -0.303
(3.035) (3.178) (-1.637)
Tendência * Participantes -0.023*** -0.016* -0.023*** -0.016*
(-2.722) (-1.882) (-2.695) (-1,877)
Tendência * Não Participantes -0.061*** -0.061*** -0.061*** -0.061***
(-5.293) (-5.172) (-5.527) (-5.174)
Tendência * Vietnã 0.137** 0.138**
(2.590) (2.593)
Tendência * Brasil -0.008 -0.006
(-1.154) (-0.875)
Log (Produção) 0.760*** 0.759*** 0.747*** 0.713*** 0.746*** 0.713***
(14.784) (14.647) (15.352) (13.746) (15.240) (13.735)
Log (Preço) 0.536*** 0.535*** 0.043 0.055 0.044 0.055
(5.058) (5.068) (0.392) (0.497) (0.400) (0.496)
Log (Câmbio) 0.303*** 0.301*** 0.395*** 0.263*** 0.392*** 0.263***
(3.667) (3.681) (4.498) (4.057) (4.505) (4.048)
Nº obs. 1434 1434 1434 1434 1434 1434
R2 0.84 0.84 0.84 0.85 0.85 0.85
Nota: Estatística t entre parêntesis. Os devios-padrão foram corrigidos por heterocedasticidade
*** significativo a 1%; ** significativo a 5%: * significativo a 10 %.
Preço: preço de referência por qualidade da OIC
45
5.3 Análise dos resultados
Todas as equações tiveram como base a função de exportação básica descrita e,
em todas, a produção teve o coeficiente significativo a 1% com os coeficientes variando
de 0,71 a 0,76. O câmbio também foi significativo a 1% em todas as equações, com o
coeficiente variando de 0,26 a 0,40. Os coeficientes estimados dos preços foram
significativos enquanto não utilizamos a tendência nas equações estimadas, o coeficiente
ficou em 0,54 sem a tendência.
Na equação I, o coeficiente da interação entre a dummy plano 2000 e participantes
do plano foi positivo em 0.29 e significativo a 1%, contrariando a expectativa de que
apresentasse um coeficiente negativo. A interação da dummy plano 2000 e os não
participantes do plano não foi significativa a 10%. Na equação II, o coeficiente da
interação entre a dummy plano 2000 e participantes do plano se manteve positivo em 0,31
e significativo a 1% e o coeficiente do Vietnã foi positivo em 1,06 e significativo a 1%.
Na equação III, os dois grupos mostraram uma tendência levemente declinante e
significativo a 1%. O coeficiente da interação da dummy plano 2000 com a dummy
participantes se manteve positivo no valor de 0,24. As interações da dummy plano 2000
com os não participantes permaneceram não significativos a 10%. Na equação IV, o
Vietnã apresentou uma tendência de alta enquanto o grupo de não participantes, ao qual
ele faz parte (excluímos ele nessa equação), apresentou uma leve tendência de queda,
porém significativo a 1%. O Brasil não apresentou uma tendência com o coeficiente
tendendo a zero e não significativo a 10%. O coeficiente da interação da dummy plano
46
2000 com a dummy participantes continuou positivo no valor de 0,24, demonstrando que
se extraindo a tendência, o grupo exportou mais durante o plano de 2000.
Na equação V, o Brasil apresentou um coeficiente de -0,12, significativo a 5%,
enquanto a interação da dummy plano 2000 com a dummy participantes apresentou um
aumento de 0,26, significativo a 1%. Os coeficientes da tendência do grupo de
participantes e do grupo de não participantes continuaram apresentando uma leve
tendência de queda de -0,02 e -0,06 respectivamente, ambos significativo a 1% Na
equação VI, o coeficiente da interação do grupo de participantes foi positivo em 0,26
enquanto o do Brasil foi de -0,22 (ambos significativos em 1%). O coeficiente dos não
participantes não foi significativo. A tendência dos não participantes foi de -0,06 e
significativo a 1% enquanto a tendência do Vietnã foi de 0,14.
Com base nas informações obtidas na tabela 4, podemos destacar alguns aspectos
do Plano de Retenção de 2000 e criar algumas hipóteses a cerca do comportamento dos
países produtores durante a sua implementação. Primeiramente devemos observar os
países que não assinaram o Plano. Não encontramos coeficientes significativos durante o
ano 2000 em relação ao seu comportamento em todas as equações feitas, porém no que se
refere a tendência, o coeficiente foi de -0,06 nas equações III, IV, V e VI e significativo a
1% em todas. O Vietnã se destacou dentro do grupo com uma tendência de 0,14, que
equivale a uma taxa de crescimento de aproximadamente 15% ao ano.8
8 Para encontrarmos a variação percentual dos coeficientes estimados, é necessario calcular a exponecial e
x.
No caso de 0,137, o valor encontrado foi 1,146 que equivale a 15%.
47
Assim como os demais produtores que não assinaram o acordo, o Vietnã não
estava obrigado a reter café e operou livremente no ano 2000. O coeficiente encontrado,
na equação II de 1,06 equivale a um crescimento de 190% no ano 2000, conseqüência
direta de uma safra recorde (o ano anterior também foi recorde). Podemos considerar que
o Vietnã como novo produtor e apresentando taxas elevadas de crescimento, não
dispunha de uma estrutura apropriada para estocar café em seu país. O efeito direto do
Vietnã no grupo de não participantes foi o aumento de sua parcela de mercado, que
historicamente esteve em 29% e no ano 2000 foi de 38%.
Entre os países que assinaram o Plano de Retenção, o Brasil se destaca pela
redução das exportações. Na equação VI, o Brasil apresentou o coeficiente de -0,22 e
significativo em 1%, que equivale a uma redução 24% nas suas exportações no ano 2000,
agindo em linha com as diretrizes do Plano. O grupo de participantes teve um
comportamento oposto no ano 2000, em comparação com o seu histórico, em todas as
equações feitas houve um aumento do volume exportado com o coeficiente variando
entre 0,24 e 0,31, que equivalem respectivamente a 27% e 36%. Isso sugere que dentro
do grupo dos participantes, alguns países agiram de forma oposta, beneficiando-se do
preço estável para aumentar a suas vendas no mercado.
O Brasil agiu em linha com o acordo, enquanto os demais países exportaram mais
café que previsto. Podemos sugerir algumas hipóteses para o comportamento desses
países que não cumpriram o Plano, analisando os dados e alguns fatos do mercado
anteriores à implementação do Plano.
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O indicador composto publicado pela OIC superou, após alguns anos de queda, a
marca dos US$ 100 centavos por libra peso em maio de 1994. Os preços dos cafés
arábicas, assim como medido pela OIC, permaneceram acima de US$ 100 centavos por
libra peso até dezembro de 1998, o mesmo ocorrendo para o indicador de preço dos cafés
chamados Naturais. Já para os cafés agrupados no indicador suáveis compilando
basicamente cafés da América Central e México, a quebra da marca de US$ 100 centavos
por libra peso só ocorreu em junho de 1999, enquanto o indicador dos suáveis
colombianos quebrou esse nível de preços somente em julho de 2000.
Em 1995, o cenário, o preço e os fundamentos para os cafés arábicas pareciam
estáveis, com todos os países produtores exportando a totalidade de suas produções
exportáveis e, no caso do Brasil e da Colômbia, escoando estoques de safras
remanescentes. O caso do Brasil é notório e permitiu ao Governo Federal a redução de
expresso volume de estoques. A permanência dos preços do café, assim como medido
pelo indicador composto da OIC, acima de US$ 100 centavos por libra peso por quase
cinco anos e sua abrupta queda desde fins de 1999 têm várias explicações, dentre as quais
podemos destacar duas: desde 1997, reproduziu-se a expectativa, entre maio e novembro
de cada ano, de que o Brasil poderia produzir uma super safra e, desde janeiro de 1999, o
Brasil alterou a estrutura mundial de preços em conseqüência da desvalorização do Real.
Nesse cenário, os demais participantes do plano poderiam considerar a iniciativa
brasileira, em relação ao Plano, com alguma desconfiança. O Brasil tinha reduzido
substancialmente os seus estoques e a desvalorização da moeda daria uma impulsão às
exportações brasileiras e posteriormente na produção. Nos resultados obtidos, o câmbio
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tem um impacto considerável nas exportações, com o coeficiente em torno de 0,24 e 0,40,
que equivale a 30% e 48%, ou seja, uma desvalorização cambial teriam um forte impacto
nas exportações.
Os fatos e o desenrolar dos acontecimentos corroboraram a interpretação acima. O
acordo da APPC foi negociado em maio de 2000, ficando o Brasil para instalar suas
retenção a partir de junho e os demais países (basicamente América Central) a partir de
outubro de 2000. Isso se deve ao fato de que a safra dos Centrais começa em setembro.
Sendo assim, os demais participantes poderiam obter informações sob o comportamento
do Brasil em relação a retenção. Apesar dessa característica, os demais participantes não
cumpriram o acordo, o que indica um incentivo que estes tiveram durante a vigência do
Plano.
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6 CONCLUSÃO
O programa de retenção de café de 2000 foi estruturado de tal forma que não
havia limites estabelecidos quanto ao volume de café exportado. Não havia, tanto na
regulamentação governamental sob a matéria, bem como no texto do Acordo de Retenção
da APPC, qualquer dispositivo que regulasse ou fixasse limites volumétricos. Por outro
lado, como o programa vincula a exportação de café de cada empresa à retenção prévia
de 20%, uma safra muito grande poderia ainda assim gerar um excesso de oferta no
mercado. Além disso, foi introduzida no sistema exportador de café verde duas novas
variáveis: a formação compulsória de estoques e a necessidade de recursos financeiros
em volumes mais significativos.
A principal diferença em relação aos planos anteriores foi o sistema de controle
menos efetivo. Enquanto em um plano anterior, em 1993/1994, o cumprimento foi
praticamente geral, no Plano de 2000 praticamente apenas o Brasil adotou a retenção. O
Brasil serviu de “guarda-chuva” de preço ao seguir rigorosamente o Programa de
Retenção, abrindo uma proteção de preços para os demais, que se aproveitaram da
retração brasileira no mercado e ampliaram as suas vendas.
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No ano de 1999, em regime de mercado livre, o Brasil exportou 23 milhões de
sacas, que corresponderam a 27% do mercado. No período de um ano em que vigorou o
Plano de Retenção, junho de 2000 a maio de 2001, a participação do Brasil caiu para 19
milhões de sacas, ou 21% do mercado. Assim, durante o período de retenção as
exportações globais aumentaram, contra os objetivos do programa, enquanto a
participação do Brasil caiu significativamente e os demais países se beneficiaram.
A retenção se estenderia pelo prazo suficiente para o aumento dos preços
internacionais, de acordo com os objetivos previstos. Contudo, desde a sua implantação
até o seu final, em maio de 2001, os preços caíram. No início, em junho de 2000, a 2ª.
posição de Nova York era de US$ 92,22 cents por libra peso, enquanto ao final, em maio
de 2001, a mesma posição foi de US$ 65,80 cents por libra peso.
O plano não previa sanção para os participantes que não cumprissem o acordo.
Contudo, as auditorias que deveriam ser realizadas para medir o cumprimento não foram
realizadas e nenhum país foi penalizado. A duração efetiva do plano foi de junho de 2000
a maio de 2001. A partir dessa data nem mesmo o Brasil seguiu o Plano e ele foi
oficialmente extinto em novembro de 2001.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHA, E.L. Política Brasileira do Café: Uma Avaliação Centenária, Marcellino Martins & E. Johnston Exportadores Ltda. Rio de Janeiro, 1992.
DELFIM NETTO, A. O problema do café no Brasil. Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1959.
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LEVENSTEIN, M.C.; SUSLOW, V.Y. “What Determines Cartel Success?” Journal of Economic Literature, 2006.
NORTH, D.C. Institutions, Institutional change and economic perfomance. New York: Cambridge University Press, 1990.
OLSON, M. The logic of collective action. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1982.
PINDYCK, R.S.; RUBINFELD, D.L. Microeconomia. São Paulo: McGraw Hill, 1994.
STIGLER, G. “A Theory of Oligopoly”. Journal of Political Economy, 1964.
TIROLE, J. The Theory of Industrial Organization. Cambridge: MIT Press, 1988.
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SÉRIES UTILIZADAS
Os dados foram obtidos no site da OIC: http://www.ico.org/historical.asp
O câmbio real foi obtido no site da USDA: www.ers.usda.gov/data/macroeconomics/Data/HistoricalRealExchangeRatesValues.xls
País – Ano
Variáveis: Produção (sacas de 60 kg) – Exportação (sacas de 60 kg) – Preço (c/lb) –
Câmbio Real
Dummies:
Dentro do Plano: igual a 1 para países que assinaram o acordo
Fora do Plano: igual a 1 para países que não assinaram o acordo
Plano de 2000: igual a 1 para o ano 2000
Trend: igual a uma seqüência de 1 a 30 para cada país
Brasil: igual a 1 para o Brasil
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Vietnã: igual a 1 para o Vietnã
Dentro do Plano s/Brasil: igual a 1 dentro do Plano com zero no Brasil
Fora do Plano s/Vietnã: igual a 1 fora do Plano com zero no Vietnã.
Preços:
O site da OIC disponibiliza 5 séries de preço para o café. Os dados são séries
mensais de preço e representam o preço real das exportações de café mundial. Toda
exportação de café feita pelos países produtores recebe um número de referência da OIC.
Esse número só é dado após a informação do valor da exportação. O principal indicador é
o Indicador Composto que não faz referência a qualidade do produto. Os outros quatro
são: Suave Colombiano, Natural, Outros suáveis e Robusta.
Nas equações feitas, optamos por utilizar os preços por qualidade para incluir
qualquer tipo de diferença de preços entre as qualidades. Segue a lista:
Suáveis Colombianos: Colômbia.
Robusta: Angola, Costa do Marfim, Gana, Madagascar, Nigéria, Togo, Uganda Benin,
Camarões, República Central da África, República Democrática do Congo, República do
Congo, Guiné Equatorial, Guiné, Indonésia, Libéria, Filipinas, Serra Leoa, Sri Lanka,
Tailândia, Vietnã.
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Naturais: Brasil, Etiópia, Gabão, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Burundi, Cuba, Índia,
Malásia, Papua Nova Guiné, Paraguai, Zimbábue.
Outros Suáveis: Bolívia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Nicarágua, Venezuela, República Dominicana, Haiti, Jamaica, México, Panamá, Peru,
Trinidad & Tobago