TEORIA GERAL
DOS CONTRATOS
CONCEITO
. Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, assim define-se contrato:
Contrato é o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos.
Constitui fonte de obrigação e o mais expressivo modelo de negócio jurídico bilateral.
Maria Helena Diniz
O contrato constitui uma espécie de negócio
jurídico, de natureza bilateral ou plurilateral,
dependendo, para sua formação, do encontro da
vontade das partes, por ser ato regulamentador de
interesses privados.
FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS
FUNÇÃO SOCIAL
"A liberdade de contratar não é absoluta, pois está limitada não só pela supremacia da ordem pública, que veda convenção que lhe seja contrária aos bons costumes, de forma que a vontade dos contratantes está subordinada ao interesse coletivo, mas também pela função social do contrato que o condiciona ao atendimento do bem comum e dos fins sociais".
Maria Helena Diniz
FUNÇÃO SOCIAL
“A função social do contrato serve precipuamente para limitar a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de contrato obrigatório”.
Caio Mário
FUNÇÃO SOCIAL
“A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Tem por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contratantes. O art. 421 do Código Civil subordina a liberdade contratual à sua função social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública.”
Carlos Roberto Gonçalves
FUNÇÃO SOCIAL DO
CONTRATO
> respeitar a dignidade da pessoa
humana -> traduzida sobretudo nos
direito e garantias fundamentais.
> relativização do principio da igualdade
das partes contratantes
> boa – fé objetiva (lealdade, confiança,
assistência)
> respeito ao meio ambiente
> respeitar o valor social do trabalho
CONDIÇÕES DE VALIDADE
CONDIÇÕES DE VALIDADE De ordem geral (art. 104 CC):
a) Capacidade do agente;
b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
c) Forma prescrita ou não defesa em Lei.
De ordem especial – consentimento recíproco (acordo de vontades)
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL
AUTONOMIA DA VONTADE
Significa que as partes são livres para contratar assumindo direitos e obrigações, sem qualquer interferência do Estado (arts. 421 à 425 CC).
SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA
Limita o princípio da autonomia da vontade, dando prevalência ao interesse público.
CONSENSUALISMO
Basta o acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa, para o aperfeiçoamento do contrato (consensuais).
* Exceções: os contratos de natureza real, como exemplo, depósito, comodato, etc.
RELATIVIDADE DOS CONTRATOS
Funda-se na idéia de que os efeitos dos contratos só se produzem em relação às partes, não afetando terceiros, salvo algumas exceções consignadas na lei (estipulações em favor de terceiros).
OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS
Decorre da convicção de que o acordo de vontades faz lei entre as partes (pacta sunt servanda), não podendo ser alterado nem pelo juiz.
REVISÃO DOS CONTRATOS
Opõe-se ao da obrigatoriedade, pois permite aos contratantes recorrerem ao Judiciário para obter alteração da convenção e condições mais humanas, se a prestação se tornar excessivamente onerosa em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (art. 478 e 480 CC).
* Cláusula rebus sic stantibus (teoria da imprevisão).
BOA FÉ
Exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato (art. 422 CC).
BOA FÉ OBJETIVA
Refere-se ao comportamento da pessoa na
relação contratual.
1- Vedação do venire contra factum proprium
2- Supressio
3- Surrectio
4- Vedação da tu quoque
Venire contra factum proprium
“Os deveres de conduta impostos pela boa-fé
objetiva vedam que uma parte pratique uma
determinada conduta na relação contratutal e,
posteriormente, queira adotar outra, oposta a
primeira.”
Ex. A e B celebram contrato de compra e venda
de uma tela de pintor famoso. A aceita receber
outra tela.
Posteriormente propõe ação contra B alegando
inadimplemento do contrato.
Ocorre que A aquieceu com o recebimento de
coisa diversa.
Supressio
“Por força dos deveres objetivos de conduta
imposta pela boa-fé, NÃO se admite que a parte
que durante um longo período deixou de exercer
um direito que lhe era atribuido, com isso
gerando expectativas para a outra, venha
posterior exercê-la”. Significa “supressão”,
renúncia tácita.
Ex. Contrato de locação celebrado entre Maria e
João, ajustaram que Maria pagaria o aluguel para
imobiliária, mas como encontrava João na igreja todo
sábado, pagava o aluguel diretamente a ele. Tempos
depois João não pode exigir que Maria pague o
aluguel para imobiliária. Houve supressio do direito
Surrectio
“Se uma parte voluntariamente assume uma
obrigação que originariamente não integrava a
relação contratual, criando tacitamente para outra
um direito, e essa obrigação se consolida na
relação, não permitem os deveres de conduta
impostos pela boa-fé objetiva que a parte
posteriormente se negue a cumprir tal obrigação
Ex. A e B celebram contrato de fornecimento de
frutas. Todos os meses A arca com as custas da
entrega das frutas. Passados alguns meses A
não pode exigir que B pague os custos (conduta
chamada surrectio)
Vedação da tu quoque
vem das palavras de Julio Cesar para Marcus
Brutus quando distinguiu-o no meio de seus
assassinos: “tu quoque, Brute, fili mi? (Até tu,
Brutus, meu filho?
“Tu Quoque no direito dos Contratos é a
situação em que a parte que descumpriu a lei
contratual, posteriormente pretende se valer
do preceito descumprido em benefício
próprio”
Ex. A empresta uma casa para B para usar por um
ano. Decorrido prazo B não restitui o bem para A e
ainda manda a conta de energia para A pagar
alegando venciimento do comodato.
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
FUNÇÕES
A interpretação dos contratos exerce função objetiva e subjetiva. Nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz à descoberta da intenção das partes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação.
* O Código Civil deu prevalência à teoria da vontade sobre a da declaração (art. 112 CC).
Princípios básicos
a)Boa fé – deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade, pois a boa-fé se presume (arts. 113 e 422).
b)Conservação do contrato – se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito.
Regras interpretativas
Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423).
A transação interpreta-se restritivamente (art. 843).
A fiança não admite interpretação extensiva (art. 819).
Prevalecerá a interpretação da cláusula testamentária que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
Pactos sucessórios
Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva, dispõe o art. 426 do Código Civil, afastando a sucessão contratual.
O nosso ordenamento só admite duas formas de sucessão causa mortis: a legítima e a testamentária.
No Código Civil de 2002, somente a partilha inter vivos, permitida no art. 2.018, pode ser considerada exceção à norma do art. 426.