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Curso:

História e Cultura Afro-Brasileira

Módulo 2

Maria José Caldas

GPEC – Educação a Distância www.gpeconline.com.br

Historia e Cultura Afro-Brasileira

Módulo 2

Teóricos da Didática

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Segundo Libâneo, os professores são parte integrante do processo educativo, sendo

importantes para a formação das gerações e para os padrões de sociedade que

buscamos. Neste subtítulo, o autor situa a educação como fenômeno social universal

determinando o caráter existencial e essencial da mesma. Estuda também os tipos de

educação, a não intencional, refere-se a influências do contexto social e do meio ambiente

sobre os indivíduos. Já a intencional refere-se àquelas que têm objetivos e intenções

definidos. A educação pode ser, também, formal ou não-formal, dependendo sempre dos

objetivos. A educação não-formal é aquela realizada fora dos sistemas educacionais

convencionais, e a educação formal é a que acontece nas escolas, agências de instrução

e educação ou outras.

A educação escolar é um sistema de instrução e ensino de objetivos intencionais,

sistematizados e com alto grau de organização, dando a importância da mesma para uma

democratização maior dos conhecimentos. O autor coloca que as práticas educativas é

que verdadeiramente podem determinar as ações da escola e seu comprometimento

social com a transformação. Afirma que a pedagogia investiga estas finalidades da

educação na sociedade e a sua inserção na mesma, diz que a Didática é o principal ramo

de estudo da pedagogia para poder estudar melhor os modos e condições de realizarmos

o ensino e instrução. Ainda coloca a importância da sociologia da educação, psicologia da

educação nestes processos de relação aluno-professor. A didática é o conjunto dos

conhecimentos pedagógicos, demonstrando a fundamental importância do ato de ensinar

na formação humana para vivermos em sociedade. O autor aborda a prática educativa em

sociedade, a diferença entre a educação, instrução e ensino; a educação, o escolar,

pedagogia e didática, e a didática e sua importância na formação dos professores.

John Dewey é reconhecido como um dos fundadores da escola filosófica, pioneiro em

psicologia funcional e representante principal do movimento da educação progressiva

norte-americana durante a primeira metade do século XX. Foi também editor, contribuindo

na Enciclopédia Unificada de Ciência, um projeto dos positivistas, organizado por Otto

Neurath. Para ele o indivíduo somente passa a ser um conceito significante quando

considerado parte inerente de sua sociedade – enquanto este nenhum significado possui,

se for considerada à parte, longe da participação de seus membros individuais.

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Dewey e a Educação Progressiva

A ideia básica do pensamento de John Dewey sobre a educação está centrada no

desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno.

Enquanto suas ideias gozam de grande popularidade durante sua vida e postumamente,

sua adequação à prática sempre foi problemática. Seus escritos são de difícil leitura, ele

tem uma tendência para utilizar termos novos e frases complexas, o que fazem com que

seja extremamente mal entendido, forçando reinterpretações dos textos. Apesar de

permanecer como um dos intelectuais norte-americanos mais conhecidos, o público não

conhece o seu pensamento. Por causa disto, muitos pensavam seguir uma linha

Deweyana, quando na verdade estavam longe disto. O próprio Dewey tentou frear alguns

entusiastas, sem muito sucesso. Ao mesmo tempo, outras ideias e propostas de Educação

Progressiva foram surgindo, boa parte delas influenciada por Dewey, mas não

necessariamente derivadas das suas teorias, tornaram-se igualmente populares, umas

mais ou menos aplicáveis na prática, outras contraditórias, como registram historiadores, a

exemplo de Herbert Kliebard. Frequentemente diz-se que a Educação Progressiva

―fracassou‖, mas isto depende do que as pessoas entendem por ―evolução‖ e ―fracasso‖.

Muitas formas de educação progressiva tiveram sucesso, transformaram a paisagem

educacional: a quase onipresença dos serviços de orientação ou aconselhamento, para

citar-se um exemplo, é fruto das ideias progressivas. Derivações radicais do

progressivismo educacional quase nunca foram testadas, e quando o foram não tiveram

vida longa.

Celestin Freinet (1896-1966), crítico da Escola Tradicional e das Escolas Novas, Freinet

foi criador, na França, do movimento da Escola Moderna. Seu objetivo básico era

desenvolver uma Escola Popular. Na sua concepção, a sociedade é plena de contradições

que refletem os interesses antagônicos das classes sociais que nela existem, sendo que

tais contradições penetram em todos os aspectos da vida social, inclusive na escola. Para

ele, a relação direta do homem com o mundo físico e social é feita através do trabalho

(atividade coletiva) e liberdade é aquilo que decidimos em conjunto.

Em suas concepções educacionais dirige pesadas críticas à Escola Tradicional, que

considera inimiga do "tatear experimental", fechada, contrária à descoberta, ao interesse e

ao prazer da criança. Analisou de forma crítica o autoritarismo da Escola Tradicional,

expresso nas regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo determinado de

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forma arbitrária, compartimentados e defasados em relação à realidade social e ao

progresso das ciências. Mas, critica também as propostas da Escola Nova, particularmente

Decroly e Montessori, questionando seus métodos, pela definição de materiais, locais e

condições especiais para a realização do trabalho pedagógico.

Para Freinet, as mudanças necessárias e profundas na educação deveriam ser feitas pela

base, ou seja, pelos próprios professores.

O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se por sua dimensão social,

evidenciada pela defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um

indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade.

Atribui grande ênfase ao trabalho: a atividade manual tem tanta importância quanto às

intelectuais, a disciplina e a autoridade resultam do trabalho organizado. Questiona as

tarefas escolares (repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos (atividades lúdicas,

recreio), apontando como essa dualidade presente na escola reproduz a dicotomia

trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial.

A escola por ele concebida, é vista como elemento ativo de mudança social e é também

popular por não marginalizar as crianças das classes menos favorecidas.

Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental.

Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com base na

experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos para aprofundar seu

conhecimento e desenvolver sua ação. ―O desejo de conhecer mais e melhor nasceria de

uma situação de trabalho concreta e problematizadora. O trabalho de que trata aí não se

limita ao manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora adaptado

à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar,

assim como a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade"

Dá grande importância à participação e integração entre famílias/comunidade e escola,

defendendo o ponto de vista de que "se se respeita a palavra da criança, necessariamente

há mudanças".

Algumas técnicas da pedagogia de Freinet: o desenho livre, o texto livre, as aulas-passeio,

a correspondência interescolar, o jornal, o livro da vida (diário e coletivo), o dicionário dos

pequenos, o caderno circular para os professores, etc. Essas técnicas têm como objetivo

favorecer o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem (desenho, escrita,

gramática), da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais. Porém, essas

técnicas não são um fim em si mesmas, e sim, momentos de um processo de

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aprendizagem, que ao partir dos interesses mais profundos da criança, propicia as

condições para o estabelecimento da apropriação do conhecimento.

Vemos que Freinet considera a aquisição do conhecimento como fundamental, mas, essa

aquisição deve ser garantida de forma significativa.

Comenius foi o criador da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII;

já no século 17, ele concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do

homem que resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito

avançadas. Entre essas ideias estavam: o respeito ao estágio de desenvolvimento da

criança no processo de aprendizagem, a construção do conhecimento através da

experiência, da observação e da ação e uma educação sem punição mas com diálogo,

exemplo e ambiente adequado. Comenius pregava ainda a necessidade da

interdisciplinaridade, da afetividade do educador e de um ambiente escolar arejado, bonito,

com espaço livre e ecológico. Estão ainda entre as ações propostas pelo educador tcheco:

coerência de propósitos educacionais entre família e escola, desenvolvimento do

raciocínio lógico e do espírito científico e a formação do homem religioso, social, político,

racional, afetivo e moral.

Comenius, uma voz quase solitária em seu tempo, defendia a escola como o "locus"

fundamental da educação do homem, sintetizando seus ideais educativos na máxima:

"Ensinar tudo a todos", e que para ele (1997, p.95), significava os fundamentos, os

princípios que permitiriam ao homem se colocar no mundo não apenas como espectador,

mas, acima de tudo, como ator.

O objetivo central da educação comeniana era formar o bom cristão, o que deveria ser

sábio nos pensamentos, dotado de verdadeira fé em Deus e capaz de praticar ações

virtuosas, estendendo-se à todos: os pobres, os portadores de deficiências, os ricos, às

mulheres.

Suas concepções teóricas apresentavam consistência na articulação entre suas diversas

facetas: do filosófico ao religioso, passando pela organização e divulgação do saber, pelo

processo educativo de todos, e pela reforma da sociedade; mas, nem por isso pode

garantir que fossem postas em prática de uma maneira mais ampla ou que obtivessem, à

sua época, um maior reconhecimento de seus pressupostos inovadores; logicamente no

contexto histórico da época e também da trajetória de vida do autor. Não podemos

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desvincular o que uma pessoa faz da sua filosofia de vida, seus ideais, sonhos, frustrações

e experiências. Sua obra deve ser analisada no contexto em que surgiu: o Renascimento e

a Reforma Religiosa.

No que diz respeito à Educação, o ideal pansófico evidencia-se no desejo e possibilidades

de ensinar tudo e todos. Esta necessidade se forjava e se sustentava na crença de que

Deus, em sua infinita bondade, colocara a redenção ao alcance da maioria dos seres

humanos, mas para tanto era necessário educá-los convenientemente. Dizendo em outras

palavras, para o autor, negar oportunidades educacionais era antes ofender a Deus do que

aos homens. A Pansophia constitui uma forma de organização do saber, um projeto

educativo e um ideal de vida. Para que se obtenha esse ideal, o processo a ser

desenvolvido é a Pampaedia, ou educação universal através da qual se conseguirá a

reforma global das "coisas humanas" e um mundo perfeito ou Panorthosia.

Comenius aponta como necessária a constante busca do desenvolvimento do indivíduo e

do grupo, pois um melhor conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de

autocrítica levam a uma melhor vida social, assim como deve haver a solidez moral, que

pode ser conseguida por meio da educação. Para ele, didática é ao mesmo tempo

processo e tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar.

A arte de ensinar é sublime pois destina-se a formar o homem, é uma ação do professor

no aluno, tornando-o diferente do que era antes. Ensinar pressupõe conteúdo a ser

transmitido, e eles são postos pela própria natureza: são a instrução, a moral e a religião.

O conhecimento que temos da natureza serve de modelo para a exploração e

conhecimento de nós próprios. Mas não é a natureza "natural" o exemplo a ser imitado,

mas a natureza "social". Sua proposta pedagógica dirige-se sobretudo à razão humana,

convocando-a a assumir uma atitude de pesquisa diante do universo e de visão integrada

das coisas. Pretendia que o homem deve ser educado com vistas à eternidade, pois,

sendo Espírito imortal, sua educação deveria transcender a mera realização terrena.

Salientava a importância da educação formal de crianças pequenas e preconizou a criação

de escolas maternais por toda parte, pois deste modo as crianças teriam oportunidades de

adquirir, desde cedo, as noções elementares das ciências que estudariam mais tarde.

Comenius defendia a ideia de que a aprendizagem se iniciava pelos sentidos, pois as

impressões sensoriais obtidas através da experiência com objetos seriam internalizadas e,

mais tarde, interpretadas pela razão. Seu método didático constituiu-se basicamente de

três elementos: compreensão, retenção e práticas. Através delas se pode chegar a três

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qualidades fundamentais: erudição, virtude e religião, a quais correspondem três

faculdades que é preciso adquirir: intelecto, vontade e memória.

O método deve seguir os seguintes momentos:

• tudo o que se deve saber, deve ser ensinado;

• qualquer coisa que se ensine deverá ser ensinada em sua aplicação prática, no seu

uso definido;

• deve ensinar-se de maneira direta e clara;

• ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas;

• explicar primeiro os princípios gerais;

• ensinar as coisas em seu devido tempo;

• não abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão;

• dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.

Comênio e a Educação

Propôs um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens

ao saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produziu obra fecunda e

sistemática, cujo principal livro é a DIDÁTICA MAGNA. São suas propostas:

• A educação realista e permanente;

• Método pedagógico rápido, económico e sem fadiga;

• Ensinamento a partir de experiências quotidianas;

• Conhecimento de todas as ciências e de todas as artes;

• Ensino unificado.

Ao se falar de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos

dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em concepções

modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas —

absolutamente todas — à educação, é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de

anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século 20 e, assim mesmo, não em

todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século 17 por Comênio

(1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da moderna

história da educação.

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Didactica Magna, a obra mais importante de Comênio, marca o início da sistematização da

pedagogia e da didática no Ocidente. A obra, à qual o autor se dedicou ao longo de sua

vida, tinha grande ambição. Comênio chama sua didática de ―magna‖ porque ele não

queria uma obra restrita, localizada. Ela tinha de ser grande, como o mundo que estava

sendo descoberto naquele momento, com a expansão do comércio e das navegações.

Nesse livro, Comênio realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da

teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática escolar, para ele,

deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam

consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto

como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a

organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade,

tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades.


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