CONCEITO DE MEDIUNIDADE
O pensamento escolhe. A Ação realiza. O homem conduz o barco da vida com os remos do desejo e a vida conduz o homem ao porto
que ele aspira a chegar. Eis porque, segundo as Leis que nos
regem, “a cada um será dado segundo suas próprias obras”.
(Emmanuel)
• Mediunidade é a faculdade que permite o intercâmbio entre o mundo físico e o espiritual.
"O dom da mediunidade é tão antigo quanto o mundo. Os profetas eram médiuns [...] Todos os povos tiveram
seus médiuns. E as inspirações de Joana D'Arc nada mais eram que a voz dos Espíritos benfeitores que a
dirigiam. Esse dom que hoje tanto se expande havia se tornado mais raro nos tempos medievais, mas jamais
desapareceu" (LM 2a parte, Cap. XXXI, item 11).
• O mediunismo (manifestação mediúnica em sua expressão empírica, natural) sempre esteve presente na história, mas as manifestações mediúnicas (mediunidade consciente, vista sob a ótica da racionalidade ganharam um novo enfoque a partir do Espiritismo revivendo a visão cristã da mediunidade, perdida através dos tempos, e tornando-a um fenômeno mais consciente destituído de mistificações, quando examinada sob a ótica da racionalidade.
• Os Espíritos comparam a atuação do médium à de instrumento, um intermediário. O intercâmbio mediúnico ocorre através do pensamento, é uma "ligação mental" estabelecida entre o Espírito comunicante e o Espírito do médium receptor. Dizem os Espíritos Erasto e Timóteo:
"Com efeito, nossas comunicações com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos
propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do nosso pensamento» (L.M. 2a parte, Cap.
XIX, item 225).
• São os fluidos emitidos pelo Espírito que agem sobre o médium e sobre seus órgãos físicos, e são esses fluidos o veículo do pensamento.
"O pensamento do Espírito encarnado age sobre os fluidos espirituais como o dos Espíritos desencarnados;
ele se transmite de Espírito a Espírito pela mesma via, e, segundo seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos
secundantes" (GE., Cap. XIX item 17).
• A semelhança de idéias, pensamentos e propósitos (ou intenções) é muito importante ao direcionar a emissão e recepção de fluidos.
"A alma exerce sobre o Espírito comunicante uma espécie de atração ou repulsão, segundo o grau
de semelhança ou dessemelhança entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com
os maus ..." (L.M. 2a parte, Cap. XX, item 227).
• Como os Espíritos se comunicam por pensamentos e não por palavras, e a sintonia se estabelece através da semelhança de propósitos, são idéias ou imagens que o Espírito emite em ligação com o médium, e que este capta conforme sua capacidade.
• Nessa ligação mental, o perispírito apresenta papel muito importante, pois ele é o elo material entre o Espírito e a matéria.
"Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha um papel preponderante no
organismo; pela sua expansão, coloca o Espírito encarnado em relação mais direta com os
Espíritos livres, e também com os Espíritos encarnados" (GE., Cap. XII item 17).
• Através de André Luiz, podemos compreender melhor o aspecto específico da relação entre perispírito e corpo físico no fenômeno mediúnico, quando se refere à mediunidade espontânea que começa a aflorar no homem primitivo:
"... os encarnados que demonstrassem capacidade mediúnica mais evidente, pela comunhão menos estreita entre as células
do corpo físico e do corpo espiritual, em regiões do corpo somático, passaram das observações durante o sono, às
observações da vigília [...] Quanto densos os elos entre os implementos físicos e espirituais nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência, prevalecendo as
mesmas normas ] clariaudiência e para modalidades outras ..." (Evolução em Dois Mundos, Cap. 17, pág. 134 - grifo nosso).
• A mediunidade surge como o veículo utilizado pelos Espíritos para nos trazerem a Terceira Revelação.
"O Espiritismo é a Terceira Revelação da lei de Deus. Mas não está personificado em ninguém, porque ele é o produto do
ensinamento dado, não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do céu, em todas as partes da terra e por
inumerável multidão de intermediários" (E.S.E., Cap. l, item 6).
• Em 1862, no Livro dos Médiuns, Kardec consolida a concepção da capacidade de comunicação entre o plano físico e espiritual como uma aptidão pertencente a todos. Introduz o conceito de mediunidade como uma faculdade abrangente e irrestrita, e não como um dom especifico destinado a poucos escolhidos.
• Desse modo, afirma:
"toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são
raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns"
(L.M., 2a parte, Cap. XIV, item 159).
• A confirmação de que todas as pessoas são passíveis de serem influenciadas pelos Espíritos se encontra no livro dos Espíritos, no seguinte trecho, onde se pergunta aos Espíritos sobre a possibilidade de sua interferência em nossa vida cotidiana:
"Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?- Nesse sentido a sua influência é maior do
que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem" L.E., livro segundo, Cap. XIX, item 459).
• Apesar da generalização do conceito de mediunidade, o próprio codificador nos atenta ao fato que usualmente a utilização do termo médiuns "se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva" (L.M., 2a parte, cap. XIV, item 159).
• Kardec a coloca como uma faculdade desvinculada da necessidade da fé religiosa e relacionada à condição orgânica do médium:
"Vimos pessoas completamente incrédulas ficarem espantadas de escreverem sem querer, enquanto
crentes sinceros não o conseguiam, o que prova que essa faculdade se relaciona com predisposições orgânicas" (L.M., 2a parte, Cap. XVII, item 209).
• Também André Luiz ressalta as relações entre a moral e a mediunidade:
"Forçoso reconhecer, todavia, que a mediunidade, na essência, quanto à energia elétrica em si mesma, nada
tem que ver com os princípios morais que regem os problemas do destino e do ser.
• Dela podem dispor, pela espontaneidade com que se evidencia, sábios e ignorantes, justos e injustos, expressando-lhe, desse modo, a necessidade da condição reta, quanto a força elétrica exige disciplina a fim de auxiliar.
"A mediunidade, no entanto, é faculdade inerente à própria vida e, com todas as suas deficiências e grande acertos e
desacertos, é qual o dom da visão comum, peculiar a todas as criaturas, responsável por tantas glórias, tantos
infortúnios na Terra [...] Também a mediunidade não requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas antes de tudo, aprimoramento da personalidade mediúnica e
nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se filtro das Esferas Superiores, facilitando a ascensão da Humanidade aos domínios da luz" (Evolução em Dois
Mundos, 17, pág. 136 e 137 - grifo nosso).
• Do Evangelho Segundo o Espiritismo extraímos a seguinte citação que demonstra a relação entre o caráter abrangente da mediunidade e seu objetivo maior, que seria o de auxiliar o aprimoramento moral do próprio médium, independente de suas condições específicas:
"Se o poder de comunicar-se com os Espíritos só fosse dado aos mais dignos, qual aquele que ousaria
pretendê-lo? E onde estaria o limite da dignidade e da indignidade.?
• A mediunidade é dada sem distinção, afim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos virtuosos, para os fortalecer no bem; aos viciosos, para os corrigir. Esses últimos não são os doentes que precisam de médico?
"Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que pode tirá-lo da lama? Os bons Espíritos vêm assim em seu auxílio. E seus conselhos, que ele recebe diretamente, são de
natureza a impressioná-lo mais vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta. Deus, na sua
bondade, poupa-lhe a pena de ir procurar a luz a distância, e lha mete nas mãos" (E.S.E., Cap. XIV,
item 12).
• E assim que percebemos a importância da preocupação do médium com suas qualidades morais para o bom exercício da mediunidade: o pensamento sintonizado com a moral evangélica e o comportamento adequado aos padrões cristãos são essenciais ao bom exercício mediúnico:
"A mediunidade não implica necessariamente as relações habituais com os Espíritos
superiores. E' simplesmente uma aptidão, para servir de instrumento, mais ou menos
dócil, aos Espíritos em geral.
• O bom médium não é, portanto, aquele tem facilidade de comunicação, mas o que é simpático aos Bons Espíritos e só por eles é assistido. É nesse sentido, unicamente, que a excelência das qualidades morais é de importância absoluta para a mediunidade (E.S.E., Cap. XII item 12).
• No Livro dos Médiuns, um verdadeiro tratado sobre mediunidade, o codificador ressalta também as peculiaridades da sensibilidade de cada médium:
"Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em
tantas variedades quantas são as espécies de manifestações" (L.M., 2a parte, Cap. XI\Ç item 159).
• No entanto, estabelece uma classificação geral que, apesar de não impor como absoluta, faz questão de reportar como de autoria inteiramente atribuída aos Espíritos.
• Diz ele que, levando em consideração as semelhanças entre causa e efeito, encontramos a divisão dos "médiuns em duas grandes categorias:
• Médiuns de efeitos físicos - Os que têm o poder de provocar os efeitos materiais ou as manifestações mais ostensivas.
• Médiuns de efeitos intelectuais - Os que são mais especialmente aptos a receber e a transmitir as comunicações inteligentes“
• Como exemplos de efeitos físicos teríamos a escrita reta, a materialização, a tiptologia (produção de ruído pancadas), etc. Entre os efeitos intelectuais teríamos a psicofonia, a psicografia, a audiência, a vidência, etc.
• Kardec ressalta também que:
"é às vezes difícil estabelecer o limite entre ambos, mas isso não acarreta nenhuma
dificuldade. Incluímos na classificação de médiuns de efeitos intelectuais os que podem mais especialmente servir de instrumentos para
comunicações regulares e contínuas“
AFINIDADE, APROXIMAÇÃO,
ACEITABILIDADE, INCORPORAÇÃO
• Kardec nos ensina como:
“a natureza das comunicações está sempre relacionada com a natureza do Espírito",
• mas ressalta que,
"ao lado da aptidão do Espírito, existe a do médium, instrumento que é para ele mais ou menos cômodo,
mais ou menos flexível, e no qual ele descobre qualidades particulares que não podemos apreciar”.
• E acrescenta:
"... apesar da igualdade de condições quanto à potência mediúnica, o Espírito dará preferência a um ou a outro, segundo o gênero de comunicações que
deseja transmitir" (L.M).
• No mesmo item, Kardec lembra que as aptidões do médium em sua vida atual nem sempre são determinantes na definição do conteúdo das mensagens que ele recebe.
• Assim, poetas podem não conseguir trazer mensagens mediúnicas em forma de poesia, enquanto que outros sem aptidão para conhecimentos científicos podem trazer comunicações sábias. De acordo com Kardec, ocorre o mesmo com o desenho, a música, etc.
• Os fatores mais importantes no estabelecimento da ligação mediúnica são outros: os Espíritos:
"se comunicam dando preferência mais ou menos acentuada a este ou àquele médium, de acordo
com as suas simpatias".
• As qualidades do médium são essenciais para que haja afinidade entre o médium e espírito comunicante:
"é a intenção, o pensamento íntimo, o sentimento mais ou menos louvável de quem interroga o Espírito" (L.M., 2ª parte, Cap.. XVI, item 186).
• A afinidade é obtida através da sintonia do Espírito com os pensamentos, comportamentos, emoções e palavras emitidos pelo médium costumeiramente.
• Daí, inferimos a importância do conhecimento evangélico-doutrinário do médium, da sua sinceridade de propósitos, dos tipos de pensamentos que emite no dia-a-dia, do seu interesse pelo desenvolvimento das virtudes e pela eliminação dos defeitos e vícios.
• Como vimos, nossos pensamentos e emoções impregnam os fluidos, e são os fluidos que nós emitimos que atraem outros fluidos semelhantes, permitindo um maior ou menor equilíbrio do médium.
• A semelhança de pensamentos e propósitos (ou intenções) é muito importante para o médium captar os fluidos da espiritualidade.
• Como os Espíritos se comunicam por pensamentos e não por palavras, são idéias ou imagem o Espírito emite em ligação com o médium e que capta conforme sua capacidade.
• Pode haver também maior afinidade entre Espíritos em que haja envolvimento emocional (outras existências, amizade, simpatia, etc.) esse tipo de envolvimento não é essencial para que ocorra a ligação mental.
• Sendo assim, o médium iniciante deve buscar estabelecer comunicações com um Espírito determinado, pois:
"...ocorre, frequentemente, que não seja este que as relações fluídicas se estabeleçam com mais
facilidade, por maior simpatia que lhe devote" (L.M., 2a Cap. XVII, item 203 - grifo nosso).
• Outras questões também influenciam na ligação mediúnica. Entre elas, pode-se citar as condições de aproximação da entidade comunicante. Somente haverá comunicação verdadeiramente mediúnica se houver um Espírito disposto a transmiti-la, e para que os bons Espíritos se manifestem em um trabalho é necessário que o ambiente seja devidamente preparado.
• Kardec ensina que as reuniões sociais comuns são diferentes das reuniões mediúnicas, e que estas, "para se obterem resultados desejáveis requerem condições especiais" (L.M., 2a parte, Cap. XXIX, item 324). Nisso influirá também o caráter do objetivo da reunião: reuniões para assuntos frívolos atrairão espíritos frívolos; reuniões com objetivos sérios atrairão Espíritos sérios.
• O padrão vibratório também é importante entre os fatores que auxiliam a aproximação. O padrão vibratório é consequência dos tipos de fluidos ou pensamentos emitidos no momento do trabalho, e que vão direcionar a sintonia do médium com o Espírito comunicante.
• Para melhorar o seu padrão vibratório, o médium deverá resguardar-se de pensamentos inferiores pelo menos no dia do trabalho, preparar-se com preces e leituras evangélicas, evitar brigas e desentendimentos, enfim, manter uma conduta irrepreensível.
• Daí a importância do "Orai e vigiai" e da "Reforma Intima" como fatores de equilíbrio.
• Portanto, o médium desequilibrado dificulta a comunicação com Espíritos, pois com o perispírito desequilibrado, também não é possível estabelecer uma ligação mediúnica plena com a espiritualidade. Podemos também acrescentar a disposição do médium em servir-se de intermediário, sua aceitabilidade.
• O medo ou a insegurança do médium podem dificultar o intercâmbio mediúnico. O médium deve confiar que a preparação do ambiente e os bons propósitos da reunião atrairão espíritos sérios e bem-intencionados, e deve deixar-se envolver pelos fluidos da entidade comunicante.
• Para servir de instrumento fiel da espiritualidade, o médium deve praticar a humildade, "calando-se" mentalmente para que o Espírito possa manifestar-se através dele. Contudo, o médium não deve se entregar ao primeiro Espírito que vier, apena; estabelecer um contato mediúnico: A dificuldade encontrada da pela maioria dos médiuns iniciantes é a de ter que com Espíritos inferiores'" (L.M., 2a parte, Cap. XVII, 211 - grifo nosso).
• Ainda sobre a passividade, Edgard Armond destaca o papel do médium para a aceitação da ligação perispiritual:
''Natural, pois, e mesmo necessário,, que haja passividade no ato funcional mediúnico e atividade e
consciência plenas fora desse ato" (Mediunidade, segunda parte; Cap. 22: "O Desenvolvimento“ ).
• De acordo com o autor, a passividade desejável não é a nulidade de desejos e decisões, não representa a sujeição do médium ao plano espiritual. O médium não é escravo da espiritualidade, mas deve controlar e disciplinar suas emoções para entregar-se cientemente e com segurança quando for o caso.
• O próprio Armond adverte quanto ao perigo da extrema passividade:
"A passividade cega entrega os médiuns à influência de forças e entidades de todas as classes e esferas, indiscriminadamente, e isso é altamente nocivo"
(Mediunidade, 2ª parte - Cap. 22: "O Desenvolvimento").
• Todos esses fatores são predisposições necessárias à incorporação. A partir destes pré-requisitos, o circuito mediúnico poderá se completar e o médium poderá transmitir a mensagem do plano espiritual como um verdadeiro intermediário.
• Podemos concluir lembrando-nos novamente de Kardec, que afirma:
"Para que uma comunicação seja boa, é necessário que provenha de um Espírito bom. Para que esse Espírito bom possa transmití-la, é necessário que o objetivo
lhe convenha" (L.M. Cap. XVI, item 186)
BIBLIOGRAFIA• O Livro dos Médiuns - Allan Kardec;
• A Gênese - Allan Kardec;
• Evolução em Dois Mundos - André Luiz;
• O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec;
• O Livro dos Espíritos - Allan Kardec