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SALVADOR, SÁBADO,9 DE NOVEMBRO DE 2013 4e5

Testes em animais,

PODE?Debate cresce após polêmica dos cachorrosresgatados de um laboratório em São Paulo

AZIZ

PAULA MORAIS

Está todo mundo discutindo sobre o usode animais em testes de produtos emedicamentos. É porque, no dia 18 deoutubro, ativistas denunciaram o InstitutoRoyal ao Ministério Público e levaram 178cachorros da raça beagle e sete coelhospara casa. O Instituto Royal fica na cidadede São Roque, em São Paulo. Látrabalham pesquisadores que fazemtestes de substâncias para medicamentosem animais de laboratório.

OS ATIVISTASUm grupo de cem pessoas entrou no instituto. “Era muitasujeira e os animais estavam sob efeito de drogas”,contou um ativista, que ajudou a resgatar os animais,mas não quis ser identificado. Os bichos foram levadosem carros e passaram por uma avaliação veterinária.“O instituto mente quando diz que eles estão bem. Agente achou que as fêmeas estavam grávidas, mas abarriga grande era por conta de um tumor”.

OS PESQUISADORESO Instituto Royal acusa os ativistas de destruírem pesquisasimportantes. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência(SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) disseram que oInstituto Royal é registrado no Conselho Nacional de Controleem Experimentação Animal (Concea) e tudo o que eles fazem láé avaliado e aprovado por um grupo de pessoas do Comitê deÉtica para o Uso em Experimentação Animal (Ceua). Disseramtambém que eles obedeciam a todas as regras da Lei Arouca.Essa lei determina regras para a criação e utilização de animaispara o ensino e pesquisa científica no Brasil. Se os beaglesestavam com alguma doença é porque, muito provavelmente,estavam sendo testados remédios para a cura de doenças, comocâncer, por exemplo. Para isso, eles devem ficar sedados paranão sentir dor ou desconforto.

CONTRAO biólogo Sérgio Greif, formadopela Unicamp, mestre emalimentos e nutrição e ativistapelos direitos dos animais, dizque há outras formas de fazertestes sem usar os bichos.Cultura de células ou tecidos éuma delas. Por meio de umacirurgia, o cientista recolhecélulas ou tecidos do corpo de

A FAVOR

alguém e guarda. Acontece umasérie de testes depois e oresultado é mais próximo donosso organismo, porque sãonossas células e tecidos. “Oorganismo do animal é diferente.O teste pode dar positivo paraele e negativo para a gente”.

Greif disse que, em algunstestes, “os bichinhos são abertos

ainda vivos para ser estudadospelos cientistas”.

O biólogo falou ainda quepessoas podem se voluntariarpara testes, assinando umcontrato de responsabilidade.“Os animais não têm essaescolha. Eles não nascem parafazer testes e sentir dor. Por quetemos que obrigá-los?”.

“Todos nós gostaríamos denão trabalhar mais combichos”, disse RobertaMarques, que é bióloga evegetariana, mas a favordos testes em animais. “Euconsigo substituir 100% daalimentação, mas nãotemos como fazer isso comremédios”. Segundo ela,testes com animais sãomais difíceis, caros ecomplicados. Seria melhortrabalhar de outro modo.Só que testes desensibilidade, vacinas,envenenamento,tratamentos para câncer eirritação da pele ainda nãotêm como.

Pode ser feito de qualquermaneira?

Não! Os cientistasprecisam cumprir regras.Os animais devem seranestesiados para nãosentir dor. Quem nãocumpre é punido. Pode

receber advertência, pagarmulta, ser proibido detrabalhar e não recebermais dinheiro parapesquisa.

Por que não fazem testesno computador?

Fazemos! Só que oscomputadores não são tãoespertos. Eles nãoconseguem prever, porexemplo, se um remédiovai fazer mal para aaudição, se não dissermosa ele que determinadasubstância pode deixar apessoa surda.

Que bichos usam?Já foram usados moscas,

ratos, camundongos,coelhos, porcos, tatus,macacos. Os cachorros sãomais parecidos com oshumanos. Então, paracertos remédios, aindausamos os cães. Os bichossão criados no laboratório

para controlar quase tudoo que acontece e ter maissegurança nos resultados.

Tem empresa que diz quenão usa produto testadoem animal, é verdade?

Sim e não. Algumasempresas são espertas eencontram um jeito dedizer a verdadementindo. Tem quemdiga que não testacosméticos em animais. Sóque essas empresas pagama outra para fazer o testepor ela, assim ela fica deboazinha na história.

Temos esperanças demudar essa realidade?

Sim! A perspectiva é queem 10 anos não sejapreciso testar mais irritaçãoda pele. Tambémpoderemos ter boasnotícias em alguns testesde envenenamento, hojefeitos em animais.

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