O UNIVERSO LINGUÍSTICO DA MANDIOCA NO MARANHÃO
Autor: Luís Henrique Serra/UFMA/PROJETO ALiMA, [email protected]
Orientador: Prof. Dr. José de Ribamar Mendes Bezerra/UFMA/PROJETO ALiMA
Av. dos Portugueses, s/n, CEP 65085-580, São Luís – Maranhão, (98) 3301 8322, [email protected]
Resumo:
A investigação do léxico de uma comunidade ou de uma atividade oferece informações importantes para a
compreensão do pensamento e da cultura humana e de suas especificidades. Considerando essa realidade, este
trabalho, que se inscreve no âmbito Socioterminologia, tem como objetivo a recolha do léxico pertencente ao
universo da mandioca no Maranhão. Este glossário pretende contribuir para a comunicação entre técnicos
agrícolas e pequenos agricultores, visto que, na maioria das vezes, a comunicação entre eles sofre ruídos.
Palavras-chave: Léxico. Mandioca. Glossário. Socioterminologia. Maranhão.
Abstract
The research of a community lexic or a human activity provides important informations to the way of thinking
and the culture of a people and her specifities’ understanding. This study, inspired by Socioterminology, has the
objective of select the lexic belong to the Maranhão universe of manioc. The manioc has economic and social
importance in Brazil, and, mainly, in Maranhão. This glossary intends to contribute to the communication among
agricultural technicians and the micro and small cassava farmers.
Key-Words: Lexic. Manioc. Glossary. Socioterminology. Maranhão.
INTRODUÇÃO
A agricultura no Maranhão é uma das grandes fontes de renda para a população.
Plantações de soja, arroz, cana-de-açúcar e mandioca colocam o Maranhão entre as grandes
potências agrícolas do país. O Estado está entre os maiores produtores e consumidores de
produtos agrícolas no Brasil. Dentre esses produtos, destacamos a importância da mandioca:
Segundo relatório publicado pela EMBRAPA (MANDARINO; CUENCA, 2004), o
Maranhão é o quarto maior produtor de mandioca do Brasil, consumindo grande parte do que
produz. De acordo com o IBGE (2008), todos os municípios maranhenses produzem e
consomem a farinha, principal produto extraído da mandioca; o município de Barreirinhas,
segundo o Instituto, é o maior produtor e consumidor do Estado. Esses dados apontam a
mandioca como um dos grandes produtos tipicamente maranhenses. No Estado, são muitas as
pessoas envolvidas com a mandioca: de grandes empresários a micro e pequenos agricultores
maranhenses que fazem da cultura da mandioca um meio de sobrevivência. Uma
peculiaridade interessante do universo da mandioca, no Estado é, sem dúvida, os termos
empregados pelos micro e pequenos agricultores de mandioca em suas ocupações diárias.
Durante o processo de comunicação, são empregadas palavras próprias do universo da
mandioca que revelam as peculiaridades do português falado no Maranhão. Este trabalho tem
o objetivo de levantar a linguagem do micro e pequeno agricultor maranhense em seu
universo laboral de plantação de mandioca e de produção de derivados.
OBJETIVOS
Ao desenvolver este trabalho, buscamos, entre outros objetivos:
Desenvolver estudos socioterminológicos no Estado;
Examinar a variação socioterminológica em uma língua de especialidade;
Investigar especificidades do português falado no Maranhão;
Analisar a relação língua e cultura popular no estado do Maranhão;
Investigar a riqueza linguística e cultural do universo da mandioca no estado do
Maranhão;
Contribuir para uma comunicação mais eficiente entre técnicos e especialistas e
pequenos agricultores que trabalham com a mandioca.
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
Esta pesquisa encontra as bases de sua importância em dois eixos: um cultural e
outro ambiental. No eixo cultural, como já demonstrado, a mandioca faz parte do cotidiano
maranhense. Faz-se presente por meio de alguns produtos populares em nossa culinária, como
a farinha seca e a d´água, o beiju, a tapioca, a tiquira. Tendo em vista esse contexto, a
investigação do universo laboral da mandioca por meio de relatos de micro e pequenos
agricultores, possibilita-nos conhecer características próprias do falar desses maranhenses
que, muitas vezes, nunca frequentaram escola ou que, em alguns casos, só cursaram os
primeiros dois anos. Considerando essa realidade, observamos que o falar desses sujeitos, e
em particular sua língua de especialidade, não sofreu a influência padronizadora da escola –
que, via de regra, pauta-se pelo padrão do eixo sul-sudeste. Esse fato favorece a preservação
de certos traços característicos do falar local.
Com relação à questão ambiental, sabemos que a agricultura é uma das principais
causas do desmatamento florestal. Juntamente com a pecuária, é responsável direta pela
derrubada de inúmeras árvores, o que desequilibra a temperatura do planeta, causando o
aquecimento global. Por isso, os profissionais da agronomia são dos principais responsáveis
pela conscientização desse micro e pequeno agricultor, em relação ao ambiente. Esse
pensamento é uma das mais fortes vertentes da Agronomia, que tem revisto o seu papel diante
do desmatamento ambiental. Segundo as correntes ambientais no âmbito da Agronomia, o
engenheiro agrônomo deve propor métodos e meios para a redução dos desmatamentos
causados pela agricultura, e isso é possível por meio da conscientização ambiental do micro e
do pequeno agricultor. Nesse sentido, conhecer o falar e os termos peculiares concernentes ao
universo dos produtos agrícolas facilitará a comunicação entre o profissional agrônomo e os
micro e pequenos agricultores em seu trabalho de conscientização, ou em qualquer outro
trabalho com os agricultores.
REFERÊNCIAL TEÓRICO
A investigação do universo da mandioca no estado do Maranhão fundamentou-se nas
teorias que estudam o léxico e que se ocupam da produção de dicionários e glossários
especializados, como a Lexicologia, a Lexicografia, a Terminologia e a Socioterminologia.
Vale ressaltar que a Terminologia, ciência fundada por Eugen Wüster em 1870, após a defesa
de sua tese de doutorado na escola de Viena na Áustria, é uma ciência que fundamenta a
Teoria Geral do Termo - TGT, também criada por Wüster, para quem as terminologias eram
algo encontrado somente nas áreas técnicas, pois acreditava que a linguagem produzida nessas
áreas precisava ser unívoca, e que o termo, menor unidade de uma língua de especialidade,
não estava sujeito às noções de polissemia, sinonímia, como as outras palavras.
Em contrapartida, a Socioterminologia, ciência fundada por estudiosos como
François Gaudin, defende que o termo é uma unidade linguística como as outras palavras da
língua geral, e que a variação linguística, inerente a todos os níveis da língua, atingia os
termos (variação terminológica). Cabré com a Teoria Comunicativa do Termo – TCT faz
outra contraposição à TGT. Para a autora, línguas de especialidade não são só as técnicas,
todas as atividades humanas têm sua própria linguagem. É com base nessas ideias que este
trabalho foi produzido.
METODOLOGIA
Este trabalho de cunho socioterminológico foi desenvolvido durante um ano
(2009/2010). Na primeira fase da pesquisa, foram feitas inúmeras pesquisas bibliográficas a
trabalhos inscritos no âmbito das ciências que estudam o léxico – Lexicologia, Lexicografia e
Terminologia – e a autores como Cabré (1998, 2002), Isquerdo (2004), Biderman (1987),
Alves (2007), Fausltich (2004 e 2006) e Basílio (2006). Também fizemos inúmeras pesquisas
em sites de instituições como IBGE e EMBRAPA, para consultar relatórios técnicos
referentes à produção e ao consumo da mandioca no Maranhão. Na segunda fase, recolhemos
os termos pertencentes ao universo da mandioca em diferentes municípios maranhenses –
Pinheiro, São Bento, Itapecuru-Mirim, Palmeirândia, Turiaçu, Tuntum e São João dos Patos –
por meio da aplicação de um questionário semântico-lexical da mandioca pertencente ao
projeto Atlas Linguístico do Maranhão – ALiMA. Os dados foram gravados em gravador
digital e, posteriormente, transcritos grafematicamente. Foram selecionados pequenos e
médios agricultores da mandioca, nos municípios citados, com base no seguinte perfil:
sujeitos de ambos os sexos, com mais de dezoito anos, naturais da localidade pesquisada, e
que trabalhassem com a mandioca há mais de cinco anos. Com os dados transcritos, foi feita a
seleção dos termos, que comporiam o glossário, e a definição da micro e da macroestrutura do
glossário.
RESULTADOS DA PESQUISA
A microestrutura do glossário foi definida da seguinte forma:
Termo entrada + categoria gramatical +definição + contexto (em alguns casos) +
variante + remissivas
O termo entrada é o termo tal como foi registrado no momento da recolha; a
categoria gramatical diz respeito à classe gramatical a que o termo pertence; a definição trata
do conteúdo nocional atribuído ao termo; o contexto é o registro do termo na fala do
entrevistado; e as variantes demonstram as diferentes formas que um termo tem nas diferentes
localidades pesquisadas; por fim as remissivas remetem o leitor a outro termo dentro do
glossário caso seja necessária outra definição para que ele possa entender o termo em questão.
quadro de abreviaturas
Referências gramaticais Remissivas Sinais Gráficos
adj - Adjetivo
s.f. - Substantivo feminino
s.m - substantivo masculino
sin. nom - sintagma nominas
sin. verb - sintagma verbal
v.t - verbo transitivo
v. int - verbo intransitivo
INQ – Inquiridor
INF – Informante
v.- variante
ver – ver
/ - fala do pesquisador
[] - contexto
Abaixo, apresentamos, na íntegra, o glossário da mandioca no Maranhão, resultado
esta pesquisa1. Seguindo o modelo proposto por Barros (2004, p 158), assinalamos que as
entradas deste glossário foram registradas em letra minúscula.
O GLOSSÁRIO DA MANDIOCA NO MARANHÃO
abate s.m. Limpeza feita na roça de mandioca para retirada de ervas daninhas. [/ INQ – Mas o
que é um abate? / INF – <Abate> é a limpa do pé dela (maniva)]. v roça, broca; ver
maniva.
1 O glossário ilustrado em formato CD acompanha este trabalho.
amarelinha s.f. Espécie de mandioca cujo caule e folhas são amarelos. (A farinha provinda
desse tipo de mandioca é muito amarela.) 2. Espécie de mandioca com a casca interna e a
externa finas. [Tem delas que dá mais, a <amarelinha>, ela é especifica pra amarelar a
farinha, por isso que se chama <amarelinha> // A <amarelinha> é porque ela tem a pele
fina, ela e a Tatajuba];
anajá s.f. Espécie de mandioca com o caule amarelo. As terminações dos galhos dessa
espécie de mandioca possuem coloração avermelhada. . [(...) INQ – Como é a madeira da
anajá? INF – Ela é amarelinha. A madera é amarelo, <o talo> amarelo. E o encontro
<talo> com a folha, ela é toda vermelhinha].
antepele s.f. Casca grossa que envolve o tubérculo da mandioca e que é coberta pela casca
marrom, mais fina, da raiz. [(...) tem que descascar, que ali é donde tá o leite, naquela
casquinha de dentro INQ – O senhor disse <antepele>, o que seria <antepele> INF – É a
casca INQ – Entrepele? INF – Hun hun, é]. v casca, entepele, antrepele, entrecasca,
entecasca, entecasco, pelinha.
arrebenta bucho sin. verb. Espécie de mandioca com o caule, galhos, raízes e folhas grossos.
. [(...) a arrebenta burro a madêra dela é engrossa mais (...) o talo é mais grosso, a folha é
mais grossa, essa é a arrebenta burro].
arranca s.f. Quantidade de pés de mandioca colhidos. [Não tem assim, por exemplo, só fala
em carro, vamo arrancá quinhentos quilos, olha, o preço, o valor de nois fazê aqui, o total de
<arranca>, é< arranca> que nois chama é mil quilo pela arranca(...)].v carrada.
arranque v.t. Ato tirar a mandioca da terra por meio de um puxão com as mãos ou uma
ferramenta.
astra s.f. Caule da mandioca. [do paiavô é que nasce (a maniva), depois que você corta aqui
que ela sobe, chama-se depois de <astra>, de fora a fora (...)] v. asta, maniva, pau de
maniva, madera da mandioca, manico; ver maniva.
atata s.f. 1 - tubérculo da mandioca. [/INQ – Ah então eu posso chamar de batata aquela que
fica dentro da terra/ INF – Pode, é batata; /INQ – Posso chamar batata da mandioca?/ INF –
<batata da mandioca]. v. raiz.
babuzinha s.f. Espécie de mandioca com um alto teor de veneno. (Geralmente, não é
aproveitada para o consumo). [<A babuzinha>, ela é muito forte, ela tem uma substância
tóxica que é muito forte, diferente das outras. Tem até um dizê aí, que se triscá na
<babuzinha> já era, e é mesmo, ela tem uma substância muito forte, e qualquer animal que
bebê da água dela, morre em cima do lugá.]
baxão s.m. Terra muito úmida, imprópria para o plantio da mandioca. [É mais alto, mas no
<baxão> é que passa enchente que desce nos boca de vão e desce no <baxão>, aí não pode
prantá mandioca naquele lugá que onde a água passa por dentro a mandioca não se dá,
mandioca só se dá mais em terra alta]. v baixão.
beju s.m. Espécie de bolo fino e branco, feito da tapioca. (Geralmente consumido com café,
no café da manhã.). [Da tapioca se faz o bolo, a tapioca faz <o beiju>, que no Ceará chama
é a tapioquinha mesmo, aqui é o <beiju>, não sei por que esse nome de <beiju> ]v beiju;
ver tapioca.
bochecha do forno sin. nom. f. Parte lateral do forno. [Porque o forno, ele tem que esquentá
os lado dele assim, a gente chama <bochecha>]. ver forno.
bola do caititu sin. nom. Rolo de madeira com pequenas serras usado para ralar a mandioca.
[cevadô, ele é composto de um caititu, uma <bola> que a gente chama caititu, arredondada,
forma assim cumprida (...) naquele caititu, a gente vai pressionando aquelas mandioca, já
descascada e vai ralando]. v. bola, caititu, cevadô, rolo; ver caititu.
braça s.f. Medida equivalente a dois metros e vinte centímetros. (Essa é a medida usada entre
as fileiras de mandioca). [Quando a gente pranta dentro de legume é uma <braça>, quando
não é, a gente pranta um metro e meio de espessura. que quando ela cresce, ela enrama, topa
uma na outra (...) / INQ – O senhor falou em braça, quanto é uma braça?/ INF –
Um<braça> é dois metro e vinte].
bucho do tipiti. sin. nom. m. Parte central do tipiti, onde é colocada a massa para ser
prensada.
cabeça do tipiti. sin. nom. f. Parte superior do tipiti que é colocada no sarilho para ser
puxada, comprimindo, assim, o bucho do tipiti para que a massa possa ser prensada. [porque
o sarilho, ele é completo em cima e embaixo. Em cima, ele tem uma parte que tem que botá a
<cabeça do tipiti> e embaixo, o rabo do tipiti.].ver tipiti, bucho do tipiti.
caçuá s.f. Cesto trançado, geralmente feito de talo de bambu/taboca, com pequenas alças,
pelas quais se prende à cangalha, e usado no transporte da mandioca. v jacá.
caititu s.m. 1. Instrumento, geralmente de madeira, utilizado para ralar a mandioca; 2 Rolo de
madeira com pequenas serras de metal que fica no centro do banco do caititu; 3. (IM) Porco
do mato que rói a raiz da maniva. [Eu mesmo faço a bola aqui, nois bota no <caititu> ali no
banco e vai botando duas liga no motô ali, aí vai relando, eu vô cevando].v cevador; ver
cevar.
careta do caititu sin. nom. f. Pequena caixa de madeira que fica sobre a bola do caititu (Serve
para evitar que os fragmentos da mandioca sejam lançados para fora, durante o processo de
ralação.). v máscara do caititu; ver bola do caititu.
carimã s.f. Espécie de farinha muito amarela à qual se adiciona coco. (O processo de
produção desse tipo de farinha diferencia-se do das outras porque, no momento da fabricação,
a mandioca é posta no molho, mas não puba como as outras farinhas). ver pubar
carueira s.f. sobra da massa da mandioca depois de ela ter sido ralada no caititu. (Pode ser
reaproveitada para o consumo humano, para a preparação de um prato conhecido como
grolado. Em algumas localidades, serve para o alimento de animais.). [a <crueira> é o resto
da massa é um resto de massa não passa na peneira, aí ela também dá farinha, num sabe]. v
carueira, crueira, cruera; ver grolado, caititu.
carreira s.f. Pés de mandioca plantados em fila. v lêla, lêra , lastro.
carga s.f. Quantidade de mandioca suficiente para encher dois cofos. [o senhor tá vendo
aqueles cofo ali? Uma <carga> é dois cofo daquele cheio].ver cofo.
carimã s.f. Espécie da farinha muito amarela misturada com coco. A mandioca usada para
sua produção diferencia-se em seu processo de produção da farinha seca e farinha d´água
quando é posta molho, não fica mole como as outras farinhas.
casa de forno sin. nom. f. 1. Local onde se beneficia a mandioca para a produção de farinha.
2. Local onde ficam todos os instrumentos para o beneficiamento da mandioca. [INQ – E
como é que se chama o local onde se beneficia a mandioca / INF – <Casa do forno>]. v.
casa de farinha, pubero, aviamento.
casca s.f. Parte da mandioca que envolve o tubérculo, a parte grossa que está abaixo da pele.
[É só a pelinha, aí depois de baxo daquela pele é a <casca>, cê descasca, aí que toca na raiz
mesmo, no branquinho dela] v. pele, antepele, entepele, entecasca.
cocho s.m. Espécie de vasilha, em geral feita com um tronco de árvore escavado, para colocar
a mandioca depois de ralada no caititu. [tem um <cocho> aqui perto, caboco coloca a massa
depois de ralada, vai panhando as cuinha e depois vai jogando dentro do forno].ver caititu.
caçuá s.m. Cesto trançado, geralmente feito de talo de bambu/taboca, com pequenas alças,
pelas quais se prende à cangalha, e usado no transporte da mandioca. [INQ – Quando o
senhor vai colher a mandioca, o senhor leva algum instrumento? INF – levo o facão... o
panero...<o caçuá> pra levá a mandioca no animal (...)]
cofo s.m. Pequeno cesto feito com a palha da palmeira do coco babaçu, em que se guarda a
farinha ainda quente. [fazia uns <cofo>, empalha ela todinha dentro do <cofo> com folha de
pajauba (...) todo tempo ela é nova.].
cova s.f. Buraco feito no chão onde são postos os pedaços do caule da mandioca, também
conhecidos como astra, para a formação de um novo pé. [A <cova>. Cê coloca ela ali, aí a
gente encarca assim com o pé, aí bota certo, e torna encarcá de novo pra nascê com
sustância, pra não ficá fofo. Ali quando ela nasce, ela já nasce com sustância (...)/ Ali o
senhor cava com a <cova>, aí cortou um pedacinho da maniva ].ver pedaços da mandioca,
astra.
crueira s.f. Sobras da massa da mandioca depois de ela ter sido peneirada, podem ser
reaproveitadas para o consumo humano (grolado). Em algumas localidades, serve para o
alimento de animais. v. carueira; ver grolado
curussal s.f. Espécie de mandioca com a casca exterior grossa, a casca inferior vermelha e
massa amarela. [Aí tem <A curussal>...ela tem a entrecasca grossa com entrecasco vermelho
e a massa amarelinha]
dicutada adj. Relativo à mandioca que é separada do caule logo após ter sido retirada do
fundo da terra. (Essa operação de separação, geralmente, é realizada com um facão ou um
patacho.).
emprenseiro s.m. Pessoa que coloca a massa da mandioca para ser prensada. .[aí vem o
forneiro já pra torrá e <o imprensero> pra imprensar ].
empaneirar v.t. Colocar a farinha dentro do paneiro. [INQ – E o que fazer depois que ela
está fria/ INF – Aí você coloca ou no saco ou então <empanera>] .ver paneiro
engana ladrão s.m. Espécie de planta com o caule amarelo e com os ramos parecidos com os
da mandioca. (Geralmente, na roça, é confundida com a macaxeira e com a mandioca.). [e a
<engana ladrão> é assim, amarelinha, que ela é tipo macaxeira né? Cê vê e diz que é
macaxeira e não é, aí a pessoa vai e se engana, aí chamo <engana ladrão> ]. ver maniva
enxadeco s. m. Espécie de enxada de pequeno porte, com o cabo curto e a pá larga, muito
utilizada para arrancar a mandioca do solo.
farinha. s.f. Pó em que se transforma a mandioca, uma vez ralada, prensada e torrada.
farinha branca sin. nom. f. Espécie de farinha de cor branca, com grãos finos, feita de
mandioca, sem que esta seja colocada para pubar. [Aqui a gente faz só duas farinha, aquela
ali de puba e a <farinha branca> (...) <farinha branca> é a mandioca sem botá n’água ] v
farinha seca; farinha de guerra; ver pubar
farinha de puba s.f; v. Espécie de farinha de cor amarela e com os grãos grossos, feita de
mandioca que foi posta para pubar. [É, a gente faz <farinha de puba>, que bota ela dentro
d´água, descasca e bota dentro d´água, com três, quatro dia, já tá no ponto de tirá / A
<(farinha) de puba> tem o gosto diferente, né? Fica assim, caroçudinha, toda num jeitinho
só] v farinha d´água; ver pubar.
farinhá v.t. Ato de produzir a farinha. [INQ – como vocês chamam a época da produção da
farinha? INF – nois aqui chama: fulano tá <farinhando>]
farinhada. s.f. Fabrico da farinha de mandioca. A farinhada começa, de fato, com a colheita
da mandioca e se estende até a produção da farinha; geralmente, dura três ou quatro meses. [O
mês é julho, que é o mês, setembro, junho, julho, agosto, setembro, os três mês a gente mexe
<a farinhada>]
farinheiro adj. Indivíduo que é responsável por mexer a massa de mandioca que é levada ao
forno para fazer a farinha. v. forneiro, farinheiro
forneiro. s.m. Pessoa que é responsável por mexer a farinha no forno e preparar a farinha. [e
o homem vai relá, aí a mulher vai lavá ali no pano, tirá a tapioca, aí vem o <fornero> já pra
torrá]. v mexedor, torrador, mexedor de forno
forno s.m. 1. Construção circular feita de barro ou de tijolo, com uma só abertura, sobre a
qual se assenta uma chapa de metal, também circular, em forma de tacho, usada para cozer e
torrar a massa da mandioca. 2. A própria chapa de metal. [Depois que sai aqueles caroço, a
gente seca no <forno>, quando a gente vai butá a farinha, a gente bota dentro do
<forno>].ver massa
fornada. s.f. Quantidade de farinha que é preparada de uma só vez, no forno. [A <fornada>
de farinha pra tirá é duas hora, três hora]. v tachada; ver forno.
forrageira s.f. Máquina usada para triturar a sobra da massa de mandioca, conhecida como
caruera ou cruera, que não passa pela peneira. [INF – Pra secá, aí depois que ela secá, a
gente joga na <forragera> torna a fazer outra farinha / INQ – O que é que é forrageira que
o senhor falou? / INF – Forragera, a gente coloca assim, o pasto pra ela comê né, ela vai
rodando, e a gente coloca aqui. Forragera é tipo o caititu mermo, até a massa / INQ – Pra
quebrar o.../ INF – É, pra quebrá o grão. Até a massa a gente penera nele tamém, na
forragera].v forrageira.
gamela s.f. Vasilha de madeira com a forma retangular, usada para colocar a farinha depois
de torrada, para esfriar. [/ INQ – Em que recipiente a farinha é colocada, essa massa depois
de torrada para esfriar?/ INF – Então, bota no... no... na <gamela>, bota ela pra esfriá,
depois ela vai pro saco].
grolado s.m. Prato comum na cozinha patoense e tuntuense, feito com as sobras da mandioca
depois de triturada no caititu, a que se adiciona azeite de coco babaçu e sal; pode também ser
preparado com açúcar. [grolado é a massa cozida, ela fica bem cozida, e ela fez na panela, e
temperado, bota o azeite de coco, bota sal, pra ficá bem gostoso <o grolado>, aí de vez em
quando aparece um grolado quando tem quem faça]. v mingau da carueira; ver crueira.
leite da mandioca sin. nom. m. Líquido extraído da raiz da mandioca quando ela é cortada.
[ai cê corta aqui, aí o <leite da mandioca> sai assim oh]
lêla. s.f. Pés de mandioca plantados em fila. v lastro, fileira de mandioca, lera, linha.
ligeiro. s.m. Roça de mandioca que não é consorciada, em que os pés crescem mais
rapidamente. ver mandioca livre, roça
lorêdo s.m. Espécie de mandioca com a casca externa grossa e a massa amarela. .[ <A
loredo>...<a lorêdo> tem a casca grossa e o entecasco amarelo e a... a massa amarela, aí já
tem diferença, né?].ver casca, entrecasca, massa.
macau s.m. Antigo nome dado ao eixo da roda. [ (...)eles sevavam a mandioca numa rodona
que os home empurravam que tinha um eixo que eles chamavo de <Macau>. Aí, esse
<Macau> é tipo um eixo central]
má de tronco sin. nom. m. Praga que acomete o pé da mandioca e que faz com que a raiz
apodreça. [ tem várias praga que pega a maniva, como <má de tronco>, má de tronco é que
apodrece a maniva no fundo. Às veze o pé tá verdinho, mas quando cê puxa, não tem mais
nenhuma mandioca no pé(...].ver raiz.
mandiocal. s.m. Roça onde é plantado um grande número de pés de mandioca. v. mandiucá;
roça de mandioca.
mandioca apurada sin. nom. f. Espécie de mandioca não fibrosa e que rende uma grande
quantidade de massa. [(...)esse tempo agora a mandioca tá bem <apurada>, <apurada> que
a gente chama, é que tá rendendo, né]
mandioca livre s.f. Roça de mandioca que não é consorciada. [/INQ – Tem algum nome que,
por exemplo, quando a mandioca é plantada sozinha?/ INF –< Livre>/ INQ – Chama-se<
mandioca livre?> Então se eu falar para alguém assim: “ Ah! fulano tem uma plantação de
<mandioca livre>, aí já sabe o que é?/ INF – Por que ela não é consorciada]. ver. Roça
consorciada.
mandioca São Vicente sin. nom. m. Espécie de mandioca que produz uma massa amarela
que, quando escaldada, fica cinza. [ (...) farinha d ´água se trouxé só <são vicente>, ela não
presta. A <são vicente>, ela é amarela, amarela que é uma beleza,(...) mas quando torra, ela
fica cinzenta].
mandioca de cavalo sin. nom. m. Espécie de mandioca que tem a batata muito clara. [ você
pode prantá uma mandioca dessa, que chamo <mandioca de cavalo> que ela é alvinha, a
macaxera dela é alvinha]. ver batata.
mandioca solteira sin. nom. f. Mandioca que é consorciada apenas com milho.
manipueira s.f. 1. Líquido que escorre do tipiti quando a massa é prensada. Em algumas
localidades, é aproveitada e serve para fazer molho de pimenta. 2. Líquido de que se extrai a
tapioca. [INQ – E esse líquido que sai da massa que foi prensada/ INF – <Manipueira>/
INQ – Ah então manipeuira é essa água que sai? INF – que sai. É, aquela água ali, se bicho
bebe mata (INQ – Como é que vocês chamam esse líquido que sai do Tipiti? / INF -
<Tucupi> / INQ – Mas vocês aproveitam para alguma coisa? / Não, tucupim, só da massa
seca porque sai a tapioca (...) e o da massa d´água, esse, não tem aproveito nenhum)].v
tucupim, tucupi.
maniva. s.f. 1. Planta da raiz da mandioca; 2. Designa o tronco do pé de mandioca; 3. A folha
do pé de mandioca. [aqui, a gente chama de maniva, maniva, as ramas /)(...) é que tudo entra
na maniva, é tudo é maniva, essa linguagem de rama, a gente tem pouco tempo que descobriu
que era rama / A maniva que a gente chama é só o tronco (inint) na hora de prantá a gente
corta assim os pedacinho]v. astra, rama.
massa s.f . Produto resultante da ralação da mandioca no caititu, que serve para a fabricação
da farinha. aí depois do caititu passa a <massa> de novo, quando enxuga a <massa> na
prensa, a gente coloca de novo no banco do caititu, torna ralá ela] ver caititu
maria dos anjos s.f. Espécie de mandioca com folhagem abundante, caule e raiz escuros.
[INQ – E essa outra como é que é, a <Maria dos Anjos?> / INF – essa outra ela dá um pouco
maior, as ramas dela e a folha também mais larga, e essa substância que tem nela, não é tão
forte como essas outras / Maria dos Anjos que é preta...quase preta].
maria viúva s.f Espécie de mandioca com caule de pequeno porte e com raiz amarela. [
<Maria viúva> é uma mandioca baixinha e amarelinha]
moleque mané s.m. Espécie de mandioca com o caule e a raiz amarelos. [INQ – E essa aí,
como é que a gente identifica a <moleque Mané?> / INF – É porque a madeira dela é
amarela (...) a madeira dela é dessa cô aqui. Da cô que é a madeira é a raiz]
olho. s.f. Pequenos botões no caule da mandioca, de onde nascem os ramos. [/INQ – Então
essa parte que o senhor tá chamando <olho>/ INF – De onde ela sai pra , né? Que ela tem
uns bitoquinhos assim na maniva, na madeira, que é o pezinho, do pezinho daqueles
birgolinho que sai o olhim pra nascer]. v. bitoquinho, birgolinho, olhín.
ouro do brasil s.f. Espécie de mandioca com a raiz, folhas e tronco amarelos. (A farinha
produzida com essa espécie de mandioca é bastante amarela). [ <A ouro do Brasil> é toda
amarelinha, não pode botá nem tinta, porque todas as outras carece de botá tinta, e essa
não].
patacho s.m. Facão com lâmina quadrada, muito utilizado na colheita da mandioca para
separar a raiz do caule.
pacifica pato s.f. Espécie de mandioca com a casca interna e a massa amarelas. [a pacífica
pato tem a casca fina, o entecasco amarelo, e a massa amarela também...].
paneiro s.m Cesto fechado com folhas de árvores nativas e corda, onde a farinha é guardada
por um longo tempo. [ aí já se forma <panero>. Se ela ir pro cofo com folha e esforradinha
no jeito, aí se chama panero>].v. cofo.
pano s.m. Pedaços de pano sobre uma armação de pau onde se lava e retira a tapioca do
tucupi. . [É, os homem arranca, bota dentro de casa, a mulher vai descascá, e o homem vai
relá, aí a mulher vai lavá ali no <pano>, tirá a tapioca,]. v redinha.
pandu. s.m. Mistura de farinha com café puro ou com leite. [ Eu chamo tiquara, <pandu>,
eles chamo de todo jeito.]. v tiquara.
pau do sarilho s.m. Parafuso grande de madeira ou metal, na parte superior da prensa.
Quando enroscado, empurra a prancha contra a parte inferior da prensa, para que, dessa
forma, a massa possa ser prensada. ver prancha
parafuso da prensa. Sin. nom. m. Parafuso grande de madeira ou metal, na parte superior da
prensa. Quando enroscado, empurra a prancha ao encontro da parte inferior da prensa, para
que dessa forma, a massa possa ser prensada. ver prancha
pedaço da maniva. sint. Nom. m. Pedaço do tronco da mandioca que é separado para ser
plantado na cova, para que haja um novo pé de mandioca. v pedacinho da mandioca. v
pedacinho da maniva, semente, paiavô, rebolo
pele. s.f. Casca externa da raiz da mandioca que envolve a casca interna. [É só a pelinha, aí
depois debaxo daquela <pele> é a casca, cê descasca, aí que toca na raiz mesmo, no
branquinho dela].v pelinha
peba s.m. Espécie pequena de tatu praga nas roças de mandioca. [Lá pra nois é o <peba> /
INQ – Peba? O que é o peba? / INF – É uma cacinha dentro do mato (...) É, come sempre a
batata].
plantador de mandioca. s.m. m. Agricultor que cultiva somente a mandioca.
peneira s.m. Instrumento de forma retangular ou circular, constituído por uma pequena
armação de madeira, com uma rede metálica no fundo, que serve para separar a farinha fina
da grossa. [Quando a gente tá torrando ela, quando ela começa chiá no forno, enxugá,
andando assim no forno, né? A gente vai penerá ela, a gente penera ela na <peneira> até ela
ficá bem fininha até ela ficá igual a farinha, ficá igual a farinha.]v. urupemba, urupema.
prensa s.f. Instrumento metálico ou de madeira formado por duas tábuas, ou pranchas
metálicas, uma superior e a outra inferior que, unidas, espremem a massa até sair a
manipueira ou tipiti. É por onde a massa da mandioca passa antes de ser torrada. [<Prensa>,
aqui é <prensa>, é manual a nossa. A gente bota uma camada de massa, aí, bota uma Grade,
tela de ripa em um. Aí bota outra camada até encher, aí baxa aqui, ela tem um parafuso, aí
vai apertando até a água saindo]. ver manipueira, tipiti
prancha s.f. Tábua superior da prensa. É empurrada pelo parafuso para baixo, para que,
assim, a massa possa ser prensada na prensa.
pubeiro s.m. 1. Local onde a mandioca é posta para amolecer. Pode ser em uma vasilha ou
em um rio. 2. no norte do Maranhão é o mesmo que casa de farinha. ver casa de farinha
pubá. v.t. Processo de amolecimento da mandioca que acontece, geralmente, dentro de um
reservatório de água ou dentro de um rio, e que leva de dois a três dias. A partir desse
processo, a farinha é diferenciada em puba ou branca. [<Pubá>, é o seguinte, ela deixa
aquele estado que ela veio, ela é dura, dura, normal, aí ela fica apodrecida, ela sai daquele
estado]. v. pubar
pução. s.m Local, em um rio, em que a mandioca é posta para pubar. [/ INQ – E quem não faz
o pubeiro, faz o quê? / INF – A gente bota no igarapé direto, aí a gente chama de <pução>].
ver pubar
rabo do tipiti s.m. Parte inferior do tipiti, constituída por duas cordas, que são amarradas ao
pé do sarilho para que o tipiti possa ser esticado e, assim, a massa possa ser prensada. [
porque o sarilho, ele é completo em cima e em baixo. Em cima, ele tem uma parte que tem
que botá a cabeça do tipiti e em baixo, o< rabo do tipiti>.].ver tipiti
roça s.f. Local em que são plantados os pés de mandioca.
roço s.m Limpeza feita na plantação de mandioca durante o crescimento da planta. [INQ – O
que é dar o roço?/ INF – Pegar a roçadeira e roçar o mato, pra quando dá mês de junho cê
rançá, rança no limpo].
roça no toco. s.f. Roça tratada sem auxílio de máquinas, tratada com materiais primários
(facão, enxada e patacho) e pela própria força do agricultor. [A <roça no toco> é quando não
tem mecanização, a gente mete no braço, tudo é feito na força humana mesmo] . v. terra de
toco.
roça consorciada sin. nom. f. Plantação de mandioca feita com outras culturas.
roçada s.f. Quantidade de mandioca colhida em uma farinhada. ver farinhada
roda s.f. Antiga armação de madeira com um eixo com pequenas serras, movimentada pela
força ,que serve para ralar a mandioca. É encontrada nos pubeiros em que não há energia ou
com agricultores que não têm condição de ter um caititu. ver caititu
rodo s.m Utensílio de madeira utilizado pelo farinheiro para mexer a farinha no forno. ver
farinheiro, forno
sarilho. s.m. Utensílio de madeira constituído por dois pedaços de pau atravessados onde são
postos a boca e o rabo do tipiti para que este possa ser esticado e, assim, espremer a massa da
mandioca para sair a manipueira. ver boca do tipiti, rabo do tipiti, manipueira.
semente s.m. Pedaço do caule da mandioca que é utilizado para replantio.(Termo técnico que
foi incorporado pelos plantadores de mandioca.). v pedacinho da maniva; ver maniva.
sová v.t. Ato de golpear com a mão o tubérculo da mandioca até formar uma massa. [ <sová>
a mandioca é a gente batê nela até ela ficá macia, como uma massa de ´pão. INQ – Com a
mão mesmo, INF – com a mão mesmo].
suquiá v.t. Fazer brotar a mandioca pela segunda vez.. [Fica só a madeira, maniva, depois
ela torna a suquiá, ela brota de novo]. ver maniva.
talo da maniva sin. nom. m. Galho da mandioca. ver caititu, manupueira.
tapioca s.f. Farinha branca e fina, resultado da decantação da manipueira, após passar pelo
caititu ou pela prensa. Muito utilizada na cozinha, é matéria-prima para mingaus, doces e
bolos, principalmente o beiju. . [Da <tapioca> se faz o bolo, a <tapioca> faz o beju, que no
Ceará chama é a tapioquinha mesmo, aqui é o beju]. ver caititu, manupueira.
tatajuba s.f. Espécie de mandioca com a casca interior fina, colhida um ano após o plantio.
[Tem uma tal de <tatajuba> (...) a amarelinha tem a pele mais fina, ela e a <tatajuba>, só
que a <tatajuba>, só é boa quando ela tá com um ano, topadinho]. ver pele.
terra lelada. s.f. Roça de mandioca em que os pés estão plantados em fila. ver. lêla
tipiti. Cesto cilíndrico longo e fino, feito de palha, com encaixes nas duas extremidades que
servem para apoiá-lo no sarilho. Possui um orifício na extremidade superior, por onde a massa
da mandioca é posta para ser prensada, para extrair a manipueira. v. tapiti; ver sarilho
três ganchos s.f. Espécie de mandioca com batata comprida, fina e branca.
tucupi. s.m. 1. Líquido que escorre do tipiti quando a massa é prensada, em algumas
localidades é inutilizável, porém em outras, serve para fazer molho de pimenta. 2. Líquido de
que se extrai a tapioca. v manipueira
ubá s.m. vasilha de madeira onde a farinha é posta para esfriar quando não tem o coxo. ver
coxo
viana s. f. Espécie de mandioca com o caule de pequeno porte, menos arborizado, e com a
raiz amarelada, muito comum no norte do Maranhão. [ Viana, tem uma chamada Viana, ela
também é amarela, só que essa, ela cresce só uma vara assim, ela não faz galho]
Expressões do universo da mandioca no maranhão
bucho cheio, pau no rabo - Essa expressão está ligada ao momento da prensagem da massa
de mandioca. O tipiti, no momento que é posto no sarilho para prensar, tem a parte do meio
(bucho do tipiti) cheia de massa e sua parte inferior (rabo do tipiti) atravessada por um pedaço
de madeira, conhecido como pé do sarilho. O ato de por o rabo do tipiti no pé do sarilho fez
nascer essa expressão que foi coletada no município de Pinheiro, na baixada maranhense. ver
tipiti, sarilho, massa, bucho do tipiti, rabo do tipiti.
quando não tem farinha, crueira serve – Essa expressão é uma adaptação da popular “quem
não tem cão, caça com rato”. Ela foi coletada nos municípios de Tuntum e São João dos
Patos. ver crueira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como a língua é um poderoso instrumento comunicativo, ela também é um
importante depósito de peculiaridades de um povo, pois por meio dela é que o homem vai
registrando todo seu universo, como nos afirmam Biderman (2004) e Sapir (1956). Conhecer
o universo linguístico da mandioca no Maranhão é, sem dúvida, conhecer parte do universo
sócio-histórico-cultural do Estado, bastante peculiar, visto que seus usuários, ou seja, seus
construtores são homens trabalhadores que, na grande maioria das vezes, sofrem menor
influência dos falares de outras regiões, vindos por meio da escola, da televisão ou do rádio.
Dessa forma, acabam preservando elementos linguísticos e culturais próprios do falar
maranhense. Esperamos que este trabalho possa servir como um instrumento para muitas
outras pesquisas sobre o português falado no Maranhão, bem como sobre a própria cultura
maranhense, e ainda para a comunicação entre aqueles que querem contribuir para a
preservação do meio ambiente.
REFERÊNCIAS
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Negri; ALVES, Ieda Maria. As ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia, Terminologia.
v. 3. Campo Grande: EDUFMS, 2007.
BARROS, Lídia Almeida. Curso básico de terminologia. São Paulo: EDUSP, 2004.
BASILIO, Margarida. Formação e classe de palavras no português brasileiro. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2006.
BIDERMAN, Maria Tereza. A estrutura do léxico e a organização do conhecimento. Letras
de Hoje, Porto Alegre, n. 70, p, 81-96, dez. 1987.
CABRÉ, Maria Teresa. A terminologia hoje: concepções, tendências e aplicações. Tradução
de: Thaís Araújo. In. KRIEGER, Maria da Graça; ARAUJO, Luzia (Org). A terminologia em
foco. Porto Alegre: Instituto de Letras/ UFRGS: 2004, p. 9-30.
______. Uma nueva teoría de la terminología: de la denominación a la comunicación. In
FERREIRA, Margarita Maria Correia. (Org). Actas del VI Simpósio Ibero–americano de
Terminología. Havana: Colibri/ILTEC, 1998, p. 41 – 60.
CUENCA, Manuel Alberto Gutiérrez; MANDARINO, Diego Costa. Aspectos
agroeconômicos da cultura da mandioca: características e evolução da cultura no estado do
Maranhão entre 1990 e 2004. Aracaju: EMBRAPA. Tabuleiros Costeiros, 2006.
ISQUERDO, Aparecida Negri; KRIEGER, Maria da Graça. (Orgs.). As ciências do léxico:
lexicologia, lexicografia, terminologia. Campo Grande: EDUFMS, 2004, v. 2.
IBGE – Maranhão – Mandioca – Quantidade Produzida. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/comparamun/comparaphp?codmun=210170&coduf=21...
>. Acesso em: 22 maio 2010.