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Tratamento Fisioterapêutico da entorse de tornozelo em inversão
Jussara Karoline de Souza Ferreira
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Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-Graduação em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapias Manuais – Faculdade Ávila
Resumo
O presente estudo com o tema “Tratamento fisioterapêutico da entorse de tornozelo em
inversão” trata-se de um artigo de conclusão da Pós-graduação em Ortopedia e
Traumatologia com Ênfase em Terapias Manuais. As entorses de tornozelo estão entre as
lesões mais comuns do sistema musculoesquelético e também sendo uma das lesões mais
encontradas na medicina desportiva, a entorse geralmente é ocorrida por um movimento de
inversão (quando o pé vai para fora) onde resulta no acometimento dos ligamentos laterais
do tornozelo. Sua classificação pode ser dada de acordo com o mecanismo de lesão. Este
artigo fornece uma revisão bibliográfica sobre entorse de tornozelo em inversão
fundamentado nos conhecimentos de anatomia, biomecânica, fisiopatologia e semiologia,
podendo assim formular os objetivos para um melhor tratamento fisioterapêutico, pois sem
estes objetivos, a fundamentação do tratamento é nula.
Palavras-chave: Entorse; Tornozelo; Tratamento fisioterapêutico.
1. Introdução
Segundo Sacco (2004), entorse, do latim exprimere, significa pressionar para fora, onde
ocorre uma lesão articular, na qual algumas fibras do ligamento que sustenta tal articulação
sofrem rupturas, porém a continuidade do ligamento pode permanecer intacta, sem
deslocamento ou fratura. A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas agudas
mais prevalentes na população mundial, onde dados epidemiológicos apontam uma incidência
de 1:10.000 indivíduos/dia (Baroni, 2010; Meurer, 2010). O compartimento lateral do
tornozelo é o mais acometido, com incidência de 80 a 90% das lesões, onde o mecanismo de
trauma se dá pela flexão plantar e inversão (Meurer, 2010; Pacheco, 2005).
De acordo com a SBOT – Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (2008), sob o
Projeto Diretrizes de Entorse de Tornozelo, esta é uma lesão definida como de movimento
violento, com estiramento ou ruptura dos ligamentos de uma articulação a qual pode evoluir
para vários graus de limitação funcional.
Imoto (2009), traduziu e validou o questionário FAOS – Foot and Ankle Outcome Score para
língua portuguesa, o qual foi desenvolvido para avaliar a opinião dos pacientes em relação à
problemas relacionados a tornozelo e pé, onde adota uma pontuação de 0 a 100 pontos (vide
anexo).
Conforme Moreira et al. (2008), o reconhecimento do mecanismo lesional e dos fatores de
risco são determinantes para o esclarecimento diagnóstico, tratamento apropriado e para
implementação de medidas preventivas, sabendo-se que o complexo ligamentar lateral é o
mais frequentemente atingido.
O diagnóstico apropriado e o tratamento de disfunções do tornozelo, frequentemente
restauram o movimento indolor. O tratamento dessas disfunções influenciam fortemente as
articulações restantes da extremidade inferior e do tronco durante o ciclo da marcha.
(Greenman, 2001)
1 Pós-graduando em Ortopedia e traumatologia com ênfase em terapias manuais
2 Orientador: Mestranda em aspectos bioéticos e jurídicos da saúde, na Universidade do Museu social Argentino, Buenos
Aires. Especialista em metodologia do ensino superior pela Universidade Federal do Amazonas.
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2. Revisão Anatômica
Hamill (2008) define o pé e o tornozelo como estruturas anatômicas complexas constituídas
de vinte e seis ossos irregularmente moldados, trinta articulações sinoviais, mais de cem
ligamentos e trinta músculos agindo sobre o segmento.
Andrews (2000), acrescenta que o pé possui três componentes: o retropé, o mediopé e o
antepé. No retropé fica situada a articulação subtalar, entre os ossos tálus e calcâneo. Já no
mediopé, estão situados os ossos cubóide, navicular e os três cuneiformes. Por último, no
antepé, esse é formado pelos cinco ossos metatársicos e as quatorze falanges.
O ligamento talofibular anterior (Figura 1) é o principal limitador da inversão, sendo o que se
lesiona mais frequentemente. Já o ligamento talofibular posterior (Figura 2) limita o
deslocamento posterior do tálus em relação à fíbula. O ligamento calcâneofibular (Figura 3),
garante a estabilidade lateral do tornozelo (Sizínio, 2009)
Figura 1 - Ligamento Talofibular Anterior
Fonte: http://www.christchurchosteopathy.co.uk/lat_ankle_ligs.jpg
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Figura 2 - Ligamento Talofibular Posterior
Fonte: http://home.comcast.net/~wnor/posterioranklejoint.jpg
Figura 3 - Ligamento Calcâneofibular
Fonte: http://home.comcast.net/~wnor/latanklejoint.jpg
Existem três compartimentos musculares situados na perna que agem diretamente sobre o pé e
o tornozelo: os compartimentos anterior, lateral e posterior. (Russo, 2003). A musculatura do
compartimento anterior é composta pelos músculos: Tibial Anterior, Extensor longo dos
dedos, Extensor longo do hálux e Fibular terceiro. No compartimento lateral da perna, os
músculos pertinentes são: Fibular longo e Fibular curto. Já o compartimento posterior é
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composto pelos músculos: Gastrocnêmio e Sóleo na sua camada mais superficial, formando o
Tríceps Sural e Plantar Delgado; na camada mais profunda estão os músculos Tibial Posterior,
Flexor longo dos dedos e Flexor longo do hálux (Dangelo & Fattini, 2007).
A inervação muscular do complexo tornozelo-pé é feita pelo plexo lombo-sacro de onde
derivam os nervos Fibular profundo, que inerva o compartimento anterior; o nervo Fibular
superficial, que inerva o compartimento lateral e o nervo Tibial, responsável pela inervação
do compartimento muscular posterior. (Tortora, 2002; Dangelo & Fattini, 2007).
O pé é dividido em duas metades, uma medial e outra lateral, no plano sagital. Já no plano
frontal, estão as partes anterior e posterior do pé e num corte transverso, divide-se o pé em
partes superior e inferior (Cohen & Abdalla, 2002). Dessa maneira, a movimentação do pé se
dá principalmente no plano sagital, através dos movimentos de flexão plantar e dorsiflexão.
No plano coronal, ocorrem os movimentos de varo e valgo e no plano axial, os movimentos
de rotação interna e externa (Lasmar, 2002). A supinação e a pronoção são movimentos
compostos nos três planos, onde a supinação é uma combinação de adução, inversão e flexão,
e a pronação é composta de abdução, eversão e extensão do pé (Cohen & Abdalla, 2002).
A biomecânica do tornozelo é funcional quando esta é capaz de se adaptar, absorver choque,
converter o toque ao solo e servir como braço rígido, durante o ciclo da marcha. Três grandes
articulações fornecem apoio biomecânico para a marcha funcional, são elas: Talocrural,
Subtalar e Transversa do tarso, também referida como articulação de Chopart (Gould, 1993).
3. Biomecânica do Tornozelo
3.1 Articulação Tíbiofibular Superior e Inferior
Através de movimentos acessórios, essa articulação proporciona um aumento na amplitude de
movimento articular do tornozelo. Durante a flexão plantar, a fíbula desliza inferiormente,
enquanto o maléolo lateral roda medialmente, aproximando os maléolos. Já na dorsiflexão, os
movimentos acessórios opostos, tornam possível uma pequena separação dos maléolos e
acomodam a porção mais larga do tálus anteriomente. A cabeça da fíbula desliza distal e
posteriormente com a supinação e proximal e anteriormente com a pronação (Andrews, 2000
Hertling e Kessler, 2005; Kapandji, 2000).
Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) mostram que a fíbula e a tíbia estão firmemente conectadas
nas articulações tibiofibulares superior e inferior pela membrana interóssea, classificada como
sindesmose. Na articulação tibiofibular superior, o movimento é restringido pela fixação do
tendão do músculo bíceps da coxa, o ligamento colateral lateral, o tendão do músculo
poplíteo, os ligamentos tibiofibulares e a fáscia. Os maléolos são firmemente unidos pelos
ligamentos anterior e posterior da articulação tibiofibular distal.
Kapandi (2000) relata que essas articulações estão mecanicamente ligadas à articulação
tíbiotársica e que junto com Hertling e Kessler (2005), a articulação tibiofibular inferior não
entra em contato diretamente com os ossos dos pés e perna, mas que permanecem separados
pelo espaço de tecido célulo-gorduroso visível na radiografia convencional.
3.2 Articulação Talocrural ou Tibiotársica
Andrews (2000) afirma articulação sinovial dotada de um encaixe (pinça bimaleolar).
Ligamentos colaterais de apoio são estruturalmente vigorosos. A superfície côncava do
encaixe é constituída pelo assoalho tibial disconvexa tal e pelos maléolos. Dentro do encaixe
penetra a superfície da cúpula talar.
O apoio ligamentar medial da articulação se dá pelo ligamento deltóide e o apoio ligamentar
lateral se dá pelos ligamentos tibiofibular anterior, tibiofibular posterior e calcâneofibular. O
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maléolo lateral é localizado distal e posteriormente em relação ao medial. Com isso, o eixo de
movimento desta articulação é deslocado do plano póstero-lateral inferior para o plano antero-
medial superior. Graças à essa orientação obliqua os movimentos triplanares são permitidos.
Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) relatam um ângulo de torção tibial de 10 a 15 graus e a
amplitude de movimento para dorsiflexao é de 30 graus e de flexão plantar de
aproximadamente 56 graus. Hamill (2008) completa mostrando que a amplitude de
movimento para dorsiflexão fica limitada pelo contato ósseo entre o colo do tálus e a tíbia, a
cápsula, os ligamentos e os músculos flexores plantares. Já a flexão plantar tem sua amplitude
de movimento limitade pelo tálus e tíbia, ligamentos, cápsula articular e músculos
dorsiflexores. Relata também que para uma deambulação eficiente são necessários
aproximadamente 10 graus de dorsiflexão e 20 a 25 graus de flexão plantar.
3.3 Articulação Subtalar
É uma articulação que se divide em vários planos e permite movimentos simultâneos em
sentidos diferentes. Um sulco no tálus e um correspondente no calcâneo formam o seio do
tarso. Os movimentos principais dessa articulação são de inversão e eversão, onde o calcâneo
realiza a maior parte do movimento, uma vez que o tálus está restrito na pinça bimaleolar
(Caillet, 1989).
Esta articulação tem um eixo no qual o calcâneo roda em torno do talus numa angulação de 45
graus em relação ao solo e 16 graus medialmente a uma linha traçada através do segundo
metatarso.
Em torno do eixo longitudinal ocorre a inversão, que consiste na elevação da borda medial e
depressão da borda lateral do pé. Neste eixo ocorre também o movimento oposto, a eversão.
Ocorre também abdução com rotação externa sobre um eixo o vertical através da tíbia e
adução com rotação interna no sentido oposto. Já no eixo transverso ocorrem a dorsiflexão e
flexão plantar, que é semelhante, porém menor se comparando ao movimento do tálus sobre a
tíbia (Caillet, 1989).
A combinação de inversão, adução e flexão plantar resulta no movimento chamado supinação,
enquanto que nos movimentos combinados de eversão, abdução e dorsiflexão ocorre a
pronação.
O suporte ligamentar da articulação da articulação subtalar é feito principalmente pelos
ligamentos talocalcâneo interósseo e cervical. As fibras do ligamento talocalcâneo interósseo
tornam-se mais tensas na pronação e as fibras do ligamento cervical, na supinação (Malone,
1997).
O grau de eversão é limitado por um pequeno processo ósseo localizado na face lateral
inferior do corpo do tálus que pressiona sobre um processo semelhante no calcâneo ajdacente.
Malone (1997) relata que a amplitude total de movimento da articulação subtalar se encontra
entre 20 e 62 graus. Na maioria das vezes, a supinação é aproximadamente duas vezes o valor
da pronação.
3. Mecanismo de Lesão
Prentice (2002) afirma que os entorses de tornozelo são causados por inversão ou eversão
com movimentos combinados de flexão plantar ou dorsiflexão e podem ser classificadas de
acordo com a localização ou o mecanismo de lesão. Em razão da anatomia óssea e ligamentar,
os entorses em eversão são muito menos comuns do que os entorses em 80 a 90% das vezes,
onde há supinação excessiva do retropé, combinada com rotação externa da tíbia no início do
contato do pé com o solo, durante a marcha, salto ou corrida (Figura 4).
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Figura 4 - Mecanismo de Lesão em Inversão
Fonte: http://home.comcast.net/~wnor/latanklejoint.jpg
O mecanismo de lesão que ocorre na inversão se dá em grande velocidade, onde na maioria
das vezes o músculo não consegue reagir a tempo de estabilizar a articulação, impondo dessa
maneira, estresse ao complexo ligamentar lateral. Nesse mecanismo lesional, os músculos
fibular curto e longo são estirados levando a alteração da capacidade proprioceptiva e
instabilidade articular (Meurer, 2010).
4. Classificação
Sizínio (2009) classifica as lesões de entorse de tornozelo em três graus, conforme a
gravidade. A tabela 1 abaixo mostra essa classificação:
Gravidade Ligamentos lesionados
Grau I ou leve Lesão parcial do ligamento talofibular anterior
Grau II ou moderada Lesão completa do ligamento talofibular anterior com
lesão parcial do ligamento calcâneofibular
Grau III ou grave
Lesão completa dos ligamentos talofibular anterior e
calcâneofibular podendo o ligamento talofibular
posterior estar envolvido
Tabela 1 - Classificação das entorses de tornozelo
5. Semiologia do Tornozelo
Segundo Cipriano (2005), a avaliação do pacientes deve seguir os seguintes estágios: a
história da patologia, inspeção, amplitude de movimento e testes especiais físicos, ortopédicos
e neurológicos. A história da patologia deve concentra-se na queixa principal, história
pregressa, familiar, ocupacional e social.
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Na inspeção e palpação deve-se observar o aspecto geral e funcional do paciente, observando
o tipo corporal, desvios posturais, marcha, defesa muscular, movimentos compensatórios e
uso de órteses. Deve-se observar a característica da pele, do tecido mole subcutâneo e da
estrutura óssea (Cipriano, 2005).
De acordo com Robbins, Cotran e Kumar (2000), após a lesão ocorre a inflamação, com
apresentação dos sinais clássicos de dor, rubor, calor, edema, o associada à perda da função
do tornozelo e pé.
A fim de avaliar o grau de movimento que a articulação lesionada é capaz de realizar, deve-se
fazer a análise goniométrica das articulações envolvidas, onde não só as estruturas
ligamentares, como também as condições das fibras musculares e do tecido mole e ósseo têm
de ser avaliadas. Essas avaliações são realizadas em três níveis funcionais: movimentos
passivos, ativos e ativos-resistidos (Cipriano, 2005).
6. Testes Ortopédicos
Segundo Brown (2001), no diagnóstico de entorse em inversão do tornozelo, ao exame físico,
o paciente terá dor sobre o ligamento afetado. A partir dos testes de gaveta anterior, inclinação
talar e radiologia convencional, serão evidenciados quais ligamentos foram lesados, seja essa
uma lesão parcial ou completa desses ligamentos.
O teste de gaveta anterior (Figura 5) é relatado por Cipriano (2005) como um teste para
diagnosticar ruptura do ligamento talofibular anterior quando o tornozelo é estabilizado e a
tíbia é deslocada posteriormente. Neste teste, ocorrerá um espaçamento secundário ao trauma
quando a tíbia é deslocada. O teste da gaveta posterior é realizado de forma inversa,
estabilizando a face anterior do pé e deslocando a tíbia anteriormente, indicando uma lesão do
ligamento talofibular posterior.
Figura 5 - Teste da Gaveta Anterior
Fonte: http://home.comcast.net/~wnor/latanklejoint.jpg
O teste de inclinação talar (Figura 6) verifica a integridade do ligamento calcaneofibular e o
ligamento talofibular anterior. Nesse teste, ha uma tentativa de inverter o tálus sobre a tíbia.
Em indivíduos normais, raramente apresentam uma inclinação talar superior a 5 graus.Esse
teste é realizando em conjunto com a radiologia convencional associada à inclinação talar.
(Brown, 2001; Cipriano, 2005). Hamill (2008) acrescenta que a inclinação talar superior a 5
graus é indicativo de dano ligamentar lateralmente. O teste de inclinação lateral deve ser
sempre realizado bilateralmente, afim de comparar o lado são com o lado lesionado.
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Figura 6 - Teste de Inclinação Talar - Radiografia indicando inclinação talar de 20 graus.
Fonte: http://www.acta-ortho.gr/v52t2_4/5b.jpg
7. Exames Complementares
Beirão (2007) afirma que sempre que houver suspeita de fraturas associadas, lesão
osteocondral ou lesão ligamentar completa, deverão ser solicitados exames complementares.
As radiografias convencionais do tornozelo devem ser solicitadas nas incidências lateral e
ântero-posterior e incidência obliqua interna e externa. Contudo, outros métodos de imagem
têm sido propostos para avaliar as lesões ligamentares do tornozelo, porém com graus
variáveis de eficácia.
A ultrassonografia, tomografia axial computadorizada, ressonância nuclear magnética e a
artrografia são os exames de imagem mais solicitados, sendo que a ressonância nuclear
magnética é o exame mais solicitado. (Lasmar, apud Beirão, 2007).
8. Tratamento Fisioterapêutico
O tratamento fisioterapêutico dependerá da identificação e da gravidade da estrutura lesada.
As lesões ligamentares do tornozelo grau I e II são tratadas de forma conservadora (Lasmar,
2002). Já as lesões grau III normalmente evoluem para tratamento cirúrgico.
O tratamento conservador para lesões grau I e II se dá em três fases, sendo que na primeira
fase, com duração de cerca de duas semanas, os objetivos são diminuir a hemorragia, a dor,
controlar o edema e evitar que a lesão se estenda. Dependendo da gravidade da lesão, órteses
podem sem prescritas, tais como muletas e goteria gessada ou órteses plásticas, mantendo-se o
membro elevado a maior parte do tempo.
Lasmar (2002), afirma que a conduta se dá por repouso, medicação sintomática, crioterapia
por 15 a 20 minutos, três a quatro vezes por dia, por aproximadamente cinco dias, compressão
por meio de ataduras elásticas, esparadrapo ou tornozeleira e elevação da extremidade. Deve-
se seguir o protocole PRICE (do inglês Protection – Rest – Ice – Compression – Elevation,
respectivamente, Proteção – Descanso – Gelo – Compressão – Elevação).
A segunda fase tem como objetivo a recuperação funcional da musculatura e da
propriocepção e sua duração é variável. O fortalecimento é direcionado especialmente para os
músculos fibulares e também alongamento do tríceps sural. Quando a mobilidade estiver
recuperada e o paciente não relatar mais dor, será desenvolvida a terceira fase.
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Nesta terceira fase, serão instituídas condutas para o retorno às atividades anteriores, onde são
realizados exercícios de força, agilidade, amplitude e propriocepção, o que inclui corrida,
saltos ou outros gestos específicos de acordo com a vida laboral do pacientes (Sizínio, 2009).
As lesões grau III normalmente evoluem para o tratamento cirúrgico. Porém, em indivíduos
não atletas e sem fraturas associadas, recomenda-se o tratamento conservador. Já em atletas
sem fratura associada, deve-se levar em consideração o esporte praticado e os potenciais
déficits, caso se opte pelo tratamento conservador (Cohen e Abdalla 2002; Mattacola e
Dwyer, 2002).
Kaminski (2002) relata que o treinamento de fortalecimento muscular tem sido integrado na
reabilitação podendo ser feito com saltos e corridas, onde o paciente conta com a contração
muscular para minimizar o impacto entre o chão e o complexo do tornozelo e pé.
Para Mattacola (2002), medidas profiláticas como tornozeleiras, enfaixamentos e órteses são
comumente utilizadas para evitar as lesões de tornozelo. Essas medidas podem ser usadas em
qualquer estágio da reabilitação, na prevenção das entorses com objetivo de promover
estabilidade mecânica. Sua aplicação proporciona melhora proprioceptiva e sensorial.
Anderson (2002),descreve o uso de estabilizador de tornozelo, bandagens ou até mesmo bota
de gesso, sendo alguns recursos utilizados em casos de lesões mais severas.
Alguns estudos relatam que a bota imobilizadora proporciona maior eficácia comparado com
a bota de gesso e outras técnicas de imobilização, pois ela permite ser retirada para sessões de
fisioterapia permitindo tratamento precoce sem a prolongação de imobilizações. (Silvestre et
al,2003).
Programas de prevenção também podem ser realizados após a reabilitação como: exercícios
isotônicos em cadeias cinéticas fechadas, priorizando o trabalho dos grupos musculares
principalmente (sóleo e gastrocnêmico de forma excêntrica e o tibial anterior).exercícios
proprioceptivos com a utilização de caixas de areia, faixas elásticas, uso de balancim, cama
elástica, utilizados tanto para ganhar fortalecimento muscular como estabilidade articular.
(Alcaide e Petrecca, 2004).
Já Verhagen et al (2004), avaliaram a eficácia de um programa preventivo proprioceptivo na
tabua de equilíbrio, fazendo comparações com dois grupos pesquisados os resultados foram
satisfatórios para o grupo que fez o programa preventivo onde houve uma redução
significativa quanto à redução nas entorses recorrentes de tornozelo.
9. Metodologia
O presente estudou adotou o método descritivo em uma revisão bibliográfica seguindo os
critérios institucionais da Universidade Ávila da cidade de Goiânia-GO foi selecionado
artigos publicados nas seguintes bases de dados: LILACS, MEDLINE e SCIELO entre os
anos de 2007 á 2011, trabalhos monográficos e livros dos anos 1989 á 2011. As palavras
utilizadas em pesquisa de banco de dados na internet foram: Entorse, Tornozelo e Tratamento
Fisioterapêutico. A busca ocorreu no período de 01 de Dezembro de 2011 a 01 de Março de
2012.
10. Resultados e Discussão
A entorse de tornozelo em inversão é uma lesão bastante frequente, principalmente no
mundo desportivo. A literatura é consensual quanto ao mecanismo de lesão, onde ocorre o
movimento de inversão em alta velocidade, não dando tempo de o músculo reagir a essa
mudança brusca de velocidade, resultando em lesão ligamentar associada à lesão muscular.
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Essa lesão ligamentar acarreta cascatas de eventos inflamatórios que levam aos sinais
clássicos de dor, rubor, calor, edema e perda funcional do tornozelo e pé. A avaliação
criteriosa das estruturas que compõem o complexo tornozelo-pé é de fundamental
importância para saber que estruturas foram lesionadas, bem como o grau da lesão.
Entram ai nessa semiologia, os testes funcionais, ortopédicos e sensitivos, bem como os
exames de diagnóstico por imagem, onde os mais importantes são a radiografia convencional
e a ultrassonografia.
O tratamento fisioterapêutico da entorse de tornozelo se baseia além do exame físico,
funcional e de imagens, na classificação da lesão, sendo essa composta de três graus
lesionais. Para cada grau de lesão, o tratamento será direcionado para as necessidades dos
tecidos lesionados.
Porém, é comum a todos os graus logo após a lesão, usar do protocolo PRICE (do inglês
Protection – Rest – Ice – Compression – Elevation, respectivamente, Proteção – Descanso –
Gelo – Compressão – Elevação).
A fase inicial do tratamento fisioterapêutico consiste na contenção dos efeitos inflamatórios e
analgesia, através dos recursos crioterapêuticos e eletroterapêuticos.
Já nas fases seguintes, o fortalecimento da musculatura envolvida, o ganho da amplitude de
movimento, através de alongamento e mobilização articular e o ganho proprioceptivo são as
condutas a serem tomadas. Na fase mais tardia, além do fortalecimento deverão estar
contidos exercícios para retorno das atividades da vida diária.
11. Conclusão
O artigo descrito aqui trouxe como resultados a definição de entorse, considerando sua
classificação, seus mecanismos de lesão e seus fatores predisponentes de risco. Tendo como
intuito de conhecer o contexto de entorse em inversão, buscou esclarecer a importância e seus
efeitos do tratamento fisioterapêutico, tendo em vista que atualmente prioriza-se o tratamento
conservador na reabilitação da entorse e o retorno direto das suas AVD´s (Atividade de vida
diárias). Nas primeiras horas após a lesão, o tratamento visa minimizar a formação da
tumefação com a utilização de crioterapia, compressão e elevação, impedindo assim que haja
um aumento no edema e limitando complicações futuras como aderências e rigidez. A
crioterapia atua também como procedimento anestésico inibindo assim a dor durante um
período determinado. Para obter um resultado satisfatório com a utilização desses primeiros
recursos associa-se a aplicação de acordo com a fase evolutiva da lesão.Após essa fase, é
instituído no plano de reabilitação o reforço muscular, sendo imprescindível para uma boa
recuperação as técnicas proprioceptivas. A cinesioterapia é prescrita de forma
individualizada, levando em consideração que cada grupo muscular tem suas funções
específicas que controlam e exercem a força exigida para criar o movimento, possibilitando
assim para o paciente, o treinamento de suas disfunções especificas.Na percepção visual
futura, apontam estudos cada vez mais práticos no que se diz respeito às entorses levando em
conta algumas preocupações quanto aos aspectos clínicos e respostas de tratamentos, embora
não esclarecidas suas formas de prescrições dos recursos utilizados. Desse modo, sugere-se a
produzir cada vez mais literaturas de qualidade com embasamento em técnicas e métodos em
nossos tratamentos tanto na prevenção como na reabilitação, possibilitando aos pacientes uma
melhor evolução nas suas disfunções, fazendo com que retornem às suas atividades cotidianas
o mais rápido possível e sem complicações futuras.
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12. Referências
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13
13. Anexos
ANEXO 1 – Questionário FAOS (Foot and Ankle Outcome Score)
Fonte: Imoto, 2009