UMA ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DA
CONURBAÇÃO DO ARAGUAIA
Alexandre Eduardo Santos1
RESUMO
A cidade pode ser pensada como uma realização humana, uma criação que vai se constituindo
ao longo do processo histórico e que ganha materialização concreta diferenciada, em função
de determinações históricas específicas. Nesse sentido ao longo de seu desenvolvimento
enquanto fenômeno humano, as cidades adquirem as mais variadas formas espaciais ao longo
do tempo. Barra do Garças e Pontal do Araguaia no estado de Mato Grosso e Aragarças no
estado de Goiás unidas, formam um tipo peculiar de cidade, conceituada como conurbação.
Assim, o objetivo desse texto é analisar como se deram os processos de ocupação e
urbanização da Conurbação do Araguaia que é discutido baseado na divisão histórica proposta
por autores locais. Foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental a cerca da história e
da geografia das cidades que compõem a Conurbação do Araguaia em suas quatro fases de
desenvolvimento econômico, sendo a primeira relacionada à atividade garimpeira, a segunda
à implantação da Fundação Brasil Central, a terceira ao avanço da agropecuária e os
incentivos fiscais e a quarta fase com a migração sulista e a disseminação da agricultura, além
das características das cidades atualmente. Dessa forma, o texto apresenta as cidades vistas do
ponto de vista da integração que as torna uma conurbação, por meio da literatura regional, de
documentos, de dados e de entrevistas e observações, a fim de contribuir para a compreensão
do processo de urbanização da Conurbação do Araguaia através do tempo e do espaço.
PALAVRAS-CHAVE: Cidade. Urbanização. Conurbação. Processo histórico. Barra do
Garças.
INTRODUÇÃO
A Conurbação do Araguaia é formada pelas cidades de Barra do Garças e Pontal do
Araguaia no estado de Mato Grosso e pela cidade de Aragarças no estado de Goiás, estando
localizada na região conhecida como Vale do Araguaia. Assim, a conurbação que é entendida
como o fenômeno geográfico em que duas ou mais cidades estão física e
socioeconomicamente integradas, é formada por três municípios em duas unidades federativas
do Brasil.
A produção e a organização do espaço acontecem sob a égide de uma estrutura
espaciotemporal que promove as mais singulares formas de organização espacial,
impossibilitando que uma cidade seja igual à outra. Nesse sentido, pensamos a cidade como
1 Licenciado em Geografia pela UFMT – Campus do Araguaia, mestrando em Geografia pela UFG – Regional
Jataí. ([email protected]).
“uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico
e que ganha materialização concreta diferenciada, em função de determinações históricas
específicas” (CARLOS, 2009, p.57).
Partindo dessa concepção de cidade, entendemos que as três cidades que se
desenvolvem sincrônica e diacronicamente. Destarte, pensar essas cidades a partir do
fenômeno de conurbação, nos permite pensar as influências e as inter-relações entre elas no
processo de produção do espaço urbano no decorrer do tempo.
Autores locais como Varjão (1985; 1992) e Diniz (1995) dividem a ocupação e o
desenvolvimento econômico dessa região em quatro fases, sendo a primeira relacionada à
atividade garimpeira, a segunda à implantação da Fundação Brasil Central, a terceira fase com
o avanço da agropecuária e os incentivos fiscais e a quarta fase com a migração sulista e a
disseminação da agricultura. Assim, este texto busca fazer uma retomada aos processos de
ocupação e urbanização da Conurbação do Araguaia que é discutido baseado nesta divisão
histórica.
A pesquisa de cunho qualitativo foi realizada por meio de pesquisas bibliográfica e
documental a fim de investigar a história e a geografia das cidades que compõem a
Conurbação do Araguaia. Nesse sentido, os dados coletados por meio da literatura regional,
de documentos e de dados estatísticos além de entrevistas e observações in loco, foram
analisados a fim de compreender o processo de urbanização da Conurbação do Araguaia
através do tempo e do espaço.
Dessa forma o texto está estruturado em quatro sessões que correspondem a cada fase
de desenvolvimento econômico da região além das considerações finais que apresentam
caraterísticas recentes das cidades que compõem a conurbação, podendo pensar a ocorrência
de uma quinta fase de desenvolvimento econômico.
Primeira fase: garimpeira
Por volta da primeira metade do século XX têm início na região do Vale do Araguaia,
os primeiros núcleos de não índios “civilizados”, em função da descoberta de minas de
diamante. Nesta região vivia populações indígenas das etnias Bororo, Xavante, Kalapalo e
Caiapó, paulatinamente surgem os primeiros fazendeiros e os garimpeiros que se instalaram
nas margens dos rios Araguaia e Garças (RIBEIRO, 2005).
A fase garimpeira estaria compreendida entre os anos de 1924 e 1942, quando um
grupo de garimpeiros liderados por Antônio Cristino Cortes e Francisco Bispo Dourado,
chegou à foz do rio Garças. Nesta localidade havia apenas uma moradia, do senhor José
Pedro, esta casa servia como ponto de pernoite de passageiros. Esse senhor informou ao
Cristino Cortes e Francisco Dourado que havia encontrado pedrinhas de diamante na barra do
córrego Voadeira, que despertou o interesse pela exploração da região, assim o ano de 1924
marca a fundação do povoado que hoje é a cidade de Barra do Garças. Um ano depois já era
grande o número de garimpeiros no local, que atraiu também os primeiros comerciantes e
outros exploradores (VARJÃO, 1985).
Contudo este pequeno povoado que acabara de ser fundado, sofre um desfalque em
sua população. Conforme esse autor no ano de1925, deflagrou-se a revolta “Morbeck x
Carvalhinho”, que contribuiu para o despovoamento do lugarejo. Assim, a partir do ano de
1926 a região teve sua população muito reduzida e somente em 1933 voltou a atrair
garimpeiros quando Joaquim Mendes de Souza encontrou em sua garimpagem um diamante
de 10 quilates, na margem oposta ao rio2.
Conforme aponta Varjão (1989) a notícia da descoberta desse diamante espalhou e a
localidade atraiu cerca de dois mil garimpeiros que formaram um arraial dentro da Fazenda
Pio de Barros pertencente ao município de Baliza-GO, fato este, ocasionou a fundação do
arraial de Barra Goiana em 23 de julho de 1933, cujas formas urbanas podem ser visualizadas
na (Figura 01).
FIGURA 1 - Rua Pedro Ludovico Teixeira na década de 1930.
Fonte: acervo pessoal de Claudemiro Luz.
2 Área do atual Município de Aragarças – GO.
De acordo com a professora Zélia Diniz (1995), a instalação desses garimpos
fomentou o inicio da lavoura e a criação de gado para a subsistência. No povoado de Barra
Cuiabana foram construídas as primeiras casas em ordem de arruamento sob a orientação do
Coronel Antônio Cristino Cortes (Figura 02), além da instalação de pensão, escola, cartório,
subdelegacia e casas de comércio.
Este desenvolvimento econômico e o aumento da população permitiram que o no ano
de 1936, o povoado identificado como Barra Cuiabana fosse elevado à categoria de vila pelo
Decreto do Governador Mário Correia da Costa. (VARJÃO, 1985).
FIGURA 2 - Rua Antônio Cristino Cortes na década de 1930.
Fonte: http://valdonvarjao.com.br/?Pg=Galerias.
A atividade garimpeira e os grandes achados de diamantes atraíram para a região,
migrantes advindos de diferentes lugares do país, possibilitando o surgimento de dois
povoados que adquiriam lentamente características urbanas e se elevaram à categoria de vila,
passo importante para a consolidação da segunda fase de desenvolvimento da região que
aconteceu com a instalação da base da Fundação Brasil Central na Barra Goiana.
Segunda fase: Fundação Brasil Central
Esta fase do desenvolvimento econômico pode ser considerada a mais importante para
a região. No dia 6 de agosto de 1943, chega à região, a bandeira “Expedição Roncador-
Xingu”, que objetivava desbravar o Brasil Central, chefiada pelo Cel. Vanique. A expedição
seria o passo definitivo para a efetivação da Marcha para o Oeste, criada pelo Ministro João
Alberto de Lins e Barros, juntamente à Coordenação de Mobilização Econômica, na
realização do desejo de “integrar” o Brasil do então presidente Getúlio Vargas. A Expedição
Roncador-Xingu tinha como finalidade explorar as terras desconhecidas, e em seguida,
colonizar a região, fundando bases para a penetração no território (VARJÃO, 1992). Nesse
sentido, Ribeiro (2005) destaca que
A “Marcha para o Oeste” tinha objetivos claros: mapear as terras do Brasil Central e
proporcionar as condições para a formação de uma frente agropastoril nessa região,
tese defendida à época por técnicos do Governo. Por outro lado, a Fundação Brasil
Central tinha a função de organizar, captar recursos e traçar medidas destinadas à
montagem de uma estrutura logística para o desenvolvimento do Centro-Oeste
(RIBEIRO, 2005, p. 52).
De acordo com Maciel (2006), os expedicionários saíram da base de apoio localizada
em Uberlândia – MG e seguiram em direção à margem esquerda do Rio Araguaia. Assim,
Barra Goiana foi à localidade escolhida para servir de base avançada da Expedição. No
povoado que já tinham erguidas rústicas construções, foi aberto um campo de pouso onde
pousou no dia 14 de agosto de 1943 o avião que transportou o Ministro João Alberto, que
escolheu pessoalmente a área onde seriam construídas as primeiras edificações permanentes
da base de Aragarças, cujo nome foi dado por ele próprio à localidade.
No mesmo ano, sob o Decreto N. 5.878, de 04 de outubro de 1943 foi criada a
Fundação Brasil Central que presidida pelo Ministro João Alberto com o propósito de tomar
para si a missão antes atribuída a Expedição Roncador-Xingu, de desbravar e colonizar as
regiões do Brasil Central e Ocidental (MACIEL, 2006).
Dessa forma o povoado de Barra Goiana, que se constituía tendo o garimpo como base
econômica, torna-se base de Aragarças ganha impulsos para seu desenvolvimento urbano por
meio das estruturas erguidas pela Fundação Brasil Central e a organização do espaço urbano
com uma rápida transformação, tendo a importante função de ser à base do trabalho de
exploração dos territórios desconhecido na porção oeste do Brasil.
O governo federal instalou a infraestrutura necessária para subsidiar seu projeto, o
Hospital Regional Getúlio Vargas, o Grupo Escolar Mercedes Zétola, o Grande Hotel (Figura
03), prédios administrativos, aeroporto, serraria, olaria, estabelecimento industrial para o
beneficiamento de grãos, residências, clube recreativo, casas de comércio e de serviços além
da instalação de energia elétrica, água encanada e central telefônica. Toda esta estrutura
acabou atraindo migrantes que buscavam melhores recursos de saúde, emprego e moradia,
principalmente os araguaianos3 que se transferiram para Barra Cuiabana, aumentando
significativamente a população (DINIZ, 1995; VARJÃO, 1989).
FIGURA 3 - Prédio do Grande Hotel
Fonte: acervo pessoal de Claudemiro Luz.
A vinda de migrantes para Barra Goiana e principalmente para Barra Cuiabana, que
paulatinamente se estruturava como cidade, causou uma diminuição na população de
Araguaiana. De acordo com Varjão (1985) em 1948, o Deputado Estadual Heronides Araújo
apresentou Projeto de Lei de transferência da sede do Município de Araguaiana para a Barra
Cuiabana, e em 15 de setembro do mesmo ano, o Governador Arnaldo Figueiredo sancionou a
Lei nº 121, transferindo a sede do município, passando para Barra do Garças a cidade, como
sede do município no mesmo nome, e Araguaiana a condição de distrito de Barra do Garças.
Com a eleição de Getúlio Vargas no ano de 1950, no ano subsequente o jornalista
Archimedes Pereira Lima foi nomeado o novo presidente da Fundação Brasil Central. Durante
sua gestão, Aragarças renovou seu ritmo de crescimento desenvolvimentista com importantes
obras de construção civil e de embelezamento da área urbana, assim como a instalação de
novos serviços básicos. Este período também é marcado pelo inicio da construção das pontes
sobre os rios Araguaia e Garças (Figura 04), que devido à grande complexidade técnica só
viriam a ser concluídas e inauguradas em 1958, com a presença do então Presidente da
3 Moradores da cidade de Araguaiana do município do qual Barra Cuiabana era distrito.
República Juscelino Kubitscheck em razão da grande importância da obra para o
desenvolvimento de toda a região Centro-Oeste (MACIEL, 2006).
FIGURA 4 - O presidente da Fundação Brasil Central, Archimedes Pereira Lima acompanhando a construção
das pontes que levariam o seu nome.
Fonte: acervo pessoal de Claudemiro Luz.
A então Barra Goiana oficialmente intitulada Vila de Aragarças pertencente ao
município de Baliza se emancipa em 02 de outubro de 1953 pela Lei Estadual nº 788
elevando-se a categoria de município. Maciel (2006) destaca que no mesmo ano entra em
vigor o Código de Obras da cidade, elaborado em conformidade com um projeto urbanístico
concebido pela Fundação Brasil Central, que tinha como objetivo ordenar as edificações no
perímetro urbano da cidade, uma vez que a demanda de terrenos urbanos para esta finalidade
só aumentava. O plano diretor geral de Aragarças compreendia uma área a ser ocupada em 50
anos, basicamente esquematizado como vias anulares concêntricas em torno do centro
administrativo, como pode ser observado na Planta do Plano Diretor de Aragarças, de autoria
da empresa Urbs Construções e Urbanismo Ltda. (Figura 05).
FIGURA 5 - Planta apensa do Plano Diretor de Aragarças
Fonte: Arquivo Nacional – Coordenação Regional do Distrito Federal Maciel (2005).
Dessa forma, conforme aponta Ribeiro (2005) Barra do Garças era uma cidade sem
qualquer importância no contexto da região do Araguaia, ao contrário de Aragarças que era a
base da Fundação Brasil Central. Assim, o desenvolvimento de Barra do Garças permaneceu
durante anos condicionado a Aragarças, que recebia os investimentos do governo federal para
a implantação da infraestrutura para servir de base ao projeto geopolítico a fim de transformar
esta porção do país disponível para o capital atrelado à construção do projeto de concepção
de Estado-Nação, desenvolvendo e (re) territorializando a região.
Esta fase é marcada então pelas emancipações políticas de Barra do Garças e de
Aragarças e pela instalação da infraestrutura necessária ao processo de urbanização da região,
principalmente da cidade de Aragarças, tendo como principal obra a construção das pontes
que possibilitou a integração necessária para atender as necessidade locais, além dos objetivos
estratégicos da Fundação Brasil Central.
A partir desse momento começam a consolidarem-se nesse espaço os fixos, com a
crescente instalação de instituições públicas e privadas nas cidades, além do significativo
aumento populacional, ocasionado pela migração do campo para a cidade além do contínuo
fenômeno de atração de moradores de diversas partes do país, principalmente do Nordeste,
intensificando as relações e os fluxos na região.
Terceira fase: agropecuária e os incentivos fiscais
A terceira fase está compreendida entre os anos de 1964 e 1973 e é basicamente
caracterizada pelos incentivos fiscais do governo federal no município de Barra do Garças.
Vale ressaltar o apontamento de Barroso (2007) que diz que o município ocupava um
território de mais de 200 mil quilômetros quadrados, limitando-se ao norte com o estado do
Pará. Neste imenso território havia apenas alguns povoados: Xavantina - base avançada da
FBC -, São Félix do Araguaia, Luciara e Santa Terezinha.
No final da década de 1960 as terras da região foram apropriadas privadamente por
grandes grupos empresariais, sobretudo de São Paulo, estimulados pelos incentivos fiscais da
SUDAM e pelo crédito subsidiado, oferecido para a implantação de projetos agropecuários. A
apropriação dessas extensas áreas de terra para criação de gado deu inicio a fragmentação do
antigo território pertencente ao município de Barra do Garças.
Quanto ao espaço urbano pode-se afirmar que foi a partir deste momento que a cidade
de Barra do Garças muda sua fisionomia, com padrões urbanos mais modernos com o
asfaltamento das principais ruas, plano diretor de arborização e instalação de redes de energia
elétrica, água e esgoto. Além das especialidades do comércio que começam a surgir para
atender a nova e crescente demanda para a atividade agropecuária como os comércios de
produtos agrícolas e veterinários, além dos gêneros alimentícios, confecções, móveis,
livrarias, farmácias entre outros como se pode observar nas figuras 06 e 07 (VARJÃO, 1992;
DINIZ, 1995).
FIGURA 6 - Fachada do comércio do setor agropecuário.
Fonte:http://valdonvarjao.com.br/?Pg=Galerias.
FIGURA 7- Construção do Mercado Municipal em fase final.
Fonte: http://valdonvarjao.com.br/?Pg=Galerias.
Este período marca o desenvolvimento urbano de Barra do Garças em detrimento de
uma estagnação da cidade de Aragarças, fato que pode ser explicado pela divisa existente
entre as cidades. Maciel (2006) afirma que como ocorreu em outros centros urbanos
planejados no Brasil, o planejamento, o controle e regulação do uso do solo pelo governo – no
caso pela FBC – podem gerar obstáculos à iniciativa de indivíduos e de empresas. Em razão
disso, Barra do Garças beneficiada por políticas de desenvolvimento econômico e territorial
como a SUDAM, passa a acolher a maior parcela dos habitantes da região, pela “facilidade”
de implantar estabelecimentos residenciais, comerciais ou industriais.
Neste contexto, com a extinção da FBC no ano 1967 que teve seu patrimônio
incorporado à Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), a cidade
de Aragarças diminui consideravelmente seu ritmo de crescimento e desenvolvimento urbano.
Enquanto que Barra do Garças com a onda desenvolvimentista incentivada pelo Estado
desenvolve-se e nesse processo, surgem inúmeros bairros (RIBEIRO, 2001).
Neste momento, Pontal do Araguaia começa a tomar forma de cidade, como podemos
inferir pelo relato do entrevistado.
Os prefeitos de Barra do Garças ajudaram muito, que isso aqui era de Torixoréu e
era esquecido por Torixoréu que era emancipado [...]. Mas foi muito importante a
gestão de prefeitos que entraram em Barra do Garças. O Pontal do Araguaia começa
a tomar forma de cidade a partir de 1971, que realmente começou quando meu pai
loteou a área do Bairro João Rocha que leva o seu nome, a SUDECO já tinha gente,
mas era desorganizado, não era loteado, não era feito o mapa, tudo certinho, quando
fizeram aqui o loteamento feito mapa, ai já mudou, e o pensamento já transformou,
decidindo fazer cidade. O Pontal é uma cidade plaina muito boa, então isso tudo
ajudou. (entrevista em 14/02/2014.)
Esta fala do pode ser corroborada pela informação de outro depoente.
O Pontal do Araguaia só se desenvolveu bem depois, ficando espremido entre as
duas pontes, era uma região de chácaras com poucas construções e não tinha de
imediato um comércio consolidado e era um distrito de Torixoréu, que estava a 70
km de distância, de estradas ruins a municipalidade nem sempre vinha administrar
os poucos moradores [...] o grande proprietário era um fazendeiro, lá tudo era uma
fazenda, começou a vender parte e lotear [...] (entrevista em 18/02/2014).
Assim, é possível identificar o surgimento da cidade de Pontal do Araguaia nesta fase
do desenvolvimento regional. A partir do loteamento da fazenda com um planejamento de
urbanização da área do setor João Rocha, o distrito inicia um processo de atração
populacional acompanhado de algumas poucas instituições que culminaram em sua
emancipação política na década de 1990.
Quarta fase: Colonização sulista
Esta fase que se inicia na década de 1970 é considerada como a fase contemporânea e
é marcada pela implantação da agricultura intensiva no circuito econômico da região.
De acordo com Ribeiro (2001), a cidade de Barra do Garças foi uma das cidades
mato-grossenses que mais recebeu investimentos financeiros na década de 1970. O autor
chama a atenção para a influência política e econômica regional que a cidade alcançou neste
período, chegando a atingir um raio de aproximadamente 300 quilômetros, num processo de
hierarquização dos núcleos urbanos da região em subordinação à Barra do Garças pelo seu
dinamismo econômico.
A concessão de incentivos fiscais para a subvenção de projetos aprovados pela
SUDAM e a criação de uma infraestrutura viária, [...], foi a maneira encontrada para
atingir uma agricultura e uma pecuária em moldes capitalistas. Portanto, trata-se de
um conjunto de medidas que contou com a participação direta do estado federal,
visando atrair para a região, o capital e seus agentes (RIBEIRO, 2001, p.37).
Nesse sentido é possível perceber a “liberação” das terras do município para o capital
por meio de grandes empresas, fenômeno que atingiu praticamente todo o Planalto Central do
Brasil a partir da união entre técnica e ciência possibilitando a globalização dos processos
produtivos desenvolvidos na região. Tais condições atraíram para o município uma grande
leva de migrantes sulistas subsidiados por projetos de colonização financiados pelo governo,
que de acordo com Diniz (1995), trouxeram consigo novos usos, costumes e tecnologia no
manejo do solo, fazendo do município o maior produtor de arroz do estado de Mato Grosso na
época.
Aos poucos os núcleos urbanos fundados para abastecer as produções agrícolas como
Água Boa e Canarana, desenvolveram-se e obtiveram suas emancipações políticas,
desmembrando-se do território barra-garcense. Esta onda de desenvolvimento da agricultura
também refletiu sobre a área do distrito de Pontal do Araguaia que por sua proximidade com
Barra do Garças e Aragarças, passa a desenvolver sua área urbana, com o surgimento de
novos bairro e a implantação do campus da Universidade Federal de Mato Grosso. Isso
possibilitou a conquista de sua emancipação política através da lei nº 5.097, de 20 de
dezembro de 1991de autoria do deputado Evaristo Roberto Cruz4.
Merece destaque a abordagem de Valdon Varjão que na maioria de seus livros exalta o
Estado e os sulistas como os responsáveis pelo “progresso” da cidade e da região. “Os
gaúchos foram os responsáveis por esse programa avançado de desenvolvimento da região”
(VARJÃO, 1992, p.80), enaltecendo personalidades políticas que possibilitaram a
implantação da fase por ele chamada de desenvolvimentista e produtora. Em momento algum
o autor retrata as questões relacionadas ao genocídio dos povos indígenas, com a extinção das
culturas locais como nos lembra Ribeiro (2005), e muito menos a expropriação dos pequenos
produtores e posseiros para a apropriação agrária do capital.
4 Informação colhida no histórico do Município no site IBGE Cidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração a produção bibliográfica que divide o desenvolvimento
econômico da região nessas quatro fases, sendo a última a representada pela migração gaúcha
e implantação da agricultura intensiva que se desenvolve até o final da década de 1990, faz-se
importante considerar as características atuais que resultaram dessas quatro fases de
desenvolvimento econômico.
De acordo com o IBGE, a população estimada da conurbação em 2014 era de 83.518
habitantes, sendo 58.099 de Barra do Garças, 19.426 de Aragarças e 5.993 de Pontal do
Araguaia e estão numa média de 90% nas áreas urbanas dos municípios. Barra do Garças
segue com um aumento significativo em relação as demais cidades, no entanto, de acordo
com dados do mesmo instituto, Pontal do Araguaia é a cidade que mais cresce
proporcionalmente em quantitativo populacional na região.
A partir de dados do cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) das cidades da
conurbação, é possível identificar que a economia das três cidades está predominantemente
baseada na prestação de serviços, com destaque para a cidade de Barra do Garças. Os
números relacionados à indústria também são relativamente significativos nas cidades de
Barra do Garças e Aragarças, enquanto que Pontal do Araguaia tem a agropecuária como o
segundo setor mais importante de sua economia.
O espaço se transforma de acordo com a dinâmica econômica que nele se desenvolve
ao longo do tempo. Assim, as cidades que tiveram sua gênese a partir da atividade garimpeira,
passando para a pecuária e para a agricultura, atualmente tem sua base econômica sustentada
pelo comércio e pela prestação de serviços, podendo ser admitida a existência de uma quinta
fase de desenvolvimento econômico da região.
Nessa quinta fase, em que Barra do Garças é considerada a cidade central da
conurbação além de ser polo regional, é nesta cidade que estão instalados a maioria das
instituições como universidades federal e privadas, institutos federal e estadual de educação,
além instituições das três esferas do governo. Também apresentam filiais de grandes
corporações, bem como de grandes empresas nacionais de comercialização e prestação de
serviços. São por meio dessas instituições que se estabelecem o forte vínculo entre as três
cidades unidas física, cultural, social e economicamente, possibilitando a ocorrência do
fenômeno de conurbação.
REFERÊNCIAS
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Joanoni V. (Org.) Política, Ambiente e Diversidade Cultural. Cuiabá: EdUFMT, 2007.
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1995.
IBGE Cidades. Disponível em: < http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php> Acesso
em: 10 de janeiro de 2014.
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RIBEIRO, Hidelberto de S. Geopolítica e memória: uma discussão do processo de
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de Geografia. Campinas: UNICAMP, 2005.
______. O migrante e a cidade: dilemas e conflitos. Araraquara: Gráfica Wunderlich, 2001.
VARJÃO, Valdon. Aragarças: portal da marcha para o Oeste. Brasília: Senado Federal,
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