UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
A PERCEPÇÃO DO PAI, DA MÃE E DO FILHO SOBRE AS
POSSÍVEIS MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO NO PERÍODO DA
ADOLESCÊNCIA.
ALINE CARDOZO
ITAJAÍ
2006
1
ALINE CARDOZO
A PERCEPÇÃO DO PAI, DA MÃE E DO FILHO SOBRE AS
POSSÍVEIS MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO NO PERÍODO DA
ADOLESCÊNCIA.
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Prof.a MSc. Márcia Aparecida Miranda de Oliveira.
Itajaí
2006
2
AGRADECIMENTOS
Ao longo deste trabalho pude contar com o apoio, estimulo e carinho de
muitas pessoas. Por isso gostaria de agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a realização da minha pesquisa. Porém, algumas pessoas tiveram um papel fundamental, as quais eu gostaria de deixar registrado meu agradecimento:
Para minha orientadora Márcia Aparecida Miranda de Oliveira, por toda sua dedicação e atenção compartilhando comigo seus conhecimentos e me passando tranqüilidade nas horas de preocupação.
Para as professoras que aceitaram o convite de fazer parte da minha banca, Josiane A. F. de Almeida Prado e Maria Celina Ribeiro Lenzi e por dessa maneira contribuírem com meu trabalho, partilhando comigo suas idéias.
Para as famílias que aceitaram gentilmente fazer parte da minha pesquisa, se
mostrando receptivas e compartilhando comigo suas histórias familiares com confiança.
Para meu pai, por me dar a oportunidade em realizar o curso de Psicologia,
desta maneira incentivando meu sonho. Para minha mãe, por todo seu apoio, carinho e compreensão me ajudando
sempre em tudo que está ao seu alcance. Para minha cunhada e também amiga Juliane Jandt Cardozo pela sua
preocupação em me ajudar a procurar famílias que preenchessem os critérios da pesquisa e pelo seu apoio moral.
Para minha amiga Samara de Oliveira Luz, pela sua amizade e por me escutar nas horas de dificuldades.
Obrigada!
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 06
2 EMBASAMENTO TEÓRICO............................................................................ 08
2.1 A família ........................................................................................................ 08
2.2 A família com filhos adolescentes ................................................................ 10
2.3 As mudanças na educação dos filhos .......................................................... 12
2.4 A educação dos filhos da infância a adolescência ....................................... 13
2.5 Comunicação entre pais e filhos adolescentes ............................................ 15
2.6 A sexualidade dos filhos ............................................................................... 18
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 20
3.1 Participantes da pesquisa ............................................................................. 20
3.2 Instrumentos ................................................................................................. 21
3.3 Coleta de dados ............................................................................................ 22
3.4 Análise dos dados ........................................................................................ 22
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................... 24
4.1 Comunicação................................................................................................. 25
4.1.1 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na infância................................. 25
4.1.2 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na infância............................... 26
4.1.3 Comunicação estabelecida entre o casal para educar o (a) filho (a) na infância................................................................................................................
27
4.1.4 Como o filho percebe a comunicação que teve com os pais na infância... 27
4.1.5 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na adolescência........................ 28
4.1.6 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na adolescência...................... 29
4.1.7 Comunicação estabelecida entre o casal para educar o (a) filho (a) na adolescência........................................................................................................
30
4.1.8 Como o filho percebe a comunicação que tem com os pais na adolescência........................................................................................................
30
4.2 Regras na infância......................................................................................... 31
4.3 Regras na adolescência................................................................................ 33
4.4 Interação Familiar/Convivência na infância................................................... 35
4.5 Interação Familiar/Convivência na adolescência.......................................... 36
4
4.6 Afetividade na infância................................................................................... 37
4.7 Afetividade na adolescência.......................................................................... 38
4.8 Sexualidade na infância................................................................................. 40
4.9 Sexualidade na adolescência........................................................................ 40
4.10 Análise geral das Categorias....................................................................... 41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 46
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 49
7 ANEXOS .......................................................................................................... 52
7.1 Apêndice A – Ficha de Identificação ............................................................ 52
7.2 Apêndice B – Entrevista para os pais ........................................................... 53
7.3 Apêndice C – Entrevista para os filhos ......................................................... 55
7.4 Apêndice D – Termo de consentimento livre e esclarecido para os pais ..... 57
5
A percepção do pai, da mãe e do filho sobre as poss íveis mudanças na comunicação no período da adolescência.
Orientadora: MSc. Prof.ª Márcia Aparecida Miranda de Oliveira. Defesa: novembro de 2006. Resumo: A adolescência é uma fase de dúvidas e transformações e é principalmente nesta fase que a família tem a tarefa de apoiar e confortar os jovens. Os pais que estabelecem um bom relacionamento através da comunicação com seus filhos, só irão contribuir para o desenvolvimento destes adolescentes. Sendo assim, esta pesquisa aborda o tema comunicação entre pais e filhos adolescentes, tendo como objetivo investigar como ocorre à comunicação entre pais e filhos frente às mudanças que podem ocorrer na educação dos filhos da fase da infância a fase da adolescência, de acordo com o ponto de vista tanto dos pais como dos filhos. Esta é uma pesquisa de ordem qualitativa, onde foi utilizada uma entrevista semi-estruturada para coleta de dados, a qual foi aplicada separadamente em cada membro das três famílias, pai, mãe e um filho (a) adolescente com idade entre 15 e 16 anos. Os dados foram analisados através da Análise de Conteúdo, onde foram geradas cinco categorias: comunicação, regras, interação familiar/convivência, afetividade e sexualidade. Para verificar as mudanças que ocorreram, foi feita uma comparação entre a infância e a fase atual que é a adolescência. Identificou-se que não houveram mudanças muito significativas nas três famílias, sendo que apenas uma das famílias (Família C) foi a que menos apresentou mudanças. As três famílias apresentaram características muito semelhantes como a maneira que os filhos se portam frente aos pais, flexibilidade na educação e uma comunicação mais fortemente estabelecida entre mãe e filho (a). Palavras-chave: adolescente, comunicação, educação.
6
1 INTRODUÇÃO
Cada vez mais casais se preocupam com a decisão de ter ou não filhos. Essa
preocupação muitas vezes gira em torno do medo que sentem em ter competência
em dar uma boa educação, principalmente na fase em que a criança está passando
pelo início da adolescência, pois é neste período que também aparecem os
inúmeros fatores de extrema importância para o bem estar dos filhos e da família.
É visível a mudança que ocorre nesta fase e nada melhor do que uma boa
comunicação, para assim unir e existir confidências entre pais e filhos e
conseqüentemente estabelecer a confiança. Tendo essa confiança dentro de casa
há menor probabilidade dos filhos seguirem por caminhos tão temidos pelos pais,
como as drogas, a sexualidade sem responsabilidade, e assim por diante (CARR-
GREGG e SHALE, 2004; NOLTE e HARRIS, 2005; TIBA, 2005).
Os pais precisam estar interessados em entender seus filhos, compreender os
períodos de mudanças em que eles estão passando. É importante também, que os
pais de forma geral, tenham o conhecimento que não é apenas devido às alterações
hormonais que ocorrem explosões emocionais diante de uma simples conversa
(TIBA, 2005).
Diante das preocupações dos pais sobre como lidar com essa fase da vida do
filho, suponho que este fator acaba refletindo em um dos temas mais abordados por
revistas leigas, bem como, é constante a procura de livros sobre o tema, e assim
devido a todos esses aspectos, que pretendo explorar sobre o tema em pauta.
A partir destas afirmações, este trabalho teve como objetivo investigar a
importância do diálogo entre pais e filhos na fase da adolescência, investigando
como ocorre à comunicação entre pais e filhos frente às mudanças que ocorrem na
educação dos filhos na fase da adolescência, de acordo com o ponto de vista tanto
dos pais como dos filhos. Identificando segundo o relato dos pais e dos filhos quais
foram às mudanças que houveram na educação dos filhos, nessa fase, se de fato
houveram. E por ultimo identificar como se dá o diálogo tanto por parte dos pais
como dos filhos e se realmente há um diálogo. Com a intenção de trazer
contribuições enriquecedoras para profissionais da psicologia que venham a atender
adolescentes e/ou famílias de adolescentes. Contribuirá também para professores e
alunos do curso de Psicologia e demais interessados.
7
Esta pesquisa deu segmento à monografia de Caroline Andrea Pottker (2005),
que tem como título: Investigação sobre as mudanças na educação dos filhos na
fase da adolescência, segundo a percepção dos pais e dos filhos; orientada pela
Professora Márcia Aparecida Miranda de Oliveira, onde foi investigado sobre as
mudanças na educação dos filhos na fase do início da adolescência e nesta
seqüência da investigação sobre o mesmo tema, sendo focada a comunicação, a
pesquisa será realizada com filhos a partir de 15 anos de idade.
8
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 A família
O significado da palavra família etimologicamente, segundo Engels, (1979
apud POTTKER, 2005), provém de “famulus”, que significa “escravo doméstico”.
Este termo foi criado em Roma na época antiga para indicar um novo grupo social
que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão
legal. Já no período republicano, ainda em Roma, o conceito de família tinha um
contorno nitidamente patriarcal, sendo considerada como tudo aquilo que estivesse
abaixo do poder paterno, como a mulher, filhos, escravos e até bens como terra,
instrumentos e animais de trabalho.
Na Idade Média, as famílias eram grandes e as crianças misturavam-se com
os adultos, pois segundo Zamberlam, (2001 apud POTTKER, 2005), a partir do
exemplo dos adultos que era determinado informalmente o que ia ser aprendido
pelas crianças.
Seguindo esse estudo sobre a convivência das crianças com os adultos, os
autores Nolte e Harris (2005) afirmam que, os pais, ou qualquer adulto que conviva
diariamente com o adolescente acaba o influenciando, e com muito mais intensidade
pela forma como esses adultos vivem suas vidas do que pela maneira como
aconselham esses adolescentes a viverem as suas.
Com o passar dos tempos a família vem tomando diferentes configurações.
Nos tempos modernos a família é formada por pai, mãe e alguns filhos, essa
imagem corresponde à chamada família nuclear burguesa. As interpretações das
inter-relações são feitas a partir do contexto e da estrutura que a família se encontra,
mas não se pode concluir que se a família está estruturada de uma outra maneira,
que não seja a nuclear, apenas deixa de ser uma família na perspectiva do modelo
tradicional (CARVALHO, 1997).
Desde o início dos estudos da psicologia, segundo a autora citada, a família e
em especial, a relação mãe-filho, tem aparecido como referencial explicativo para o
desenvolvimento emocional da criança. A descoberta de que os anos iniciais de vida
são fundamentais para o desenvolvimento emocional posterior focalizou a família
9
como o foco de potencialidade produtor de pessoas saudáveis, emocionalmente
estáveis ou como núcleo produtor de inseguranças e desequilíbrios.
Já nas bibliografias atuais (CARR-GREGG e SHALE, 2004; NOLTE e
HARRIS, 2005; STRAUCH, 2003; TIBA, 2005), mais especificamente da última
década, percebe-se que o enfoque está na qualidade das inter-relações,
independente da forma que a família está estruturada.
A família de hoje tem diferentes constituições. Pais casados, divorciados,
recasados, solteiros, casal que convive com enteados, e assim por diante. Não se
tem como definir um ciclo de vida familiar “normal” (CARTER e MCGOLDRICK,
1995; TIBA, 2005).
As relações conjugais por sua vez segundo Osório e Valle (2002), sofreram
significativas transformações no século XX em decorrência das necessidades, dos
desejos e das expectativas dos seres humanos em geral. A mulher cada vez mais
luta pela sua independência, já que não há razões biológicas nem psicológicas para
sustentar a desigualdade social que ocorre entre homens e mulheres.
No que se refere ao ciclo de vida familiar, de acordo com Carter e MCGoldrick
(1995), as mulheres sempre foram peças centrais, no papel de mãe e esposa. Já os
homens parecem dar mais importância para sua carreira profissional do que para o
papel que exercem na família. Mas as mulheres continuam mudando, assim como
os homens e pode-se perceber que conforme o tempo passa mais elas dividem e
compartilham as tarefas familiares com eles, principalmente no que diz respeito à
educação dos filhos.
Seguindo essa idéia de mudanças, Falceto (1996) fala de um novo pai. Um
homem que assume cada vez mais os cuidados com a família e com a casa. Um pai
que cuida do filho com amor e intimidade, não por mera obrigação.
Diante destas afirmações percebe-se que a família é em todos os sentidos o
produto da evolução que se constitui em um conjunto de pessoas que se adapta
flexivelmente às influências do meio em que vive (ACKERMAN, 1986)
Mas quais são basicamente as funções da família?
As funções da família são biológicas, psicológicas e sociais, como estão
interligadas, são estudadas conjuntamente. A função biológica é para garantir a
sobrevivência da espécie através dos cuidados aos recém-nascidos. A função
psicossocial é para suprir as necessidades afetivas que são de tanta importância
quanto o oxigênio, a água e os nutrientes que a pessoa necessita (OSÓRIO, 1996).
10
A proposta da família é desenvolver relações que criarão o terreno fértil para
que cada membro que a pertence, amadureça com auto-estima elevada,
independência e produtividade. Tem o propósito de contribuir para o
desenvolvimento de cada membro (HUMPHREYS, 2000).
2.2 A família com filhos adolescentes
A adolescência, de acordo com Cerveny (1997), é uma fase em que os pais
passam a rever sua própria adolescência e os aspectos que podem ser resgatados
de sua juventude. Uma fase que sentem necessidade de uma rede de apoio (como
avós, sogros, tios) para educarem o adolescente com suficiente flexibilidade.
As famílias na sua maioria são caracterizadas por estarem passando por uma
“crise” nesta etapa do ciclo de vida. Cheios de preocupação, o que os leva a
perceber que esta fase é tão complexa tanto para os pais como para os filhos
(CERVENY,1997).
O termo crise, já não é mais utilizado para assinalar um momento ou
circunstância de exceção, mas sim para caracterizar uma condição permanente ou
um estado de crônica insatisfação à espera de alguma providência, que chegando,
restabelecerá a situação anterior de suposto equilíbrio e bem-estar ou nos remeterá
a possibilidade futura de solução definitiva de um mal-estar pessoal ou social que
nos aflige. A família encontra-se em crise para dar origem a novas formas de
configurações familiares como as que se esboçam neste limiar do século XXI
(OSÓRIO, 1996).
Crise é algo até indispensável ao desenvolvimento tanto dos indivíduos como
de suas instituições. A crise é uma ocasião de acúmulo de experiências e de uma
melhor definição de objetivos (OSÓRIO e VALLE, 2002).
Neste momento a família se vê diante de seus filhos crescendo, se tornando
adolescentes e desafiando os próprios pais. Durante esta etapa a família procura
alterar alguns padrões de relacionamento (CERVENY, 1997).
Na atualidade, além das famílias ficarem menores, elas se isolam do convívio
com os demais familiares como tios, primos, algumas vezes até dos avós. E optam
pela maior convivência com os amigos. Isso pode estar sendo uma falha na
11
formação dos adolescentes, pela questão da formação de vínculos e valores
familiares (TIBA, 2005).
Os filhos por sua vez, estão passando por um período de mudanças e
transformações na adolescência, onde eles estão formando uma identidade
equilibrada e positiva. Estão tentando alcançar a independência dos pais para
mostrar que podem continuar seu processo de amadurecimento sozinho. Estão à
procura de uma pessoa para ter um relacionamento amoroso fora do círculo familiar,
consolidando assim o processo de afastamento dos pais. E a última meta do
adolescente é encontrar um lugar ao mundo, pensar sobre sua carreira profissional
para assim alcançar a independência econômica, ou seja, ele está passando por um
período de constante conflito (CARR-GREGG e SHALE, 2004).
Um fator também importante nessa fase, é de o pai e a mãe reverem seu
relacionamento. Pois como afirma Humphreys (2000), quando a relação conjugal
dos pais é harmoniosa esse sentimento reflete sobre as relações familiares, e o
inverso também é verdadeiro. Os pais são os líderes da família, e se demonstram
insatisfações, fica difícil equilibrar as relações com os filhos.
Tanto os pais como também os avós, necessitam rever suas vidas e redefinir
seus objetivos e relações. Os conflitos que ocorrem na adolescência podem ser a
soma das crises das diversas gerações. Os pais e os avós muitas vezes não
resolveram seus próprios conflitos da adolescência, tendo assim maior dificuldade
em orientar o adolescente (FALCETO, 1996).
Conforme a autora citada, os avós nesse momento estão passando pela
aposentadoria, é onde a saúde começa a mudar aparecendo os primeiros sinais e
dores da velhice. O desafio fica por conta dos pais, que além de já terem a
responsabilidade na educação dos filhos adolescentes, muitas vezes acabam
tornando-se cuidadores dos próprios pais.
Um dos grandes desafios do convívio familiar, afirma Maldonado (1996), é
conseguir equilibrar os espaços de privacidade e respeito com características
individuais e os espaços coletivos que as diferentes gerações ocupam dentro da
mesma casa. Isso inclui discordâncias e divergências que podem gerar em
decepções e desilusões de parte a parte. Pais sentem-se fracassados por não terem
o filho com que sonhavam, filhos sentem-se desesperançados em conseguir manter
um relacionamento razoável com seus pais, avós sentem-se deixados de lado, e
assim por diante.
12
O que não pode acontecer, afirma a autora já citada, é tornar pequenas coisas
do cotidiano em coisas drásticas, como por exemplo, a ordem e desordem da casa,
pois essas pequenas coisas podem ser resolvidas com acordos coletivos, contando
com a colaboração de todos para não acabar em brigas, ofensas e acusações. Se a
família não souber lidar com essas pequenas coisas, quando ocorrer algum
problema mais grave, esta poderá ficar totalmente desnorteada, prejudicando a
dinâmica familiar.
2.3 As mudanças na educação dos filhos
Os pais de hoje não são e nem serão como seus pais foram, eles são uma
geração que está passando para uma outra postura. Não é o objetivo discutir qual a
orientação correta, mas sim colocá-las em prática mostrando o que dá resultado
positivo. Trata-se de perceber a mudança na posição dos pais, a qual atualmente é
bem mais complicada e difícil do que na época em que os pais exerciam apenas o
papel de filhos (ZAGURY, 1994).
Os pais, ainda conforme a autora já citada, parecem não saber mais como
dizer um simples “não” de forma firme e convincente, quando precisam negar algo
aos filhos. Os filhos não mudaram, sempre serão insistentes quando querem alguma
coisa, mas quem efetivamente, mudou foram os pais, tendo em vista que na geração
anterior eles estavam certos do que pretendiam em relação aos filhos e não davam
chance de ter discussões diante de coisas simples.
Zagury (Ibid.), afirma que, o filho precisa de diálogo, de muitas explicações,
até porque esses pais são produtos de uma geração que lutou por esse tipo de
valores, eles querem dar aos filhos muito mais liberdade do que tiveram. Mas estão
insatisfeitos com a realidade, pois na relação com os filhos nota-se que agem
movidos não por uma convicção interior, mas pelo que julgam ser “moderno” e
acabam deixando os filhos fazer de tudo, não impondo limites.
Já nas gerações anteriores, como afirma Maldonado (1996), a criação dos
filhos predominava o autoritarismo e o pequeno espaço para a liberdade. Várias
pessoas que foram criadas nessas condições cresceram com muito ressentimento e
revolta e para criar seus filhos escolheram o oposto, dando espaço demais, em
detrimento de suas próprias necessidades e desejos. O que aconteceu foi que os
13
filhos não conseguiram desenvolver a noção de respeito e consideração com os
demais. A partir disso, a noção de prazer tornou-se muito mais predominante.
Precisa-se também levar em conta a complexidade da vida atual,
principalmente nos grandes centros urbanos. Há algumas décadas, a tarefa de criar
filhos, aparentemente era simplificada pela existência de regras e tradições
inquestionáveis. Depois, as formas tradicionalistas de criar filhos foram questionadas
e os pais estão expostos a uma carga de informações, através dos livros, revistas,
filmes, programas de TV e rádio, informações passadas por especialistas, etc.
Informações que chegam a confundir os pais, pois algumas são até mesmo
contraditórias (MALDONADO, 1994).
A excessiva preocupação que consome os pais para saber o que se deve
fazer para garantir que o filho tenha um bom desenvolvimento emocional, de acordo
com a autora já citada, pode embotar a espontaneidade, a intuição e o bom senso
paterno e materno. A distorção das teorias psicológicas também é bastante
significativa, gerando atitudes incorretas, como o excesso de permissividade,
erroneamente utilizado para não traumatizar a criança.
No entanto afirma Cerveny, (1994 apud POTTKER, 2005) que
categoricamente toda família transmite os padrões interacionais, inclusive aquelas
que têm o cuidado para que isso não aconteça, porém às vezes, pode não passar à
geração seguinte. Todavia, as famílias têm a tendência a se repetirem, podendo
ainda acontecer de um modelo passar à próxima geração sobre outra forma.
2.4 A educação dos filhos da infância a adolescênci a
Em primeira instância, é necessário aos pais terem o conhecimento da
importância de que, desde o início do desenvolvimento tem que deixar a criança
fazer as coisas conforme sua capacidade, não fazer tudo por ela. No início a criança
pode até brigar com o adulto para que a deixe fazer sozinha as atividades diárias.
Pois ela tem a necessidade de sentir-se capaz realizando pequenas ações. Os pais
podem estar complementando as ações, assim estão ajudando o filho a se
desenvolver e não correm o risco de mais tarde, tornarem-se empregados dos
próprios filhos (TIBA, 2005).
14
O objetivo dos pais, sem dúvida, sempre é estabelecer o melhor
relacionamento possível com os filhos, é o que explicita Knobel (1992). Mas muitos
se equivocam na fase da adolescência querendo criar um vínculo de amizade de
uma maneira não muito adequada. Os pais têm que ter a consciência de que para
seus filhos, o adulto que passou dos 30 anos já é considerado “velho” e pertence à
outra fase da vida, onde os interesses e gostos não coincidem.
Os pais não devem se enganar forçando situações, se esforçando para
interferir em outra geração, cada idade tem seus encantos, prazeres e dissabores. O
pai precisa entender que em certos momentos o filho precisa desfrutar da solidão.
Afinal, uma coisa é compreender as angústias e necessidades do filho e outra é
intrometer-se nelas sem as conhecer realmente (KNOBEL, 1992).
Neste período que o jovem encontra-se, precisa de uma pessoa especial que
possa ajudá-lo a alimentar sua individualidade e fornecer um pouco de estabilidade
e segurança, que é tão necessário para este período de mudanças rápidas e de
insegurança, ou seja, o jovem precisa de um modelo de identificação, o pai, a mãe
ou outro adulto com que ele se identifique e se sinta a vontade. Isso faz com que o
adolescente se sinta valorizado (CARR-GREGG e SHALE, 2004).
Mesmo os adolescentes querendo passar a imagem de que nada que os pais
falam ou fazem eles levam em conta, os pais continuam sendo os principais
professores dos filhos. Os pais têm que passar um modelo, mostrando qual a melhor
forma de lidar com a realidade que muitas vezes é difícil e assustadora para os
jovens. E se os pais encararem os problemas da mesma forma dramática que os
adolescentes tratam, só vão piorar as coisas (NOLTE e HARRIS, 2005).
Os pais não devem insistir em ser uma figura punitiva e ameaçadora,
tornando-se assim, distantes, afirma Tiba (2006). Muitas vezes o pai assumia essa
posição, pois lhe era dada a tarefa de dar o castigo quando a criança
desobedecesse a mãe. Se esta intimidação já foi iniciada pelo adulto, deve ser
eliminada na adolescência, pois só irá gerar agressividade e revolta, o adolescente
não suporta este tipo de educação. O importante é que os pais compreendam os
estágios da adolescência, e os problemas que surgem a cada etapa de
desenvolvimento, pois assim eles estarão mais bem preparados para corresponder
às exigências e oferecer um suporte adequado.
Cabe aos pais prepararem seus filhos internamente para que eles tenham
uma base estruturada para enfrentar as dificuldades, seja por liberdade progressiva,
15
seja por terapia, assim eles aprenderão a se proteger sozinhos, não se expondo
tanto aos perigos e as drogas. Mas não há como estar protegendo-os integralmente,
pois são eles que vão atrás do perigo constantemente (TIBA, 2005).
2.5 Comunicação entre pais e filhos adolescentes
A palavra “comunicar” vem do latim “comunicare” com a significação de “por
em comum”. Comunicação é convivência; está na raiz da comunidade, agrupamento
caracterizado por forte coesão, baseada no consenso espontâneo dos indivíduos.
Consenso quer dizer acordo, consentimento, e essa acepção supõem a existência
de um fator decisivo na comunicação humana: a compreensão que ela exige, para
que se possa colocar, em “comum”, idéias, imagens e experiências (PENTEADO,
1997).
A autora Cerveny (2004), após estudar alguns autores elaborou um esquema
que deriva de Wiener, Shannon e Jakobson, a partir daí, a comunicação existe da
seguinte forma: um emissor (E) envia uma mensagem (M) a um receptor (R) por
meio de um canal (C), havendo um feedback (FB). Quando essa mensagem vai do
E para o R ocorrem obstáculos no nível do emissor (OE) que são constituídos por
seus valores, julgamentos, crenças, experiências anteriores, estado emocional, etc.,
que fazem com que a M transmitida seja diferente da que se pretendia transmitir.
Quando R recebe M, esta passa pelos obstáculos no nível do receptor (OR) que
fazem com que ela também seja recebida de uma maneira particular.
Já para o autor Shinyashiki (1992), o diálogo é a vontade e a abertura para
um encontrar o outro. No momento do diálogo deixa-se o orgulho e a vaidade de
lado, pois só se consegue manter uma conversa quando o novo pode acontecer. A
comunicação entre pais e filhos muitas vezes acaba só em uma troca de críticas.
Sendo que na verdade, o momento do diálogo é um momento para troca de
experiências, ou seja, um aprendizado. As conversas mais produtivas normalmente
se estabelecem quando as pessoas estão se sentindo protegidas ou fazendo algo
que realmente gostam.
Por outro lado, da parte do adolescente no que se refere ao saber ouvir,
Zagury (2005) em seus estudos afirma que este saber ouvir começa no momento
em que o adolescente sente-se a vontade para falar, é preciso saber esperar, ser
16
mais maduro que os jovens, pois eles estão apenas aprendendo. Forçá-lo a uma
conversa pode gerar uma situação de conflito, sem nenhuma utilidade. Então, no
momento que o adolescente estiver contando algo espontaneamente, é necessário
dar a ele a devida atenção e tentar ouvir com o coração e a razão juntos.
Seguindo essa idéia de comunicação no que diz respeito a compreensão da
mensagem emitida pela outra pessoa, Humphreys (2000) afirma que quando o
adulto ouve atentamente, o adolescente sutilmente passa a mensagem que o aceita
e que ele merece sua atenção, isso faz com que eleve a auto-estima dele. Assim a
conversa fluirá melhor. Quando se está preocupado no falar em primeiro lugar,
distrai-se da pessoa com quem está, e a comunicação não atinge seu objetivo.
Segundo o autor citado, ele salienta que deixando o adolescente falar pelo
tempo que acha necessário sobre as coisas que lhe agradam ou perturbam, os pais
irão descobrir o mundo interior de preocupações, necessidades, medos, sonhos,
desejos e sentimentos existentes nele.
No que diz respeito à mensagem emitida pelo outro, Cerveny (2004) afirma
que há obstáculos na comunicação entre a pessoa que recebe a mensagem e a
pessoa que emite a mensagem na comunicação. Temos a tendência de ignorar
informações que entram em conflito com nossas crenças e opiniões.
Com base no que a citada autora evidencia, vemos que um obstáculo muito
observado em famílias com adolescentes é que os adolescentes sabem avaliar a
fonte comunicadora quando se trata de obedecer a ordens, se o pedido é para ser
levado a sério mesmo ou não. Assim como um mesmo fato pode-se comunicar
coisas diferentes para diferentes pessoas, como as palavras também, no caso, pais
e filhos podem estar interpretando de diferentes maneiras as mesmas situações.
A autora ainda enfatiza que geralmente somos mais especialistas nas
comunicações dos outros do que nas nossas próprias, pais e filhos têm que parar e
prestar atenção em si primeiramente. E para os pais é importante entender que na
adolescência os silêncios são diferentes dependendo do contexto, podendo o
silêncio valer mais do que as palavras, como o silêncio da dor, a quietude de um
momento feliz, o não saber o que dizer, necessitam ser compreendidos em suas
particularidades.
Os pais, por sua vez, como salienta Maldonado (1994), às vezes tem a
consciência de que a forma que estão mantendo a comunicação com seus filhos não
é a mais correta, mas mesmo assim não mudam seus padrões, pois não vêem
17
alternativas. Dependendo da conversa que se mantém, os pais podem abrir ou
fechar os canais de comunicação familiar.
Os pais precisam saber que os jovens não aprendem os valores através das
regras. Eles os assimilam pela conversa que os pais têm sobre suas convicções e
porque os vêem vivendo de acordo com essas crenças (NOLTE e HARRIS, 2005).
É importante também, de acordo com os autores citados, compreender que
faz parte do processo de estabelecimento da identidade do adolescente eles se
afastarem dos pais e escolherem um amigo que reflita o oposto do que os pais
representam, mesmo sendo um momento de angústia dos pais, e quanto mais eles
rejeitarem os amigos dos filhos, mais envolvidos com os amigos os jovens ficarão.
Uma conversa racional com o adolescente pode fazer com que ele mesmo
chegue à conclusão de que não gosta de certas atitudes dos amigos. Por isso é
importante que os pais não tenham medo de expor suas opiniões na frente dos
amigos, ainda mais se forem colocadas em comentários justificados sobre
comportamentos que não aprova, ao invés de ir taxando os amigos dos filhos como
insuportáveis. Porque dessa maneira irão sem perceber estar se distanciando dos
filhos. Afinal, na fase da adolescência as amizades passam a ser de grande
importância, em detrimento dos pais (CARR-GREGG e SHALE, 2004).
Quando os pais sentem-se rejeitados ou desafiados devem manter uma
comunicação positiva, é o que explicitam os autores supracitados, saber ouvir e
respeitar as diferenças de opinião. Não significa que não se possam estabelecer
regras de conduta, mas de tentar discuti-las civilizadamente ao invés de impô-las em
um acesso de raiva.
Com base em Maldonado (1996), os pais geralmente se acham os donos da
verdade por já terem vivido muito mais do que seus filhos. Mas nem sempre a idade
dos pais significa que tenham uma sábia experiência de vida, pois eles podem estar
envelhecendo cheios de rancor, arrependimentos e amargura. O que dificulta a
compreensão das dificuldades dos jovens. Aí então se exige um esforço maior dos
pais para que resolvam primeiro suas próprias frustrações para então poder
compreender e ajudar nos conflitos dos filhos.
Na comunicação podem-se observar distorções em conseqüência de
transformações e desvios na trajetória dos impulsos comunicativos. Como se
observa que em alguns casos, o adolescente pode estar sendo usado como “bode
18
expiatório” para representar a complicada dinâmica que se estabelece entre os pais
(LEVISKY, s/d).
Outro fator que a autora enfatiza em relação à comunicação, é o fato da
comunicação poder vir através de expressões corporais que vem carregada de
emoções que levam um tempo para serem transformadas em pensamentos. As
emoções podem vir tão fortes, assim imobilizando a capacidade de pensar.
Este fator segue a mesma linha de pensamento de Cerveny (2004), onde ela
explicita que a comunicação não-verbal inclui mais do que o corporal, pois abrange
tom de voz, expressões faciais, postura gestos, vestuário, entre outros.
Satir (1967 apud FÉRES-CARNEIRO, 1996), é outro autor que enfatiza a
importância da comunicação, afirma que a baixa ou a alta auto-estima da família é
derivada de maneiras inadequadas ou adequadas de comunicação entre seus
membros. Pois a comunicação não apenas transmite a informação como também
impõe um comportamento. A comunicação é um comportamento que proporciona
interação entre a família.
Enfim, o diálogo é um dos maiores objetivos que a família dos tempos
modernos pretende alcançar. É um sonho baseado na comunicação como melhoria
das relações familiares (CERVENY, 2004).
2.6 A sexualidade dos filhos
As marcantes características da adolescência são as mudanças rápidas,
muitas vezes súbita, imprevisível, mas fascinante. Mas a mudança é algo que
ameaça, pois desestabiliza, podendo a pessoa se sentir ameaçada, dependendo de
que forma ela classifica esta mudança, como uma melhora ou piora (GAUDERER,
1998).
No momento em que a criança tem percepção de sua sexualidade, de acordo
com o autor referido anteriormente, ela se maravilha e se intriga com ela mesma.
Copia modelos que observa a sua volta, vivencia num estado de alerta receptivo e
de maneira antecipatória, aguarda com curiosidade e ansiedade construtiva o que
esse potencial lhe reserva.
Seguindo a idéia do mesmo autor, é de fundamental importância que lhe seja
permitido explorar de maneira desencabulada e não-reprimida o seu corpo, e
19
principalmente, que os questionamentos a esse respeito sejam encarados com
seriedade e respeito. Importante também é que lhe seja preservado o prazer que
essa sexualidade lhe proporciona. Mas pode também haver os extremos, a
demasiada repressão ou a estimulação exagerada, é preciso chegar a um equilíbrio.
É no contexto familiar que a revolução dos costumes sexuais está formando
novos paradigmas morais. Ao mesmo tempo em que a família regula o exercício da
sexualidade humana, tem por ela determinada suas distintas configurações e
objetivos. A família trará benefícios se for um contexto menos repressor e sim
provedor de um ambiente propício ao reconhecimento e à adequada satisfação das
necessidades sexuais de seus membros (OSÓRIO e VALLE, 2002).
Outro aspecto importante a ser destacado é que na adolescência surgem as
primeiras grandes paixões, é uma fase onde os hormônios sexuais estão à flor da
pele, a autonomia comportamental intensifica os sentimentos e as sensações dos
adolescentes, tornando-os mais impulsivos. Surge o dilema: se os pais permitem ou
não que o namorado ou namorado do filho durma em sua casa. É preciso que haja
uma boa dose de adequação para que a convivência familiar continue harmoniosa.
Não se pode fazer disso uma tragédia, mas também não é um mar de rosas para os
pais. A responsabilidade tanto dos pais quanto dos filhos vem em primeiro lugar
(TIBA, 2005).
Os pais devem sempre ter a flexibilidade como critério quando conversam
com a criança e o adolescente, é relevante estarem fazendo uma reciclagem
constante em relação às mudanças do comportamento sexual do adolescente.
Assim durante as conversas os pais se sentirão mais seguros em dar sua opinião e
os filhos se sentirão mais estruturados, consequentemente os adolescentes estarão
com mais responsabilidade e no momento adequado estarão preparados para iniciar
sua vida sexual (PREDEBON, 2002).
20
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A abordagem utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi do tipo
qualitativa.
Os fatores básicos da pesquisa qualitativa conforme Flick (2004) consistem
na escolha correta de métodos e teorias apropriados, na diversidade de perspectivas
dos participantes, na reflexão do pesquisador e da pesquisa a respeito da pesquisa
fazer parte de um processo de produção de conhecimento, e por último, na
variedade de abordagens e métodos utilizados na pesquisa.
A pesquisa qualitativa tem como objetivo situações complexas ou
estritamente particulares. Possuem a facilidade de poder escrever a complexidade
de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais,
apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões
de determinado grupo e permitir em maior grau de profundidade a interpretação das
particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos (OLIVEIRA, 1997).
3.1 Participantes da Pesquisa
A pesquisa contou com a participação de três famílias tradicionais, composta
por pai, mãe e pelo menos um filho adolescente, com idade entre 15 e 16 anos.
A família tradicional, para Osório (1996), é aquela cujo casal dá origem, e
onde a essência está representada na relação pais e filhos, sendo que o objetivo
deste casal é gerar e criar filhos.
Os filhos entre 15 e 16 anos de idade estão passando pela fase da
adolescência, uma fase onde os adolescentes perseguem a busca pela auto-
identidade. Eles sabem que não são mais crianças, mas ainda não se tornaram
adultos. A maioria tem dúvidas, ansiedades, questões sobre o futuro, pois a busca
da identidade, apesar de durar a vida toda, tem grande intensidade na adolescência
(PAPALIA e OLDS, 1998).
21
Sendo uma pesquisa qualitativa, onde visa analisar a qualidade e não a
quantidade dos fenômenos que foram coletados, este número de entrevistados foi
suficiente.
Segundo critérios utilizados, cada família entrevistada pertence a um nível
sócio-econômico diferente, para assim observar se este aspecto se tornaria uma
variável nas respostas obtidas.
Família Membro Nomes Idade Profissão Escolaridade O utros Filhos
Idade dos filhos
Pai
M. 44 Vendedor 2º grau completo
Mãe
Z. 42 Aux. de escritório
2º grau completo
A
Filho
M.J. 16 Estudante 2º ano do 2º grau
1 filha 18 anos
Pai
J. 44 Operário 1º grau completo
Mãe
R. 34 Empregada doméstica
1º grau completo
B
Filho
P. 16 Estudante 2º ano do 2º grau
1 filho 9 anos
Pai
I. 49 Engenheiro Agronomo
Pós graduado
Mãe
M. 49 Dona de casa
2º grau completo
C
Filha
A. 15 Estudante 2º ano do 2º grau
3 filhos 19 anos, 21 anos e 23 anos.
Fonte: Ficha de Identificação (Apêndice A).
3.2 Instrumento
Foi utilizada uma ficha de identificação (Apêndice A) da família, com a
proposta de coletar informações sobre os dados pessoais dos entrevistados.
22
Outro instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada (Apêndices B e
C), para investigar os seguintes temas: educação, comunicação e relacionamento
entre pais e filhos adolescentes.
A entrevista semi-estruturada é aquela na qual o pesquisador organiza um
determinado número de questões, quantas achar necessário, sobre o tema que está
sendo pesquisado, mas permite, certas vezes até incentiva que o entrevistado fale
livremente sobre assuntos que vão aparecendo no desenrolar da entrevista, como
desdobramento do tema principal (PÁDUA, 2000).
3.3 Coleta de dados
A escolha dos sujeitos foi realizada segundo a indicação de pessoas
conhecidas, sendo que os sujeitos não tinham qualquer envolvimento nem contato
com o pesquisador.
O contato inicial ocorreu por ligação telefônica diretamente com as famílias.
Neste contato por telefone, foram feitas as apresentações e a explicação dos
objetivos da pesquisa. Então foram combinados o dia, o horário, o local e a duração
da entrevista (aproximadamente 1 hora e 30 minutos). As entrevistas foram
realizadas na casa das famílias e feitas separadamente, inicialmente com o pai,
depois com a mãe e logo em seguida com o filho (a) adolescente, após a assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido para os pais (Apêndice D).
Para a coleta de dados foi utilizado um gravador, mediante a autorização dos
entrevistados, pois este método permite mais fidedignidade em relação e transcrição
dos dados.
3.4 Análise de dados
Os dados coletados foram transcritos a partir dos registros de informações
gravadas, para que fossem analisados com a maior precisão possível, e não
deixando de lado todos os detalhes. Para a análise de dados coletados, foi feito uso
da técnica de Análise de Conteúdo.
A Análise de Conteúdo são algumas técnicas de análise das comunicações,
procurando obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que possibilitem
23
deduzir conhecimentos em relação às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 1979 apud RICHARDSON, 1999).
Os objetivos da Análise de Conteúdo, conforme Kude (1997) são: ultrapassar
a incerteza, que consiste em analisar se contém realmente na mensagem o que se
julga ver nela, e assim compartilhar essa visão com outras pessoas, e o outro
objetivo é enriquecer a leitura através da descoberta de conteúdos e estruturas que
confirmam ou não o que se procura demonstrar ou pelo esclarecimento de
elementos de significações suscetíveis de conduzir a uma descrição de mecanismos
dos quais não tínhamos compreensão anteriormente.
A criação de categorias, segundo Franco (1994), é o ponto crucial da análise
de conteúdo, é um processo longo e desafiante. Implicam idas e vindas da teoria ao
material da análise, assim as categorias vão sendo lapidadas e enriquecidas para
dar origem à versão final.
De acordo com Richardson (1999), a análise das categorias organiza-se nas
seguintes fases:
Pré-análise: é a fase de organização que permite a eliminação, substituição e
introdução de novos elementos que contribuam para uma melhor explicação do
fenômeno estudado.
Análise do material: é a fase da análise propriamente dita que consistem na
codificação, categorização e quantificação da informação.
Tratamento dos resultados: depois de estabelecidas as características do
problema da pesquisa, formulados os documentos, o pesquisador já tem condições
de dar uma resposta bastante precisa às perguntas por que e o que analisar
(RICHARDSON, 1999).
Sendo assim, foi analisada primeiramente a fase da infância, de acordo com
as entrevistas tanto dos pais como dos filhos. E posteriormente foi analisada a fase
da adolescência, também, levando-se em conta todas as entrevistas. Foram
analisadas separadamente para que fosse possível fazer uma comparação entre o
passado, fase da infância, e entre o presente, fase da adolescência. Para então
investigar como ocorreu a comunicação frente às mudanças que ocorrem na
educação dos filhos na fase da adolescência.
Respeitando os princípios éticos de sigilo e anonimato, os pais e filhos
participantes foram referenciados com a abreviatura de seus nomes.
24
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Diante dos objetivos propostos nesta pesquisa, pretende-se analisar e
debater a respeito da comunicação entre pais e filhos frente às mudanças na
educação dos filhos na fase da adolescência, de acordo com o ponto de vista tanto
dos pais como dos filhos que participaram desta, justificando de acordo com bases
teóricas sobre o assunto.
Para a escolha das categorias foram em primeiro lugar escolhidas as
categorias sobre Comunicação, pois é o principal foco de minha pesquisa, as
categorias sobre Regras com o objetivo de verificar como é estabelecida a
educação, as categorias a respeito da Interação Familiar/Convivência e Afetividade
para assim poder verificar qual a dinâmica das famílias e por último sobre
sexualidade, pois foi uma questão que apareceu fortemente nas respostas das
famílias, como uma dificuldade.
As entrevistas foram analisadas como está descrito acima, originando as
seguintes categorias:
4.1 Comunicação
4.1.1 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na infância
4.1.2 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na infância
4.1.3 Comunicação estabelecida entre o casal para educar o (a) filho (a) na infância
4.1.4 Como o filho percebe a comunicação que teve com os pais na infância
4.1.5 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na adolescência
4.1.6 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na adolescência
4.1.7 Comunicação estabelecida entre o casal para educar o (a) filho (a) na
adolescência
4.1.8 Como o filho percebe a comunicação que tem com os pais na adolescência
4.2 Regras na infância
4.3 Regras na adolescência
4.4 Interação Familiar/Convivência na infância
4.5 Interação Familiar/Convivência na adolescência
4.6 Afetividade na infância
4.7 Afetividade na adolescência
4.8 Sexualidade na infância
25
4.9 Sexualidade na adolescência
4.1 Comunicação
A comunicação humana através da compreensão, põe idéias “em comum”.
Seu grande objetivo é o entendimento entre os homens. Para que exista
entendimento é necessário que se compreendam mutuamente indivíduos que se
comunicam (PENTEADO, 1997).
A comunicação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver
uma incidência observável sobre o comportamento do receptor (deve-se distinguir
cuidadosamente recepção de compreensão) (VANOYE, 1996).
A mensagem é o objeto da comunicação, ainda afirma Vanoye (1996), é
construída pelo conteúdo das informações transmitidas. O canal de circulação é a
via de circulação das mensagens. A transmissão bem sucedida de uma mensagem
requer não só um canal físico, mas também um contato psicológico: pronunciar uma
frase com voz alta e inteligível não é suficiente para que um destinatário desatento a
receba.
4.1.1 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na infância
O trabalho ocupa a maior fatia do tempo e da energia da maioria dos homens,
é o que vem acontecendo há décadas e percebe-se que este conceito permanece
na atualidade. Muitos pais utilizam esse fator como desculpa para não assumir o seu
papel e a maior responsabilidade da educação fica para as mães (MALDONADO,
2006).
Esse fator pode ser observado na Família A, durante o período da infância de
seu filho, na fala do pai: “(...) ele sempre pediu mais ajuda pra Z., mas eu a cho
que isso aí, acho que os filhos se relacionam melho r com a mãe né (...)” . Na
Família B também fica aparente este fato quando o pai é questionado a respeito de
quem o filho mais recorria quando criança: “(...) mais a mãe né, por estar mais em
casa” . Na Família C o pai apresenta o mesmo aspecto: “Ela recorria mais a mãe” .
Há homens que “ajudam”, mas são poucos os que de fato compartilham as
tarefas, muitos ainda acham que as funções domésticas são femininas. O aspecto
26
de cuidador do homem ainda tem muito espaço para se desenvolver. A lacuna do
pai ausente acaba resultando na repetição da omissão quando eles se tornam pais,
passando para a geração seguinte, o velho preconceito de que “educar filhos é
tarefa de mãe” (MALDONADO, 2006).
É sempre atribuída ao pai a falha de que ele não se interesse pelos filhos.
Mas como pode uma pessoa com bons sentimentos não querer cuidar e envolver-se
com seus filhos? O fato é que muitos trazem o sentimento de incompetência,
inutilidade ou insegurança. Muitos homens cresceram vendo apenas o modelo de
mulheres cuidando dos filhos, para alguns, cuidar dos filhos ameaça sua imagem
masculina (BASSOFF, 1996).
Mas também há o fator da mãe deixar oportunidades para o pai assumir seu
papel na educação do filho, conforme o autor citado anteriormente, deixando que
eles tenham seu tempo sozinhos, sem que ela deixe uma lista de instruções sobre
como cuidar da criança. E os pais precisam manter esse tempo sozinho com os
filhos à medida que eles crescem.
Por outro lado, há também outra questão, conforme o mesmo autor, que
embora a mulher possa conscientemente desejar que o marido compartilhe com ela
o cuidar do filho, inconscientemente ela pode se sentir ameaçada pela participação
dele, não querendo perder seu “título” de super mãe.
4.1.2 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na infância
Analisando as respostas das três famílias quando perguntado a quem o filho
(a) recorria mais quando criança podemos perceber como havia maior facilidade de
comunicação entre mãe e filho (a), fato que permanece na adolescência, conforme
as seguintes falas:
Família A: “(...) em relação aos problemas ele recorria mesmo a mim. (...)
ele era muito falante, vinha contava tudo com detal hes (...) (...) da minha parte,
sempre procurava saber a opinião dele (...)” ; da família B: “Sempre é mais pra
mãe né” . E Família C: “Ela pedia ajuda pra mim sempre” .
A preferência materna é fato, há no geral, um vínculo amoroso e saudável
nos filhos em querer compartilhar com as mães seus questionamentos e
sentimentos mais íntimos. Mas é perceptível a sobrecarga que pode se estabelecer
27
sobre a mãe da família, pois ela é mãe, esposa, dona de casa e trabalha fora ao
mesmo tempo e ainda carrega a responsabilidade de conversar sozinha com seu
filho. Mas também cabe só a ela em saber dividir estas tarefas com o pai da família
(PREDEBON, 2002).
4.1.3 Comunicação estabelecida entre o casal para e ducar o (a) filho (a) na
infância
Os limites básicos precisam ser discutidos entre os pais para chegarem a um
consenso de como vão agir em determinadas situações. Do contrário, a criança fica
exposta a mensagens contraditórias que a deixam confusa.
Nas três famílias pode-se perceber que há uma boa comunicação entre o
casal quando diz respeito a tomar alguma decisão em relação ao filho, através das
seguintes frases:
Família A: “A gente sempre conversou e chegou num acordo” (Pai). “(...) eu e o
M. sempre fazia em conjunto com ele (...)” (Mãe). Família B: “(...) a gente sempre
conversa antes né” (Pai). “Nós dois sempre conversávamos” . (Mãe). E Família
C: “Nunca teve necessidade de tomar alguma decisão, pa rar pra conversar”
(Pai). “A gente sempre conversa primeiro, eu e meu marido ( ...)” (Mãe).
As relações conjugais estáveis e satisfatórias facilitam a atuação dos papéis
paternos, pois relações seguras associam-se a condutas paternas seguras e
afetivamente boas entre pais e filhos. Ou seja, pais que mantêm um gratificante
relacionamento conjugal, têm maior facilidade em entrar num consenso em relação a
qual é a melhor maneira de educar seus filhos (CONGER; MUSSEN; KAGAN, 1990).
4.1.4 Como o filho percebe a comunicação que teve c om os pais na infância
A conversa da mãe com o filho, desde o nascimento exerce grande poder,
pois as crianças têm a crença de que suas mães de tudo sabem, e sempre dizem a
verdade. É a voz da mãe que tanto os meninos quanto as meninas demonstram
preferência acima de qualquer outra. Suas advertências, avaliações, suas
expressões através de atos aceitáveis ou não da criança que definem seus
autoconceitos. Estas palavras da mãe tanto podem incentivar como prejudicar a
autoconfiança de seu filho, dependendo da maneira e do conteúdo que lhe é
28
transmitido. O que as mães escolhem dizer para seus filhos, tem muito a ver com
sua perspectiva particular otimista ou pessimista (BASSOFF, 1996).
Na Família A observa-se que no período da infância o filho recorria mais a
mãe, pois quando questionado a respeito, sua fala foi a seguinte: “A minha mãe” .
Já na Família B o filho disse: “Pedia ajuda para os dois, é, falava com eles” . Claro
que é diferente persistir na busca do equilíbrio entre as múltiplas funções, diz
Maldonado (2006), mas não é impossível; principalmente quando homens se tornam
verdadeiramente parceiros na função de promover e cuidar, como parece acontecer
na Família B. Já na Família C a filha disse não lembrar de como era a comunicação,
ou a quem ela mais recorria quando era criança.
4.1.5 Comunicação entre o pai e o (a) filho (a) na adolescência
Tido comportamento tem valor de mensagem, isto é, a comunicação. Por mais
que a pessoa se esforce é impossível não se comunicar. A atividade ou inatividade,
palavras ou silêncio, tudo possui um valor de mensagem, influenciam outros e estes
outros, por sua vez, não podem não responder a essas comunicações. A mera
ausência de falar ou de observar não constitui exceção do que foi acabado de se
citar (BEAVIN; JACKSON e WATZLAWICK, 1998).
Como podemos observar na fala do pai da Família C, onde ele acredita que
praticamente não há comunicação: “Conversamos muito pouco (...) (...) tenho
muita dificuldade pra isso (...)” . A comunicação não acontece apenas quando é
intencional, consciente ou bem sucedida, isto é, quando ocorre uma compreensão
mútua (BEAVIN; JACKSON e WATZLAWICK, 1998).
Família A: “(...) as poucas vezes que ele precisa de uma orien tação ou
alguma coisa, acho que daí é mais comigo (...)”. Mas se pensarmos na resposta
apresentada pela mãe na categoria seguinte, não é isto que podemos perceber, pois
esta afirma que o filho recorre apenas a ela quando sente necessidade.
Cerveny (2004), afirma que em muitas ocasiões ouvimos apenas aquilo que
queremos ouvir e não o que realmente está sendo dito, principalmente entre pai e
mãe a queixa dos filhos pode ser interpretada de diferentes maneiras. É o que
ocorre na Família A.
Família B: “Conversamos com ele, mais agora do que quando ele era
pequeno” . Nesta família, predominantemente, aparece à diferença dos pais se
29
comunicarem mais com o filho na adolescência. Este é um fator que só irá beneficiar
a relação entre pais e filhos, mesmo que a comunicação não venha desde a
infância, nunca é tarde para começar. É importante empenhar-se em estabelecer
eficientes canais de comunicação, no começo os filhos podem resistir, mas se os
pais insistirem os filhos vão acabar os escutando, pois os jovens querem orientação,
pois estão no estágio mais confuso da vida e vão se sentir melhor sabendo que tem
alguém muito próximo em quem eles possam confiar (CARR-GREGG e SHALE,
2004).
4.1.6 Comunicação entre a mãe e o (a) filho (a) na adolescência
Os pais costumam sentir a autonomia dos filhos de modo duplo. Por um lado
ficam contentes de ver o filho crescer e desprender-se gradualmente. Por outro lado,
podem sentir a dor da separação, encarando o crescimento do filho como uma
perda. Talvez uma das maiores dificuldades de ser pai e mãe consista em deixar
que os filhos se afastem para que depois se aproximem outra vez, num vínculo mais
adulto. Alguns pais sentem-se “rejeitados” quando passam a ser menos solicitados:
ficam com medo de serem inúteis, de ficarem sozinhos ou de perderem a função de
pais. Se este sentimento for muito intenso, os pais estariam superprotegendo os
filhos, abafando sua autonomia (MALDONADO, 1994).
Criar os filhos implica saber encontrar o equilíbrio entre o estar disponível e o
tornar-se dispensável quando se faz necessário. É saber renunciar ao desejo de
impor seus desejos e estar presente quando os filhos não solicitaram. Os pais da
atualidade mostram-se perdidos entre suas boas intenções liberalizantes não
sabendo fazer uma diferenciação entre repressão e colocação de limites. Além de
serem leais, os pais precisam estar disponíveis. Pois com a repressão impede-se o
crescimento emocional, e com a demasia da liberdade os filhos podem ter a
sensação de abandono (OSÓRIO, 2002).
Na verdade, explicita Osório (2002), os adolescentes estão em busca da sua
autonomia, e não da dependência, embora muitos não tenham isso consciente. Pois
o ciclo natural é que sempre seremos dependentes emocionalmente de outros seres
humanos. O que eles querem é uma individualização em relação aos pais.
Analisando a resposta das mães das três famílias pode-se observar a
dificuldade que estas têm em deixar seus filhos ir a caminho de sua autonomia:
30
Família B: “(...) se ele quer alguma coisa ele diz: mãe pergun ta pro pai... A gente
sempre conversa com ele, mais hoje em dia (...)” . Família C: “Hoje em dia
também é mais pra mim, ela vem conversa comigo” . E com ênfase na Família A:
“ (...) ele tem esse costume de telefonar, às vezes ele sa i vai pra cidade e ele
liga três, quatro vezes, até incomoda, mas aí eu nã o falo nada porque aí se eu
for recriminá-lo daqui a pouco ele não liga mais da í é pior e eu fico preocupada
(...) (...) em matéria de problema ele não se abre muito, é bem fechado (...)”
4.1.7 Comunicação estabelecida entre o casal para e ducar o (a) filho (a) na adolescência
Observa-se que não houve mudanças quanto à comunicação do casal, desde
que os filhos eram crianças até hoje o casal manteve uma boa comunicação a
respeito da educação dos filhos, os pais deixam transparecer a partir das falas a
seguir:
Família A: “A gente sempre conversa e chega num acordo, nunca
ninguém puxa, toma uma decisão pra si” (Pai). “A gente sempre conversa e
chega num acordo (...)” (Mãe). Família B: “Agora também né, é como quando
ele era criança” (Pai). “Nós dois decidimos (...)” (Mãe). Família C: “(...) se
precisa eu e minha mulher entramos num consenso” (Pai). “Hoje em dia
também, como era antes” (Mãe).
A interação conjugal na dinâmica familiar é de extrema importância, esta
interação, de acordo com Féres-Carneiro (1996), seria o processo de trocas
relacionais estabelecidas entre marido e mulher. A interação conjugal considerada
gratificante acontece quando as trocas existentes são construtivas e prazerosas. O
ponto positivo que se observa na fala dos casais em questão é o fato deles
chegarem sempre em um consenso na educação dos filhos, o que é muito
construtivo tanto para as figuras paterna e materna como as figuras de marido e
mulher.
4.1.8 Como o filho percebe a comunicação que tem co m os pais na adolescência
31
Na adolescência os filhos mostram ainda a predominância na comunicação
estabelecida com a mãe. Família A: “Acho que hoje em dia... é também a minha
mãe” . Família C: “(...) eu sempre converso mais com a minha mãe, mas na hora
do almoço com os dois. Eles conversam comigo pra ve r o que eu quero (...)” .
Apenas o filho da Família B não dá esta ênfase em sua fala: “Eles conversam
comigo, mais agora” .
Devido a fatores psicológicos e culturais, vimos que não é fácil para os pais
terem uma paternidade devidamente compartilhada, eles ainda enfrentam
paradigmas que vão a encontro com seus valores. A divisão tradicional faz com que
a figura paterna provenha financeiramente e a figura materna provenha
emocionalmente. Mas nos dias de hoje, tanto o marido como a esposa trabalham
fora, e a paternidade compartilhada está se tornando algo inquestionável, sendo
uma solução prática para os casais modernos, fortalecendo laços entre pais e filhos
e entre marido e mulher, é um assunto que vale a pena estar sempre enfatizando
para um futuro próximo tornar-se algo implícito na relação familiar (BASSOFF,
1996).
A filha da família C diz que no momento das refeições conversa com ambos,
pai e mãe. O momento da refeição é uma boa oportunidade para a família
estabelecer um diálogo descontraído, é hora não apenas de sentar para comer, mas
é também uma ocasião para o alimento afetivo, onde cada um pode contar sua
rotina, sem finalidade de pesados acertos de contas, cobranças ou reclamações
(TIBA, 2005).
4.2 Regras na infância
Na família é necessário haver certa hierarquia, não de força, mas sim de
papéis. Pois pais e mães têm de saber dizer “não” com firmeza. Há decisões que
cabem só aos pais tomarem, mesmo correndo o risco de errarem. Os pais têm que
fazer cumprir uma ordem: estabelecer limites, distribuir e assumir responsabilidades
(GOLDESTEIN, 1995).
Há pais que apresentam dificuldades em colocar limites nos filhos porque tem
a idéia de que não devem frustrá-los. Mas precisam ter a consciência de que a
frustração faz parte da vida, não ocorre apenas por falha do processo de
desenvolvimento ou insuficiência dos pais. Muito pelo contrário, uma pessoa que
32
nunca passou por uma frustração, provavelmente teve uma trajetória anormal, com
algum desvio de rota (ARATANGY, 1998).
Analisando as seguintes falas: Família A: “(...) era deixado meio a vontade,
porque a gente nunca precisou cobrar muito dele (.. .)” (Pai). “(...) ele sempre
sabia sair da situação, já por ver pela irmã mais v elha ele já sabia ter noção do
certo e do errado (...) (...) De castigo nunca foi nada muito pesado, a gente
chamava a atenção, mas ele já fazia aquela carinha de arrependido, se safava
bem (...)” (Mãe). “(...) não castigavam, só davam um sermão” (Filho). Família B:
“Brigava com ele assim, mas era difícil de ele faze r arte (...)” (Pai). “Castigo,
castigo a gente não dava, mais conversava e dizia q ue não podia fazer, mas
quase não precisava (...)” (Mãe). “Determinavam, os horários sim, pra não
dormir muito tarde por causa que tinha que levantar cedo pra ir pra escola né”
(Filho). Família C: “(...) aqui em casa nunca foi de ter muita discipli na, nada
muito rígido” (Pai). “(...) ela era uma menina que nunca foi de aprontar (...)”
(Mãe). “Eu acho que não fazia muita arte, mas se eu fazia acho que eles só
conversavam comigo” (Filha).
O pai tanto da Família A como da Família B, parecem acreditar que não era
necessário colocar muitos limites. Este fator pode prover de pais que acreditam que
seus filhos são ativos, controlam sua aprendizagem e adquirem conhecimentos
através da vivência. O ideal também é que discutam questões com seus filhos e lhe
façam muitas perguntas, estimulando-os assim a pensar e raciocinar. Já os pais que
pensam que seus filhos são basicamente aprendizes passivos, adquirem atitudes
que tem menos probabilidade de promover o desenvolvimento cognitivo (CONGER;
MUSSEN; KAGAN, 1990).
Como prática na educação dos filhos e técnicas disciplinares, de acordo com
os autores citados anteriormente, é relevante a inferência que os pais têm sobre o
comportamento e motivações da criança, bem como suas crenças, opiniões e
orientações sociais. Mas assim como na adolescência, na infância as crenças sobre
a educação dos filhos têm de ser flexíveis, mutáveis e adquiridas pela experiência
acumulada dos pais, das diferenças que são notadas entre irmãos, como fica claro
na Família A, através da fala da mãe.
Os conhecimentos em educação, ainda enfatizam os autores, também podem
vir dos conselhos recebidos de pais mais experientes sobre como eles podem lidar
33
com novas situações e consultando especialistas quando a criança tem um
problema que eles não se sintam capazes de resolver.
Outra questão que os mesmos autores enfatizam é a punição. Ela pode ter
conseqüências negativas, gerando tamanha ansiedade na criança que ela pode não
aprender a lição, e ainda pode evitar seus pais, assim eles terão menos
possibilidades de ensinar e orientar seus filhos. Mas a punição não sendo severa
traz bons resultados reduzindo ou inibindo respostas indesejáveis, promovendo o
desenvolvimento do autocontrole e do comportamento apropriado socialmente.
Quanto mais curto o intervalo entre o comportamento indesejável e a punição,
seguindo ainda as idéias dos autores já citados, mais eficaz será esta punição. O
ideal é interromper um comportamento inaceitável antes de ele ocorrer. E o mais
importante é sempre explicar o porquê da punição, explicações curtas e em
vocabulários apropriados para compreensão é o mais adequado.
Nas falas, em específico, do filho da Família A, bem como, do pai, mãe e filho
da Família B, deixam transparecer como nunca houve uma punição severa da parte
dos pais na maioria dos casos.
Lembrar-se que limites não é necessariamente deixar o filho de castigo, é
fundamental. Pode-se perceber que é algo que as três famílias sabem diferenciar. O
limite é ensinar que as pessoas não podem nem são capazes de fazer tudo que
tenham vontade. Há regras para tudo, e as regras foram feitas e devem ser
cumpridas para proteger as próprias pessoas. Como ninguém nasce sabendo, é
dever dos pais ensinar quais são as regras para seus filhos, sem esperar que a
criança faça mais do que é capaz, mais do que entende, mais do que lhe é possível.
É preciso que ele ganhe experiência para que possam ser cobradas coisas próprias
dos adultos (GOLDESTEIN, 1995).
4.3 Regras na adolescência
O autodesenvolvimento depende intimamente de autodisciplina. Tomar
iniciativa de buscar oportunidades, assumir uma postura ativa no sentido de
aprimorar conhecimentos e habilidades. Embora algumas crianças desde pequenas,
apresentem como traços de personalidade a organização, a persistência, à
determinação e o esforço para o aperfeiçoamento, essas características podem ser
34
desenvolvidas quando se exige disciplina, no contexto da família e da escola
(MALDONADO, 2006).
A autora supracitada ainda afirma, que o equilíbrio entre direitos e deveres, os
limites colocados com consistência, firmeza e serenidade favorecem a disciplina, o
primeiro passo para estimular o desenvolvimento da auto disciplina. Os adultos
tomam conta da criança com a esperança de que, aos poucos, ela aprenda a tomar
conta de si mesma.
Pela fala tanto dos pais como do filho da Família A, percebe-se que a
educação que os pais deram foi favorável para que o filho se auto desenvolvesse:
“Hoje também a gente deixa bem à vontade, eu falo i sso comparando assim
como era no meu tempo de criança (...). Eu não proí bo nada (...)” (Pai). “(...) ele
sabe do limite, porque a gente fala, não que a gent e impõe (...)” . (Mãe). “(...)
acho que é liberal porque não tem restrições, mas t ambém porque eu não
passo dos meus limites” (Filho).
A Família B também demonstrou essa característica através das seguintes
afirmações: “Às vezes liberal, às vezes mais rígido, mas ele e scuta bem (...)”
(Pai). “Meio termo, não precisa ser muito rígido com ele” (Mãe). “Eles são
liberais (...) (...), mas eu sei meus limites” (Filho). O mesmo aspecto aparece na
Família C, mas apenas na fala do Pai (I.): “(...) nunca teve que brigar. (...) pela
nossa atitude ela já assimila” . E na fala da filha (A.): “É liberal e autoritário ao
mesmo tempo” .
Saber seus limites implica conquistar a liberdade, o que depende do
desenvolvimento de competências do filho. Os pais querem primeiramente perceber
se o filho já está pronto para fazer uma escolha livre, se ele já é capaz de
reconhecer suas próprias necessidades, ter meios de identificar os vários caminhos
que podem atendê-las e saber prever as conseqüências de cada uma das opções
possíveis. É uma tarefa difícil, afinal ninguém tem uma previsão realista da
conseqüência de seus atos (ARATANGY, 1998).
Já a mãe da Família C releva outro aspecto quando questionada a respeito da
educação que estabeleceu com sua filha através da seguinte fala: “(...) uma falha
que eu reconheço é que ela é muito dependente (...) (...) não sei se eu deveria
ter cobrado mais ou deixado ela mais fora da barra da saia, a gente sempre
quer proteger” .
35
A geração de pais que encontramos na atualidade, elegeu a culpabilidade
como sua principal conselheira. Sendo que a culpa não traz nenhum beneficio ao ser
humano. A responsabilidade sim que traz inúmeros benefícios, mas esta é diferente
de sentir-se culpado. Os pais assumirem responsabilidade pelos atos e intenções
diante dos filhos é diferente do que se sentirem culpados por tudo que lhes
aconteça. Na relação humana entre duas pessoas não há um culpado, cada um
deve assumir sua responsabilidade se houve algo na relação que não funcionou.
Ainda que estejam sujeitos a dependência dos pais os filhos possuem sua própria
identidade como qualquer ser humano, pode-se concluir que também possuem
vontade própria, então nada mais do que natural do que em certos momentos eles
fujam do controle dos pais (OSÓRIO, 2002).
4.4 Interação Familiar/Convivência na infância
Pode-se perceber como ocorria a interação e convivência familiar, nas
famílias entrevistadas quando os filhos estavam na fase da infância a partir das
seguintes afirmações:
Família A: “A gente ficava sempre junto” (Pai). “Sempre saíamos em
família, sempre (...)” (Mãe). “Sempre junto, com família e familiares” (Filho).
Família B: “Quando o P. era pequeno a gente ficava mais junto né” (Pai).
“Sempre combinávamos de fazer as coisas juntos” (Mãe). “A gente sempre
saía juntos (...)” (Filho). Família C: “Sempre, quase sempre passávamos os fins
de semana juntos” (Pai). “Quando ela era pequena ela sempre foi muito
grudada (...)” (Mãe). “A gente sempre saia juntos” (Filha).
Todas as famílias entrevistadas, sempre tiveram uma convivência muito
próxima, essa interação familiar promove a auto-estima, sendo uma característica
facilitadora para saúde emocional de todos os membros da família. Ao mesmo
tempo em que as identidades individuais são preservadas, dando possibilidade em
manifestar as diferenças e discordâncias, a identidade grupal está presente também,
o que possibilita uma integração e atividade conjunta do grupo, neste caso, da
família, isto ocasionará a manifestação de sentimentos positivos nos membros
pertencentes à família (FÉRES-CARNEIRO, 1996).
36
A interação familiar explicita Ackerman (1986), traz a noção do que é a
realidade, fazendo com que o individuo procure dentro de sua experiência familiar
qualidades que condizem com seus objetivos pessoais. A convivência familiar vai
moldando o ser humano através de experiências especificas de aprendizagem, que
farão com que o individuo saiba lidar com as situações que estão por vir. Se
houverem condições favoráveis na relação, a harmonia familiar irá predominar.
4.5 Interação Familiar/Convivência na adolescência
A partir das falas das famílias é observável que houveram no geral algumas
mudanças no que se refere a interação familiar e convivência na adolescência:
Família A: “É hoje, aí já não vão junto, daí não querem, tem q ue negociar
né, daí um fim de semana não dá porque tem isso, en tão vamos no outro né”
(Pai). “(...) ele fica muito tempo ali jogando, conversand o com os amigos (no
computador) (...) (...) então a gente acaba ficando com pouco contato,
infelizmente. (...) não tá querendo sair muito com a gente, mas de vez em
quando ele ainda pede (...)” (Mãe). “Hoje em dia é mais cada um por si” (Filho).
Família B: “Olha, tem hora que a gente tá junto, mas tem hora que é
pouco, ele trabalha agora também” (Pai). “Agora também, a gente combina
junto o que vai fazer” (Mãe). “Hoje em dia a gente combina de sair junto”
(Filho).
Família C: “Praticamente a família tá sempre junto” (Pai). “Hoje a gente
também sai junto (...) (...) se a I. (irmã mais vel ha) tá em casa ela fica em casa
com a irmã” (Mãe). “A gente quase sempre passa os finais de semana jun tos.
Hoje em dia eu também vou um pouco na casa das minh as amigas, elas vem
um pouco aqui (...)” (Filha).
Na fala do pai da Família A, ele cita o termo negociar. A negociação ganha
uma força especial devido à autonomia comportamental do adolescente. É uma
manifestação saudável de sua individualização, o jovem está em busca de sua
identidade social, querendo assim, certa separação física e mental dos pais (TIBA,
2005).
A mãe da Família A mostra sua preocupação por seu filho ficar muito tempo
no computador, o que faz com que percam um pouco do contato. Nos estudos de
Tiba (2005) ele salienta que na geração anterior a de hoje, fechar-se no quarto era o
37
castigo mais freqüente que se aplicava aos filhos, lá eles ficavam sem contato com
os amigos, com a família, para assim refletirem sozinhos sobre suas atitudes. Mas
hoje em dia fechar-se no quarto é ainda estar longe da família, mas conectado com
o resto do mundo, via internet principalmente.
Os adolescentes por outro lado, podem estar correndo risco na internet,
acessando sites não adequados, ou participando de sala de bate papos on line, não
muito confiáveis, uma solução seria ter o computador na sala de estar da casa, onde
todos pudessem ter acesso, assim os pais não precisariam ficar temerosos quando
seus filhos estão no computador, pois podem ficar por perto estando a par do que
eles estão fazendo, ou seja, dão uma liberdade supervisionada para o filho. Os pais
podem sempre estar pedindo para que o filho tenha cuidado e responsabilidade ao
acessar a internet, assim eles sentirão que os pais estão demonstrando como se
preocupam com ele, dando valor a interação familiar (CARR-GREGG e
SHALE,2004).
Apesar de algumas mudanças, as famílias continuam com uma convivência
harmoniosa. As mudanças que ocorreram provem da importância que os
adolescentes dão para os amigos nesta fase, por isso não ficam mais tão junto dos
pais como quando eram crianças. A amizade faz parte da busca de identidade que o
adolescente está passando, ele busca uma identificação com algum grupo de
amizade em específico. Os filhos das três famílias estão passando por este período
de identificação com os amigos, pode-se perceber em suas falas, pois apesar de
ainda gostarem de passar um tempo junto com suas famílias, hoje reservam um
tempo para seus amigos, algo que não ocorria na infância.
4.6 Afetividade na infância
O espaço familiar é o lugar fundamental para se aprender a lidar com as
emoções. A forma de passar este ensinamento para os filhos vai depender de como
os pais lidam com suas próprias emoções. Como ocorre em outros fatores, o
exemplo vale mais do que um ensinamento teórico. Se os pais sentem dificuldade
em se expressar, sendo por alguma dificuldade em ter consciência do que sentem
ou em controlar seus impulsos, podem aproveitar o momento em que estão
passando os valores para seus filhos e ir aprendendo também (ROSSET, 2003).
38
A tarefa de ensinar e aprender é diária, ainda afirma a autora citada. Em um
primeiro momento os pais devem observar as expressões de emoções da criança,
seus olhares, sua maneira de agir e reagir frente às situações, pois entendendo e
reconhecendo bem seu filho será mais fácil ter caminhos para a intimidade e um
bom relacionamento de ensino e aprendizagem de vida.
Através das seguintes respostas das famílias, pode-se perceber como era a
afetividade no período da infância dos filhos:
Família A: “(...) a gente sempre teve um relacionamento afetiv o muito
forte, sempre a gente se beija” (Pai). “Em relação a carinho eu nunca fui de
esconder (...) (...) ele sempre foi muito carinhoso (...)” (Mãe). “No dia a dia eles
demonstravam carinho” (Filho). Família B: “Mais na fala” (Pai). “Conversando,
abraçando” (Mãe). “Mais pela fala” (Filho). Família C: “Mais por palavras do que
com gestos” (Pai). “Eu acho que pelo carinho, presente a gente nunca f oi de
dar muito (...)” (Mãe). “(...) o meu pai e minha mãe com palavras também, m as
ela vinha abraçava e beijava” (Filha).
A necessidade da criança é do amor que ensina. Pois o ensinar precisa ser
feito com amor, os pais sentem-se gratificados quando percebem o que
conseguiram passar para seus filhos. Este amor é um investimento afetivo e material
para a educação e realização dos filhos. Quando os pais fazem alguma proibição,
precisam mostrar quais as causas, pois tendo clareza do perigo a criança trilhará por
caminhos alternativos, permitidos. Os pais têm o dever de ensinar o básico, para
que depois a criança aprenda sozinha. Através de estímulos, agrados e reforços que
a criança começa a aprender o que é bom para ela (TIBA, 2005).
Crianças que se sentem amadas, segundo os autores Nolte e Harris (2003),
têm maior facilidade em prosseguir na vida, indo atrás de seus objetivos e criando
laços afetivos com outras pessoas. E o mais importante, aprendem a gostar de si
mesmas. Se desenvolvendo tendo a consciência de que merecem ser amadas,
estarão preparadas para dar e receber carinho e manter relacionamentos afetivos
mais estáveis.
4.7 Afetividade na adolescência
39
O apego entre pais e filhos, continua existindo, principalmente se os pais são
carinhosos. Mesmo os filhos indo cada vez mais cedo para as escolinhas, creches,
os filhos levam consigo o grande valor dado à família, embora os pais geralmente
tiverem a idéia de que seus filhos dão mais valor para os amigos. Os adolescentes
precisam dos pais e dos amigos, mas de diferentes maneiras, um não elimina nem é
melhor que o outro cada um preenche a devida necessidade que o adolescente
apresenta (TIBA, 2005). Nas famílias entrevistadas existe o apego entre pais e filhos da seguinte
forma:
Família A: “Eu faço questão que meu filho me beije (...) (...) ele chega e
me beija tanto faz se eu tô aqui ou na frente dos a migos dele (...)” (Pai). “(...)
hoje em dia (...) ele é mais seco (...)” (Mãe). “(...) Considero legal a relação”
(Filho). Família B: “Mais no falar também” (Pai). “Conversando, abraçando”
(Mãe). “Eles falam mais, e mais pela amizade também” (Filho). Família C: “Mais
com palavras, aqui em casa a gente tem muita brinca deira, mas nunca de ficar
demonstrando através de alguma coisa, tipo presente s” (Pai). “Pela conversa e
demonstrando carinho também” (Mãe). “Da mesma forma de quando eu era
pequena” (Filha).
A afeição na dinâmica familiar, segundo Féres-Carneiro (1996), pode ser
manifestada através de um comportamento não-verbal, manifesto pelos pais e filhos,
através de contatos físicos amorosos, expressando o carinho que tem uns pelos
outros. Em cada família aparece este aspecto na fala de pelo menos um de seus
membros. Em uma dinâmica familiar saudável, a afeição física está presente, sendo
manifestada e recebida espontaneamente, iniciando pelo casal enquanto pais e
enquanto marido e mulher.
Para o autor Humphreys (2000), família saudável é aquela que mantêm um
relacionamento empático, este é um relacionamento onde os pais não impõem seus
pontos de vistas, e sim são sensíveis às necessidades de cada um, mostrando
interesse pelos pensamentos dos filhos. O relacionamento vem antes dos
problemas, não quer dizer que os pais não possam ser firmes, pois isto não seria
amor. Os membros da família não podem fugir de suas responsabilidades, quando a
confrontação e a firmeza são necessárias, são feitas dentro do relacionamento
amoroso, sem haver acusações ou ridicularizações. È um relacionamento onde as
falhas e os erros são tidos como oportunidades para um aprendizado posterior.
40
Segundo o relato das famílias, pode-se perceber que elas mantêm um
relacionamento afetivo saudável, sendo que todos os pais dão grande valor à
demonstração de carinho.
4.8 Sexualidade na infância
Uma preocupação dos pais, de acordo com Predebon (2002), é que os filhos
estão aprendendo mais do que deveriam. Acham que quanto mais aberta estiver a
comunicação referente à sexualidade, seus filhos irão cada vez mais ter interesse
pelo sexo, mas na verdade os pais se deparam com suas dificuldades em lidar com
seus próprios sentimentos. A família ainda encontra dificuldades em discutir o
assunto, mesmo sendo ela a base que proporciona suporte emocional, e onde mais
deveria se estabelecer um ambiente de trocas.
Seguindo a idéia do autor já citado, são os pais, que frente às inúmeras
informações que a sociedade joga em cima dos adolescentes, tem que estar
preparados para solucionar as dúvidas e inquietações cada vez mais cedo, frente a
uma comunicação aberta, pois assim há maiores possibilidades de serem
estabelecidos limites realistas e de o jovem se sentir a vontade de expressar e
compartilhar com os pais este novo momento de sua vida.
Analisando as entrevistas das três famílias observa-se que os pais nunca
tomaram a iniciativa de estabelecer um diálogo desde cedo, sobre sexualidade,
sendo assim, seus filhos ficaram inibidos em iniciar um diálogo sobre o assunto,
conforme os seguintes relatos:
Família A: “Nunca teve pergunta sem resposta (...) (...) se el es viessem
perguntar a gente explicava (...)” (Pai). “Ele não perguntava” (Mãe). “Não, eles
não vem e chamam pra parar e conversar sobre isso” (Filho).
Família B: “Ele não perguntou nada” (Pai). “Nunca perguntou nada”
(Mãe). “A gente não conversava” (Filho).
Família C: “Ela nunca questionou nada. Nunca paramos pra conve rsar
especificamente sobre isso” (Pai). “Ela nunca questionou nada” (Mãe). “Não
lembro” (Filho).
4.9 Sexualidade na adolescência
41
Na adolescência o tema sexualidade também é delicado e mobilizante, tanto
para os adolescentes como para seus pais. Nessa fase muda toda a estrutura
anatômica do adolescente acontecendo uma nova descoberta do corpo, surgindo
muitas dúvidas. Uma necessidade é que os pais tenham seus conceitos e
preconceitos revistos e resolvidos, podem inclusive rompê-los para que não passem
idéias distorcidas e errôneas para seus filhos. A educação sexual deve ser passada
de maneira imparcial, não moralista, não religiosa, e sim explorada em cima da
realidade (GAUDERER, 1998).
Alguns assuntos, segundo Aratangy (1998), são realmente perturbadores,
nesse caso ao invés de fingir que não há constrangimento é preferível falar da
perturbação, assim é provável que se o outro também estiver constrangido, os dois
se sentirão melhor se puderem partilhar esse sentimento, em vez de tentar escondê-
lo.
Como já apareceu na fase da infância, observa-se que na adolescência
permanece a dificuldade nas três famílias, em estabelecer um diálogo à respeito da
sexualidade, como pode ser identificado nas seguintes respostas:
Família A: “Hoje também, deixa acontecer com naturalidade” (Pai). “(...)
poderíamos até falar mais (...)” (Mãe). “Não, eles não vem e chamam pra parar
e conversar sobre isso” (Filho). Família B: “Conversamos com ele” (Pai). “Não
ele não conta nada dessas coisas” (Mãe). “Eles conversam comigo” (Filho).
Família C: “Conversamos muito pouco (...)” (Pai). “Nunca paramos pra
conversar especificamente sobre isso” (Mãe). “Eu converso mais com minhas
amigas sobre isso, eles nunca pararam pra conversar sobre isso comigo”
(Filha).
Em várias pesquisas realizadas foi contatado o embaraçamento que os filhos
apresentam em conversar sobre sexualidade com seus pais pelo temor de serem
ridicularizados, então preferem ter essa conversa com seus amigos, pois se sentem
mais seguros (PREDEBON, 2002). Este é um fator que se vê com clareza na fala da
filha da Família C.
4.10 Análise Geral das Categorias
42
Depois de ter analisado cada categoria observa-se as mudanças que
ocorreram na comunicação entre pais e filhos, frente às mudanças que ocorrem na
educação dos filhos na fase da adolescência, segundo o relato tanto dos pais quanto
dos filhos obtido nas entrevistas. Mas também pode-se perceber que não foram em
todas as categorias que houveram mudanças significativas.
As mudanças que ocorrem no relacionamento entre pais e filhos na
adolescência, de acordo com Carter e McGoldrick (1995), envolvem as mudanças
na maturidade física dos filhos, juntamente com as mudanças que ocorrem com os
pais por estarem entrando na meia-idade. Geralmente depois de superadas estas
confusões e perturbações geradas tanto nos pais quanto nos filhos, as famílias
reogarnizam-se para que o adolescente caminhe rumo a sua autonomia.
Foi feito uma comparação entre as categorias, analisando primeiro a fase da
infância do filho e posteriormente a fase da adolescência, sempre levando em conta
as respostas dos pais e dos filhos.
A primeira categoria fala a respeito da comunicação, sendo sua primeira
subcategoria a comunicação entre pai e filho (a). Na visão dos pais há uma
mudança nas famílias A e B, pois durante a infância dos filhos, estes recorriam
apenas a mãe, já na adolescência o pai da família A diz que agora o filho recorre
mais a ele, e o pai da família B diz que eles conversam mais agora. Já na família C o
pai relata ainda não ter conseguido manter uma boa comunicação com sua filha, o
que pode indicar que esta família pode estar envolvida a questão de gênero, pois o
pai pode apresentar mais dificuldade em se comunicar com sua filha, por ela ser
mulher.
Na segunda subcategoria onde foi analisada a comunicação entre a mãe e
filho (a), observou-se não haver qualquer mudança significativa, pois na fala das
mães das três famílias fica claro que de acordo com seu ponto de vista, os filhos
tanto na infância como agora na adolescência recorrem preferencialmente a elas.
A terceira subcategoria diz a respeito da comunicação estabelecida entre o
casal para educar o (a) filho (a), esta é outra categoria onde não houve mudança,
pois os pais salientam que tanto na infância quanto na adolescência quando preciso,
eles sempre conversam e chegam num consenso conjuntamente. Este é um ponto
muito positivo encontrado em todas as três famílias.
Na quarta subcategoria onde foi observado como o filho percebe a
comunicação que tinha na infância e que tem atualmente com os pais, os filhos das
43
famílias A e C afirmam que sempre tiveram uma melhor comunicação com a mãe, já
o filho da família B diz conversar com ambos, pai e mãe, tanto quando era criança
como agora.
Conforme Maldonado (1994), não há nenhum tipo de comunicação que seja
infalível ou indiscutivelmente adequada para todas as ocasiões. Mas existem
maneiras de comunicação que são facilitadoras para resolução de problemas e
impasses, fazendo com que ao passar pelas dificuldades saiba-se lidar com as
situações posteriormente de um modo construtivo.
A próxima categoria é sobre regras/liderança, onde se pode concluir que as
três famílias têm em comum a característica de não serem muito rígidos quanto às
regras, os pais não achavam necessário submeter a criança a um castigo severo, e
esta educação que deram fez com que na adolescência seus filhos soubessem
diferenciar sozinhos o que é certo do que é errado, sabendo dos seus limites a partir
das atitudes dos pais.
O único diferencial que aparece é na fala da mãe da família C, onde ela diz
que acha que deveria ter cobrado mais da filha quando ela era criança para ela se
tornar mais independente na adolescência. Mas no geral os pais mostraram ter
autoridade e não serem autoritários.
Nesta categoria uma variável pode ser em relação ao número de filhos que o
casal possui, e qual a geração do filho entrevistado, sendo que nas famílias A e C os
adolescentes entrevistados tinham irmãos mais velhos, podendo estes a partir da
observação dos irmãos também terem assimilado quais eram seus limites, assim os
pais não precisaram estar enfatizando severamente quais os limites que os filhos
devem atingir.
Há uma grande diferença entre pais autoritários e pais com autoridade.
Zagury (2005) enfatiza que pais autoritários são aqueles que levam em conta
apenas seu ponto de vista, considerando que são os únicos com a razão, não
cedem, dominam e tentam moldar seus filhos. Já os pais que tem autoridade são
aqueles que ouvem, são rígidos quando precisam, mas por prezar o bem-estar do
filho, ou seja, eles impõem respeito com cautela e são flexíveis.
Referente à categoria interação familiar/convivência ocorreram mudanças
entre a fase da infância e da adolescência dos filhos, sendo que segundo a fala
tanto dos pais quanto dos filhos, na infância os filhos passavam mais tempo com a
família, sempre saindo juntos e passando datas comemorativas também juntos.
44
Agora na adolescência, não é sempre que os filhos passam os fins de
semana e saem juntos com os pais, sendo que nesta fase os filhos têm os amigos
como companhia, apesar de que na fala dos filhos das três famílias eles ainda
demonstram gostar de estar em família em certos momentos.
Humphreys (2000) afirma que na interação e convivência familiar é
fundamental que as relações sejam autênticas e verdadeiras. Todos os integrantes
da família necessitam de reconhecimento e aprovação. Pois, segundo Rosset
(2003), é dentro da família que a pessoa define seus padrões básicos de
funcionamento, o que utilizará em todas as situações que terá de enfrentar mundo
afora. A interação positiva está relacionada ao fator afetividade, pois quanto melhor
a afetividade, melhor a convivência familiar, sendo mais fácil de enfrentar as
dificuldades encontradas.
A categoria seguinte é afetividade, observa-se que o pai da Família A tem
orgulho em dizer que ainda hoje ele e o filho se beijam mesmo na frente dos amigos
do filho e que este não fica constrangido, já a mãe diz que hoje em dia, o filho é mais
seco com ela, e na infância ele era mais carinhoso. O filho deixa transparecer que
acha boa a relação atualmente, como era na sua infância.
Na família B não houveram mudanças significativas da fase da infância para a
adolescência, os pais parecem ser carinhosos com o filho através da fala, da
comunicação, apesar de não falarem muito a respeito, e o filho percebe tal situação
da mesma forma. Já na família C tanto na infância quanto na adolescência da filha o
pai parece ter um pouco de dificuldade na demonstração de afeto, ele diz que sua
demonstração é mais através de palavras do que de gestos, já a mãe não apresenta
esta dificuldade, é o que se pode perceber através da fala tanto da mãe quanto da
filha.
O amor dos pais pelos filhos precisa suportar uma série de dolorosas
transformações. A principal responsabilidade dos pais tanto na infância quanto na
adolescência dos filhos é fazer com que eles se sintam seguros e amados, mesmo
que eles estejam agindo de forma que não satisfaçam os pais. Pois o amor dos pais
é que produz inicialmente o equilíbrio psicológico da vida dos filhos (NOLTE e
HARRIS, 2005).
A última categoria se refere à sexualidade, foi um tema que chamou a
atenção pela dificuldade que todas as famílias apresentaram em abordá-lo com seus
filhos, é algo que pode afetar diretamente na qualidade da comunicação. Nesta
45
categoria nas famílias A e C aparece o fato dos pais nunca terem iniciado um
diálogo a respeito do tema, eles sempre ficaram esperando que os questionamentos
viessem primeiramente dos filhos, o que não ocorreu, e esta dificuldade permanece
na adolescência, sendo que a filha da família C diz conversar com as amigas sobre
sexualidade e não com os pais. É um assunto que ainda paralisa os pais e deixam
os filhos embaraçados em indagar sobre ele.
Apenas na família B houve mudanças da fase da infância para a
adolescência, pois na infância não era falado sobre o assunto, já na adolescência o
pai diz que conversa a respeito com o filho e este confirma dizendo que seus pais
conversam com ele sobre sexualidade, embora a mãe saliente que ele não conta
muito sobre este assunto para ela.
Conforme Carr-Gregg e Shale (2004), os jovens estão muito mais curiosos a
respeito da sexualidade do que há cinco ou dez anos. Passam por uma fase
estressante, sofrendo pressão por parte dos amigos, sendo que a compreensão e
sensibilidade dos pais podem ajudar inquestionavelmente. O mais adequado seria
os pais já começarem a conversar sobre o assunto antes mesmo da puberdade, não
fazendo desta conversa um grande acontecimento e estarem preparados para
responder e não somente fazer perguntas.
46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em busca de investigar como ocorre a comunicação e quais as mudanças na
educação dos filhos adolescentes, de acordo com a percepção tanto dos pais
quanto dos filhos, verificou-se que em todas as famílias houve algum tipo de
mudança, embora nenhuma mudança muito significativa.
Na família A houveram mudanças na categoria da comunicação, interação
familiar/convivência e afetividade. Na família B as mudanças ocorreram nas
seguintes categorias: comunicação, interação familiar/convivência e sexualidade.
Mas a família C foi a que menos apresentou mudanças, se comparada com as
demais famílias entrevistadas, uma vez que a única categoria onde apareceu algum
tipo de mudança foi a respeito da interação familiar/convivência.
As três famílias apresentaram muitas características em comum, quanto à
educação e quanto ao comportamento dos filhos. Todos os pais relataram nunca
terem precisado aplicar um castigo severo ou falar com muita rigidez, bem como,
nunca utilizaram da violência como recurso, o que evidencia fatores muito positivos
para educação de seus filhos. Mas devem ser levadas em conta as variáveis da
geração que os filhos entrevistados são, sendo que na Família A e C os filhos
podem ter como exemplo seus irmãos mais velhos.
Outro fator comum analisado, segundo o relato dos pais, é a questão de seus
filhos serem muito calmos, tranqüilos quando crianças e permanecendo esta
característica na adolescência. Estes se tornaram adolescentes muito responsáveis,
não ultrapassando seus limites, podendo isto indicar o resultado de uma boa
educação também.
Os pais e filhos (as) no geral mantêm uma boa comunicação, com exceção do
pai da família C, o qual diz ter muita dificuldade em manter um diálogo com sua filha,
a dificuldade do pai pode envolver a questão de ser uma filha mulher. Mas por outro
lado, todas as famílias deixam a desejar na questão referente à sexualidade, pois
mostraram grande dificuldade em iniciar um diálogo e uma orientação sexual para os
filhos desde a infância, sendo que a família B foi a única onde pais e filhos
conversam a respeito desse tema. Este fator pode gerar uma deficiência na
comunicação estabelecida entre pais e filhos.
Os pais e mães das três famílias se mostram muito flexíveis na educação dos
filhos adolescentes. E também se pode destacar mais um fator em comum, que é o
47
da preferência materna dos filhos frente a manter um diálogo ou a procura por parte
deles, pela mãe quando necessário. Podemos observar que esta preferência ocorre
em muitas famílias hoje em dia, pelo fator das mães muitas vezes se mostrarem
mais pacientes e compreensivas quando escutam e auxiliam seus filhos.
Estas características muito semelhantes no que se referem a comunicação,
educação e comportamento dos filhos, podem ter ocorrido devido ao fator dos filhos
adolescentes entrevistados terem idades muito próximas, dos pais terem uma visão
muito parecida de como educar os filhos. E estas características dos filhos podem
ser conseqüências das características de comportamento dos próprios pais.
Apesar dos pais da família B, apresentar um nível de escolaridade mais baixo
em comparação com os demais pais, como se pode observar no quadro onde estão
os dados de identificação das três famílias, esta variável não influenciou nas
respostas dadas por eles. Um fator interessante que apareceu foi do pai da família
C, subentende-se que por ele ser uma pessoa que possuí um maior nível de estudos
teria mais claro a importância de ter uma boa comunicação com sua filha, o que não
acontece. Já a família B apresenta uma das melhores comunicações entre as
famílias. Pode-se observar que o nível sócio-econômico não determina se o filho
terá um melhor relacionamento com seus pais ou não.
Sendo assim pode-se perceber que a comunicação é um fator crucial para o
bom relacionamento familiar na atualidade, onde todos podem sentir-se à vontade
em expressar seus sentimentos, uma vez que os pais de hoje não são tão
repressores como eram na geração anterior. O pai e a mãe das três famílias
mostram estar sempre interessados em ouvir o que seus filhos têm a dizer. A
comunicação faz parte de todas as categorias presentes, apesar de ter sido
destacada em uma categoria em especifico. Mas tanto nas regras, como na
interação, afetividade e sexualidade, todas envolvem a comunicação direta ou
indiretamente.
A adolescência é uma fase de questionamentos, é uma época em que no
geral os filhos estão mais introspectivos, pois estão se descobrindo. Os pais devem
respeitar os limites do adolescente, mas não deixar que eles se fechem para si
mesmos apenas, devem incentivar um diálogo entre ambos. Uma questão
importante na adolescência é não focar apenas as dificuldades que ocorrem, e sim
dar valor principalmente aos aspectos positivos.
48
Considera-se interessante que em pesquisas posteriores se realizem
entrevistas com filhos com idade entre 17 e 18 anos, pois os adolescentes nesta
idade já estão se preparando para iniciar em breve a fase adulta.
Sugere-se ainda uma pesquisa que investigue a comunicação entre pais e
filhos frente à sexualidade, analisando as mudanças que podem ocorrer entre filhas
e filhos, pois a questão de gênero é um diferencial importante a se verificar. Outra
pesquisa relevante seria a respeito de como se da à comunicação entre pai e filho e
entre mãe e filho, sendo os pais divorciados, verificar assim se há mudança de como
era a comunicação quando os pais eram casados e como se dá a comunicação
atualmente.
Vale também salientar, que seria válido uma pesquisa referente à
comunicação entre pais e filhos, sendo os filhos adotivos, comparando assim desde
a fase da infância até a adolescência.
Ser pai e mãe de adolescentes não é uma tarefa fácil, mas não se pode
esquecer que ser filho também tem suas dificuldades. É compromisso de ambos
chegarem a um equilíbrio para que haja um bom relacionamento, que é o que toda
família busca.
49
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACKERMAN, N.W. Diagnóstico e tratamento das relações familiares . Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
ARATANGY, L.R. Desafios da convivência . São Paulo: Gente, 1998.
BASSOFF, E.S. Entre mãe e filho : o que fazer para seu filho se tornar um adulto feliz. São Paulo: Saraiva, 1996
BEAVIN, J.H; JACKSON, D.D; WATZLAWICK, P. Pragmática da Comunicação Humana : um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. Trad: Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1998.
CARR-GREGG, M; SHALE, E. Criando adolescentes ; tradução Márcia Cláudia Alves. 2aed. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004.
CARTER, B.; MCGOLDRICK, M. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar : Uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CARVALHO, M.C.B. (org). A Família Contemporânea em Debate . São Paulo: Cortez, 1997.
CERVENY, C.M.O. Família e comunicação. In: Família e ... . São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
CERVENY, C.M.O; BERTHOUD, C. M. E.; et al. Família e Ciclo Vital: nossa realidade em pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
CONGER, J.J; MUSSEN, P.H; KAGAN, J. Desenvolvimento e personalidade da criança . Trad: Maria Lúcia G. Leite Rosa. 3ªed. São Paulo: Harbra, 1990.
FALCETO, O.G. Famílias com filhos adolescentes: uma confluência de crises. In: Famílias e terapeutas : construindo caminhos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
FÉRES-CARNEIRO, T.. Família : diagnóstico e terapia. 2ªed. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa ; tradução Sandra Netz. Porto Alegre: Bookman, 2004.
FRANCO, M.L.P.B. Que é análise de conteúdo . In: Ensino Médio: desafio e reflexões. São Paulo: Papirus, 1994.
GAUDERER, C. Crianças, adolescentes e nós : guia prático para pais, adolescentes e profissionais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.
50
GOLDESTEIN, E. Adolescência : idade da razão e da contestação. 2ª ed. São Paulo: Gente, 1995.
HUMPHREYS, T. A família : ame-a e deixe-a; tradução Silvia Branco Sarzana. São Paulo: Ground, 2000.
KNOBEL, M. Orientação Familiar . São Paulo: Papirus, 1992.
KUDE, V.M.M. Anotações curso Vera Kude sobre análise de conteúdo . Porto Alegre, 1997.
LEVISKY, R.B. Os filhos falam pelos pais: as viscitudes da comunicação familiar. In: CERVENY, C.M.O. (org). Séculos XX e XXI : o que permanece e o que transforma. São Paulo: Lemos, s/d.
MALDONADO, M.T. Vida em família : conversa entre pais e jovens. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
______, M.T. Comunicação entre pais e filhos : a linguagem do sentir. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
______, M.T. Cá entre nós . São Paulo: Integrare, 2006.
NOLTE, D.L. e HARRIS, R. Os adolescentes aprendem o que vivenciam ; tradução Sonia Maria Schwarts. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
OLIVEIRA, S. Tratado de metodologia científica : projetos de pesquisa, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1997.
OSÓRIO, L.C. Casais e famílias : uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002.
______, L.C. Família Hoje . Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
OSÓRIO, L.C.; VALLE, E. P. do; Terapia de Famílias : novas tendências. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
PÁDUA, E. M. M. de. Metodologia da pesquisa : abordagem teórico-prática. 6aed. São Paulo: Papirus, 2000.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. O mundo da criança : da infância à adolescência; tradução Maria Lúcia G. L. Rosa. São Paulo: Markon Books, 1998.
PENTEADO, J. R. W. A técnica da comunicação humana . 13ªed. São Paulo: Pioneira, 1997.
PREDEBON, J.C. Conversando sobre sexo na família com filhos adolescentes. In: Família em cena : tramas, dramas e transformações. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
51
POTTKER, C. A. Investigação sobre as mudanças na educação dos filh os na fase da adolescência , segundo a percepção dos pais e doa filhos. 2005. 87f. Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Psicologia, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2005.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social : métodos e técnicas. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.
ROSSET, S.M. Pais e filhos : uma relação delicada. Curitiba: Sol, 2003.
SHINYASHIKI, R. Pais e filhos : companheiros de viagem. 54aed. São Paulo: Gente, 1992.
STRAUCH, B. Como entender a cabeça dos adolescentes : as novas descobertas sobre o comportamento dos jovens; tradução Dayse Batista. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
TIBA, I. Adolescentes: quem ama educa . 14ª ed. São Paulo: Integrare, 2005.
____. Disciplina : limite na medida certa. Novos paradigmas. 74ª ed. São Paulo: Integrare, 2006.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita . Trad: Clarice Madureira Sabóia. 10ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ZAGURY, T. Sem padecer no paraíso : em defesa dos pais ou sobre a tirania dos filhos. 10º ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.
_______. Limites sem trauma : construindo cidadãos. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
52
7 APÊNDICES
7.1 Apêndice A – Ficha de Identificação
Família _______
1) Nomes
Pai: ____________________________________ IC:
Mãe: ___________________________________ IC:
Filho: ___________________________________ IC:
2) Profissão e Escolaridade
Pai: ____________________________________________________
Mãe: ___________________________________________________
Filho: ___________________________________________________
3) Outros filhos: _______________; Idades: _____________
4) Tempo de casamento :_________
53
7.2 APÊNDICE B –
Entrevista para os pais:
1a Parte –
1) Quando seu filho passava por uma situação difícil na infância, de que forma
ele pedia ajuda e para quem pedia?
2) Como eram determinados os horários para estudar, dormir, tomar banho,
brincar ou para as refeições?
3) Quem costumava ajudar seu filho com os deveres escolares? Quem
participava das reuniões escolares, das datas comemorativas na escola?
4) Como vocês costumavam decidir o que fazer nos finais de semana?
5) Quem participava das festas comemorativas? (aniversários, Natal, Páscoa).
6) Seu filho tinha o hábito de levar seus amiguinhos para casa? Como vocês
reagiam?
7) Descreva como era para vocês o momento das refeições. Havia algum
diálogo neste momento entre vocês?
8) Diante de uma situação que envolve tomada de decisão, com relação ao seu
filho, como resolviam?
9) Quando seu filho tinha alguma atitude que você não aceitava (“fazer arte”,
“aprontar”) ou algum problema, de que forma era resolvido?
10) Quando criança seu filho fez alguma pergunta sobre sexo e sexualidade?
Como vocês reagiram?
11) De que forma vocês demonstram carinho pelo seu filho?
2a Parte –
1) Agora seu filho é adolescente, quando ele tem algum problema, a quem pede
ajuda? E como o faz?
2) Hoje em dia, existem as regras de determinar os horários para estudar,
dormir, tomar banho ou para as refeições?
3) Como hoje ficam resolvidas todas as atividades que envolvam a escola?
(reuniões, deveres, datas comemorativas).
4) Explique como vocês decidem hoje em dia o que será feito em um final de
semana em família?
54
5) Hoje, quem participa das festas comemorativas?
6) Seu filho tem o hábito de levar para casa seus amigos? Como vocês lidam
com isso?
7) Atualmente existe o momento das refeições em família?
8) Diante de uma situação que envolve tomada de decisão, com relação aos
seus filhos adolescentes, como resolvem?
9) Vocês tem uma conversa aberta com seu filho quando o assunto envolve
drogas, bebidas alcoólicas ou cigarros? Seu filho lhe faz perguntas sobre o
assunto?
10) Seu filho faz questionamentos sobre assuntos relacionados a sexo e
sexualidade? Como vocês costumam lidar com o assunto?
11) Atualmente de que forma vocês demonstram carinho pelo seu filho?
12) Vocês acreditam dar muita liberdade na educação de seus filhos? Explique
como acontece.
55
7.3 APÊNDICE C –
Entrevista para os filhos:
1a Parte –
1) Quando você passava por uma situação difícil na sua infância, de que forma
você pedia ajuda e para quem pedia?
2) Como eram determinados os horários para estudar, dormir, tomar banho,
brincar ou para as refeições?
3) Quem costumava te ajudar com os deveres escolares? (reuniões, datas
comemorativas).
4) Como vocês costumavam decidir o que fazer nos fins de semana?
5) Quem participava das festas comemorativas? (aniversários, Natal, Páscoa).
6) Você tinha o hábito de levar em casa seus amiguinhos? Como seus pais
reagiam?
7) Para você como era o momento das refeições? Havia diálogo?
8) Diante de uma situação que envolve tomada de decisão, com relação a você,
como seus pais resolviam?
9) Quando você tinha alguma atitude que seus pais não aceitavam (“fazer arte”,
“aprontar”), de que forma eles resolviam?
10) Quando você era criança fez alguma pergunta aos seus pais sobre sexo e
sexualidade? Como eles reagiram?
11) De que forma seus pais demonstravam carinho por você?
2a Parte –
1) Hoje em dia, a quem você pede ajuda quando passa por alguma situação
difícil? E como o faz?
2) Atualmente, são determinados os horários para estudar, dormir, tomar banho
ou para as refeições?
3) Como hoje são resolvidas todas as atividades que envolvam a escola?
(reuniões, datas comemorativas, deveres).
4) Explique como vocês decidem hoje em dia o que será feito em um final de
semana em família?
56
5) Hoje em dia, quem participa das festas comemorativas? (aniversários, Natal,
Páscoa).
6) Você tem o hábito de levar para casa seus amigos? E como seus pais
reagem?
7) Hoje em dia existe o momento das refeições em família?
8) Diante de uma situação que envolve tomada de decisão, com relação a você,
como seus pais resolvem?
9) Você conversa com seus pais sobre drogas, bebidas alcoólicas ou cigarros?
Como eles encaram esse assunto?
10) Você faz questionamentos à seus pais sobre assuntos relacionados a sexo e
sexualidade? Como eles costumam lidar com esse assunto?
11) Hoje em dia, de que forma seus pais demonstram carinho por você?
12) Você acha que seus pais educam você com liberdade? Explique como ela
acontece.
57
7.4 APÊNDICE D –
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS PAIS
APRESENTAÇÃO
Gostaria de convidá-los a participar de uma pesquisa cujo objetivo é analisar a importância da
comunicação entre pais e filhos frente às mudanças que ocorrem na educação dos filhos na fase da
adolescência , de acordo com o ponto de vista tanto dos pais como dos filhos. Esta pesquisa será
realizada na casa de cada família participante em data e horário a ser combinados com os membros
da família que se disponibilizem a realização da pesquisa.
Sua tarefa consistirá na participação de uma entrevista estruturada, para analisar através dos
relatos verbais e não verbais que serão gravados, as mudanças na educação dos filhos e a
comunicação na fase da adolescência. A entrevista será realizada com o casal separadamente do
filho adolescente.
Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:
a) seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu anonimato;
b) os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade acadêmica podendo
vir a ser publicado em revistas especializadas, porém, como explicitado no item (a) seus dados
pessoais serão mantidos em anonimato;
c) não há respostas certas ou erradas, o que importa é a sua opinião;
d) a aceitação não implica que você estará obrigado a participar, podendo interromper sua
participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado, bastando, para tanto, comunicar aos
pesquisadores;
e) sua participação é voluntária, portanto você não terá direito a remuneração;
f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e não visa uma intervenção imediata, ainda que tenha
intenção de investigar as estratégias educativas utilizadas pelos pais com seus filhos adolescentes no
processo de comunicação estabelecido entre eles;
g) durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você poderá
contatar com a professora Márcia Aparecida Miranda de Oliveira, responsável pela mesma, através
da coordenação do curso de psicologia pelo telefone: (0xx47) 3341-7935. Caso aceite participar, por
favor, preencha os dados a seguir.
IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO
Eu __________________________________
_____________________________________
declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e no que consiste
minha participação. Diante dessas informações aceito participar da pesquisa.
58
Data de nascimento:___________________
Sendo assim, autorizo meu filho, _____________________________________
a participar desta pesquisa.
Assinatura:____________________________
Pesquisadora: Aline Cardozo
E-mail: [email protected]
Telefone: (047) 3363-1188
Assinatura: ___________________________
Pesquisadora responsável: Prof.a Márcia Aparecida Miranda de Oliveira
E-mail: [email protected]
Telefone: (047) 3341-7935
Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS
R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 202.
Assinatura: ___________________________