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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
PRODUÇÃO, COMPOSIÇÃO QUÍMICA, PERFIL SENSORIAL E DE VOLÁTEIS DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia
ficus-indica L. Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO
EDVALDO MESQUITA BELTRÃO FILHO ENGENHEIRO AGRÔNOMO
AREIA – PARAÍBA DEZEMBRO – 2008
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
PRODUÇÃO, COMPOSIÇÃO QUÍMICA, PERFIL SENSORIAL E DE VOLÁTEIS DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia
ficus-indica L. Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO
EDVALDO MESQUITA BELTRÃO FILHO
AREIA – PARAÍBA DEZEMBRO – 2008
iii
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos
da Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB.
B453p Beltrão Filho, Edvaldo Mesquita
Produção, composição química, perfil sensorial e de voláteis do leite de cabras alimentadas com palma forrageira (Opuntia fícus-indica L. Miller) em substituição ao milho./ Edvaldo Mesquita Beltrão Filho – Areia- PB: UFPB/CCA, 2008.
71f.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba - Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2008.
Bibliografia
Orientador: Roberto Germano Costa
Co-Orientadores: Ariosvaldo Nunes de Medeiros; Rita de Cássia Ramos do E. Queiroga.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
PRODUÇÃO, COMPOSIÇÃO QUÍMICA, PERFIL SENSORIAL E DE VOLÁTEIS DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-
indica L. Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO
Tese apresentada ao Programa de Doutorado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco e a Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Zootecnia
Área de Concentração: Produção Animal
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Roberto Germano Costa - Presidente Profa. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga - Membro Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros - Membro
AREIA – PARAÍBA DEZEMBRO - 2008
vi
A MEUS QUERIDOS PAIS, EDVALDO MESQUITA BELTRÃO E ANNIE ELISABETH
SANTIAGO BELTRÃO, PELO INCANSÁVEL ESFORÇO E INCENTIVO, SEMPRE
ORIENTANDO NA IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO ACADÊMICA COMO
FERRAMENTA PARA O CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL, COM AMOR,
GRATIDÃO E CARINHO;
A MINHA FAMÍLIA, IRMÃOS, PRIMOS, SOBRINHOS, AVÓS E TIOS COM CARINHO;
A MINHA AMADA ESPOSA ROBÉRIA PELA PACIÊNCIA E CONFORTO NOS
MOMENTOS MAIS ATRIBULADOS E POR CONTRIBUIR INCANSAVELMENTE NA
FORMAÇÃO DE NOSSOS FILHOS;
A MEUS QUERIDOS FILHOS GERALDO SANTIAGO BELTRÃO E ANNIE ELISABETH
PELOS MOMENTOS QUE ME FIZ AUSENTE, BUSCANDO EXPERIÊNCIAS E
ENSINAMENTOS PARA PODER ENCAMINHÁ-LOS ATRAVÉS DE EXEMPLOS;
DEDICO.
vii
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia – PDIZ pela oportunidade de capacitação;
Aos Professores pelos ensinamentos e orientações nos momentos valiosos em sala de aula;
A Graça, secretária do PDIZ, pela paciência, atenção e cordialidade dispensada;
Aos colegas do Doutorado e Mestrado pelos momentos de estudo e de confraternização;
A amiga Michelle, colega de experimento, pela amizade, cumplicidade e dedicação nos momentos de desenvolvimento do Projeto;
A Tiago, Michelle, Anny Graycy, Josy Karlla, Humberto, Nirley, Isis Rebecca, Raiff Beltrão, Robéria, Thiago, Caicó pelo apoio e horas de sono oferecidas, durante o experimento, nos momentos de análise do comportamento ingestivo, durante madrugadas a fio;
Aos técnicos da UFPB: Elieidy, Gerônimo, José Alves e colaboradores pela amizade e auxílio durantes as análises laboratoriais;
A UFPE e à EMBRAPA - Agroindústria Tropical pelas análises laboratoriais;
Aos funcionários Gerson, seu Antônio e Seu Joca pelo apoio no Setor de Caprinos do CCHSA/UFPB;
A UFPB/CCHSA pela oportunidade de capacitação e disponibilização do Setor de Caprinos e Laboratórios para desenvolvimento do experimento;
Ao meu Orientador, Prof. Dr. Roberto Germano Costa, pela paciência, cordialidade, orientação, ensinamentos e amizade dispensada durante o Curso de Doutorado;
A minha querida Profa. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga pelos ensinamentos, pelo apoio, pela amizade e orientação dispensada;
A prezada Profa. Dra. Marta Suely Madruga pelos valiosos ensinamentos no Capítulo de Compostos Voláteis e de avaliação sensorial do leite caprino;
Ao Prof. Dr. Airon Aparecido Melo pelo apoio na formulação das rações e ensinamentos.
viii
BIOGRAFIA DO AUTOR
Edvaldo Mesquita Beltrão Filho – Filho de Edvaldo Mesquita Beltrão e Annie Elisabeth Santiago Beltrão, nascido no dia 14 de março de 1971 na cidade de Bananeiras, Estado da Paraíba, Brasil. Cursou o ensino médio no Colégio Pio X – Marista localizado na cidade de João Pessoa – Paraíba. No ano de 1990 iniciou o Curso de Agronomia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba concluindo em junho de 1996. Iniciou no ano seguinte o Curso de Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos no Centro de Tecnologia da citada Instituição, concluindo em outubro de 1999. Exerceu atividade de Ensino Fundamental no período de 1990 a 1995 no Colégio de 1º e 2º Graus Ministro José Américo de Almeida, localizado na cidade de Areia - Paraíba. No período de 1997 a 1999 exerceu atividade de ensino no Magistério Superior, lecionando a disciplina de Mecanização Agrícola, no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Também, lecionou na Escola Agrotécnica Federal de Barreiros – Pernambuco, disciplinas relacionadas com Tecnologia de Produtos de Origem Animal, no período de 2000 a 2001, quando, em outubro de 2001, foi classificado em concurso público tornando-se Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina - Pernambuco, onde lecionou disciplinas relacionadas com Tecnologia de Frutas e Hortaliças e Tecnologia de Produtos de Origem Animal no Curso Técnico em Agroindústria e no Curso Superior de Tecnologia de Alimentos desta referida instituição. Em 24 de dezembro de 2004 solicitou redistribuição para o Colégio Agrícola Vidal de Negreiros do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias da Universidade Federal da Paraíba onde leciona, até a data atual, disciplinas de Tecnologia de Alimentos nos cursos Técnico em Agroindústria e Bacharelado em Agroindústria. Foi laureado com o Prêmio Técnico Empreendedor, como Professor Orientador da equipe vencedora nos anos de 2002 e 2006, oferecido pelo Programa de Expansão da Educação Profissional/MEC/SEBRAE. Iniciou o Curso de Pós-Graduação pelo Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia em 2005, aonde vem realizando suas atividades acadêmicas até a presente data.
ix
SUMÁRIO
Lista de Tabelas............................................................................................... xi
Lista de Figuras................................................................................................ xiii
Resumo Geral................................................................................................... xiv
Abstract............................................................................................................ xvi
Considerações Iniciais...................................................................................... 1
CAPÍTULO I: Consumo, digestibilidade e produção de leite de cabras alimentadas com palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em substituição ao farelo de milho........................................................................
02
Resumo............................................................................................................. 03
Abstract............................................................................................................ 04
Introdução........................................................................................................ 05
Material e Métodos.......................................................................................... 07
Resultados e Discussão.................................................................................... 10
Conclusões....................................................................................................... 20
Referências Bibliográficas............................................................................... 20
CAPÍTULO II: Composição química do leite de cabras alimentadas com palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em substituição ao farelo de milho..........................................................................................................
24
Resumo............................................................................................................ 25
Abstract............................................................................................................ 26
Introdução......................................................................................................... 27
Material e Métodos........................................................................................... 29
Resultados e Discussão................................................................................... 32
Conclusões....................................................................................................... 41
Referências Bibliográficas............................................................................... 41
x
CAPÍTULO III: Caracterização sensorial e de compostos voláteis do leite de cabras alimentadas com palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em substituição ao farelo de milho...................................................
45
Resumo........................................................................................................... 46
Abstract.......................................................................................................... 47
Introdução...................................................................................................... 48
Material e Métodos........................................................................................ 50
Resultados e Discussão.................................................................................. 58
Conclusões..................................................................................................... 68
Referências Bibliográficas............................................................................. 69
Considerações Finais......................................................................................
73
xi
Lista de Tabelas
Capítulo I
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (%MS)...................................................................................................... 08
Tabela 2. Valores médios referentes ao consumo de MS e de nutrientes dos animais em função dos níveis de substituição do milho por palma forrageira....................................................................................................
11
Tabela 3. Coeficientes de digestibilidade aparente da MS e de nutrientes das cabras sob efeito da substituição do farelo de milho por palma forrageira....................................................................................................
14
Tabela 4. Parâmetros sanguíneos das cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.....................................................
16
Tabela 5. Comportamento ingestivo das cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho............................................................. 17
Tabela 6. Produção de leite, teor de gordura e avaliação de custo de alimentos em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira....................................................................................................
18
Capítulo II
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais................... 30
Tabela 2. Valores médios das variáveis químicas do leite de cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira........ 34
Tabela 3. Composição de ácidos graxos (%) do leite de cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.............................. 39
xii
Lista de Tabelas
Capítulo III
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (%MS) em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira...............................................................................................
51
Tabela 2. Escores médios atribuídos para a Análise Descritiva Quantitativa do leite de cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.................................................................... 58
Tabela 3. Análise dos componentes principais (CP) dos atributos sensoriais do leite de cabras alimentadas com palma em substituição ao farelo de milho......................................................................................................
60
Tabela 4. Compostos voláteis identificados em leite de cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho............................ 63
xiii
Lista de Figuras
Capítulo III
Figura 1. Ficha utilizada para Análise Descritiva Quantitativa.................................. 53
Figura 2. Ficha utilizada para o Teste de Aceitação.................................................. 54
Figura 3. Aparelho de Destilação e Extração Simultânea de Likens & Nickerson (1964)......................................................................................................... 55
Figura 4. Valores médios atribuídos para o teste de aceitação do leite de cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira....................................................................................................
60
xiv
Produção, Composição Química, Perfil Sensorial e de Voláteis do leite de cabras
Alimentadas com Palma Forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em Substituição
ao Milho
RESUMO GERAL
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da substituição do farelo de
milho por palma forrageira sobre o consumo de alimentos, digestibilidade aparente da MS
e nutrientes, comportamento ingestivo, parâmetros sanguíneos, produção de leite, custos
com alimentação de cabras alpinas em lactação, bem como a composição química, perfil
sensorial e de voláteis do leite. Foram utilizadas 10 cabras alpinas multíparas (40±6 Kg)
alocadas em dois quadrados latinos de acordo com a raça e avaliadas em cinco períodos de
15 dias e cinco tratamentos, com os seguintes níveis de substituição: 0, 25, 50, 75 e 100%.
O consumo de MS aumentou de forma linear (P<0,05) com variação de 1950 a 2315
g/cabra/dia (4,38 a 5,23% PV). O consumo de extrato etéreo reduziu linearmente (P<0,05)
com valores variando de 111 a 39 g/cabra/dia. Os coeficientes de digestibilidade aparente
da MS, MO, PB, FDN e de CT aumentaram de forma linear (P<0,05) com exceção da
DAEE que reduziu de forma linear e a DACNF que não sofreu influência significativa
(P>0,05). Para os parâmetros sanguíneos apenas os níveis de uréia foram reduzidos
(P<0,05) de forma linear, de 9,43 para 7,52 mmol/L. No comportamento ingestivo
variaram (P<0,05) os parâmetros em pé comendo, de 238,5 a 344,5 minutos, freqüência
urinária, de 9,9 a 18,2 vezes/dia e de procura por água, de 6,8 a 0,8 vezes/dia. A produção
de leite não sofreu influência significativa (P>0,05) com média de 1,815 Kg/cabra/dia, não
afetando a rentabilidade bruta média (RBM) que foi de R$ 4,54/dia. A margem bruta
média (MBM) e a rentabilidade média (RM) sofreram influência significativa (P<0,05) da
xv
substituição, cujos valores variaram de R$-0,94 para R$2,16/dia e de -17,51 para 91,55 %.
Observou-se redução linear (P<0,05) no teor de lipídios e de sólidos totais do leite com a
substituição do concentrado energético pela palma forrageira, com valores variando de
3,84 a 2,97% e de 12,08 a 10,79%, respectivamente, enquanto que os demais constituintes
não apresentaram variação (P>0,05). Os percentuais de ácidos graxos saturados (AGS)
aumentaram linearmente (P<0,05) e a concentração dos ácidos monoinsaturados (MUFA)
reduziu linearmente (P<0,05), cujos valores variaram de 62,80 a 71,93% e de 26,73 a
16,11%, respectivamente. Houve um aumento linear (P<0,05) para o para o sabor rançoso
e redução linear (P<0,05) para o sabor de leite caprino com o incremento da palma
forrageira em substituição ao farelo de milho, porém os escores atribuídos foram de muito
fraco a moderadamente fraco, para sabor rançoso, e de gostei levemente a indiferente, para
sabor de leite caprino. Foram identificados 146 compostos voláteis, dentre estes foram 36
hidrocarbonetos, 30 ésteres, 18 alcoóis, 14 ácidos carboxílicos, 13 compostos aromáticos,
10 aldeídos, 9 cetonas, foram encontrados e considerados como mais representativos. A
palma forrageira pode substituir o farelo de milho aumentando o consumo de MS, sem
afetar a produção de leite, proporcionado maior rentabilidade para o produtor e ainda
reduzindo o consumo de água pelos animais. Houve uma leve depressão no teor de
lipídios, de sólidos totais, de ácidos graxos monoinsaturados e na concentração de ácidos
graxos desejáveis, evidenciando a concentração dos ácidos graxos saturados, e modificação
na qualidade sensorial do leite de cabra com leve variação do sabor rançoso, sem afetar o
perfil de compostos voláteis.
Palavras-chave: Composição Química, Leite de Cabra, Produção, Opuntia ficus-indica,
Perfil de Voláteis e Ácidos Graxos
xvi
Production, chemical composition, sensorial and volatile profile of the goat milk fed
with cactus pear (Opuntia ficus indica L.Miller) in substitution to the corn
ABSTRACT
The purpose of this study was to evaluate the effect of substituting corn meal by
cactus pear on the food consumption, apparent DM and nutrients digestibility, ingestion
behavior, blood parameters, milk production and feed costs for lactating goats. Ten
multiparous alpine goats (40 ± 6 kg) were used allocated as two Latin squares according to
breeds evaluated into five periods of 15 days and five treatments with the following
substitution levels: 0, 25, 50, 75 and 100%. The DM consumption increased linearly (P
<0.05) within a range from 1950 to 2315 g / goat / day (4.38 to 5.23% LW). On the other
hand, the extract ether consumption reduced linearly (P <0.05) with values ranging from
111 to 39g/goat/day. The apparent digestibility coefficient of DM, OM, CP, NDF and TC
increased linearly (P <0.05) except for DAEE, which reduced linearly and DACNF, which
was not affected (P> 0.05). For blood parameters, only the urea levels reduced linearly
(P<0.05) from 9.43 to 7.52 mmol / L. In relation to the ingestion behavior, only parameters
standing eating ranged (P<0.05) from 238.5 to 344.5 minutes, urinary frequency, from 9.9
to 18.2 times per day and water search from 6.8 to 0.8 times per day. The milk production
was not significantly affected (P> 0.05) with average of 1.815 kg / goat / day, not affecting
the gross average profitability (GAP), which was of R$ 4.54 per day. However, the average
gross margin (AGM) and average profitability (AP) suffered significant influence (P
<0.05) from substitution, with values ranging from R$ -0.94 to R$ 2.16 per day and from -
17.51 to 91.55%. There was a linear reduction (P <0.05) in the lipid contents and total
solids in milk with the substitution of energetic concentrated by cactus pear, with values
ranging from 3.84 to 2.97% and from 12.08 a 10.79%, respectively, while the other
constituents remained unchanged (P> 0.05). The saturated fatty acids percentage (SFA)
increased linearly (P <0.05), whereas the monounsaturated fatty acids concentration
(MUFA) decreased linearly (P <0.05), which values ranged from 62.80 to 71.93 and from
26.73 to 16.11%, respectively. There was a linear increase (P <0.05) for rancid taste and
linear reduction (P <0.05) for flavor with the increment of cactus pear in substitution to
corn meal; however, the scores ranged from very weak to moderately weak, for rancid
taste, and from liked slightly to indifferent, for flavor. One hundred and forty-six volatile
xvii
compounds were identified, among them, 36 hydrocarbons, 30 esters, 18 alcohols, 14
carboxylic acids, 13 aromatics compounds, 10 aldehydes, 9 ketones, were found, which
were considered as more representative. The cactus pear can substitute corn meal by
increasing the DM consumption, not affecting the milk production, providing higher
profitability for producers, also reducing the water consumption by animals. There was
reduction of the ethereal extract of the diet with influences in the physical-chemical quality
of the goat milk, provoking a light depression in the fat, total solids, monounsaturaded
fatty acids and the desirable fatty acids concentration, showing up the saturated fatty acids
concentration from the smaller unsaturated fatty acids consumption by the animals, and
modifies the sensorial quality of goat milk with light variation of the rancidity, without it
affect the volatile compounds profile.
Key-words: Chemical Composition, Goat Milk, Production, Opuntia ficus-indica,
Volatiles and Fatty Acids Profile
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esta Tese é constituída de três Capítulos, dos quais serão elaborados artigos para
submissão em periódicos científicos para publicação.
A Tese aborda o tema relacionado com a utilização da palma forrageira (Opuntia
ficus-indica L. Miller) em substituição ao farelo de milho por cabras em lactação e sua
influência na produção, composição química e sensorial do leite de cabras Alpinas.
No Capítulo I, intitulado Consumo, digestibilidade e produção de leite de cabras
alimentadas com palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em substituição ao
farelo de milho, teve como objetivo avaliar o efeito da substituição do farelo de milho por
palma forrageira sobre o consumo de alimentos, digestibilidade aparente da MS e
nutrientes, comportamento ingestivo, parâmetros sanguíneos, produção de leite e custos
com alimentação para cabras alpinas em lactação .
O Capítulo II, cujo título é Composição química do leite de cabras alimentadas com
palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) em substituição ao farelo de milho,
avaliou-se a composição química e o perfil de ácido graxos do leite de cabras alpinas
alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.
O último Capítulo, intitulado Caracterização sensorial e de compostos voláteis do leite
de cabras alimentadas com palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller.) em substituição
ao farelo de milho, analisou-se as características sensoriais e os compostos voláteis do leite de
cabras alpinas alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.
2
CAPÍTULO I
______________________________________________________________
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E PRODUÇÃO DE LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica L. Miller) EM
SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE MILHO
3
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E PRODUÇÃO DE LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica L. Miller) EM
SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE MILHO
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da substituição do farelo de
milho por palma forrageira sobre o consumo de alimentos, digestibilidade aparente da MS e
nutrientes, comportamento ingestivo, parâmetros sanguíneos, produção de leite e custos com
alimentação para cabras em lactação. Foram utilizadas 10 cabras alpinas multíparas (40±6
Kg) alocadas em dois quadrados latinos de acordo com a raça avaliadas em cinco períodos de
15 dias e cinco tratamentos com os seguintes níveis de substituição: 0, 25, 50, 75 e 100%. O
consumo de MS aumentou de forma linear (P<0,05) com variação de 1950 a 2315 g/cabra/dia
(4,38 a 5,23%PV). O consumo de extrato etéreo reduziu linearmente (P<0,05) com valores
variando de 111 a 39 g/cabra/dia. Os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB,
FDN e de CT aumentaram de forma linear (P<0,05) com exceção da DAEE que reduziu de
forma linear e a DACNF que não sofreu influência significativa (P>0,05). Para os parâmetros
sanguíneos apenas os níveis de uréia foram reduzidos (P<0,05) de forma linear, de 9,43 para
7,52 mmol/L. No comportamento ingestivo variaram (P<0,05) os parâmetros em pé comendo,
de 238,5 a 344,5 minutos, freqüência urinária, de 9,9 a 18,2 vezes/dia e de procura por água,
de 6,8 a 0,8 vezes/dia. A produção de leite não sofreu influência significativa (P>0,05) com
média de 1,815 Kg/cabra/dia, não afetando a rentabilidade bruta média (RBM) que foi de R$
4,54/dia. A margem bruta média (MBM) e a rentabilidade média (RM) sofreram influência
significativa (P<0,05) da substituição, cujos valores variaram de R$-0,94 para R$2,16/dia e de
-17,51 para 91,55 %. A palma forrageira pode substituir o farelo de milho aumentando o
consumo de MS, sem afetar a produção de leite, proporcionado maior rentabilidade para o
produtor e ainda reduzindo o consumo de água pelos animais.
Palavras-chave: consumo de água, consumo de MS, comportamento ingestivo, custos de
alimentação, parâmetros sanguíneos.
4
CONSUMPTION, DIGESTIBILITY AND MILK PRODUCTION OF GOATS FED
WITH CACTUS PEAR (Opuntia ficus-indica L. Miller) IN SUBSTITUTION TO
CORN MEAL
ABSTRACT
The purpose of this study was to evaluate the effect of substituting corn meal by
cactus pear on the food consumption, apparent DM and nutrients digestibility, ingestion
behavior, blood parameters, milk production and feed costs for lactating goats. Ten
multiparous alpine goats (40 ± 6 kg) were used allocated as two Latin squares according to
breeds evaluated into five periods of 15 days and five treatments with the following
substitution levels: 0, 25, 50, 75 and 100%. The DM consumption increased linearly (P
<0.05) within a range from 1950 to 2315 g / goat / day (4.38 to 5.23% LW). On the other
hand, the extract ether consumption reduced linearly (P <0.05) with values ranging from
111 to 39g/goat/day. The apparent digestibility coefficient of DM, OM, CP, NDF and TC
increased linearly (P <0.05) except for DAEE, which reduced linearly and DACNF, which
was not affected (P> 0.05). For blood parameters, only the urea levels reduced linearly
(P<0.05) from 9.43 to 7.52 mmol / L. In relation to the ingestion behavior, only parameters
standing eating ranged (P<0.05) from 238.5 to 344.5 minutes, urinary frequency, from 9.9
to 18.2 times per day and water search from 6.8 to 0.8 times per day. The milk production
was not significantly affected (P> 0.05) with average of 1.815 kg / goat / day, not affecting
the gross average profitability (GAP), which was of R$ 4.54 per day. However, the average
gross margin (AGM) and average profitability (AP) suffered significant influence (P
<0.05) from substitution, with values ranging from R$ -0.94 to R$ 2.16 per day and from -
17.51 to 91.55%. The cactus pear can substitute corn meal by increasing the DM
consumption, not affecting the milk production, providing higher profitability for
producers, also reducing the water consumption by animals.
Key words: water intake, DM intake, ingestion behavior, feed costs, blood parameters.
5
INTRODUÇÃO
A caprinocultura de leite caracteriza-se por ser uma atividade de grande expressão
sócio-econômica no Brasil e fonte de alimentos para as populações rurais, porém, enfrenta
baixos índices produtivos por conseqüência da utilização de práticas não condizentes para a
realidade encontrada no trópico semi-árido. Em muitos casos, os produtores alimentam o
rebanho com forragens e alimentos concentrados importados de outras regiões que oneram os
custos de produção e reduzem sua rentabilidade.
No Nordeste do Brasil, esta atividade é afetada por características climáticas com a
redução da disponibilidade de forragens durante os períodos secos do ano, onde a utilização
de forrageiras adaptadas ao ambiente semi-árido pode reduzir os riscos do sistema de
produção e garantir alimentos para o rebanho, minimizando este problema. Neste contexto, a
palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) pode ser utilizada como alimento energético
por ser adaptada às condições agro-climáticas desta região e apresentar altas produções de
matéria seca por hectare (Santos et al., 1997). É uma forrageira rica em carboidratos não-
fibrosos (61,79%) e nutrientes digestíveis totais (62%) (Wanderley et al., 2002; Melo et al.,
2003).
A palma forrageira pode ser encontrada em grandes áreas de regiões áridas e semi-
áridas do mundo, é tolerante à seca, apresenta grande produtividade e é uma planta rica em
água e mucilagem (De Kock, 2001). Outro aspecto muito importante da utilização da palma
forrageira é a promoção de melhor ambiente ruminal devido ao perfil de carboidratos solúveis
da palma. A pectina, presente na palma, proporciona melhor padrão de fermentação ruminal
com a produção de ácidos galacturônicos, com poder tampão, não produzindo ácido láctico e
nem reduzindo o pH do rumem (Van Soest et al., 1991; Dusková & Marounek, 2001). Porém,
a palma quando utilizada como alimento exclusivo pode resultar em baixas produções de
6
leite, redução do teor de gordura, além de desenvolver distúrbios metabólicos nos animais,
principalmente diarréia, devido ao baixo conteúdo em fibra (Santos et al., 1990; Tegegne et
al., 2005).
O elevado teor de água da palma forrageira é uma característica importante para
regiões com escassez deste recurso, considerando que nas regiões semi-áridas o suprimento de
água pode sofrer limitações em quantidade e qualidade, inclusive para a espécie humana.
Desta forma, a utilização de palma forrageira na alimentação de ruminantes pode reduzir a
necessidade de consumo deste nutriente para essas espécies, uma vez que a elevação do seu
consumo pelos animais resulta em redução da ingestão de água (Ben Salem et al., 2005;
Tegegne et al., 2007).
Para os ruminantes, o mecanismo fisiológico de controle de consumo de alimentos que
reflete no atendimento das exigências em energia deve ser observado (Mertens, 1994),
principalmente, para se obter respostas satisfatórias no desempenho animal. Assim, a
utilização de ingredientes que mantenham um melhor ambiente ruminal e favoreçam a
digestão da fibra se apresenta como desafio para os pesquisadores, considerando que a
substituição de ingredientes que são tradicionalmente utilizados pode reduzir os custos de
produção. No entanto, a modificação do perfil de carboidratos não estruturais no ambiente
ruminal pode modificar todo o metabolismo energético alterando a produção, o
comportamento ingestivo, a digestibilidade e os parâmetros sanguíneos dos animais.
Desta forma, a substituição do milho por palma forrageira na dieta de cabras em
lactação pode incrementar o consumo de MS proporcionado pela melhor digestão da fibra a
partir da modulação do pH ruminal melhorando os índices produtivos de cabras em lactação.
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o consumo de alimentos, os parâmetros
sangüíneos, o comportamento ingestivo, a produção de leite e o custo de alimentação, para
cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.
7
MATERIAL E MÉTODOS
Este experimento foi conduzido na Universidade Federal da Paraíba, campus de
Bananeiras – PB, entre os meses de maio e agosto de 2007.
Foram utilizadas 10 cabras alpinas com 40 ± 6 Kg e 30 ± 5 dias de lactação alocadas
em dois quadrados latinos. Os animais foram mantidos em galpão coberto em gaiolas
individuais (1,26 m2) equipadas com cochos e bebedouros individuais.
O delineamento experimental utilizado foi em quadrados latinos (2) simultâneos com
cinco tratamentos e cinco períodos. Os tratamentos foram constituídos de dietas com
diferentes níveis de palma forrageira (0, 25, 50, 75 e 100 %) em substituição ao farelo de
milho. As dietas foram compostas de feno de tifton (Cynodon spp.) como volumoso, palma
forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) e concentrado composto de farelo de milho, farelo
de soja, farelo de trigo, complementada com mistura mineral, calcário calcítico e uréia. A
composição percentual e química das dietas experimentais encontram-se na Tabela 1. As
dietas foram elaboradas segundo o NRC (1981), para satisfazer as exigências de produção de
leite de 1,5 kg/dia, com 4% de gordura.
O experimento teve duração de 75 dias, sendo cinco períodos de 15 dias, onde cada
período foi composto de 10 dias de adaptação dos animais às dietas experimentais e os
últimos cinco dias para coleta de dados, na qual foram avaliados o consumo de alimentos e a
produção de leite. Os animais foram selecionados segundo os critérios de data e ordem de
parto, elegendo-se os de 2a e 3a parição.
A alimentação foi fornecida na forma de mistura completa, sendo duas refeições
diárias, metade fornecida às 07:00 e o restante às 15:00 horas. Permitiu-se sobras de 20% do
oferecido, sempre calculando-se a partir do consumo do dia anterior. O consumo de água foi
8
ad libitum e a palma forrageira foi fornecida em fatias de aproximadamente 5x1 cm,
misturando-se com os outros ingredientes da ração, no momento do fornecimento.
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (% MS)
Ingredientes Níveis de substituição (%) 0 25 50 75 100
Feno Tifton 50 50 50 50 50 Palma forrageira 0 6,9 13,8 20,7 27,6 Farelo de Milho1 28 21 14 7 0 Soja 10 10 10 10 10 Trigo 9,0 9,0 9,0 9,0 9,0 Suplemento Mineral 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Calcário 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Uréia 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Composição Química (%) Matéria Seca 94,94 56,97 40,33 31,30 25,61 Proteína Bruta 12,66 12,58 12,49 12,42 12,34 Fibra em Detergente Neutro 59,50 58,09 56,68 55,27 53,86 Fibra em Detergente Ácido 27,31 27,91 28,52 29,12 29,72 Extrato Etéreo 5,22 4,36 3,49 2,62 1,75 Carboidratos Totais 71,30 72,30 73,31 74,31 75,32 Carboidratos não Fibrosos 16,70 19,11 21,53 23,95 26,36 Energia Metabolizável2 2,43 2,37 2,31 2,25 2,19
1 Subproduto da fabricação de flocos de milho; 2Mcal/Kg – Obtida a partir da estimativa do NDT (NRC, 2001) e pelas relações: 1Kg NDT = 4,409 Mcal ED e EM = 81,7%.
Amostras dos alimentos fornecidos, bem como das sobras e fezes foram coletadas por
animal nos últimos cinco dias de cada período experimental, sendo posteriormente pré-secas e
homogeneizadas para obtenção de amostra composta para análises de matéria seca (MS),
cinzas, matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente ácido (FDA) e extrato etéreo (EE), segundo metodologias descritas por Silva
(1990). Os teores de carboidratos Totais (CT) e de carboidratos não fibrosos (CNF) foram
determinados segundo as equações: CT = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas) e CNF = 100 –
(%FDN + %PB + %EE + %Cinzas), sendo estas preconizadas por Sniffen et al. (1992) e
Mertens (1997), respectivamente. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório
de Nutrição Animal do Campus II da Universidade Federal da Paraíba. As pesagens dos
9
alimentos oferecidos e sobras foram realizadas diariamente e os animais foram pesados no
início e no final de cada período experimental.
Para determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB,
EE, FDN, FDA, CT e CNF foram efetuadas colheitas de fezes dos animais realizadas
diretamente na porção final do reto, durante a fase de coleta de cada período experimental,
e retirada uma amostra proporcional a 10% do volume excretado e, no final do período de
coleta, fez-se uma amostra composta para posteriores análises laboratoriais. Procedimento
similar foi realizado para o consumo de concentrado, volumoso e as sobras. O coeficiente
de digestibilidade aparente foi calculado utilizando-se a seguinte equação: CDA(%) =
[consumo do nutriente – nutriente excretado nas fezes/consumo do nutriente]*100.
O comportamento ingestivo das cabras foi realizado no décimo dia de cada período
experimental, durante 24 horas, quando a cada cinco minutos foram registrados em planilhas
as observações referentes a ócio (O), em pé comendo (EPC), ruminação (R) e em pé bebendo
(EPB). Foram registradas, também, a freqüência urinária e procura por água durante as
avaliações.
As coletas de sangue dos animais foram realizadas após a ordenha da manhã do último
dia de cada período experimental (15º dia), onde foram coletados na veia jugular sangue
suficiente para dois tubos de ensaio (vacultainer) de nove mL, identificados, por cada animal.
Após a coleta os tubos foram colocados em centrífuga por 15 minutos a 7000 rotações por
minuto a fim de se retirar cerca de 5µL de soro de cada amostra e acondicionados em tubos
(ependorf) identificados e acondicionados em freezer à -20ºC para posteriormente serem
analisados com relação aos teores de glicose, uréia e ácidos graxos livres ou não esterificados
(AGNE). Para as análises de glicose e uréia utilizou-se o protocolo (kit) fornecido pela
LABTEST Sistemas para diagnóstico. As análises de AGNE foram realizadas através do
10
KIT NEFA C (WAKO, Chemical, Code no 994-75409E), segundo metodologia descrita por
Hartman & Lago (1973).
Foi avaliado o custo da ração e da água consumida pelas cabras de acordo com
metodologia descrita por Lana et al. (1999), realizadas a partir das seguintes variáveis:
Receita bruta média (RBM): considerando a produção de leite (PL) por dia versus o preço do
kg do leite (PreL), definida por: RBM = PL x PreL; Margem bruta média (MBM): obtida pela
diferença entre a receita bruta média e os gastos com alimentação: MBM = RBM-CA;
Rentabilidade média (RM) considerando-se a margem bruta média dividida pelo custo de
alimentação e multiplicando-se por 100: RM = (MBM/CA) x 100, considerando que os preços
dos ingredientes utilizados na formulação das rações foram de R$ 1,00, R$ 0,30, R$ 0,60, R$
0,01, R$ 2,00, R$ 1,00 e R$ 0,69 por quilograma para o farelo de soja, farelo de trigo, farelo
de milho, palma forrageira, sal mineral, calcário e feno de tifton, respectivamente. Já o custo
da água fornecida às cabras foi de R$ 1,86/m3.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, realizando-se
contraste ortogonal (testemunha versus tratamentos com palma) com a utilização do programa
SAS, versão 8.0 (SAS, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios para consumo de MS, de nutrientes e variação de peso das cabras
estão apresentados na Tabela 2. O consumo de MS aumentou significativamente (P<0,05) e
de forma linear, com a substituição do farelo de milho por palma forrageira. Os valores
médios variaram de 1950 a 2315 g/cabra/dia, representando de 4,38 a 5,23 % do peso vivo.
A concentração de acetato e propionato parecem exercer função importante no
controle da ingestão de alimentos por ruminantes, onde na parede ruminal existem
químioreceptores que são sensíveis à mudança do pH, mas não especificamente para o acetato
11
(Berchielli et al., 2006). Portanto, a substituição do milho por palma forrageira com provável
incremento da produção do acetato e redução do propionato (Dusková & Marounek, 2001)
pode ter proporcionado um melhor ambiente ruminal e favorecido a utilização dos alimentos
ingeridos, aumentando a taxa de passagem e conseqüentemente o CMS. Este fato é ressaltado
a partir da análise de contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma, que
apresentou diferença significativa (P<0,05).
Tabela 2. Valores médios referentes ao consumo de MS e de nutrientes dos animais em função dos níveis de substituição do milho por palma forrageira
Consumo (g/dia)
Níveis de substituição (%) Regressão R2 C CV (%) 0 25 50 75 100
CMS (g/dia) 1950 2105 2299 2300 2315 Ŷ= 1,921+0,091x 0,82 * 8,85 CMS (%PV) 4,38 4,77 5,20 5,22 5,23 Ŷ= 4,32+0,213x 0,81 * 8,90 CPB (g/dia) 246 289 334 303 297 Ŷ= 172+86,17x-12,43x2 0,87 * 11,49 CFDN (g/dia) 1254 1360 1544 1578 1603 Ŷ= 1193+91,6x 0,90 * 16,52 CFDA (g/dia) 497 523 594 555 541 Ŷ= 542,0 - ns 14,60 CCT (g/dia) 1353 1453 1635 1654 1677 Ŷ= 1299,7+84,9x 0,88 * 12,45 CCNF (g/dia) 360 495 698 840 961 Ŷ= 206,7+154,7x 0,99 * 12,52 CEE (g/dia) 111 107 099 067 039 Ŷ= 139,8-18,4x 0,89 * 16,70 CMO (g/dia) 1805 1934 2193 2145 2095 Ŷ= 1464,6+364x-47,5x2 0,91 * 12,04
Consumo de água (Kg/dia)
Água fresca 5,23 3,92 2,06 0,42 0,12 Ŷ = 6,46-1,37x 0,96 * 48,37 Água Palma 0,00 1,70 4,30 7,15 9,14 Ŷ = -2,66+2,37x 0,99 * 17,27
CMS: Consumo de MS; CMS%PV: consumo de MS em % PV; CPB: consumo de proteína bruta; CFDN: consumo de FDN; CFDA: consumo de FDA; CCT: consumo de carboidratos totais; CCNF: consumo de carboidratos não fibrosos; CEE: consumo de extrato etéreo; CMO: consumo de matéria orgânica; C: contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma.
Resultados semelhantes foram reportados por Assis et al. (2000) e Ben Salem et al.
(2002), ao utilizarem dietas com palma forrageira, atriplex e soja em ovinos, observaram que
os animais nas dietas com palma apresentaram vantagem com a otimização da fermentação e
digestão dos alimentos, incrementando o consumo. Neste mesmo sentido, Tegegne et al.
(2007), avaliando o nível ótimo de suplementação com palma forrageira em ovinos,
observaram um incremento significativo no consumo de MS, MO e de EM com a inclusão da
palma, porém, não observaram diferença significativa no consumo de PB.
12
A substituição do farelo de milho por palma forrageira promoveu a redução da energia
metabolizável da dieta (Tabela 1). Segundo Mertens (1994) o mecanismo fisiológico de
controle de consumo de alimentos reflete no atendimento das exigências em energia e poderia
explicar o incremento do consumo de MS pelas cabras. Porém, segundo o NRC (2007) a
exigência em energia metabolizável para cabras em lactação com 40 Kg de peso vivo é de
2,10 Mcal/Kg, que foi plenamente atendida em todos os tratamentos. Além disso, os
percentuais médios para o consumo de MS (% PV) em todos os níveis de substituição do
milho por palma apresentaram-se acima do limite mínimo de 4,17 % PV (NRC, 2007), para
cabras em lactação com produção de leite de 1,5 litros/dia, com 4% de gordura.
O consumo de FDN, CT e de CNF aumentou significativamente (P<0,05) e
linearmente com a substituição do farelo de milho por palma forrageira, cujos valores médios
variaram, respectivamente, de 1254 a 1603, 1353 a 1677 e de 360 a 961 g/cabra/dia. A análise
por contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma, também apresentou
diferença significativa (P<0,05), confirmando a influência positiva da palma forrageira no
consumo destes nutrientes, fato citado por Nefzaoui e Ben Salem (2001). Ao utilizarem a
palma e o atriplex (Atriplex nummularia L.) Ben Salem et al. (2004) ressaltaram que o
tratamento com adição de palma à dieta resultou em aumento do consumo da MS e FDN, em
virtude da alta digestibilidade promovido pela palma forrageira, enfatizando ainda, que a
suplementação de forragens de baixa qualidade com palma (Opuntia ficus-indica L. Miller) e
atriplex apresentou um impacto positivo no ganho de peso dos ovinos e o mais importante é
que esta espécie pode reduzir o custo de alimentação com substituição dos alimentos
concentrados.
O consumo de PB e de MO pelas cabras aumentou significativamente (P<0,05) de
forma quadrática entre os tratamentos, com maior consumo observado no nível de 50 % de
substituição do farelo de milho por palma. A análise por contrate ortogonal, testemunha
13
versus tratamentos com palma, foi significativa (P<0,05), confirmando o efeito positivo da
palma forrageira no consumo destes nutrientes.
Para o consumo de EE observou-se redução linear (P<0,05) com o incremento de
palma forrageira na dieta das cabras. Os valores médios variaram de 111 a 39 g/dia, com
diferença significativa (P<0,05) para o contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos
com palma. Pode-se observar que o percentual deste constituinte foi reduzido na dieta à
medida que a palma forrageira substituiu o farelo de milho (Tabela 1) afetando desta forma
seu consumo pelas cabras. Este fato também foi observado por Araújo et al. (2004), ao avaliar
o consumo de nutrientes por vacas em lactação com dietas utilizando a palma forrageira em
substituição ao milho.
O consumo de água reduziu linearmente (P<0,05) com a inclusão da palma forrageira.
Os valores médios variaram de 5,23 para 0,12 kg/dia. A palma forrageira forneceu água para
os animais reduzindo a necessidade de consumo. O consumo de água a partir da palma
aumentou de forma linear (P<0,05) cujos valores médios variaram de 0 a 9,85 kg/dia com a
substituição do milho por palma, ressaltando a importância desta forrageira como fonte de
água para os animais. Os resultados para avaliação do contraste ortogonal, testemunha versus
tratamentos com palma foram significativos (P<0,05). Estes resultados corroboram com os
previamente reportados por Ben Salem et al. (2004) e Tegegne et al. (2007) que enfatizaram a
redução do consumo de água em experimentos incluindo a palma forrageira na alimentação de
ovinos. Resultados similares também foram reportados por Arnaud et al. (2005) para vacas
em lactação no Brasil, onde o incremento de palma na dieta das vacas diminuiu a necessidade
de consumo de água.
Portanto, os resultados apresentados confirmam que a elevada umidade da palma
forrageira é um fator importante para ambientes com características agroclimáticas de semi-
aridez, onde a disponibilidade de água é um fator limitante para a produção animal.
14
Na Tabela 3 estão apresentados os valores médios para os coeficientes de
digestibilidade aparente da MS e nutrientes.
Tabela 3. Coeficientes de digestibilidade aparente da MS e de nutrientes das cabras sob efeito da substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Item (%)
Níveis de substituição (%) Regressão R2 C CV (%) 0 25 50 75 100
DAMS 71,99 74,35 80,64 83,23 83,57 Ŷ= 69,14+3,20x 0,92 * 5,30 DAMO 74,56 76,36 82,03 84,60 84,92 Ŷ= 71,81+2,89x 0,92 * 4,73 DAPB 83,97 84,74 88,35 89,84 90,50 Ŷ= 82,03+1,82x 0,93 * 2,62 DAEE 85,94 84,52 83,98 81,02 73,41 Ŷ= 90,32-2,85x 0,81 * 3,67 DAFDN 71,25 80,09 80,50 83,24 84,00 Ŷ= 71,22+2,86x 0,80 * 6,05 DAFDA 80,23 77,24 83,74 86,14 82,51 Ŷ=81,97 - ns 14,03 DACT 70,85 73,52 80,36 83,20 83,88 Ŷ= 67,64+3,57x 0,93 * 5,62 DACNF 86,43 85,75 86,35 86,99 86,99 Ŷ=86,50 - ns 5,67 C: Contraste ortogonal (testemunha versus tratamentos com palma); DAMS: digestibilidade aparente da MS; DAMO: digestibilidade aparente da matéria orgânica; DAPB: digestibilidade aparente da proteína bruta; DAEE: digestibilidade aparente do extrato etéreo; DAFDN: digestibilidade aparente da fibra em detergente neutro; DAFDA: digestibilidade aparente da fibra em detergente ácido; DACT: digestibilidade aparente dos carboidratos totais; DACNF: digestibilidade aparente dos carboidratos não fibrosos.
Os coeficientes de digestibilidade aparente da MS aumentaram de forma linear com a
substituição do farelo de milho por palma forrageira e de forma similar ocorreu com a
DAMO, DAPB e DAFDN, cujos valores médios variaram de 71,99 a 83,57, de 74,56 a 84,92,
de 83,97 a 90,50 e de 71,25 a 84,00%, respectivamente, com exceção para DAFDA, cujo
valor médio foi de 81,97%. O amido do milho leva à diminuição do pH ruminal, com a
produção de ácido láctico e redução da atividade de bactérias celulolíticas (Van Soest et al.,
1991). Desta forma a palma forrageira incrementou a digestibilidade da MS e nutrientes,
principalmente da fibra, a partir da modulação do pH do rúmen. Ben Salem et al. (1996) não
observaram alteração do pH do rúmen, ao fornecerem grande quantidade de palma forrageira
para ovinos. Resultados contrários foram relatados por Veras et al. (2002) ao substituírem o
milho por farelo de palma em dietas para cabras em lactação onde não verificaram efeito
significativo (P>0,05) nos coeficientes de digestibilidade aparente havendo, apenas,
incremento na DAFDA.
15
Houve redução linear para a DAEE com o aumento dos níveis de palma forrageira,
cujos percentuais médios variaram de 85,94 a 73,41%. Esta redução está relacionada com a
depressão deste constituinte nas dietas com a substituição do farelo de milho por palma
forrageira, confirmado pela significância (P<0,05) do contraste ortogonal, testemunha versus
tratamentos com palma.
A DACNF não foi afetada significativamente (P>0,05) com a substituição do farelo de
milho por palma forrageira. Pode-se enfatizar que a substituição do amido do milho na dieta
proporcionou digestibilidade aparente similar aos carboidratos não fibrosos da palma
representado, principalmente, pela pectina (Silva et al., 1997). O percentual médio foi de
86,50%. Para a digestibilidade aparente dos CT, cujos valores médios variaram de 70,85 a
83,88%, foi observado um aumento linear significativo (P<0,05) com a substituição do farelo
de milho, podendo ser atribuído ao incremento da digestão da fibra e produção de acetato, fato
também relatado por Dusková e Marounek (2001) ao estudarem o processo digestivo do
amido e da pectina onde observaram maior produção de acetato com a utilização da pectina
no processo fermentativo. No presente trabalho a DAFDN para o tratamento com 100% de
substituição do farelo de milho, de 84%, apresentou-se acima do encontrado por Fonseca et al.
(2006), de 58,16 %, com dietas para cabras alpinas a base de silagem de milho e concentrado.
A avaliação do contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma,
realizada para os coeficientes de digestibilidade aparente de MS, PB, EE, FDN, MO e CT
demonstrou que todos foram significativos (P<0,05), confirmando o efeito positivo da palma
forrageira na digestibilidade e, principalmente, incrementando a digestão da fibra.
A Tabela 4 apresenta os resultados para a avaliação dos parâmetros sanguíneos das
cabras em lactação. Os teores de glicose e de ácidos graxos não esterificados (AGNE) não
variaram (P>0,05) com a substituição do farelo de milho por palma forrageira, cujos valores
médios foram de 2,70 a 2,79 mmol/L e de 138,11 a 177,14 µmol/L, respectivamente.
16
Tabela 4. Parâmetros sanguíneos das cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Item Níveis de substituição (%) Regressão R2 C CV (%) 0 25 50 75 100
Glicose 2,70 2,72 2,67 2,79 2,56 ŷ = 2,69 - ns 17,91 Uréia 9,43 8,56 8,49 7,86 7,52 ŷ=9,73-0,45x 0,94 * 24,99 AGNE 177,14 141,24 137,86 145,89 138,11 ŷ=148,05 - ns 32,67 AGNE: ácidos graxos não esterificados (µmol/L); Glicose e uréia (mmol/L); C-contraste ortogonal (testemunha versus tratamentos com palma).
Os valores médios para uréia variaram significativamente (P<0,05) entre os níveis de
substituição com redução linear, cujos valores médios variaram de 9,43 a 7,52 mmol/L, e cuja
variação foi proporcionada pela utilização da palma forrageira confirmada pelo efeito
significativo (P<0,05) do contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma.
A substituição dos carboidratos não estruturais pela pectina favorece a fermentação
ruminal aumentando a produção de acetato, em detrimento do lactato, mantendo o pH ruminal
e desta forma promovendo maior produção de energia no rúmen e, conseqüentemente, maior
síntese de proteína microbiana (Hatfield & Weimer, 1995). Este fato, também relatado por
Miron e Ben-Ghedalia (1994) poderia explicar a redução dos níveis de uréia no sangue a
partir de um melhor aproveitamento da amônia para síntese de proteína microbiana. Porém, os
níveis de energia das dietas não foram incrementados com a substituição do farelo de milho
por palma forrageira.
Segundo Felix et al. (2001) a uréia, convertida pelo fígado (a partir da amônia), por se
tratar de uma molécula solúvel em água e altamente permeável, é excretada na urina pelos
ruminantes. De fato, o aumento do consumo de palma forrageira incrementou a ingestão de
água pelas cabras (Tabela 2) em 80% e pode ter propiciado maior fluxo de líquido renal e
maior taxa de filtração glomerular e, possivelmente, provocando a eliminação acentuada de
substâncias nitrogenadas pela urina, considerando que foi observado o incremento da
freqüência urinária pelos animais (Tabela 5).
17
Vieira (2006), avaliando o teor de glicose e uréia de cabras em lactação alimentadas
com níveis crescentes de palma forrageira, observaram que a concentração de glicose não
variou (3,3 mmol/L), porém os níveis de uréia reduziram, à medida que se aumentou a palma
forrageira na dieta dos animais, cujos valores médios foram reduzidos de 4,87 para 2,57
mmol/L.
No comportamento ingestivo das cabras (Tabela 5) para os parâmetros ócio (O),
ruminação (R) e excreção de fezes (FEZ) não houve diferença significativa (P>0,05) com a
substituição do farelo de milho por palma forrageira. Por outro lado, a adição da palma afetou
significativamente (P<0,05) o parâmetro em pé comendo (EPC), cujos valores médios
variaram de 238,5 a 344,5 minutos, com efeito linear crescente. Este fato relaciona-se
diretamente ao elevado percentual de água da palma forrageira, onde as cabras necessitaram
de maior tempo para ingerir a ração.
Tabela 5. Comportamento ingestivo das cabras alimentadas com palma forrageira em substituição do farelo de milho.
Item Níveis de substituição (%) Regressão R2 C CV (%) 0 25 50 75 100
O1 653,5 660,5 701,0 626,5 616,0 Ŷ=651,5 - ns 15,36 R1 545,5 479,5 461,0 501,0 482,5 Ŷ=493,9 - ns 24,42 EPC1 238,5 268,0 276,5 312,5 344,5 Ŷ=211,05+25,65x 0,97 * 19,51 AGUA2 6,8 6,8 4,3 1,4 0,8 Ŷ=8,69-1,61x 0,91 * 61,23 URI2 9,9 13,2 11,7 14,0 18,2 Ŷ=7,18+1,94x 0,88 * 27,55 FEZ2 19,8 20,8 18,9 18,3 17,9 Ŷ=19,14 - ns 33,13 O - ócio; R – ruminando; EPC – em pé comendo; FEZ – fezes; URI – urina; AGUA – procura por água; 1Minutos, 2Frequência em 24 horas; C: contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma.
A procura por água (AGUA) e freqüência urinária (URI) também foram afetadas
(P<0,05) com a substituição do milho por palma forrageira, com redução linear para AGUA e
aumento linear para URI, fato que pode ser explicado, também, pelo suprimento de água pela
palma forrageira (Tabela 2). Esta redução da procura por água ressalta a importância da palma
forrageira para alimentação de caprinos em regiões semi-áridas.
18
Na tabela 6 estão apresentados os valores médios relativos à produção total de leite
(PL), produção de gordura (GL) e avaliação do custo de alimentação para as cabras, em
função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Tabela 6. Produção total de leite, teor de gordura e avaliação de custo de alimentos em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Item Níveis de substituição Regressão R2 C CV (%) 0 25 50 75 100
PL, kg/d 1,718 1,820 1,884 1,845 1,810 Ŷ = 1,82 - ns 8,79 GL, % 3,84 3,84 3,74 3,46 2,97 Ŷ = 4,26-0,21x 0,82 * 7,43 Avaliação de custo de alimentação
RBM, R$ 4,29 4,55 4,71 4,61 4,52 Ŷ = 4,54 - ns 8,79 MBM, R$ -0,94 -0,011 1,16 1,89 2,16 Ŷ = -1,58+0,81x 0,96 * 91,08 RM, % -17,51 4,05 38,60 52,87 91,55 Ŷ = -46,17+26,69x 0,98 * 72,25
PL: produção total de leite; GL: gordura do leite; RBM: rentabilidade bruta média; MBM: margem bruta média; RM: rentabilidade bruta média; C: contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma.
A substituição do farelo de milho por palma forrageira não afetou significativamente
(P>0,05) a produção total de leite das cabras, cujo valor médio foi de 1,82 kg/cabra/dia. Estes
resultados são relevantes, considerando-se que a redução no fornecimento de concentrados
aos animais sem reduzir a produção total de leite promove uma maior rentabilidade ao
produtor rural. Em regiões semi-áridas a palma forrageira é um recurso plenamente disponível
e de baixo custo, podendo fortalecer o desenvolvimento da caprinocultura nestes ambientes,
quando fornecida de forma adequada para os animais. A literatura é escassa quanto a
resultados para produção de leite de cabras com a utilização de palma forrageira. Sahho e
Walli (2008) reportaram valores mais baixos para produção de leite ao avaliarem fontes de
proteína e energia para cabras Saanen x Beetal e Alpinas x Beetal, com valor médio de 1,42
kg/dia.
Encontram-se na literatura trabalhos com utilização de palma substituindo o milho na
dieta apenas com bovinos. Araújo et al (2004) observaram que a produção de leite de bovinos
também não sofreu influência com a utilização de palma, concluindo que é possível substituir
o milho mantendo-se os níveis de produção de leite.
19
O percentual de gordura no leite foi reduzido linearmente (P<0,05) com o incremento
dos níveis de palma forrageira, cujos valores médios variaram de 3,84 a 2,97%. Esta
depressão da gordura no leite pode ser explicada com a redução do EE das dietas (5,22 a
1,75%) considerando-se que a síntese de lipídios na glândula mamária pode ser afetada pelo
aporte de triglicerídeos fornecidos pela dieta dos animais (Chilliard et al., 2003). Porém, os
percentuais encontrados para a gordura do leite permaneceram dentro dos limites
estabelecidos pela legislação (Brasil, 2000).
A avaliação de custo de alimentos fornecidos nesta pesquisa reforçou a importância da
palma forrageira para a caprinocultura leiteira do semi-árido. Pode-se observar que a
Rentabilidade Bruta Média (RBM) não apresentou diferença significativa (P>0,05) com os
níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira, cujo valor médio foi de R$
4,54/dia. Este fato está relacionado com a produção de leite, que também não sofreu
influência significativa (P>0,05). Porém, quando considerou-se a Margem Bruta Média
(MBM), que sofre impacto direto do custo da ração, observou-se diferença significativa
(P<0,05) com redução linear à medida que a palma forrageira substituiu o farelo de milho,
cujos valores médios variaram de R$ -0,94 a R$ 2,16/dia. Desta forma, a Rentabilidade Média
(RM) foi aumentada significativamente (P<0,05) de forma linear com a utilização da palma
forrageira, cujos valores médios variaram de -17,51 a 91,55%.
Alcalde et al. (2005) ao estudarem a variação de custo de produção de leite de cabras
Saanen, ressaltaram que o preço dos alimentos, principalmente da soja e do milho, foram os
ingredientes mais onerosos para a ração e obtiveram valores para Margem do Custo da Ração
de R$ 0,97 a R$ 1,78/dia, que no presente trabalho foi denominado de MBM, cujos valores
médios foram mais interessantes para o produtor (R$ 2,16/dia), para o tratamento com
substituição total do farelo de milho por palma forrageira e ainda com Rentabilidade Média de
91,55%. Os resultados do contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma para
20
MBM e RM, também apresentaram-se significativos (P<0,05). Esses resultados positivos que
compõem os custos de produção somados aos aspectos nutricionais desta cactácea ressaltam
sua importância na constituição de dietas para caprinos de leite, principalmente para a região
semi-árida do Brasil.
CONCLUSÕES
A palma forrageira pode substituir o farelo de milho na dieta de cabras em lactação
sem afetar a produção total de leite, incrementando o consumo de matéria seca e reduzindo
significativamente o consumo de água. Pode-se produzir leite de cabras com rentabilidade
média superior a partir da utilização de palma forrageira em substituição ao concentrado
energético.
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24
CAPÍTULO II
______________________________________________________________________
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica L. Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE
MILHO
25
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (OPUNTIA FICUS-INDICA L. MILLER) EM
SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE MILHO
RESUMO
Foi analisado o efeito da substituição de 0, 25, 50, 75 e 100% do farelo de milho
por palma forrageira sobre as características químicas do leite de cabra. Foram utilizadas
10 cabras alpinas lactantes (40 kg ± 6 kg), alocadas em dois quadrados latinos (5 x 5), com
cinco tratamentos e cinco períodos de 15 dias. A amostragem do leite para análise da
composição centesimal e do perfil de ácidos graxos foi realizada nos três últimos dias de
cada período experimental (13º, 14º e 15º dias). Observou-se redução linear (P<0,05) no
teor de lipídios e de sólidos totais do leite com a substituição do concentrado energético
pela palma forrageira, com valores variando de 3,84 a 2,97% e de 12,08 a 10,79%,
respectivamente, enquanto que os demais constituintes não apresentaram variação
(P>0,05). Os percentuais de ácidos graxos saturados (AGS) aumentaram linearmente
(P<0,05) e a concentração dos ácidos monoinsaturados (MUFA) reduziu linearmente
(P<0,05), cujos valores variaram de 62,80 a 71,93% e de 26,73 a 16,11%, respectivamente.
A substituição do farelo de milho por palma forrageira reduz o extrato etéreo da dieta com
influencia na qualidade físico-química do leite de cabras, provocando uma leve depressão
no teor de lipídios, de sólidos totais, de ácidos graxos monoinsaturados e na concentração
de ácidos graxos desejáveis, evidenciando a concentração dos ácidos graxos saturados a
partir da menor ingestão de ácidos graxos insaturados pelos animais.
Palavras-chave: ácidos graxos, composição centesimal, leite de cabra, perfil lipídico.
26
CHEMICAL COMPOSITION OF MILK FROM GOATS FED WITH CACTUS
PEAR (Opuntia ficus-indica L. Miller) IN SUBSTITUTION TO CORN MEAL
ABSTRACT
Was analyzed the effect of corn meal substitution of 0, 25, 50, 75, and 100% by
cactus pear on the chemical characteristics of goat milk. Ten Alpine lactating goats were
used (40 kg ± 6 kg), allocated as two Latin squares (5x5) into five treatments and five
periods of 15 days. The milk sampling for performing the chemical analysis and fatty
acids profile was done in the three last days of each trial period (13th, 14th and 15th
days). There was a linear reduction (P <0.05) in the lipid contents and total solids in
milk with the substitution of energetic concentrated by cactus pear, with values ranging
from 3.84 to 2.97% and from 12.08 a 10.79%, respectively, while the other constituents
remained unchanged (P> 0.05). The saturated fatty acids percentage (SFA) increased
linearly (P <0.05), whereas the monounsaturated fatty acids concentration (MUFA)
decreased linearly (P <0.05), which values ranged from 62.80 to 71.93 and from 26.73
to 16.11%, respectively. The corn meal substitution by cactus pear reduces the ethereal
extract of the diet with influences in the physical-chemical quality of the goat milk,
provoking a light depression in the fat, total solids, monounsaturaded fatty acids and the
desirable fatty acids concentration, showing up the saturated fatty acids concentration
from the smaller unsaturated fatty acids consumption by the animals.
Key words: fatty acids, centesimal composition, goat milk, lipid profile.
27
INTRODUÇÃO
A produção de leite de cabra no Brasil está baseada em sistemas intensivos. Para o
Nordeste, as condições de clima e solo afetam diretamente os índices produtivos do
rebanho ocasionados pelas secas periódicas que afetam a disponibilidade de forragem para
o rebanho, fazendo que os produtores forneçam aos animais, basicamente, alimentos
concentrados como farelo de soja e de milho que oneram os custos de produção.
Uma alternativa para a região Nordeste é a utilização de forrageiras nativas ou
adaptadas às condições de clima e solo. A palma forrageira é uma cactácea amplamente
difundida na região Nordeste do Brasil, é tolerante à seca, altamente produtiva e é uma
espécie rica em mucilagem, água e carboidratos solúveis como a pectina (De Kock, 2001).
De acordo com Berchielli et al. (2006) a fermentação da pectina, presente na palma
forrageira, proporciona melhor ambiente ruminal aumentando a produção de acetato que é
o principal ácido graxo volátil produzido no rúmen pelos microrganismos ruminais e fonte
mais importante de energia metabolizável para o ruminante, além de ser o substrato
preferencial durante a lipogênese.
Entretanto, não há informações na literatura quanto à utilização da palma forrageira
em substituição ao concentrado energético em dietas para cabras em lactação e sua
influência na qualidade do leite.
A composição em macro e micro elementos do leite de cabra depende,
essencialmente, de fatores que constituem os sistemas de produção: genótipo, reprodução,
características sanitárias dos animais, condições agroclimáticas e sócio-econômicas,
aplicação de práticas agrícolas para alimentação e ordenha dos animais (Sanz Sampelayo et
al., 2007).
28
A alimentação dos animais tem influência na qualidade do leite promovendo
alterações nas características quantitativas e qualitativas do leite (Morand-Fehr et al.,
2007). O tipo de alimentação e o sistema de criação adotado pelo produtor apresenta,
particularmente, efeitos na composição e na qualidade do leite de pequenos ruminantes,
não sendo apontado apenas a fatores nutricionais, mas à modificações a partir dos aspectos
fisiológicos e metabólicos do processo digestivo que podem auxiliar no entendimento e na
interpretação das modificações na qualidade do leite (Chilliard et al., 2001; Schmidely &
Sauvant, 2001).
O estudo do perfil de ácidos graxos do leite apresenta-se como fator importante do
ponto de vista nutricional e de saúde pública, considerando que a incidência de doenças
cardiovasculares está relacionada com o perfil lipídico dos alimentos. Alguns ácidos
graxos são importantes para saúde humana por apresentarem efeito cardioprotetor
promovendo no sistema vascular uma ação antiaterogênica, é o caso, por exemplo, do
ácido oléico e linolênico (Massaro et al., 1999).
O percentual de gordura do leite está diretamente relacionado com o manejo
alimentar dos animais, uma vez que o aporte energético fornecido aos animais
disponibiliza precursores à glândula mamária (Morand Fehr et al., 2007). Desta forma, a
manipulação da dieta dos animais pode melhorar a qualidade nutricional da gordura do
leite (Bernard et al., 2005).
O objetivo desta pesquisa foi avaliar a composição química e o perfil de ácidos
graxos do leite de cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de
milho.
29
MATERIAL E MÉTODOS
Delineamento Experimental, Animais e Dietas.
O experimento foi desenvolvido no período de maio a agosto de 2007 no Setor de
Caprinocultura da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus de Bananeiras - PB,
Brasil.
Um total de 10 cabras alpinas com 40 (± 6) kg de peso vivo e 30 (± 5) dias de
lactação, foram alocadas em dois quadrados. Foram 75 dias de experimento divididos em
cinco períodos de 15 dias, sendo os primeiros 12 dias de cada período para adaptação dos
animais às dietas e os três últimos dias para coleta de amostras. Os animais foram mantidos
em sistema intensivo alocados em galpão coberto em gaiolas individuais, com área útil de
1,26 m2 equipadas com comedouros e bebedouros e piso em grade de madeira ripada, onde
receberam ração completa composta de concentrado, feno de tifton e palma forrageira. A
composição percentual e química das rações experimentais encontram-se na Tabela 1. As
dietas foram calculadas segundo o NRC (1981), para satisfazer as exigências de produção
de leite de 1,5 kg/dia, com 4% de gordura.
Para a amostragem os utensílios foram previamente lavados com água e detergente
neutro e secos à temperatura ambiente. As amostras de leite foram coletadas em cinco
períodos experimentais de 15 dias, com coletas no 13º, 14º e 15º dia de cada período
através de ordenha manual realizadas às 6:00 e 14:00 horas em sala de ordenha. Foram
obtidas alíquotas de para cada animal constituindo amostras compostas proporcional à
produção de leite para cada turno de ordenha (70% do leite coletado pela manhã e 30% à
tarde), que foram acondicionadas em garrafas de polietileno de 300 e 200 mL para análises
da composição centesimal e do perfil de ácidos graxos do leite, respectivamente. As
30
amostras foram transportadas em caixa térmica para o laboratório onde foram realizadas as
análises.
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (% na MS)
Ingredientes Níveis de substituição (%) 0 25 50 75 100
Feno Tifton 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 Palma forrageira 0 6,9 13,8 20,7 27,6 Soja 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 Farelo de Milho1 28,0 21,0 14,0 7,0 0 Trigo 9,0 9,0 9,0 9,0 9,0 Suplemento Mineral 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Calcário 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Uréia 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Composição Química (%) MS 94,94 56,97 40,33 31,30 25,61 PB 12,66 12,58 12,49 12,42 12,34 FDN 59,50 58,09 56,68 55,27 53,86 FDA 27,31 27,91 28,52 29,12 29,72 EE 5,22 4,36 3,49 2,62 1,75 CT 71,30 72,30 73,31 74,31 75,32 CNF 16,70 19,11 21,53 23,95 26,36 MS – matéria seca; PB – proteína bruta; FDN – fibra em detergente neutro; FDA – fibra em detergente ácido; EE – extrato etéreo; CT – carboidratos totais; CNF – carboidratos não fibrosos. 1 Subproduto da fabricação de flocos de milho.
Análises da Composição Química do Leite
As análises para a composição centesimal do leite de cabras foram realizadas no
Laboratório de Controle de Qualidade de Alimentos da UFPB, Campus de Bananeiras -
PB. Foram analisadas 25 amostras, que foram provenientes de cinco tratamentos, coletadas
em cinco períodos (5 x 5). As análises foram realizadas de acordo com as seguintes
metodologias: O teor de lipídios foi analisado utilizando-se lactobutirômetros de Gerber;
Proteína, determinada pelo método Micro-Kjedahl, multiplicando-se 6,38 pelo percentual
de nitrogênio - métodos AOAC, 991.20 e 991.23 (AOAC, 1998); o percentual de lactose
foi analisado segundo método de redução de Fehling (Instituto Adolfo Lutz, 2005). A
análise de acidez foi realizada por titulação, sendo o resultado expresso em ºD - método
31
AOAC 947.05 (AOAC, 1998). Sólidos totais, obtido por secagem em estufa a 105 ºC até
obtenção de peso constante - método AOAC, 925.23 (AOAC, 1998). O extrato seco
desengordurado foi determinado por subtração do teor de lipídios do extrato seco total
(Instituto Adolfo Lutz, 2005). A densidade foi determinada por leitura em
termolactodensímetro a 15 ºC (Instituto Adolfo Lutz, 2005). Já a análise da composição
percentual de cinzas foi realizada em mufla a temperatura de 550 a 570 ºC a partir da
metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (2005). O teor de cálcio do leite foi
determinado por leitura em espectrofotômetro de absorção atômica conforme metodologia
descrita por Sarruge & Haag (1979).
Análises dos Ácidos Graxos do Leite
As análises para extração e esterificação dos ácidos graxos foram realizadas no
Laboratório de Bromatologia do Departamento de Nutrição da UFPB. Foram analisadas 25
amostras compostas de cinco tratamentos e cinco períodos experimentais (5 x 5). As
amostras foram homogeneizadas com bastão de vidro e retiradas alíquotas de 100 mL de
leite que foram submetidas à centrifugação por 5 minutos para separação da gordura dos
demais nutrientes. Destas amostras foram obtidas alíquotas de 2 g para os processos de
extração, saponificação e esterificação (Folch et al., 1957). Em seguida foi realizada a
metilação de acordo com metodologia de Hartman & Lago (1973) para obtenção dos
ésteres produzidos que foram acondicionados em recipientes de vidro (10 mL) e foram
hermeticamente fechados para serem encaminhados para análise de cromatografia gasosa,
realizada na EMBRAPA Agroindústria Tropical. Utilizou-se um cromatógrafo a gás (CG
VARIAN CP – 3380) com detector de ionização de chama (FID), com coluna capilar (SP-
2560) de 100 metros x 0,25 mm (d.i.) x 0,20 µm. Utilizou-se o hidrogênio como gás de
32
arraste numa vazão de 10 mL / min. e os gases nitrogênio (30 mL / min) e ar sintético (300
mL / min.) como auxiliares.
O tempo total de corrida foi de 63 minutos, cuja temperatura da coluna iniciou a 70
ºC permanecendo por 4 min., posteriormente a temperatura da coluna foi elevada a 8 ºC /
min. para 110 ºC. Em seguida elevou-se a temperatura para 170 ºC a uma taxa de 5 ºC /
min. permanecendo por 10 min., posteriormente a temperatura foi aumentada, a 4 ºC /
min., para a temperatura final de 240 ºC, que foi mantida por 14,5 minutos.
Utilizou-se amostra padrão para ácidos graxos de leite de cabra fornecida pela
SUPELCO (37 Component Fame Mix, numa concentração de 10000 µg/mL). Os tempos
de retenção e as percentagens dos ácidos graxos foram obtidos a partir do software
SYSTEM CONTROL VARIAN STAR, e expressos em percentual de área.
Os resultados das características físico-químicas e das análises de ácidos graxos
foram compilados em planilhas eletrônicas sendo submetidas à análise de variância e
regressão. Também foi realizada análise por contraste ortogonal (testemunha versus
tratamentos com palma). As análises estatísticas foram realizadas com auxílio do software
SAS, versão 6.2 (SAS, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios para a composição centesimal do leite de cabras, em função dos
níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira, estão expressos na Tabela 2.
Os teores de proteína, lactose, acidez, extrato seco desengordurado, cinzas, densidade e
cálcio não apresentaram diferença (P>0,05) entre os tratamentos, cujos valores médios
foram de 3,09, 3,68, 0,15, 7,99, 0,77%, 1031,3 g/cm3 e 138,35 mg/100 g, respectivamente.
O teor de lipídios do leite de cabra sofreu redução linear (P<0,05) com a
substituição do farelo de milho por palma forrageira, cujos valores reduziram de 3,84 para
33
2,97%. A análise por contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma,
também foi significativa (Tabela 2).
A média para o percentual de lipídios do leite analisados neste experimento foi de
3,57% permanecendo próximo da média (3,7%) observada para cabras Saanen e Alpinas
(Pizarro & Bresslau, 2001), utilizadas neste estudo. O menor valor determinado para o
percentual de gordura no leite de cabra foi observado no tratamento com substituição total
do farelo de milho por palma forrageira (2,97%), porém, apresenta-se com valor superior
aos percentuais encontrados por Sung et al. (1999), para gordura do leite de cabras Saanen,
cujos valores foram 2,6 e 2,89%, respectivamente.
A concentração de FDN das dietas pode influenciar no teor de lipídios do leite.
Como houve incremento no consumo de matéria seca e, conseqüentemente, no consumo de
FDN (resultados apresentados na Tabela 2 do Capítulo I) esperava-se que houvesse o
aumento dos teores de lipídios no leite. Porém, o extrato etéreo das dietas foi reduzido de
5,22 para 1,75% (Tabela 1), com a substituição do farelo de milho por palma forrageira,
indicando que a menor ingestão deste constituinte pelos animais pode ter reduzido a
deposição de triglicerídeos na glândula mamária. Aproximadamente 44% da gordura do
leite provêm de triglicerídeos ingeridos pelo ruminante e o restante é originado a partir de
síntese endógena (González & Silva, 2003).
O teor de sólidos totais do leite sofreu redução linear (P<0,05) com a substituição
do concentrado energético, variando de 12,08 a 10,76%. Esta variação pode ser atribuída à
redução do teor de lipídios do leite em função do incremento de palma forrageira.
Percentuais mais elevados para este constituinte do leite foram observados por Cenkvári et
al. (2005), cujos valores médios variaram de 12,33 a 13,84%.
34
Tabela 2 – Valores médios das variáveis químicas do leite de cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Parâmetros Níveis de substituição (%) Regressão R2 CT CV (%)
0 % 25 % 50 % 75 % 100 % Lipídios (%) 3,84 3,84 3,74 3,46 2,97 Ŷ=4,21-0,212x 0,82 * 7,43 Proteína (%) 3,11 3,16 3,05 3,08 3,06 Ŷ=3,09 - ns 4,66 Lactose (%) 3,85 3,88 3,61 3,51 3,54 Ŷ=3,68 - ns 9,88 Acidez (%)1 0,15 0,15 0,15 0,15 0,14 Ŷ=0,15 - ns 4,92 Sólidos totais (%) 11,98 12,08 11,78 11,33 10,79 Ŷ=12,53-0,313x 0,86 * 3,22 Extrato seco desengordurado (%) 8,04 8,24 8,04 7,87 7,79 Ŷ=7,99 - ns 5,31 Densidade (g/cm3) 1031,4 1031,3 1031,6 1031,2 1030,7 Ŷ=1031,3 - ns 0,12 Cinzas (%) 0,81 0,74 0,81 0,74 0,78 Ŷ=0,77 - ns 11,01 Cálcio (mg/100g) 138,18 140,64 140,16 139,92 135,38 Ŷ=138,85 - ns 7,50
CT: contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma; *P<0,05; 1percentual de ácido láctico.
34
35
Os valores determinados para lactose do leite apresentaram-se reduzidos em todos
os tratamentos com valores abaixo do limite mínimo determinado pela legislação (Brasil,
2000). É possível que as dietas utilizadas possam ter reduzido a produção de propionato
que é um importante precursor da glicose e ter contribuído para reduzir a síntese de lactose
na glândula mamária, fato relatado por Silva et al. (2007) ao substituírem os carboidratos
não fibrosos por lipídios para cabras em lactação. A fermentação ruminal da pectina
incrementa a produção do ácido acético com redução da concentração de ácido propiônico
(Dusková & Marounek, 2001). Este fato é relevante, considerando que a substituição do
farelo de milho pela palma forrageira pode reduzir a produção de propionato no rúmen, e,
conseqüentemente, o teor de lactose no leite, no entanto, mais estudos são necessários para
confirmar estes resultados.
A lactose é um dos nutrientes mais estáveis na composição química do leite e está
diretamente relacionada à regulação da pressão osmótica, de modo que uma maior
produção de lactose determina maior produção de leite (Queiroga et al., 2007). Entretanto,
o teor de lactose pode ser influenciado pelos diferentes níveis de concentrado da dieta,
apresentando diferenças ao longo da lactação em animais com parição tardia (Goetsch et
al., 2001). No entanto, não houve variação (P>0,05) para o teor de lactose com a
substituição do concentrado energético.
Outro aspecto a ser considerado é que o limite mínimo para o teor de lactose (4,0%)
determinado pela legislação (Brasil, 2000) apresenta-se muito elevado, considerando que
vários pesquisadores avaliando a composição centesimal do leite de cabras encontraram
valores abaixo dos estabelecidos pela legislação vigente. Morand-Fehr, et al. (2007), por
exemplo, em revisão que avaliou os resultados de diferentes sistemas de alimentação e sua
influência na qualidade do leite de cabras observaram valores similares aos encontrados no
36
presente estudo, para lactose e gordura, com percentuais variando de 3,99 a 4,19% e de 2,9
a 3,34%, respectivamente.
Com relação à acidez do leite de cabra não foi observada variação (P>0,05) com a
substituição do farelo de milho por palma forrageira, com valor médio de 0,15 g / 100g de
ácido láctico. Os resultados apresentados para acidez corroboram com os apresentados por
Fonseca et al. (2006), cujos valores apresentaram-se dentro do limite estabelecido pela
legislação (Brasil, 2000).
A composição em ácidos graxos do leite de cabra em função dos níveis de
substituição do farelo de milho por palma forrageira está apresentada na Tabela 3. Vinte e
cinco ácidos graxos foram identificados e quantificados, sendo classificados em 13 ácidos
graxos saturados (AGS), 6 ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), 6 ácidos graxos
poliinsaturados (PUFA).
Foram identificados três ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), o ácido butírico
(C4:0) e o ácido capróico (C6:0), que não variaram (P>0,05) com a substituição do
concentrado energético, com valores médios de 0,33 e 1,46%, respectivamente, e o ácido
caprílico (C8:0) que aumentou de forma linear (P<0,05) variando de 2,25 a 2,48%. Estes
resultados são importantes, considerando que os AGCC exercem papel fundamental na
fisiologia normal do aparelho digestivo humano, principalmente no cólon, onde constituem
a principal fonte de energia para o enterócito, e estimulam a proliferação celular do eptélio,
o fluxo sanguíneo visceral e estimulam, também, a absorção de água e sódio (Campos et
al., 1999).
Os percentuais dos AGS de cadeia média aumentaram linearmente (P<0,05) com a
substituição do farelo de milho por palma forrageira, apresentando-se em maior
concentração o ácido cáprico (C10:0), o ácido láurico (C12:0) e o ácido mirístico (C14:0),
cujos valores médios variaram de 7,95 a 10,87, de 3,15 a 5,25, e de 8,56 a 11,16%,
37
respectivamente. Este incremento dos triglicerídios com 6 a 10 átomos de carbono
apresenta especial interesse do ponto de vista terapêutico por serem utilizados na dieta de
pacientes com problemas de absorção de nutrientes e insuficiência pancreática (Sanz
Sampelayo et al., 2007).
Outro aspecto relevante a ser considerado quanto ao perfil de ácidos graxos diz
respeito à sua influência nas características organolépticas do leite e de seus derivados
(Alonso et al., 1999; Chilliard e Lamberet, 2001), principalmente, com relação aos ácidos
graxos livres (AGL) de cadeia ramificada com menos de 11 carbonos que são encontrados,
predominantemente, no leite de cabra (Ha e Lindsay, 1993). Desta forma, o incremento de
ácidos graxos saturados, com menos de 11 carbonos na cadeia, podem acentuar o sabor e o
aroma em produtos derivados do leite de cabras alimentadas com palma forrageira.
Os percentuais encontrados para os ácidos graxos pentadecílico (C15:0), palmítico
(C16:0) e margárico (C17:0) aumentaram linearmente (P<0,05) com a substituição do
farelo de milho por palma forrageira, com percentuais variando de 0,61 a 1,49, de 22,66 a
31,93 e de 0,24 a0,77%, respectivamente. O ácido palmítico e o mirístico são considerados
hipercolesterolêmico (Baer et al., 1996), porém o aumento destes ácidos graxos foi,
provavelmente, decorrente da redução do extrato etéreo da dieta com a substituição do
farelo de milho (Tabela 1), considerando que a inclusão do óleo de milho na dieta pode
reduzir a concentração do ácido palmítico e mirístico, fato observado por Pavan et al.
(2001). A análise do contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma,
apresentou efeito significativo (P<0,05) confirmando que a substituição do concentrado
energético foi determinante para aumentar a concentração dos ácidos graxos saturados.
Comportamento inverso foi observado para o ácido esteárico (C18:0) reduzindo de
forma linear (P<0,05) com a substituição do farelo de milho por palma forrageira, cujos
valores variaram de 15,33 a 5,37%. A depressão dos percentuais do ácido esteárico no leite
38
pode ser explicada a partir da redução dos MUFA com a substituição do farelo de milho,
considerando que o ácido esteárico pode ser originado a partir da extensa hidrogenação,
pelos microrganismos do rúmen, dos ácidos graxos insaturados presentes na gordura
vegetal no processo de biohidrogenacão ruminal (Gulati et al., 1999; Maia et al., 2006),
fato, também, observado no leite de vacas com dietas a base de óleo de canola (De Peters
et al., 2001).
Entre os MUFA, destaca-se o ácido oléico (C18:1 Cis-9) que reduziu linearmente
(P<0,05) de 25,43 para 14,74%, cuja diminuição não é desejável em alimentos, porque,
juntamente com o ácido esteárico, são considerados hipocolesterolêmicos (Baer et al.,
1996). O óleo de milho, presente no farelo, pode incrementar os percentuais do ácido
oléico (Pavan et al., 2001). O resultado da análise de contraste ortogonal, testemunha
versus tratamentos com palma, demonstrou efeito significativo, confirmando que a
substituição do farelo de milho por palma forrageira na dieta das cabras pode ter sido
determinante na redução dos MUFA no leite.
39
Tabela 3. Composição de ácidos graxos (%) do leite de cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.
Ácido Graxo Níveis de Substituição (%) Regressão R2 CT CV (%) 0 25 50 75 100
C4:0 0,31 0,14 0,32 0,38 0,50 ŷ =0,33 - ns 78,05 C6:0 1,44 1,20 1,39 1,63 1,63 ŷ =1,46 - ns 21,36 C8:0 2,25 2,00 2,21 2,91 2,48 ŷ = 1,990+09x 0,54 ns 17,34 C10:0 7,95 7,14 8,34 11,15 10,87 ŷ = 6,14+0,98x 0,75 ns 17,45 C11:0 0,04 0,03 0,03 0,09 0,18 ŷ = -0,3+0,03x 0,70 * 74,95 C12:0 3,15 2,73 3,43 4,72 5,25 ŷ = 1,99+0,62x 0,83 * 20,96 C13:0 0,05 0,06 0,11 0,17 0,18 ŷ = 0,03+0,04x 0,94 * 34,75 C14:0 8,56 7,64 9,35 11,20 11,16 ŷ = 6,95+0,87x 0,77 * 10,23 C14:1 0,07 0,05 0,08 0,13 0,16 ŷ = 0,02+0,03x 0,82 * 38,10 C15:0 0,61 0,76 0,72 1,22 1,49 ŷ = 0,29+0,22x 0,87 * 25,97 C16:0 22,66 22,81 24,48 26,77 31,93 ŷ = 18,98+2,25x 0,86 * 9,62 C16:1 0,52 0,49 0,42 0,51 0,55 ŷ =0,50 - ns 36,09 C17:0 0,24 0,30 0,35 0,43 0,77 ŷ = 0,06+0,12x 0,81 * 48,14 C17:1 0,06 0,04 0,11 0,13 0,29 ŷ = -0,4+0,05x 0,78 * 68,28 C18:0 15,33 16,61 13,72 9,26 5,37 ŷ = 20,24-2,73x 0,86 * 12,03 C18:1 Trans-9 0,47 0,19 0,24 0,28 0,16 Ŷ=0,27 - ns 151,03 C18:1 Cis-9 25,43 26,35 22,92 17,91 14,74 ŷ = 30,41-2,98x 0,89 * 14,80 C18:2 Trans-6 0,07 0,13 0,08 0,10 0,07 ŷ =0,09 - ns 68,65 C18:2 (n-6) 2,03 2,39 2,34 2,22 2,13 ŷ =2,22 - ns 13,72 C18:3 (n-3) 0,49 0,12 0,53 0,41 0,14 ŷ =0,34 - ns 86,65 C18:3 (n-6) 0,08 0,13 0,19 0,21 0,32 ŷ = 0,02+0,05x 0,95 * 54,16 C20:0 0,56 0,09 0,06 0,09 0,00 ŷ =0,19 - ns 199,61 C20:1 (n-6) 0,09 0,53 0,10 0,09 0,16 ŷ=0,19 - ns 134,04 C20:3 (n-3) 0,06 0,06 0,11 0,11 0,15 ŷ = 0,10 - ns 58,42 C20:3 (n-6) 0,01 0,02 0,04 0,03 0,04 ŷ = 0,03 - ns 77,13 Total AGS 62,80 61,58 64,59 70,10 71,93 ŷ = 58,17+2,68x 0,86 * 4,58 Total MUFA 26,73 27,70 23,92 19,09 16,11 ŷ = 31,66-2,98x 0,90 * 14,62 Total PUFA 2,77 2,89 3,29 3,09 2,95 ŷ =2,30 - ns 17,34 n-6 2,21 3,07 2,67 2,55 2,65 ŷ =0,41 - ns 18,32 n-3 0,55 0,18 0,64 0,52 0,29 ŷ =0,44 - ns 22,36 PUFA/AGS 0,04 0,05 0,05 0,04 0,04 ŷ =0,04 - ns 19,15 AGI/AGS 0,47 0,51 0,42 0,31 0,26 ŷ = 0,58-0,06x 0,86 * 20,08 AGD 44,80 47,22 40,93 31,44 24,44 ŷ = 54,72-5,65x 0,87 * 11,68 AGS: ácidos graxos saturados, MUFA: ácidos graxos monoinsaturados, PUFA: ácidos graxos poliinsaturados, CT: contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma, M/S: relação monoinsaturados / saturados, P/S: relação insaturados / saturados, I/S: relação insaturados / saturados, AGD: ácidos graxos desejáveis (insaturados + C18:0), * P<0,05.
39
40
A concentração do ácido linoléico (C18:2) não variou (P>0,05) com a substituição
do milho por palma forrageira. Os valores médios encontrados no leite foram de 0,09 e de
2,22% para o ácido C18:2 Trans-6 e C18:2 (n-6), respectivamente. Já os percentuais
médios determinados para o ácido linolênico (C18:3 n-6) aumentaram linearmente
(P<0,05), sob efeito da substituição do farelo de milho por palma forrageira, com variação
de 0,08 para 0,32%. Estes resultados são relevantes considerando que os ácidos linoléico e
linolênico são importantes para a nutrição humana por apresentarem efeitos
cardioprotetores evitando formação de ateromas (Bernard et al., 2005).
A concentração total dos AGS no leite de cabra aumentou linearmente (P<0,05)
com a substituição do farelo de milho por palma forrageira, variando de 62,80 a 71,93%. Já
os MUFA sofreram redução linear (P<0,05), com valores variando de 26,73 a 16,11%.
Porém a concentração total de PUFA no leite de cabra não variou (P>0,05) com a
substituição, apresentando valor médio de 2,30%. O incremento dos níveis de AGS afetou
a relação AGI / AGS que sofreu redução linear (P<0,05), variando de 0,47 para 0,26%,
alterando, por conseqüência, a concentração dos AGD que reduziu linearmente (P<0,05),
de 44,80 para 24,44%. O farelo de milho, utilizado na presente pesquisa, é um subproduto
da fabricação do corn flakes e apresentou elevado extrato etéreo (14%). O óleo de milho,
presente no farelo de milho, é rico em ácidos graxos insaturados (Pavan et al., 2001), e foi
determinante para a modificação do perfil de ácidos graxos do leite de cabras alimentadas
com palma forrageira em substituição ao farelo de milho. Estes resultados corroboram com
os encontrados por Shingfield et al. (2003), que verificaram uma extensa modificação da
composição de ácidos graxos no leite de vacas com a inclusão do óleo de peixe na dieta
dos animais.
Os processos metabólicos de biohidrogenacão ruminal, ocasionados por variações
na qualidade do alimento ingerido podem ter contribuído para as modificações observadas
41
no perfil dos ácidos graxos determinados nesta pesquisa, fato observado por Morand Fehr
et al. (2007), ao estudarem o efeito do manejo alimentar sobre a qualidade do leite de
ruminantes. Desta forma, observa-se a necessidade de mais pesquisas relacionadas com
avaliação do metabolismo ruminal em cabras alimentadas com palma forrageira e sua
influência na qualidade do leite e derivados.
CONCLUSÕES
A substituição do farelo de milho por palma forrageira reduz o extrato etéreo da
dieta com influencia na qualidade físico-química do leite de cabras, provocando uma leve
depressão no teor de lipídios, de sólidos totais, de ácidos graxos monoinsaturados e a
concentração de ácidos graxos desejáveis, evidenciando a concentração dos ácidos graxos
saturados a partir da menor ingestão de ácidos graxos insaturados pelos animais. Sugere-se
a utilização da palma forrageira com inclusão de uma fonte de gordura vegetal, disponível
na região, para alimentação de cabras alpinas em lactação.
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45
CAPÍTULO III
____________________________________________________________________
CARACTERIZAÇÃO SENSORIAL E DE COMPOSTOS VOLÁTEIS DO LEITE DE
CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica L.
Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE MILHO
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CARACTERIZAÇÃO SENSORIAL E DE COMPOSTOS VOLÁTEIS DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica
L. Miller) EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE MILHO.
RESUMO
O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a característica sensorial e
os compostos voláteis presentes no leite de cabras alpinas alimentadas com palma
forrageira em substituição ao farelo de milho, em cinco níveis de substituição (0, 25, 50, 75
e 100%). Foram utilizadas 10 cabras distribuídas em dois quadrados latinos (5x5), sendo
cinco períodos de 15 dias e cinco tratamentos. A avaliação sensorial do leite foi em análise
descritiva quantitativa (ADQ) e teste de aceitação. Os voláteis foram extraídos através da
técnica de DES (Destilação e Extração Simultânea), analisados e identificados por
cromatografia gasosa e espectrometria de massa (GC-EM). Observou-se um aumento
linear (P<0,05) para o para o sabor rançoso e redução linear (P<0,05) para o sabor de leite
caprino com o incremento da palma forrageira em substituição ao farelo de milho, porém
os escores atribuídos foram de muito fraco a moderadamente fraco, para sabor rançoso, e
de gostei levemente a indiferente, para sabor de leite caprino. Foram identificados 146
compostos voláteis, dentre estes foram 36 hidrocarbonetos, 30 ésteres, 18 alcoóis, 14
ácidos carboxílicos, 13 compostos aromáticos, 10 aldeídos, 9 cetonas, foram encontrados e
considerados como mais representativos. A inclusão da palma forrageira em substituição
ao farelo de milho modifica a qualidade sensorial do leite de cabra com leve variação do
sabor rançoso, sem afetar o perfil de compostos voláteis.
Palavras-chave: aceitação do leite, caprinos, flavor, qualidade do leite
47
SENSORY AND VOLATILE COMPOUNDS CHARACTERIZATION OF MILK
FROM GOATS FED WITH CACTUS PEAR (Opuntia ficus-indica L. Miller) IN
SUBSTITUTION TO CORN MEAL.
ABSTRACT
This experiment was carried out to evaluate the sensory and volatile compounds
characteristics of milk from goats fed with cactus pear in substitution to corn meal, with
five substitution levels (0, 25, 50, 75 and 100%). Ten goats distributed in two Latin
squares (5x5), with five trial periods and five treatments were used. The sensory
evaluation of milk was performed in quantitative descriptive analysis (QDA) and
acceptance test. Volatiles were extracted through the DSE technique (Distillation and
Simultaneous Extraction), analyzed and identified through gas chromatography and
mass spectrometry (GC-MS). There was a linear increase (P <0.05) for rancid taste and
linear reduction (P <0.05) for flavor with the increment of cactus pear in substitution to
corn meal; however, the scores ranged from very weak to moderately weak, for rancid
taste, and from liked slightly to indifferent, for flavor. One hundred and forty-six
volatile compounds were identified, among them, 36 hydrocarbons, 30 esters, 18
alcohols, 14 carboxylic acids, 13 aromatics compounds, 10 aldehydes, 9 ketones, were
found, which were considered as more representative. The cactus pear inclusion in corn
meal replacement modifies the sensorial quality of goat milk with light variation of the
rancidity, without it affect the volatile compounds profile.
Key words: milk acceptance, goats, flavor, milk quality
48
INTRODUÇÃO
A cadeia produtiva do leite de cabra tem importância social e econômica em
diversos países do mundo e, também, apresenta-se como principal fonte protéica para as
populações nas regiões áridas e semi-áridas.
Na região semi-árida do Brasil esta atividade encontra-se em evidência onde
diversas empresas comercializam o leite de cabra obtendo rentabilidade superior à
produção de leite de outras espécies. Porém, a principal dificuldade desta atividade
econômica está relacionada com a produção de alimentos para suprir os rebanhos nos
períodos de estiagem, onde a utilização de forrageiras, adaptadas e resistentes à semi-
aridez, pode suprir às necessidades alimentares e reduzir os custos com alimentação.
Espécies como a palma forrageira (Opuntia ficus-indica L. Miller) são representativas e
importantíssimas para o produtor rural destes ambientes com características agro-
climáticas particulares (Ben Salem et al., 2004).
A palma forrageira é uma cactácea com composição química rica em nutrientes
digestíveis totais, apresenta altos níveis de carboidratos não fibrosos, bem como elevados
teores de cinzas na matéria seca. Ela pode suprir as necessidades energéticas dos animais,
reduzindo os custos de alimentação, considerando seu baixo custo de produção e elevada
quantidade de matéria seca produzida por hectare (Tegegne et al., 2007).
O leite de cabra, majoritariamente, é comercializado na forma de leite pasteurizado
e apresenta variação no aspecto sensorial. Chavarri et al. (1999) ressaltam a grande
variação nas características organolépticas quando no verão o leite apresenta alto escore
sensorial comparado ao leite produzido no inverno, e estas características estão
intimamente relacionadas com sua composição de ácidos graxos.
49
A adequação nutricional do rebanho é imprescindível para a manutenção do status
energético, e evitar a mobilização de reservas corporais que pode afetar a qualidade
sensorial do leite com formação de off-flavours.
A gordura do leite é um nutriente importante que contribui significativamente com
a formação do flavour do leite caprino, especialmente pela relação lipídios/lipólise. A
atividade das enzimas lípases resulta na liberação de ácidos graxos de cadeia curta
especialmente os ácidos capróico, caprílico e cáprico, e ácidos graxos ramificados, 4-
metiloctanóico e 4-etiloctanóico, estes últimos importantes compostos responsáveis pelo
flavour característico do leite caprino (Delacroix-Buchet e Lamberet, 2000; Ha e Lindsay,
1993). Neste sentido, a dieta oferecida aos caprinos pode modificar a composição química
e as propriedades sensoriais do leite, estando intimamente relacionadas com a composição
dos compostos voláteis, enzimas e substâncias presentes nas forragens com propriedades
odoríferas (Urbach, 1989; Coulon e Priolo, 2002).
A importância do conhecimento das características sensoriais do leite, avaliando a
relação com a alimentação dos animais, têm sido foco de pesquisas pela comunidade
científica (Sauvant e Morand-Fehr, 2000; Fernandez-Garcia et al., 2004; Eknaes e Skeie,
2006) e ressaltam a necessidade de mais informações sobre a influência do sistema
alimentar na composição do leite, dos derivados e na qualidade sensorial. Portanto, o
objetivo da presente pesquisa foi avaliar as características sensoriais e o perfil dos
compostos voláteis do leite de cabras alpinas alimentadas com palma forrageira em
substituição ao farelo de milho.
50
MATERIAL E MÉTODOS
Delineamento experimental, animais e dietas
Foram utilizadas 10 cabras alpinas multíparas com 45 ± 6 kg e 30 ± 5 dias de
lactação, selecionadas segundo os critérios de número de parições (2a e 3a cria) com mesma
época de parição, e alocadas em dois quadrados latinos, cinco períodos e cinco tratamentos
(5 x 5). O experimento teve duração total de 75 dias os quais foram divididos em cinco
períodos de 15 dias, sendo os primeiros 12 dias de cada período experimental para
adaptação dos animais às dietas e os três últimos dias para coleta das amostras.
Os animais foram mantidos em sistema intensivo, alocados em gaiolas individuais,
com área útil de 1,26 m2, equipadas com comedouros e bebedouros, com pisos
confeccionados em grade de madeira ripada. As cabras receberam dietas formuladas
segundo o NRC (1981), para atender exigências nutricionais de cabras em lactação com
produção diária de 1,5 Kg / dia, com 4% de gordura (Tabela 1).
Antes da ordenha os animais receberam os seguintes cuidados higiênicos: a)
lavagem das tetas com água corrente e posterior secagem com papel toalha; b) eliminação
dos primeiros jatos de leite em caneca telada para confirmar a ausência de mastite clínica;
c) após as ordenhas as tetas dos animais foram desinfectadas com solução comercial à base
de iodo.
Em todas as coletas, os utensílios foram previamente lavados com água e
detergente neutro, e secos à temperatura ambiente. As ordenhas foram realizadas às 6:00 e
às 14:00 h, manualmente. Foram obtidas alíquotas de leite pela manhã e à tarde para cada
animal, constituindo amostras compostas proporcionais à produção de leite para cada turno
de ordenha, que foram acondicionadas em garrafas de polietileno de 200 mL e mantidas
sob congelamento (-18 ºC) para posteriores análises.
51
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (% na MS) em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Ingredientes Níveis de substituição (%) 0 25 50 75 100
Feno Tifton 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 Farelo de Milho1 28,0 21,0 14,0 7,0 0 Palma forrageira 0 6,9 13,8 20,7 27,6 Soja 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 Trigo 9,0 9,0 9,0 9,0 9,0 Suplemento Mineral 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Calcário 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Uréia 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Composição Química (%) MS 94,94 56,97 40,33 31,30 25,61 PB 12,66 12,58 12,49 12,42 12,34 FDN 59,50 58,09 56,68 55,27 53,86 FDA 27,31 27,91 28,52 29,19 29,72 EE 5,22 4,36 3,49 2,62 1,75 CT 71,30 72,30 73,31 74,31 75,32 CNF 16,70 19,11 21,53 23,95 26,36 MS: matéria seca; PB: proteína bruta; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; EE: extrato etéreo; CT: carboidratos totais; CNF: carboidratos não fibrosos; 1 Subproduto da fabricação de flocos de milho.
Analise Sensorial
Para análise sensorial foram coletadas 50 amostras (5 tratamentos x 5 períodos x 2
quadrados latinos). Deste total, foram obtidas amostras compostas (1 litro) para os cinco
tratamentos. As amostras foram pasteurizadas, a 65 ºC por 30 minutos, e acondicionadas
em recipientes de vidro tipo âmbar estéreis, para realização das análises sensoriais no
Laboratório de Bromatologia do Departamento de Nutrição pertencente ao Campus I da
Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa - PB.
As análises sensoriais foram conduzidas de acordo com metodologia descrita por
Stone e Sidel (1993), em cabines individuais, em horários previamente estabelecidos,
considerando-se 2 horas após a última refeição dos provadores.
O painel sensorial foi formado por 12 provadores treinados, de ambos os sexos,
com idade entre 20 e 45 anos, para realização da análise descritiva quantitativa (ADQ) para
os atributos de odor característico, sabor característico, sabor frutado e sabor rançoso,
52
conforme metodologia descrita por Faria e Yotsuyanagi (2002), utilizando-se escala de
intensidade de nove pontos, variando de extremamente fraco a extremamente forte (Figura
1). Também foi realizado o teste de aceitação com 36 provadores, avaliando-se os atributos
sabor e odor com escala de nove pontos, variando de um (desgostei muitíssimo) a nove
(gostei muitíssimo) (Figura 2). Cada julgador recebeu as amostras de leite em copos de
polietileno (50 mL) a 7 ºC, codificadas com três dígitos correspondentes a cada tratamento
experimental, de acordo com metodologia de Ferreira et al. (2000). Foram servidos
juntamente com as amostras de leite, biscoitos tipo cream-craker para limpar o palato, e
água mineral para lavar a boca entre as análises de cada amostra, juntamente com
questionário próprio.
Extração e Identificação dos Compostos Voláteis
Os compostos voláteis presentes nas 25 amostras obtidas (5 tratamentos x 5
períodos experimentais) de leite caprino foram extraídos pelo método de Destilação e
Extração Simultânea (DES).
A extração foi realizada utilizando o aparelho de Likens e Nickerson (1964)
montado conforme a Figura 3. O balão contendo a amostra [(200 mL de leite + 100 mL de
água destilada + 1 µL da solução padrão - 1,2 dicloro benzeno (0,1 g/100 mL)] conectado
ao braço A, foi aquecido por uma manta aquecedora mantida a 55 ºC. O balão contendo o
solvente (20 mL de pentano/éter – 2/1), em banho de água, foi conectado ao braço B, cuja
temperatura foi mantida em 35 ºC.
55
Durante o aquecimento do leite, houve a liberação de compostos voláteis que
percolaram através do braço A, em direção ao condensador. Já o solvente, em temperatura
de ebulição, evaporou e percolou através do braço B, também em direção ao condensador.
Uma vez condensado, os voláteis da amostra e o solvente foram armazenados na parte
inferior em forma de U do extrator.
Figura 3 - Aparelho de Destilação e Extração Simultânea de Likens & Nickerson (1964).
A extração teve seu início quando a temperatura da amostra contida no braço A
atingiu a temperatura de 55 ºC, permanecendo o processo de extração por 120 minutos. Em
seguida, aguardou-se o resfriamento da amostra contida no balão coletor com o solvente
por 10 minutos, em água gelada. Os balões contendo os extratos foram armazenados em
freezer (-2 ºC) por uma noite para congelamento e separação da água presente no extrato.
Posteriormente, os extratos foram transferidos para um frasco (10 mL) e concentrados até
0,5 mL, sob arraste de gás nitrogênio. Os extratos colocados em recipientes de vidro âmbar
56
foram lacrados com parafilm, rotulados e acondicionados em freezer, por 30 dias a -18 ºC,
até a realização da análise cromatográfica em GC-MS.
Os extratos do leite foram analisados em cromatógrafo à gás SHIMADZU, modelo
CG 17A, acoplado com espectrômetro de massa modelo QP5050A. Um injetor tipo
“splitless” mantido a 200 ºC foi utilizado para introduzir-se 1 µL do extrato do leite
caprino em uma coluna capilar fundida DB-5, com 30 m x 0,25 mm (d.i) x 0,25 µm de
filme da fase líquida (J & W Scientific Inc.), tipo apolar, cujas condições analíticas foram
similares às descritas por Queiroga et al. (2005). A temperatura inicial da coluna foi de 30
ºC, após 5 min da injeção da amostra a temperatura da coluna foi aumentada para 80 ºC a
uma razão de 5 ºC/min, sendo mantida nesta temperatura por 5 min. Em seguida, a
temperatura da coluna foi aumentada para 110 ºC a uma taxa de 5 ºC/min e mantida nesta
temperatura por 30 min. Finalmente, a temperatura da coluna foi elevada, a uma taxa de 5
ºC/min., para 220 ºC, que permaneceu nesta temperatura por 10 min. O tempo total de
corrida para cada amostra foi de 88 minutos. Solução padrão de n-alcanos homólogos (C6 –
C26) foi analisada, antes das análises dos extratos do leite, objetivando-se verificar as
condições analíticas do equipamento, juntamente com o cálculo posterior do Índice de
Retenção Linear (IRL) dos voláteis sendo este índice utilizado na identificação dos
compostos voláteis.
Entretanto, algumas vezes, o espectro de massas de uma substância desconhecida é
insuficiente para determinar sua identidade, devido à existência de numerosos compostos
que apresentam espectros de massas com alto grau de similaridade. Índices de retenção têm
sido usados como técnicas auxiliares de identificação, sendo o mais empregado o Índice de
Retenção Linear (Madruga, 1994), que descreve o comportamento de retenção de um
composto comparativamente ao de uma mistura de alcanos de diferentes números de
carbono, representado pela seguinte equação:
57
TRc – TRal
IRL = + n x 100
TRal+1 - TRal
onde:
IRL: Índice de retenção linear;
TRc: Tempo de retenção do composto;
TRal: Tempo de retenção do n-alcano antes do pico;
TRal+1: Tempo de retenção do n-alcano depois do pico;
n: Número de carbonos do n-alcano antes do pico.
Na identificação dos compostos voláteis utilizou-se, além do IRL, o banco de
espectros da própria livraria do CG-EM (Wiley & Sons, Inc., Germany), comparando-se os
espectros dos voláteis dos extratos do leite caprino com os espectros de referência. A
quantificação dos voláteis foi obtida através da integração dos espectros de massa dos
voláteis identificados.
Análise estatística
O delineamento utilizado foi em quadrado latino (5 x 5). Os dados foram
compilados em planilhas eletrônicas e submetidos a análise de variância (ANOVA)
utilizando-se o programa estatístico SAS (1996), versão 6.2. Foi realizada análise de
regressão e de contraste ortogonal (testemunha versus tratamentos com palma) para o nível
de 5% de probabilidade. Para a análise sensorial foi realizada, também, análise dos
componentes principais.
58
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os escores médios referentes ao sabor característico, odor característico, sabor
frutado e sabor rançoso, obtidos na análise descritiva quantitativa (ADQ), do leite de cabra
em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira, estão
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Escores médios atribuídos para a Análise Descritiva Quantitativa do leite de cabras em função dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
Atributo Níveis de substituição (%) Regressão/R2 CT CV (%) 0 25 50 75 100
Sabor Característico 4,77 4,94 4,91 5,06 5,01 Ŷ=4,93 ns 27,34 Frutado 3,99 3,80 3,97 3,72 3,59 Ŷ=3,81 ns 35,09 Rançoso 2,44 2,54 2,57 2,80 2,97 Ŷ=2,25+0,13x/0,82 * 47,78 Odor Característico 4,18 4,30 4,34 4,51 4,42 Ŷ=4,35 ns 26,89
CT Contraste ortogonal (testemunha versus tratamentos sem palma); ns não significativo (P>0,05); *Significativo (P<0,05).
Não foi observada variação (P>0,05), na análise descritiva quantitativa, para sabor
frutado, odor característico e sabor característico, com valores médios de 3,81, 4,38 e 4,93,
respectivamente. Porém, observou-se aumento linear (ŷ=2,25+0,13x, R2=0,82) para o
sabor rançoso do leite de cabra com a substituição do farelo de milho por palma forrageira,
cujos escores variaram de 2,44 para 2,97, que representam percepção sensorial de muito
fraco a moderadamente fraco. A formação de sabor rançoso é proveniente da oxidação ou
da hidrólise de ácidos graxos, porém, a reação hidrolítica dos triglicerídos origina,
particularmente, ácidos graxos de baixo peso molecular (ácido butírico, capróico,
caprílico) com formação de odor e sabor desagradáveis (Zan et al., 2006).
O incremento do sabor rançoso pode ser explicado pela presença em maior
percentual de ácidos graxos saturados de cadeia curta, nos tratamentos com maior
incremento de palma forrageira (resultados apresentados no Capítulo II, Tabela 3), que
59
apresentam influência nas características organolépticas do leite e de seus derivados
(Alonso et al., 1999; Chilliard et al., 2003). Os ácidos graxos livres (AGL) de cadeia
ramificada com menos de 11 carbonos, que são encontrados, predominantemente, no leite
de cabra, podem influenciar os parâmetros sensoriais deste leite (Ha e Lindsay, 1993).
Os resultados obtidos no teste de aceitação (Figura 4) demonstraram variação
(P<0,05) com redução linear (ŷ=6,23-0,011x, R2=0,76) para o sabor com a substituição do
farelo de milho por palma forrageira, cujos escores representam de gostei levemente a
indiferente, indicando que a variação matemática para este atributo sensorial não se
apresenta relevante do ponto de vista sensorial. Este decréscimo do sabor pode ser
explicado pela redução do teor de lipídios do leite de cabra (resultados apresentados no
Capítulo II, Tabela 2), de 3,84 para 2,97%, considerando que a variação no perfil lipídico
do leite afeta diretamente suas características sensoriais e, que os lipídios são os
componentes mais importantes do leite em termos de custo, nutrição e características
físicas (Coulon e Priolo, 2002; Park et al., 2007). No entanto, o odor não sofreu variação
(P>0,05) com a inclusão da palma forrageira na dieta das cabras, cujo valor médio foi de
5,89, apresentando coerência com os resultados da ADQ.
Na análise dos componentes principais (Tabela 3) estão expressos os valores para
os dois primeiros componentes principais, correspondendo a 65 % da variação total
explicada entre as amostras.
60
6
6,05 6,06
5,3
5,01
5,85
6,04 6,08
5,62 5,85
y = -0,0109x + 6,23
R² = 0,7629
4,5
4,7
4,9
5,1
5,3
5,5
5,7
5,9
6,1
6,3
6,5
0 25 50 75 100
Sabor
Odor
Figura 4. Valores médios atribuídos para o teste de aceitação do leite de cabras em função
dos níveis de substituição do farelo de milho por palma forrageira.
O CP1 explica 42% da variação total e teve contribuição dos atributos sabor, sabor
característico, sabor frutado e odor. Já o CP2, explica 23% da variação total agrupando
dois caracteres sensoriais que são sabor rançoso e odor característico e em sentido
contrário o sabor, sabor característico e sabor frutado.
Tabela 3. Análise dos componentes principais (CP) dos atributos sensoriais do leite de cabras alimentadas com palma em substituição ao farelo de milho.
Atributos Sensoriais Componentes Principais Total CP1 CP2
Sabor 0,44 -0,38 Sabor Característico 0,48 -0,12 Sabor Frutado 0,43 -0,42 Sabor Rançoso 0,34 0,57 Odor 0,42 0,19 Odor Característico 0,27 0,52 Variação Total Explicada (%) 42 23 65
Ao avaliar a matriz de correlação, observou-se haver correlação positiva entre o
sabor rançoso e o odor característico, demonstrando haver associação pelos provadores
entre o odor característico do leite de cabra com características sensoriais relacionadas com
Níveis de Substituição (%)
Esc
ores
61
a hidrólise dos ácidos graxos e com a formação de sabor de ranço. Segundo Chandan et al.
(1992) e Attaie & Richter (2000) o tamanho dos glóbulos de gordura e a fragilidade da
membrana do leite de cabra favorecem maior vulnerabilidade à lipólise, que pode estar
associada ao desenvolvimento do sabor acentuado resultante de ácidos graxos voláteis.
Neste sentido, Jaubert et al. (1997) observaram estreita relação entre os lipídeos/lipólise e o
sabor acentuado do leite caprino.
O perfil dos voláteis do leite de cabras alimentadas com palma forrageira está
apresentado na Tabela 4. Foram identificados 146 compostos voláteis, classificados como:
36 hidrocarbonetos, 30 ésteres, 18 alcoóis, 14 ácidos carboxílicos, 13 compostos
aromáticos, 10 aldeídos, 9 cetonas, 6 compostos terpenóides, 5 compostos sulfurados, 3
lactonas, 1 éter e 1 amida.
Do total de compostos voláteis identificados no leite de cabra, 42% foram
reportados pela primeira vez, que são: 14 hidrocarbonetos saturados, 8 hidrocarbonetos
insaturados, 5 alcanos cíclicos, 6 compostos aromáticos, 7 ésteres, 8 alcoóis, 2 ácidos
carboxílicos saturados, 1 ácido carboxílico insaturado, 3 aldeídos insaturados, 3 cetonas e 5
sulfurados. No entanto, Queiroga et al. (2005) já haviam identificados 7 hidrocarbonetos, 2
alcanos cíclicos, 2 terpenóides, 7 aromáticos, 22 ésteres, 11 alcoóis, 11 ácidos carboxílicos,
7 aldeídos, 1 amida, 5 cetonas e 3 lactonas, totalizando 52% do total de compostos voláteis
identificados na presente pesquisa. Já no leite de ovelhas, Fernádez-Garcia et al. (2004)
identificaram 14 compostos voláteis, que foram 2 cetonas, 1 aldeído, 3 alcoóis, 4 ésteres, 2
aromáticos, 1 terpenóide e 1 hidrocarboneto.
Alguns compostos voláteis encontrados no leite de cabra, que foram: 1 terpenóide,
1 aromático, 1 éster, 2 alcoóis, 1 ácido carboxílicos, 2 aldeídos, 2 cetonas e 2 lactonas,
foram previamente reportados por Vazquez-Landaverde et al. (2005), Bendall (2001) e
Weidong, et al (1997) ao pesquisarem o leite de origem bovina.
62
Dentre os compostos identificados destacam-se os alcoóis 2-pentanol (8,84%), 2-
metil propanol (1,51%), o 2-metil butanol (1,33%) e o 1-octadecanol (2,08%), os aldeídos
pentadecanal (2,06%) e heptadecanal (3,41%), os ésteres tetradecanoato de metila (2,44%),
tetradecanoato de butila (1,41%) e hexadecanoato de butila (1,18%), e os hidrocarbonetos
5-metil 1-hexeno (7,10%) e o 2,3-dimetil pentano (9,26%), que apresentaram área superior
a 1%.
O leite de cabra, mesmo com sua importância nutricional tem sido pouco estudado
quanto a compostos voláteis e, principalmente, no tocante a influência da dieta dos animais
sobre as características de sabor e aroma deste produto e dos derivados. Observou-se pouca
influência da substituição do farelo de milho por palma forrageira no perfil dos compostos
voláteis, dentre os 146 voláteis identificados, apenas 8% variaram em função do
tratamento. Um grande percentual dos compostos voláteis identificados nesta pesquisa
(92%) não apresentaram variação (P>0,05) com a substituição do concentrado energético
na ração das cabras. No entanto, Fedele et al. (2005) observaram variação do compostos
voláteis no leite de cabras mantidas a pasto e observaram que no inverno os alcoóis, as
cetonas e os terpenos são predominantes, mas, na primavera há redução dos alcoóis e
incremento das cetonas. Os compostos voláteis ocorrem em maiores quantidades no leite e
derivados quando os animais são alimentados com forragem fresca, especialmente,
composta de dicotiledôneas (Mariaca et al. 1997; Cornu et al., 2001).
63
Tabela 4. Compostos voláteis identificados em leite de cabras alimentadas com palma forrageira em substituição ao farelo de milho.
IdentificaçãoA, B, C, D, E, F
IRL Am
IRL Ref.
Níveis de substituição (%) EP CT 0 25 50 75 100
Hidrocarbonetos (36) Hidrocarbonetos saturados (20) 2,3-Dimethyl pentano 622 6222 12,65 7,26 5,94 8,07 12,41 3,43 ns 3-Metil hexanoD 666 6662 27,37 17,49 13,31 14,71 6,5 5,54 *(1) 1,1-Dietoxi etano 716 0,50 0,55 0,60 1,83 0,86 0,77 ns Butano 725 7254 0,05 0,03 0,14 nd nd 0,08 ns 2,5-Dimetil hexano 730 7274 0,01 nd 0,03 0,17 0,03 0,03 ns 2,4-Dimetil hexano 737 7364 nd 0,41 0,27 0,44 0,16 0,22 ns 3-Metil heptano 750 7704 0,56 0,41 0,56 0,43 0,60 0,29 ns 4-Metil heptano 768 7684 0,04 nd 0,01 nd 0,006 0,03 ns 1,1-Dietoxi propano 800 nd 0,02 0,05 0,01 0,01 0,02 ns OctanoD,E 804 8002 0,05 0,05 0,13 0,05 0,05 0,05 ns 4-Metil octano 847 0,13 0,18 0,13 0,05 0,02 0,08 *(2) 4,5-Dimetil octano 923 nd nd nd 0,03 0,05 0,02 ns 2,2,5,5-Tetrametil hexano 928 9314 0,02 nd nd 0,03 0,01 0,04 ns Dimetil octano 944 0,10 0,09 0,07 0,07 0,13 0,04 ns Dodecano 984 9814 0,11 0,07 0,07 0,09 0,19 0,09 ns 2,6,7-Trimetil decanoD 1029 10292 0,01 nd nd 0,09 0,11 0,03 ns HeptadecanoD 1692 16922 nd 0,59 0,73 0,37 0,04 0,43 ns 7-Hexil eicosano 1712 nd 0,03 nd nd nd 0,02 ns NonadecanoD 1898 18982 5,44 0,03 0,35 0,07 0,35 1,64 *(3) HeneicosanoD 2106 21061 nd 6,69 7,95 2,19 nd 2,62 *(4) Hidrocarbonetos Insaturados (9) 5-Metil 1-hexeno 617 7,24 6,83 8,05 6,09 7,30 3,30 ns 1-Noneno 899 nd 0,01 nd nd 0,03 0,01 ns 3-Deceno 926 nd nd nd 0,01 0,02 0,01 ns 2,4-Dimetil 1-deceno 949 9554 0,06 0,04 0,03 0,05 0,10 0,06 ns 3,4-Dimetil 1deceno 950 0,14 0,13 0,09 0,14 0,27 0,04 ns 2-Metil 6-metileno-2,7-octadieno
971 nd 0,12 0,01 nd 0,03 0,09 ns
1-Deceno 1014 nd 0,06 0,03 0,11 0,16 0,05 ns 1-Heptadeceno 1690 0,01 nd 0,12 0,04 0,12 0,08 ns 5-OctadecenoD 1863 nd 0,06 0,13 0,13 nd 0,11 ns Hidrocarbonetos: Alcanos cíclicos (7) Ciclopentano butil 642 6422 0,03 nd 0,68 0,27 0,35 0,39 ns CiclohexanoD 647 6512 2,43 1,69 1,53 nd nd 0,43 ns Ciclopentano etil 724 7254 nd 0,08 0,24 0,12 0,12 0,16 ns Ciclohexano etil 831 8312 0,11 0,05 0,09 0,14 0,14 0,05 ns Ciclohexano propil 939 9392 0,02 0,07 0,01 0,04 0,10 0,04 ns Ciclohexano butil 942 9414 0,29 0,29 0,19 0,29 0,46 0,12 ns CiclotetracosanoD 2273 22712 0,33 4,81 0,62 0,26 0,16 3,31 ns Terpenóides (6) α-PinenoC, D, E, F 933 9393 0,04 0,05 0,12 0,05 0,12 0,06 ns LimonenoC, E, F 1031 10313 0,07 0,06 0,03 0,02 0,11 0,04 ns
64
IdentificaçãoA, B, C, D, E, F IRL Am.
IRL Ref.
0 25 50 75 100 EP CT
α-TerpinenoD, F 1016 1016 2, 3 nd 0,03 0,03 0,06 0,07 11,00 ns
γ-CadinenoD, F 1543 15133 nd nd 0,01 0,01 nd 0,01 ns GermacreneF 1583 14793 0,55 0,33 0,18 0,07 0,29 0,23 ns IsophytolD 1945 19442 nd 0,11 0,06 0,02 0,01 0,03 ns Aromáticos (13) ToluenoD, E 760 7602 0,01 nd 0,07 nd nd 0,05 ns EtilbenzenoD 857 8572 0,10 nd 0,07 0,23 0,06 0,16 ns 1, 4-DimetilbenzenoD 866 8662 0,08 0,09 0,13 0,10 0,17 0,07 ns Etenil benzene 873 8932 0,11 0,24 0,11 0,10 0,16 0,08 ns 1-Metiletil-benzeno 918 9172 nd nd nd 0,07 0,11 0,02 ns Isopropil benzenoD 920 9202 nd 0,04 0,03 0,04 nd 0,02 ns m-Etil toluenoD 956 9562 0,04 0,003 0,01 nd nd 0,01 ns 1-Metil 4-etil benzeno 958 9552 nd nd 0,02 0,04 0,07 0,02 ns p-Etil toluenoD 963 9632 0,05 0,08 0,04 0,10 0,12 0,04 ns 1-Metil 2-etil benzeno 974 9714 0,27 0,30 0,16 0,25 0,43 0,13 ns Fenol D,E 979 9792 0,11 0,22 0,21 0,10 0,16 0,09 ns 2-Metil naftaleno 1274 12742 0,15 0,36 0,33 0,18 0,53 0,23 ns 1-Metil naftaleno 1294 12942 nd 0,09 0,13 nd 0,14 0,08 ns Ésteres (30) Butanoato de etila D, E 785 7852 0,03 nd 0,09 0,06 0,01 0,06 ns Acetato de butilaD, E 816 8162 6,09 0,63 0,50 0,52 0,03 2,00 *(5) Butirato de isopropilaD 827 8272 0,03 nd 0,04 0,04 nd 0,04 ns Isobutirato de isopropilaD 863 8632 0,01 0,01 nd 0,02 nd 0,01 ns Hexanoato de metila D, E 911 9112 0,02 0,03 0,13 nd nd 0,07 ns Hexanoato de etilaB, D, E 1000 10002 0,01 0,03 0,48 0,08 0,19 0,35 ns Butanoato de butilaD 1003 10032 0,06 0,10 0,27 0,06 0,14 0,16 ns Heptanoato de metila 1112 nd 0,02 nd 0,09 0,01 0,01 ns Decanoato de metila 1308 nd 0,38 0,63 0,07 0,22 0,43 ns Octanoato de dietilaD 1593 15932 nd 0,14 0,15 0,05 0,12 0,03 ns Tridecanoato de etila 1697 16982 nd 0,02 0,02 0,08 nd 0,04 ns Tetradecanoato de metilaD 1721 17212 0,13 4,10 5,54 1,97 0,45 3,76 ns Isopentil 3-fenilpropanoato 1729 nd 0,07 0,02 0,02 0,03 0,07 ns Isopentil 3-fenilpropanoatoD 1732 nd 0,53 0,02 0,02 0,03 0,41 ns Benzoato de benzilaD 1744 17442 nd 0,04 0,003 nd nd 0,03 ns 9-Pentadecanoato de etilaD 1762 17622 nd 0,02 0,02 0,26 nd 0,20 ns Pentadecanoato de metila 1765 0,01 0,20 0,22 nd nd 0,14 ns Dodecanoato de butilaD 1771 17712 nd 0,39 0,41 0,37 0,05 0,26 ns Tetradecanoato de etilaD 1801 18012 0,02 0,47 0,56 0,38 0,04 0,50 ns 9-Hexadecanoato de etilaD 1953 19532 nd nd nd nd 0,02 0,01 ns Hexadecanoato de etila 1963 nd 0,36 0,41 0,19 0,06 0,43 ns Tetradecanoato de butilaD 1979 19792 0,43 6,33 0,08 0,19 0,06 4,66 ns 9-Octadecanoato de butila 1995 0,04 0,56 0,36 0,24 nd 0,27 ns Hexadecanoato de butila 2062 3,27 2,66 nd Nd nd 2,03 ns 9-Octadecenoato de metilaD 2098 20981 0,48 nd nd nd 1,86 1,36 ns Octadecanoato de metilaD 2122 21221 2,11 1,52 0,70 0,44 nd 1,52 *(6) 9-Octadecenoato de etilaD 2158 21581 nd 0,13 0,09 0,06 nd 0,07 ns Hexadecanoato de butilaD 2181 21812 nd 0,03 nd Nd nd 0,01 ns
65
IdentificaçãoA, B, C, D, E, F IRL Am.
IRL Ref.
0 25 50 75 100 EP CT
Octadecanoato de etilaD 2197 21971 nd nd 0,01 nd nd 0,01 ns Heptadecanoato de butilaD 2285 22852 nd nd 0,06 nd nd 0,04 ns Álcoois (18) 2-Metil propanol B, D, E 643 6432 1,73 0,28 0,68 2,07 2,79 1,11 ns 2-PentanolD, E 700 7001, 2 9,44 6,83 7,61 9,61 10,71 2,66 ns Isobutanol 708 2,77 2,05 2,09 1,53 1,80 0,91 *(7) 3-Metil ButanolA, D, E 737 7382 0,57 0,01 0,10 0,01 0,59 0,05 ns 2-Metil Butanol 743 7444 1,47 0,93 1,31 1,46 1,50 1,13 ns 2,3-ButanediolD 764 7662 0,02 0,02 0,03 0,01 0,01 0,02 ns 2-Etil, 4-metil 1-pentanol 778 nd nd nd nd 0,01 0,01 ns 2-Metil pentanolD 905 9061, 2 0,04 0,03 0,03 0,09 0,18 0,04 ns (E) 2-Heptenol 968 9704 0,07 0,06 0,04 0,05 0,08 0,03 ns 3-Metil 1,2-propanediol 999 0,10 0,05 0,04 0,08 0,02 0,06 ns 1-Octanol 1061 10754 nd 0,03 0,02 0,06 0,05 0,02 ns α-Benzil álcoolD 1086 10822 0,04 0,09 0,07 0,04 0,02 0,03 ns Cedrol 1609 nd 0,01 0,05 0,01 nd 0,02 ns α–CadinolD 1674 16742 nd 0,08 0,12 0,06 nd 0,08 ns Cubenol 1646 16472 nd 0,07 nd 0,02 nd 0,05 ns PentadecanolD 1785 17862 0,53 0,15 nd Nd 0,42 0,50 ns HexadecanolD 1843 18441, 2 Nd 0,03 0,05 0,03 0,03 0,03 ns OctadecanolD 2083 20891, 2 Nd Nd 1,84 5,61 2,95 5,13 ns Ácido carboxílico saturados (9) Acido pentanóicoD 893 8972 nd nd 0,026 0,043 0,026 0,01 ns Ácido butanóico 4-hidroxi 907 9082 0,090 0,160 0,083 0,073 0,183 0,07 ns Ácido heptanóicoD 1088 10882 0,016 0,010 0,016 0,043 0,080 0,02 *(8) Acido octanóicoB, D 1195 11982 nd nd 0,153 nd nd 0,12 ns Acido hexanóico 2-etil 2-propila
1282 11284 nd 0,046 0,056 0,046 0,070 0,06 ns
Acido dodecanóicoD 1523 15262 nd 0,960 2,090 0,53 0,15 0,09 ns Acido isopentanóicoD 1648 16532 nd nd nd 0,006 nd 0,01 ns Acido hexadecanóicoD 1957 19572 nd 0,25 0,98 0,36 0,10 0,63 ns Ácido heptadecanóicoD 2058 20581, 2 0,51 0,06 0,29 0,05 0,12 0,36 ns Ácidos carboxílicos insaturados (5) Ácido 3-butenóico 649 6492 0,75 0,54 1,17 1,97 0,76 0,70 ns Acido 9-pentadecenóicoD 1834 18341,2 nd 0,01 0,01 0,04 0,05 0,03 ns Acido 9-hexadecenóicoD 1936 19381 nd 0,06 0,01 0,11 nd 0,06 ns Acido 9-octadecenóicoD 2144 21431, 2 nd 0,13 0,09 0,06 nd 0,06 ns Acido 9-nonadecenóicoD 2239 22411,2 nd 0,01 nd 0,01 nd 0,01 ns Aldeídos saturados (6) PentanalB, D 695 6951 0,03 Nd 0,03 0,50 0,03 0,01 ns OctanalA, D 987 9871 0,02 0,01 0,50 0,07 0,06 0,30 ns NonanalD, E 1100 11002 nd nd nd 0,03 nd 0,02 ns PentadecanalD 1705 17042 0,13 4,10 5,54 0,09 0,46 3,05 ns HeptadecanalD 1908 19082 nd 7,03 6,50 3,52 nd 1,24 * OctadecanalD 2031 20311 nd 0,02 nd 0,06 nd 0,04 ns Aldeídos insaturados (4) (Z) Hexenal 850 8484 0,04 0,06 0,17 0,04 0,06 0,05 ns (E)-2- Hexenal 854 8591 0,05 0,07 1,33 1,12 0,13 1,23 ns
66
IdentificaçãoA, B, C, D, E, F IRL Am.
IRL Ref.
0 25 50 75 100 EP CT
(E)-2-Nonenal 1148 11465 nd nd nd 0,01 nd 0,01 ns (E)-2-HexadecenalD 1879 18792 2,22 2,78 1,41 0,03 0,05 0,53 *(9) Amida (1) HexadecanamidaD 2173 21732 nd 0,11 0,08 0,16 0,05 0,09 ns Cetonas (9) 3-Metil 2-butanonaD 675 6752 0,02 0,02 0,09 1,64 0,14 0,64 ns 2-PentanonaA, B, D, E 682 6821 0,003 nd nd nd nd 0,002 ns 3-Pentanona 690 6903 nd nd nd 0,01 nd 0,01 ns 3-Metil 2-pentanonaE 729 0,06 0,03 0,03 0,02 0,02 0,03 ns Ciclopentanona 775 7524 0,03 nd 0,16 nd nd 0,12 ns 3-HexanonaD 779 7792 0,06 0,07 0,78 0,84 0,05 0,58 ns 2-Heptanona A, B, D, E 880 8802 0,09 0,11 0,39 0,06 0,10 0,25 ns 4-Heptanona 893 8724 nd nd nd nd 0,006 0,01 ns CânforaD 1141 11412 nd 0,04 0,02 nd nd 0,02 ns Éter (1 ) Dibenzil éterD 1633 16332 nd 0,02 0,02 0,01 0,04 0,03 ns Lactonas (3) δ-dodecalactonaB, C, D 1686 16862 nd 0,04 0,06 nd 0,02 0,02 ns γ-hexadecalactonaC, D 2047 20471 nd 0,03 0,02 0,63 0,40 0,21 *(10) δ-hexadecalactonaD 2065 20651 nd 1,15 nd 0,63 1,40 0,66 ns
Sulfurados (5) Butanethiol 710 7102 4,47 1,27 0,35 2,98 3,89 1,38 *(11) Pentanethiol 823 8224 0,17 0,15 3,36 0,18 0,30 2,51 ns 2,4 Dimetilthiazole 868 8924 0,02 0,03 0,04 0,03 0,05 0,02 ns Methyl propil dissulfide 914 9134 0,07 0,09 0,25 0,12 0,12 0,11 ns 2-Metil tiofeno 1137 11372 0,01 nd nd nd nd 0,01 ns Identificação: ALeite bovino (Vazquez-Landaverde, et al., 2005); B Leite bovino (Weidong, et al., 1997; CLeite bovino (Bendall, 2001); DLeite caprino (Queiroga et al., 2005); ELeite ovino (Fernádez-Garcia et al., 2004); F Forragem (Cornu, et al., 2001). LRI Amostra (Am): índice linear de retenção, calculado em relação ao tempo de retenção de n-alcanos; LRI Referência (Ref): 1Queiroga et al. (2005); 2Queiroga (2004); 3Cornu, et al. (2001); 4Kondjoyan & Berdagué (1996); 5Jennings & Shibamoto (1980). CTContraste Ortogonal (testemunha versus tratamentos com palma); EPErro Padrão; *P<0,05; nsNão significativo. Equações de regressão/R2: (1) ŷ=29,23-4,45x/0,86, (2) ŷ=0,21-0,03x/0,72, (3) ŷ=4,79-1,11x/0,61, (4) ŷ=-7,67+10,17x-1,77x2/0,83, (5) ŷ=5,22-1,22x/0,58, (6) ŷ=2,54-0,53x/0,97, (7) ŷ=2,78-0,24x/0,71, (8) ŷ=-0,01+0,02x/0,76, (9) ŷ=3,42-0,71x/0,81, (10) ŷ=-0,20+0,14x/0,60, (11) ŷ=8,31-4,99x+0,04x2/0,82.
Os compostos voláteis que foram influenciados (P<0,05) pela substituição do farelo de
milho por palma forrageira foram: o álcool isobutanol, o aldeído 2-hexadecenal, os ésteres
acetato de butila e octadecanoato de metila, os hidrocarbonetos 3-metil hexano, 4-metil
octano e o nonadecano, todos com redução linear e efeito significativo (P<0,05) do contraste
ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma.
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Vazquez-Landaverde et al. (2005) relataram que alguns aldeídos, como o hexanal,
heptanal, octanal, nonanal e decenal, podem ser originados de autoxidação de ácidos graxos
insaturados (C18:1 e C18:2), e, também de decomposição espontânea de hidroperóxidos
através do aquecimento do leite. Estes autores, também observaram que os ésteres podem se
originar de reações catalisadas pelo calor a partir da esterificação do etanol. Foram
identificados os aldeídos pentanal, octanal e nonanal, na presente pesquisa, porém sem
variação significativa entre os tratamentos.
Já o hidrocarboneto heneicosano e o composto sulfurado butanethiol apresentaram
variação (P<0,05) com a substituição do concentrado energético e, também, efeito
significativo para o contraste ortogonal, testemunha versus tratamentos com palma. Alguns
compostos sulfurados podem ser originados por conseqüência do tratamento térmico do leite a
partir da β-lactoglobulina e do material das membranas dos glóbulos de gordura, o
methanethiol e o dimetildissulfide, por exemplo, podem ser formados a partir da methionina,
quando o leite for exposto a luz (Badings, 1991).
O percentual da lactona γ-hexadecalactona aumentou linearmente (P<0,05) com a
inclusão da palma forrageira em substituição ao farelo de milho, cujos percentuais variaram
de 0 a 0,63 %. Algumas lactonas são originadas de hidroxiácidos formados na glândula
mamária de ruminantes a partir de ácidos graxos saturados (Dimick et al., 1969, citado por
Calvo e Hoz, 1992). De fato, o teor de ácidos graxos saturados no leite de cabras aumentou
com a substituição (resultados apresentados no Capítulo II, Tabela 2) e, possivelmente,
poderia explicar esse incremento da γ-hexadecalactona.
O sabor de ranço observado pelos painelistas (Tabela 2) com o incremento da palma
em substituição ao farelo de milho não foi confirmado com variação significativa de
compostos voláteis (aldeídos) que determinam esse sabor no leite. Segundo Madruga et al.
(2008) os ácidos graxos de baixo peso molecular e de baixo ponto de ebulição não são
68
captados ao se utilizar a metodologia de Likens e Nickerson (1964) para extração de
compostos voláteis, o que pode explicar a ausência destes compostos no perfil de voláteis do
leite caprino, mas apresentaram-se no perfil de ácidos graxos (resultados apresentados na
Tabela 3, Capítulo II).
Existem várias rotas bioquímicas que pode originar compostos voláteis que
contribuem para o perfil do leite caprino como, por exemplo, a ação das lípases que
participam da formação de ácidos graxos livres, a partir dos ácidos graxos de cadeia curta
(Badings, 1991). O sabor de ranço no leite pode ser originado, primariamente, dos ácidos
graxos linoléico e linolênico, como também, de outros ácidos graxos poliinsaturados.
Alguns compostos voláteis presentes no leite e derivados de ruminantes são oriundos
da alimentação dos animais. Cornu et al. (2001), pesquisando os compostos voláteis presentes
na forragem natural de Auvergne, região central da França, observaram a presença de
terpenóides na pastagem nativa, dos quais 5 compostos (α-pineno, limoneno, α-terpineno, γ-
cadineno e germacrene) foram identificados no leite de cabra nesta pesquisa.
CONCLUSÕES
A utilização da palma forrageira em substituição ao farelo de milho na dieta de cabras
alpinas provoca uma leve variação do sabor rançoso sem afetar o perfil de compostos voláteis
do leite. Desta forma, sugere-se o uso da palma forrageira na alimentação das cabras com
suplementação de uma fonte de lipídios de origem vegetal disponível na região.
69
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A palma forrageira pode substituir o farelo de milho em dietas para cabras alpinas
em lactação mantendo-se os níveis de produção total de leite, incrementando a digestibilidade
da MS e de nutrientes e reduzindo os custos de alimentação. Estes aspectos são importantes e
relevantes para regiões semi-áridas do Brasil e do mundo.
A substituição do farelo de milho por palma forrageira reduz o extrato etéreo da dieta
com influencia na qualidade físico-química do leite de cabras, provocando uma leve
depressão no teor de lipídios, de sólidos totais, de ácidos graxos monoinsaturados e a
concentração de ácidos graxos desejáveis, evidenciando a concentração dos ácidos graxos
saturados.
A utilização da palma forrageira em substituição ao farelo de milho na dieta de cabras
alpinas provoca uma leve variação do sabor rançoso sem afetar o perfil de compostos voláteis
do leite. Desta forma, sugere-se o uso da palma forrageira na alimentação das cabras com
suplementação de uma fonte de lipídios de origem vegetal disponível na região.