UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E
CONSERVAÇÃO
COMPORTAMENTO, DIETA E USO DO ESPAÇO EM UM GRUPO DE
GUIGÓ-DE-COIMBRA (CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI &
LANGGUTH 1999) NO RVS MATA DO JUNCO CAPELA-SE
Marina Marques de Santana
Mestrado Acadêmico
São Cristóvão
Sergipe – Brasil
2012
MARINA MARQUES DE SANTANA
COMPORTAMENTO, DIETA E USO DO ESPAÇO EM UM GRUPO
DE GUIGÓ-DE-COIMBRA (CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI
& LANGGUTH 1999) NO RVS MATA DO JUNCO CAPELA-SE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe, como
requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ecologia.
Orientador: Prof. Dr. Stephen Francis Ferrari.
SÃO CRISTÓVÃO
SERGIPE – BRASIL
2012
S232c Santana, Marina Marques de
Comportamento, dieta e uso do espaço em um grupo de
guigó-de-coimbra (Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth
1999) no RVS Mata do Junco, Capela-SE / Marina Marques de
Santana; orientador Stephen Francis Ferrari. – São Cristóvão,
2012.
66 f.; il.
Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação)-
Universidade Federal Sergipe, 2012.
1. Callicebus coimbrai. 2. Comportamento animal. 3.
Sazonalidade. 4. Dieta animal. I. Ferrari, Stephen
Francis., orient. II. Título.
CDU: 638.12
“O importante não é saber se o homem veio do
macaco, mas qual foi a reação do macaco quando se
descobriu que era homem e não mais macaco.”
Karl Jasper
Dedico este trabalho a minha família, que sempre
me apoiou e que com certeza poderei contar pelo
resto da vida.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço ao meu orientador Stephen Francis Ferrari pela confiança e oportunidade
de trabalhar com os guigós. Foi uma experiência com certeza engrandecedora. Também agradeço a
minha família e amigos por estarem sempre do meu lado me apoiando sempre. Obrigado a Raone, a
Andressa Sales, a Renata Chagas e a João Pedro pela ajuda e paciência. Também agradeço ao
pessoal da Mata do Junco que me ajudaram muito dentro da mata acompanhando os guigós,
Marcelão, Marcelo Guigó, Marcelo Siriri. A Genildo, Franklin, Márcio e Derivaldo pelas conversas
boas e risadas. Obrigada a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado de Sergipe
(SEMARH) por permitir o desenvolvimento da pesquisa no Junco e por ceder as instalações da
unidade. Agradeço também a Superintendência de Recursos Hídricos pela disponibilização dos
dados climáticos da região. E claro obrigada aos meus guigós do Junco, que apesar de terem dado
bastante trabalho me permitiram acompanhá-los durante o estudo. Agradeço também a CAPES
pela bolsa de mestrado.
RESUMO
Callicebus coimbrai é uma espécie de primata ameaçada de extinção por conta da contínua
degradação de seus habitats naturais. Foi descoberta há pouco tempo e apesar dos avanços
nos estudos com este primata, ainda se precisa saber mais acerca de sua ecologia. O
presente estudo teve como objetivo avançar nosso conhecimento da ecologia da espécie,
visando principalmente a sua conservação em longo prazo. Um grupo de guigós foi
monitorado no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, no município de Capela. O grupo
de estudo era composto inicialmente por um casal reprodutivo, um adulto, dois subadultos
e um juvenil e foi monitorado de agosto a dezembro de 2011. Dados comportamentais
quantitativos foram coletados em uma amostragem contínua de varredura instantânea, com
amostras de um minuto coletadas em intervalos de cinco minutos. Em novembro, o adulto
não-reprodutivo desapareceu e um par de gêmeos nasceu. Os animais passaram 34,6% do
tempo descasando, 26,9% se alimentando, 22,4% em deslocamento, 6,9% interagindo
socialmente, 4,7% vocalizando e 2,0% forrageando (2,5% outros). A dieta foi composta
por frutos (62,9%), folhas (28,4%), sementes (5,0%) e flores (3,6%), com um total de 21
espécies exploradas. As espécies mais utilizadas eram das famílias Melastomataceae,
Apocynaceae e Dilleniaceae. O consumo de frutos foi significativamente maior durante a
estação chuvosa, enquanto o de folhas e flores foi maior durante a seca. Esta variação foi
acompanhada por mudanças no padrão comportamental, com a alimentação e
deslocamento sendo significativamente mais freqüentes na estação chuvosa, e o descanso
maior na seca. A área de vida registrada durante o estudo foi de 8,7 ha, mas provavelmente
foi subestimada devido à curta duração do estudo. De um modo geral, o comportamento do
grupo de estudo foi típico do gênero Callicebus, embora foram encontradas algumas
diferenças em relação aos estudos anteriores de C. coimbrai, como interações freqüentes
com Callithrix jacchus. Os resultados re-enfatizaram a tolerância desses animais a
fragmentação de habitas baseada em sua flexibilidade comportamental e capacidade de
explorar recursos alternativos. O estudo contribuiu para a consolidação de uma base de
dados sobre a ecologia de C. coimbrai visando garantir a conservação da espécie e dos
ecossistemas que habita em longo prazo.
Palavras-chaves: Callicebus coimbrai, comportamento, dieta, sazonalidade, fragmentação.
ABSTRACT
Behavioural ecology of a titi group (Callicebus coimbrai Kobayashi &Langguth, 1999)
in eastern Sergipe
Callicebus coimbrai is a recently-discovered primate species endangered with extinction
due to the ongoing degradation of its natural habitat. Despite recent advances in research,
the ecology of this species is still poorly-known. The present study aimed to further our
knowledge of the ecology of the species, with the principal objective of guaranteeing its
long-term conservation. A group of titis was monitored in the Mata do Junco Wildlife
Refige in the municipality of Capela. The study group was initially composed of a
breeding pair, an adult, two subadults, and a juvenile, and was monitored between August
and December, 2011. Quantitative behavioural data were collected using continuous scan-
sampling, with one-minute samples being collected at five-minute intervals. In November,
the non-breeding adult disappeared and a pair of twins was born. The animals spent 34.6%
of their time at rest, 26.9% feeding, 22.4% moving, 6.9% in social behaviour, 4.7%
vocalising, and 2.0% foraging (2.5% miscellaneous). The diet was composed of fruit
(62.9%), leaves (28.4%), seeds (5.0%), and flowers (3.6%), with a total of 21 species being
exploited. The most frequently-used species were of the families Melastomataceae,
Apocynaceae, and Dilleniaceae. Fruit was consumed significantly more frequently during
the rainy season, whereas consumption of leaves and flowers increased during the dry
season. This variation was accompanied by a shift in the activity pattern, with feeding and
moving being significantly more frequent during the rainy season, and rest increasing in
the dry. The home range recorded during the study was of 8.7 ha, but was probably
underestimated due to the short duration of the study. Overall, the behaviour of the study
group was typical of the genus Callicebus, although some differences were observed in
comparison with previous studies of C. coimbrai, such as relatively frequent interactions
with Callithrix jacchus. The results re-emphasised the tolerance of these animals towards
habitat fragmentation, based on the behavioural flexibility and capacity to exploit
alternative resources. The study contributed to the consolidation of a database on the
ecology of C. coimbrai, which should guarantee the conservation of the species and the
ecosystems it inhabits over the long term.
Key Words: Callicebus coimbrai, behaviour, diet, seasonality, fragmentation.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1:DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO CALLICEBUS. BDGEOPRIM (2002). .................. 17
FIGURA 2:DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES DE CALLICEBUS DO GRUPO PERSONATUS
(PRINTES, 2007). ........................................................................................................... 18
FIGURA 3:CALLICEBUS COIMBRAI: A) ILUSTRAÇÃO DE STEPHEN D. NASH (VAN ROOSMALEN
ET AL., 2002); B) FÊMEA ADULTA EM CATIVEIRO (FOTO: L. JERUSALINSKY). ................ 19
FIGURA 4: DISTRIBUIÇÃO DO CALLICEBUS COIMBRAI, A PARTIR DOS LIMITES PROPOSTOS POR
KOBAYASHI & LANGGUTH (1999), PRINTES (2005), BELTRÃO-MENDES (2010) E
SANTOS JR. (2010) (DA ROCHA, 2011). ........................................................................ 20
FIGURA 5: REFÚGIO DA VIDA SILVESTRE MATA DO JUNCO (EM AMARELO) E ASSENTAMENTO
JOSÉ EMÍDIO SANTOS (EM VERMELHO). ........................................................................ 23
FIGURA 6:COMPARAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO MENSAL REGISTRADA NO MUNICÍPIO DE CAPELA,
SERGIPE, NO ANO DE 2011 COM OS VALORES MÉDIOS REGISTRADOS 2003 E 2010
(SEMARH/SE, 2011). .................................................................................................. 24
FIGURA 7:CALLITHRIX JACCHUS E CALLICEBUS COIMBRAI JUNTOS. FOTO: M. MARQUES (MAI,
2011)............................................................................................................................. 32
FIGURA 8: ORÇAMENTO GERAL DE ATIVIDADES DO GRUPO DE ESTUDO DE C. COIMBRAI NA
MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 34
FIGURA 9: COMPORTAMENTO DE CATAÇÃO ENTRE DOIS INDIVÍDUOS DO GRUPO DE C.
COIMBRAI DA MATA DO JUNCO. FOTO: M. MARQUES (SET, 2011). ................................ 35
FIGURA 10: ENROSCAMENTO DE CAUDA ENTRE TODOS OS MEMBROS DO GRUPO DE C.
COIMBRAI NA ÁRVORE DE DORMIDA 2. FOTO: M. MARQUES (SET, 2011). ...................... 36
FIGURA 11: PERCENTUAL DOS ITENS CONSUMIDOS PELO GRUPO DE C. COIMBRAI DA MATA DO
JUNCO. .......................................................................................................................... 38
FIGURA 12: LINHA DELIMITANDO A ÁREA DE VIDA DO GRUPO DE ESTUDO C. COIMBRAI DA
MATA DO JUNCO, MUNICÍPIO DE CAPELA, SERGIPE. (ADAPTADO DE GOOGLEEARTH) .. 41
FIGURA 13: DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA ÁREA DE VIDA DO GRUPO DE ESTUDO, MOSTRANDO
A FREQÜÊNCIA DE VISITAÇÃO EM CADA QUADRANTE DE 50 M X 50 M. .......................... 42
FIGURA 14: FREQÜÊNCIA DE VISITAÇÃO DOS QUADRANTES DA ÁREA DE VIDA EM CADA MÊS
DE ESTUDO. ................................................................................................................... 43
FIGURA 15: LOCALIZAÇÃO DAS ÁRVORES DE DORMIDA NA ÁREA DE VIDA (LINHA AMARELA)
DO GRUPO DE C. COIMBRAI DA MATA DO JUNCO. - A.D. 1, - A.D. 2, - A.D. 3 E 4,
- A.D. 5. .................................................................................................................... 45
FIGURA 16: O GRUPO DE ESTUDO (6 INDIVÍDUOS) PERNOITANDO NA ÁRVORE 4. FOTO: M.
MARQUES (SET, 2011). ................................................................................................. 46
FIGURA 17: USO DO ESTRATO VERTICAL PELOS MEMBROS DO GRUPO ESTUDADO DE
CALLICEBUS COIMBRAI NA UC RVS MATA DO JUNCO, CAPELA, SERGIPE. .................... 47
FIGURA 18: COMPARAÇÃO DO USO DO ESTRATO ENTRE AS ESTAÇÕES SECA E CHUVOSA. ..... 47
LISTA DE TABELAS
TABELA 1:CATEGORIAS DOS COMPORTAMENTOS E ATIVIDADES A SEREM AMOSTRADOS
(MODIFICADAS DE SOUZA-ALVES (2010). ..................................................................... 26
TABELA 2: CLASSES DE ALTURA. .......................................................................................... 27
TABELA 3: DIAS DE MONITORAMENTO, VARREDURAS E REGISTROS MENSAIS DO GRUPO DE
ESTUDO C. COIMBRAI MATA DO JUNCO. ......................................................................... 33
TABELA 4: DURAÇÃO DO PERÍODO DE ATIVIDADE DIURNA DO GRUPO DE C. COIMBRAI DA
MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 33
TABELA 5: NÚMERO DE REGISTROS DOS COMPORTAMENTOS AO LONGO DOS MESES DE
ESTUDO (N = 3484 REGISTROS). ..................................................................................... 37
TABELA 6: VALORES DE Z BINOMIAL COMPARANDO OS REGISTROS ENTRE AS ESTAÇÕES
CHUVOSA (AGOSTO E SETEMBRO) E SECA (NOVEMBRO E DEZEMBRO). ........................ 37
TABELA 7: LISTA DE ESPÉCIES CONSUMIDAS PELO GRUPO DE CALLICEBUS COIMBRAI DA MATA
DO JUNCO. ..................................................................................................................... 39
TABELA 8: NÚMERO DE REGISTROS DE CADA ITEM ALIMENTAR POR MÊS. ............................ 40
TABELA 9:VALORES DE Z BINOMIAL PARA A COMPARAÇÃO DA PROPORÇÃO DOS ITENS
CONSUMIDOS NA ESTAÇÃO CHUVOSA (AGOSTO E SETEMBRO) E SECA (NOVEMBRO E
DEZEMBRO). ................................................................................................................. 40
TABELA 10: MÉDIA MENSAL DO PERCURSO DIÁRIO DO GRUPO DE ESTUDO DE C. COIMBRAI DA
MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 44
TABELA 11: ÁRVORES DE DORMIDA USADAS PELO GRUPO DE ESTUDO E FREQÜÊNCIA DE
UTILIZAÇÃO. .................................................................................................................. 46
TABELA 12: PADRÃO COMPORTAMENTAL PARA AS ESPÉCIES DE CALLICEBUS. ..................... 49
TABELA 13: COMPOSIÇÃO DA DIETA EM DIFERENTES ESPÉCIES DO GÊNERO CALLICEBUS. .... 51
TABELA 14: MÉDIA DOS PERCURSOS DIÁRIOS PARA ESPÉCIES DE CALLICEBUS. ..................... 55
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14
1.1. A MATA ATLÂNTICA ................................................................................................. 14
1.2. O GÊNERO CALLICEBUS ............................................................................................. 16
1.2.1. Callicebus coimbrai ........................................................................................... 19
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 22
2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 22
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 22
3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 23
3.1. ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................................... 23
3.2. ESTUDO COMPORTAMENTAL ...................................................................................... 25
3.2.1. Grupo de Estudo................................................................................................. 25
3.2.2. Habituação do Grupo......................................................................................... 25
3.3.3. Dados comportamentais ..................................................................................... 26
3.3.3.1. Amostragem comportamental...................................................................... 26
3.3.3.2. Uso do espaço .............................................................................................. 27
3.4. ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................... 28
3.4.1. Padrão de atividades .......................................................................................... 28
3.4.2. Uso do Espaço .................................................................................................... 29
4. RESULTADOS .............................................................................................................. 30
4.1. O GRUPO DE ESTUDO .................................................................................................. 30
4.1.2. Relações interespecíficas ................................................................................... 31
4.2. ORÇAMENTO DE ATIVIDADES .................................................................................... 32
4.2.1. Padrões gerais.................................................................................................... 32
4.2.2. Variação sazonal ................................................................................................ 36
4.3 – COMPORTAMENTO ALIMENTAR ............................................................................... 38
4.3.1. Composição da dieta .......................................................................................... 38
4.3.2. Variação Sazonal na Utilização dos Recursos Alimentares .............................. 39
4.4. USO DO ESPAÇO ......................................................................................................... 41
4.4.1. Área de vida ....................................................................................................... 41
4.4.2. Percurso Diário.................................................................................................. 43
4.4.3. Sítios de Dormida ............................................................................................... 44
4.4.4. Uso do Espaço Vertical ...................................................................................... 47
5. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 58
14
1. INTRODUÇÃO
1.1. A Mata Atlântica
A Mata Atlântica é considerada a segunda maior floresta pluvial tropical do
continente americano. É um complexo bioma constituído por uma grande diversidade de
ecossistemas. Segundo a classificação da legislação brasileira, o bioma Mata Atlântica é
formado por vários tipos de ecossistemas associados a formações florestais nativas
vegetais, como floresta ombrófila (densa, mista e aberta), floresta estacional (semidecidual
e decidual), bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos dealtitude,
brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste (Brasil, 2006; 2008).
Originalmente a Mata Atlântica estendia-se ao longo da costa brasileiraoriental,
chegando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina, cobrindo mais de 1,5 milhões de
km², ou seja, aproximadamente 15% do território nacional (Fundação SOS Mata Atlântica
& INPE, 2009; Galindo-Leal & Câmara, 2003).
Considerada como um dos biomas mais ameaçados do planeta (Mittermeier et al.,
1999), a Mata Atlântica vem sendo reduzida a fragmentos desde a colonização do Brasil
pelos europeus (Dean, 1997). Segundo Câmara (2003) no século XX mais de 90% da Mata
Atlântica brasileira já tinha sido destruída.
Fragmentação é a divisão de um habitat continuo em manchas, as quais variam em
tamanho, forma, grau de conectividade, matriz circundante, qualidade da borda e nível de
conservação(Cerqueiraet al., 2005). Este processo provoca efeitos de perda de habitat, pois
altera padrões de migração e funções ecológicas (Ranta et al., 1998).
As atividades antrópicas são uma das principais causas da perda de hábitat e
consequente fragmentação como: retirada de madeira, desmatamentos e realização de
queimadas para agricultura, pastagens e construção imobiliária, abertura de estradas e
rodovias. São ações impactantes que provocam a degradação das florestas e a perda
progressiva de recursos naturais (Tabarelli et al., 1999; Tabarelli & Gascon, 2005).
A fragmentação das florestas tropicais representa uma grande ameaça para a
biodiversidade do planeta, principalmente pela alteração das relações ecológicas animal-
planta, que subsidiam a auto-sustentação do ecossistema. Particularmente, as espécies
frugívoras como os primatas, sofrem com a rápida fragmentação e destruição das florestas
(Terborgh,1986).
15
Mesmo em condições preocupantes, a Mata Atlântica ainda apresenta uma rica e
complexa biota, com mais de 8000 espéciesendêmicas, sendo consideradaum hotspotpara a
conservação da biodiversidade no planeta(Myers et al., 2000).São 250 espécies de
mamíferos (55 endêmicas), 340 de anfíbios (90 endêmicas), 1.023 de aves (188
endêmicas), 350 de peixes (133 endêmicas) e 197 de répteis, das quais,60 endêmicas
(MMA/SBF, 2002). Das 633 espécies de animais ameaçadas de extinção no Brasil, 383
ocorrem nesse bioma (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2009).
A Mata Atlântica nordestina ainda surpreende pela diversidade de sua flora e fauna,
inclusive de primatas. Entre os avanços mais importantes dos últimos anos, destacam-se a
descoberta de uma espécie endêmica, Callicebus coimbrai (Kobayashi & Langguth, 1999)
e a “redescoberta” de outra, Cebus flavius (Oliveira & Langguth, 2006). Devido à perda de
hábitat, o risco de extinção dos primatas desse bioma é alto, sendo que a maioria das
espécies nordestinas está classificada em alguma categoria de ameaça de extinção (IUCN,
2008). Somado a este cenário, faltam informações básicas, até mesmo sobre a distribuição
geográfica das espécies, necessárias para o desenvolvimento de estratégias de conservação
efetivas.
Em Sergipe, a MataAtlântica encontra-se reduzida a 8% de sua cobertura original
que se distribuem numa estreita faixa litorânea (Santos 2009). Mesmo tendo sofrido grande
redução de vegetação remanescente e apesar de sua pequena extensão territorial, o Estado
de Sergipe ainda possui uma fauna de primatas relativamente rica, dentre eles o guigó-de-
sergipe (Callicebus coimbrai), o guigó da caatinga (Callicebus barbarabrownae) o
macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e o sagüi comum (Callithrix
jacchus).
Descoberta há apenas treze anos, Callicebus coimbraiparece ser endêmica dos
remanescentes da Mata Atlântica de Sergipe e do nordeste da Bahia, embora os limites de
sua distribuição geográfica – original ou atual – permaneçam mal conhecidos. As
evidências disponíveis (Sousa, 2000, 2003; Printes, 2005; Jerusalinsky et al., 2006;
Beltrão-Mendes, 2010 e Santos Jr., 2010) indicam que a área de distribuição da espécie
não ultrapassa 20.000 km². Atualmente sabe-se da existência de 80 populações
remanescentes de C. coimbrai no estado, sobrevivendo em fragmentos de tamanhos
variados até menores que 10 hectares (Jerusalinsky et al., 2006; Beltrão-Mendes, 2010 e
16
Santos Jr., 2010). Frente a esta situação, a espécie foi alocada à categoria “ameaçada de
extinção” pela UICN (Veiga et al., 2008).
Algumas espécies já estudadas do gênero Callicebus apresentaram o
comportamento de emigrar de seu grupo natal ao atingir maturidade sexual. Esse
comportamento, de acordo com Jerusalinsky et al. (2006) associado a sua distribuição em
fragmentos isolados pode, a longo prazo, comprometer a sobrevivência da espécie, por
isso,estudos sobre ecologia e comportamento dos guigós-de-sergipe são de grande
relevância, pois poderá se saber sobre a viabilidade de grupos que habitam pequenos
fragmentos ajudando a subsidiar ,estratégias de conservação e manejo da espécie.
1.2. O Gênero Callicebus
A ordem Primates compreende animais forrageadores generalistas, com cérebros
relativamente grandes e sofisticados sistemas sociais (Campbell et al., 2011). Dentro desta
ordem existem duas subordens, Strepsirrhini representada pelos galagos, lêmures e társios,
também chamada de prossímios e Haplorrhini que são os símios. Esta última é composta
pelas infraordens Catarrhini (símios do Velho Mundo) e Platyrrhini (símios do Novo
Mundo). São 19 gêneros de platirrineos, atualmente classificados em quatro famílias:
Callitrichidae,Cebidae,Pitheciidae e Atelidae (Rylands et a.l, 2000; Campbell et al., 2011).
Todos são arborícolas, com peso variando entre 100 g e 10 kg (Fleagle, 1999; Hartwig,
2007).
Pithecia, Chiropotes, Cacajao e Callicebus são os gênerospertencentes à família
Pitheciidae (Rylands et al., 2000). CallicebusThomas, 1903 engloba um grupo complexo
de espécies que se distribui principalmente nas florestas da Amazônia, onde são
conhecidos como macacos zogue-zogues, e da Mata Atlântica brasileira, sendo chamados
de sauás e guigós. Hershkovitz (1990) reconheceu 13 espécies agrupadas em quatro
grupos, mas revisões e descobertas recentes como a de Defler et al., 2010, elevaram estes
números para 30 espécies, sendo atualmente distribuídas em cinco grupos,donacophilus,
torquatus, moloch, cupreus e personatus (Kobayashi & Langguth, 1999; van Roosmalen et
al., 2002; Wallace et al., 2006). Estes cinco grupos se distribuem nas florestas tropicais das
bacias Amazônica e do Orinoco, no Chaco e nas florestas secas do Paraguai e Bolívia, e
naMataAtlântica brasileira(Figura 1).
O grupo personatus écomposto por cinco espécies – Callicebus personatus,
Callicebus nigrifrons, Callicebus melanochir, C. barbarabrownae e C. coimbrai, todos
17
endêmicos da Mata Atlântica e áreas vizinhas de Caatinga e Cerrado, distribuídos pela
Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e Nordeste –
Bahia e Sergipe (Kinzey, 1981; Hershkovitz, 1990; van Roosmalen et al. 2002; Figura 2).
Figura 1:Distribuição geográfica do Callicebus. BDGEOPRIM (2002).
18
Figura 2:Distribuição geográfica das espécies de Callicebus do grupo personatus (Printes,
2007).
Os guigós, sauás ou zogues-zogues são primatas de pequeno a médio porte,
monomórficos,medindo entre 287-390 mm de comprimento (cabeça-corpo), a cauda pode
chegar a um terço desse comprimento e pesam entre 1 a 2 kg (Kinzey, 1981, 1997; Kinzey
& Becker, 1983).A cauda não é preênsil e a forma de locomoção é, essencialmente,
quadrúpede, podendo saltar e escalar sendo extremamente ágeis e silenciosos ao se
deslocarem.
Os guigós formam pequenos grupos, variando entre dois a seis indivíduos que são
compostos pelo casal monogâmico e sua prole imatura. Geralmente a cada ano o casal gera
um filhote e o período gestacional da fêmea dura por volta de 4,3 meses (Vallegia et al.,
1999). A prole emigra do seu grupo ao atingir a maturidade sexual entre o segundo e quarto ano de
vida (Bicca-Marques & Heymann, no prelo). São animais de hábitos arborícolas e diurnos
podendo ser encontrados em diversos tipos de hábitat como florestas tropicais primárias e
secundárias, florestas decíduas, semidecíduas e perenifólias, entre outras, sendo
relativamente tolerante à fragmentação de habitats (Ferrari et al. 2000; Heiduck, 2002).
19
Os Callicebus gastam em torno de 75% do seu tempo com alimentação. São
basicamente frugívoros, mas complementam sua dieta com folhas ou insetos(Müller &
Pissinatti, 1995; Heiduck, 1997; Cardoso, 2003; Souza-Alves, 2010). Os frutos mais
consumidos são os das famílias Moraceae, Leguminosae e Sapotaceae (Kinzey, 1978,
1981). Na estação seca, quando os frutos são escassos, observa-se principalmente o
aumento no consumo de folhas, que é o segundo recurso mais consumido, atrás dos frutos,
4-66% dependendo da estação do ano e da espécie de Callicebus. (Kinzey, 1978, 1981;
Müller & Pissinatti, 1995). Geralmente, os animais deste gênero dedicam maior parte do
seu tempo entre as categorias comportamentais de alimentação, locomoção e descanso,
com ênfase para a última, quenormalmente supera 50% do orçamento total com exceção do
C. brunneus, commenos de 40% (Bicca-Marques & Heymann, no prelo).
1.2.1. Callicebus coimbrai
Kobayashi e Langguth descreveramoCallicebus coimbrai em 1999. É um primata
de médio porte e pesa cerca de 1 kg. Apresentam pelagem bege com patas, testa, topo de
cabeça e orelhas negras; uma faixa zebrada no dorso; um halo esbranquiçado em volta da
face; e uma cauda alaranjada (Kobayashi & Langguth 1999; van Roosmalen et al., 2002;
Figura 3).
Figura 3:Callicebus coimbrai: a) Ilustração de Stephen D. Nash (van Roosmalen et al.,
2002); b) Fêmea adulta em cativeiro (Foto: L. Jerusalinsky).
20
Inicialmente, C. coimbrai era conhecido somente do extremo oriente do Estado de
Sergipe (Kobayashi & Langguth, 1999), mas após uma série de levantamentos,
principalmente aquele de Printes (2005), sabe-se que sua distribuição se estende para o sul
ao longo do litoral da Bahia.Atualmente os limites conhecidos para sua distribuição
geográfica são o Rio São Francisco ao norte, rio Paraguaçu ao sul e o Oceano Atlântico a
lestee o limite entre a Mata Atlântica e a Caatinga a Oeste (Printes, 2005; Jerusalinsky et
al., 2006; Beltrão-Mendes, 2010; Santos Jr., 2010; Figura 4).
Figura 4: Distribuição do Callicebus coimbrai, a partir dos limites propostos por
Kobayashi & Langguth (1999), Printes (2005), Beltrão-Mendes (2010) e Santos Jr. (2010)
(Da Rocha, 2011).
Callicebus coimbrai, inicialmente,foi alocado à categoria “criticamente ameaçada”,
mas após avanços no conhecimento sobre a distribuição geográfica, a espécie foi
reclassificada e atualmente ocupa a categoria em “perigo de extinção” (IUCN 2008), sendo
21
os principais motivos desse nível de ameaça, a contínua fragmentação e degradação dos
ambientes florestais ao longo de sua restrita distribuiçãogeográfica, desde o início da
colonização européia no século XVI (Coimbra-Filho & Câmara, 1996). A partir do
levantamento Jerusalinsky et al.(2006), estima-se que a área total de floresta ocupada pela
espécie não ultrapassa 15.000 ha, distribuída em dezenas de pequenos fragmentos isolados.
Também foi estimada que a população total remanescente está entre 500 a 1000
indivíduos.
Apesar dos avanços em relação à distribuição geográfica da espécie, suas
características ecológicas são ainda pouco conhecidas embora já existam alguns estudos
sobre a ecologia de C. coimbrai, principalmente sobre a densidade de populações (Chagas,
2009 e Rocha, 2011) e alguns aspectos de sua ecologia comportamental (Souza-Alves,
2010; Fontes, 201). No entanto, ainda há necessidade de desenvolver estudos em longo
prazo para um melhor entendimento sobre os efeitos da fragmentação sobre as
características ecológicas da espécie e conseqüentemente o desenvolvimento de estratégias
eficazes de conservação e manejo da espécie. Aliado a isso também é de grande
importância a conservação dos ecossistemas para que a espécie consiga se manter ao longo
do tempo.
22
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Expandir o conhecimento da ecologia de Callicebus coimbrai e subsidiar a
conservação da população residente no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (RVS
Mata do Junco), Capela, Sergipe.
2.2. Objetivos específicos
Descrever os padrões de comportamento e uso de habitats dos membros de um grupo de
C. coimbrai residente no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, Capela, Sergipe;
Avaliar a composição da dieta do grupo de estudo, variações sazonais nesta composição
e possíveis mudanças de comportamento associadas;
Identificar fatores chaves que possibilitam a tolerância da fragmentação de habitat pela
espécie;
Fornecer subsídios para a conservação da espécie e dos ecossistemas que habita,
principalmente no contexto local do RVS Mata do Junco.
23
3. METODOLOGIA
3.1. Área de estudo
O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco se localiza no município de Capela no
leste do Estado de Sergipe (10º32’S, 37º03’W) a aproximadamente 67 km da capital
Aracaju. Além dos remanescentes florestais, o RVS Mata do Junco abrange também parte
do Assentamento José Emídio dos Santos criado pelo INCRA no ano de 2005 em uma área
pertencente à Usina Santa Clara(Figura 5).
Figura 5: Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (em amarelo) e Assentamento José
Emídio Santos (em vermelho).
Segundo o SNUC (2002), um Refúgio da vida Silvestre é uma unidade de
conservação de proteção integral que objetiva proteger os ambientes naturais onde se
asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades de flora
local e da fauna residente ou migratória. O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, uma
unidade de conservação estadual, foi criado em 26 de Dezembro de 2007, por meio do
decreto 24.944. A unidade é um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do estado
24
possuindo em torno de 766 ha (SEMARH/SE, 2011). A Mata do Junco éuma floresta de
Tabuleiro que sofreu forte pressão antrópica devido a exploração intensiva de madeira e
atualmenteé caracterizada por possuir manchas de remanescentes florestais em diferentes
níveis de regeneração(Santos, 2009). Está inserida na unidade de relevo denominada
Depressão Sertaneja apresentando solos de característica arenosa (SEMAHR/SE, 2011). O
estudo foi realizado dentro do maior fragmento da unidade, que possui cerca de 522 ha de
área florestada.
Dados de precipitação do município de Capela, a cerca dos anos de 2003 a 2010
mostraram que a precipitação média anual na região é de 1323,8 mm. O ano do estudo,
2011 teve uma precipitação media de 1527,6 mm, um pouco maior do que a média de 2003
a 2010 (SEMARH/SE, 2011) (Figura 6).
Observa-se que a região da área de estudo apresenta duas estações bem definidas,
uma mais úmida que abrange os meses de abril a setembro e uma estação seca que vai do
mês de outubro a março. De acordo com o gráfico de precipitação de 2011, é possivel
verificar que o ano todo foi caracterizado por um índice anormal de chuvas nos meses de
fevereiro e março sendo que o resto do ano seguiu um padrão normal relacionado com a
média (Figura 7).
Figura 6:Comparação da precipitação mensal registrada no município de Capela, Sergipe,
no ano de 2011 com os valores médios registrados 2003 e 2010 (SEMARH/SE, 2011).
0
50
100
150
200
250
300
Pre
cip
ita
ção
(m
m)
média de
precipitação
2003 a 2010
precipitação
2011
25
3.2. Estudo comportamental
3.2.1. Grupo de Estudo
Dentro do RVS Mata do Junco ocorrem duas espécies de primatas, Callithrix
jacchus e Callicebus coimbrai que já foram estudadas anteriormente, através de Soares et
al. (2011) que realizou uma avaliação preliminar de uso de habitat de Callicebus coimbrai
e Callithrix jacchus eRocha (2011) que fez um levantamento das populações de Callicebus
dentro da UC. O grupo foi escolhido devido a facilidade de acesso a área de vida, por ser
relativamente fácil encontrá-los dentro da mata e devido aos indivíduos serem
parcialmente acostumados a presença humana.
A área que o grupo habita localiza-se próximo a portaria da UC e envolve a área
onde se encontram as instalações da unidade. Inicialmente o grupo era composto de seis
indivíduos e ao final do período de estudo passou a incluir sete animais.
3.2.2. Habituação do Grupo
A habituação foi feita por meio da “perseguição intensiva” (veja Souza-Alves &
Ferrari, 2010) durante os meses de maio, junho de 2011. No primeiro mês, um playback foi
utilizado para atrair o grupo, mas nos meses seguintes esta estratégia foi descartada, pois os
animais passaram a não responderem mais aos chamados. Para achar os indivíduos, a
pesquisadora e o mateiro procuravam cuidadosamente pela mata, atentos a barulhos, como
movimentação pelos galhos ou vocalizações intragrupo. Ao ser achado, o grupo era
perseguido até que se recolhesse para dormir ou até que fosse perdido o contato visual.
Os animais passaram a tolerar a presença do observador a partir do momento em
que pararam de se distanciar de sua presença ou de apresentar vocalização de alarme.
Segundo Setz (1991) os sujeitos foram considerados habituados a partir do momento em
que o observador conseguiu manter contato continuo com os animais a uma distância que
permitia o monitoramento do seu comportamento sem provocar mudanças no mesmo. Uma
vez habituados, o monitoramento sistemático e coleta de dados quantitativos foram
iniciados.
26
3.3.3. Dados comportamentais
3.3.3.1. Amostragem comportamental
A coleta de dados comportamentais foi realizada entre os meses de agosto a
dezembro de 2011. Cada amostra mensal era constituída por quatro ou cinco dias
completos de monitoramento, nos quais os sujeitos eram acompanhados desde o
amanhecer até a hora de se recolherem na árvore de dormida.
O método utilizado para a coleta de dados quantitativos foi o de varredura
instantânea (Altmann, 1974; Setz, 1991), que consiste em um registro instantâneo do
estado comportamental dos sujeitos a intervalos pré-determinados. Neste estudo, foi
utilizado o mesmo esquema amostral adotado por Souza-Alves (2010) e Fontes (2011) no
monitoramento de C. coimbrai, por ser um método comprovado para o gênero e para
garantir uma melhor comparação entre os estudos. A varredura tinha duração de um
minuto e as amostras foram realizadas continuamente ao longo do período de atividade do
grupo.
Em cada varredura, registrou-se a data, o horário e a posição do grupo marcado
através GPS. Para cada sujeito avistado durante a varredura foram coletados os seguintes
dados: (i) sua identificação ou classe sexo-etária; (ii) seu estado comportamental (Tabela
1); (iii) a altura do individuo em relação ao chão e (iv) a distância do sujeito avistado para
o indivíduo mais próximo. As categorias utilizadas abaixo foram modificadas do estudo de
Souza-Alves (2010). Os materiais utilizados para o trabalho foram um caderno de campo,
relógio com cronômetro, GPS, binóculos e máquina fotográfica digital.
Tabela 1:Categorias dos comportamentos e atividades a serem amostrados (modificadas
de Souza-Alves (2010).
Categoria (Código)
Descrição
Deslocamento (DL) Animal se locomovendo
Forrageamento Animal procurando por itens alimentares manualmente (FM) ou
visualmente (FV)
Alimentação Animal ingerindo insetos (CI), sementes (CS), frutos (CFR), folhas
(CF), galho (CG), vertebrados (CV), água (BA)
Interação social Animal interagindo com outro membro de seu grupo (ou de outro
grupo, devidamente anotado): catação (CAT); interação agressiva
(IA); brincadeira (BRI); interação sexual (SEX)
27
Categoria (Código)
Descrição
Autocatação
(AUTCAT)
Animal catando ectoparasita de seu próprio pêlo
Entrelaçamento de
cauda
(EC)
Animal com a cauda entrelaçada com aquela de outro indivíduo,
podendo estar envolvido em comportamento de dueto
Repouso (RE) Animal sentado ou deitado de olhos abertos sem qualquer atividade
adicional
Sono (SO) Animal deitado, de olhos fechados, sem qualquer movimento
Vocalização (VOX) Animal emitindo sons pelo aparelho vocal
Outro (OU) Animal desenvolvendo qualquer outra atividade não prevista acima,
como interação interespecífica, evacuação, etc.
Em eventos de alimentação, o item ingerido foi identificado até o menor nível
taxonômico possível e amostras foram coletadas para identificação. As plantas exploradas
para alimentos foram devidamente marcadas com fita colorida para poderem ser coletadas
uma exsicata para posterior identificação junto ao herbário da Universidade Federal de
Sergipe (UFS) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
3.3.3.2. Uso do espaço
Os dados de altura foram organizados em classes de cinco metros (Tabela 2) e
expresso graficamente utilizando a porcentagem de uso de cada categoria.
Tabela 2: Classes de altura.
Classes Altura (metro)
1 0 – 5
2 6 – 10
3 11 – 15
4 ≥16
O percurso diário do grupo foi amostrado por meio da marcação dos pontos, em
um GPS, em cada varredura. Os pontos foram passados para o programa GPS Trackmaker
onde se analisou a trajetória feita pelos animais, obtendo-se a trajetória percorrida em cada
dia de monitoramento, a partir daí obteve-se a média mensal dos percursos diários do
grupo.
28
A área de vida também foi estimada por meio detodos os pontos marcados pelo
GPS em cada varredura.
As árvores de dormida do grupo tiveram suas coordenadas registradas com a ajuda
do GPS. Foram marcadas com fita amarela e coletadas para posterior identificação.
3.4. Análise de dados
Os dados foram transcritos para planilhas do programa Excel para organização e
análise preliminar, e as análises estatísticas realizadas no programa BioEstat 5.3 (Ayres et
al., 2006). Inicialmente, os dados foram analisados mensalmente, e depois por estação
climática e para o período de estudo como um todo.
3.4.1. Padrão de atividades
O parâmetro comportamental básico é o orçamento de atividades, que é baseado
nafreqüência relativa dos registros de cada categoria comportamental. Neste caso, a
porcentagem de categoria i é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o número de registros
de varredura da categoria i durante o período sob análise, e N = o número total de registros
de varredura durante o mesmo período. Possíveis diferenças entre estações no
orçamentoforam analisadas usando o z binomial ou, para períodos múltiplos, a análise de
variância não-paramétrico de Kruskal-Wallis. Estes testes verificam a significância das
variações ocorridas entres as estações.
A composição da dieta foi estimada da mesma forma, onde a porcentagem de item i
é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o número de registros de varredura do item i
durante o período sob análise, e N = o número total de registros de alimentação durante o
mesmo período conforme, Cullen Jr. & Valadares-Pádua (1997). Para verificar mudanças
sazonais na composição da dieta, os dados foram analisados usando o z binomial.
A duração média do período de atividades (entre inicio e termino das atividades
diárias) do grupo também foi comparada entre os meses de estudo analisando-se a
significância de variação do período de atividade entre as estações seca e chuvosa.
29
3.4.2. Uso do Espaço
A preferência por determinados estratos da vegetação foi analisada por meio das
porcentagens de utilização de cada classe de altura. Para verificar possíveisdiferenças na
utilização do estrato entre asestações seca e chuvosa, foi utilizado o teste Kruskal-Wallis.
A área de vida foi estimada por meio da plotagem de um grid de 50m x 50m sobre a
área utilizada pelos guigós no programa GPS Trackmaker, em seguida os pontos marcados
pelo GPS durante as amostragens foram lançados nesse grid e a partir daí fez-se a
contagem dos quadrantes onde os pontos ocorriam e obteve-se a área utilizada pelos
guigós.
Os percursos diários foramanalisados por meio dos pontos marcados pelo GPS ao
longo do período de estudo. Os pontos foram lançados no programa GPS Trackmaker,
onde através de uma ferramenta do programa estes pontos foram ligados e suas distancias
somadas, com isso obteve-se o percurso diário de cada dia de monitoramento.
30
4. RESULTADOS
4.1. O grupo de estudo
Em maio de 2011, o grupo de estudo era composto por seis indivíduos: um casal de
adultos, um adulto, dois subadultos e um juvenil com pouco mais de um ano de idade. Em
novembro, o adulto maduro já não estava mais junto ao grupo, restando cinco membros.
No mesmo mês a fêmea deu luz a gêmeos, sendo que, até o final do período de estudo, o
grupo continuava com sete membros.
Para identificar os indivíduos do grupo foi preciso analisar as características
peculiares de cada sujeito, pois a similaridade entre animais é grande devido a fatores
como a falta de dimorfismo sexual na espécie. O macho adulto possui a ponta do rabo
entortada, assim ele foi denominado de “Rabo Torto”. O juvenil por ter um tamanho menor
e também por possuir a mesma característica do rabo do pai era facilmente identificado e
ganhou o apelido de “Juju”. Os demais indivíduos do grupo não tiveram uma classificação
sistemática devido a falta de características individuais que os diferenciassem, exceto em
determinadas situações, como quando a fêmea reprodutora estava junto ao macho
repousando, catando ou amamentando.
Em maio foi observado um comportamento de cópula entre o casal. O macho e a
fêmea juntamente com o juvenil estavam se deslocando, quando em determinado momento
a fêmea parou em um galho. Logo em seguida o macho se aproximou montando na fêmea
e realizando movimentos pélvicos por cerca de 5 segundos.
Em geral o grupo se apresentou coeso, padrão típico do gênero, com dispersão em
torno de 15 m de distância. Em algumas ocasiões os subadultos se separavam pela manhã e
perto do final das atividades se encontravam com o casal. O macho e a fêmea reprodutores
sempre andavam próximos ao longo do dia, interagindo socialmente, efetuando
comportamentos de catação em momentos de repouso.
O macho reprodutor carregava os dois filhotes na maior parte do tempo. A fêmea só
foi observada carregando os gêmeos em momentos de amamentação. O juvenil também
carregou os irmãos, mas somente em ocasiões de repouso.
O grupo não possuía um padrão diário de vocalização de território (o dueto),
geralmente eles eram estimulados por vocalizações de grupos vizinhos, poucas vezes as
vocalizações foram por iniciativa do grupo. O dueto era praticado pelo casal, mas em
algumas ocasiões a prole também participava com exceção do juvenil. Quando ocorria
31
encontro com grupo vizinho o casal logo se juntava fazendo uma vocalização de atenção e
em seguida praticava o dueto. Por algum motivo, talvez por proteção, o juvenil se
mantinha uma certa distancia de onde o casal estava. Além da vocalização de dueto, outro
tipo de vocalização foi notado, o “piado” (Souza-Alves, 2010). São pequenos assobios
emitidos pelos indivíduos a fim de se situarem em relação ao resto do grupo. Quando o
sujeito percebe que o grupo está fora do alcance de sua visão o animal logo emite o piado
para que alguém responda. Quando a resposta não ocorre o animal faz a vocalização dueto,
a qual sempre era respondida.
4.1.2. Relações interespecíficas
Durante o estudo ocorreram alguns momentos de sobreposição de área entre o
grupo estudado e outros grupos de guigós vizinhos. No total foram pelo menos cinco
encontros sendo um deles bem inusitado. Três desses encontros foram com guigós vizinhos
vocalizando dentro da área de vida do grupo estudado, imediatamente o grupo se deslocava
em direção aos guigós vizinhos e respondiam a vocalização, nessas ocasiões além do casal
praticar o dueto um dos subadultos também participava.
Normalmente, nesses encontros, o grupo conseguia afastar os “invasores”, mas
houve uma situação em que os guigós vizinhos conseguiram fazer com que o grupo de
estudo se afastasse. Um outro momento de encontro houve a participação de mais de um
grupo vizinho, ao todo eram dois grupos vocalizando além do grupo estudado.
O quinto encontro ocorreu com apenas um único guigó. O mais interessante é que
este sujeito era um guigó infante que se encontrava sozinho. O grupo estudado apresentou
um certo interesse, num primeiro momento, mostrando um cuidado com o sujeito, até
mesmo resgatando-o num momento de queda. Em seguida o grupo que estava em repouso,
voltou as atividades de deslocamento, forrageio e alimentação deixando o infante solitário
pra trás. Este tentava acompanhar o grupo fazendo uma vocalização parecida com “choro”,
mas pelo seu tamanho e suas dificuldades em se locomover não conseguia alcançar, isso
ocasionou mais três quedas seguidas, sendo que dessa vez o infante voltou ao alto das
árvores sem o resgate de nenhum dos indivíduos do grupo.
Dentro da área de vida dos guigós estudados existe pelo menos três grupos de
sagüis (Callithrix jacchus). O guigós se encontraram com os sagüis em todos os dias de
monitoramento durante o estudo. A presença do C. jacchus não parecia alterar o
comportamento dos guigós continuando suas atividades normalmente. Os sagüis por outro
32
lado pareciam bastante curiosos quanto aos guigós chegando a se aproximarem bastante.
Houve até mesmo uma situação, durante a habituação, em que um dos indivíduos do grupo
estudado estava se alimentando de determinado fruto e um sagüi que se encontrava no
mesmo galho bem próximo ao sujeito requisitou o mesmo fruto que o guigó comia. O
indivíduo calmamente deu as costas ao sagüi não permitindo que o mesmo se apossasse de
seu alimento (Figura 8).
Figura 7:Callithrix jacchus e Callicebus coimbrai juntos. Foto: M. Marques (Mai, 2011).
4.2. Orçamento de Atividades
4.2.1. Padrões gerais
Durante o período de estudo, o grupo foi monitorado durante 24 dias completos. Ao
todo foram 3981 registros comportamentais coletados em 2051 varreduras, sendo 8,76%
dessas sem registro (Tabela 3).
33
Tabela 3: Dias de monitoramento, varreduras e registros mensais do grupo de estudo C.
coimbrai Mata do Junco.
Mês
Dias de
monitoramento
Varreduras
Registros
Registros por
varredura
Agosto 4 225 432 1,92
Setembro 5 284 536 1,89
Outubro 5 424 938 2,21
Novembro 5 554 987 1,78
Dezembro 5 564 1088 1,92
Total 24 2051 3981 1,94
Tipicamente, o período de atividade diurna começava um pouco depois do sol
nascer e acabava aproximadamente uma hora antes do por de sol (Tabela 5), de forma que
o período médio de atividade diurna do grupo durou um pouco menos de onze horas
(Tabela 4). Ao deixarem a árvore de dormida o grupo geralmente se movimentava em
direção a fontes de alimentação e ao longo dia entre um evento de alimentação e outro, os
animais descansavam e se deslocavam. Na metade do dia percebia-se que os animais
descansavam por mais tempo comparando com o resto do dia. No período da tarde, o
grupo se movimentava bastante à procura de alimentos, mas ao se aproximar o horário de
dormida era possível observar os animais mais quietos e silenciosos até a hora de todos se
juntarem na árvore de dormida escolhida.
Tabela 4: Duração do período de atividade diurna do grupo de C. coimbrai da Mata do
Junco.
Mês
Hora máxima – mínima de: Duração média ±DP do
período de atividade Início Término
Agosto 5:40-5:45 16:55-17:25 10:37±0:17
Setembro 5:20-6:05 16:05-17:25 10:37±0:53
Outubro 5:10-5:20 16:45-17:15 10:55±0:14
Novembro 5:25-5:50 17:00-17:40 10:52±0:11
Dezembro 5:00-5:45 17:25-17:50 11:25±0:14
Geral 5:00-6:05 16:05-17:50 10:50±1:04
34
O orçamento geral das atividades teve as categorias de repouso, alimentação e
deslocamento como as mais registradas, semelhante ao observado nos estudos de Kinzey
et. al (1977), Kinzey & Becker (1983), Souza-Alves (2010), Caselli & Setz (2011) e
Fontes (2011) (Figura 8).
Figura 8: Orçamento geral de atividades do grupo de estudo de C. coimbrai na Mata do
Junco.
A catação foi interação social mais registrada e podia ser observada em três
momentos: antes de iniciar as atividades diárias na árvore de dormida, nos períodos de
descanso e após a chegada à árvore de dormida. Ocorreutrês registros de interação
agressiva, dois deles entre o macho reprodutor e o terceiro adulto e o outro registro
aconteceu entre um indivíduo do grupo juntamente com um sagüi (Callithrix jacchus) de
um grupo que vive dentro da área de vida dos guigós. Outra ocasião de agonismo
aconteceu fora da amostragem envolvendo o macho reprodutor e um dos subadultos
(Figura 10).
34,6
26,9
22,4
6,9 4,7
2,0 1,4 1,0 0,1 0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Fre
qu
ênci
a r
ela
tiv
a (
%)
35
Figura 9: Comportamento de catação entre dois indivíduos do grupo de C. coimbrai da
Mata do Junco. Foto: M. Marques (Set, 2011).
O forrageio foi uma das categorias com menos registros. Foi observado que este
comportamento era feito de maneira bem discreta, ao contrario de outros primatas que
forrageiam de maneira a vasculhar todo o ambiente, o guigó apenas observava o ambiente
ao seu redor e ao visualizar uma fonte seguia em direção a ela.
O enroscamento de cauda foi um comportamento pouco observado durante as
atividades diárias. Apenas três registros no mês de setembro, nos quais o casal estava
praticando a catação. Também foi observado que o enroscamento de cauda sempre ocorre
entre todos os indivíduos do grupo quando estão na árvore de dormida no amanhecer ou
final do dia (Figura 10).
36
Figura 10: Enroscamento de cauda entre todos os membros do grupo de C. coimbrai na
árvore de dormida 2. Foto: M. Marques (Set, 2011).
4.2.2. Variação sazonal
O comportamento de repouso foi a atividade mais registrada em quase todos os
meses de estudo, com exceção do mês de setembro no qual a alimentação excedeu o
repouso.
As vocalizações tiveram um pico no mês de Novembro. Neste mês foi registrado
em quase todos os dias de monitoramento o grupo vizinho vocalizando muito próximo e
até mesmo dentro da área de vida do grupo estudado estimulando o grupo a vocalizar em
resposta (Tabela 5).
37
Tabela 5: Número de registros dos comportamentos ao longo dos meses de estudo (n =
3484 registros).
* Tabela sem registros de comportamento não identificado, autocatação e sono.
Comparando os comportamentos entre a estação chuvosa e seca foi constatado que
apenas houve diferença significativa entre as categorias de alimentação e deslocamento
(Tabela 6). Souza-Alves (2010) constatou diferenças em quase todas as categorias exceto
forrageio e vocalização. As categorias de Fontes (2011) também variaram
significativamente com exceção da interação social.
Tabela 6: Valores de z binomial comparando os registros entre as estações chuvosa
(Agosto e Setembro) e seca (Novembro e Dezembro).
Número (% total) de registros para cada estação
Categoria Chuvosa Seca z (p)
Repouso1 277(28,62) 670(32,29) -2,0385(0,042)
Alimentação 285(29,44) 512(24,67) 2,7858(0,005)
Deslocamento 242(25,00) 420(20,24) 2,9635(0,003)
Int. Social 42(4,34) 111(5,35) -1,1881(0,235)
Vocalização 34(3,51) 104(5,01) -1,8517(0,064)
Forrageio 25(2,58) 36(1,73) 1,5539(0,120)
1 Inclui os registros de enroscamento de cauda.
Categorias
Número (% total) de registros coletados para cada mês
Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Repouso 143(35,22) 125(25,05) 333(39,78) 317(28,98) 341(34,97)
Alimentação 86(21,18) 199(39,88) 181(21,62) 229(20,93) 283(29,03)
Deslocamento 111(27,34) 131(26,25) 151(18,04) 177(16,18) 243(24,92)
Int. Social 34(8,37) 8(1,60) 99(11,83) 61(25,32) 50(5,13)
Vocalização 23(5,67) 11(2,20) 32(3,82) 66(6,03) 38(3,90)
Forrageio 9(2,22) 16(3,21) 12(1,43) 22(2,01) 14(1,44)
Enr. de cauda 0(0) 9(1,80) 29(3,46) 6(0,55) 6(0,62)
Total* 406 499 837 1094 975
38
58,3
26,3
3,4 4,6
0,0
7,4
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
fruto folha flor semente inseto não ind.
reg
istr
os
(%)
4.3 – Comportamento Alimentar
4.3.1. Composição da dieta
Ao todo foram 978 registros de alimentação, dos quais 75 itens (7,4%) não foram
identificados devido a dificuldades de visualização, muitas vezes a vegetação densa e a
altura impediam que o observador conseguisse analisar o tipo de alimento que os animais
estavam ingerindo. Os frutos foram o item mais consumido durante todo o período de
estudo, o que indica uma forte preferência do animal por este alimento. As folhas foram o
segundo alimento mais importante da dieta do grupo, havendo um maior consumo de
folhas jovens do que folhas maduras (86,5% e 13,5% respectivamente). As flores foram o
terceiro alimento mais consumido e os insetos não obtiveram registros (Figura 11).
Figura 11: Percentual dos itens consumidos pelo grupo de C. coimbrai da Mata do Junco.
Ao longo do estudo 21 espécies botânicas foram registradas sendo sete delas ainda
em processo de identificação, fora as espécies que não foram coletadas por dificuldades
encontradas pelo pesquisador (Tabela 7).
39
Tabela 7: Lista de espécies consumidas pelo grupo de Callicebus coimbrai da Mata do
Junco.
Família Espécie Nome vulgar Hábito Item*
Anarcadiaceae Tapirira guianensisAubl. Pau-pombo Arbóreo Foj
Annonnaceae Xylopia aromática Pindaíba Arbóreo Fr
Apocynaceae Himatanthus sp. 1 Peroba arbóreo Foj
Himatanthus sp. 2 Peroba arbóreo Foj
Araliaceae Didymopanax morototoni
(Aubl.) Decne. & Planch.
Pé-de-galinha arbóreo Fr
Dilleniaceae Davilla kunthiiA.St.-Hil. Cipó caboclo Cipó Fr
Fabaceae sp.01 Favinha arbóreo Fr
Bowdichia
virgilioidesKunth
Sucupira arbóreo Fr
Melastomataceae Micônia sp.1 * arbóreo Fr
Micônia sp.2 * arbóreo Fom
Micônia sp.3 * arbóreo Fr
Nyctaginaceae Guapira noxia(Netto)
Lundell
João-mole arbóreo Foj
Sapotaceae sp.02 Massaranduba arbóreo Bofl/Brf
Polygonaceae Coccoloba striata Cipó bugio Cipó Fr
Simaroubaceae Simarauba versicolor Paraiba arbóreo Fr * Foj = folha jovem; Fr = fruto; Fom = folha madura; Bofl = botão floral; Brf = broto foliar.
Das famílias mencionadas acima que tiveram os maiores registros foram:
Annonaceae, Apocynaceae, Araliaceae, Dilleniaceae e Melastomataceae. Dentre as
espécies identificadas no presente trabalho algumas foram também registradas nos estudos
de Souza-Alves (2010) e Fontes (2011), dentre elas o Pau-pombo (Tapirira guianensis),a
Pindaíba (Xylopia aromática), o Cipó caboclo (Davilla kunthiia)e o João-mole(Guapira
noxia).
4.3.2. Variação Sazonal na Utilização dos Recursos Alimentares
Fruto foi o alimento mais consumido em todos os meses com exceção do mês de
Novembro onde as folhas excederam o registro de frutos (Tabela 8). Os maiores picos de
alimentação por fruto (incluindo sementes), foram nos meses de Agosto e Setembro época
de frutificação de alguns cipós importantes para a dieta do grupo, com destaque para o cipó
caboclo (Davilla kunthii) e o cipó bugio (Coccoloba striata). As flores passaram a entrar
na dieta a partir do mês de Outubro, sendo seu consumo maior no mês de dezembro.
40
Tabela 8: Número de registros de cada item alimentar por mês.
Número (% total) de registros coletados em cada mês
Item Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Fruto 77(89,53) 153(76,88) 108(59,67) 81(35,37) 152(53,71)
Folha 8(9,30) 11(5,53) 54(29,83) 106(46,29) 80(28,27)
Flor 0(0,00) 0(0,00) 3(1,66) 7(3,06) 27(9,54)
Semente 0(0,00) 23(11,55) 0(0,00) 2(0,87) 11(3,89)
Inseto 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00)
Não identif. 1(1,16) 12(6,03) 16(8,84) 33(14,41) 13(4,59)
Total 86 199 181 229 283
As folhas jovens foram o alimento alternativo mais importante para a dieta dos
guigós. O consumo de folhas jovens dos cipós e das árvores obteve índices quase
similares: 49,1% para cipós e 50,9% para árvores. Diferente do que foi descrito no estudo
de Souza-Alves (2010) onde as folhas jovens dos cipós tiveram mais da metade dos
registros em relação às das árvores. Este alto consumo de folhas jovens de árvores
ligeiramente mais alto do que dos cipós deve-se a presença da espécie Himatanthus sp.,
popularmente conhecida como Peroba, que passou a ser bastante consumida pelo grupo a
partir do mês de Outubro. Comparando as estações todos os itens consumidos variaram
significativamente. Os frutos foram mais consumidos na estação chuvosa, ao contrario das
folhas e flores que tiveram maiores registros na estação seca (Tabela 9).
Tabela 9:Valores de z binomial para a comparação da proporção dos itens consumidos na
estação chuvosa (Agosto e Setembro) e seca (Novembro e Dezembro).
Número (% total) de registros coletados na estação
Item Chuvosa Seca z(p)
Fruto 230(80,70) 233(45,51) 8,2074(0,000)
Folha 19(6,66) 186(36,33) -9,5553(0,000)
Semente 36(10,84) 11(2,18) 5,1099 (0,000)
Flor 0(0,00) 34(6,64) -4,4544(0,000)
41
4.4. Uso do Espaço
4.4.1. Área de vida
A área ocupada pelo grupo de estudo, de aproximadamente 8,7 ha, coincide com o
extremo setentrional do RVS Mata do Junco, que engloba as instalações da unidade e uma
estrada de serviço do SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto da cidade de Capela
(Figura 12), e é limitada em dois lados por estradas de acesso a povoados e propriedades
vizinhas. Apesar desta configuração, áreas mais próximas à estrada principal foram entre
as mais visitadas pelo grupo de estudo (Figura 13). De fato, os animais apresentaram uma
tolerância considerável à presença de pessoas, veículos e animais domésticos (exceto
cachorro) nestas áreas. No último mês de monitoramento, a estrada principal passou por
obras, mas os sujeitos passaram boa parte de seu tempo na proximidade da borda
juntamente com a movimentação e barulho das máquinas e trabalhadores.
Figura 12: Linha delimitando a área de vida do grupo de estudo C. coimbrai da Mata do
Junco, município de Capela, Sergipe. (Adaptado de GoogleEarth)
42
Figura 13: Diagrama esquemático da área de vida do grupo de estudo, mostrando a
freqüência de visitação em cada quadrante de 50 m x 50 m.
A área de vida do grupo estudado foi ocupada de forma diferente durante os meses
de estudo (Figura 14). Conseqüentemente o tamanho da área usada também variou, entre
4,8 a 6,3 ha. Já o tamanho das áreas utilizadas nas estações chuvosa e seca não teve uma
diferença muito grande variando entre 7 e 7,3 ha. Analisando os valores estatisticamente, o
teste de Kruskal-Wallis confirmou que realmente não houve variação significativa dos
tamanhos das áreas entre as estações (Kruskal-Wallis: H = 2.4000; p = 0,121; g.l.= 1).
43
Figura 14: Freqüência de visitação dos quadrantes da área de vida em cada mês de estudo.
Agosto e setembro tiveram as menores áreas utilizadas (4,8 e 5,5 respectivamente)
pelo grupo de estudo. Isso está relacionado a alta disponibilidade de frutos observada
durante as amostragens.
4.4.2. Percurso Diário
O percurso diário do grupo variou entre 1040,3m a 1298m, durante o estudo, com
uma média total de 1212,3m, resultado que está dentro do padrão encontrado para o gênero
(Tabela 10). Como se pode perceber, não houve variação sazonal significativa entre as
estações (Kruskal-Wallis: H= 2.400; p= 0,1213; g.l.= 1).
Um fato interessante que se observou, foi que na estação chuvosa o grupo teve as
menores áreas de vida utilizadas, devido a alta disponibilidade de frutos dentro do sítio, e
os percursos diários não apresentaram grandes variações entre as estações sendo o mês de
44
setembro a segunda maior média em percurso diário. Isso significa que os animais estão
utilizando uma menor área na estação chuvosa, mas se movimentando bastante dentro do
sítio, ou seja, os animais podem estar voltando às mesmas árvores para se alimentarem, ao
contrário de explorar novas áreas.
Tabela 10: Média mensal do percurso diário do grupo de estudo de C. coimbrai da Mata
do Junco.
Média mensal do percurso diário (m) e desvio
padrão
Mês Média (m)±Dp
Agosto 1040,3±179,7
Setembro 1275,7±763,4
Outubro 1237,3±578,6
Novembro 1210±259,6
Dezembro 1298±174,9
4.4.3. Sítios de Dormida
Durante o estudo o grupo utilizou cinco árvores de dormida (Figura 15), todas de
diferentes espécies e relativamente altas pelos padrões do habitat local, diferente do que
analisou Souza-Alveset al., (2011), onde os animais utilizaram árvores de mesma espécie
(Tabela 11). Apesar de selecionar um total de cinco árvores diferentes em 28 noites, o
grupo apresenta uma preferência forte pelas árvores 3 e 4 que são localizadas próximas
uma da outra de forma que suas copas se interligam. Foi observado também que cada
árvore de dormida possui um galho específico escolhido pelos guigós para passarem a
noite (Figura 16), todos sempre juntos e com suas caudas enroscadas.
45
Figura 15: Localização das árvores de dormida na área de vida (linha amarela) do grupo
de C. coimbrai da Mata do Junco. - A.D. 1, - A.D. 2, - A.D. 3 e 4, - A.D. 5.
46
Tabela 11: Árvores de dormida usadas pelo grupo de estudo e freqüência de utilização.
Figura 16: O grupo de estudo (6 indivíduos) pernoitando na árvore 4. Foto: M. Marques
(Set, 2011).
Árvore
Nome vulgar
Espécie
Família
Altura
No. de noites em
que foi utilizada
1
Louro Cagão
Ocotea
glomerata
(Nees) Mez
Lauraceae
15
1
2
Peroba
Himatanthus
sp.
Apocynaceae
18
3
3
-
Espécie não
identificada
-
18
11
4
Massaranduba
Pouteria
grandiflora(A.
DC.) Baehni
Sapotaceae
18
10
5
Sucupira
Bowdichia
virgilioidesKu
nth
Fabaceae
17
3
47
4.4.4. Uso do Espaço Vertical
Em boa parte dos registros (74,13%), os animais foram observados utilizando o
estrato mediano da floresta (Figura 17). Foram poucos os registros abaixo dos cinco metros
sendo todos eles comportamentos de alimentação. Também não foram observados, em
nenhum momento, os animais realizando atividades no chão ao contrário do que observou
Souza-Alves (2010) e Fontes (2011). Como pode se perceber não houve diferença
significante na variação do uso do estrato entre as estações seca e chuvosa (Kruskal-
Wallis: H= 0,0833; p = 0,7728; g.l.= 1) (Figura 18).
Figura 17: Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de Callicebus
coimbrai na UC RVS Mata do Junco, Capela, Sergipe.
Figura 18: Comparação do uso do estrato entre as estações seca e chuvosa.
48
5. DISCUSSÃO
Em geral, o grupo de C. coimbrai monitorado no presente estudo apresentou
padrões de comportamento típicos do gênero Callicebus, sendo caracterizado como um
animal relativamente pouco ativo, frugívoro com tendência para folivoria, que utiliza
preferencialmente o estrato médio da floresta dentro de áreas de vida relativamente
pequenas (Tabela 12). Além do padrão típico do gênero, foi registrado um padrão bem
consistente com os resultados dos estudos anteriores da espécie (Souza-Alves, 2010;
Fontes, 2011; Souza-Alves et al., 2011). Talvez o aspecto mais divergente foi a área de
vida relativamente pequena registrada no presente estudo (Tabela 12), embora esta
divergência poderia ter sido provocada, pelo menos em parte, pelo período reduzido do
presente estudo (cinco meses), especialmente considerando que Fontes (2011) registrou
uma área maior para o mesmo grupo monitorado por Souza-Alves (2010), mas durante um
período bem maior de monitoramento. Ou seja, o tamanho da área de vida parece ser
influenciado pelo período de estudo, o que sugere que o valor registrado no presente estudo
possa ter sido subestimado em 20-30%.
O número de indivíduos do grupo estudado é considerado relativamente grande em
comparação com maioria dos outros estudos inclusive os de Souza-Alvez (2010) e Fontes
(2011). No mês de novembro o indivíduo mais velho da prole dispersou do grupo e neste
mesmo mês a fêmea reprodutora deu luz a gêmeos. O nascimento de gêmeos não é típico
dentro do gênero Callicebus, pois geralmente as fêmeas dão luz a apenas um único
indivíduo (Campbell et al. 2011). Esse pode ser o primeiro registro de gêmeos para o
gênero Callicebus. Mas esse episódio não parece ser inédito para o grupo estudado, pois o
fato de existir dois subadultos de tamanhos semelhantes dentro do grupo, indica que já
houve nascimento de gêmeos anteriormente. Talvez isso explique o porquê do grupo
possuir um número relativamente alto de indivíduos.
49
Tabela 12: Padrão comportamental para as espécies de Callicebus.
Percentual de tempo gasto em:
Área de
vida (ha)
Duração do
estudo (meses)
Espécie Repouso Alimentação/forrageio
Deslocamento Interação Social Fonte
C. ornatus 48 20 20 11 14 6 Polanco-Ochoa (1993)
C. lugens 54 18 23 5 22 12 Palacios et al. (1997)
C. lucifer 63
16
16
5
18 14 Easley (1982)
C. personatus 62 21 15 2 5 2 Kinzey & Becker (1983)
C. melanochir 40 27 32 1 24 11 Müller (1995, 1996a)
C. nigrifrons 35 26 33 6 - 12 Souza et al. (1996)
29 40 25 6 48 5 Neri (1997)
C. coimbrai 47 26 18 8 11,7 6 Souza-Alves (2010)
C. coimbrai 34 33 25 7 13,5 11 Fontes (2011)
C. coimbrai 37 31 24 7 8,7 5 Presente estudo
50
As vocalizações de território foram mais freqüentes no período da manhã,
muitas vezes estimuladas por vocalizações de grupos vizinhos, em outros estudos de
Callicebus também foi encontrado o mesmo padrão (Kinzey & Becker, 1983; Prince &
Piedade, 2001b; Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011).
Algumas atividades variaram sazonalmente como a alimentação e o
deslocamento, estas duas categorias também variaram nos estudos de Souza-Alves
(2010) e Fontes (2011). Estes dois comportamentos apareceram em maiores proporções
na estação chuvosa,provavelmente devido a uma maior disponibilidade de frutos
fazendo com que os animais se deslocassem em busca destas fontes e conseqüentemente
repousassem menos. Ao contrario da estação chuvosa a estação seca teve uma
diminuição na alimentação e no deslocamento e um ligeiro aumento no repouso. Isso
mostra que os animais escolheram, nesta estação, minimizar o gasto energético, visto
que seu alimento mais importante energeticamente, os frutos, provavelmente estão
disponíveis em menores quantidades.
A dieta do grupo estudado consistiu de frutos, folhas (jovens e maduras), flores e
sementes, não havendo consumo de presas animais (insetos). Os frutos (juntamente com
as sementes) foram o item mais consumido em quase todos os meses de estudo, isso
reforça o padrão frugívoro do gênero. As folhas foram o segundo item mais registrado e
por ultimo aparecem as flores. Na maioria das espécies estudadas de Callicebus, as
folhas aparecem como recurso complementar na dieta, as flores e insetos geralmente
possuem pequenos registros, com exceção do estudo de Neri (1997) com C. nigrifrons,
no qual as flores foram o segundo item mais consumido pelos animais (Tabela 13).
As folhas jovens foram o item preferido na complementação da dieta de C.
coimbrai do presente estudo. Souza-Alvez et al., (2011) também identificou essa
preferência e ainda verificou que as folhas jovens oriundas de cipós foram as mais
ingeridas. O autor considerou isso um fator chave na tolerância a fragmentação de
habitat. No presente estudo também ocorreu uma preferência por folhas jovens, mas
neste caso, as folhas jovens dos cipós e das árvores foram consumidas quase que
igualmente. Isso devido a duas espécies de árvores Himatanthus sp1 e Himatanthus sp2,
as quais os animais consumiram bastante no período seco. Por sinal, estas duas espécies
não ocorreram nos estudos deSouza-Alvez et al., (2011). Apesar de os sítios de estudo
da Trapsa e da Mata do Junco terem tamanhos diferentes e uma provável estrutura de
habitat também diferentes, acredita-se ainda que o fator chave para a tolerância a
51
fragmentação seja a alta exploração de folhas jovens, no caso do presente estudo, folhas
jovens tanto oriunda das árvores como dos cipós.
A exploração de sementes parece ser dependente do sítio em que os animais
vivem, mais do que uma característica da espécie. Alguns autores citaram que espécies
Amazônicas possuem uma maior tendência para o consumo de sementes (Kinzey, 1977;
Palacios et al., 1997; Palacios & Rodriguez, no prelo), mas altas taxas foram
registradas para C. melanochir (Muller, 1996a; Heiduck, 1997), espécie vizinha do C.
coimbrai. Apesar dos valores baixos registrados para C. coimbrai, pode existir uma
tendência para o maior consumo de sementes pelos Callicebus nordestinos em
comparação com as populações do Sudeste. Já o consumo de insetos parece ocorrer ao
acaso, pois irá depender da disponibilidade de fontes lucrativas, como no caso do
registro que ocorreu com o C. coimbrai da fazenda Trapsa (Souza-Alves, 2010; Fontes,
2011), no qual os animais se deparam com larvas lepidópteras dispostas em uma árvore.
Tabela 13: Composição da dieta em diferentes espécies do gênero Callicebus.
Percentual de itens consumidos
Espécie Fruto Folha Flor Inseto Semente Fonte
C. ornatus 81 8 2 9 - Polanco (1992)
apud Defler (2004)
C. brunneus 54 28 2 17 - Wright (1985)
50 39 - 11 - Crandlemire-Sacco
(1988)
C. lugens 59 6 4 3 27 Palacios et al.
(1997)
34 10 3 4 48 Palacios &
Rodriguez (no
prelo)
C. lucifer 30 13 - 14 37
Kinzey (1977)
74 9 <1 16 - Easley (1982)
C.
personatus
55
18
22
-
-
Price & Piedade
(2001a)
57 26 2 - - Price & Piedade
(2001a)
52
Percentual de itens consumidos
Espécie Fruto Folha Flor Inseto Semente Fonte
81 18 1 - - Kinzey & Becker
(1983)
C.
melanochir
43 17 - - 34
Müller (1996a)
59
14 <1 <1 26 Heiduck (1997)
C. nigrifrons 46 33 11 10 -
Souza et al. (1996)
64 5 24 3 - Neri (1997)
C. coimbrai 55 19 2 5 8 Souza-Alves
(2010)
C. coimbrai 66 26 7 1 8 Fontes (2011)
C. coimbrai 58 26 3 - 5 Presente estudo
A composição da dieta variou entre as estações. Os frutos foram o item mais
consumido nas duas estações, sendo que constituíram mais da metade dos registros na
estação chuvosa. Já as folhas e as flores tiveram seus maiores índices na estação seca e
as sementes, assim como os frutos, na estação chuvosa. O mesmo padrão pode ser
observado nos estudos de C. coimbrai (Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011), apenas
ocorrendo diferenças na quantidade ingerida de cada item e também na ausência da
ingestão de presas animais (insetos).
A variação sazonal na composição da dieta influenciou na utilização do espaço
pelos guigós, pois percebeu-se que os animais usaram uma menor área na estação
chuvosa (agosto e setembro), isso está relacionado com uma maior disponibilidadede
frutos observada durante as amostragens nesta estação. Os meses secos (novembro e
dezembro) tiveram as maiores áreas, mostrando que os guigós utilizaram outras áreas a
procura de fontes alternativas de alimento em decorrência da escassez do seu recurso
alimentar preferido.
As fontes de alimentação geralmente ocorrem nos estratos mediano da floresta.
Os guigós estudados utilizaram, na maior parte do tempo, justamente os estratos
medianos. O mesmo foi observado nos estudos de Müller (1996), Neri (1997), Souza-
Alves (2010) e Fontes (2011). Os estratos abaixo de cinco metros e acima de 16 metros
tiveram baixos índices e não houve em nenhum momento registro de animais no chão.
53
Algumas espécies de plantas identificadas no presente estudo também ocorreram
nos estudos de C. coimbrai da fazenda Trapsa (Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011).
Dentre elas a Tapirira guianensis, Xylopia aromática,Davilla kunthii, Guapira
noxiaeCoccoloba striata.Das espécies registradas as mais consumidas pelos guigó do
presente estudo foram a Miconia sp.1, a Himatanthussp.2 e a Davilla kunthii.Nenhuma
destas três espécies apareceram como mais importantes nos estudos deSouza-Alves
(2010) e Fontes (2011) duas delas inclusive não obtiveram nenhum registro.
Comparando com outros estudos de Callicebus, principalmente o C. coimbrai da
fazenda Trapsa no sul de Serpipe, a área de vida dos guigós da Mata do Junco (presente
estudo) se apresentou relativamente pequena, apesar de estar localizada dentro de uma
área de floresta contínua (Tabela 12). Alguns fatores podem ter influenciado esse
pequeno tamanho, como a presença de grupos residentes e o comportamento
territorialista destes animais, já que a densidade das populações de C. coimbrai da Mata
do Junco é maior do que, por exemplo, a da fazenda Trapsa. Essa maior densidade no
Junco pode ser explicada por um maior número de habitats apresentando condições
favoráveis a sobrevivência da espécie, ou seja, ambientes com bom estado de
conservação. Vale também ressaltar que esta área pode vir a ser maior em decorrência
de uma maior duração do estudo como ocorreu com Souza-Alves (2010) e Fontes
(2011) que estudaram o mesmo grupo, sendo o último com maior duração e
conseqüentemente uma maior área de vida registrada. Alguns estudos registraram áreas
de vida menores do que a do presente estudo, por exemplo, Bilbao et al. (2005)
registraram uma área de 3,3 ha para C. discolor em floresta continua no Equador e
Kinzey & Becker (1983) uma de 5 ha para C. personatus no Brasil (embora este estudo
tenha durado apenas dois meses).
Os guigós do presente estudo dividem sua área de vida com cerca de três grupos
de sagüis (Callithrix jacchus). Quanto as presença destes indivíduos, os guigós não se
mostraram incomodados. Durante quase todos os dias de monitoramento ocorreram
encontros entre as duas espécies e um registro de interação social, na maioria das vezes
os encontros ocorreram de maneira rápida.
O encontro entre estas duas espécies pode ser considerado um comportamento
de associação. A associação entre espécies de primatas simpátricos e com habitats
similares já foi documentada para diversas espécies (Waser, 1987; Heymann, 1990;
Lopes & Ferrari, 1994). Estas associações podem trazer benefício, em alguns casos,
parece trazer benefícios mútuos e em outros casos unidirecionais.
54
Segundo Waser (1987) nas associações podem ser observadas diversas
interações como: esquiva, aproximações, expulsões, forrageamento catação,
brincadeiras e até mesmo acasalamentos. Essas associações podem ser breves, porem
freqüentes, ou permanentes.
Terborgh (1983) identificou uma forte associação entre Saguinos imperator e
Saguinos fisicollis onde os animais realizavam suas atividades juntos. No caso do
presente estudo os encontros entre Callicebus coimbrai e Callithrix jacchuseram
caracterizados pela passagem dos sagüis junto ao grupo de guigós ou vice versa, até
mesmo ocorrendo viagens juntos por um curto espaço de tempo.
Existem vários estudos que mostram a associação entre primatas de diferentes
espécies que dividem o mesmo território. No caso dos guigós e dos sagüis, essa relação
entre estas duas espécies pode ser chamada de associação. Percebeu-se que os sagüis
são muito mais ativos que os guigós, talvez por esse motivo os encontros não sejam
muito demorados.
Nos estudos de Souza-Alves (2010) e Fontes (2011) os encontros com os sagüis
não foram tão freqüentes quanto o presente estudo, pelo fato desta área possuir poucas
populações de Callithrix jacchus (Chagas, 2009). Segundo Chagas (2009) a presença de
C. coimbrai no fragmento poderia ser um dos fatores que influenciaria no baixo numero
de populações de sagüis. Isso contraria o que ocorre na Mata do Junco onde se observa
um bom numero de populações de sagüis convivendo diariamente com os guigós.
O percurso diário do grupo estudado está dentro do padrão para o gênero, sendo
um dos maiores percursos registrados para as espécies de Callicebus já estudadas
(Tabela 14).Esses altos números registrados pode ter sido influenciado pela metodologia
utilizada no estudo, como no caso o uso do GPS. A maioria dos estudos anteriores não
utilizaram métodos confiáveis o que pode ter subestimado os resultados no final. A
estação chuvosa apresentou as menores áreas utilizadas e os percursos diários tiveram
uma pequena diferença entre as estações, isso significa que os animais podem estar
utilizando as mesmas áreas, ao invés de explorar novas áreas. Isso pode ser verificado
através da plotagem dos pontos do GPS no programa Trackmaker, onde pode se
observar a trajetória feita pelos animais em cada dia de monitoramento e observou-se
trajetórias não lineares na estação chuvosa, onde os pontos se repetem muitas vezes
numa mesma área.
55
Tabela 14: Média dos percursos diários para espécies de Callicebus.
Espécie Média do percurso diário (km) Fonte
C. ornatos 0,85 Polanco-Ochoa (1993)
C. brunneus 0,641
Wright (1985, 1986)
C. lucifer 0,68 Kinzey (1977), Kinzey et al. (1977)
0,82 Easley (1982)
C. torquatus 0,80 Kinzey (1981)
C. personatus 1,00 Price & Piedade (2001a)
0,69 Kinzey & Becker (1983)
C. melanochir 1,00 Müller (1995, 1996a), Müller &
Pissinatti (1995)
C. nigrifrons 1,27 Neri (1997)
C. coimbrai 1,21 Presente estudo
1Médiapara dois grupos de estudo.
O número de árvores de dormida ao longo do período de estudo é semelhante ao
apresentado porSouza-Alves et al. (2011) e Heiduck (2002). Um fato interessante é que
os guigós costumavam repetir a mesma árvore por várias noites consecutivas, o mesmo
ocorreu nos estudos de Souza-Alves et al. (2011). Geralmente espécies de pequenos
primatas platirríneos (Ferrari &Lopes, 1990; Heymann 1995; Smith etal,.2007) tendem
a apresentar um grande numero de sítios de dormida e não costumam repetir a mesma
árvore utilizada na noite anterior. Esse comportamento é considerado uma estratégia
para evitar uma provável predação no sítio de dormida (Heymann 1995; Zhang 1995; Di
Bitetti et al. 2000).Isso não ocorreu com os indivíduos do presente estudo e o de Souza-
Alves et al. (2011) que concluíram que o padrão de seleção e uso de sítios de dormida
foi determinado principalmente pela ameaça de predação pelas populações locais de
Cebus xanthosternos. No entanto, no presente estudo, não se observou nenhuma ameaça
de predação, o que não quer dizer que não exista, mas se existir, as ameaças podem ser
relativamente baixas o que faz com que os animais não precisem usar de
comportamentos estratégicos, como no caso da repetição das mesmas árvores de
dormida em noites consecutivas.
Sabe-se que a principal ameaça as populações de C. coimbrai é a perda continua
de habitat através da destruição das florestas em que habitam. Para que haja manutenção
56
da espécie, medidas precisarão ser tomadas, como por exemplo, a implementação de
reservas protegidas (como é o caso da UC Mata do Junco), a aplicação de estratégias de
manejo metapopulacional, como translocação ou reintrodução e a aplicação de
corredores ecológicos interligando fragmentos florestais.
Para a implementação dessas medidas é preciso que haja a realização de estudos
ecológicos e comportamentais a fim de conhecer melhor a espécie e para que ela seja
manejada da forma correta. Com por exemplo, a partir dos estudos de C. coimbrai,
sabe-se que estes animais funcionam como um importante dispersor de sementes. Eles
são verdadeiros “jardineiros” das florestas, contribuindo para a regeneração de hábitats.
O estudo também reforçou, de forma geral, o que outros autores já tinham confirmado,
que é a habilidade que a espécie tem de sobreviver em habitats impactados sendo as
diferenças entre os grupos determinada principalmente por fatores locais, como por
exemplo, a composição da floresta e da comunidade de primatas. Sabe-se que estes
primatas conseguem sobreviver em ambientes impactados, mas não se sabe se a espécie
conseguirá se manter nessas mesma condições a longo prazo.
O presente estudo também forneceu dados a cerca das espécies de plantas que
fazem parte da dieta desses animais. Essa informação é de grande importância para o
planejamento de corredores ecológicos que poderão utilizar justamente as espécies que
foram identificadas na área de vida do grupo estudado.
57
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco é um dos maiores remanescentes de
Mata Atlântica do Estado de Sergipe sendo uma área de grande importância em termos
de conservação de ecossistemas. É formado por vários fragmentos de mata
remanescentes em diferentes estágios de regeneração (Santos, 2009), visto que já sofreu
forte pressão antrópica.
Avaliando os resultados do presente estudo, verificou-se que o grupo de estudo
de C. coimbrai apresentou um padrão comportamental e dieta típicos do gênero (e da
espécie), sendo caracterizado como um animal pouco ativo, frugívoro/folívoro, que
utiliza áreas pequenas de floresta. Frente à variação sazonal na disponibilidade de
recursos, o grupo se adaptou, principalmente por meio da substituição sistemática de
recursos preferenciais (frutos) por alternativos, principalmente folhas. O aumento na
proporção de folhas na dieta foi acompanhado por um aumento no tempo gasto em
repouso, sugerindo uma redução de atividade em resposta a uma dieta de menor
qualidade energética, e a possível adoção de uma estratégia de forrageio minimizador de
tempo.
De um modo geral os estudos de C. coimbrai da fazenda Trapsa e da Mata do
Junco apresentaram resultados bem parecidos, como a questão do padrão de atividades,
a composição da dieta e o número de sítios de dormida. Algumas diferenças foram
notadas como a presença de infantes gêmeos no grupo e também um número alto de
indivíduos compondo o grupo da Mata do Junco.
Com as informações sobre o comportamento da espécie e principalmente do que
estes animais se alimentam, poderão ser implementadas medidas que ajudarão na
conservação da espécie como a aplicação de corredores ecológicos e a reintrodução ou
translocação das espécies. A UC RVS Mata do Junco é formada por vários fragmentos,
a partir dos estudos de grupos de C. coimbrai locais, as espécies de plantas
identificadas, que fazem parte da dieta desta espécie, poderão ser utilizadas na
restauração destas áreas degradadas a fim de interligar os fragmentos da Mata do Junco
O presente estudo então contribuiu para a base de dados da espécie C. coimbrai.
Mas apesar dos avanços no conhecimento da espécie, ainda se faz necessário estudos
contínuos com o mesmo grupo que já está em andamento (R. Chagas com. Pess.) e até
mesmo com outros grupos, para uma caracterização mais confiável sobre a ecologia da
espécie.
58
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