FACULDADE BOA VIAGEM – DEVRY BRASIL
CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – CCPA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL – MPGE
VANGNO CHARLES DO NASCIMENTO
ECONOMIA DA FELICIDADE E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: UM
ESTUDO EMPÍRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU-PE
RECIFE/PE
2015
VANGNO CHARLES DO NASCIMENTO
ECONOMIA DA FELICIDADE E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: UM
ESTUDO EMPÍRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU-PE
Dissertação apresentada como requisito
complementar para a obtenção do grau de
Mestre em Gestão Empresarial do Centro de
Pesquisa e Pós-Graduação em Administração –
CPPA da Faculdade Boa Viagem – DeVry
Brasil, sob a orientação do Prof. Olímpio José
de Arroxelas Galvão, PhD
RECIFE/PE
2015
Catalogação na fonte -
Biblioteca da Faculdade Boa Viagem - DeVry, Recife/PE
N244e Nascimento, Vangno Charles do.
Economia da felicidade e habitação de interesse social: um
estudo empírico no município de Caruaru - PE / Vangno Charles
do Nascimento. – Recife: FBV | DeVry, 2015.
79 f.
Orientador(a): Olímpio José de Arroxelas Galvão.
Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade
Boa Viagem | Devry.
Inclui anexo.
1. Economia da felicidade. 2. Habitação do interesse social.
3. Casa própria. I. Título. DISS 58[15.2]
Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry
AGRADECIMENTOS
Embora o desenvolvimento de uma dissertação de mestrado em boa parte seja um trabalho
individual, ele não é um trabalho solitário. Algumas pessoas foram importantes no decorrer
desta atividade:
A Deus, o único que é digno de receber a honra e a glória, a força e o poder;
Ao meu orientador Prof. Olímpio, que se dedicou na orientação desta dissertação e
confiou na minha proposta de pesquisa;
À minha família que teve paciência em momentos que abdiquei do tempo que passaria
com eles para a realização deste trabalho;
Aos colegas do MPGE pela amizade que foi construída no decorrer do mestrado;
Aos amigos de longa data, pelo companheirismo e sinceridade;
Ao Banco do Brasil que patrocinou este curso de mestrado.
RESUMO
Os economistas têm despertado grande interesse em estudar o bem-estar humano sob uma nova
ótica, a abordagem da felicidade. O foco principal tem sido entender a relação entre felicidade
e os resultados econômicos. Para isso, a satisfação da vida tem sido observada com base na
abordagem subjetiva da felicidade que permite observar a relação entre o bem-estar subjetivo
informado e uma série de variáveis como, renda, desemprego, inflação, criminalidade, e
características sociais, econômicas e institucionais do próprio indivíduo. A ferramenta usada
para aferir bem-estar, nesse contexto, é o questionamento direto aos indivíduos acerca da
satisfação que eles experimentam com a vida que têm levado. A economia da felicidade, como
tem sido denominada esta área de pesquisa, tem resultado em muitas implicações para políticas
em várias áreas, principalmente políticas de habitação de interesse social. Este trabalho propõe
ainda uma aplicação simples da abordagem da felicidade, por meio da equação da felicidade de
Corbi e Menezes-Filho (2007), para a cidade de Caruaru, no estado de Pernambuco, no tocante
à casa própria e ao nível de renda de seus habitantes. Nas estimações, utiliza-se dos métodos de
MQO (mínimos quadrados ordinários) e a Subjective Happines Scale (SHS). As evidências
econométricas, com controles simultâneos sobre diversas variáveis determinantes da felicidade,
apontam para a existência de uma relação positiva em favor da renda e da casa própria. De
maneira geral, a partir dos resultados, infere-se que os indivíduos mais jovens, do gênero
feminino, com renda maior, solteiros, que possuem algum tipo de ocupação, moram com
amigos ou que possuem uma casa própria, são na média mais felizes.
PALAVRAS CHAVES: Economia da Felicidade, Habitação de Interesse Social e Casa
Própria.
ABSTRACT
Economists have aroused great interest in studying human well-being in a new light, the
approach of happiness. The main focus has been to understand the relationship between
happiness and economic outcomes. For this, the fulfillment of life has been observed based on
the subjective approach of happiness that allows us to observe the relationship between reported
subjective well-being and a number of variables such as income, unemployment, inflation,
crime, and social, economic and institutional characteristics of the individual him or herself.
The tool used to assess well-being in this context is the direct questioning of individuals about
the satisfaction they experience with the life they have led. The economy of happiness, as this
area of research has been denominated, has resulted in many implications for policies in various
areas, particularly policies of social housing. This paper proposes a simple application of the
approach of happiness, using the equation of happiness formulated by Corbi and Menezes-Filho
(2007), to the city of Caruaru, in the state of Pernambuco, with regard to home ownership and
the level of income of its inhabitants. For the estimates, we used the ordinary least squares
method (OLS) and the method of the Subjective Happiness Scale (SHS). The econometric
evidence, with simultaneous control of several determinants of happiness, point to the existence
of a positive relationship in favor of income and home ownership. In general, from the results,
it appears that younger individuals, females, with higher income, unmarried, who have some
kind of occupation, living with friends or owning a home are, on a average, much happier.
KEY WORDS: Economics of Happiness, Social Housing and Home Ownership.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Bem-estar subjetivo (u), renda (y) e nível de aspirações (A) ............................... ...23
Figura 2 – Pirâmide das necessidades de Maslow......................................................................24
Figura 3 – Etapas da pesquisa....................................................................................................40
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Ranking de felicidade 2012-2014 ........................................................................ ..28
Gráfico 2 – Saldo total de financiamento imobiliário no Brasil em R$ Bilhões.......................37
Gráfico 3 – Nível de felicidade informado................................................................................49
Gráfico 4 – O que faria você mais feliz em primeiro lugar ................................................... ...51
Gráfico 5 – Classificação dos respondentes por gênero.................. .........................................53
Gráfico 6 – Classificação dos indivíduos por estado civil.........................................................54
Gráfico 7 – Classificação dos indivíduos quanto a moradia ............................................... .....56
Gráfico 8 – Condição do indivíduo possuir ou não casa própria.................................................56
Gráfico 9 – Ranking de felicidade subjetiva de Caruaru-PE.....................................................63
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Classificação das variáveis estudadas.................................................................. ..47
Quadro 2 – Classificação dos indivíduos por faixa de renda........... ..........................................53
Quadro 3 – Classificação dos indivíduos quanto a posição no mercado de trabalho..................55
Quadro 4 – Matriz de correlação entre as variáveis independentes..........................................62
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Análise descritiva da variável idade.. ................................................................... ..52
Tabela 2 – Coeficientes de correlação de Spearman.................................................................58
Tabela 3 – Equação da felicidade no método MQO...................................................................59
Tabela 4 – Teste de heterocedasticidade....................................................................................61
Tabela 5 – Nível de felicidade informado versus idade.............................................................65
Tabela 6 – Nível de felicidade informado versus gênenro.........................................................65
Tabela 7 – Nível de felicidade informado versus renda.. ....................................................... ..66
Tabela 8 – Nível de felicidade informado versus estado civil.......... ..........................................66
Tabela 9 – Nível de felicidade informado versus ocupação............................... ......................67
Tabela 10 – Nível de felicidade informado versus moradia............................... ......................67
Tabela 11 – Nível de felicidade informado versus casa própria........................... ......................68
Tabela 12 – Tabela de distribuição normal................................................................................78
LISTA DE SIGLAS
ABECIP
BACEN
BNH
CBIC
DIEESE
FGTS
FGV
FHC
FMI
IBGE
IDH
IPEA
MQO
OCDE
OHI
OLS
ONU
PAIH
PANAS-X
PIB
PNAD
PNUD
SDSN
SEAC
SESC
SESI
SFH
SFI
SHS
SWLS
WVS
Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário
Banco Central
Banco Nacional de Habitação
Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
Fundação Getúlio Vargas
Fernando Henrique Cardoso
Fundo Monetário Internacional
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Índice de Desenvolvimento Humano
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
Mínimos Quadrados Ordinários
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Oxford Happiness Inventory
Ordinary Least Squares
Organização das Nações Unidas
Plano de Ação Imediata para a Habitação
Positive and Negative Affect Schedulle – expaned form
Produto Interno Bruto
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustainable Development Solutions
Secretaria Especial de Ação Comunitária
Serviço Social do Comércio
Serviço Social da Industria
Sistema Financeiro de Habitação
Sistema Financeiro Imobiliário
Subjective Happiness Scale
Satisfation With Life Scale
World Values Survey
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... ..14
1.1 Contextualização.................................................................................................................14
1.2 Pergunta de Pesquisa...........................................................................................................16
1.3 Objetivos ............................................................................................................................ .17
1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 17
1.3.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 17
1.4 Justificativas ....................................................................................................................... 17
1.5 Estrutura da dissertação.......................................................................................................19
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 20
2.1 Economia da felicidade ...................................................................................................... 20
2.2 Evidências empíricas sobre felicidade ................................................................................ 23
2.3 Níveis de felicidade no Brasil e no Mundo..........................................................................27
2.4 Economia da felicidade como paradigma da habitação de interesse social ....................... 29
2.5 Histórico da habitação no Brasil ....................................................................................... ..30
2.6 Habitação de interesse social versus habitação de mercado ............................................ ...33
2.7 Panorama do mercado de habitação no Brasil atual ......................................................... ..36
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... ...40
3.1 Desenho da pesquisa ........................................................................................................ ...40
3.2 Caracterização da pesquisa .......................................................................................... .......40
3.3 Locus da pesquisa ............................................................................................................... 41
3.4 População e amostra............................................................................................................41
3.5 Instrumento de coleta de dados............................................................................................43
3.6 Tratamento e análise de dados..............................................................................................43
3.7 Limitações da Pesquisa........................................................................................................46
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................................................47
4.1 Definição das variáveis estudadas.......................................................................................47
4.2 Análise descritiva................................................................................................................48
4.2.1 Nível de felicidade informado...........................................................................................49
4.2.2 Idade.................................................................................................................................52
4.2.3 Gênero..............................................................................................................................52
4.2.4 Renda................................................................................................................................53
4.2.5 Estado civil.......................................................................................................................54
4.2.6 Ocupação..........................................................................................................................54
4.2.7 Moradia............................................................................................................................55
4.2.8 Casa própria......................................................................................................................56
4.3 Análise empírica..................................................................................................................57
4.3.1 Regressão pelo método dos mínimos quadrados..............................................................59
4.3.1.1 Teste de heterocedasticidade.........................................................................................61
4.3.1.2 Teste de multicolinearidade...........................................................................................62
4.4 Nível de felicidade subjetiva de Caruaru-PE........................................................................63
5 CONCLUSÕES......................................................................................................................69
REFERÊNCIAS............... ............................................................................................ ............71
ANEXOS ..... .............................................................................................................................75
ANEXO A – Questionário estruturado e Subjective Happines Scale.........................................76
ANEXO B – Tabela de distribuição normal...............................................................................78
14
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
A teoria econômica, desde os primórdios, sempre esteve preocupada em estudar o bem-estar,
preocupação essa visível na abordagem clássica e na concepção da economia política. O bem-
estar por muito tempo foi analisado sob a ótica da utilidade subjetiva, baseada no axioma da
preferência revelada, o qual impõe à análise uma visão materialista, onde o bem-estar é avaliado
segundo critérios monetários, mais especificamente, critérios de renda.
Antes mesmo de o tema felicidade ser tratado na ciência econômica, Aristóteles já se
questionava sobre felicidade numa sociedade ideal há mais de dois mil anos, falando sobre Ética
e Ciência Política. No século XVIII, Adam Smith reitera essa questão, quando identificou que
em toda a atividade humana, todas as pessoas, em todos os momentos, são motivadas pela
satisfação do seu interesse próprio, atitude caracterizada por Smith como a mais intuitiva e
intrínseca forma de procura da felicidade.
No entanto, observações paradoxais sobre a relação entre renda e bem-estar despertaram o
interesse de economistas em analisar os determinantes do bem-estar num sentido mais amplo,
que englobasse, além dos fatores objetivos (aqueles ligados à renda), fatores subjetivos, como
sentimentos, experiências vividas e expectativas futuras. Fazendo um paralelo com a
psicologia, a ciência econômica passou, então, a analisar o bem-estar humano através da
abordagem da felicidade.
O estudo da felicidade, ou economia da felicidade, propõe uma nova forma de mensuração do
bem-estar, o que se pode chamar de uma visão subjetiva da utilidade, a qual se baseia na
investigação do bem-estar subjetivo. Ao invés de preferência revelada, o bem-estar é avaliado
diretamente, através do nível de satisfação com a vida, informado pelo próprio indivíduo. Tem-
se, dessa forma, uma visão mais ampla da utilidade individual, uma vez que no momento em
que uma pessoa responde como se sente em relação à sua vida, uma série de fatores são levados
em conta, ou seja, tanto fatores monetários como não-monetários.
O método utilizado na abordagem da economia da felicidade, como já referido, é a obtenção de
dados sobre a satisfação individual de forma direta. Daí, pode-se afirmar que se analisa o nível
15
de bem-estar subjetivo informado. Tal abordagem baseia-se na aplicação de questionários que,
comumente, têm como pergunta principal como os indivíduos, analisando sua vida
globalmente, avaliam sua satisfação com a vida que têm levado. Verifica-se dos
“entrevistados”, ainda, características sociais, econômicas, demográficas e institucionais.
Ao analisar os fatores determinantes do bem-estar humano, a abordagem da felicidade permite
avaliar a influência de algumas variáveis-chave nesse bem-estar. Variáveis renda, desemprego,
inflação, criminalidade, são alguns dos fatores que têm despertado a atenção dos economistas
(CORBI; MENEZES-FILHO, 2006; GIANETTI, 2006). Esse tipo de abordagem permite, além
de uma análise descritiva (estágio inicial da economia da felicidade), uma análise empírica
baseada em ferramentas estatísticas e econométricas. O estudo analítico e empírico da
felicidade tem sido aplicado em várias sociedades, promovendo uma visão mais abrangente de
bem-estar, mas também levantando questões contraditórias, que precisam ser estudadas ainda
mais.
A análise empírica dos resultados vale-se de exercícios econométricos por meio da análise de
regressão múltipla de mínimos quadrados ordinários (MQO), que é o modelo estatístico mais
usualmente empregado na ciência política contemporânea. Hair et al (2009) afirmam que a
análise de regressão múltipla é uma técnica estatística que pode ser usada para analisar a relação
entre uma única variável dependente e múltiplas variáveis independentes (preditoras). Além do
MQO, o estudo utiliza a Subjective Happines Scale (SHS) que, por meio de estatística
descritiva, é possível inferir um índice de felicidade da amostra selecionada (LYUBOMIRSKY
e LEPPER, 1999).
Como se verá adiante, nos diversos estudos que tratam o tema felicidade, variáveis subjetivas
e variáveis sócio demográficas e sócio econômicas são tratadas como determinantes da
felicidade humana. Entretanto, vale destacar que a casa própria também pode ser considerada
um objeto de maximização do bem-estar (NERI, 2014; NIZA, 2007). Por isso, a importância
da variável “casa própria” ser incluída no processo de mensuração da felicidade individual e
coletiva.
Pode-se então dizer que a casa própria com sua função mais intrínseca de abrigar, é uma
necessidade básica e um objeto de aspiração de grande parte dos indivíduos, corroborando a
abordagem teórica da felicidade. No contexto da habitação, a casa própria desempenha, ainda,
duas funções importantes: social e econômica. Como função social, destaca-se a de abrigar a
família e por representar um fator importante do desenvolvimento, a habitação passa a ser o
16
espaço ocupado antes e após a jornada de trabalho, acomodando as tarefas primárias de
alimentação, descanso, atividades fisiológicas e convívio social. Já a função econômica da
moradia é inquestionável: sua produção oferece novas oportunidades de geração de emprego e
renda, mobiliza vários setores da economia local e influencia os mercados imobiliários e de
bens e serviços (NERI, 2014).
Dessa forma, assume-se como propósito fundamental desta pesquisa a aplicação do
conhecimento sobre felicidade à aquisição da casa própria, proveniente dos contributos da
economia da felicidade e da psicologia (disciplina dedicada ao estudo das emoções, cognições
e motivações humanas).
A pesquisa se dá em Caruaru, um município brasileiro do Estado de Pernambuco, situado
na Região Nordeste do país, distante 130 km da capital Recife, e que é o município mais
populoso do interior pernambucano. O município vem exercendo um importante papel
centralizador no Agreste e interior pernambucano, concentrando o principal polo médico-
hospitalar, acadêmico, cultural e turístico da região. Possui uma das maiores festas juninas do
mundo, detém ainda a Feira de Caruaru, conhecida por ser uma das maiores feiras ao ar livre
do mundo e ter sido tombada como patrimônio imaterial do país pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Seu artesanato com barro ficou mundialmente conhecido pelas
mãos de Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, que representou Pernambuco na
exposição de Arte Primitiva e Moderna Brasileira no ano de 1955, na Suíça, podendo
atualmente ter suas obras contempladas no Museu do Louvre, em Paris, e em sua
antiga residência no Alto do Moura, em Caruaru.
1.2 Pergunta de pesquisa
A principal questão a ser investigada é: Em que medida a felicidade subjetiva dos indivíduos
de Caruaru-PE pode estar relacionada com a aquisição da casa própria e seu nível de renda?
17
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Identificar em que medida a felicidade subjetiva dos indivíduos de Caruaru-PE pode estar
relacionada com a aquisição da casa própria e seu nível de renda.
1.3.2 Objetivos específicos
Como objetivos específicos da pesquisa, destacam-se:
Testar a variável dummy casa própria na equação microeconômica de felicidade, conhecida
como “happiness equation”;
Aplicar o modelo econométrico de regressão multivariada Mínimos Quadrados Ordinários
(MQO), considerando as variáveis dummies renda e casa própria como possíveis determinantes
do nível de felicidade subjetiva;
Identificar o grau de felicidade subjetiva (índice de felicidade), por amostra aleatória não
probabilística, da população caruaruense, seguindo o modelo Subjective Happiness Scale
(SHS).
1.4 Justificativas
O tema felicidade é talvez um dos mais antigos da literatura. Os gregos, por exemplo, (nos
tempos da Grécia antiga) se preocupavam com a materialidade da felicidade. Na ciência
econômica este tema esteve presente desde o seu início como ciência, em importantes obras de
Adam Smith, Malthus, Marshal e outros importantes economistas clássicos. Até o início do
século XIX, o tema fazia parte de análises econômicas, porém com a mudança de abordagem,
a nova roupagem, bem-estar/utilidade, ganhou maior evidência. Houve uma pausa nos estudos
envolvendo felicidade humana, porém, uma virada epistemológica com o surgimento de
18
pesquisas empíricas acerca da felicidade, fez com que a partir da década de 1970 este tema se
tornasse atual, despertando um crescente interesse da academia.
No Brasil, a abordagem empírica sobre felicidade ainda é muito incipiente. Pelo interesse e pela
importância que o estudo acerca da felicidade vem despertando na comunidade acadêmica
internacional é de grande relevância que este estudo seja também inserido no Brasil. Assim,
esta pesquisa pretende contribuir para reforçar o debate sobre economia da felicidade na
academia brasileira.
Metodologicamente, a pesquisa proposta está alinhada com os estudos mais recentes sobre
felicidade e, dessa forma, pretende-se trabalhar com análise quantitativa, já que a comunidade
científica assim o está fazendo.
Apesar de os estudiosos da felicidade utilizarem quase por unanimidade a base de dados do
World Values Survey (WVS), o estudo que está sendo proposto trabalha com diferentes
variáveis como determinantes da felicidade, e, além da variável renda, dita como ortodoxa, será
acrescentada apenas uma outra variável, denominada “casa própria”, ainda inédita nos estudos
empíricos sobre felicidade. Assim, o tema habitação ganha certo respaldo na pesquisa, dada
pela sua importância no contexto social com as políticas públicas de habitação, em que se busca
a maximização do bem-estar das pessoas por intermédio da aquisição da casa própria, como
também da sua importância no contexto econômico via geração de renda, acumulação de capital
e criação de riquezas.
Além das motivações acima, que justificam a pesquisa proposta, pode-se ainda destacar mais
uma, de caráter geral. Uma das questões importantes do estudo acerca da felicidade na
economia é a sua relação com as políticas públicas. Se o governo tem como prioridade garantir
o bem-estar da população (priorizando-o em suas políticas), pode-se dizer que ele tem como
objetivo “maximizar a felicidade” das pessoas e não apenas a renda. E se esse é seu objetivo,
então, buscar compreender e encontrar determinantes da felicidade têm uma influência grande
para se pensar as políticas públicas. Se um objetivo da ciência econômica é contribuir para dar
argumentos instrumentais eficazes para a análise de bem-estar da população, segue-se que
investigar as causas da felicidade e suas consequências em âmbito individual e coletivo é de
relevância considerável.
19
1.5 Estrutura da dissertação
Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos, conforme apresentado a seguir.
O primeiro capítulo traz a introdução do trabalho, onde também estão descritos a
contextualização, pergunta de pesquisa, os objetivos, a justificativa da pesquisa proposta e a
estrutura deste trabalho.
No segundo capítulo, encontra-se o referencial teórico, abordando teorias que tratam do tema
felicidade nas mais diversas áreas de estudo, destacando o trato matemático que tem sido dado
ao tema, sua influência no contexto da habitação de interesse social e traz também o nível de
felicidade subjetiva no contexto mundial e brasileiro. Ainda no segundo capítulo, é apresentado
o histórico da habitação no Brasil, uma rápida definição quanto a diferença entre habitação de
mercado e habitação de interesse social e finalmente o capítulo é encerrado com a apresentação
do panorama do mercado de habitação no Brasil atual.
No terceiro capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos, passando pelo desenho
da pesquisa, amostra/população, instrumento de coleta de dados, o modelo a ser estimado, a
tratativa dos dados e as limitações da pesquisa.
O capítulo seguinte traz uma análise dos dados coletados, primeiramente na forma descritiva,
depois são apresentados os resultados empíricos e por fim é estabelecido o nível de felicidade
subjetiva dos caruaruenses.
As considerações finais da dissertação serão feitas no quinto e último capítulo.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Economia da felicidade
Felicidade sempre foi um tema de grande interesse filosófico. Aristóteles (2003), em Ética a
Nicômaco, discute a felicidade (no grego, eudaimonia) como princípio central que guia os seres
humanos em todas as suas motivações. Para o filósofo, a eudaimonia significa mais do que
prazer, sentimento ou satisfação de desejos. Abrange a excelência moral específica à natureza
humana, tornando a questão de como ser feliz equivalente à questão de viver bem.
Para entender a felicidade, Aristóteles discorre sobre o sentido dos bens para o homem, quais
são esses bens e que vantagens eles trazem para a vida humana. Para se conseguir felicidade é
preciso determinar qual é o fim da natureza humana e esta é uma angústia que vem sendo
despertada no ser humano desde o princípio do seu pensar. Afinal, para poder resolver essa
angústia, faz-se necessário descobrir e definir esse “bem, para o qual, antes de tudo, é feito o
homem, o bem pelo qual um ente racional se realiza e que lhe é propriamente conveniente”
(MARITAIN, 1973, p. 28).
Aristóteles procura determinar em que consiste a felicidade. A felicidade, para ele, é um dado
da natureza que existe no homem, que pode ser determinada em torno do conceito de bem, pelo
fato de que é um atributo que se apresenta em várias categorias: “na categoria de substância,
como de Deus e da razão; na de qualidade (diversas formas de virtude); na de quantidade
(daquilo que é moderado); na de relação (do útil); na de tempo (oportunidade apropriada); na
de espaço (lugar conveniente) ” (ARISTÓTELES, 2003, p.22).
O sentimento de felicidade pode, segundo a filosofia de Aristóteles, ser percebido pelo
pertencimento de um bem, a quem o ser humano determina como o fim de todas as coisas, e
assim o deseja e tudo o mais é desejado por causa dele. Aristóteles considera que o bem para
trazer felicidade ao ser humano precisa prevalecer sobre todas as coisas, ser atingível e
realizável pelo ser humano.
Santo Agostinho, em um de seus diálogos filosóficos também defende que a felicidade pode
ser decorrente do pertencimento de um bem assinalando, no entanto, que esse bem deve ser
permanente. Conforme Agostinho, para ser feliz é “necessário que se procure um bem
permanente, livre de variações da sorte e das vicissitudes da vida, pois não podemos adquirir à
21
nossa vontade, tampouco conservar para sempre, aquilo que é perecível e passageiro” (SILVA,
2012, p. 20).
Segundo Silva (2012), para Agostinho o ser humano, que possui bens temporais, não pode ser
feliz de forma absoluta, pois estes bens estão sujeitos à mudança, e podem vir a ser perdidos,
levando o indivíduo a nunca se contentar com o que possui, pois dessa forma a pessoa seria
infeliz, pelo fato de querer sempre mais.
O diálogo De beata vita de Santo Agostinho consiste numa reflexão sobre a felicidade, tendo
como ponto de partida o desejo universal de ser feliz, observável, segundo Santo Agostinho
(1993), em todos os seres humanos. Ao perguntar-se pela natureza da felicidade, Santo
Agostinho se dá conta de que o ser humano só pode ser feliz se tem o que quer, porém também
enfatiza que não é feliz quem tem tudo o que quer. Assim, a felicidade estaria na justa medida,
ou seja, nem para a ausência e nem para a abundância. Mas, para tanto, é necessário, segundo
Santo Agostinho (1993), possuir a sabedoria que é a medida da alma (e, portanto, orientadora
da vontade), no processo de busca da felicidade.
Extrapolando suas origens filosóficas, a discussão sobre felicidade também esteve presente no
prelúdio da economia como ciência. Adam Smith (1999), em a Teoria dos Sentimentos Morais,
identifica a felicidade como fruto de “compostura e tranquilidade de espírito” provenientes de
uma vida virtuosa. Nesta obra, a principal fonte de felicidade humana é a simpatia mútua ou
correspondência de sentimentos, sob o argumento de que as interações sociais constituem um
elemento da felicidade.
Segundo Lima (2007), para Smith, essas interações tenderiam a gerar felicidade quando
existisse um ambiente no qual os participantes se tornassem atentos para compartilhar estados
afetivos ou, no longo prazo, quando proporcionasse um meio para o cultivo de tal estado. Nesse
contexto, Adam Smith desenvolve uma ideia normativa e objetiva da felicidade, denominada
de “real happiness”, baseado num modelo de virtude e prudência.
Na obra “Riqueza das nações”, Adam Smith parece fornecer evidências a essas ideias,
amparadas na distinção dada pelo autor do valor de uso e valor de troca. Para Adam Smith
(2003) a natureza objetiva da utilidade está ligada à ideia de medida real de valor e a felicidade
real está ligada à essa medida, que não poderia ser concebida em termos subjetivos.
Segundo Dib Netto (2014), Adam Smith é cético no que diz respeito à existência de uma relação
entre acumulação de riquezas e felicidade individual, distinguindo os fins “desejados” dos
22
“desejáveis”. Smith (1999) enfatiza que, apesar de a riqueza ser um fim “desejado” por grande
parte da humanidade, isso estaria longe de ser o ideal no que tange ao aspecto moral, uma vez
que o desejável seria a busca incessante pela sabedoria e pela virtude.
Esta relação entre riqueza e felicidade também foi discutida por outro economista clássico
Jeremy Bentham, no ano de 1779, em seu debate sobre o domínio humano da dor e do prazer,
no qual reconhece esta relação como um princípio que move os indivíduos em sua busca pela
maximização da utilidade. Porém, a utilidade é definida como a propriedade que um dado bem
possui de trazer ao indivíduo algum benefício, prazer ou felicidade. Segundo Bentham (1979),
a utilidade entendida nesse sentido permitiria construir a ciência do bem-estar ou da felicidade
e, ainda, quantificar seu valor, assim como faz a física.
A literatura mostra que, a partir do final do século XIX, o bem-estar (utilidade) foi incorporado
como variável principal de interesse dos economistas. Não obstante, conforme aponta Niza
(2007), as reflexões sobre a felicidade na economia foram caracterizadas por contribuições
isoladas até ao fim da década de 1990.
Os economistas Richard Easterlin, em 1974, e Sir Richard Layard (acadêmico ativo na London
School of Economics, e um estudioso da felicidade), deram importantes contribuições para a
consolidação do tema no debate econômico atual, com trabalhos que mostravam relações
empíricas diretas entre as variáveis renda e bem-estar.
Richard Easterlin (1974) encontrou uma correlação positiva entre nível de renda e felicidade.
Para o autor, os indivíduos que possuem uma renda superior são, na média, mais felizes que os
outros. Porém, quando o foco do estudo passa a ser o ciclo de vida surge uma contradição
aparente na relação positiva entre felicidade e renda. Ao passo que a renda e as condições
econômicas, em geral, melhoram ao longo da vida de um indivíduo, o nível de bem-estar
subjetivo não parece obedecer à mesma regra.
Isso porque, segundo Easterlin (1974), a felicidade é determinada pela diferença entre aspiração
e realização e ao passo que os indivíduos vão tendo aumentos gradativos de renda suas
aspirações também tendem a aumentar. Aqueles indivíduos de renda mais elevada terão mais
condições de realizar seus desejos e, portanto, serão na média, mais felizes, entretanto à medida
que mais aspirações são alcançadas o nível de bem-estar proporcionado é menor, como pode
ser verificado na figura 1.
23
Figura 1 – Bem-estar subjetivo (u), renda (y) e nível de aspirações (A).
Fonte: Easterlin (1974)
Se a renda aumentar e as aspirações materiais se mantiverem constantes, os indivíduos se
deslocarão ao longo da curva 𝐴1, atingindo níveis de bem-estar cada vez mais elevados. Mas
se, por outro lado, a renda se mantiver constante e o nível de aspirações se elevar até 𝐴2, a
utilidade associada a um dado nível de renda certamente diminuirá. Easterlin (1974) acredita
que as aspirações materiais evoluem ao longo do ciclo de vida de maneira aproximadamente
proporcional à renda, sendo assim, os indivíduos não se deslocam do nível 2 para o nível 3 ou
4, mas sim para o ponto 5, porque tanto as aspirações quanto a renda aumentaram, minimizando
os efeitos sobre o bem-estar.
2.2 Evidências empíricas sobre felicidade
A economia da felicidade investiga os fatores por trás da felicidade das pessoas, usando não
apenas conceitos e ferramentas da economia, mas também da sociologia, da ciência política, e,
especialmente, da psicologia. Segundo Nery (2014), os estudos em economia da felicidade são
fundamentalmente empíricos e baseados em surveys (pesquisas de opinião) sobre o nível de
felicidade das pessoas: a relação entre as características econômicas, sociais e demográficas –
entre outras – e o nível de felicidade reportado pelos entrevistados é analisado estatisticamente,
para que se compreenda o que torna alguns indivíduos mais felizes do que outros.
24
No campo da psicologia, a pirâmide das necessidades de Maslow (1973) traz um certo suporte
empírico para a mensuração da felicidade, e sugere que a felicidade deve ser multicausal e mais
de que um estado, deve se comportar como um processo dinâmico e adaptativo e deve ter em
conta o desenvolvimento ao longo do tempo e o ambiente circundante dos indivíduos.
Maslow (1973) desenvolveu uma teoria em que o ser humano tem um conjunto de necessidades
organizadas de forma hierárquica, que são sentidas de forma progressiva, à medida que a
satisfação dos patamares inferiores é conseguida.
Figura 2 – Pirâmide das necessidades de Maslow.
Fonte: Maslow (1973).
Segundo o autor, a satisfação das necessidades em cada estágio traz felicidade. No entanto, o
verdadeiro conceito de felicidade seria a realização do potencial humano (necessidades de
ordem superior), depois de preenchidas todas as outras categorias de necessidade. Nesta
perspectiva, Maslow (1973) quantifica a felicidade com base no papel ativo e na construção
positiva do bem-estar, por parte de cada indivíduo.
A literatura mostra, porém, que essa teoria não está livre de críticas. Alguns estudiosos
questionam sobretudo a sequência estabelecida de necessidades, que podem ocorrer em
simultâneo ou por ordens diferentes. Não obstante, essa teoria é ainda hoje a mais robusta e
completa forma de pensar o desenvolvimento e a felicidade humana, servindo de base para
outras propostas dentro de uma perspectiva semelhante.
25
Os economistas partem do princípio que o bem-estar humano é composto por duas dimensões
básicas: a dimensão objetiva e a subjetiva. Segundo Gianetti (2002), a dimensão objetiva é
aquela passível de ser publicamente apurada, observada e medida por fora, e que se reflete nas
condições de vida registradas por indicadores numéricos de nutrição, saúde, moradia,
criminalidade, etc... , enquanto a dimensão subjetiva consiste na experiência interna de cada
indivíduo, isto é, tudo aquilo que passa em sua mente de forma espontânea, que ele sente e
pensa sobre a vida que tem levado.
Apesar da discussão teórica sobre os instrumentos de mensuração do nível de felicidade das
pessoas, objeto de estudo do que hoje se denomina pela Teoria Econômica de “economia da
felicidade”, os economistas e psicólogos baseados em vasta experiência, conforme Dib Netto
(2014, p.47), perceberam que a boa forma de acessar o bem-estar de uma pessoa é perguntando
a ela. Assim sendo, grande parte dos estudos da área é centrada em questões como:
“considerando todos os aspectos, você considera sua vida como: muito feliz, bastante feliz, não
muito feliz ou nada feliz”.
Há ainda, segundo Dib Netto (2014), a possibilidade de pedir a pessoa que se posicione na
“escala de satisfação com a vida” – escala que vai de 0 a 10, sendo 0 destinado à pior vida
possível e 10 à melhor. Ambos os métodos abrangem o mesmo conceito de bem-estar: o
subjetivo.
Entretanto, Frey (2008) mostra que, apesar de dominante nos estudos, o uso do nível de
felicidade reportado pelos entrevistados em surveys (pesquisas de opinião) como medida de
felicidade dos indivíduos não é consensual. Essa técnica de mensuração recebe críticas porque
a resposta dos entrevistados poderia ser influenciada por emoções momentâneas, que não se
enquadram nas concepções de felicidade da psicologia. Essa metodologia também estaria
sujeita a outros possíveis vieses existentes nesse tipo de pesquisa, como o causado pela ordem
das questões.
Por outro lado, organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm validado a
metodologia dos surveys, com o argumento de que o nível de felicidade das pessoas não é a
única variável estudada nas pesquisas de Economia da Felicidade, ou seja, a felicidade é apenas
uma variável dependente, e boa parte da atenção dos estudos se concentra em como ela se
relaciona com outros fatores que a explicam – as variáveis independentes (HELLIWELL,
2013).
26
Nas últimas três décadas, foram diversos os questionários aplicados em vários países,
principalmente os de rendas elevadas, a fim de se auferir respostas sobre o grau de felicidade
dos indivíduos (GIANETTI, 2002). A seguir, estão relacionados as escalas e os questionários
para avaliação de felicidade e bem-estar subjetivo disponíveis na literatura.
A Satisfaction with Life Scale (SWLS) (Diener et al., 1985) verifica o julgamento pessoal do
indivíduo sobre sua qualidade de vida. Trata-se de um instrumento unidimensional de cinco
itens com respostas entre um (“discordo totalmente”) e sete (“concordo fortemente”),
totalizando escore mínimo de cinco (menor satisfação) e máximo de 35 (maior satisfação). Sua
consistência interna1 é boa (alfa = 0,87) e a confiabilidade teste-reteste após dois meses é de
0,82.
O Oxford Happiness Inventory (OHI) (Argyle et al., 1989) é um questionário de 29 itens que
avalia as causas psicológicas gerais da felicidade, incluindo realização, satisfação, vigor e
saúde. Sua confiabilidade2 teste-reteste é de 0,78 e o alfa é de 0,93.
A Subjective Happiness Scale (SHS) (Lyubomirsky e Lepper, 1999) é um índice de felicidade
subjetiva que compreende quarto itens. A média das respostas compõe um escore composto que
varia de 1 a 7. A SHS apresenta consistência interna elevada (alfa entre 0,85 e 0,95 em
diferentes estudos), estrutura unitária e boa confiabilidade teste-reteste (entre 0,71 a 0,90).
Outro instrumento bastante utilizado é a PANAS-X (Positive and Negative Affect Schedule-
expanded form) (Watson e Clark, 1991), que é a versão expandida da PANAS (Watson et al.,
1988). Esse questionário de auto avaliação é composto por 60 palavras que descrevem
sentimentos que devem ser respondidos de acordo com uma escala de cinco pontos: “muito
pouco ou nada”, “um pouco”, “moderadamente”, “muito” e “excessivamente”, permitindo o
uso como medida de estado ou de traço. A PANAS-X baseia-se em dois amplos fatores gerais:
afeto positivo (jovialidade, autoconfiança, atenção, surpresa e serenidade) e afeto negativo
(medo, tristeza, culpa, hostilidade, timidez, cansaço e surpresa).
1 Consistência interna é uma forma de medida baseada na correlação entre os diferentes itens no mesmo teste ou
escala. Geralmente é medida através do Alfa de Cronbach e varia entre 0 e 1, sendo aceitáveis valores entre 0,6 a
0,95. 2 Confiabilidade representa o grau com que um questionário, teste, escala ou qualquer objeto de medida produz o
mesmo resultado em repetidas medições. O teste-reteste é um bom método para o teste de confiabilidade. Os
valores ideias devem ser aqueles maiores que 0,7.
27
2.3 Níveis de felicidade no Brasil e no Mundo
Dados sobre o nível de felicidade informado para uma série de nações em todo mundo são
apresentados no World Happiness Report, estudo produzido pela Sustainable Development
Solutions Network (SDSN), que reúne um seleto grupo de acadêmicos internacionais e tem o
apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).
No relatório publicado em abril de 2015 e que envolveu 158 países, é possível constatar a
relação forte entre bons indicadores sociais e o quão feliz é um povo em relação à sua vida em
geral. Os países mais felizes estão também nos rankings de países com maior IDH e maior
renda per capita, como a Suíça, que apresentou felicidade média de 7,58 (ver Gráfico 1), que
lidera o ranking. Na outra ponta, com felicidade média de 3,0, aparece o Togo, país africano
com baixo produto interno bruto (PIB) e constantes violações de direitos humanos por parte do
governo. Este ranking é baseado no quanto as pessoas se consideram felizes, mas ele estima
também o quanto dessa felicidade se deve a variáveis como PIB per capita, expectativa de vida,
níveis de corrupção e liberdades individuais.
28
Gráfico 1 – Ranking de felicidade 2012-2014
Fonte: World Happiness Report 2015.Elaboração do autor da pesquisa.
Como pode ser visto no Gráfico 1, o Brasil aparece na 16ª posição, abaixo dos Estados Unidos
(15º) e do México (14º), e acima de Luxemburgo (17º) e da Irlanda (18º). Embora nas últimas
décadas a sociedade brasileira vem dando mostras de melhora em seus indicadores sociais,
principalmente com relação à educação, saúde e condições gerais dos domicílios. No entanto,
a distância entre os extremos ainda é muito grande. Há desigualdades de todos os tipos e o fato
é que, embora o país seja a sétima nação do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB),
aparece na 85ª posição no índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Assim, tanto no Brasil
7,58
7,56
7,52
7,52
7,42
7,40
7,37
7,36
7,28
7,28
7,27
7,22
7,20
7,18
7,11
6,98
6,94
6,94
6,93
6,90
6,86
6,85
6,81
6,79
6,78
6,75
6,67
6,61
6,57
6,57
6,00 6,20 6,40 6,60 6,80 7,00 7,20 7,40 7,60 7,80
1º SUIÇA
2º ISLÂNDIA
3º DINAMARCA
4º NORUEGA
5º CANADÁ
6º FINLÂNDIA
7º HOLANDA
8º SUÉCIA
9º NOVA ZELÂNDIA
10º AUSTRÁLIA
11º ISRAEL
12º COSTA RICA
13º AUSTRIA
14º MÉXICO
15º ESTADOS UNIDOS
16º BRASIL
17º LUXEMBURGO
18º IRLANDA
19º BELGICA
20º EMIRADOS ÁRABES
21º REINO UNIDO
22º OMÃ
23º VENEZUELA
24º SINGAPURA
25º PANAMÁ
26º ALEMANHA
27º CHILE
28º QATAR
29º FRANÇA
30º ARGENTINA
29
como no resto do mundo, existe forte tendência de se levar em consideração, nas análises
econômicas de desenvolvimento, o grau de satisfação das pessoas com suas próprias condições
de vida.
2.4 Economia da felicidade como paradigma da habitação de interesse social
A concepção desenvolvida por vários autores mencionados nas últimas seções, conduz à ideia
de que a felicidade estaria intimamente relacionada como uma situação de bem-estar. E que
este bem-estar é visto de uma forma multifacetada, uma vez que se faz referência a um bem-
estar de duas dimensões: objetivo e subjetivo. Aquele, orientado por indicadores que levam em
consideração as condições socioeconômicas de vida, como renda, moradia, desemprego,
educação, e este, por sua vez, orientado pelo estado de ânimo dos indivíduos.
De um modo geral, a felicidade, conduzida por um bem-estar objetivo, apresenta-se
inconfundivelmente útil para fins de orientação da intervenção governamental, via políticas de
promoção social, trazendo assim, relevantes repercussões. Não é por menos que Corbi e
Menezes-Filho (2006) reconhecem este atributo, na medida em que asseveram que as medidas
de felicidade consistem numa maneira de avaliar os efeitos nas mudanças dos gastos do
governo.
De acordo com Corbi e Menezes-Filho (2006), segundo esta linha de raciocínio, é possível
pensar na existência de intervenção estatal por indução, como por exemplo, num tratamento
jurídico tributário privilegiado para o desempenho de atividades econômicas que busquem a
expansão ou, ao menos, em situações de crise econômica, a manutenção dos empregos, ou que
contemple ações sustentáveis, fundamentadas em reduções de alíquotas de impostos. Ainda
neste campo de indução, pode-se pensar na abertura de linhas especiais de crédito por agências
de fomento a determinados agentes econômicos para o desempenho de atividades socialmente
relevantes, como por exemplo, para o fortalecimento de ações específicas de saúde, educação e
habitação.
Niza (2007) complementa que embora a felicidade não apareça como um objetivo declarado
nas políticas sociais do governo, as medidas de atuação são sempre pensadas como formas de
aumentar o bem-estar coletivo, estando ou não dentro do quadro conceitual de felicidade. Dessa
forma, políticas de habitação com vistas à redução de déficits habitacionais e aumento no bem-
30
estar das famílias, podem ser consideradas, segundo a literatura, políticas públicas indutoras do
nível de felicidade humana.
No contexto da habitação, Neri (2014) defende que a casa própria é o ativo físico mais
fundamental na acumulação de capital das famílias. O papel de reserva de valor permite por
exemplo, transferir poder de compra para a velhice. Além disso, a casa própria presta serviço
de moradia, um dos mais essenciais. Em pesquisa3 recente do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), sobre o nível de satisfação das famílias com a aquisição da casa própria, Neri
constata que programas de habitação além de reduzir o déficit habitacional, gera emprego,
movimenta a economia e promove o aumento do bem-estar das famílias traduzido na satisfação
da casa própria.
2.5 Histórico da habitação no Brasil
No final do século XIX, no Brasil, há uma conjunção de acontecimentos que influenciaram
decisivamente a ampliação e a formação dos espaços urbanos no país. O fim da escravidão fez
com que milhares de negros fossem expulsos do campo e migrassem para a cidade.
Concomitantemente, imigrantes europeus chegaram ao Brasil para trabalhar no campo e
também na nascente indústria brasileira. Esses fatores provocaram o aumento da população nas
cidades, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, fato que acarretou uma demanda por
moradia, transporte e demais serviços urbanos, até então inédita (MARICATO, 1984).
Até 1930 a construção de moradias no Brasil foi responsabilidade da iniciativa privada. A partir
de 1930, com a intensificação dos processos de industrialização e urbanização, o Estado passou
a intervir na infraestrutura e construção de moradias populares. Embora tenham existido
algumas tímidas experiências de financiamento habitacional entre as décadas de 30 e 60,
principalmente através das caixas econômicas federal e estaduais, bem como de institutos de
previdência e companhias de seguro, pode-se afirmar que a história do financiamento
habitacional, enquanto modelo institucionalizado, começa no ano de 1964, com a criação do
Sistema Financeiro de Habitação, mais conhecido como SFH (ABECIP, 2003 apud
ROSSBACH, 2005).
3 O Programa Minha Casa Minha Vida e a satisfação das famílias beneficiadas.
31
Instituído pela Lei nº. 4.380, de 21.08.1964, o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) criou o
Banco Nacional da Habitação (BNH), que se tornou o órgão central, orientando e disciplinando
o sistema no País e propiciando a formação de uma rede de agentes financeiros especializados
na intermediação da captação e na aplicação de recursos. Entre as principais funções estava a
de estabelecer as condições gerais dos financiamentos sob o SFH, tais como prazos, juros,
condições de pagamento e garantias (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2007).
Na criação do SFH, suas fontes de recursos eram: depósitos a prazo, financiamentos nacionais
e internacionais, letras imobiliárias, depósitos compulsórios dos institutos de aposentadorias e
pensões, e aquisição obrigatória de letras imobiliárias pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) e
Serviço Social do Comércio (Sesc) (ROSSBACH, 2005).
Posteriormente, em 1966 foi criado o Fundo Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e, em
1968, surgem as cadernetas de poupança, que em conjunto com a captação por meio de emissão
de letras imobiliárias, passaram a constituir as principais fontes de recursos do SFH. Os agentes
financeiros do sistema dependiam do BNH para funcionar e eram limitados a operar no
financiamento para construção, venda ou aquisição de habitações, sendo-lhes vedada a
possibilidade de qualquer outro tipo de operação.
A motivação principal para a criação do Banco Nacional da Habitação foi de ordem política.
Segundo os mentores do BNH, o desempenho marcante na produção de casas populares deveria
permitir ao regime militar emergente obter a simpatia de largos setores das massas que
constituíram o principal apoio social do governo populista derrubado em 1964. Nesse projeto,
igualmente encontrava-se implícita a ideia de que a casa própria poderia desempenhar um papel
ideológico importante, transformando o trabalhador de contestador em “aliado da ordem”
(AZEVEDO, 1988).
As formas pelas quais as crises de produção de casa populares foram enfrentadas ao longo da
trajetória do BNH tiveram, como uma das consequências mais importantes, o alijamento das
camadas de baixa renda. Apesar dos subsídios embutidos nos programas populares, a situação
econômica das famílias com renda inferior a três salários é de tal maneira precária que não
suportava a contrapartida exigida dos mutuários. Esta é uma situação que não é específica do
Brasil, atingindo a maioria dos países em desenvolvimento, e mostra o trade-off existente entre
o econômico e o social (AZEVEDO, 1988).
Por ocasião da instalação da Nova República, em 1989, havia consenso sobre a crise do Sistema
Financeiro da Habitação e a necessidade de reestruturação do mesmo, culminando na extinção
32
do BNH em 1986, que transfere para a Caixa Econômica Federal suas funções. Entre 1964 a
1986 (ano de sua extinção), o BNH financiou cerca de quatro milhões de moradias, número
bastante expressivo para a realidade do país. Porém, os investimentos atingiram
predominantemente a classe média emergente. Do total de moradias produzidas apenas 35%
foram destinados ao “mercado popular”4, o que equivalia a apenas 13% de todos os recursos
investidos pelo BNH (MOTTA ,2014).
Segundo Motta (2014), dois anos após a extinção do BNH houve uma queda drástica nos
recursos destinados a financiamento de moradias populares e os financiamentos se
concentraram ainda mais na classe média. Para tentar minimizar essa situação, o governo
federal lançou, em 1987, o Programa Nacional de Mutirões Habitacionais, da Secretaria
Especial de Ação Comunitária (SEAC), que tinha como objetivo financiar habitações para
famílias com renda inferior a três salários mínimos. Apesar de sua grande importância, o
Programa não alcançou suas metas, pois, além da alta inflação do período, não tinha uma
política e uma gestão bem definidas.
No Governo Collor (1990-1992), o mais importante programa habitacional lançado foi o PAIH
(Plano de Ação Imediata para a Habitação), que propunha o financiamento de 245 mil
habitações em 180 dias, mas não cumpriu suas metas. O Governo Itamar (1992-1994) criou os
Programas Habitar Brasil e Morar Município, que tinham como objetivo financiar a construção
de moradias para a população de baixa renda, a serem construídas em regime de “ajuda mútua”.
Todavia, esses Programas tinham uma padronização excessiva e muitas exigências legais, o que
impedia muitos municípios de captarem recursos disponibilizados.
O período FHC (1995-2002) avançou no reconhecimento da necessidade de regularização
fundiária, da ampliação da participação e de uma visão integrada da questão habitacional.
Porém, essa concepção não foi colocada em prática devido à orientação neoliberal do governo
e às restrições impostas pelos bancos internacionais5, como o FMI (DENALDI, 2003).
No Governo Lula, a principal política para a habitação foi o Programa Minha Casa Minha Vida,
do Ministério das Cidades, lançado em abril de 2009, que entre outras medidas prevê a
concessão de subsídios e a redução das taxas de juros dos financiamentos imobiliários. Até o
final de 2010 foram contratadas, no âmbito deste programa, um milhão de novas unidades
4 Trabalhadores que recebiam menos de um salário mínimo. 5 Destacaram-se como imposições impostas pelo FMI: Metas fiscais (que limitaram os gastos públicos) e reformas
estruturais (reformas do Estado, privatizações, liberalização financeira e comercial, etc.)
33
habitacionais, totalizando R$ 2,1 bilhões em subsídios6 que serviram para complementar o
montante dos financiamentos destinados às famílias com renda entre 0 a 10 salários mínimos.
Além de seu objetivo social, o Programa, ao estimular a criação de empregos e investimentos
no setor da construção, também foi uma reação do governo Lula à crise econômica mundial do
fim de 2008. Assim como nos outros grandes programas federais de habitação, a iniciativa
privada é protagonista na provisão de habitações também no Programa Minha Casa Minha
Vida, alavancando o que a literatura chama de Habitação de Mercado (BONDUKI, 2009).
No Governo Dilma (2011-2014) o Programa Minha Casa Minha Vida, alcançou cifras
importantes, 3,75 milhões de unidades contratadas (no acumulado entre 2009 e 2014), segundo
dados da Caixa Econômica Federal. De acordo com o website Contas Abertas7, até o fim de
2014, os subsídios destinados ao Programa Minha Casa Minha Vida, fruto de uma política de
habitação de interesse social, alcançou, desde o seu lançamento em 2009, a marca de R$ 17,6
bilhões. Além disso, o economista chefe do IPEA, Marcelo Cortês Neri destaca que o Minha
Casa Minha Vida movimenta o bilionário setor da construção civil, pois 97% do subsídio
público são destinados à oferta e à produção direta por construtoras privadas e apenas 3% à
cooperativas e movimentos sociais.
2.6 Habitação de interesse social versus habitação de mercado
O termo habitação de interesse social define uma série de soluções de moradia voltada à
população de baixa renda. A repercussão do problema da habitação de interesse social vai além
da simples construção dessas habitações. Sua solução está ligada a fatores como a estrutura de
renda das classes sociais mais pobres, à dificuldade de acesso aos financiamentos concedidos
pelos programas oficiais e às deficiências na implantação de políticas habitacionais
(BRANDÃO, 1984).
6 O subsídio é um valor que o governo dá para pessoas com baixa renda e que é usado para diminuir o valor do
financiamento imobiliário. Este valor é decrescente à medida que a renda dos beneficiários aumenta, chegando a
zero quando a renda familiar atinge 10 salários mínimos. 7 A Associação Contas Abertas é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos, que busca oferecer
permanentemente subsídio para o desenvolvimento, aprimoramento, fiscalização, acompanhamento e divulgação
das execuções orçamentária, financeira e contábil da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
http://www.contasabertas.com.br/website/institucional.
34
Na conceituação das abordagens da gestão habitacional, Abiko (1995) defende que “a habitação
popular não deve ser entendida meramente como um produto e sim como um processo, com
uma dimensão física, mas também como o resultado de um processo complexo de produção
com determinantes políticos, sociais, econômicos, jurídicos, ecológicos, tecnológicos”. Neste
conceito, o autor propõe que a habitação não se restringe apenas à unidade habitacional, para
cumprir suas funções. Assim, além de conter um espaço confortável, seguro e salubre, é
necessário que seja considerada de forma mais abrangente, levando em consideração
equipamentos sociais (instalações destinadas à educação, saúde e lazer) e serviços de
infraestrutura urbana de abastecimento de água, coleta de esgoto, distribuição de energia
elétrica, transporte coletivo, etc.
Nas formas de oferta de habitação às populações de baixa renda, Bonduki et al. (2003)
diferenciam a “habitação de interesse social” da “habitação de mercado popular”. Nesta última
há produção e consumo de habitações (pequenas construções, autoconstrução, em iniciativas
próprias ou contratadas diretamente pelos usuários da habitação), porém estas não estão sujeitas
aos mesmos critérios de planejamento e implementação que os programas produzidos pelo
poder público.
O “Interesse Social” como terminologia na habitação no Brasil já era utilizada nos programas
para faixas de menor renda do extinto Banco Nacional da Habitação (BNH). Como diretriz de
políticas públicas, segundo Bonduki et al. (2003), a Constituição Federal de 1988 previa o
princípio da função social do uso do solo urbano. Sob este princípio, o conceito de Interesse
Social é constitucionalmente incorporado às políticas habitacionais para os setores de
população de baixa renda.
Mais recentemente, com a promulgação do Estatuto das Cidades (lei Federal Nº 10.257, de 10
de julho de 2001), que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, foi ratificada
a função social do solo urbano e a habitação assume efetivamente o caráter de direito básico da
população. As políticas e estratégias habitacionais para a população de baixa renda passam a
ser legalmente submetidas ao interesse da sociedade, sobretudo em nível local de municípios,
onde se dão os impactos de sua implantação.
No nível das ações dos governos municipais, Bonduki et al. (2003) observam que a habitação
de interesse social deve ser definida como aquela necessariamente induzida pelo poder público.
O Estatuto das Cidades prevê diretrizes para implementação da função social do uso do solo
urbano, que devem ser aplicadas por meio de uma série de instrumentos destinados a assegurar
35
a função social da propriedade urbana. A habitação de interesse social e suas variáveis, portanto,
interagem com uma série de fatores sociais, econômicos e ambientais, e é garantida
constitucionalmente como direito e condição de cidadania.
O relatório do setor imobiliário da Fundação Getúlio Vargas (2007) mostra que, a despeito de
o país ainda estar longe de apresentar um sistema de financiamento habitacional que dê conta
de seus grandes desafios, é fato que, nos últimos anos, houve um incremento expressivo na
oferta de crédito imobiliário. Concomitantemente, pesquisas revelaram que a carência de
moradias ainda é uma das questões sociais mais graves do país e não evoluiu na mesma direção
da oferta de crédito.
A literatura mostra que a estabilidade macroeconômica, alcançada no final dos anos 1990,
proporcionou taxas de juros um pouco mais baixas e alterou os interesses de investidores e de
agente financeiros em relação à construção civil e ao mercado imobiliário. A concessão de
crédito imobiliário passou a ser encarada como uma atividade lucrativa e promissora.
Frente ao grande déficit habitacional existente no Brasil, no primeiro governo de FHC (1995-
1998) foi criado o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), sob a justificativa de haver a
necessidade de implantação de padrões alternativos às políticas públicas de financiamento
habitacional (SHIMBO, 2010). Nesse contexto, o SFI surge como um novo ambiente de
negócios imobiliários, fundado na captação de recursos no mercado e na afirmação do
protagonismo dos agentes privados na condução dos financiamentos.
Em 2009, no Governo Lula, foi lançado o programa Minha Casa Minha Vida que mobilizou
um conjunto de medidas de estímulo à produção habitacional, propiciando o desenvolvimento
dos setores imobiliários e da construção civil. Este programa foi apresentado como uma das
principais ações do governo em reação à crise econômica internacional e também como uma
política social de grande escala, justificado por atender a dois imperativos econômicos e sociais
– por um lado, a criação de empregos, e, por outro a provisão de moradias.
O conjunto de mecanismos regulatórios, financeiros e institucionais, implantados a partir de
2006 e consolidados em 2009, preparou o terreno para o crescimento exponencial e a
consolidação do mercado imobiliário residencial no Brasil. Embora já se anunciasse um
processo de crescimento e de concentração de capital nas grandes empresas do setor da
construção civil, a injeção bilionária de recursos financeiros e o aparato institucional do Estado
foram fundamentais para que a atuação dessas empresas se potencializasse e repercutisse num
aumento considerável da oferta de imóveis residenciais (SHIMBO, 2010).
36
Por outro lado, o desenvolvimento e a estabilização da economia, assim como a redução das
taxas de juros nos últimos anos facilitaram o acesso de uma grande parcela da população ao
crédito imobiliário. O fato de o percentual deste crédito ainda ser pequeno em relação ao PIB
do Brasil (cerca de oito por cento), indica que ainda há grande espaço para crescimento, algo
muito favorável para quem deseja investir neste mercado. A redução das taxas de juros e uma
política de incentivo ao crédito imobiliário aumentam a capacidade de compra dos pequenos
investidores e tornam o investimento em imóveis mais atraente para quem deseja aumentar seu
patrimônio financeiro. Em paralelo, a redução do desemprego e a estabilidade da economia
proporcionam a confiança necessária para a compra de imóveis e outros investimentos de longo
prazo.
2.7 Panorama do mercado de habitação no Brasil atual
O mercado imobiliário brasileiro apresenta um grande potencial de expansão. O déficit
habitacional8 para o ano de 2012 foi calculado em 8,53% (pouco menor do que os 10%
registrados em 2007), o que representa 5,24 milhões de residências (PNAD-2013). Muito se
discute sobre o cálculo deste déficit, mas a definição mais aceita é a da Fundação João Pinheiro
de que o déficit habitacional é “a necessidade de construção de novas moradias para a resolução
de problemas sociais detectados em um certo momento e específico da habitação” (CBIC –
Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
A conjuntura favorável de taxas de juros menores e alongamentos de prazos de financiamento,
recorrentes desde 2006, contribuiu diretamente para a contratação de financiamentos
imobiliários. Além disso, a população brasileira passa por um processo de envelhecimento, com
o controle das taxas de natalidade. As pessoas entre 25 e 40 anos são consideradas potenciais
compradores de imóveis, sendo esta a primeira casa, ou a troca por uma habitação maior ou
com melhor qualidade ou mais bem localizada.
Somando-se a isto, a estabilidade econômica contribuiu para que as famílias de renda baixa
também pudessem ser identificadas como um mercado em potencial, pois, da mesma maneira,
8 O cálculo de déficit habitacional, segundo metodologia aplicada pelo PNAD, leva em consideração desde as
famílias que moram em condições precárias, como favelas, até aquelas que dividem o imóvel com outros parentes
ou gastam uma fatia alta de sua renda com aluguel. O percentual é volátil no passar dos anos à medida que mais
famílias são formadas.
37
elas se beneficiam de menores juros e maiores prazos e passam a ter melhores possibilidades
de planejamento do pagamento de suas casas próprias. E é exatamente entre essas famílias de
menor renda – até cinco salários mínimos – em que se concentra a maior parte (mais de 90%)
do déficit habitacional brasileiro (BIANCARELI; LODI, 2009).
Segundo dados do Banco Central do Brasil, o estoque de financiamento habitacional a pessoas
físicas atingiu o patamar de 314,9 bilhões em março de 2013 (Gráfico 2). O financiamento à
aquisição da casa própria tornou-se a maior carteira de crédito à pessoa física e superou os
empréstimos às famílias no sistema financeiro. A modalidade, hoje preferida por todos os
bancos brasileiros, cresce mais do que a média do crédito total. Dados recentes divulgados pelo
Banco Central mostram, porém, que as operações do segmento imobiliário têm mostrado, na
média, um perfil mais arriscado, com prazos mais longos e menor exigência de entradas.
Gráfico 2 – Saldo Total do Financiamento Imobiliário no Brasil em R$ Bilhões – Jan/06 a Jan/14.
Fonte: Banco Central do Brasil - Séries Temporais. Elaboração do autor da pesquisa.
O Programa Minha Casa Minha Vida do Ministério das Cidades, criado em 2009 tem dado
importante contribuição para aumento significativo no montante de recursos direcionados para
o financiamento habitacional no Brasil. Só em 2009 (ano de início do programa) foram
investidos 54,5 bilhões, chegando a 157,1 bilhões em 2011. No final do primeiro governo
Dilma este montante chegou a 234 bilhões9, correspondente a 3,7 milhões de novas unidades
9 Valor total investido na aquisição de moradias e, corresponde a soma do montante financiado pelos bancos mais
o valor total do subsídio do governo (período 2009-2014), no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida.
0
50
100
150
200
250
300
350
jan/06 jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 jan/13 jan/14
Saldo de Operações em Bilhões (R$)
Saldo de Operações em Bilhões (R$)
38
habitacionais em todo país – no acumulado de 2009-2014 (MINISTÉRIO DAS CIDADES,
2014).
A literatura econômica aponta ainda para o efeito cumulativo da relação entre a expansão do
crédito e a valorização dos imóveis, em que a maior disponibilidade do crédito imobiliário tem
ampliado a demanda de imóveis que, frente à oferta relativamente inelástica, típica desse
mercado de ativos, têm seus preços elevados. Por sua vez, quanto maiores os preços dos
imóveis, maior deve ser o valor do empréstimo tomado para a sua aquisição. Decorrem, então,
dessa dinâmica, evoluções do mesmo sentido para o estoque do financiamento habitacional e
para o preço dos imóveis residenciais.
Apesar da visível evolução na carteira de crédito imobiliário no Brasil (composta por tanto por
créditos direcionados a habitação de mercado como para a habitação de interesse social, em
valores acumulados), e do fato de a relação crédito/PIB do segmento imobiliário ter passado de
1,6% em 2006 para 8% em outubro de 2013, a posição do país está distante dos primeiros
colocados a começar do Reino Unido, onde a relação crédito imobiliário/PIB é de 80%, no
mesmo período. Contudo, a despeito da ainda pequena expressividade, a história recente mostra
que a prioridade, no Brasil, tem sido a qualidade do crédito e não a quantidade. Conforme
mostra o BACEN, a inadimplência deste setor tem alcançado picos de 1,83% dos contratos até
outubro de 2013 (ABECIP – Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e
Poupança, 2013).
Ainda segundo estudo da Abecip (2013), uma simulação sem maior sofisticação estatística
indica que, se fossem mantidas as condições satisfatórias da economia brasileira, a participação
do crédito imobiliário no PIB tenderia a evoluir dos atuais 8% do PIB para 10% ou mais, em
dois anos. De qualquer forma, os dados mostram que a habitação de mercado10 no Brasil tem
muito que crescer, uma vez que, o total de crédito destinado ao mercado imobiliário se
comparado ao PIB é muito pequeno em relação aos países desenvolvidos, em outras palavras,
pode-se dizer que há um mercado em potencial a ser explorado nos próximos anos.
Contudo, a desaceleração econômica vivida pelo Brasil já deixa seus rastros no mercado
imobiliário, que registra queda no número de lançamentos de unidades residenciais e vendas de
imóveis comerciais em quase todos os estados. Em função de sua importância para a economia
10 Entende-se por habitação de mercado as relações comerciais entre bancos, construtoras e agentes autônomos
que visam exclusivamente o lucro e o aumento de patrimônio, por meio do mercado imobiliário, excluindo-se
deste conceito o interesse social de suprir o déficit habitacional.
39
do país, crises imobiliárias também acarretam acréscimos nas taxas de desemprego na
construção civil. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança
(Abecip, 2015), aponta que o Programa Minha Casa Minha Vida, em queda desde o último
trimestre de 2014 e fortemente abalado pelo ajuste fiscal e a política monetária, também
contribuiu para a crise no setor imobiliário, entre os efeitos negativos, destaca-se a redução no
orçamento do programa. Além disso, a Caixa Econômica Federal, responsável por 70% das
operações no Sistema Financeiro de Habitação, aumentou as exigências para a concessão de
empréstimos. E, a combinação de juros e inflação altos tem resultado em fugas crescentes de
capitais das cadernetas de poupança, principal funding do crédito imobiliário.
Uma série de fatores conjunturais explica a desaceleração no setor imobiliário. Segundo a
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2015) a espiral de decisões tomadas pelo
governo Dilma desde 2011 assustou o setor produtivo, que parou de investir e,
consequentemente, interrompeu a criação de novos postos de trabalho. Inseguros, consumidores
passaram a hesitar antes de aderir a um crédito imobiliário: temerosos pelo emprego, também
viam a inflação corroer a renda e os juros bancários subirem sem cessar. A taxa básica de juros
definida pelo Banco Central, que estava em 7,5% em janeiro de 2014, alcança 14,25% em
setembro de 2015. Como consequência, a taxa média de juros das operações de financiamento
imobiliário voltou a crescer, segundo dados do próprio Banco Central. No caso de pessoas
físicas, ela fechou setembro de 2015 em 12,81% ao ano - em dezembro de 2014 estava em
8,87% ao ano.
Dada a elevada taxa de juros da economia, as parcelas de todos os tipos de financiamento ficam
mais caras e pesam no orçamento da população, que já está endividada e, a queda no poder de
compra nesse momento de crise impacta mais o mercado imobiliário do que outros setores da
economia, pois a decisão de investimento em um imóvel costuma ser de longo prazo.
40
3 METODOLOGIA
3.1 Desenho da pesquisa
A presente pesquisa seguiu as etapas metodológicas descritas na figura 3.
Figura 3 – Etapas da pesquisa
Fonte: Elaboração do autor da pesquisa
3.2 Caracterização da pesquisa
Esta pesquisa, do tipo explicativa descritiva, uma vez que busca identificar os fatores que
determinam ou que contribuem para determinado fenômeno e ainda busca descrever
características observadas desses fenômenos. Tem abordagem econométrica quantitativa e
utiliza o método dos mínimos quadrados ordinários para a estimação da felicidade. A variável
dependente “felicidade”, conforme sugere Corbi e Menezes-Filho (2006), é tratada como uma
variável categórica dividida em quatro níveis: infeliz (1), pouco feliz (2), feliz (3), muito feliz
(4).
Definição do
tema/problema,
justificativa e objetivos
Levantamento
bibliográfico e referencial
teórico
Elaboração do instrumento
de coleta de dados
Escolha do modelo de
estimação, pré-teste
Pesquisa de campo na
cidade de caruaru-PE
Análise preliminar e
refinamento do
tema/problema e objetivos
Compilação e análise
crítica dos resultados
Estudo comparativo da
literatura selecionada com
os resultados obtidos
Identificação das variáveis
mais importantes para
mensurar a felicidade
Redação da dissertação
1ª
Eta
pa
2ª
Eta
pa
Aplicação do questionário
41
3.3 Locus da pesquisa
Para alcançar os objetivos propostos, foi necessário realizar uma pesquisa de campo. Assim, os
dados que são utilizados na fase do trabalho em que se pretende mensurar a felicidade, são
provenientes da aplicação de questionários11, nos quais os indivíduos foram perguntados sobre
o nível de felicidade (satisfação com a vida), bem como sobre os fatores que influenciam a
satisfação da vida dos indivíduos entrevistados, no tocante ao nível de renda e à casa própria.
Dessa forma, a pesquisa de campo se deu na cidade de Caruaru em Pernambuco, entre os dias
25 e 27 de agosto de 2015, entre terça e quinta-feira respectivamente, fora de períodos festivos,
a fim de evitar que fatores momentâneos influenciassem os respondentes.
3.4 População e amostra
Embora, muitos estudos empíricos sobre felicidade utilizam-se da base de dados extraída da
Pesquisa Mundial de Valores – World Values Survey – para estudar o impacto de importantes
variáveis econômicas na determinação do bem-estar dos indivíduos, este estudo em específico
traz uma base de dados própria, e, para tanto, como forma de viabilizar a pesquisa, foi utilizado
uma amostra representativa da população economicamente ativa de Caruaru-PE. A pesquisa de
campo atingiu apenas a população economicamente ativa, indivíduos com idade entre 10 e 65
anos, segundo o IBGE, que estejam trabalhando ou à procura de trabalho. O DIEESE (2010)
quantifica a população economicamente ativa de Caruaru-PE em 255 mil habitantes.
No cálculo da amostra representativa (n), a qual se pretende analisar, como a população (N) é
infinita (com mais de 100 mil indivíduos), utilizou-se a fórmula seguinte:
𝑛 = (𝑧.𝜎
𝑒)
2
Onde:
𝑛 = Número de indivíduos na amostra.
11 Ver modelo do questionário na seção Anexos.
42
𝑧 = Representa a variável aleatória normal padrão, ou seja, 𝑧~𝑁(0,1), que por não depender de
parâmetro desconhecido facilita os cálculos.
𝜎 = Desvio-padrão populacional12.
𝑒 = Margem de erro ou erro máximo de estimativa. Identifica a diferença máxima entre a média
amostral e a verdadeira média populacional.
Para o cálculo da amostra é necessário estabelecer o grau de confiança que se deseja para a
pesquisa, no caso deste trabalho o índice de confiança é de 95% (representado pelo escore z).
Também é necessário estabelecer o tamanho do erro que o pesquisador está disposto a aceitar,
para esta pesquisa admite-se o erro máximo de 5%. Assim, tem-se:
𝑧 = 1,96 (Aqui, o nível de confiança é de 95%, convertendo o percentual a um decimal (0,95)
e dividindo por 2, obtém-se 0,475. Consultando a tabela do valor z13 para encontrar o valor
correspondente ao 0,475, percebe-se que o valor mais próximo é de 1,96, no cruzamento da
linha 1,9 e a coluna de 0,06).
𝑒 = 0,05 (Considerando o erro máximo de 5%, admitido para a pesquisa).
Como não se conhece o desvio-padrão populacional, a continuação do cálculo da amostra é
possível valendo-se do artifício de trabalhar o erro e como múltiplo do desvio-padrão, onde
admite-se que o erro seja 10% do desvio padrão, ou seja, 𝑒 = 0,10𝜎. Assim, tem-se:
𝑛 = (𝑧.𝜎
𝑒)
2
𝑛 = (1,96.𝜎
0,10𝜎)
2
𝑛 = (1,96
0,10)
2
𝑛 = 19,62 ≅ 384,2
Dessa forma, a amostra não probabilística conta com 384 indivíduos, com índice de confiança
de 95% e margem de erro de 5%.
12 Como o desvio-padrão populacional ainda é desconhecido, é possível trabalhar com o erro e como múltiplo ou
fração do desvio-padrão, por exemplo, 𝑒 = 2𝜎 ou 𝑒 =𝜎
4. Dessa forma o parâmetro 𝜎 é eliminado da fórmula do
cálculo da amostra. 13 Ver tabela de distribuição normal na seção Anexos.
43
3.5 Instrumento de coleta de dados
Como o intuito da presente pesquisa é obter respostas acerca dos determinantes do bem-estar
individual, buscou-se uma perspectiva mais ampla, que inclui além dos fatores monetários e de
propriedade, fatores subjetivos e características sócio demográficas, econômica e institucionais,
com objetivo de caracterizar com maior riqueza de detalhes a amostra investigada. Para tanto,
foi aplicado o questionário baseado em um estudo semelhante de Cantril (1965), que fez uma
investigação sobre o padrão humano de felicidade nos Estados Unidos e, Nascimento Júnior
(2007) que fez uma adaptação do estudo de Cantril (1965), com aplicação prática no Brasil.
Há ainda que, como proposição deste estudo, estabelecer um índice de felicidade subjetiva da
amostra investigada. Diante dos quatro instrumentos de coleta de dados apresentados na seção
2.2, optou-se por trabalhar nessa pesquisa com a Subjetive Happiness Scale (SHS) atrelada ao
questionário de satisfação com a vida proposto por Nascimento Jr (2007). A escolha justifica-
se, pois, entre as demais escalas apresentadas acima, a SHS é a única que apresenta questões de
maior relação com o estudo aqui proposto, além disso, quando feito pré-teste com 22
respondentes de características semelhantes à amostra a ser investigada, esse instrumento, já
traduzido para o português, apresentou boa confiabilidade e consistência interna (alfa de
Crombach, 𝛼 = 0,85).
A confiabilidade refere-se à precisão da mensuração independente do que é medido, enquanto
a consistência interna, como medida de confiabilidade de um questionário, indica quão diferente
os itens medem o mesmo conceito (NUNNALLY, 1978). O estimador mais utilizado na
literatura para a consistência interna é o alfa de Cronbach (PETERSON, 1994).
3.6 Tratamento e análise de dados
Em econometria, os parâmetros relativos a cada variável explicativa podem ser estimados pelo
método dos mínimos quadrados ordinários, através do uso de uma função microeconômica da
felicidade. Esse método, que já vem sido utilizado com sucesso em diversos estudos neste
campo, permite analisar cada fator determinante da felicidade subjetiva separadamente.
44
No caso da presente pesquisa, a variável latente 𝐹 associa números às respostas individuais, da
seguinte forma: 1 para “infeliz”, 2 para “não muito feliz”, 3 para “feliz” e 4 para “muito feliz”.
Dessa forma, a função micro econométrica de felicidade, usada no processo de estimação, segue
o modelo proposto por Corbi e Menezes-Filho (2007).
O modelo proposto supõe que a felicidade é um fenômeno ao qual se associa a uma variável
aleatória 𝐹, relacionada a um conjunto de K outros fenômenos, a cada um dos quais se associa
uma variável aleatória 𝑋𝑖, com 𝑖 = 1,2, … , 𝑘. Supõe-se, ainda, que seja possível estabelecer
alguma função f(x) que relaciona essas variáveis:
𝐹 = 𝑓(𝑋1, 𝑋2, … , 𝑋𝑘)
Então, a varável aleatória 𝐹 assim definida é chamada variável de resposta ou dependente,
enquanto as demais são chamadas variáveis explicativas, ou explanatórias, ou independentes,
ou simplesmente regressores.
Neste caso é razoável supor que 𝐹 seja função de uma combinação linear das variáveis
independentes, dada por 𝛽′𝑋, onde 𝛽 é um vetor 𝑘𝑥1 de parâmetros a serem estimados e 𝑋 é
um vetor 𝑘𝑥1 de variáveis independentes:
𝛽 = (
𝛽1
𝛽2
…𝛽𝑘
) 𝑒 𝑋 = (
𝑋1
𝑋2
…𝑋𝐾
)
Então,
𝐹𝑖 = 𝛼 + 𝛽𝑋𝑖 + 𝜀𝑖
Onde:
𝐹𝑖 = representa o nível de felicidade informado pelos indivíduos entrevistados, quanto a sua
posição referente à satisfação com a vida que tem levado: “infeliz”, “pouco feliz”, “feliz”,
“muito feliz”, respectivamente;
α = representa os parâmetros desconhecidos a serem estimados;
𝑋𝑖= é um vetor coluna que representa o nível de renda e a condição do indivíduo 𝑖 possuir ou
não uma casa própria (variáveis independentes);
𝛽 = representa o vetor de coeficientes estimados, que irão permitir analisar a relação entre as
características individuais, ou seja, as variáveis independentes e a variável dependente;
45
𝜀𝑖= representa o termo de erro estimado, que capta as características não observadas no processo
de estimação.
A variável dependente é uma variável ordinal, através da qual o menor valor representa menos
felicidade e o maior valor um nível de felicidade informado superior. Assim, a partir da função
𝐹𝑖, não se pode observar um valor cardinal para a variável latente 𝐹𝑖, mas é possível observar
que:
𝐹𝑖 = {
1, 𝑠𝑒 𝐹𝑖 ≤ 0 2, 𝑠𝑒 0 ≤ 𝐹𝑖 ≤ 𝛼1 3, 𝑠𝑒 𝛼1 ≤ 𝐹𝑖 ≤ 𝛼2
4, 𝑠𝑒 𝛼2 ≤ 𝐹𝑖
Isso porque, os entrevistados têm sua própria intensidade de sentimentos, que depende de certos
fatores de mensuração, o próprio 𝑋𝑖, e certo fator não-observado 𝜀𝑖. Em princípio, eles poderiam
responder ao questionário com seu próprio 𝐹𝑖. Porém, dadas apenas quatro respostas possíveis
(1, 2, 3, 4), eles escolhem aquela que mais se aproxima da que realmente reflete a sua verdadeira
opinião. Quanto às variáveis independentes é preciso destacar que:
Para a variável nível de renda foi concebida uma variável dummy14, uma vez que os indivíduos
foram agrupados em níveis de renda, conforme metodologia da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, a mesma utilizada na execução de programas sociais
como o Brasil Sem Miséria e o Bolsa Família, sendo: “renda baixa” que englobou a faixa (1) –
“até R$ 648,00” e “de R$ 648,01 a R$ 1.030,00”; “renda média” faixa (2), onde foram inseridas
as remunerações “de R$ 1.030,01 a R$ 1.540,00” e “de R$ 1.540,01 a R$ 2.813,00”; “renda
alta” para a faixa de renda “acima de R$ 2.813,01”. Na estimação entraram os níveis “renda
baixa” e “renda média” em razão de o estudo pretender avaliar um caráter mais social da
habitação;
Assim teremos:
𝐷𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 = {0, 𝑠𝑒 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑏𝑎𝑖𝑥𝑎 1, 𝑠𝑒 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎
Para a variável “possui uma casa própria”, foi feito mais uma vez o uso do mecanismo da
variável dummy, onde 1 representa uma resposta positiva e 0 o contrário.
14 Variável Dummy, no plural dummies, é uma variável categórica que foi transformada em numérica para fins de
regressão.
46
Assim teremos:
𝐷𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 = {0, 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑜 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑛ã𝑜 𝑝𝑜𝑠𝑠𝑢í𝑟 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 1, 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜
Por tratar-se de um processo de regressão da função econométrica da felicidade, usou-se no
processo de estimação o software EViews 5.0, programa de estatística para Windows, muito
utilizado em tarefas de análise econométrica.
Para atender ao objetivo específico de número três, onde se propõe a estabelecer um índice de
felicidade subjetiva aos indivíduos entrevistados, foi necessário recorrer à metodologia
empregada por Lyubomirsky e Lepper (1999), autores da Subjective Happines Scale (SHS), no
tratamento da análise dos dados. Assim, o índice é estabelecido por meio de estatística
descritiva, em que se calcula a média das respostas dos quatro itens que compõem a escala. No
entanto, deve-se atentar para o fato de que as repostas dadas ao último item foram invertidas,
antes do cálculo da média, isto é, transformou-se o 7 em 1, o 6 em 2, o 5 em 3, o 3 em 5, o 2
em 6, e o 1 em 7. O índice inferido compõe um escore de 1 a 7, em que 1 representa a menor
percepção de felicidade subjetiva dos indivíduos e 7 representa o estado máximo de felicidade
subjetiva.
3.7 Limitações da pesquisa
A pesquisa realizada apresentou limitações quanto à população e amostra. A população definida
para este estudo, população economicamente ativa de Caruaru-PE, teve sua última estimativa
divulgada pelo DIEESE e IBGE em 2010, o que representa certa defasagem quanto ao
quantitativo atual.
Pelo fato de a pesquisa ter sido realizada em dias úteis e em horário comercial, o processo de
seleção aleatória foi um pouco prejudicado, uma vez que muitos indivíduos alvos da pesquisa
se encontravam ocupados em suas atividades laborais.
Mesmo sem haver a necessidade de identificação nos questionários, muitos respondentes se
mostraram retraídos em responder questões de caráter mais pessoal, que, por conseguinte deve
ter apresentado algum desvio no padrão de respostas.
47
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Definição das variáveis estudadas
O questionário aplicado contém questões socioeconômicas básicas comuns a este tipo de
estudo, bem como algumas questões julgadas importantes para determinar as variáveis que
impactam na felicidade dos indivíduos estudados. Dessa forma, as variáveis foram distribuídas
conforme mostra o Quadro 1.
Quadro 1 – Classificação das variáveis estudadas
VARIÁVEL DEPENDENTE (Variável
explicada ou variável de resposta)
VARIÁVEIS INDEPENDENTES
(variáveis explicativas ou variáveis
preditórias ou ainda regressôres)
Felicidade Mais dinheiro
Emprego
Filhos
Casa própria
Viagens
Amigos
Trabalhar menos
História de amor
Proximidade de pais e/ou amigos
Governantes honestos
Idade
Sexo
Renda
Estado civil
Ocupação
Condição de moradia
Fonte: Elaboração do autor da pesquisa
48
No que diz respeito à variável dependente felicidade, na coleta de dados, quando era perguntado
ao respondente sobre como ele se sentia em relação à sua vida, apenas quatro alternativas eram
possíveis, sendo 1 para infeliz, 2 para não muito feliz, 3 para feliz e 4 para a alternativa muito
feliz. Esta ordenação de respostas também é muito utilizada em estudos semelhantes, uma vez
que facilita o processo de regressão estatística e limita as repostas a apenas quatro alternativas
possíveis.
No Quadro 1 a variável independente “casa própria” surge de maneira inédita, já que não há
indícios de estudos que tratam do fato de um indivíduo possuir casa própria como determinante
de seu nível de felicidade. Na análise empírica esta variável, dicotômica ou binária, é do tipo
dummy juntamente com a variável renda e apresentam valores 0 e 1 a depender das respostas
obtidas. No caso da variável casa própria quando o indivíduo sinalizava possuir casa própria
sua resposta era convertida para o valor 1 e caso contrário a resposta assumia valor 0, já para a
variável renda as alternativas um e dois assumiam valor 0 e as alternativas três e quatro
assumiam valor 1, entretanto, quando o respondente sinalizava ainda para a variável renda a
alternativa cinco, isto é, renda acima de R$ 2.813,01 seu questionário era excluído por fugir do
interesse da pesquisa que é analisar o fator felicidade entre os indivíduos de caruaru com renda
de até R$ 2.813,00.
As demais variáveis independentes são qualitativas e recebem um valor cardinal de acordo com
as alternativas disponíveis. É importante esclarecer que a variável independente “sexo” está
relacionada às alternativas masculino e feminino, e a variável independente “condição de
moradia” refere-se ao fato de o indivíduo morar só, com amigos ou com familiares.
As variáveis independentes “ocupação” e “emprego” possuem interesses diferentes para esta
pesquisa. Enquanto a variável emprego se refere ao desejo do indivíduo por uma atividade
remunerada propriamente dita, a variável ocupação está relacionada à condição do respondente
estar ou não trabalhando e quando sim, qual o tipo de jornada de trabalho, se integral ou meio
período.
4.2 Análise descritiva
Como já foi mencionado, foram auferidos dos indivíduos entrevistados uma série de
características socioeconômicas consideradas importantes para mensurar a felicidade subjetiva.
49
Nessa seção será feita uma análise em termos de frequência, das principais variáveis envolvidas
na pesquisa.
4.2.1 Nível de felicidade informado
A principal pergunta da pesquisa é: “Como você se sente em relação à sua vida?” A maior parte
dos entrevistados informou está na categoria “Feliz”. De uma forma geral, 6% dos respondentes
descrevem que não se sentem felizes em relação às suas vidas, 42% dizem que não se sentem
muito felizes, enquanto 44% dizem que se sentem felizes, e 8% consideram-se muito felizes
com a vida que têm levado. O Gráfico 3, apresentado abaixo, mostra a descrição do nível de
felicidade informado na amostra como um todo.
Gráfico 3 – Nível de felicidade informado
Fonte: Pesquisa do autor
Observa-se uma ligeira aproximação entre o número de indivíduos que se consideram felizes e
o número dos indivíduos que se dizem não muito felizes, o que leva a supor que os respondentes
em situações normais ou cotidianas se mostram em sua grande maioria fora dos extremos
“infeliz” e “muito feliz”.
Infeliz6%
Não muito feliz42%
Feliz44%
Muito feliz8%
50
Também foi solicitado aos respondentes que ordenassem, entre uma série de alternativas dadas,
o que os faria mais felizes. A pergunta feita foi a seguinte:
2) O que faria você mais feliz (ordene sua resposta. Use 1, 2, 3, 4, ... para descrever o que o
deixaria mais feliz, sendo 1 o mais importante)
Mais dinheiro ( )
Um emprego ( )
Ter filhos ( )
Ter casa própria ( )
Mais amigos ( )
Poder viajar mais ( )
Trabalhar menos ( )
Uma história de amor ( )
Poder viver mais perto de pais e/ou amigos ( )
Governantes mais honestos ( )
O resultado a esta pergunta pode ser assim resumido:
i. Fator mais importante: 27% dos indivíduos consideram “ter mais dinheiro”; 22%
consideram ter uma “casa própria”; 17% consideram “uma história de amor”; 11%
informam “um emprego”; 7% consideram “trabalhar menos”; 6% consideram “ter
filhos”; 4% consideram “poder viajar mais”; 3% informam que o fator mais importante
é “poder viver mais perto dos pais e/ou amigos”; 2% considera que é “ter mais amigos”
e 1% considera que o mais importante é ter “governantes honestos” (conforme Gráfico
4, a seguir).
51
Gráfico 4 – O que faria você mais feliz em primeiro lugar
Fonte: Pesquisa do autor
ii. Segundo fator mais importante: novamente “ter mais dinheiro” aparece em destaque,
dessa vez por 36% dos respondentes; 35% consideram “ter um emprego”; 13% informa
que o segundo fator mais importante é “ter filhos”; 12% considera ter “casa própria”;
4% considera “uma história de amor”, já as opções “ter mais amigos”, “poder viajar
mais”, “trabalhar menos”, “poder viver mais perto dos pais e/ou amigos” e “governantes
mais honestos”, respectivamente, não pontuaram como fator que em segundo lugar
traria maior felicidade aos respondentes.
iii. O fator menos importante: entre os fatores menos importante para tornar os
respondentes mais felizes aparece a alternativa “governantes mais honestos” com 70%;
“viver mais próximo de pais e/ou amigos” com 24% e “uma história de amor” com 2%.
É importante notar que o fator “ter mais dinheiro” aparece sempre como o mais importante para
determinar a felicidade subjetiva, corroborando com grande parte da literatura que trata de
felicidade com enfoque na renda per capita. Quanto ao fator “casa própria”, verifica-se também
grande relevância como determinante da felicidade subjetiva, uma vez que apresentou
importante destaque entre os respondentes, comprovando os pressupostos de Niza (2007) e Neri
(2014), quando afirmam que a casa própria promove o bem-estar das famílias.
27%
11%
6%
22%
2%4%
7%
17%
3%1%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
O que faz você mais feliz?
Mais dinheiro Um emprego
Ter filhos Ter casa propria
Mais amigos Poder viajar mais
Trabalhar menos História de Amor
Proximidade pasi/amigos Governantes honestos
52
Uma curiosidade que aparece na pesquisa é a percepção dos respondentes quanto ao fator
“governantes mais honestos” como influencia eu seu nível de felicidade, pois entre todos as
alternativas apresentadas, 70% dos respondentes consideraram este fator o menos importante.
O que parece um pouco controverso, uma vez que, aqueles fatores considerados mais
importantes (renda e casa própria, por exemplo) dependem em certa medida da atuação de
políticos honestos na administração pública.
4.2.2 Idade
A idade média dos respondentes na amostra completa é de 28 anos, sendo a menor idade 13
anos e a maior idade 57 anos. Conforme Tabela 1.
Tabela 1 – Análise descritiva da variável idade
Mínima Máxima Média Total
13 anos 57 anos 28 anos 384
Fonte: Pesquisa do autor
Percebe-se que as idades dos respondentes aparecem dentro do intervalo de idades definido no
conceito de população economicamente ativa (PEA) do IBGE. Observa-se também, que a
média de idade de 28 anos indica certa convergência da amostra investigada para faixas de
idade que garantem maior robustez ao estudo em questão, uma vez que, os respondentes se
mostram mais seguros para falarem em relação às suas vidas.
4.2.3 Gênero
Quanto ao sexo dos respondentes, a amostra completa é constituída de 43% de indivíduos do
sexo masculino e 57% do sexo feminino, conforme é possível enxergar no Gráfico 5 a seguir.
53
Gráfico 5 – Classificação dos respondentes por gênero
Fonte: Pesquisa do autor
4.2.4 Renda
Aos respondentes foram perguntados sobre a faixa de renda na qual sua família se enquadrava.
Entre as alternativas disponíveis foram estipulados limites de renda, de forma a enquadrar os
respondentes em duas únicas faixas de renda: faixa 1 para indivíduos com renda de até R$
1.030,00 e faixa 2 aqueles com renda de até R$ 2.813,00, uma vez extrapolando esses limites
os indivíduos eram excluídos da amostra. Essa categorização de renda segue como base
pesquisas do IBGE no ano de 2006, que visavam observar o quão felizes eram as pessoas nas
diversas faixas de rendas em que se encontravam. Os resultados obtidos estão expostos no
Quadro 2 a seguir.
Quadro 2 – Classificação dos indivíduos por faixa de renda
Faixas de renda Participação dos indivíduos em percentual
Faixa 1 – renda de até R$ 1.030,00 47%
Faixa 2 – renda de até R$ 2.813,00 53%
Fonte: Pesquisa do autor
Como pode ser observado, a amostra está bem dividida entre as duas faixas de renda analisadas,
o que pode resultar em uma maior consistência ao exercício econométrico.
Masculino43%
Feminino57%
54
4.2.5 Estado civil
A pesquisa também abrangeu uma questão sobre a situação matrimonial dos indivíduos
respondentes. A divisão por estado civil é mostrada no Gráfico 6.
Gráfico 6 – Classificação dos indivíduos por estado civil
Fonte: Pesquisa do autor
O percentual de respondentes que se declararam solteiros, divorciado e viúvo, chega a 61% da
amostra, o que justifica em certa medida o destaque dado ao fator “Uma história de amor” como
importante determinante da felicidade dos indivíduos.
4.2.6 Ocupação
É grande a preocupação no Brasil e no mundo quanto a posição dos indivíduos no mercado de
trabalho. No Brasil, como exemplo, o IBGE produz indicadores mensais sobre a força de
trabalho que permitem avaliar as flutuações e a tendência, a médio e a longo prazos, do mercado
de trabalho, nas suas áreas de abrangência, constituindo um indicativo ágil dos efeitos da
conjuntura econômica sobre esse mercado. Supõe-se também, que haja diferenciais de
felicidades dentre os indivíduos que estejam ou não trabalhando, tendo em vista isso, aos
Solteiro52%Casado
39%
Divorciado7%
Viuvo2%
55
respondentes foram perguntados sobre a sua situação frente ao mercado de trabalho. A amostra
em relação a esse fator é constituída da seguinte forma, conforme Quadro 3 a seguir.
Quadro 3 – Classificação dos indivíduos quanto a posição no mercado de trabalho
Não trabalha Trabalha
Meio expediente Tempo integral
20% 10% 70%
Fonte: Pesquisa do autor
O percentual de indivíduos que declararam não trabalhar apresenta-se relativamente alto em
comparação ao resultado da pesquisa do DIEESE de 2010 em que a taxa de desemprego entre
a população economicamente ativa de Caruaru-PE girava em torno de 13,7%. Essa diferença
tanto pode ser justificada pela defasagem da pesquisa do DIEESE, bem como pela recente crise
econômica que tem afetado o município de Caruaru, com redução do número de postos de
trabalho, conforme dados de agosto de 2015 da delegacia do trabalho em Caruaru.
4.2.7 Moradia
Com já explicitado, a pesquisa abrangeu também, uma questão sobre com quem os
respondentes moravam. Este dado pode ser interessante pois ajuda a inferir sobre as questões
de afetividade e de relacionamentos interpessoais, ou até mesmo levantar indícios relevantes
quanto ao déficit habitacional. Os dados relativos ao aspecto moradia são mostrados no Gráfico
7.
56
Gráfico 7 – Classificação dos indivíduos quanto a moradia
Fonte: Pesquisa do autor
4.2.8 Casa própria
O fato de o indivíduo possuir ou não casa própria é extremamente importante para este trabalho,
uma vez que testar a relação casa própria e felicidade é um dos objetivos da pesquisa. Tendo
em vista isso, foi perguntado aos indivíduos da amostra se eles possuíam casa própria, os dados
coletados podem ser visualizados no Gráfico 8 a seguir.
Gráfico 8 – Condição do indivíduo possuir ou não casa própria
Fonte: Pesquisa do autor
Mora sozinho11%
Mora com amigos8%
Mora com a família
81%
Possuo casa própria
52%
Não possuo casa própria
48%
57
Os dados mostram que a quantidade de indivíduos que não possuem casa própria (48%) é muito
alta em relação ao déficit habitacional de 2,31%, registrado em Caruaru no ano de 2012,
segundo dados do IGBE. Entretanto, esta distorção é possível pois as amostras investigadas nas
duas pesquisas são diferentes, uma vez que este trabalho buscou investigar uma amostra oriunda
da população economicamente ativa do município de Caruaru e não a sua população em geral,
como feito pelo IBGE. Além disso, a amostra apresentou elevado número de solteiros e que
ainda moram com seus familiares e, portanto, não possuem casa própria.
4.3 Análise empírica
Após a análise estatística descritiva, foram feitas estimações econométricas a cerca dos
determinantes do nível de felicidade individual (e consequentemente global) através de
mecanismos já abordados neste trabalho.
De forma sucinta: procurou-se construir uma função microeconômica de felicidade, onde o
nível de felicidade informado funciona como variável dependente e pode assumir os valores 1,
2, 3 e 4 que corresponde respectivamente às categorias: “infeliz”, “não muito feliz”, “feliz” e
“muito feliz”. As variáveis independentes são constituídas por um conjunto de características
sociais, econômicas e institucionais como: “mais dinheiro”, “um emprego”, “ter filhos”, “ter
casa própria”, “mais amigos”, “viajar mais”, “trabalhar menos”, “uma história de amor”,
“proximidade dos pais/amigos”, “governantes honestos”, “idade”, “sexo”, “renda”, “estado
civil”, “ocupação” e “condição de moradia”. A função microeconômica escolhida é a mesma
utilizada em trabalhos de Cobri e Menezes-Filho (2006), na seguinte forma:
𝐹𝑖 = 𝛼 + 𝛽𝑋𝑖 + 𝜀𝑖
Algumas variáveis foram criadas (dummies) para a aplicação do modelo. Entre elas estão as
variáveis “renda” e “casa própria”. A proposta das dummies é quantificar as variáveis
qualitativas, bem como ver se alguma variável, não inserida de forma individual, pode vir a
impactar na variável dependente, felicidade.
Inicialmente foi necessário verificar a significância estatística entre as variáveis independentes
(exclusivamente neste trabalho foi incluída a variável independente casa própria) e a variável
dependente, e a partir daquelas consideradas significativas aplicar o modelo de regressão
proposto na metodologia, ou seja, o método dos mínimos quadrados ordinários (MQO). O
58
método proposto foi a matriz de correlação de Spearman, que diferentemente do coeficiente de
Pearson (utilizado também para diagnosticar a multicolinearidade), o coeficiente de Spearman
é utilizado em modelos logísticos para indicar se haverá alguma relação, com significância
estatística, entre a variável dependente e as variáveis explicativas. No Tabela 2, é possível
verificar as variáveis explicativas que apresentaram correlações significativas estatisticamente
com a variável dependente “felicidade”.
Tabela 2 – Coeficientes de correlação de Spearman
Coeficiente de Correlação Felicidade
P-valor
Felicidade 1,000 0,000*
Mais dinheiro -0,079 0,479
Emprego -0,010 0,655
Filhos 0,009 0,629
Casa própria 0,091 0,048**
Viagens 0,019 0,662
Amigos -0,017 0,727
Trabalhar menos 0,028 0,668
História de amor 0,043 0,686
Proximidade com pais/amigos 0,043 0,687
Governantes honestos -0,034 0,533
Idade 0,042 0,437
Sexo 0,036 0,532
Renda 0,122 0,010***
Estado civil 0,048 0,457
Ocupação -0,028 0,135
Condição de moradia -0,047 0,223
*Significante ao nível de 0%
**Significante ao nível de 4%
***Significante ao nível de 1% Fonte: Autor da pesquisa, com outputs do Eviews 5.0
59
Nota-se a partir da Tabela 2, que apesar de algumas variáveis independentes possuírem
correlação positiva com a variável dependente “felicidade”, apenas as variáveis dummies
“renda” e “casa própria” coincidentemente se mostraram significativas estatisticamente. Assim,
o modelo de regressão proposto contará apenas com as variáveis independentes “renda” e “casa
própria”.
4.3.1 Regressão pelo método dos Mínimos Quadrados
Para a análise empírica recorreu-se a estimação da função microeconômica da felicidade através
do método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), ou OLS (do inglês Ordinary Least
Squares). O MQO é uma técnica de otimização matemática que procura encontrar o melhor
ajuste para um conjunto de dados tentando minimizar a soma dos quadrados das diferenças
entre o valor estimado e os dados observados (tais diferenças chamadas de resíduos).
Como requisito para o método dos mínimos quadrados, o fator imprevisível (erro) precisa ser
distribuído aleatoriamente, ou seja, apresentar distribuição normal e independente. Quanto ao
modelo, este precisa ser linear nos parâmetros, ou seja, é necessário que as variáveis sejam
lineares entre si. Como a função microeconômica da felicidade possui tais requisitos, o
resultado da estimação é como mostrado na Tabela 3.
Tabela 3 – Equação da felicidade no método MQO
Estimação do modelo
(1)
Estimação do modelo
(2)
Coeficiente Coeficiente P-valor
Intercepto 2,441 2,365 0,000*
Renda 0,178 0,188 0,016**
Casa própria 0,147 0,047***
N. obs. 384 384
𝑹𝟐 0,149 0,250
*,**,*** Significância de 100%, 99% e 96% respectivamente.
Fonte: Autor da pesquisa, com outputs do Eviews 5.0
60
Como pode ser visto, a estimação foi feita inserindo as variáveis de forma gradativa, com o
objetivo de analisar os efeitos das variáveis no nível de felicidade informado. A primeira
estimação mostra o coeficiente da dummy “renda” sendo positivo, o que significa que mais alta
a renda do indivíduo maior será sua felicidade subjetiva, ou seja, qualquer incremento que
venha a ocorrer na renda do indivíduo, sua felicidade tende a crescer em 17,8%, com
probabilidade de 1,6% de que esta relação seja falsa. É importante notar ainda, que a capacidade
de previsão do modelo, em outras palavras, quanto da variável felicidade ser prevista com base
nos dados da variável independente renda é de 14,9% (𝑅2).
Na segunda estimação, quando a variável “casa própria” é inserida, ambas as variáveis dummies
“renda” e casa própria” apresentam coeficientes positivos, ou seja, a felicidade subjetiva é
explicada em 18,8% pela variável explicativa “renda” e em 14,7% pela variável explicativa
“casa própria” com probabilidade de erro de 1,6% e 4,7% respectivamente. Juntas, essas
dummies têm capacidade de determinar o nível de felicidade subjetiva dos indivíduos em 25%
(𝑅2). O coeficiente de determinação 𝑅2 , não apresentou alto poder explicativo para a variável
de resposta “felicidade”, uma vez que muitos econometras consideram valores acima de 0,7
como aceitáveis para 𝑅2, entretanto para o presente estudo o valor obtido já é suficiente,
considerando que outras variáveis presentes na literatura também são importantes na
determinação do nível de felicidade subjetiva dos indivíduos, a exemplo do que defendia
Maslow (1973) de que a felicidade é multicausal.
Representando algebricamente os resultados obtidos na estimação pelo método dos mínimos
quadrados ordinários, a equação de felicidade fica da seguinte forma:
F = 2,36 + 0.188(RENDA) + 0.147(CASAPRÓPRIA)
Os resultados obtidos na regressão já eram esperados, considerando a literatura analisada. Nos
estudos de Corbi e Menezes-Filho (2006), os resultados também apontaram para uma
correlação positiva significante entre renda e felicidade. Lima (2007), que também fez estudo
semelhante sobre a felicidade, encontrou a mesma relação entre renda e felicidade. E ainda no
século passado Easterlin (1974) já apontava, em seus estudos sobre felicidade, uma relação
positiva entre os efeitos marginais da renda sobre a felicidade subjetiva na forma de realização
e aspirações.
A despeito da dummy “casa própria” apesar de ter sido inserida no modelo de regressão como
uma novidade em um estudo sobre felicidade, sua correlação positiva com a variável
dependente felicidade não foi surpresa, pois estudos de Niza (2007) e Neri (2014) mostram que
61
a casa própria exerce efeito positivo no bem-estar dos indivíduos. E ainda, quando considerada
como um bem, esta relação positiva entre felicidade e casa própria aparece já há muito tempo
em passagens filosóficas, como as de Aristóteles, Santo Agostinho e Adam Smith.
4.3.1.1 Teste de heterocedasticidade
A homocedasticidade, ou seja, homogeneidade da variância é um pressuposto central do modelo
de regressão de mínimos quadrados ordinários, refere-se ao pressuposto de que a variável
dependente exibe níveis iguais de variância em toda gama de variável preditora.
Homocedasticidade é desejável porque a variância da variável dependente a ser explicada na
relação de dependência não deve ser concentrada em apenas uma gama limitada de valores
independentes (HAIR et al., 2009).
A violação desse pressuposto, ou seja, a presença de heterocedasticidade (quando as variâncias
não são iguais para todas as observações), é preocupante na medida em que afeta a
confiabilidade dos testes de significância e intervalos de confiança, além disso os devios-padrão
são incertos e as estatísticas T e F são viesadas ou tendenciosas, logo se faz necessário fazer o
teste para o modelo de regressão múltipla da felicidade. O teste de Park, em que se procura
detectar a presença de heterocedasticidade, pode ser realizado no software Eviews. Para a
realização do teste utilizou-se a significância de 5% de probabilidade, os resultados estão
descritos na Tabela 4 a seguir:
Tabela 4 – Teste de heterocedasticidade
White Heteroskedasticity Test:
F-statistic 2.289855 Probability 0.102673
Obs*R-squared 4.560947 Probability 0.102236
Fonte: Autor da pesquisa, com outputs do Eviews 5.0
Percebe-se que a presença de homocedasticidade é garantida, uma vez que, por meio do teste
F, o valor da probabilidade é maior que 5% (valor de significância estabelecido). Assim pode-
se dizer que os estimadores e parâmetros são altamente significativos, os devios-padrão são
corretos e as estatísticas T e F não são viesadas.
62
4.3.1.2 Teste de multicolinearidade
Para Garson (2011), a multicolinearidade refere-se à correlação excessiva entre as variáveis
preditoras. Quando a correlação é excessiva (alguns usam a regra de ouro de 𝑟 ≥ 0,90), os erros
padrões dos coeficientes betas se tornam grandes, tornando difícil ou impossível avaliar a
importância relativa das variáveis preditoras. Multicolinearidade é menos importante quando a
finalidade da pesquisa é a predição já que os valores preditos da variável dependente
permanecem estáveis, mas a multicolinearidade é um problema grave quando a finalidade da
pesquisa inclui a modelagem causal.
Um modelo com a presença de multicolinearidade pode apresentar valores de 𝑅2e F elevados,
ressaltando assim a relevância da realização do teste. Para realização do teste, comparam-se os
valores da estatística 𝑅2com o valor do mais forte coeficiente de correlação da matriz de
correlação elevado ao quadrado. Assim, tem-se que para se aceitar a hipótese de ausência de
multicolinearidade, o valor da estatística 𝑅2deve ser maior que o valor do coeficiente de
correlação ao quadrado.
Utilizou-se a matriz de correlação entre as variáveis independentes “renda” e “casa própria”
geradas pelo Eviews, de acordo com o Quadro 4 a seguir.
Quadro 4 – Matriz de correlação entre as variáveis independentes
Renda Casa própria
Renda 1.00000 -0.06998
Casa própria -0.06998 1.00000
Fonte: Autor da pesquisa, com outputs do Eviews 5.0
Observa-se que o maior valor da matriz de correlação é -0.06998, elevado ao quadrado tem-se
o valor de 0.00489 que é menor que o valor de 0.250 de 𝑅2(ver Tabela 3). Assim, constata-se
que não há presença de multicolinearidade, conferindo ao modelo o poder de estimar com maior
precisão, o efeito de cada variável independente “renda” e “casa própria” sobre a variável
dependente “felicidade”.
63
4.4 Nível de felicidade subjetiva de Caruaru-PE
A fim de atribuir um nível de felicidade subjetiva para a população de Caruaru-PE, buscou-se
por meio da Subjective Happiness Sacale (SHS), coletar dados referente ao posicionamento dos
respondentes em relação às suas vidas através de quatro escalas com escores entre 1 e 7. No
tratamento dos dados coletados referente ao último item, a escala foi invertida, de forma que as
somas dos escores atribuídos aos quatro itens seguissem um ordenamento semelhante, onde
aqueles que se posicionaram mais próximo de 7 seriam considerados mais felizes. Dessa forma,
trocou-se o 7 por 1, o 6 por 2, o 5 por 3, o 3 por 5, o 2 por 6 e o 1 por 7.
Valendo-se de estatística descritiva a média aritmética das respostas foi de 4,67. Este valor nos
diz que numa escala de 1 a 7 os indivíduos de Caruaru possuem nível de felicidade igual a 4,67.
Fazendo-se uma regra de três simples, de modo que seja possível comparar este nível com
aquele atribuído pelo World Happiness Report, já que o Sustainable Development Solutions
Network (SDSN) utiliza uma escala de 0 a 10, poderíamos dizer que Caruaru apresenta um nível
de felicidade de 6,67. Em outras palavras, se Caruaru fosse um país, hipoteticamente, estaria na
27ª posição entre os países mais felizes do mundo (ver gráfico 9), abaixo da Alemanha (6,75),
acima do Qatar (6,61) e equiparando-se com o Chile (6,67), segundo rankig do World
Happiness Report 2015.
Gráfico 9 – Ranking de felicidade subjetiva de Caruaru-PE
Fonte: Pesquisa do autor
6,75 6,67 6,61
6,98
64
Apesar de este trabalho utilizar uma metodologia diferente daquela adotada pela Sustainable
Development Solutions Network para determinar o nível de felicidade subjetiva, esta
comparação não é em vão, uma vez que ambas são baseadas no posicionamento das pessoas
sobre o quanto elas se consideram felizes. Apesar do SDSN considerar em seu cálculo do nível
de felicidade variáveis como PIB per capita, expectativa de vida, níveis de corrupção e
liberdades individuais, a metodologia empregada neste trabalho traz também um diferencial no
que diz respeito a um maior refinamento estatístico das respostas, levando em consideração não
somente o posicionamento das pessoas em relação às suas vidas, mas também aborda questões
referente a seus estados emocionais, onde os indivíduos são induzidos a se compararem com
outros e a refletirem sobre seus traços emocionais.
O IDH (índice de desenvolvimento humano), que leva em consideração os níveis de educação,
expectativa de vida e renda per capita, por exemplo, não parece ter uma relação muito
consistente com o nível de felicidade, embora aqueles países que figuram nas primeiras
posições no ranking do World Happiness Report apresentam também elevados índices de IDH.
Essa aparente distorção pode ser observada para o caso do Brasil, que desponta na 16ª posição
entre os países mais felizes do mundo, com índice de felicidade de 6,98, segundo último
relatório de 2015, embora tenha apresentado IDH para o mesmo ano de 0,73, colocando o país
na 85ª posição em comparação ao IDH do resto do mundo, conforme relatório do PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
De forma análoga, não é estranho supor que os indicadores: PIB per capita; expectativa de vida;
níveis de corrupção e liberdades individuais, considerados nos levantamentos do World
Happiness Report, não exerçam significativas influências na composição do índice de
felicidade – tais indicadores parecem funcionar tão somente como critérios de desempate. De
modo que a ousadia de comparar o índice de felicidade desenvolvido neste trabalho com aquele
divulgado pelo World Happiness Report não parece ser nenhum absurdo.
Além do cálculo do índice de felicidade subjetiva de Caruaru, a Subjective Happiness Sacale
(SHS) também forneceu dados importantes que, analisados individualmente com as variáveis
“idade”, “gênero”, “renda”, “estado civil”, “ocupação”, “moradia” e “casa própria”, conferem
a este trabalho uma maior riqueza de detalhes.
65
i. Nível de felicidade informado versus idade:
Tabela 6 - Nível de felicidade informado versus idade
Faixa etária Número de observações Nível de felicidade informado
Escala de 1 a 7
10 a 20 anos 92 4,75
21 a 30 anos 157 4,70
31 a 40 anos 77 4,46
41 a 50 anos 35 4,68
51 a 60 anos 23 4,49
Fonte: Pesquisa do autor
Os dados mostram que os indivíduos mais jovens se consideram mais felizes, fato que
não foi surpresa, pois os jovens demostraram maior entusiasmo e expectativas positivas
em relação às suas vidas, enquanto os indivíduos de maior idade, estes se mostraram
mais cautelosos em suas respostas.
ii. Nível de felicidade informado versus gênero:
Tabela 7 - Nível de felicidade informado versus gênero
Gênero Número de Observações Nível de felicidade informado
Escala de 1 a 7
Masculino 165 4,64
Feminino 219 4,68
Fonte: Pesquisa do autor
As mulheres se mostraram ligeiramente mais felizes do que os homens, talvez esta
diferença possa ser explicada pela maior espontaneidade que os indivíduos do gênero
feminino demostram, entretanto não há nenhum aparato teórico neste trabalho que
sustente esta hipótese.
66
iii. Nível de felicidade informado versus renda:
Tabela 8 - Nível de felicidade informado versus renda
Faixa de renda Número de
observações
Nível de felicidade
informado
Escala de 1 a 7
Renda de até R$ 1.030,00 181 4,58
De R$ 1.030,01 a R$ 2.813,00 203 4,76
Fonte: Pesquisa do autor
Os indivíduos de maior renda se mostraram mais felizes do que aqueles com menor
renda. Esta observação corrobora a literatura que este trabalho apresentou e reafirma a
correlação positiva entre renda e felicidade demostrada na seção anterior.
iv. Nível de felicidade informado versus estado civil:
Tabela 9 – Nível de felicidade informado versus estado civil
Estado civil Número de observações Nível de felicidade informado
Escala de 1 a 7
Solteiro 200 4,70
Casado 150 4,63
Divorciado 26 4,65
Viúvo 8 4,58
Fonte: Pesquisa do autor
Os dados mostram que os indivíduos solteiros se mostraram mais felizes que os demais.
Na outra ponta, aparecem os viúvos com menores níveis de felicidade.
67
v. Nível de felicidade informado versus ocupação:
Tabela 10 – Nível de felicidade informado versus ocupação
Número de
observações
Nível de felicidade
informado
Escala de 1 a 7
Não trabalha 77 4,58
Trabalha Meio período 39 4,85
Período integral 268 4,65
Fonte: Pesquisa do autor
A pesquisa apontou que os indivíduos que possuem alguma ocupação, em geral, são
mais felizes do que aqueles que não possuem nenhuma ocupação. Apesar da relação
entre ocupação e felicidade não ser foco deste trabalho, há consenso na literatura de que
existe uma correlação positiva entre essas duas variáveis, e parece, pelos dados acima,
que esta hipótese é verdadeira.
vi. Nível de felicidade informado versus moradia:
Tabela 11 – Nível de felicidade informado versus moradia
Número de
observações
Nível de felicidade informado
Escala de 1 a 7
Mora sozinho 43 4,64
Mora com amigos 31 4,78
Mora com a família 310 4,66
Fonte: Pesquisa do autor
Os indivíduos que moram com amigos se mostraram mais felizes em comparação com
aqueles que afirmaram morar sozinhos ou com a família. O nível de felicidade
informado pelos respondentes que residem sozinhos ficou muito próximo daqueles que
afirmaram morar com a família, ainda assim os indivíduos que moram com suas famílias
se mostraram mais felizes.
68
vii. Nível de felicidade informado versus casa própria:
Tabela 12 – Nível de felicidade informado versus casa própria
Número de
observações
Nível de felicidade informado
Escala de 1 a 7
Possui casa própria 200 4,84
Não possui casa própria 184 4,63
Fonte: Pesquisa do autor
Uma das questões importantes deste trabalho diz respeito à correlação entre as variáveis
casa própria e o nível de felicidade informado. Os dados acima apontam que esta
correlação é positiva, e que os indivíduos que possuem casa própria apresentam
tendência a serem mais felizes, corroborando as estimações realizadas na seção anterior
e à literatura apresentada.
69
5 CONCLUSÕES
O enfoque principal do trabalho foi a análise do bem-estar através da abordagem da felicidade,
que tem obtido espaço na Teoria Econômica pelo fato de permitir a ampliação do conceito de
bem-estar, ao inserir na análise fatores subjetivos, ligados a emoções, experiências vividas e
expectativas futuras, os quais, concorda-se unanimemente, têm uma influência no nível de
satisfação dos agentes econômicos. Dessa forma, a abordagem da felicidade tem contribuído
para que na ciência econômica o bem-estar deixe de ser observado apenas com base em fatores
pecuniários, em especial renda real, ou seja, através da felicidade, o conceito de utilidade deixa
de ser meramente objetivo e passa a ter um caráter subjetivo.
Usando técnicas pioneiramente utilizadas por psicólogos, a economia da felicidade faz uso da
aplicação de questionários, onde os indivíduos são perguntados diretamente sobre os seus níveis
de satisfação com a vida, bem como são captadas dos mesmos, características socioeconômicas
e institucionais. Dessa forma, uma visão mais direta do quanto as pessoas estão satisfeitas com
a vida é obtida, e essa visão, dependendo do tipo da pesquisa implementada (que engloba o
tamanho do questionário, a disposição das perguntas, a preocupação em se os entrevistados
estão dispostos a responder sobre sua satisfação com a vinda, dentre outros fatores), bem como
do trato dos dados obtidos, pode ser útil para ajudar as autoridades governamentais na
implementação de políticas públicas, e principalmente, para se ter uma visão mais próxima da
realidade possível de como os indivíduos e sociedade estão conseguindo, dadas as condições
sociais, econômicas e institucionais, obter satisfação com a vida.
Atualmente, numa tentativa de desenvolver técnicas empíricas cada vez mais amplas, a recente
economia da felicidade procura entender, de forma descritiva, os determinantes do bem-estar
humano. Saber se este bem-estar está ligado às características como gênero, estado civil, faixa
de renda, ocupação, idade, dentre outros fatores.
Nesse contexto, este estudo propôs uma aplicação dos conceitos e do método comumente
usados na abordagem da felicidade a fim de observar o nível de influência das variáveis renda
e casa própria na determinação do bem-estar subjetivo informado no município de Caruaru-PE.
A variável renda mostrou-se altamente significativa para a determinação da felicidade dos
Caruaruenses. Foi comprovado que existe uma correlação positiva entre o nível de renda e a
felicidade, o que já era previsto, uma vez que a literatura já sinalizava este efeito: quanto maior
70
a renda de um indivíduo perante seus semelhantes, melhor será sua posição frente a eles, o que
tende a contribuir positivamente para sua felicidade.
Entre os estudos sobre felicidade, a variável casa própria aparece aqui de forma inédita e os
resultados foram positivos. A correlação entre as variáveis casa própria e felicidade se mostrou
positiva e estatisticamente significativa, em que a variável casa própria apresentou alto poder
de explicação para o nível de felicidade subjetiva. Esta relação já vinha sido discutida na
literatura, entretanto, ainda nenhum estudo tinha ousado em utilizar a variável casa própria no
processo de estimação da equação da felicidade.
As variáveis “filhos”, “viagens”, “trabalhar menos”, “história de amor”, “proximidade com pais
e/ou amigos”, “idade”, “sexo” e “estado civil” mostraram-se positivamente correlacionadas
com a variável dependente “felicidade”, enquanto as variáveis “mais dinheiro”, “emprego”,
“amigos”, “governantes mais honestos”, “ocupação” e “condição de moradia” apresentaram
relação negativa com a felicidade. Entretanto, estas variáveis não apresentaram significância
estatística que justificasse as relações estabelecidas, nem a necessidade de considerá-las no
processo de regressão da equação da felicidade.
O método mais importante no processo de regressão foi o método dos mínimos quadrados
ordinários (MQO), que se mostrou significativo estatisticamente e, poder explicativo das
variações na variável dependente, em virtude das variações nas variáveis explicativas ao nível
de 25%, considerado ideal para o modelo utilizado.
O nível de felicidade subjetiva da população economicamente ativa de Caruaru foi obtido por
meio da Subjective Happiness Scale (SHS), onde numa escala de 1 a 7 o índice inferido foi de
4,67 e, comparando-se ao ranking do World Happiness Report 2015, Caruaru, na condição de
país, estaria na posição 27º entre os países mais felizes do mundo, igualando-se ao Chile. Outras
relações foram estabelecidas por meio da SHS e concluiu-se que os indivíduos mais jovens, do
gênero feminino, com renda maior, solteiros, que possuem algum tipo de ocupação, moram
com amigos ou que possuem uma casa própria, são na média mais felizes.
Por fim, pode-se concluir com alguma segurança que a felicidade subjetiva dos indivíduos de
Caruaru possui uma relação positiva com o seu nível de renda e com a posse da casa própria,
em outras palavras, 18,8% da felicidade subjetiva é explicada pelo nível de renda do indivíduo
e 14,7% é explicada pelo fato do indivíduo possuir casa própria. Dessa forma, atinge-se todos
os objetivos propostos neste trabalho e como sugestão de trabalhos futuros fica a aplicabilidade
deste estudo para outras regiões.
71
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76
ANEXO A – Questionário estruturado e Subjective Happines Scale (SHS)
Questionário da Felicidade
1) Como você se sente em relação a sua vida?
Infeliz ( )
Não muito feliz( )
Feliz ( )
Muito feliz ( )
2) O que faria você mais feliz (Ordene sua resposta, use 1, 2, 3, 4... para descrever o que o
deixaria mais feliz, sendo o 1 o mais importante).
Mais dinheiro ( )
Um emprego ( )
Ter filhos ( )
Ter casa própria ( )
Mais amigos ( )
Poder viajar mais ( )
Trabalhar menos ( )
Uma história de amor ( )
Poder viver mais perto dos meus pais e/ou amigos ( )
Governantes mais honestos ( )
3) Idade: _________
4) Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
5) Qual a faixa de renda de sua família?15
( ) até R$ 648,00
( ) de R$ 648,01 a R$ 1.030,00
( ) de R$ 1.030,01 a R$ 1.540,00
( ) de R$ 1.540,01 a R$ 2.813,00
( ) acima de R$ 2.813,01
6) Qual seu estado civil atualmente?
( ) Solteiro
( ) casado
( ) divorciado
( ) Viúvo
( ) Outro
7) Você trabalha?
Não, eu não trabalho ( )
Sim, eu trabalho 1 expediente ( )
15 Distribuição de renda segue metodologia da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
77
Sim, eu trabalho em tempo integral ( )
8) Você atualmente mora:
Sozinho ( )
Com amigos ( )
Com sua família ( )
9) Você possui casa própria?
( ) sim
( ) não
10) Para cada uma das seguintes afirmações e/ou perguntas, por favor, circule o ponto na escala
que você sente ser o mais apropriado para lhe descrever:
A) Em geral você se considera:
1 2 3 4 5 6 7
Uma pessoa infeliz Uma pessoa Feliz
B) Em comparação a maioria de seus amigos, você se considera:
1 2 3 4 5 6 7
Menos feliz Mais Feliz
C) Algumas pessoas são geralmente muito felizes, elas aproveitam a vida independente do que
está acontecendo. Até que ponto essa afirmativa descreve você?
1 2 3 4 5 6 7
Em nada Em tudo
D) Algumas pessoas não são geralmente muito felizes, embora elas tenham todas as condições
para serem felizes. Até que ponto essa afirmativa descreve você?
1 2 3 4 5 6 7
Em nada Em tudo
78
Anexo B – Tabela de distribuição normal – valores de 𝑃(0 ≤ 𝑍 ≤ 𝑧0)
Tabela 13 – Tabela de distribuição normal
Fonte: Greene 2009.
z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09
0,00 0,0000 0,0040 0,0080 0,0120 0,0160 0,0199 0,0239 0,0279 0,0319 0,0359
0,10 0,0398 0,0438 0,0478 0,0517 0,0557 0,0596 0,0636 0,0675 0,0714 0,0753
0,20 0,0793 0,0832 0,0871 0,0910 0,0948 0,0987 0,1026 0,1064 0,1103 0,1141
0,30 0,1179 0,1217 0,1255 0,1293 0,1331 0,1368 0,1406 0,1443 0,1480 0,1517
0,40 0,1554 0,1591 0,1628 0,1664 0,1700 0,1736 0,1772 0,1808 0,1844 0,1879
0,50 0,1915 0,1950 0,1985 0,2019 0,2054 0,2088 0,2123 0,2157 0,2190 0,2224
0,60 0,2257 0,2291 0,2324 0,2357 0,2389 0,2422 0,2454 0,2486 0,2517 0,2549
0,70 0,2580 0,2611 0,2642 0,2673 0,2704 0,2734 0,2764 0,2794 0,2823 0,2852
0,80 0,2881 0,2910 0,2939 0,2967 0,2995 0,3023 0,3051 0,3078 0,3106 0,3133
0,90 0,3159 0,3186 0,3212 0,3238 0,3264 0,3289 0,3315 0,3340 0,3365 0,3389
1,00 0,3413 0,3438 0,3461 0,3485 0,3508 0,3531 0,3554 0,3577 0,3599 0,3621
1,10 0,3643 0,3665 0,3686 0,3708 0,3729 0,3749 0,3770 0,3790 0,3810 0,3830
1,20 0,3849 0,3869 0,3888 0,3907 0,3925 0,3944 0,3962 0,3980 0,3997 0,4015
1,30 0,4032 0,4049 0,4066 0,4082 0,4099 0,4115 0,4131 0,4147 0,4162 0,4177
1,40 0,4192 0,4207 0,4222 0,4236 0,4251 0,4265 0,4279 0,4292 0,4306 0,4319
1,50 0,4332 0,4345 0,4357 0,4370 0,4382 0,4394 0,4406 0,4418 0,4429 0,4441
1,60 0,4452 0,4463 0,4474 0,4484 0,4495 0,4505 0,4515 0,4525 0,4535 0,4545
1,70 0,4554 0,4564 0,4573 0,4582 0,4591 0,4599 0,4608 0,4616 0,4625 0,4633
1,80 0,4641 0,4649 0,4656 0,4664 0,4671 0,4678 0,4686 0,4693 0,4699 0,4706
1,90 0,4713 0,4719 0,4726 0,4732 0,4738 0,4744 0,4750 0,4756 0,4761 0,4767
2,00 0,4772 0,4778 0,4783 0,4788 0,4793 0,4798 0,4803 0,4808 0,4812 0,4817
2,10 0,4821 0,4826 0,4830 0,4834 0,4838 0,4842 0,4846 0,4850 0,4854 0,4857
2,20 0,4861 0,4864 0,4868 0,4871 0,4875 0,4878 0,4881 0,4884 0,4887 0,4890
2,30 0,4893 0,4896 0,4898 0,4901 0,4904 0,4906 0,4909 0,4911 0,4913 0,4916
2,40 0,4918 0,4920 0,4922 0,4925 0,4927 0,4929 0,4931 0,4932 0,4934 0,4936
2,50 0,4938 0,4940 0,4941 0,4943 0,4945 0,4946 0,4948 0,4949 0,4951 0,4952
2,60 0,4953 0,4955 0,4956 0,4957 0,4959 0,4960 0,4961 0,4962 0,4963 0,4964
2,70 0,4965 0,4966 0,4967 0,4968 0,4969 0,4970 0,4971 0,4972 0,4973 0,4974
2,80 0,4974 0,4975 0,4976 0,4977 0,4977 0,4978 0,4979 0,4979 0,4980 0,4981
2,90 0,4981 0,4982 0,4982 0,4983 0,4984 0,4984 0,4985 0,4985 0,4986 0,4986
3,00 0,4987 0,4987 0,4987 0,4988 0,4988 0,4989 0,4989 0,4989 0,4990 0,4990
3,10 0,4990 0,4991 0,4991 0,4991 0,4992 0,4992 0,4992 0,4992 0,4993 0,4993
3,20 0,4993 0,4993 0,4994 0,4994 0,4994 0,4994 0,4994 0,4995 0,4995 0,4995
3,30 0,4995 0,4995 0,4995 0,4996 0,4996 0,4996 0,4996 0,4996 0,4996 0,4997
3,40 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4997 0,4998
3,50 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998 0,4998
3,60 0,4998 0,4998 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999
3,70 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999
3,80 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999 0,4999
3,90 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000
4,00 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000 0,5000